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CORONELISMO E DEMOCRACIA

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Este texto foi publicado no site Jus Navigandi no endereço http://jus.com.br
/artigos/26114
Para ver outras publicações como esta, acesse http://jus.com.br
O “coronelismo” e a democracia brasileira.
Um breve ensaio reflexivo sobre a Lei da “Ficha Limpa” e sobre o
financiamento das campanhas eleitorais, sob as luzes do magistério
doutrinário de Victor Nunes Leal
Luís Carlos Martins Alves Jr.
Publicado em 12/2013. Elaborado em 12/2013.
Serão abordados o julgamento do STF sobre a validade jurídica da
Lei da “Ficha Limpa” e o processo acerca do financiamento das
campanhas eleitorais, à luz da obra do Ministro Victor Nunes Leal.
Não podemos negar que o “coronelismo” corresponde a uma quadra da evolução
política do nosso povo, que deixa muito a desejar. Tivéssemos maior dose de
espírito público e as coisas certamente se passariam de outra forma. Por isso,
todas as medidas de moralização da vida pública nacional são indiscutivelmente
úteis e merecem o aplaudo de quantos anseiam pela elevação do nível político do
Brasil. Mas não tenhamos demasiadas ilusões. A pobreza do povo, especialmente
da população rural, e, em conseqüência, o seu atraso cívico e intelectual
constituirão sério obstáculo às intenções mais nobres.
(VICTOR NUNES LEAL, Coronelismo, enxada e voto – o município e o regime
representativo no Brasil).[1]
Resumo: Neste texto será feita uma abordagem do processo e julgamento realizado
pelo Supremo Tribunal Federal acerca da validade jurídica da Lei da “Ficha Limpa”, e
acerca do processo que tramita perante esse Tribunal acerca do financiamento das
campanhas eleitorais. Para iluminar e viabilizar uma adequada compreensão dos temas
examinados será utilizada a clássica, porém atual, obra “Coronelismo, enxada e voto: o
município e o regime representativo no Brasil”, de autoria de Victor Nunes Leal, que
demonstrou que as principais causas dos males políticos nacionais decorrem,
basicamente, da estrutura econômica e social que priva o indivíduo/cidadão de
autonomia econômica e moral e de uma estrutura política e de políticos que se
beneficiam desse estado de coisas, de modo que a despeito de boas leis, cheias de
intenções moralizadoras, as circunstâncias fáticas de miséria do eleitor (e de vilania de
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alguns políticos) é o fundamento da sobrevivência das más práticas políticas e eleitorais
na realidade brasileira.
Palavras-chave: Direito Constitucional. Democracia. Lei da “Ficha Limpa”.
Financiamento de Campanha Eleitoral. “Coronelismo”. Victor Nunes Leal.
Sumário: 1 Introdução. 2 O “coronelismo” político. 3 A Lei da “Ficha Limpa”. 4 O
financiamento das campanhas eleitorais. 5 Considerações finais. 6 Referências.
1 INTRODUÇÃO
O presente texto (ensaio reflexivo) tem com objeto o processo e o julgamento, perante o
Supremo Tribunal Federal - STF, acerca da validade jurídica da Lei da “Ficha Limpa”
(Lei Complementar n. 135, 4.6.2010), que acrescentou preceitos normativos à Lei
Complementar n. 64., de 18.5.1990, que estabeleceu condições mais rígidas para que o
indivíduo possa participar, como candidato, do processo eleitoral. Também é objeto
desta reflexão o processo que tramita no STF, nos autos da Ação Direta de
Inconstitucionalidade n. 4.650, que analisa a validade constitucional do financiamento,
pelas empresas privadas, das campanhas eleitorais.
A finalidade do texto consiste em refletir sobre a crença brasileira no poder mágico das
leis e das decisões judiciais, especialmente em matéria constitucional eleitoral, segundo
a qual modificações normativas seriam suficientes e bastantes para mudar a realidade,
sem embargo da teimosia dos fatos. A justificativa desta reflexão descansa no aspecto
simbólico tanto da legislação questionada quanto dos julgamentos do STF, reveladores
da tensão entre os princípios da soberania popular, da democracia, da liberdade, da
república e da moralidade, pois a depender das concepções adotadas haverá o sacrifício
de interesses, tanto individuais quanto coletivos.
As hipóteses levantadas são basicamente duas. A Lei da “Ficha Limpa” não foi uma
vitória da sociedade, mas a demonstração de que o povo-eleitor brasileiro não é da
confiança do Estado (legislador, administrador, julgador e demais órgãos e instituições
estatais) nem de setores organizados da sociedade civil (Igrejas, sindicatos, partidos
políticos, entidades e corporações de classe, grande imprensa etc.).
A outra hipótese, no tocante ao financiamento privado de campanhas eleitorais, consiste
na ideia de que excluir as empresas do processo político eleitoral é medida
antidemocrática e que vai na “contramão” de uma democracia que deixou de ser
atomizada no indivíduo isolado e se tornou uma complexa realidade que a todos
interessa, tanto a indivíduos como às corporações, sejam públicas ou privadas.
Na construção deste ensaio, além da leitura dos textos normativos e das decisões
judiciais, bem como das peças jurídicas contidas nos autos dos processos que serão
examinados, também se utilizará das categorias lançadas por Victor Nunes Leal no
citado livro “Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime representativo no
Brasil”, que demonstrou que na experiência política nacional, a partir das eleições
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municipais, a causa dos males políticos reside basicamente na miséria econômica do
indivíduo eleitor e na imoralidade de políticos que se beneficiam dessa situação social,
aproveitando-se dessa estrutura nociva aos interesses do Brasil, apesar de todas as leis
moralizadoras das práticas eleitorais.
“Coronelismo...” será o farol a iluminar nesse percurso, pois essa obra, que já nasceu
clássica (perene e atual), segundo o autorizado magistério de José Murilo de
Carvalho[2], Alberto Venâncio Filho[3] e Barbosa Lima Sobrinho[4], foi publicada em
1949, fruto de sua Tese para a cátedra de Ciência Política na Faculdade Nacional de
Filosofia, obtida em 1948, que é tido como o primeiro trabalho moderno de ciência
política produzido no Brasil.
Segundo Victor Nunes Leal, a compreensão dos fenômenos políticos nacionais
necessitava de uma análise além dos textos normativos e das promessas jurídicas neles
estampadas, pois nem sempre as leis conseguem domesticar a rebeldia dos fatos. Victor
Nunes Leal fez um trabalho de realismo político e jurídico.
Com efeito, o conjunto de preceitos normativos e de práticas sociais e estatais que
regulam o acesso, o funcionamento, a estrutura e a dinâmica do Poder é o que se
denomina de direito político. [5] No Brasil, em matéria eleitoral, têm-se os preceitos
normativos contidos no texto da Constituição, nos textos das leis (ordinárias e
complementares), nas resoluções e provimentos emanados dos tribunais eleitorais e nas
decisões judiciais em matéria constitucional eleitoral, especialmente as produzidas pelos
Tribunais Regionais Eleitorais – TREs, Tribunal Superior Eleitoral - TSE e Supremo
Tribunal Federal - STF. Portanto, textos normativos eleitorais brotam às mancheias.
O modelo brasileiro, em sede de justiça eleitoral, é constituído pelo STF, TSE, TREs,
juízes e juntas eleitorais. No Brasil, como é curial, a pletora normativa é gigantesca, e o
direito, que deveria ser um instrumento (tecnologia) normativo redutor de
complexidades, se torna um elemento amplificador das complexidades (complexidade
entendidacomo várias e múltiplas alternativas, na perspectiva luhmanniana).
A vida é difícil e complexa. O direito deveria ser fácil e simples. No momento em que o
sistema jurídico normativo se torna difícil e complexo, ele nega a sua essência e perde o
seu sentido social. Em face dessa abundância normativa (textos legais, decisões judiciais,
práticas sociais etc.) e perspectivando que a realidade político-eleitoral é
demasiadamente complicada, é necessário discernir o que deve ser levado em
consideração.
Portanto, não é minguado o “ordenamento jurídico normativo eleitoral”. Não faltam leis
para resolver os problemas políticos eleitorais brasileiros. A rigor, há um número
excessivo e abundante de preceitos normativos regulando o fenômeno político eleitoral,
de modo que os partícipes do processo político eleitoral necessitam gastar muito tempo
e esforços com o sistema normativo, em vez de canalizarem energia com o processo
político eleitoral em si. Situação tipicamente brasileira.[6]
É facilmente perceptível o caráter ingênuo desse conjunto normativo e legislativo. Essa
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ingenuidade (quase infantilidade) decorre de uma crença na força “mágica” ou “mística”
das normas jurídicas. Com efeito, no Brasil é forte no imaginário social e coletivo que a
positivação de desejos e interesses nos textos normativos será suficiente para lhes tornar
realidade. Em vez de se atacar e enfrentar as raízes sociais, econômicas, culturais ou
científicas dos problemas, criam-se leis e estatutos normativos. O direito seria a solução
mágica para todos os dramas da vida, segundo essa visão ingênua e infantil.[7]
Essa visão fantasiosa dos poderes metafísicos do direito leva à frustração de
expectativas, pois a realidade fática, supercomplexa e difícil, não se rende facilmente aos
encantos das “leis de papel”, como sucede com a realidade política brasileira e a sua
difícil relação com as leis eleitorais.
