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45 Reprodução das Plantas Cultivadas A flor contém as estruturas de reprodução sexual das plantas. De suas partes componentes - sépalas, pétalas, estames e pistilo, apenas as duas últimas funcionam na reprodução, com produção de gametas. Geralmente o estame consta de um filamento, o filete, que suporta a antera, dentro da qual se formam os grãos de pólen. O pistilo consiste de uma estrutura aumentada na base, ou ovário, que contém os óvulos, um prolongamento em forma de tubo fino, denominado estilo ou estilete, e o estigma, sobre o qual se depositam os grãos de pólen. No ovário se encontram os óvulos que, depois de fecundados, dão origem às sementes. O número de óvulos pode variar de um, em gramíneas como arroz, cevada, e trigo, a várias centenas, como é o caso do fumo, berinjela, tomate, etc. Flores perfeitas ou andróginas são as que contêm os estames e o pistilo na mesma estrutura floral e, imperfeitas, quando falta um desses verticilos. A maior parte das plantas cultivadas é do primeiro tipo. Como exemplos tem-se o trigo, aveia, cevada, centeio, arroz, sorgo, algodão, fumo, beterraba açucareira, soja, feijão e a maioria das gramíneas e leguminosas forrageiras. As flores imperfeitas são estaminadas, quando possuem somente os estames, ou pistiladas, somente com pistilo. A planta do milho, por exemplo, tem flores estaminadas no pendão (inflorescência masculina) e pistiladas, na espiga (inflorescência feminina). As flores imperfeitas são sempre incompletas. Quando se encontram os dois sexos na mesma planta, porém separados, trata-se de espécie monóica; quando em indivíduos diferentes, a espécie é dióica. Outro conceito é o de plantas polígamas - são as que possuem flores andróginas e unissexuais, podendo ocorrer as três formas reunidas: masculina, feminina e andrógina, como no mamoeiro. 5.1. REPRODUÇÃO SEXUAL E ASSEXUAL NAS PLANTAS CULTIVADAS A reprodução sexuada é, basicamente, a regra nas plantas superiores, embora em muitas delas ocorra, naturalmente, a propagação assexuada ou vegetativa, de forma facultativa ou mesmo obrigatória. 46 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos 5.1.1. Reprodução Sexual Gametogênese As sementes provêm do desenvolvimento dos óvulos e seus tecidos envolventes. Na reprodução sexual normal a fusão dos gametas masculino e feminino é essencial à produção de sementes. O ovário pode conter um único óvulo (cereais) ou muitos (fumo). Gametogênese, como o próprio nome indica, é o processo de formação dos gametas masculino e feminino. Microsporogênese É o processo de formação dos gametas masculinos. Numa antera imatura encontram-se quatro cavidades que contêm numerosos micrósporos, ou células- mãe. Cada um passa por duas divisões nucleares sucessivas, formando uma tétrade de quatro micrósporos, que podem transformar-se num grão de pólen, com a divisão de seu núcleo, para formar um núcleo vegetativo e outro generativo. Este último, por sua vez, origina, por divisão, dois núcleos espermáticos. À medida que a antera amadurece, os sacos polínicos se abrem, dispersando os grãos de pólen, produzidos em grande número. No milho, um único pendão pode conter de 20 a 50 milhões de grãos de pólen. Macrosporogênese É o processo de formação dos gametas femininos. A célula germinal feminina desenvolve-se dentro do óvulo por uma sucessão de etapas semelhante à que ocorre na microsporogênese. No interior de cada óvulo encontra-se uma célula individual, chamada célula-mãe ou megasporócito. Essa célula também sofre duas divisões nucleares sucessivas, produzindo uma tétrade de quatro megásporos. Desses, três se degeneram; o outro continua submetendo-se a mitoses sucessivas, formando finalmente o saco embrionário, com oito núcleos, dos quais, dois constituirão as sinérgidas, situadas ao lado de um terceiro, na região da micrópila, que formará a oosfera; três, situar-se-ão em sentido oposto, formando as antípodas; os dois restantes, denominados de núcleos polares, se localizarão na parte central do saco embrionário. Polinização e Fertilização Polinização consiste na transferência de grãos de pólen da antera para o estigma, na mesma flor, ou de uma flor para outra. Os meios de transferência do pólen variam de conformidade com a espécie. O pólen do milho é transportado 47 Reprodução das Plantas Cultivadas pelo vento, atingindo outras plantas; porém, uma pequena parte pode cair sobre estigmas da mesma planta. Plantas forrageiras e centeio também são, em grande parte, polinizadas através do vento. Em muitas leguminosas, como a alfafa e o trevo roxo, o transporte se dá por insetos. Na soja, trigo, feijão e outras culturas parte do pólen cai diretamente sobre o estigma da mesma flor, à medida que as anteras se abrem. No trigo, aveia, cevada e arroz, os estames e o pistilo se encontram dentro das brácteas florais que tendem a evitar a polinização com pólen de outras flores. O estigma é a parte do pistilo que recebe o pólen, que aí germina, emitindo o tubo polínico; este cresce através do estilete e penetra no óvulo através de uma abertura chamada micrópila. As células germinais masculinas, ou núcleos espermáticos, movem-se através do tubo polínico e são descarregadas dentro do saco embrionário. Fertilização ou fecundação compreende a fusão dos gametas