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História da Ocupação da Amazônia

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Prévia do material em texto

4HISTÓRIA DA OCUPAÇÃO DA AMAZÔNIA
A M Ã E - D A - M A T A percorre a floresta chorando e se lamentando pela perda de seus
filhos. Sua aparição está associada a sentimentos de perda e dificuldades na vida:
morte de parentes, fome, situações de opressão ou escravidão, no âmbito familiar.
Desmatamento, invasões, conflitos entre grupos, no âmbito coletivo. No Acre, fala-se
na mãe-da-seringueira, localizando-se o drama num tipo social determinado, o extra-
tivismo da borracha, e dando forma humana ao espírito de uma árvore muito especial,
que sofre quando é cortada e fornece “leite” e sustento para a família, exatamente
como uma abnegada mãe.
mentos históricos da região. Como, por exemplo, no tempo
de riquezas dos coronéis, comerciantes e seringalistas, que
contrastava com a simplicidade dos seringueiros atrelados
ao perverso sistema de aviamento – rede de crédito.
Narram-se a grande leva de imigrantes europeus e nordes-
tinos; a construção da ferrovia Madeira–Mamoré, o declínio
da borracha e seus motivos; até o seu segundo ciclo, ocorri-
do em 1941 durante a Segunda guerra mundial, que trouxe
novamente para a região milhares de nordestinos. Uma filha
de imigrantes nos conta a história de sua família que veio
para a Amazônia extrair borracha para promover a guerra.
Por fim, o programa relata a ocupação, realizada pelos
militares, de repovoamento da região Norte, do qual a
transamazônica é o maior símbolo. A promessa de dis-
tribuição de terras atraiu milhares de camponeses bra-
sileiros, principalmente nordestinos. Os grandes projetos
agropecuários e os incentivos à exploração de madeira e
minério fizeram crescer assustadoramente a taxa de des-
matamento. As grandes obras não trouxeram a prosperi-
dade desejada e agravaram as tensões sociais. 
O resultado de todo este processo histórico é a diversi-
dade cultural amazônica, formada pela presença de índios,
negros, árabes, europeus, asiáticos e brasileiros de todas
as partes.O programa propõe uma viagem pela história da ocupação
da Amazônia. O ponto de partida é o Museu Emílio Goeldi em
Belém (PA), onde o nosso apresentador recua no tempo,
com a ajuda da pesquisadora Edite Pereira, da área de
arqueologia, para tentar entender a origem da diversidade
étnica da região amazônica, fruto da miscigenação dos
povos antigos com os europeus e africanos. 
Os vestígios encontrados, pinturas rupestres e cerâmicas
nos ajudam a conhecer um pouco da vida dos povos que
habitavam a região até 11.200 anos atrás. Quando os europeus
chegaram, encontraram uma enorme quantidade de grupos
e tribos organizadas com uma cultura própria, da qual her-
damos alguns costumes como, por exemplo, o uso da mandio-
ca e a confecção da cerâmica. Contudo, esses povos, nomeados
indígenas, foram ignorados pelos europeus, e escravizados.
A segunda parte da viagem nos revela os caminhos per-
corridos pelos portugueses em suas expedições de reconhe-
cimento do território, que estava dividido em dois pelo Tra-
tado de Tordesilhas. 
Imagens de fortes antigos, alguns preservados como o do
Presépio em Belém, no Pará construído para vigiar a “porta
de entrada” da Amazônia; outros em ruínas como o Príncipe
da Beira, em Costa Marques, Rondônia, nos contam a his-
tória da ocupação portuguesa durante a União Ibérica.
Ocupação esta movida pelo interesse nas riquezas escondi-
das na floresta, principalmente as chamadas “drogas do
sertão” – conjunto de especiarias de grande valor para os
europeus. Neste programa, conhecemos também outras
expedições que ajudaram na integração da região Norte e Sul
e a primeira expedição cientifica, conhecida como viagem
filosófica, que durou quase dez anos e resultou em uma das
mais importantes coleções de história natural do Brasil. 
O segundo bloco do programa é dedicado aos grandes ci-
clos econômicos que atraíram enormes quantidades de imi-
grantes para a região. A história do ciclo do “ouro negro” e
da borracha é contada com a ajuda da Companhia de Teatro
Metamorfose de Manaus, que dramatiza alguns aconteci-
S I N O P S E D O V Í D E O
> POVOS ANTIGOS – COSTUMES, PINTURAS RUPESTRES E CERÂMICAS
> TRATADO DE TORDESILHAS
> EXPEDIÇÕES PORTUGUESAS
> DROGAS DO SERTÃO
> CICLO DA BORRACHA – SISTEMA DE AVIAMENTO
> DECLÍNIO DA BORRACHA
> SEGUNDO CICLO DA BORRACHA
> PERÍODO DA DITADURA MILITAR – 
GRANDES PROJETOS X DESMATAMENTO E TENSÃO SOCIAL
C O N T E Ú D O S D O V Í D E O
81
F I Q U E P O R D E N T R O
Existem diferentes teorias
acerca da ocupação pré-his-
tórica da América. As datas
da presença humana variam
conforme a teoria, as mais re-
centes pretendem recuar a an-
tiguidade do homem americano
entre 30.000 a 50.000 anos.