É sobre esse tema que passaremos a refletir.
2 O “CORONELISMO” POLÍTICO
No último parágrafo de sua obra-prima, Victor Nunes Leal, modestamente, revelou que
não teve o propósito de apresentar soluções para o problema do “coronelismo”,
esforçando-se, apenas, para compreender uma pequena parte dos males que afligem o
Brasil e os brasileiros. Segundo ele, outros, mais capacitados, deveriam empreender a
tarefa de indicar o remédio. Na posologia política nacional, vários remédios foram
prescritos, quase sempre por pessoas bem menos capacitadas que Victor Nunes Leal,
para curar as enfermidades políticas e eleitorais.
Mas o que era (é) o “coronelismo” para Victor Nunes Leal? A resposta do citado autor
merece ser transcrita integralmente, nada obstante seja longa:
Como indicação introdutória, devemos notar, desde logo, que concebemos o
‘coronelismo’ como resultado da superposição de formas desenvolvidas do
regime representativo a uma estrutura econômica e social inadequada. Não é,
pois, mera sobrevivência do poder privado, cuja hipertrofia constituiu fenômeno
típico de nossa história colonial. É antes uma forma peculiar de manifestação do
poder privado, ou seja, uma adaptação em virtude da qual os resíduos do nosso
antigo e exorbitante poder privado têm conseguido coexistir com um regime
político de extensa base representativa.
Por isso mesmo, o ‘coronelismo’ é sobretudo um compromisso, uma troca de proveitos
entre o poder público, progressivamente fortalecido, e a decadente influência social dos
chefes locais, notadamente dos senhores de terras. Não é possível, pois, compreender o
fenômeno sem referência à nossa estrutura agrária, que fornece a base de sustentação
das manifestações de poder privado ainda tão visíveis no interior do Brasil.
Paradoxalmente, entretanto, esses remanescentes de privatismo são alimentados pelo
poder público, e isso se explica justamente em função do regime representativo, com
sufrágio amplo, pois o governo não pode prescindir do eleitorado rural, cuja situação de
dependência ainda é incontestável.
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Desse compromisso fundamental resultam as características secundárias do sistema
‘coronelista’, como sejam, entre outras, o mandonismo, o filhotismo, o falseamento do
voto, a desorganização dos serviços públicos locais. (2012, pp. 43-44).
Uma das facetas do “coronelismo” consiste no voto de “cabresto”, decorrência da
extrema pobreza das massas rurais dominada pela opulência econômica do chefe
político, que faz daquele dependente desse (2012, p. 56). Logo, podemos inferir que a
miséria econômica é a causa das misérias políticas.
Outro aspecto que ensejou o “coronelismo” foi o aumento das despesas eleitorais, com a
ampliação substantiva do corpo eleitoral, constituído, em sua esmagadora maioria por
eleitores necessitados (2012, p. 57). O “coronel” encarna e personifica as melhorias
públicas, as prestações dos serviços e a feitura de obras, pois, não raras vezes, graças ao
seu empenho e prestígio, é que essas melhorias alcançam a comunidade (2012, p. 58).
Mas essa atuação do “coronel” tem uma fatura. Vários preços são pagos: o
“paternalismo”, o “filhotismo” e o “mandonismo”. Aos amigos e parentes, as benesses do
poder e das leis. Aos adversários (inimigos) os rigores da lei e as perseguições abusivas
do poder (2012, p. 60).
Essa relação de reciprocidade (aos aliados os favores, aos adversários os rigores) do
chefe político municipal se repete nas relações com os chefes políticos estaduais e
federais, pois o apoio do Estado, com o “cofre das graças e o poder da desgraça”, faz com
que o “coronel” consiga manter a sua predominância política. Cuide-se que os
compromissos têm uma ética especial, porquanto não são forjados na base de princípios
políticos, mas em torno de coisas concretas, e prevalecem para uma ou para poucas
eleições (2012, pp. 61-63).
Essa dependência em relação ao poder do Estado decorre da fraqueza financeira dos
municípios. O município não tem autonomia alguma. O “coronel” é governista, é
situacionista. Ele não se sente à vontade “nem tem o direito de impor aos amigos o
sacrifício da oposição”. O “coronel” deve ter à sua disposição a caneta para beneficiar os
aliados e o porrete para fustigar os inimigos. Daí porque o maior mal que pode
acontecer a um chefe político municipal é ter o governo do Estado como adversário
(2012, pp. 64-67). 
Daí a denúncia de Victor Nunes Leal (2012, p. 68):
A essência, portanto, do compromisso ‘coronelista’ – salvo situações especiais
que não constituem a regra – consiste no seguinte: da parte dos chefes locais,
incondicional apoio aos candidatos do oficialismo nas eleições estaduais e
federais; da parte da situação estadual, carta branca ao chefe local governista (de
preferência o líder da facção local majoritária) em todos os assuntos relativos ao
município, inclusive na nomeação de funcionários estaduais do lugar.
Victor Nunes Leal (2012, pp. 70-71) faz contundente ataque à “autêntica mistificação do
regime representativo”, que segundo ele não representa a verdade social e política da
Nação. Para ele, a “vista grossa” que os governos estaduais sempre fizeram sobre a
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administração municipal, especialmente em relação à corrupção, deixando de empregar
sua influência política para moralizá-la, fazia partedo sistema de compromisso do
“coronelismo”.
Essa omissão (ou incentivo) ao descalabro governamental, por parte das autoridades
estaduais e federais, servia para livrar os pleitos municipais dos riscos de uma derrota e
predispunha o eleitorado em favor dos candidatos governistas, graças ao poder de
coesão do governo, especialmente junto ao eleitorado dos municípios rurais. (2012, p.
73).
Segundo Victor Nunes Leal (2012, p. 74) o “coronelismo” se assenta na fraqueza
econômica do dono da terra, que se ilude com o prestígio do poder, obtido à custa da
submissão política, e na fraqueza econômica dos eleitores rurais, que se encontram em
situação quase sub-humana.
Certeira essa crítica de Victor Nunes Leal. Com efeito, se observarmos a realidade
brasileira atual, mesmo com a diminuição da população rural e aumento dos centros
urbanos, perceberemos que dois aspectos são relevantes para uma manutenção dessa
dependência municipal em face dos governos federal e estadual: a quantidade absurda
de municípios e o sistema eleitoral proporcional.[8]
Sem receios, podemos dizer que quase 90% dos municípios brasileiros sobrevivem
graças às transferências de verbas federais e estaduais, sem qualquer autonomia
econômica e financeira. Quanto ao modelo eleitoral, pode-se dizer que os candidatos,
salvo honrosas exceções, à deputância estadual e federal não necessitam de sólidas bases
político-eleitorais, bastando ter dinheiro suficiente para suas eleições.[9]
Mas, como dizia Victor Nunes Leal há quase 70 anos (2012, pp. 137-139), o município é a
peça básica das campanhas eleitorais no Brasil, pois uma vez convocado o povo para as
urnas, em uma estrutura agrária como a brasileira, o “coronelismo” ressurgirá das
próprias cinzas.
Victor Nunes Leal (2012, pp. 189-204) denuncia o papel da Polícia, do Ministério
Público e do Judiciário na consolidação e fortalecimento do “coronelismo”,
especialmente com as nomeações discricionárias e com as promoções por merecimento
que empolgam os carreiristas dessas instituições, “pois as garantias legais nem sempre
podem suplantar as fraquezas humanas”.
Victor Nunes Leal (2012, pp. 213-229), após apresentar as várias modificações eleitorais
que visavam corrigir e melhorar o modelo representativo brasileiro, revela que muitas
delas foram baldas, pois não se atacou a raiz do problema: a corrupção eleitoral e as
misérias sociais e econômicas dos eleitores. O papel das leis não era forte o suficiente
para enfrentar as realidades e necessidades materiais da vida. Segundo o citado autor,
apesar dos esforços dos bem intencionados, não se conseguiu erradicar a manipulação
dos votos pelos chefes políticos locais, especialmente do eleitor miserável das “grotas”,
das zonas rurais. 
O autor faz uma crítica aos partidos políticos, que, segundo ele, não passam de legendas
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ou rótulos destinados a atender às exigências técnico-jurídicas do processo eleitoral, à
vista das múltiplas alianças para as eleições estaduais e municipais, reveladoras da
ausência de programas e princípios ideológicos e políticos, garantidoras de um perene
“caciquismo” político, fundado na ignorância e no desamparo do trabalhador
dependente dos favores dos poderosos (2012, p. 226).
Nas suas considerações finais (2012, pp. 230-240), o autor assenta que o “coronelismo” é
um sistema que se alimenta na miséria social e econômica do eleitor, na necessidade de
poder político do chefe local, também ele fraco economicamente, e no acordo entre os
chefes políticos estaduais e federais com os “coronéis” na garantia dos votos de cabresto.