masculino e feminino. O processo é esquematizado na Figura 5.1. Nem sempre a polinização é seguida de fertilização, seja pelos grãos de pólen não atingirem o estigma da própria flor ou de outras flores, ou em função dos mecanismos naturais. Esta questão será discutida no Capítulo 11. Após a penetração dos dois núcleos espermáticos no saco embrionário, um deles funde-se com a oosfera, formando o zigoto. Esse processo constitui a fertilização. O outro núcleo espermático une-se com os dois núcleos polares, fundidos anteriormente ou no momento dessa união, originando o endosperma, a partir do núcleo endospermático primário. Os dois processos, de dupla e tríplice fusão, constitui o que se conhece por dupla fertilização, da qual origina- se a semente. O ovo ou zigoto desenvolve-se, formando o embrião que, após a germinação, originará nova planta. O endosperma é um tecido de reserva. Nas monocotiledôneas, acumula amido, açúcares, óleo, proteína, e outras substâncias utilizadas pelo embrião até a fase inicial de desenvolvimento da planta, como ocorre nas gramíneas. Nas sementes de dicotiledôneas como soja, feijão, amendoim e outras leguminosas, o endosperma é absorvido pelo embrião em desenvolvimento e o material de reserva é armazenado nos cotilédones. Na semente, apenas o embrião toma parte no processo hereditário, embora possa haver participação de genes localizados em organelas citoplasmáticas. Sendo uma estrutura meristemática o embrião oferece pouca oportunidade para a expressão de caracteres. No entanto, muitas plantas têm exibido diferenças genéticas no estádio de seedlings e, subseqüentemente, 48 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos muitas características contrastantes aparecem. O endosperma, quando presente em quantidades proporcionalmente grandes, como nas sementes de cereais, pode exibir vestígios de diferenciação característica do pólen. Este fenômeno foi notado por Focke, em 1881, recebendo o nome de xenia. A semente normal inclui também vários remanescentes dos tecidos maternos, dependendo da espécie vegetal. Elementos da nucela e integumento podem persistir. Em alguns casos tais tecidos, como parte do fruto, podem ser influenciados no desenvolvimento, pela natureza das combinações parentais, o que foi descrito por Swingle, em 1926, com a denominação de metaxenia. Um bom exemplo desse efeito é o estímulo diferencial do desenvolvimento da fibra de algodão, que é um prolongamento (crescimento externo) do tegumento da semente. Por conseguinte, uma semente normal pode ser considerada como uma quimera, em que coexistem tecidos de origeme natureza diferentes. Várias exceções do sistema normal de reprodução podem ocorrer, tais como a poliembrionia e a apomixia. FIGURA 5.1. Processos envolvidos na reprodução sexual (adaptado de Ebert,1970). Sistemas reprodutivos das plantas Do ponto de vista da estrutura reprodutiva, as espécies de plantas cultivadas podem ser divididas em dois grupos, dependendo de serem, predominantemente, autopolinizadas e autofecundadas (autógamas) ou de serem, em grande parte, de polinização e fecundação cruzada (alógamas). Os 49 Reprodução das Plantas Cultivadas métodos de melhoramento aplicáveis ao grupo de plantas autógamas são no geral, diferentes daqueles que se aplicam às espécies alógamas. A diferença importante entre os dois grupos está relacionada com o efeito da endogamia em contraposição à polinização livre, ao acaso, sobre a estrutura genética das populações (Allard, 1971). Nas populações de espécies alógamas todas as plantas são altamente heterozigotas e, quase sem exceção, a endogamia forçada resulta numa deterioração geral do vigor e em outros efeitos adversos. A heterozigose é, na maioria dos casos, uma característica essencial das cultivares dessas espécies e, conseqüentemente, deve ser mantida durante o programa de melhoramento, ou restaurada nas etapas finais do programa. Ao contrário, populações de plantas autógamas, pouco ou nada melhoradas, consistem, geralmente, de misturas de muitas linhagens homozigotas, com alto grau de parentesco e que se reproduzem isolada ou independentemente. O objetivo da maioria dos programas de melhoramento em espécies desse grupo consiste na obtenção de uma linha pura. Além da sua influência em determinar as características gerais do programa de melhoramento, a biologia reprodutiva de uma espécie tem um papel importante na determinação dos procedimentos mais específicos que deverão conduzir ao sucesso desse programa. Por exemplo, o tipo de programa mais adequado para o milho, onde a autofecundação é fácil e a hibridação em larga escala é economicamente viável, torna-se diferente tanto no objetivo como na execução em relação a um programa mais apropriado para alfafa, que também é uma espécie alógama, porém na qual tanto a autofecundação como o cruzamento controlado são difíceis. De maneira semelhante, a facilidade com que sementes de autofecundação ou sementes híbridas, em quantidade razoável, podem ser obtidas numa planta autógama, como o fumo, por exemplo, permite maior flexibilidade na escolha do programa de melhoramento do que para aveia, que também é uma espécie autógama, porém, onde híbridos artificiais só podem ser reproduzidos com muito trabalho e custo. Muitas espécies apresentam um grau de autofertilização tão elevado que se tornam desnecessárias medidas para a proteção contra os cruzamentos mesmo nos campos de melhoramento, onde muitos tipos diferentes são cultivados lado a lado. Já em outras espécies, onde os cruzamentos são freqüentes, é essencial adotarem-se certas medidas para o controle da polinização. 