A origem também vem sendo re-
vista, provavelmente a migra-
ção teve somente procedências
mais diversas do que da Ásia.
M E R G U L H A N D O N O T E M A
PREGUIÇA GIGANTE, um dos
exemplares da megafauna que
habitavam a Amazônia pré-histórica.
A longa história do povoamento humano na Amazônia começa praticamente junto com a for-
mação da floresta que conhecemos hoje. Apesar de ainda não terem sido encontrados vestígios
concretos da presença humana na Amazônia durante o período compreendido entre 20.000 e
12.000 a.p. (antes do presente) foi, provavelmente, neste período que os primeiros grupos humanos
provenientes da Ásia chegaram de sua longa migração até a América do Sul. Eram grupos
nômades de caçadores-coletores que perseguiam as grandes manadas de animais. 
P R I M E I R O S H A B I T A N T E S
A Amazônia era então uma ampla extensão de savanas, com apenas algumas manchas de flores-
ta ao longo dos rios. Nesse ambiente proliferavam grandes animais como o mastodonte, a preguiça-
gigante, o toxodonte, o tigre-dentes-de-sabre e diversos outros exemplares de megafauna, os quais
se supõe, serviam de base alimentar para os bandos de caçadores gregários e cujos fósseis podem
ser encontrados nos barrancos de muitos dos rios amazônicos, especialmente no Acre. 
A C U L T U R A D E F L O R E S T A T R O P I C A L
Mudanças climáticas e ambientais, ocorridas entre 7.000 e 6.000 anos, levaram ao aumento da
temperatura e da umidade do planeta, fazendo com que as florestas se expandissem. Começava
então uma segunda fase do povoamento humano da Amazônia, na qual as populações passaram a
contar com recursos alimentares mais diversificados e novas formas de organização social surgiram.
Essas novas práticas socioculturais, por volta de 5.000 anos atrás, deram origem à chamada
Cultura de Floresta Tropical, caracterizada por grupos que praticavam uma agricultura ainda
incipiente, complementada pela caça, pesca e coleta de frutos e sementes da floresta. A partir
dessa nova organização social, os grupos pré-históricos amazônicos passaram também a fabricar
cerâmica e a ocupar alguns locais por períodos mais prolongados. Com isso, deixaram grandes
sítios arqueológicos que testemunham seu florescimento por toda a Amazônia.
A partir do surgimento da Cultura de Floresta Tropical, a ocupação humana da Amazônia
alcançou o estágio de alta diversificação que os europeus encontraram ao começar a exploração da
grande floresta.
C H E G A D A D O S E U R O P E U S : P R I M E I R A S E X P L O R A Ç Õ E S
A terceira fase da ocupação humana da Amazônia corresponde ao povoamento europeu da
região. O lendário e mítico, rico reino do Eldorado.
Inicialmente, as duas superpotências da época, Portugal e Espanha, obedeciam à divisão terri-
torial estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas, com as bênçãos da Igreja Católica. Por esse acor-
do, grande parte do que hoje conhecemos como Amazônia brasileira pertencia aos espanhóis.
Somente no final da primeirametade do século XVI, no entanto, os espanhóis deram início ao
reconhecimento da região.
A primeira expedição européia ao grande rio que corta a região foi realizada entre 1540 e 1542
pelo destemido navegador espanhol Francisco de Orellana. O escrivão dessa expedição, Gaspar de
Carvajal, fez os primeiros registros escritos sobre a floresta amazônica e sua diversidade de am-
bientes e culturas.
Apesar de seu caráter pioneiro, a expedição de Orellana não deixou outros frutos que fossem
duradouros. A região voltou a pertencer exclusivamente aos cerca de 5 milhões de índios (segun-
do uma das estimativas existentes) que ali habitavam e que também haviam sido motivo da admi-
ração nos relatos de Carvajal, tal sua quantidade e organização. Muitas décadas se passariam
antes que novas investidas à região fossem realizadas.