A solução apontada por Victor Nunes Leal consiste na independência econômica, social,
cultural e moral do eleitor. Para isso, seria necessária a mudança da estrutura social e
econômica do Brasil, especialmente com a urbanização e industrialização.
Com absoluta razão Victor Nunes Leal. Indivíduos independentes e autônomos, com
uma sociedade maior e mais forte que o Estado, inibiriam os políticos “coronelistas”.
Logo, a melhor maneira de acabar com a pobreza dos eleitores consiste no aumento e na
produção de riquezas para que todos possam se beneficiar. A pobreza econômica e a
miséria moral são as principais causas dos problemas sociais e políticos brasileiros.
3 A LEI DA “FICHA LIMPA”
O STF enfrentou o tema da validade normativa da Lei da “Ficha Limpa” basicamente em
quatro julgamentos. No Recurso Extraordinário n. 630.147[10] (caso Joaquim Roriz),
no Recurso Extraordinário n. 631.102[11] (caso Jader Barbalho), no Recurso
Extraordinário n. 633.703[12] (caso Leonídio Bouças) e no julgamento das Ações
Declaratórias de Constitucionalidade ns. 29[13] e 30[14] e da Ação Direta de
Inconstitucionalidade n. 4.578[15]. Nos referidos recursos extraordinários a Corte
enfrentou a questão da aplicabilidade da Lei da “Ficha Limpa” para as eleições ocorridas
no ano de 2010, ano de edição da referida Lei. No julgamento das ações concentradas de
constitucionalidade (ADCs ns. 29 e 30, e ADI 4.578), o Tribunal enfrentou a questão da
validade integral da citada Lei da Ficha Limpa.
Na primeira ocasião, no julgamento do citado RE 630.147[16], o Tribunal não chegou a
um consenso, pois 5 ministros (Ayres Britto, Cármen Lúcia, Joaquim Barbosa, Ricardo
Lewandowski e Ellen Gracie) votaram no sentido da aplicabilidade imediata da Lei,
enquanto outros 5 ministros (Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Marco Aurélio, Celso de
Mello e Cezar Peluso) votaram no sentido de que a Lei não poderia ser aplicada no
mesmo ano, em face do disposto no art. 16, CF, que preceitua que a lei que alterar o
processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição
que ocorra até 1 (um) ano da data de sua vigência.
No segundo julgamento, RE 631.102[17] (caso Jáder), ainda com sua composição
incompleta, a Corte, em face da repetição do empate, resolvendo questão de ordem,
decidiu aplicar analogicamente o seu Regimento Interno (art. 205, parágrafo único, II), e
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decidiu pela manutenção do ato normativo impugnado, no caso, a decisão recorrida
emanada do Tribunal Superior Eleitoral que determinou a aplicação da Lei da “Ficha
Limpa” em relação ao candidato Jader Barbalho, de modo que ele não poderia se
candidatar e, uma vez candidato, não poderia tomar posse, pois os votos que lhe foram
dirigidos deveriam ser anulados. 
Na terceira oportunidade, nos autos do RE 633.703[18] (caso Leonídio Bouças), o
Tribunal, com sua composição plena, por 6 votos a 5, tendo em vista o voto de
desempate do Ministro Luiz Fux, decidiu que a Lei da “Ficha Limpa” não se aplicaria nas
eleições ocorridas no mesmo ano de sua edição (2010), em face do citado artigo 16, CF.
A corrente vencida, composta dos referidos 5 ministros, defendia o afastamento do
referido artigo 16, CF, sob o argumento de que a lei não alterava o processo eleitoral,
pois cuidava apenas de condições de elegibilidade e o fazia com apoio no § 9º, art. 14,
CF, que preceitua que Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidades e
os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade
para o exercício do mandato, considerada a vida pregressa do candidato, e a
normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o
abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.
Ante essequadro de instabilidade normativa e jurisprudencial, o Tribunal foi instado a
se manifestar, definitivamente, acerca desse aludido diploma legislativo nos autos das
citadas ações constitucionais concentradas e abstratas (ADI n. 4.578 e ADCs ns. 29 e 30)
[19].
A Corte, por maioria, chancelou integralmente a validade da citada Lei da “Ficha
Limpa”, excetuando-se, apenas, em sua aplicabilidade para as eleições de 2010,
conforme o referido precedente do RE 633.703.
Todos esses julgamentos foram marcados por grande expectativa, pois a citada Lei da
Ficha Limpa, conquanto tenha nascido formalmente de um projeto de lei de autoria do
Dep. Tal, foi materialmente provocado por força de uma intensa campanha de
mobilização popular, capitaneada pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral –
MCCE, pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, pela Ordem dos
Advogados do Brasil – OAB e várias outras entidades da sociedade civil organizada, que
obtiveram a subscrição de quase 1.600.000 (um milhão e seiscentos mil) eleitores, como
projeto de iniciativa popular. [20]
Para muitos, inclusive para vários Ministros do STF, a quantidade de assinaturas é um
elemento relevante. Mas esse número de assinaturas não é tão impressionante assim,
pois no Brasil há quase 130 milhões de eleitores, de modo que apenas 1,23% dos
eleitores brasileiros manifestaram, por escrito, sua adesão e preocupação com a
“limpeza” do processo eleitoral. Assim, os grandes entusiastas desse “projeto de lei”
eram as entidades organizadoras e a grande imprensa, pois a esmagadora maioria dos
brasileiros (98,77%) não estavam interessados nesse pleito político-legislativo.
Nada obstante, essa mobilização popular impressionou a vários ministros da Corte, pois
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em alguns deles, em suas manifestações, mencionaram esse fato de que 1 milhão e 600
mil eleitores subscreveram iniciativa popular. Mas vejamos a curiosidade dos números.
O candidato ao senado Jader Barbalho, que foi inicialmente alcançado pela Lei da “Ficha
Limpa”, obteve, segundo informações do TSE[21], 1.799.762 votos, quase 200 mil
“chancelas” superiores à citada Lei da “Ficha Limpa”. Evidentemente que os votos não
anulam as leis, mas se o número de apoiadores de uma lei é relevante no julgamento,
como sucedeu com a “Ficha Limpa”, o número de votos obtidos pelos alvos da citada Lei
também deveria ser levado em consideração.
Fenômeno similar ocorreu com a candidatura de Joaquim Roriz para governador do
Distrito Federal. O eleitor do Distrito Federal foi privado do direito de votar (ou de não
votar) no candidato Joaquim Roriz. O povo/eleitor candango não pode, ele mesmo,
escolher se queria Roriz ou outro candidato. A Justiça Eleitoral decidiu pelo povo. Nas
democracias, ninguém tem o direito de decidir pelo povo/eleitor.
Cuide-se que a Ordem dos Advogados do Brasil, Ministério Público, Defensoria Pública,
Advocacia Pública, Poder Judiciário, imprensa, igreja, não são representantes do
povo/eleitor. Não obstante sejam importantes instituições sociais e estatais, essas
instituições não são as porta-vozes da Nação. O povo-eleitor fala pelo voto ou pelas ruas.
Em que pese esse caráter antidemocrático da Lei da “Ficha Limpa” e das decisões
judiciais que excluem candidatos do processo eleitoral, há indubitável aspecto
republicano nessas medidas. É que a República é o “filtro” da Democracia. A República,
por meio das leis e decisões judiciais, condiciona o poder soberano do povo, de modo a
torná-lo racional, refreando-se as paixões das massas.
Essas preocupações estiveram presentes nas ideias inspiradoras dos “Federalistas”
(James Madison, Alexander Hamilton e John Jay) [22] quando defenderam que as leis
republicanas deveriam servir de proteção em face das paixões irracionais do povo,
próprio das democracias. Era preciso encontrar um ponto ótimo de equilíbrio entre a
“emoção” democrática e a “razão” republicana. Eis perene advertência dos
“Federalistas” (Artigo 51):
A grande garantia contra uma concentração gradual dos vários poderes no
mesmo braço, porém, consiste em dar aos que administram cada poder os meios
constitucionais necessários e os motivos pessoais para resistir aos abusos dos
outros. As medidas de defesa devem, neste caso como em todos os outros, ser
proporcionais ao perigo de ataque. A ambição deve poder contra-atacar a
ambição. O interesse do homem deve estar vinculado aos direitos constitucionais
do cargo. Talvez não seja lisonjeiro para a natureza humana considera que tais
estratagemas poderiam ser necessários para o controle dos abusos do governo.
Mas o que é o próprio governo, senão a maior das críticas à natureza humana? Se
os homens fossem anjos, não seria necessário governo algum. Se os homens
fossem governados por anjos, o governo não precisaria de controles externos
nem internos. Ao moldar um governo que deve ser exercido por homens sobre
homens, a grande dificuldade reside nisto: é preciso primeiro capacitar o
governo a controlar os governados; e em seguida obrigá-lo a se controlar a si
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próprio. A dependência para com o povo é, sem dúvida, o controle primordial
sobre o governo, mas a experiência ensinou à humanidade que precauções
auxiliares são necessárias. (1993, p. 350).
Tenha-se que o STF, no julgamento da Ficha Limpa, afastou jurisprudência confirmada
no julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental n. 144[23].