50 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos O conhecimento dos sistemas reprodutivos é fundamental para o melhoramento de plantas e, portanto, deve ser considerado na seleção dos métodos. No restante deste capítulo, serão discutidos alguns sistemas mais comuns pelos quais as plantas cultivadas se reproduzem. Simplificações das técnicas de melhoramento de plantas serão consideradas, de maneira geral, com mais detalhes em capítulos posteriores. Mecanismos naturais de controle da polinização Mecanismos diversos determinam se uma planta superior será preferencialmente autopolinizada ou se estará sujeita a cruzamentos. Em geral, esquemas eficientes de endogamia são mais facilmente desenvolvidos de que esquemas igualmente eficientes de cruzamentos, porque para a endogamia não se necessita de diversidade genética entre os indivíduos. Dificuldades para o cruzamento são quase sempre devidas à cleistogamia ou a dispositivos com efeitos semelhantes. Cleistogamia consiste na polinização e fecundação antes da abertura da flor andrógina. A eficiência dos mecanismos de endogamia está sujeita a modificações, tanto por causas genéticas como ambientais. Assim, a freqüência de cruzamentos varia de uma cultivar para outra e com as diferentes estações do ano e locais. São interessantes alguns exemplos de semelhanças estruturais entre flores de plantas de sistemas reprodutivos diferentes, como o trigo e o centeio. Nas flores do trigo, que é uma planta autógama, as anteras abrem-se antes da sua extrusão, de tal modo que as anteras vazias pendentes não têm qualquer função. Isso corresponde a uma cleistogamia efetiva, que não ocorre no centeio, que é alógama. O comportamento das flores de trigo permite, entretanto, uma baixa freqüência de cruzamentos. No tomate, a polinização é seguida da abertura da flor, porém, os estames formam um cone envolvendo o estigma, de tal maneira que a autopolinização é quase garantida. Entre as espécies cultivadas de tomate existe alguma variação no comportamento do estilo, que se prolonga para fora do cone de estames, resultando tipos longistilos. Com essa variação na morfologia floral, pode ocorrer alta freqüência de cruzamentos. O importante é considerar que variações em caracteres, tais como morfologia floral e época da deiscência do pólen por serem devidas a um único gene, podem alterar drasticamente o sistema reprodutivo da espécie. Existem evidências de que espécies autógamas se originam por evolução de alógamas, como estratégia adaptativa, porém, a reversibilidade da autogamia 51 Reprodução das Plantas Cultivadas para alogamia é discutível, Jain (1976). Alguns autores, como Mather (1943), sugerem que essa direção evolutiva é devida à maior flexibilidade da estrutura genética das populações alógamas, permitindo que se adaptem melhor às mudanças de longo prazo no ambiente do que as autógamas, que são geneticamente menos flexíveis. Assim, alógamas são potencialmente originadoras de autógamas, uma vez que essas, por sua uniformidade acompanhada de homozigose, são capazes de grande adaptação imediata. Isso permite-lhes fazerem face às mudanças do ambiente, em curto prazo, melhor do que as suas ancestrais alógamas, que são mais variáveis. Essa linha de raciocínio parece explicar a situação das espécies cultivadas, muitas das quais são autógamas, talvez devido à grande importância que é dada à adaptação imediata nas condições de cultivo. Se por um lado a autogamia é vantajosa por possibilitar a exploração mais eficiente dos recursos de ambiente, na natureza, a longo prazo, isso pode restringir a flexibilidade que é, teoricamente, necessária para fazer face aos desafios das mudanças do ambiente que ocorrem com o tempo. Realmente, segundo Allard (1971) existem muito mais mecanismos para evitar a autogamia do que para facilitá-la; o número de alógamas entre as espécies selvagens é maior do que entre as espécies cultivadas. Dispositivos que favorecem a endogamia podem ter um controle genético simples, uma vez que a diversidade genética entre os indivíduos não é importante nesse caso. Existem também vários dispositivos que favorecem o cruzamento e que não necessitam de diversidade genética. Entre os mais comuns estão aqueles que fazem com que os gametas masculinos e femininos estejam bastante separados entre si, como na monoicia e dioicia. Espécies monóicas, tais como milho, noz e moranguinho, constituem exemplos desse tipo. Na protandria e protoginia, que são formas de dicogamia, as anteras e estigmas de uma flor se tornam maduros em tempos diferentes. A cenoura e a framboesa são exemplos de espécies protândricas, em que primeiro ocorre a liberação do pólen; abacate e noz são espécies protogínicas, em que o estigma está receptivo antes da liberação dos grãos de pólen. Outro exemplo de mecanismo biológico favorecendo o cruzamento é dado pela alfafa, emque o estigma só fica receptivo após o rompimento de uma membrana protetora que o envolve. Isto é conseguido por um impacto, pois os estames e