C O L O N I Z A Ç Ã O P O R T U G U E S A
Apesar de os espanhóis terem seus direitos garantidos pelo Tratado de Tordesilhas, não se inte-
ressaram por povoar a Amazônia. Por sua vez, os portugueses não vacilaram em tomar a inicia-
tiva de seu efetivo controle. A Amazônia já começava a sofrer ameaças de invasão de ingleses,
franceses e holandeses. A expulsão do Maranhão dos franceses que ali tentaram estabelecer a
França Equinocial alertou os portugueses para a importância da defesa da região. Assim, coube a
Francisco Caldeira Castelo Branco fundar, em 1616, na foz do rio Amazonas, o Forte do Presépio
que, além de proteger possíveis invasões estrangeiras por via fluvial, deu origem à atual cidade de
Belém e serviu como base para o povoamento da Amazônia.
Era necessário alargar os domínios portugueses para oeste, para assegurar a exploração das
riquezas ocultas da floresta. Para tanto, foi organizada uma grande expedição, decisiva para a con-
quista portuguesa da Amazônia. Coube ao capitão Pedro Teixeira, em 1637, o comando da expedição
composta por cerca de duas mil pessoas, sendo a grande maioria índios. Apesar das dificuldades
enfrentadas, ela conseguiu estabelecer marcos de ocupação territorial portuguesa ao longo do rio.
Além da proteção contra outros europeus, os fortes também serviam para estabelecer núcleos
de povoamento a partir dos quais pudesse ser estabelecida a colonização. Na Amazônia, os princi-
pais recursos explorados pelos portugueses foram a mão-de-obra indígena e as drogas do sertão,
especiarias de alto preço no mercado europeu.
8382
O E l d o r a d o
Este mito teve origem em
relatos de Orellanas, que
des-creveu ter descoberto
uma região r iquíssima em
ouro. Pesquisadores relaci-
onam a história com cerimônias
de índios da Colômbia, que se
banhavam com o corpo coberto
de ouro em pó.
OS FORTES de São José de
Marabitanas e São Joaquim aju-
daram no estabelecimento de
povoações como a de Rio Branco.
“ d r o g a s d o s e r t ã o ”
Castanha, cacau, tabaco,
sal-saparrilha, frutos exóti-
cos, peles de animais e ou-
tros produtos animais e
vegetais coletados por índios 
e caboclos.
ILUSTRAÇÃO representando
as Lendárias Amazonas.
F I Q U E P O R D E N T R O
Entre as muitas peripécias
narradas por Gaspar de
Carvajal, escrevente espa-
nhol, tornou-se especial-
mente famoso o feroz ataque
que um grupo de mulheres
guerreiras realizou contra a
expedição de Orellana. Os es-
panhóis ficaram surpresos com
a coragem e habilidade daque-
las mulheres que parec iam
comandar os homens que
lutavam junto com elas. Isso
fez com que Carvajal se re-
ferisse a elas como as len-
dárias Amazonas, que, desde a
Grécia antiga, povoavam a
imaginação européia. Fantasia
ou não, desde então este rio
f icou conhecido como o “río de
las amazonas”. Nome que, além
de batizar a maior bacia fluvial
do mundo, também nomeou sua
imensa floresta: Amazônia.
Passou a predominar por toda a Amazônia o uso de uma língua geral, de origem Tupi, que au-
xiliava na incorporação dos índios à empresa colonial. A mestiçagem foi estimulada dando
origem à população cabocla, tão marcante nas terras amazônicas.
Calcula-se que, em 1740, havia cerca de 50 mil índios vivendo em aldeias formadas por jesuí-
tas e franciscanos. O inevitável resultado do processo de escravidão, imposto pelo colonizador ou
por meio da ação dos jesuítas, foi a redução maciça da população indígena amazônica.
O S A F R I C A N O S
Pela dificuldade de aprisionamento e pela vulnerabilidade às doenças, os índios não se
adaptavam a muitas atividades econômicas necessárias ao colonialismo. A partir da segun-
da metade do século XVIII, assim como em outras regiões da colônia, a carência da mão-de-
obra foi suprida, ou pelo menos amenizada, com a chegada dos negros trazidos da África na
condição de escravos. No Baixo Amazonas, os negros foram empregados nas construções,
cada vez mais numerosas, nas plantações de cacau, na agricultura de subsistência e na
pecuária. Mas também, como no Nordeste, o negro incorporou-se ao ambiente das casas
senhoriais e nas atividades domésticas. Poucos subiam o Amazonas. A colonização por-
tuguesa que os transportava ainda se concentrava nas proximidades da foz do rio. Assim, a
presença dos negros na população amazônica ficou concentrada no Pará e no Amapá. Os
escravos negros que conseguiam fugir se embrenhavam pela floresta e criavam pequenas
comunidades conhecidas como quilombos.
A M A Z Ô N I A P O R T U G U E S A
O estabelecimento do Tratado de Madri e o início da administração de Marquês de Pombal em
Portugal, ambos ocorridos em 1750, marcaram uma nova fase na qual a Amazônia brasileira foi,
em linhas gerais, definida.