 Nesse julgamento, a Corte entendeu que somente decisão transitada em julgado teria
força para impedir o direito de pessoa condenada, mas sem o trânsito em julgado,
tivesse o direito de postular cargo eletivo.
Com efeito, à luz das leis e das decisões judiciais, pode-se inferir que o Estado não confia
no eleitor (povo). O Estado, via suas instituições, órgãos e agentes, e parcela da
sociedade civil organizada (OAB, partidos políticos, igrejas, sindicatos, imprensa,
organizações não-governamentais etc.) também não confia no discernimento do eleitor.
O eleitor, para essas instituições e pessoas, não sabe votar. Vota mal. Escolhe os piores
candidatos. É preciso vigiar o povo/eleitor. Ele não é de confiança. É preciso escolher
antes em quem o eleitor pode votar ou deixar de votar. Essas instituições se apresentam
como “superego freudiano” da sociedade.
Todavia, democracia é uma experiência de tentativas, erros e acertos. A experiência de
se substituir ao povo já foi exercida várias vezes, e nunca funcionou bem para o povo.
Daí porque atribuir-se a Winston Churchill o dito segundo o qual a “democracia é pior
forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas”.
Nessa perspectiva, a Lei da Ficha Limpa, chancelada pelo STF, e celebrada por muitos
como uma vitória da sociedade e da democracia, pode ser vista, na verdade, como
remédio de uma sintomática doença do eleitor que não sabe votar. Ela revela a
desconfiança do Estado em relação ao discernimento do eleitor. Ao invés de uma vitória,
foi uma derrota do povo, pois um eleitorado que necessita de uma lei para dizer que não
deve votar em candidatos “sujos” é um eleitorado incapaz.
4 O FINANCIAMENTO DAS CAMPANHAS ELEITORAIS
O STF, nos autos da ADI 4.650[24], proposta pelo Conselho Federal da OAB, julgará a
validade constitucional do financiamento privado, feito por empresas ou pessoas
jurídicas de direito privado,às campanhas eleitorais. O tema é sensível e relevante,
razão pela qual o relator Ministro Luiz Fux convocou audiências públicas para amplo
debate da questão constitucional controvertida. [25]
Nessa aludida ADI requer-se, em suma, que o STF declare inconstitucionais as leis e
provimentos normativos que permitam a doação por pessoas jurídicas a campanhas
eleitorais e aos partidos políticos, e que seja determinado aos Poderes competentes a
edição de atos normativos reguladores das doações feitas por pessoas físicas. A premissa
da OAB consiste na tese segundo a qual a participação das pessoas jurídicas, via
financiamento econômico, no processo eleitoral é inadmissível e que as doações
privadas viciam o processo eleitoral. Segundo a OAB, essa intervenção das pessoas
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jurídicas no pleito eleitoral viola os princípios constitucionais da igualdade, da
democracia, da república, da moralidade e da vedação do abuso de poder econômico
A PGR opinou favoravelmente ao postulado pela OAB. O Presidente da República, o
Congresso Nacional e a Advocacia-Geral da União se manifestaram em sentido contrário
ao postulado pela OAB, sob o fundamento de que não há incompatibilidade entre as
normas impugnadas e o texto constitucional. Há vários “amici curiae” no feito. Alguns
defendem a reivindicação da OAB. Outros entendem que a ação deve ter o pedido
julgado improcedente.
A postulação da OAB, sem embargo da respeitabilidade dos fundamentos e da
sinceridade de propósitos, e conquanto tenha condições de ser acolhida pelo STF, não é
juridicamente amparada nem é politicamente desejável. Não é juridicamente
sustentável porque a Constituição Federal não veda que as empresas financiem
campanhas privadas. O que a Constituição veda é o abuso de poder econômico. Não é
politicamente desejável porque exclui da dinâmica eleitoral instituições que podem ter
legítimos interesses nos destinos políticos da sociedade.
A democracia contemporânea não é exclusiva do indivíduo-eleitor atomizado. Ela é um
regime supercomplexo de formação de decisões, em um ambiente de dissensos e
múltiplos valores e interesses. Democracia é a convivência plural no dissenso. É a busca
pelo consenso possível e desejável, mas admitindo-se o dissenso no seio da comunidade.
Ao excluir a participação das empresas privadas, com esteio no preconceituoso
argumento da “safadeza” das doações, a OAB presta um desserviço à Nação, sem
embargo da sinceridade de seus propósitos morais e da corretude ética dos instrumentos
utilizados.
Malgrado esse desejo ético moralizante da OAB, os fundamentos normativos e os
argumentos jurídicos esgrimidos pela Ordem exigirão dos ministros da Corte
eventualmente simpáticos a essa tese um contorcionismo interpretativo, pois, insista-se,
no texto constitucional não há vedação a essa prática. [26]
Outro inconveniente da postulação da OAB. Tornar ilícitas as doações às campanhas
induziria à clandestinidade. Nada mais nocivo à democracia e à limpidez das eleições.
Assim, o remédio pode se tornar o veneno. Em vez de salvar o paciente (a democracia)
pode matá-lo.
Imagine-se a seguinte situação hipotética. Dois candidatos a presidente da República
estão em acirrada disputa no segundo turno do pleito. Um dos candidatos tem como
plataforma de campanha aumentar o papel do Estado na economia, reduzindo o papel
das empresas. Esse candidato promete que se for eleito irá desapropriar empresas e
estatizar vários ou quase todos os setores da economia nacional. O outro candidato
promete o oposto. Que irá reduzir o papel do Estado nas atividades econômicas e que irá
incentivar o desenvolvimento nacional por meio de incentivos e estímulos à iniciativa
privada, por meio de um ambiente seguro para os negócios. Indaga-se: as empresas não
teriam interesse no resultado do pleito? Deveriam ser proibidas de financiarem o
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candidato que defendesse o seu interesse?
Eis porque fere a liberdade democrática a proibição de empresas de doarem para as
campanhas políticas. A rigor as doações deveriam ser transparentes e lícitas, de modo
que todos soubessem quem doa e quanto se doa de dinheiro para as campanhas
eleitorais. A ilicitude não está na doação, mas na doação clandestina. Essa deve ser
combatida.
Por essa razão, acredita-se que o STF não dê razão à postulação da OAB e decida
favoravelmente à liberdade democrática, ampla, geral e irrestrita. [27]
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O “coronelismo” é chaga que permanece na estrutura e na dinâmica político-eleitoral
brasileira, pois assenta-se em situações ainda existentes: a miséria econômica de parcela
substantiva do eleitor e na fragilidade moral dos envolvidos no processo político-
eleitoral.
A Lei da “Ficha Limpa”, malgrado a nobreza de propósitos, representa a derrota do
eleitor, pois em vez de ele decidir em quem votar ou deixar de votar, votará apenas
naqueles que foram chancelados pelos órgãos da justiça eleitoral, pois o Estado não
confia no discernimento do cidadão-eleitor.
A proibição de financiamento privado de campanhas eleitorais, postulada pela OAB
perante o STF, se confirmada, induzirá à clandestinidade e excluirá ilegitimamente do
processo democrático empresas e instituições que têm legítimos interesses no processo
político.
A democracia é um regime político arriscado, complexo, mas dentre todas as
alternativas imaginadas e já experimentadas, é a melhor, pois força o povo/eleitor a agir
com responsabilidade, pois o povo não deve transferir para ninguém o seu destino.
6 REFERÊNCIAS
6.1 DOUTRINÁRIAS
CARVALHO, José Murilo. Prefácio à sétima edição. In: LEAL, Victor Nunes.
Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime representativo no Brasil. 7ª edição.
São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
COÊLHO, Marcus Vinícius Furtado. Direito eleitoral e processo eleitoral. 3ª ed. Rio de
Janeiro: Renovar, 2012.
LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime representativo
no Brasil. 7ª edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
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LIMA SOBRINHO, Barbosa. Prefácio à segunda edição. LEAL, Victor Nunes.
Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime representativo no Brasil. 7ª edição.
São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
MADISON, James e outros. Os Artigos Federalistas. Tradução de Maria Luiza Borges.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.
NEVES, Marcelo. Entre Hidra e Hércules – regras e princípios constitucionais. São
Paulo: Martins Fontes, 2013.
OLIVECRONA, Karl. Linguagem jurídica e realidade. São Paulo: Quartier Latin, 2005.
VENÂNCIO FILHO, Alberto. Prefácio à terceira edição. LEAL, Victor Nunes.
Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime representativo no Brasil. 7ª edição.
São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
6.2 JUDICIAIS
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Código eleitoral anotado e legislação
complementar. 10 ed. Brasília: Tribunal Superior Eleitoral, Secretaria de Gestão da
Informação, 2012, 956 p.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n. 630.147. Redator
Ministro Marco Aurélio. Recorrentes: Joaquim Domingos Roriz e outros. Recorridos:
Antonio Carlos de Andrade e outros. Informações:www.stf.jus.br.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n. 631.102. Relator
Ministro Joaquim Barbosa. Recorrente: Jader Fontenele Barbalho. Recorrido:
Ministério Público Eleitoral. Informações: www.stf.jus.br.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n. 633.703. Relator
Ministro Gilmar Mendes. Recorrente: Leonídio Henrique Correa Bouças. Recorrido:
Ministério Público Eleitoral. Informações: www.stf.jus.br.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Declaratória de Constitucionalidade n. 29.