os estigmas crescem dentro da quilha onde são mantidos sob forte tensão. Quando essa tensão é liberada por pressão mecânica, que na natureza é feita pelas abelhas, o estigma se projeta contra o estandarte, 52 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos a membrana se rompe e o pólen é libertado, sendo que parte deste adere-se à pilosidade do corpo do inseto e finalmente, irá polinizar a próxima flor. Os mecanismos discutidos são pouco conhecidos quanto à sua eficiência relativa, uma vez que observações cuidadosas têm sido feitas em apenas poucas espécies. Certamente podem ser muito eficientes, como no milho, que é uma planta essencialmente alógama, com mais de 90% de cruzamentos, por efeito de ação combinada de monoicia e protandria. A beterraba, que apresenta protandria, também é altamente alogâmica. O mesmo ocorre com o trevo vermelho (Trifolium pratense). Parece que a dicogamia não é o único mecanismo favorável aos cruzamentos, nessas espécies. O trevo vermelho é altamente auto-incompatível, além de apresentar protandria. A alfafa, além de sua polinização entomófila complicada, apresenta, em parte, um sistema de incompatibilidade. Além disso observou-se nessa espécie um tipo de esterilidade somatoplástica, em que embriões obtidos por autofecundação sobrevivem em menor grau do que aqueles produzidos por cruzamento, favorecendo a heterozigose. Monoicia, protandria e protoginia facilitam o cruzamento entre plantas. No entanto, podem apenas dificultar e não evitar completamente a autofertilização, pois barreiras reprodutivas só passam a existir quando se desenvolve algum tipo de diversidade genética. A dioicia ou diferenciação sexual é conseqüência desse tipo de diversidade, e constitui, evidentemente, um dispositivo de cruzamento, impedindo a autofecundação, porém não evita polinizações entre indivíduos de uma mesma família, o que viria constituir uma forma de endogamia menos pronunciada. A dioicia, que se assemelha ao sistema quase absoluto de acasalamento dos animais, ocorre com baixa freqüência entre as plantas superiores. Espécies dióicas importantes entre as plantas cultivadas são a tamareira, o cânhamo, o lúpulo, o mamoeiro e o aspargo. Na verdade algumas dessas espécies produzem comumente indivíduos andróginas. O controle genético da dioicia em plantas superiores é, razoavelmente, bem conhecido (Westergaard, mencionado por Allard, 1971). O mamoeiro, como será visto adiante, não apresenta muita regularidade quanto à reprodução, a não ser os indivíduos com flores femininas. A auto-incompatibilidade é muito comum entre as plantas superiores. Nestas, ocorrem dois esquemas básicos de auto-incompatibilidade: gametofítico ou sistema haplo-diplóide, no qual a incompatibilidade depende do genótipo do gametófito, e esporofítico ou sistema diplo-diplóide, onde a incompatibilidade é determinada no genótipo pelo seu progenitor esporofítico. No sistema 53 Reprodução das Plantas Cultivadas gametofítico, em que autofecundações não são possíveis, os efeitos da incompatibilidade são facilmente classificáveis. Efetuando-se polinizações cruzadas a proporção de grãos de pólen abortados pode ser zero, 50 ou 100 %. A classificação é ainda mais simples para o sistema esporofítico; com autopolinização não são obtidas sementes, enquanto em polinização cruzada a proporção de aborto de grãos de pólen pode ser zero ou 100%. O controle genético desses resultados já é bem conhecido. Deve salientar- se que a auto-incompatibilidade não é necessariamente absoluta, permitindo, assim, que os melhoristas que a desejem possam autofecundar espécies altamente incompatíveis, empregando algum artifício ou técnica especial. Em brássicas, por exemplo, é comum a autofecundação de plantas auto- incompatíveis no estádio de botão floral, com produção de sementes suficiente para emprego nos programas de melhoramento. Outro fenômeno que ocorre no reino vegetal é a esterilidade masculina, que tem sido utilizada como um mecanismo de auxílio ao trabalho dos melhoristas. Sendo uma anormalidade, inicialmente foi considerada como indesejável e era então eliminada pela seleção nas populações em segregação. A partir do interesse na utilização da heterose ou vigor híbrido, a esterilidade masculina passou a ser empregada com a grande vantagem de se evitarem os trabalhos árduos das emasculações manuais. Além da esterilidade devida a irregularidades meióticas, como a falta de pareamento cromossômico, ocorre também baixa viabilidade do pólen ou dos óvulos. Como exemplos citam-se casos de estames ou estilos mal formados, e pólen e óvulos inviáveis por deficiência estruturais. Essas caraterísticas reprodutivas conduzem naturalmente à alogamia, e são aproveitadas no melhoramento do milho e da cebola, nos quais ocorre a chamada esterilidade masculina citoplasmática ou genético- citoplasmática. Como se trata de um caráter genético é controlada por um alelo recessivo ms que pode ocorrer espontaneamente em plantas alógamas ou autógamas. O assunto será estudado com mais detalhes em capítulo específico. 