Vale lembrar que, nessa época, o conhecimento que se possuía do interior do continente ame-
ricano ainda era muito impreciso. O Mapa das Cortes, elaborado a pedido do rei de Portugal,
serviu de base para as negociações do Tratado de Madri e possuía forte distorção do curso dos
rios que cortam as terras a oeste do Brasil. Essas distorções eram propositais, puxando o traça-
do dos rios para leste, diminuindo artificialmente a área pretendida pelos portugueses – e
cumpriram perfeitamente o objetivo de desorientar os negociadores espanhóis.
Não menos importante do que o Tratado de Madri para a inauguração de uma nova fase da
história amazônica foi a administração empreendida pelo Marquês de Pombal. Tão logo subiu ao
poder, ainda em 1750, Pombal pretendia tirar Portugal da situação de atraso que experimen-
tava frente às demais potências européias e da dependência da Inglaterra, país do qual recebia
proteção contra a França e a Espanha.
Pombal criou a Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão que deveria oferecer
preços atraentes para as mercadorias ali produzidas a serem consumidas na Europa, tais como
cacau, canela, cravo, algodão e arroz. Começou também a introduzir na Amazônia a mão-de-
obra escrava de origem africana.
84 85
Q U A I S E R A M A S A R M A S P A R A L U T A R C O N T R A E S S A A V A L A N C H E ?
Logo de início f icou claro que nem mesmo toda a tecnologia européia seria capaz de superar as dificuldades
apresentadas pelo povoamento da Amazônia. As enormes distâncias, a selva impenetrável, perigos de diferentes
naturezas perturbavam quem quer que tivesse coragem de ali entrar. As doenças palustres ganhavam fama, as
condições climáticas se revelavam extremas para os europeus e o imenso esforço necessário para a extração
das riquezas ocultas na floresta tornaram a Amazônia um lugar indomável, indecifrável, impiedosamente sel-
vagem no imaginário do colonizador. Um “inferno verde”.
ÍNDIOS CAIAPÓS
civilizados,Pará, 1914.
P A R A S A B E R M A I S
Para saber mais sobre a
questão indígena , mergu-
lhe no Capítulo 6, “Povos
indígenas e comunidades
tradicionais”, Caderno 3.
T r a t a do d e M a d r i
O Tratado de Madri é um dos
mais importantes tratados
de limites da história di-
plomática brasileira porque
estabeleceu não só as bases
territoriais do Brasil, mas tam-
bém def iniu o princípio que
nortearia todas as questões de
limites surgidas posterior-
mente: o uti possidetis, segundo
o qual a terra pertencia ao país
de origem dos homens que nela
morassem.
E S C R A V I D Ã O I N D Í G E N A
De uma área com uma multiplicidade de povos ameríndios que seguiam seu desenvolvimento
próprio, a Amazônia havia se tornado, em menos de dois séculos, território anexo ao reino por-
tuguês. Além de serem capturados pelos soldados portugueses, os índios amazônicos passaram a
sofrer a ação dos missionários de diversas ordens religiosas que se dedicavam a convertê-los à fé
cristã – boa parte da ação jesuítica dizia respeito à produção de riquezas com o emprego da mão-
de-obra indígena.
Os diversos povos amazônicos resistiram o quanto puderam, mas a “avalanche” européia
trazia muitíssimas armas desconhecidas. Além de uma tecnologia mais avançada, os brancos
trouxeram doenças contra as quais os índios não possuíam resistência. Sarampo, gripe, tuber-
culose e outras enfermidades rapidamente se alastraram entre os grupos indígenas da região,
dizimando aldeias inteiras diante de pajés que não sabiam como curar aquelas moléstias
desconhecidas. 
P A R A S A B E R M A I S
Para saber mais sobre as co-
munidades quilombolas ,
mergulhe no Capítulo 6,
“Povos indígenas e comuni-
dades tradicionais”, Caderno 3.
Em 1759, Pombal determinou a expulsão dos jesuítas de Portugal e seus domínios, com o con-
fisco de todos os seus bens. Os missionários, e em especial a Companhia de Jesus, eram acusa-
dos de tentar criar um estado próprio dentro do reino português.
Pombal pretendia também consolidar o domínio português nas fronteiras do Norte e do Sul do
Brasil através da integração dos índios à civilização portuguesa. Essa jogada política garantiria o
aumento das terras portuguesas de acordo com o Tratado de Madri. Por isso, proibiu a escravidão
indígena, transformou aldeias amazônicas em vilas sob administração civil e implantou uma legis-
lação que estimulava o casamento entre brancos e índios. Consolidava-se assim a presença por-
tuguesa no imenso território que hoje constitui o Brasil.