Relator Ministro Luiz Fux. Requerente: Partido Popular Socialista. Requeridos:
Presidente da República e Congresso Nacional. Informações: www.stf.jus.br.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Declaratória de Constitucionalidade n. 30.
Relator Ministro Luiz Fux. Requerente: Conselho Federal da Ordem dos Advogados do
Brasil. Requeridos: Presidente da República e Congresso Nacional. Informações:
www.stf.jus.br.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 4.578.
Relator Ministro Luiz Fux. Requerente: Confederação Nacional das Profissões Liberais.
Requeridos: Presidente da República e Congresso Nacional. Informações:
www.stf.jus.br.
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Informações: www.tse.jus.br.
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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental n. 144. Relator Ministro Celso de Mello. Arguente: Associação dos
Magistrados Brasileiros. Arguido: Tribunal Superior Eleitoral. Informações:
www.stf.jus.br.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 4.650.
Requerente: Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. Requeridos:
Presidente da República e Congresso Nacional. Relator: Ministro Luiz Fux. Informações:
www.stf.jus.br.
O presente texto integra coletânea da Academia Brasileira de Direitos Humanos
publicada com o título “Direito das Futuras Gerações”, sob a organização do prof. dr.
Daury Cesar Fabriz.
NOTAS
 LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime
representativo no Brasil. 7ª edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, pp.
239-240.
 CARVALHO, José Murilo. Prefácio à sétima edição. Coronelismo..., 2012.
 VENÂNCIO FILHO, Alberto. Prefácio à terceira edição. Coronelismo..., 1997.
 LIMA SOBRINHO, Barbosa. Prefácio à segunda edição. Coronelismo..., 1975.
 COÊLHO, Marcus Vinícius Furtado. Direito eleitoral e processo eleitoral. 3ª ed. Rio
de Janeiro: Renovar, 2012.
 O Tribunal Superior Eleitoral tem uma publicação oficial intitulada “Código Eleitoral
anotado e legislação complementar”, disponível na página virtual da Corte:
www.tse.jus.br.
 OLIVECRONA, Karl. Linguagem jurídica e realidade. São Paulo: Quartier Latin,
2005.
 No Brasil há 5.570 Municípios. Logo são 5.570 Prefeitos e Vice-Prefeitos. 5.570
Câmaras de Vereadores, com no mínimo 9 Vereadores em cada uma delas. Informações
obtidas junto ao IBGE: www.ibge.gov.br
 Tomemos, à guisa de exemplo, o estado de Minas Gerais, com os seus 853 Municípios.
Nas eleições de 2010 teve candidato eleito com 40.093 votos para deputado federal e
com 31.180 votos para deputado estadual. Para se eleger deputado federal bastava obter
47 votos por município e para se eleger deputado estadual bastava obter 37 votos por
cidade. Informações obtidas junto ao TSE: www.tse.jus.br
 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n. 630.147. Redator
Ministro Marco Aurélio. Recorrentes: Joaquim Domingos Roriz e outros. Recorridos:
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Antonio Carlos de Andrade e outros. Informações: www.stf.jus.br.
 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n. 631.102. Relator
Ministro Joaquim Barbosa. Recorrente: Jader Fontenele Barbalho. Recorrido:
Ministério Público Eleitoral. Informações: www.stf.jus.br.
 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n. 633.703. Relator
Ministro Gilmar Mendes. Recorrente: Leonídio Henrique Correa Bouças. Recorrido:
Ministério Público Eleitoral. Informações: www.stf.jus.br.
 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Declaratória de Constitucionalidade n. 29.
Relator Ministro Luiz Fux. Requerente: Partido Popular Socialista. Requeridos:
Presidente da República e Congresso Nacional. Informações: www.stf.jus.br.
 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Declaratória de Constitucionalidade n. 30.
Relator Ministro Luiz Fux. Requerente: Conselho Federal da Ordem dos Advogados do
Brasil. Requeridos: Presidente da República e Congresso Nacional. Informações:
www.stf.jus.br.
 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 4.578.
Relator Ministro Luiz Fux. Requerente: Confederação Nacional das Profissões Liberais.
Requeridos: Presidente da República e Congresso Nacional. Informações:
www.stf.jus.br.
 EMENTA DO ACÓRDÃO: ACÓRDÃO – REDAÇÃO – ÓPTICA VENCIDA
–PROCLAMAÇÃO. Ante proclamação do redator na assentada de julgamento, fica em
plano secundário o fato de o designado haver ficado vencido em determinadas matérias,
no que se tornaram prejudicadas em face da perda de objeto do recurso.
REPERCUSSÃO GERAL – CONFIGURAÇÃO – PROCESSO ELEITORAL – LEI –
RETROAÇÃO. Surge a repercutir, além dos muros subjetivos do processo, controvérsia
sobre aplicar-se lei que, de alguma forma, altere o processo eleitoral a certame realizado
antes de decorrido um ano da respectiva edição, presente ainda eficácia retroativa
impugnada na origem. Considerações. CONTROLE DIFUSO DE
CONSTITUCIONALIDADE – RECURSO – CONHECIMENTO E JULGAMENTO DE
FUNDO. Na dicção da ilustrada maioria, descabe, mesmo que na apreciação de fundo do
recurso, adentrar a análise da harmonia, ou não, da lei – da qual se argui certo vício –
com a Constituição Federal. Considerações. REGISTRO – CANDIDATURA – LEI DE
REGÊNCIA – CONTROVÉRSIA – RENÚNCIA – PREJUÍZO DO EXAME. Vindo o
candidato a renunciar à candidatura, acaba prejudicado o exame do recurso voltado ao
deferimento. Informações: www.stf.jus.br.
 EMENTA DO ACÓRDÃO: EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. ART. 14, § 9º DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. MORALIDADE, PROBIDADE ADMINISTRATIVA E VIDA PREGRESSA.
INELEGIBILIDADE. REGISTRO DE CANDIDATURA. LEI COMPLEMENTAR
135/2010. FICHA LIMPA. ALÍNEA K DO § 1º DO ART. 1º DA LEI COMPLEMENTAR
64/1990. RENÚNCIA AO MANDATO. EMPATE. MANUTENÇÃO DO ACÓRDÃO DO
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TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. RECURSO DESPROVIDO. O recurso
extraordinário trata da aplicação, às eleições de 2010, da Lei Complementar 135/2010,
que alterou a Lei Complementar 64/1990 e nela incluiu novas causas de inelegibilidade.
Alega-se ofensa ao princípio da anterioridade ou da anualidade eleitoral, disposto no art.
16 da Constituição Federal. O recurso extraordinário objetiva, ainda, a declaração de
inconstitucionalidade da alínea k do § 1º do art. 1º da LC 64/1990, incluída pela LC
135/2010, para que seja deferido o registro de candidatura do recorrente. Alega-se
ofensa ao princípio da irretroatividade das leis, da segurançajurídica e da presunção de
inocência, bem como contrariedade ao art. 14, § 9º da Constituição, em razão do alegado
desrespeito aos pressupostos que autorizariam a criação de novas hipóteses de
inelegibilidade. Verificado o empate no julgamento do recurso, a Corte decidiu aplicar,
por analogia, o art. 205, parágrafo único, inciso II, do Regimento Interno do Supremo
Tribunal Federal, para manter a decisão impugnada, proferida pelo Tribunal Superior
Eleitoral. Recurso desprovido. Decisão por maioria. Informações: www.stf.jus.br.