5.1.2. Propagação assexuada A reprodução por meio assexual é comum entre as plantas superiores. Os meios mais conhecidos de reprodução assexuada são constituídos por escamas bulbares, bulbos, rizomas, estolões, tubérculos ou outros órgãos vegetativos. Plantas que são normalmente propagadas na prática agrícola, por esses meios, ou por gemas ou por enxertia, incluem praticamente todas as 54 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos frutíferas, moranguinho, framboesa e outras espécies de Rubus, videira, abacaxi, quase todos os arbustos e plantas ornamentais e várias culturas como cana- de-açúcar, batatinha e batata-doce. A experiência dos melhoristas indica que as variedades agrícolas que se propagam assexuadamente são altamente heterozigotas e segregam amplamente quando se reproduzem por via sexual. Isto é esperado, uma vez que os tipos selecionados, para constituírem variedades comerciais, devem ser vigorosos e sabe-se que, na maioria das espécies, existe uma correlação positiva entre vigor e heterozigose. A reprodução assexuada proporciona a perpetuação de genótipos superiores com grande precisão, o que se denomina de propagação clonal. Define-se clone como toda a descendência a partir de um indivíduo, por via assexuada. Como só ocorrem mitoses, os indivíduos serão genotipicamente idênticos. Nesse tipo de reprodução, a herdabilidade no sentido amplo, usualmente superior à herdabilidade no sentido restrito, é de grande interesse para o melhorista pois todos os tipos de ação e interação gênicas são integralmente explorados. A propagação vegetativa pode ser de grande vantagem no melhoramento de plantas, uma vez que um número muito grande de indivíduos geneticamente idênticos pode ser obtido, independentemente do grau de heterozigose do genótipo. O melhorista pode, portanto, aproveitar imediatamente os indivíduos excepcionais que ocorrem em qualquer estádio do programa de melhoramento. Por essa razão, o melhoramento dessas plantas é, em certos aspectos, mais facilitado do que o de outras espécies. Além dos tipos de reprodução vegetativa comumente usados na agricultura, existem outros englobados sob a denominação de apomixia. Na reprodução apomítica, quase sempre são produzidas sementes, porém, não através do processo normal de meiose e fertilização. A apomixia do tipo embriogenia nucelar é responsável pela reprodução assexual em citros. Importantes espécies forrageiras como aquelas pertencentes aos gêneros Brachiaria e Panicum são também apomíticas. O efeito principal da apomixia consiste num aumento da proporção de indivíduos maternais, evitando-se ou modificando-se a segregação e recombinação genética. A apomixia, entretanto,nem sempre é estável, de sorte que espécies reconhecidas como apomíticas podem apresentar variabilidade. Descrições detalhadas e classificação dos inúmeros tipos de apomixia têm sido apresentadas por vários autores, como Stebbins (1941), e não serão consideradas aqui. 55 Reprodução das Plantas Cultivadas 5.1.3. Formas de reconhecimento do sistema reprodutivo O sistema reprodutivo e a taxa de cruzamento natural são razoavelmente bem conhecidos para a maioria das espécies agronômicas, apesar de algumas dúvidas que ainda persistem com relação à variação das taxas de cruzamento natural, em função de variações ambientais, principalmente. Para a condução eficiente de um programa de melhoramento, portanto, é mais recomendável a determinação da taxa de cruzamento dentro de uma espécie, para a região a que se destina o programa de melhoramento. Procedimentos simples podem ser usados para determinar se a espécie é de autopolinização ou de polinização cruzada: 1) A primeira etapa, naturalmente, consiste no exame da estrutura floral. Plantas dióicas obviamente evidenciarão alogamia. De maneira semelhante, a dicogamia, monoicia, ou outros dispositivos para cruzamento, fornecem indício de que a espécie é alógama, assim como a cleistogamia é uma evidência de autogamia; 2) Na segunda fase isolam-se plantas individuais e observa-se se há ou não produção de sementes. É preferível o isolamento no espaço, uma vez que o isolamento por meio de sacos ou caixas pode acarretar condições de ambiente adversas à produção de sementes. A não produção de sementes em isolamento é uma indicação quase certa de que a espécie é alógama. Entretanto, a recíproca não é necessariamente verdadeira, porque muitas plantas alógamas, como o milho, por exemplo, são auto-férteis. Conclui-se que a determinação de alogamia é mais precisa do que a de autogamia; 3) Finalmente, procura-se verificar o efeito da endogamia, colhendo sementes das plantas individuais isoladas e autofecundadas e avaliando sua progênie. Se não for notada depressão por endogamia, a espécie é, provavelmente, autógama. A seguir deve-se conhecer a proporção de cruzamento natural quando ocorre proximidade de diferentes genótipos. A proporção ou taxa de cruzamento natural é geralmente determinada pelo plantio de genótipos com um alelo marcador dominante, intercalados com genótipos apresentando o correspondente alelo recessivo. As sementes são colhidas nas plantas que apresentarem o fenótipo recessivo e a taxa de cruzamento natural é calculada a partir da proporção de indivíduos recessivos e dominantes da progênie. Para maior eficiência em estudos dessa natureza, são preferidos os caracteres visíveis em sementes ou plântulas. Os alelos como aqueles que determinam endosperma amiláceo versus glutinoso, em gramíneas, ou cotilédone branco versus verde nas leguminosas, constituem bons marcadores, permitindo pronta determinação. 