A M A Z Ô N I A B R A S I L E I R A
Na metade do século XIX, findo o período das “drogas do sertão” e iniciada uma ocupação mais
sistemática da Amazônia, temos uma nova base cultural estabelecida. A fronteira do território da
Amazônia brasileira permaneceria móvel até o início do século XX, quando os contornos políticos
do Brasil seriam definidos com a conquista dos territórios do Amapá e de Roraima, ao Norte, e do
Acre, no extremo Oeste.
Estes extremos, especialmente as regiões dos altos rios, na parte mais ocidental da floresta,
permaneciam como área de refúgio dos primeiros habitantes, os povos indígenas mais arredios
que não foram incorporados aos empreendimentos colonialistas, nem de Portugal nem da
Espanha. Esta Amazônia profunda retinha suas riquezas em segredo e realimentava o mito do
“inferno verde”.
A C A B A N A G E M E A C R I S E D A E C O N O M I A C O L O N I A L
A adesão do Pará à independência do Brasil, em 1823, provocou forte frustração nacionalista da
parte da elite amazônica, que se ressentia de ter sido afastada das decisões políticas e econômi-
cas do país. O poder, no Império brasileiro, continuaria concentrado nas mãos dos conservadores
que exploravam o Pará desde o tempo da colônia.
Em 1835, irrompia no Pará a Cabanagem, marcada por ataques e a tomada de Belém, onde foi
proclamada a independência do Pará em relação ao Brasil. A Cabanagem não foi simplesmente
uma revolta popular, era uma frente ampla que congregava burgueses nacionalistas insatisfeitos,
militares que desejavam alcançar mais altos postos, políticos que queriam maior fatia de poder,
escravos que ansiavam pela liberdade, índios e mestiços movidos por séculos de dominação e
opressão portuguesa.
As lutas prosseguiram até 1840. No final, o saldo foi de 30 mil mortos entre rebeldes e legalis-
tas. Belém foi quase totalmente destruída e sua economia devastada.
A Amazônia brasileira permaneceria ainda por muitos anos mergulhada em uma situação de
grave decadência econômica e social. Somente com a criação da Província do Amazonas, em
1850, por desmembramento do Grão-Pará, e os primeiros movimentos de valorização da bor-
racha extraída da seringueira, a região experimentaria um novo alento.
C I C L O D O “ O U R O N E G R O ”
Outro momento marcante para a “criação” da Amazônia brasileira foi propiciado pela Revolução
Industrial. A vulcanização da borracha, substância que só existia na floresta amazônica e que pas-
sou a valer ouro negro, o motivou uma intensa migração de homens vindos de todas as partes do
mundo. Fascinados pela promessa de riqueza, novas levas de europeus atravessaram o oceano,
aventuraram-se em cidades e vilas até então isoladas na floresta. O contingente mais numeroso
era de sírio-libaneses, especializados no comércio, mas vieram também italianos, franceses, por-
tugueses e ingleses em grande número.
A V I N D A D O S N O R D E S T I N O S
A borracha estava na floresta, espalhada em longas distâncias habitadas por índios. Era
necessário colhê-la nas árvores, ainda líquida, defumá-la até ficar sólida, transportá-la até as
margens dos rios e daí para o comércio nas cidades, um trabalho penoso e perigoso, que só pode-
ria ser realizado por um exército de homens acostumados à vida mais rude. Esse exército veio do
8786
O u r o n e g r o
Neste período o látex ex-
traído das seringueiras pas-
sou a ser conhecido com
ouro negro, assim chamado
pela cor escura das “pelas”
(bolas) de borracha defumada.
C a b a n a g e m
Revolta que recebeu esse
nome devido a grande pre-
sença de homens simples,
que, por morar em cabanas,
eram chamados ‘cabanos’.
IGREJA, casario e traçado
de ruas de Manaus
PRAÇA DA REPÚBLICA, 
Belém, c. 1910.
88 89
S E R I N G U E I R O S
Eram obrigados a comprar a
crédito somente dos seus se-
ringalistas tudo de que nece-
ssitavam para sobreviver: ali-
mentos, roupas e ferramentas.
Pagavam suas dívidas com a
borracha produzida.
C A S A S A V I A D O R A S
Estabelecidas principalmente
em Belém e Manaus, compra-
vam das f irmas exportadoras
as mercadorias que forneci-
am aos seringalistas e pa-
gavam as exportadoras com a
produção dos seringais.
S E R I N G A L I S T A S
Compravam a crédito (avia-
vam) das Casas Aviadoras,
todas as mercadorias que ven-
diam para os seringueiros.
Pagavam com a produção anual
do seringal.
E X P O R T A D O R A S
Na maioria de origem inglesa
ou alemã, as exportadoras se
capitalizavam nos bancos eu-
ropeus e norte – americanos
para financiar o sistema de
aviamento e obtinham um ex-
traordinário lucro com a ven-
da da borracha nos mercados
industrializados.