 EMENTA DO ACÓRDÃO: LEI COMPLEMENTAR 135/2010, DENOMINADA LEI
DA FICHA LIMPA. INAPLICABILIDADE ÀS ELEIÇÕES GERAIS 2010. PRINCÍPIO DA
ANTERIORIDADE ELEITORAL (ART. 16 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA). I. O
PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE ELEITORAL COMO GARANTIA DO DEVIDO
PROCESSO LEGAL ELEITORAL. O pleno exercício de direitos políticos por seus
titulares (eleitores, candidatos e partidos) é assegurado pela Constituição por meio de
um sistema de normas que conformam o que se poderia denominar de devido processo
legal eleitoral. Na medida em que estabelecem as garantias fundamentais para a
efetividade dos direitos políticos, essas regras também compõem o rol das normas
denominadas cláusulas pétreas e, por isso, estão imunes a qualquer reforma que vise a
aboli-las. O art. 16 da Constituição, ao submeter a alteração legal do processo eleitoral à
regra da anualidade, constitui uma garantia fundamental para o pleno exercício de
direitos políticos. Precedente: ADI 3.685, Rel. Min. Ellen Gracie, julg. em 22.3.2006. A
LC 135/2010 interferiu numa fase específica do processo eleitoral, qualificada na
jurisprudência como a fase pré-eleitoral, que se inicia com a escolha e a apresentação
das candidaturas pelos partidos políticos e vai até o registro das candidaturas na Justiça
Eleitoral. Essa fase não pode ser delimitada temporalmente entre os dias 10 e 30 de
junho, no qual ocorrem as convenções partidárias, pois o processo político de escolha de
candidaturas é muito mais complexo e tem início com a própria filiação partidária do
candidato, em outubro do ano anterior. A fase pré-eleitoral de que trata a jurisprudência
desta Corte não coincide com as datas de realização das convenções partidárias. Ela
começa muito antes, com a própria filiação partidária e a fixação de domicílio eleitoral
dos candidatos, assim como o registro dos partidos no Tribunal Superior Eleitoral. A
competição eleitoral se inicia exatamente um ano antes da data das eleições e, nesse
interregno, o art. 16 da Constituição exige que qualquer modificação nas regras do jogo
não terá eficácia imediata para o pleito em curso. II. O PRINCÍPIO DA
ANTERIORIDADE ELEITORAL COMO GARANTIA CONSTITUCIONAL DA
IGUALDADE DE CHANCES. Toda limitação legal ao direito de sufrágio passivo, isto é,
qualquer restrição legal à elegibilidade do cidadão constitui uma limitação da igualdade
de oportunidades na competição eleitoral. Não há como conceber causa de
inelegibilidade que não restrinja a liberdade de acesso aos cargos públicos, por parte dos
[18]
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candidatos, assim como a liberdade para escolher e apresentar candidaturas por parte
dos partidos políticos. E um dos fundamentos teleológicos do art. 16 da Constituição é
impedir alterações no sistema eleitoral que venham a atingir a igualdade de participação
no prélio eleitoral. III. O PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE ELEITORAL COMO
GARANTIA CONSTITUCIONAL DAS MINORIAS E O PAPEL DA JURISDIÇÃO
CONSTITUCIONAL NA DEMOCRACIA. O princípio da anterioridade eleitoral constitui
uma garantia fundamental também destinada a assegurar o próprio exercício do direito
de minoria parlamentar em situações nas quais, por razões de conveniência da maioria,
o Poder Legislativo pretenda modificar, a qualquer tempo, as regras e critérios que
regerão o processo eleitoral. A aplicação do princípio da anterioridade não depende de
considerações sobre a moralidade da legislação. O art. 16 é uma barreira objetiva contra
abusos e desvios da maioria, e dessa forma deve ser aplicado por esta Corte. A proteção
das minorias parlamentares exige reflexão acerca do papel da Jurisdição Constitucional
nessa tarefa. A Jurisdição Constitucional cumpre a sua função quando aplica
rigorosamente, sem subterfúgios calcados em considerações subjetivas de moralidade, o
princípio da anterioridade eleitoral previsto no art. 16 da Constituição, pois essa norma
constitui uma garantia da minoria, portanto, uma barreira contra a atuação sempre
ameaçadora da maioria. IV. RECURSO EXTRAORDINÁRIO CONHECIDO E PROVIDO.
Recurso extraordinário conhecido para: a) reconhecer a repercussão geral da questão
constitucional atinente à aplicabilidade da LC 135/2010 às eleições de 2010, em face do
princípio da anterioridade eleitoral (art. 16 da Constituição), de modo a permitir aos
Tribunais e Turmas Recursais do país a adoção dos procedimentos relacionados ao
exercício de retratação ou declaração de inadmissibilidade dos recursos repetitivos,
sempre que as decisões recorridas contrariarem ou se pautarem pela orientação ora
firmada. b) dar provimento ao recurso, fixando a não aplicabilidade da Lei
Complementar n° 135/2010 às eleições gerais de 2010. Informações: www.stf.jus.br.
[19] EMENTAS DOS ACÓRDÃOS: AÇÕES DECLARATÓRIAS DE
CONSTITUCIONALIDADE E AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE EM
JULGAMENTO CONJUNTO. LEI COMPLEMENTAR Nº 135/10. HIPÓTESES DE
INELEGIBILIDADE. ART. 14, § 9º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. MORALIDADE
PARA O EXERCÍCIO DE MANDATOS ELETIVOS. INEXISTÊNCIA DE AFRONTA À
IRRETROATIVIDADE DAS LEIS: AGRAVAMENTO DO REGIME JURÍDICO
ELEITORAL. ILEGITIMIDADE DA EXPECTATIVA DO INDIVÍDUO ENQUADRADO
NAS HIPÓTESES LEGAIS DE INELEGIBILIDADE. PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA
(ART. 5º, LVII, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL): EXEGESE ANÁLOGA À REDUÇÃO
TELEOLÓGICA, PARA LIMITAR SUA APLICABILIDADE AOS EFEITOS DA
CONDENAÇÃO PENAL. ATENDIMENTO DOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E
DA PROPORCIONALIDADE. OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO:
FIDELIDADE POLÍTICA AOS CIDADÃOS. VIDA PREGRESSA: CONCEITO JURÍDICO
INDETERMINADO. PRESTÍGIO DA SOLUÇÃO LEGISLATIVA NO PREENCHIMENTO
DO CONCEITO. CONSTITUCIONALIDADE DA LEI. AFASTAMENTO DE SUA
INCIDÊNCIA PARA AS ELEIÇÕES JÁ OCORRIDAS EM 2010 E AS ANTERIORES, BEM
COMO E PARA OS MANDATOS EM CURSO. 1. A elegibilidade é a adequação do
indivíduo ao regime jurídico – constitucional e legal complementar – do processo
eleitoral, razão pela qual a aplicação da Lei Complementar nº 135/10 com a
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consideração de fatos anteriores não pode ser capitulada na retroatividade vedada pelo
art. 5º, XXXVI, da Constituição, mercê de incabível a invocação de direito adquirido ou
de autoridade da coisa julgada (que opera sob o pálio da cláusula rebus sic stantibus)
anteriormente ao pleito em oposição ao diploma legal retromencionado; subjaz a mera
adequação ao sistema normativo pretérito (expectativa de direito). 2. A razoabilidade da
expectativa de um indivíduo de concorrer a cargo público eletivo, à luz da exigência
constitucional de moralidade para o exercício do mandato (art. 14, § 9º), resta afastada
em face da condenação prolatada em segunda instância ou por um colegiado no
exercício da competência de foro por prerrogativa de função, da rejeição de contas
públicas, da perda de cargo público ou do impedimento do exercício de profissão por
violaçãode dever ético-profissional. 3. A presunção de inocência consagrada no art. 5º,
LVII, da Constituição Federal deve ser reconhecida como uma regra e interpretada com
o recurso da metodologia análoga a uma redução teleológica, que reaproxime o
enunciado normativo da sua própria literalidade, de modo a reconduzi-la aos efeitos
próprios da condenação criminal (que podem incluir a perda ou a suspensão de direitos
políticos, mas não a inelegibilidade), sob pena de frustrar o propósito moralizante do art.
14, § 9º, da Constituição Federal. 4. Não é violado pela Lei Complementar nº 135/10 o
princípio constitucional da vedação de retrocesso, posto não vislumbrado o pressuposto
de sua aplicabilidade concernente na existência de consenso básico, que tenha inserido
na consciência jurídica geral a extensão da presunção de inocência para o âmbito
eleitoral. 5. O direito político passivo (ius honorum) é possível de ser restringido pela lei,
nas hipóteses que, in casu, não podem ser consideradas arbitrárias, porquanto se
adequam à exigência constitucional da razoabilidade, revelando elevadíssima carga de
reprovabilidade social, sob os enfoques da violação à moralidade ou denotativos de
improbidade, de abuso de poder econômico ou de poder político. 6. O princípio da
proporcionalidade resta prestigiado pela Lei Complementar nº 135/10, na medida em
que: (i) atende aos fins moralizadores a que se destina; (ii) estabelece requisitos
qualificados de inelegibilidade e (iii) impõe sacrifício à liberdade individual de
candidatar-se a cargo público eletivo que não supera os benefícios socialmente
desejados em termos de moralidade e probidade para o exercício de referido munus
publico. 7. O exercício do ius honorum (direito de concorrer a cargos eletivos), em um
juízo de ponderação no caso das inelegibilidades previstas na Lei Complementar nº
135/10, opõe-se à própria democracia, que pressupõe a fidelidade política da atuação
dos representantes populares. 8. A Lei Complementar nº 135/10 também não fere o
núcleo essencial dos direitos políticos, na medida em que estabelece restrições
temporárias aos direitos políticos passivos, sem prejuízo das situações políticas ativas. 9.
