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P1PUC20142 - Gabarito

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PUC-Rio - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Centro de Ciências Sociais (CCS) - Departamento de Direito
JUR 1831 – Teoria das Obrigações e dos Contratos I
Turma 2HX –Prof. Carlos Nelson Konder
Prova G1 – 01.10.2014
	Nome:								Matrícula:
	1. As respostas devem ser fundamentadas argumentativamente. Devem ser indicados os dispositivos legais, quando pertinentes, sem necessidade de sua transcrição.
2. As respostas devem ser sucintas e objetivas. O que for escrito fora da área destinada às respostas não será considerado.
3. As respostas devem ser redigidas com caneta azul ou preta, de forma legível. É permitido o uso de corretivo e de rasuras, se não prejudicarem a legibilidade do texto.
1) Arlindo Orlando, morador da pequena e pacata cidade de Piracema do Norte, costuma ser contratado para, fazendo uso de seu caminhão de faróis baixos e parachoque duro, transportar visitantes da cidade até a rodoviária, na cidade vizinha, por uma módica tarifa, paga sempre antecipadamente. No último dia 15 ele levava seis passageiros, sendo dois deles turistas alemães, quando alguns moleques, ainda ressentidos pelo resultado da copa do mundo, arremessaram pedras contra o veículo. Arlindo Orlando normalmente teria conseguido desviar, mas ainda inebriado pelas aventuras da madrugada anterior, estava com os reflexos prejudicados e perdeu o controle do carro, que sofreu perda total e inviabilizou o restante da viagem. Sobre o caso responda, com base nas regras relativas à teoria geral das obrigações:
a) Que direitos têm os passageiros perante Arlindo Orlando? (2)
R: Tendo em vista que Arlindo Orlando tinha uma obrigação de fazer consistente em levar os passageiros de Piracema do Norte até a rodoviária da cidade vizinha e que essa obrigação se tornou impossível por culpa sua, uma vez que o carro foi destruído em razão de ele não estar em condições de dirigir por causa das "aventuras da madrugada anterior", os passageiros podem exigir dele apenas indenização das perdas e danos (CC, art. 248) ou, ante a fungibilidade da obrigação, a execução da prestação por um terceiro às suas custas (CC, art. 249), sem prejuízo de perdas e danos pelo atraso e transtorno.
b) Arlindo Orlando consegue que seu cunhado Nilton, taxista local, faça o restante da viagem em seu táxi, mas no qual só há quatro lugares. Os brasileiros, em solidariedade, se recusam a deixar os alemães pra trás, ao que estes adotam o mesmo comportamento: “ou vamos todos, ou não vai ninguém”. E acionam judicialmente Arlindo Orlando pelo não cumprimento total da obrigação. Contratado como advogado de Arlindo Orlando, examine o conflito de normas aplicáveis e argumente em favor do motorista. (2)
R: O conflito está entre o princípio da indivisibilidade do pagamento (CC, art. 314), que impede que a prestação seja cumprida de forma fracionada sem que isso seja combinado, e a regra que prevê a presunção de divisibilidade no caso de obrigação plural divisível (CC, art. 257). Como no caso havia vários credores (os passageiros), o argumento em favor do motorista é que não haveria divisão na prestação em si, pois o transporte seria feito integralmente, mas divisão apenas entre os credores, com o atendimento, integral, de quatro dos seis, configurando abuso a recusa à prestação pelo taxista.
c) Arlindo Orlando já tinha sido contratado para a viagem de retorno: recebera duzentos reais para, no dia 16, ou trazer, com seu caminhão, uma visitante da Rodoviária para Piracema do Norte, ou pagar-lhe um táxi, a critério de Arlindo Orlando. Que efeitos o ocorrido terá sobre essa obrigação? (2)
R: Arlindo Orlando nesse caso é devedor de uma obrigação alternativa (trasportar ou pagar o táxi), com escolha expressamente garantida ao devedor, em que uma das alternativas (transportar) tornou-se impossível pela perda do veículo. Nesse casos, o ocorrido terá o efeito de produzir a concentração automática: a obrigação tornar-se-á simples, impondo-se a Arlindo Orlando o pagamento do táxi (CC, art. 253).
2) Diante da destruição de seu veículo anterior, Arlindo Orlando se junta com três amigos (Nilton, Gertrudes e Alcebíades) que querem no futuro montar uma cooperativa de transporte e procuram Amilton, pretendendo adquirir uma Van que este possui. Após negociações com Amilton, que sempre teve gostos peculiares, eles acordam uma troca: Amilton transfere a propriedade da Van para os quatro, enquanto estes se comprometem solidariamente a dar-lhe, em até um mês, o paletó que foi usado por Orlando Gomes na sua primeira noite de autógrafos. O pai de Alcebíades, Johanes, acha toda essa história muito esquisita e procura Amilton para “tirar o filho dessa confusão”, fechando acordo para ele próprio assumir a dívida do filho. Enfim, quando Gertrudes usava a própria Van recém-adquirida para levar o paletó até o credor, sofre um acidente causado pela sua imperícia e a Van, depois de cair do barranco, pega fogo. Gertrudes se salva, mas tanto a Van como o paletó sofrem perda total. Que direitos possui Amilton contra cada um dos devedores? (2)
R: Tratava-se originalmente de uma obrigação indivisível, dar o paletó ao proprietário da Van, e solidária entre os quatro devedores. No entanto, a substituição de Alcebíades por Johanes implica, quanto a este, extinção da solidariedade, permanecendo somente os outros três como devedores solidários (CC, art. 265 ou 276). Da mesma forma, a perda do paletó por culpa de Gertrudes, envolvendo sua imperícia, converte a obrigação em divisível, impondo pagar o equivalente mais perdas e danos (CC, art. 263). Quanto a esta obrigação, Amilton pode demandar somente de Gertrudes, a culpada, as perdas e danos (CC, arts. 263, §2º e 279), mas quanto ao equivalente há controvérsia doutrinária: [a resposta deve adotar uma dessas duas]
(opção 1): Amilton não pode demandar o equivalente o devedor não solidário, Johanes, que ficou exonerado (CC, art. 263, §2º), mas o equivalente pode ser demandado integralmente de qualquer um dos devedores solidários, isto é, Nilton, Gertrudes e Arlindo Orlando (CC, art. 279).
(opção 2): Amilton pode demandar do devedor não solidário, Johanes, a sua cota parte na dívida, presumidamente um quarto do equivalente (CC, art. 263, §2º), e o restante do equivalente pode ser demandado integralmente de qualquer um dos devedores solidários, isto é, Nilton, Gertrudes e Arlindo Orlando (CC, art. 279).
3) Argumente no sentido de que, quando o proprietário atual arca com o pagamento de uma obrigação propter rem vencida antes da aquisição, deveria ocorrer sub-rogação e não direito de regresso perante o proprietário anterior. (2)
R: No sistema brasileiro, o adquirente pode ser responsabilizado pelo pagamento das obrigações "propter rem" relativas ao bem adquirido, mesmo se vencidas antes da aquisição. Consequentemente, ele pode ser considerado um terceiro interessado no pagamento da obrigação, razão pela qual, por força do art. 346, III, do Código Civil, o pagamento por ele realizado importaria sub-rogação legal, e não mero direito de regresso.

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