56 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos No caso de cor da flor há necessidade de se esperar mais tempo, até que a planta oriunda do cruzamento inicie o florescimento. Em feijão, soja e outras leguminosas, a cor violeta é dominante sobre branca. Para o cafeeiro, por exemplo, em razão do ciclo perene, essa determinação é ainda mais demorada; um gene marcador para essa espécie é o que confere a cor do endosperma da semente, usando-se o mutante cera, de endosperma amarelo intercalado com plantas normais, cujo endosperma é verde. Nesse caso em que a ação de um alelo dominante proveniente do progenitor masculino é observada já no endosperma da semente formada, tem-se o efeito de xenia. Alguns fatores devem ser considerados na condução de estudos dessa natureza, como a época do florescimento, por exemplo, porque variedades florescendo em épocas diferentes não se cruzarão com a mesma intensidade de outras com florescimento simultâneo. Esses experimentos podem proporcionar informações sobre o comportamento dos insetos vetores de pólen, efeito da direção e intensidade do vento, temperatura e interações entre esses fatores, bem como sua influência sobre o grau de cruzamento natural. É importante que os estudos sejam conduzidos por vários anos e em locais diferentes, pois a taxa de cruzamento natural nos diferentes genótipos pode ser muito influenciada pelo ambiente. Experimentos semelhantes podem também ser usados para se estabelecer a distância necessária entre as áreas de plantio, com ou sem culturas intermediárias, a fim de se evitarem contaminações por pólen estranho, particularmente nos campos de produção de sementes comerciais de cultivares melhoradas. Na determinação do sistema reprodutivo, para algumas espécies as informações disponíveis não são muito seguras, podendo exigir reclassificações, assim que outras mais precisas sobre os sistemas de reprodução forem obtidas. A classificação feita até hoje baseou-se na proporção de autopolinização ou polinização cruzada. A autopolinização é naturalmente apenas um dos vários sistemas reprodutivos e apenas um dos meios pelos quais as populações podem se tornar endógamas. As cucurbitáceas constituem um bom exemplo. Muito embora sejam monóicas, estas plantas não sofrem depressão pela endogamia e a estrutura genética das suas populações é, sob vários aspectos, mais similar à das autógamas do que à das alógamas. Existem várias explicações para isso, tanto do ponto de vista biológico como econômico. As cucurbitáceas constituem plantas que 57 Reprodução das Plantas Cultivadas ocupam bastante espaço. Em geral, para satisfazer as necessidades de qualquer agricultor, são necessárias relativamente poucas plantas. Conseqüentemente, essas espécies devem ter se mantido em colônias pequenas, tanto na natureza como em cultivo, como ainda é comum, e essa restrição no tamanho da população pode ter produzido endogamia, apesar do mecanismo floral favorecer o cruzamento. Nessa condição, alelos deletérios nas populações selvagens de cucurbitáceas devem ter sido eliminados pela própria seleção natural, à medida em que surgiam na condição homozigota. Algumas espécies alógamas menos estudadas do que as cucurbitáceas podem constituir exemplo semelhante. Por isso tem sido necessário classificar todas as espécies de polinização cruzada como alógamas, embora tal classificação nem sempre possibilite inferências precisas da resposta decorrente da endogamia ou de métodos de melhoramento adequados. Nesse aspecto as autógamas são muito mais homogêneas. Nenhuma dessas espécies sofre efeitos visíveis de depressão pela endogamia e os mesmos métodos de melhoramento são, em geral, aplicáveis a todos os membros do grupo. Já as alógamas, pela variação entre espécies na depressão pela endogamia e mesmo pela impossibilidade de se realizar autofecundações em alguns casos (como na autoincompatibilidade gametofítica, por exemplo), os métodos de melhoramento não podem ser generalizados, necessitando de adaptações conforme a espécie trabalhada. O conhecimento da taxa de fecundação cruzada entre as plantas autógamas torna-se importante, principalmente porque relaciona-se à contaminação nas progênies obtidas. Diferenças entre variedades podem ocorrer em relação aos cruzamentos naturais. E ainda, a taxa de cruzamento para uma variedade pode ser muito influenciada por mudanças do ambiente. Desse modo, as generalizações acerca da taxa de cruzamentos naturais esperada em espécies autógamas são válidas somente dentro de limites definidos em termos de variedades específicas e em condições de ambiente bem delimitadas. De qualquer modo, em certas espécies deste grupo, como algodão e sorgo, é bom precaver-se contra valores relativamente altos de cruzamentos naturais, que podem chegar a 50%, em diferentes condições de ambiente. Em outras espécies, tais como feijão, soja, cevada, aveia, arroz e alface, a taxa de cruzamento natural raramente vai além de um por cento para qualquer variedade, sendo, portanto,praticamente desprezível. Outras espécies apresentam valores até cerca de 10%. 