Nordeste do Brasil, empurrado pela miséria e pelas grandes secas, como as de 1877 e 1878. Antes
que o século findasse, mais de 300 mil nordestinos, principalmente do sertão do Ceará, migraram
para a Amazônia.
Nos seringais, esses homens valiam menos que os escravos. Na outra extremidade da sociedade
regional, os seringalistas e grandes comerciantes usufruíam da riqueza fácil proporcionada pela
borracha. Essa evidente contradição no quadro social do Ciclo da Borracha se devia a um perver-
so sistema de exploração, que consumiu a vida de milhares de homens. O sistema de aviamento se
constituía numa rede de créditos e se espalhou nos imensos seringais que foram abertos em todos
os vales amazônicos.
S I S T E M A D E AV I A M E N T O
UMA ETAPA de preparação do
látex. Todos os membros das
famílias participavam da
tarefa de transformar o leite
da seingueira em látex.
D E C L Í N I O D O C I C L O D A B O R R A C H A
A euforia econômica proporcionada pela borracha amazônica – que chegou ao posto de segundo
produto da pauta de exportações brasileira, só perdendo para o café – foi efêmera. Em menos de
três décadas a velha pirataria européia conseguiu destruir todos os sonhos de grandeza amazôni-
ca. Um biopirata inglês contrabandeou da Amazônia grande quantidade de sementes de
seringueiras para o Jardim Botânico de Londres. Rapidamente se descobriu que as mudas de
seringueira obtidas das sementes contrabandeadas se adaptavam perfeitamente na Ásia. Logo os
ingleses implantaram enormes seringais de cultivo no sudeste asiático, racionalizando e moder-
nizando a produção da borracha. Assim conseguiram reduzir de forma drástica os custos de pro-
dução, que, na Amazônia, eram extremamente altos, e derrubaram os preços internacionais.
A rede de crédito do sistema de aviamento era como um castelo de cartas que desabou inteiro, uma
vez que foi rompido pelos grandes compradores internacionais.
B A T A L H A D A B O R R A C H A
Durante a Segunda Guerra Mundial, no final de 1941, os países aliados não tinham mais acesso
à borracha asiática e necessitavam desta matéria-prima principalmente para a indústria bélica. As
autoridades norte-americanas entraram em pânico e voltaram suas atenções então para a
Amazônia, o grande reservatório natural da borracha. Entretanto, seriam necessários, pelo
menos, cem mil novos trabalhadores para reativar a produção amazônica até o nível desejado.
E O S S E R I N G U E I R O S ?
Nas décadas de 1920 e 1930, milhares de seringueiros nordestinos abandonaram os seringais e voltaram derro-
tados para suas regiões de origem. A Amazônia brasileira se despovoou e entrou em um novo ciclo de decadên-
cia econômica. Na crise, a agricultura passou a ser utilizada e isso fez com que práticas e conhecimentos dos
nordestinos se fundissem aos conhecimentos da agricultura indígena.
B i o p i r a t a r i a
Comércio i legal de seres
vivos. Para saber mais so-
bre as questões que envol-
vem a biopirataria, mergulhe
no Capítulo 3, “Ecologia dos
ecossistemas”, neste Caderno. 
R e s e r v a t ó r i o n a t u r a l
Seringueiras prontas para a
produção de 800 mil tone-
ladas de borracha anuais,
mais que o dobro das neces-
sidades norte-americanas.
> > >
AS CASAS AVIADORAS
utilizavam os jornais para
anunciar suas atividades,
como nestes, de 1884.
90 91
Ficou acertado então que o governo americano passaria a investir fortemente no financiamento
da produção de borracha amazônica, enquanto ao governo brasileiro caberia o encaminhamento de
milhares de trabalhadores para os seringais, o que passou a ser tratado como um heróico esforço
de guerra. Só de Fortaleza, no Ceará, cerca de 30 mil flagelados da seca de 1941-42 foram envia-
dos imediatamente para os seringais.
Em todas as regiões do Brasil, aliciadores tratavam de convencer trabalhadores a se alistar
como soldados da borracha para auxiliar na vitória aliada. Dizia-se que “na Amazônia se junta di-
nheiro com rodo”. Os velhos mitos do eldorado amazônico voltavam a ganhar força no imaginário
popular, agora considerado o paraíso verde, a terra da fartura, onde a seca não tinha vez.
O contrato de trabalho, que não devia repetir os abusos do sistema de aviamento assinado entre
seringalista e soldado da borracha, quase nunca foi respeitado. A não ser para assegurar os direi-
tos dos seringalistas. Todas as tentativas de implantação de um novo regime de trabalho, como o
fornecimento de suprimentos direto aos seringueiros, fracassaram diante da pressão e poderio das
casas aviadoras e dos seringalistas, que continuavam dominando o processo da produção de bor-
racha na Amazônia.