O cognominado desacordo moral razoável impõe o prestígio da manifestação legítima do
legislador democraticamente eleito acerca do conceito jurídico indeterminado de vida
pregressa, constante do art. 14, § 9.º, da Constituição Federal. 10. O abuso de direito à
renúncia é gerador de inelegibilidade dos detentores de mandato eletivo que
renunciarem aos seus cargos, posto hipótese em perfeita compatibilidade com a
repressão, constante do ordenamento jurídico brasileiro (v.g., o art. 55, § 4º, da
Constituição Federal e o art. 187 do Código Civil), ao exercício de direito em manifesta
transposição dos limites da boa-fé. 11. A inelegibilidade tem as suas causas previstas nos
§§ 4º a 9º do art. 14 da Carta Magna de 1988, que se traduzem em condições objetivas
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cuja verificação impede o indivíduo de concorrer a cargos eletivos ou, acaso eleito, de os
exercer, e não se confunde com a suspensão ou perda dos direitos políticos, cujas
hipóteses são previstas no art. 15 da Constituição da República, e que importa restrição
não apenas ao direito de concorrer a cargos eletivos (ius honorum), mas também ao
direito de voto (ius sufragii). Por essa razão, não há inconstitucionalidade na cumulação
entre a inelegibilidade e a suspensão de direitos políticos. 12. A extensão da
inelegibilidade por oito anos após o cumprimento da pena, admissível à luz da disciplina
legal anterior, viola a proporcionalidade numa sistemática em que a interdição política
se põe já antes do trânsito em julgado, cumprindo, mediante interpretação conforme a
Constituição, deduzir do prazo posterior ao cumprimento da pena o período de
inelegibilidade decorrido entre a condenação e o trânsito em julgado. 13. Ação direta de
inconstitucionalidade cujo pedido se julga improcedente. Ações declaratórias de
constitucionalidade cujos pedidos se julgam procedentes, mediante a declaração de
constitucionalidade das hipóteses de inelegibilidade instituídas pelas alíneas "c", "d", "f",
"g", "h", "j", "m", "n", "o", "p" e "q" do art. 1º, inciso I, da Lei Complementar nº 64/90,
introduzidas pela Lei Complementar nº 135/10, vencido o Relator em parte mínima,
naquilo em que, em interpretação conforme a Constituição, admitia a subtração, do
prazo de 8 (oito) anos de inelegibilidade posteriores ao cumprimento da pena, do prazo
de inelegibilidade decorrido entre a condenação e o seu trânsito em julgado. 14.
Inaplicabilidade das hipóteses de inelegibilidade às eleições de 2010 e anteriores, bem
como para os mandatos em curso, à luz do disposto no art. 16 da Constituição.
Precedente: RE 633.703, Rel. Min. GILMAR MENDES (repercussão geral).
Informações: www.stf.jus.br.
 MOVIMENTO DE COMBATE À CORRUPÇÃO ELEITORAL - MCCE. Informações:
www.mcce.org.br.
 BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Informações: www.tse.jus.br.
 MADISON, James e outros. Os Artigos Federalistas. Tradução de Maria Luiza
Borges. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.
 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental n. 144. Relator Ministro Celso de Mello. Arguente: Associação dos
Magistrados Brasileiros. Arguido: Tribunal Superior Eleitoral. EMENTA DO ACÓRDÃO:
ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL -
POSSIBILIDADE DE MINISTROS DO STF, COM ASSENTO NO TSE, PARTICIPAREM
DO JULGAMENTO DA ADPF - INOCORRÊNCIA DE INCOMPATIBILIDADE
PROCESSUAL, AINDA QUE O PRESIDENTE DO TSE HAJA PRESTADO
INFORMAÇÕES NA CAUSA - RECONHECIMENTO DA LEGITIMIDADE ATIVA "AD
CAUSAM" DA ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS BRASILEIROS - EXISTÊNCIA,
QUANTO A ELA, DO VÍNCULO DE PERTINÊNCIA TEMÁTICA - ADMISSIBILIDADE
DO AJUIZAMENTO DE ADPF CONTRA INTERPRETAÇÃO JUDICIAL DE QUE POSSA
RESULTAR LESÃO A PRECEITO FUNDAMENTAL - EXISTÊNCIA DE
CONTROVÉRSIA RELEVANTE NA ESPÉCIE, AINDA QUE NECESSÁRIA SUA
DEMONSTRAÇÃO APENAS NAS ARGÜIÇÕES DE DESCUMPRIMENTO DE CARÁTER
[20]
[21]
[22]
[23]
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INCIDENTAL - OBSERVÂNCIA, AINDA, NO CASO, DO POSTULADO DA
SUBSIDIARIEDADE - MÉRITO: RELAÇÃO ENTRE PROCESSOS JUDICIAIS, SEM
QUE NELES HAJA CONDENAÇÃO IRRECORRÍVEL, E O EXERCÍCIO, PELO
CIDADÃO, DA CAPACIDADE ELEITORAL PASSIVA - REGISTRO DE CANDIDATO
CONTRA QUEM FORAM INSTAURADOS PROCEDIMENTOS JUDICIAIS,
NOTADAMENTE AQUELES DE NATUREZA CRIMINAL, EM CUJO ÂMBITO AINDA
NÃO EXISTA SENTENÇA CONDENATÓRIA COM TRÂNSITO EM JULGADO -
IMPOSSIBILIDADE CONSTITUCIONAL DE DEFINIR-SE, COMO CAUSA DE
INELEGIBILIDADE, A MERA INSTAURAÇÃO, CONTRA O CANDIDATO, DE
PROCEDIMENTOS JUDICIAIS, QUANDO INOCORRENTE CONDENAÇÃO CRIMINAL
TRANSITADA EM JULGADO - PROBIDADE ADMINISTRATIVA, MORALIDADE PARA
O EXERCÍCIO DO MANDATO ELETIVO, "VITA ANTEACTA" E PRESUNÇÃO
CONSTITUCIONAL DE INOCÊNCIA - SUSPENSÃO DE DIREITOS POLÍTICOS E
IMPRESCINDIBILIDADE, PARA ESSE EFEITO, DO TRÂNSITO EM JULGADO DA
CONDENAÇÃO CRIMINAL (CF, ART. 15, III) - REAÇÃO, NO PONTO, DA
CONSTITUIÇÃO DEMOCRÁTICA DE 1988 À ORDEM AUTORITÁRIA QUE
PREVALECEU SOB O REGIME MILITAR - CARÁTER AUTOCRÁTICO DA CLÁUSULA
DE INELEGIBILIDADE FUNDADA NA LEI COMPLEMENTAR Nº 5/70 (ART. 1º, I,
"N"), QUE TORNAVA INELEGÍVEL QUALQUERRÉU CONTRA QUEM FOSSE
RECEBIDA DENÚNCIA POR SUPOSTA PRÁTICA DE DETERMINADOS ILÍCITOS
PENAIS - DERROGAÇÃO DESSA CLÁUSULA PELO PRÓPRIO REGIME MILITAR (LEI
COMPLEMENTAR Nº 42/82), QUE PASSOU A EXIGIR, PARA FINS DE
INELEGIBILIDADE DO CANDIDATO, A EXISTÊNCIA, CONTRA ELE, DE
CONDENAÇÃO PENAL POR DETERMINADOS DELITOS - ENTENDIMENTO DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL SOBRE O ALCANCE DA LC Nº 42/82:
NECESSIDADE DE QUE SE ACHASSE CONFIGURADO O TRÂNSITO EM JULGADO
DA CONDENAÇÃO (RE 99.069/BA, REL. MIN. OSCAR CORRÊA) - PRESUNÇÃO
CONSTITUCIONAL DE INOCÊNCIA: UM DIREITO FUNDAMENTAL QUE ASSISTE A
QUALQUER PESSOA - EVOLUÇÃO HISTÓRICA E REGIME JURÍDICO DO
PRINCÍPIO DO ESTADO DE INOCÊNCIA - O TRATAMENTO DISPENSADO À
PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA PELAS DECLARAÇÕES INTERNACIONAIS DE
DIREITOS E LIBERDADES FUNDAMENTAIS, TANTO AS DE CARÁTER REGIONAL
QUANTO AS DE NATUREZA GLOBAL - O PROCESSO PENAL COMO DOMÍNIO MAIS
EXPRESSIVO DE INCIDÊNCIA DA PRESUNÇÃO CONSTITUCIONAL DE INOCÊNCIA
- EFICÁCIA IRRADIANTE DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA - POSSIBILIDADE DE
EXTENSÃO DESSE PRINCÍPIO AO ÂMBITO DO PROCESSO ELEITORAL -
HIPÓTESES DE INELEGIBILIDADE - ENUMERAÇÃO EM ÂMBITO
CONSTITUCIONAL (CF, ART. 14, §§ 4º A 8º) - RECONHECIMENTO, NO ENTANTO,
DA FACULDADE DE O CONGRESSO NACIONAL, EM SEDE LEGAL, DEFINIR
"OUTROS CASOS DE INELEGIBILIDADE" - NECESSÁRIA OBSERVÂNCIA, EM TAL
SITUAÇÃO, DA RESERVA CONSTITUCIONAL DE LEI COMPLEMENTAR (CF, ART. 14,
§ 9º) - IMPOSSIBILIDADE, CONTUDO, DE A LEI COMPLEMENTAR, MESMO COM
APOIO NO § 9º DO ART. 14 DA CONSTITUIÇÃO, TRANSGREDIR A PRESUNÇÃO
CONSTITUCIONAL DE INOCÊNCIA, QUE SE QUALIFICA COMO VALOR
FUNDAMENTAL, VERDADEIRO "CORNERSTONE" EM QUE SE ESTRUTURA O
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SISTEMA QUE A NOSSA CARTA POLÍTICA CONSAGRA EM RESPEITO AO REGIME
DAS LIBERDADES E EM DEFESA DA PRÓPRIA PRESERVAÇÃO DA ORDEM
DEMOCRÁTICA - PRIVAÇÃO DA CAPACIDADE ELEITORAL PASSIVA E PROCESSOS,
DE NATUREZA CIVIL, POR IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA - NECESSIDADE,
TAMBÉM EM TAL HIPÓTESE, DE CONDENAÇÃO IRRECORRÍVEL -
COMPATIBILIDADE DA LEI Nº 8.429/92 (ART. 20, "CAPUT") COM A
CONSTITUIÇÃO FEDERAL (ART. 15, V, c/c O ART. 37, § 4º) - O SIGNIFICADO
POLÍTICO E O VALOR JURÍDICO DA EXIGÊNCIA DA COISA JULGADA -
RELEITURA, PELO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL, DA SÚMULA 01/TSE, COM
O OBJETIVO DE INIBIR O AFASTAMENTO INDISCRIMINADO DA CLÁUSULA DE
INELEGIBILIDADE FUNDADA NA LC 64/90 (ART. 1º, I, "G") - NOVA
INTERPRETAÇÃO QUE REFORÇA A EXIGÊNCIA ÉTICO-JURÍDICA DE PROBIDADE
ADMINISTRATIVA E DE MORALIDADE PARA O EXERCÍCIO DE MANDATO
ELETIVO - ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL
JULGADA IMPROCEDENTE, EM DECISÃO REVESTIDA DE EFEITO VINCULANTE.