58 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos Os mecanismos que determinam a taxa de cruzamento natural podem variar de espécie para espécie, dificultando a classificação quanto ao modo de reprodução. Muitas vezes isso é resultado da seleção das plantas cultivadas, como pode ser exemplificado pelas mudanças ocorridas no comportamento reprodutivo do moranguinho. Ambos os ancestrais (Fragaria virginiana e F. chiloensis) são espécies dióicas. Plantas dióicas são menos desejáveis do que os tipos com flores perfeitas, porque esses são frutíferos mesmo quando plantados isoladamente. Conseqüentemente, os melhoristas, procurando explorar a biologia floral dessas espécies, preferiram os tipos andróginas emergentes, em cuja direção a seleção foi conduzida. Hoje, praticamente, todas as variedades existentes são autofrutíferas. Já há algum tempo tal procedimento vem sendo adotado em muitas outras plantas cultivadas, com eliminação de plantas dióicas, monóicas e autoincompatíveis, até que permaneçam somente tipos completamente autofrutíferos. Exemplos são encontrados na videira e outras espécies de frutíferas. Na cultura do mamoeiro o tipo ideal para o mercado é a planta feminina, cujos frutos são formados com o auxílio de um polinizador, embora esta espécie possa apresentar as seguintes expressões sexuais: a) Plantas masculinas. Em algumas épocas do ano produzem flores andróginas; b) Plantas andróginas. Produzem flores femininas estéreis em algumas épocas do ano; c) Plantas femininas. São estáveis quanto à expressão sexual. As cucurbitáceas, quase sempre monóicas, podem apresentar os seguintes tipos de plantas: Ginóicas - só produzem flores femininas; Andróicas - somente flores masculinas; Andróginas - produzem flores perfeitas; Andromonóicas - produzem flores masculinas e andróginas. Podem ainda ocorrer plantas polígamas, as quais possuem flores andróginas e unissexuais, sendo possível encontrar, numa mesma planta, flores andróginas, masculinas e femininas. 5.1.4. Sistemas reprodutivos e constituição genotípica das plantas Quando se pretende aplicar um programa de melhoramento genético a uma espécie é necessário que se conheça primeiramente a constituição genética da população inicial. É o modo de reprodução da espécie que vai determinar se a população base, ou de trabalho, será homogênea ou heterogênea e se os indivíduos que a compõem serão predominantemente homozigotos ou heterozigotos. 59 Reprodução das Plantas Cultivadas Em autógamas os gametas que se unem provêm da mesma planta e provavelmente são geneticamente idênticos, produzindo, conseqüentemente, plantas homozigotas. Se a planta é alógama, os gametas provêm de indivíduos distintos, sendo portanto diferentes, originando plantas heterozigotas. A autogamia e a alogamia absolutas estão limitadas a poucas espécies na natureza. O que ocorre mais comumente é uma predominância de um ou outro desses tipos de reprodução. Nas plantas alógamas há uma recombinação genética constante, já que os gametas de uma planta se unem aos de outras e nesse intercâmbio, de geração para geração, mantém-se, portanto, um nível de heterozigose que pode atingir valores altos. Para se entender isso, basta fazer abstrações, conforme sugere Brauer (1973), as quais são ilustradas nos Quadros 5.1, 5.2 e 5.3. Supondo o cruzamento de dois indivíduos homozigotos, sendo um AA e o outro aa, colocados num local onde não existem outros indivíduos da mesma espécie e considerando uma alogamia absoluta, a progênie será composta somente por indivíduos heterozigotos Aa, todos híbridos. A combinação ao acaso de seus gametas, na geração seguinte, é aquela conhecida em Genética. Surgem novamente indivíduos homozigotos, mas os heterozigotos já constituem apenas 50% da descendência, como é mostrado no Quadro 5.1. Este é o mesmo resultado que se obteria na geração F2 do cruzamento de dois progenitores homozigotos (25% AA : 50% Aa: 25% aa). Assim, ainda com 100% de alogamia, na geração seguinte à do cruzamento, 50% dos indivíduos são heterozigotos e 50% são homozigotos. A diferença fundamental entre as plantas autógamas e alógamas aparece, todavia, na geração seguinte, pois nas alógamas, os grãos de pólen não ficam retidos na própria flor, mas são liberados por um mecanismo qualquer, como vento e insetos. Isto significa que a combinação de todos os gametas das plantas se efetua ao acaso, e, portanto, a composição genotípica dos indivíduos resultantes depende de sua freqüência. Entre os gametas que comporão a próxima geração, 50% conterão o alelo dominante e 50% o recessivo, de modo que repete-se na geração seguinte a proporção de 50% de heterozigotos e 50% de homozigotos. QUADRO 5.1. Recombinação ao acaso de um par de alelos, na segunda geração depois de um cruzamento. Gametas A a A AA Aa a Aa aa 60 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos Pode-se então questionar, porque, em plantas alógamas, as populações são altamente heterozigotas, em contraste com uma população autógama, altamente homozigota. Considerando-se um único gene com dois alelos a população poderia ser chamada tanto de heterozigota quanto de homozigota. Na realidade, não é o que se verifica, ou seja, cada indivíduo carrega não um, mas um grande número de genes, que apresentam com freqüência um número de alelos superior a dois para cada loco. Para melhor compreensão esse número de genes será aumentado de um em um. Os quadros seguintes são característicos de recombinação com dois e três genes, com apenas dois alelos cada. Em ambos pode