O crescimento da produção de borracha na Amazônia nesse período foi infinitamente menor do
que o esperado. Isso levou o governo norte-americano, tão logo a guerral chegou ao fim, a se
apressar em cancelar todos os acordos referentes à produção de borracha amazônica. Era o fim da
Batalha da Borracha, mas não da guerra travada por seus soldados.
F I Q U E P O R D E N T R O
Muitas famílias do sertão
nordestino tiveram que es-
colher se seus filhos par-
tiriam para os seringais como
soldados da borracha ou então
seguir iam para o front para
lu tar contra os ital ianos e
alemães. Muitos preferiram a
Amazônia.
AS CASAS de comissões conti-
nuavam atuantes como mostram 
os anúncios de 1942.
Na página ao lado: cartazes de
Jean Pierre Chabloz, para o Semta,
convocando trabalhadores para o
Ciclo da Borracha, 1943; e traba-
lhadores nordestinos, especial-
mente do Ceará, recrutados para 
a “batalha da borracha”, durante 
a Segunda Guerra Mundial.
92 93
P E R Í O D O D A D I T A D U R A M I L I T A R : N O V A P O L Í T I C A
D E S E N V O L V I M E N T I S T A
O início deste período, em meados de 1960, trouxe novas e profundas modificações para a
Amazônia. Os militares, amparados por um suposto perigo eminente de internacionalização, inicia-
ram um período marcado pela implantação de grandes projetos que, segundo se dizia, visavam
desenvolver economicamente o Norte do país.
“ I N T E G R A R P A R A N Ã O E N T R E G A R ”
Esse era o discurso oficial do governo militar, estimulando um novo movimento de ocupação da
Amazônia a partir de grandes projetos mineradores, madeireiros e agropecuários. Para tanto, em
1965, o presidente Castelo Branco anunciou a Operação Amazônia e, em 1968, criou a Sudam
(Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia) com amplos poderes para distribuir
incentivos fiscais e autorizar créditos para investimentos na indústria e na agricultura. O objetivo
principal era criar pólos de desenvolvimento espalhados por toda a bacia amazônica, expandindo a
fronteira pioneira.
P A R A O N D E F O R A M O S S O L D A D O S D A B A T A L H A D A B O R R A C H A ?
Muitos, imersos na solidão de suas colocações no interior da floresta, sequer foram avisados de que a guerra
tinha terminado, só vindo a descobrir isso anos depois. Alguns voltaram para suas regiões de origem como
haviam de lá partido, sem um tostão no bolso. Outros conseguiram criar raízes na floresta e ali construir suas
vidas. Poucos conseguiram tirar algum proveito econômico dessa batalha incompreensível, aparentemente sem
armas, sem tiros, mas com muitas vítimas.
F I Q U E P O R D E N T R O
Foi nesta época que se criou
o conceito de Amazônia
Legal. Os estados e cidades
que pertenciam a essa nova
delimitação da Amazônia po-
diam participar do plano de
incentivos fiscais e obtenção
de créditos.
P A R A S A B E R M A I S > O resultado destas frentes de expansão simultâneas foi a formação da maior fron-
teira pioneira da história da humanidade, com área total superior a 200 milhões de hectares (2 milhões de km2),
em apenas 40 anos. Esta é a região hoje conhecida como “Arco do Desmatamento”, envolvendo mais de cem
municípios. Nesta área, se encontram mais de 90% da área desmatada da Amazônia. A fronteira pioneira é a
região de maiores conflitos fundiários e de maior impacto sobre o meio ambiente.
UMA DAS ETAPAS da construção da
rodovia Transamazônica em Marabá
(PA), em 1983, marco de desperdício
da economia amazônica.
O período do “milagre econômico” acelerou ainda mais a velocidade dos investimentos em infra-
estrutura. Teve início a construção da Transamazônica, que deveria integrar todo o sul da Amazônia
ao cortá-la no sentido leste-oeste, assegurando, pelo menos em teoria, o controle brasileiro da
região. A expansão da fronteira pioneirana Amazônia aconteceu simultaneamente em diversas
frentes, com a abertura de várias estradas e grandes projetos de colonização.
“ T E R R A S S E M H O M E N S P A R A H O M E N S S E M T E R R A ”
Com este discurso o presidente Emílio Médici prometeu resolver o problema do Nordeste, oferecen-
do terras amazônicas. Estabeleceu então o PIN (Plano de Integração Nacional) segundo o qual deve-
riam ser reservados 100 km de cada lado da estrada para o assentamento prioritário de nordestinos.