Informações: www.stf.jus.br.
 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 4.650.
Requerente: Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. Requeridos:
Presidente da República e Congresso Nacional. Relator: Ministro Luiz Fux. Informações:
www.stf.jus.br.
[25] DESPACHO DO MINISTRO RELATOR: FINANCIAMENTO DE CAMPANHAS
ELEITORAIS. MODELO NORMATIVO VIGENTE. LEIS Nº 9.096/95 e Nº 9.504/97.
DESIGNAÇÃO DE AUDIÊNCIA PÚBLICA NOS DIAS 17/06 E 24/06 DO ANO
CORRENTE. DIVULGAÇÃO DE PRETENDENTES A FIGURAREM COMO
EXPOSITORES. Despacho: Trata-se de Ação de Direta de Inconstitucionalidade, com
pedido cautelar, ajuizada pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil –
OAB, contra diversas disposições da Lei nº 9.504/97 (Lei das Eleições) e da Lei nº
9.096/95 (Lei Orgânica dos Partidos Políticos), que, ao possibilitarem doações
financeiras por pessoas naturais e jurídicas a campanhas eleitorais e a partidos políticos,
teriam contrariado os princípios da isonomia (CRFB/88, art. 5º, caput, e art. 14),
democrático, republicano e da proporcionalidade, na sua dimensão de vedação à
proteção insuficiente (“Untermassverbot”). Em linhas gerais, o Requerente alega que o
arcabouço normativo impugnado maximiza os vícios da dinâmica do processo eleitoral
que, na atual quadra histórica, se caracteriza por uma intolerável dependência da
política em relação ao poder econômico. Para o Conselho Federal da OAB, um desenho
institucional como o vigente subverte a lógica do processo eleitoral, gerando uma
assimetria entre seus participantes, porquanto exclui ipso facto cidadãos que não
disponham de recursos para disputar em igualdade de condições com aqueles que
injetem em suas campanhas vultosas quantias financeiras, seja por conta própria, seja
por captação de doadores. Por outro lado, a proeminência do aspecto econômico, como
condicionante do (in)sucesso nas eleições, cria, segundo alega o Requerente, um
ambiente vulnerável à formação de pactos pouco republicanos entre candidatos e
financiadores de campanha, em especial durante o exercício dos mandatos eletivos,
ocasião em que surgiriam atos de corrupção e favorecimentos aos doadores. Outro
[24]
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problema diagnosticado pelo Conselho Federal da OAB reside na débil capacidade dos
limites ao financiamento privado de campanhas previsto na legislação pátria atual para
impedir essa cooptação, que potencializa esse cenário já conspurcado.
 Diante disso, postula o Requerente a modificação do marco normativo vigente, com o
propósito de impedir que as desigualdades econômicas existentes na sociedade
convertam-se, agora de forma institucionalizada, em desigualdade política. Contudo,
ante a possibilidade de se criar uma “lacuna jurídica ameaçadora”, em caso de
declaração da inconstitucionalidade dos critérios de doação vigentes, pugna pela
modulação dos efeitos, exortando a atuação do Poder Legislativo para, no prazo máximo
de 18 (dezoito) meses, elaborar o regramento constitucionalmente adequado acerca do
financiamento privados das campanhas eleitorais, atribuindo-se ao Tribunal Superior
Eleitoral a regulamentação provisória da matéria. Como visto, a temática versada nesta
ação reclama análise que ultrapassa os limites do estritamente jurídico, vez que
demanda para o seu deslinde abordagem interdisciplinar da matéria, atenta às nuances
dos fatores econômicos na dinâmica do processo eleitoral e às repercussões práticas
deste modelo normativo de financiamento das campanhas em vigor para o adequado
funcionamento das instituições democráticas. Segundo levantamento feito na base de
dados do sítio eletrônico do Tribunal Superior Eleitoral, candidatos a prefeitos e
vereadores, comitês eleitorais e partidos políticos arrecadaram, apenas no primeiro
turno, mais de R$ 3,5 bilhões com doações para suas campanhas das eleições em 2012.
Tais números evidenciam que a discussão concernente ao financiamento das campanhas
situa-se nos estreitos limites dos subsistemas econômico e político, impactando
diretamente no funcionamento das instituições democráticas. Considera-se, assim,
valiosa e necessária a realização de Audiência Pública acerca dos temas controvertidos
nesta ação, de sorte que a Suprema Corte possa ser municiada de informações
imprescindíveis para o melhor equacionamento do feito, e, especialmente, para que o
futuro pronunciamento judicial se revista de maior legitimidade democrática. A oitiva
de especialistas, cientistas políticos, juristas, membros da classe política e entidades da
sociedade civil organizadanão se destina a colher interpretações jurídicas dos textos
constitucional ou legal, mas sim a trazer para a discussão alguns pontos relevantes dos
pontos de vista econômico, político, social e cultural acerca do financiamento vigente,
em especial por meio de estudos estatísticos e/ou empíricos. As audiências públicas
serão realizadas nos dias 17 e 24 de junho de 2013, tendo cada expositor o tempo de
quinze minutos, viabilizada a juntada de memoriais. Os interessados, pessoas jurídicas
com ou sem fins lucrativos, mas de adequada representatividade, e pessoas físicas de
notório conhecimento nas áreas envolvidas, poderão manifestar seu desejo de participar
e de indicar expositores na futura Audiência Pública até às 20h do dia 10 de maio de
2013. Os requerimentos de participação deverão ser encaminhados EXCLUSIVAMENTE
para o endereço de e-mail financiamentodecampanhas@stf.jus.br até o referido prazo. 
Solicite-se, nos termos do art. 154, parágrafo único, inciso I, do Regimento Interno do
STF, a divulgação, no sítio desta Corte, bem como através da assessoria de imprensa do
tribunal, da abertura de prazo, até o dia 10 de maio de 2013, para o requerimento de
participação nas Audiências Públicas a serem oportunamente realizadas. À Secretaria
para que providencie a elaboração de Edital de Convocação para a presente Audiência
Pública. Após, deem ciência do teor desta decisão ao Procurador-Geral da República e
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Luís Carlos Martins Alves Jr.
Natural de Campo Maior - PI. Bacharel em Direito, Universidade
Federal do Piauí - UFPI. Doutor em Direito Constitucional pela
Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. Procurador da
Fazenda Nacional perante o Supremo Tribunal Federal. Advogado
público federal inscrito na OAB/DF. Professor de Direito
Constitucional no Centro Universitário de Brasília e no Centro
Universitário de Anápolis.
https://plus.google.com/104648183030559343939/about
aos demais integrantes da Corte. Informações: www.stf.jus.br.
 NEVES, Marcelo. Entre Hidra e Hércules – regras e princípios constitucionais. São
Paulo: Martins Fontes, 2013.
A OAB deveria lutar pela redução dos municípios, pela unificação dos pleitos
eleitorais, pela unificação dos mandatos políticos, pelo voto distrital puro para os cargos
legislativos, pela redução do número de cadeiras nos Parlamentos, dentre outras
medidas profiláticas de higiene político eleitoral.
Autor
Informações sobre o texto
Como citar este texto (NBR 6023:2002 ABNT)
ALVES JR., Luís Carlos Martins. O “coronelismo” e a democracia brasileira. Um breve
ensaio reflexivo sobre a Lei da “Ficha Limpa” e sobre o financiamento das campanhas
eleitorais, sob as luzes do magistério doutrinário de Victor Nunes Leal. Jus Navigandi,
Teresina, ano 18, n. 3815, 11 dez. 2013. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos
/26114>. Acesso em: 27 maio 2014.
[26]
[27]
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