observar-se que os únicos homozigotos totais são os que ocupam a diagonal que baixa da esquerda à direita, representando 4/16 = ¼ da população, para dois genes e 8/64 = 1/8, para três genes. QUADRO 5.2. Recombinação ao acaso de dois genes em uma planta autógama, supondo-se que em todos os locos dois alelos com a mesma freqüência (50%). QUADRO 5.3. Recombinação ao acaso de três genes. Os indivíduos homozigotos resultam quando os gametas que se unem levam a mesma constituição genética; todas as demais combinações são heterozigotas pelo menos para um loco. Gametas ABC Abc AbC aBC Abc aBc abC abc ABC AABBCC AaBbCc Abc AABBcc AaBbCc AbC AAbbCC AaBbCc aBC aaBBCC aABbCc Abc AaBbCc AAbbcc aBc AaBbCc aaBBcc abC AaBbCc aabbCC abc AaBbCc aabbcc Gametas AB Ab aB ab AB AABB AABb AaBB AaBb Ab AABb AAbb AaBb Aabb aB AaBB AaBb aaBB aaBb ab AaBb Aabb aaBb aabb 61 Reprodução das Plantas Cultivadas Observa-se que a proporção de homozigotos totais na população varia como se segue: Para um gene -1/2 Para dois genes - 1/4 = (1/2)2 Para três genes - 1/8 = (1/2)3 Para n genes - (1/2)n Segundo Brauer (1973), uma planta somente é estritamente homozigota quando sua progênie obtida por reprodução sexual é exatamente igual a ela, ou seja, não há variação. Considerando o que sucede numa população inteira de polinização cruzada, onde a herança dos caracteres de cada indivíduo está determinada por um grande número de genes com vários alelos cada um, pode afirmar-se com certeza, que a probabilidade de se achar uma planta totalmente homozigota em uma população alógama é extremamente baixa. Supondo que só interesse a herança determinada por 20 genes, com dois alelos cada um, os homozigotos totais se achariam na população com uma probabilidade de (1/ 2)20, ou seja, um em 1.048.000 indivíduos. Nessas circunstâncias é perfeitamente justificável afirmar que uma população alógama é heterozigota. Considera-se que uma população alógama é heterozigota mas não se pode precisar o grau de heterozigose dos indivíduos que a formam. Para tanto, tem que considerar-se também o número de genes nessa condição. Observando-se novamenteos Quadros 5.1, 5.2 e 5.3, percebe-se obviamente o grau máximo que se obtém com todos os genótipos em heterozigose. No Quadro 5.3 os genótipos totalmente heterozigotos ocupam a diagonal que sobe da esquerda para a direita e que eles têm, na população, a mesma proporção dos homozigotos totais, ou seja, (1/2)n. A estrutura genética de uma população alógama deve ser entendida considerando-se que cada loco pode ter a alternativa de ser homozigoto ou heterozigoto, combinando-se com os demais de todas as maneiras possíveis. Assim, a distribuição da composição genética numa população, considerando a freqüência dos indivíduos, é binomial. Nesse tipo de distribuição, a freqüência mais alta corresponde à freqüência dos indivíduos que têm a metade dos locos em homozigose e a outra metade em heterozigose. O equilíbrio de Hardy-Weinberg, referente a populações panmíticas, não é alterado a não ser que ocorram fatores como mutação, migração ou redução do tamanho da população. Definine-se a população panmítica como aquela de tamanho teoricamente infinito, cujos indivíduos intercruzam-se ao acaso. 62 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos O homem pode modificar a proporção de alogamia mediante a polinização artificial e variar o tamanho das populações que utiliza para a reprodução, conduzindo a seleção no sentido que lhe convenha, ou pode também introduzir novo germoplasma à população, e ainda provocar mutações artificiais, alterando assim as freqüências dos genótipos conforme seu interesse. 5.1.5. Exemplos de espécies agrupadas conforme o sistema reprodutivo A seguir, são apresentadas algumas das espécies mais cultivadas, classificadas segundo o seu sistema reprodutivo. Autógamas Alface - Lactuca sativa Feijão-comum - Phaseolus vulgaris Amendoim - Arachis hypogaea Fumo - Nicotiana tabacum Arroz - Oryza sativa Linho - Linum usitatissimum Batata - Solanum tuberosum Soja - Glycine max Cevada - Hordeum vulgare Tomate - Lycopersicon esculentum Trigo - Triticum aestivum Ervilha - Pisum sativum Autógamas com alogamia freqüente Algodão - Gossypium spp. Quiabo - Hibiscus esculentus Berinjela - Solanum melongeana Sorgo - Sorghum bicolor Café (arábica) - Coffea arabica 63 Reprodução das Plantas Cultivadas Alógamas Andróginas: Abacate - Persea americana Eucalipto - Eucalyptus spp. Alfafa - Medicago sativa Girassol - Helianthus annum Batata-doce - Ipomoea batatas Goiaba - Psidium guayava Beterraba - Beta vulgaris Maçã - Malus spp. Crucíferas em geral (couve- flor, repolho, colza, etc.) Manga - Mangifera indica Café (robusta) - Coffea canephora Maracujá - Passiflora spp. Cacau - Theobroma cacao Pêra - Pyrus communis Cana-de-açúcar - Saccharum spp. Rabanete - Raphanus sativus Centeio - Secale cereale Cenoura - Daucus carota Monóicas Dióicas Aspargo, Cânhamo, Espinafre, Lúpulo, Pinheiro do Paraná e Tâmara. Cucurbitáceas, em geral - Cucurbita spp. - Abóbora, moranga, melão, melancia, pepino. Euforbiáceas, em geral Mandioca - Manihot esculenta Mamona - Ricinus communis Milho - Zea mays (milho comum e pipoca) Seringueira - Hevea brasiliensis 64 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos
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