Ao mesmo tempo, a Sudam começou a aprovar grandes projetos agropecuários e o Incra
(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) aumentou o índice de distribuição de terras
para os fazendeiros. Isso fez com que a taxa de desmatamento subisse assustadoramente.
Apesar dos amplos financiamentos concedidos, na época – que abrangiam a mineração na serra
dos Carajás, a construção de hidrelétricas, a implantação do pólo tecnológico e industrial da Zona
Franca de Manaus e a construção de rodovias – o resultado mais evidente da nova política desen-
volvimentista não foi a prosperidade econômica da Amazônia, mas a degradação e o acirramento
das relações sociais em toda a região.
AOS SOLDADOS da borracha
caberia aumentar a produção de
látex na Amazônia recebendo em
troca isenção do serviço militar
e tratamento de ex-combatentes. 
C N S
Conselho Nacional dos Se-
ringueiros, entidade que,
apesar do nome, reunia
também outros setores popu-
lares da Amazônia, tais como
os índios, os ribeirinhos, e os
castanheiros, dentre outros.
P A R A S A B E R M A I S > Em 1980, Wilson Pinheiro, presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de
Brasiléia, foi assassinado, assim como outras lideranças populares, sem que a opinião pública brasileira sequer
tomasse conhecimento da situação.
CENÁRIO DO DESMATAMENTO:
"Lago de madeira", Cruzeiro
do Sul / AC.
DEGRADAÇÃO AMBIENTAL
provocada pelo garimpo de ouro 
na Amazônia/Pará.
A F L O R E S T A : U M B E M A M E A Ç A D O
A ocupação ocorrida no período militar teve características distintas das anteriores. Antes, os
colonizadores buscavam a região para explorar as riquezas da floresta, e agora querem a terra
para expandir a agricultura e a pecuária. O modelo de latifúndio dos seringais, até então dominante
na Amazônia, propiciava a permanência dos trabalhadores na floresta. O novo latifúndio, a fazenda
para criação de gado, promovia a chamada “limpeza do terreno”, ou seja, a retirada da floresta e
do povo que lá vivia.
Repentinamente, índios, seringueiros, ribeirinhos e colonos viram suas terras invadidas e devas-
tadas em nome de um novo tipo de progresso que transformava a floresta em terra arrasada.
A A L I A N Ç A D O S P O V O S D A F L O R E S T A
A partir de 1975, as populações tradicionais da floresta começaram a se organizar e a desen-
volver diferentes estratégias de resistência. Foram fundados os primeiros sindicatos de traba-
lhadores rurais no Acre e em outros estados da Amazônia. Em muitos lugares, os segmentos mais
progressistas da Igreja Católica reforçaram a luta popular a partir das Comunidades Eclesiais de
Base. Intelectuais, artistas, estudantes e trabalhadores em geral criaram organizações civis e um
intenso movimento social se verificou nas cidades de várias regiões fortemente impactadas pela
política oficial.
Não foi uma luta fácil, nem rápida. Apesar de os trabalhadores rurais possuírem formas pacífi-
cas de luta, como a realização de embates com a participação de mulheres e crianças para impedir
as derrubadas da floresta, os conflitos foram se tornando cada vez mais explosivos e perigosos.
Para responder a isso, em 1985 foi criado o CNS. Surge então uma forte consciência de que a
devastação da floresta amazônica não era somente uma questão ambiental, mas social. O discur-
so de líderes como Chico Mendes começou a apontar na direção da formação de uma aliança dos
povos da floresta, que reunisse todas as populações tradicionais da Amazônia em defesa de seu
bem comum: a grande floresta. Se índios e seringueiros haviam sido inimigos durante o primeiro
ciclo da borracha, agora precisavam se unir para lutar contra o inimigo comum.
Porém, nem toda a notoriedade e legitimidade obtidas pelo movimento dos povos da floresta
impediram que seus líderes continuassem a ser mortos. Em 1988, Chico Mendes foi assassina-
do dentro de sua própria casa, apesar da proteção de dois policiais que o acompanhavam 24
horas por dia.
Nesse momento, o movimento ambientalista mundial já havia tornado Chico Mendes uma figura
pública conhecida e reconhecida em todo o mundo por sua luta em defesa da floresta e de suas
populações tradicionais. Sua morte desencadeou enorme pressão sobre os organismos financeiros
internacionais, que foram obrigados a rever seus critérios de investimento na Amazônia, levando o
governo brasileiro a mudar a política de desenvolvimento da região.
A Amazônia passou a ser respeitada por sua importância, não só para o Brasil, mas para o mundo. 
9594
96 97
Selecionamos para este capítulo dois exemplos de gestão que estão dando certo, com o objetivo
de demonstrar ações inovadoras que vêm sendo implementadas na Amazônia pela mediação do
governo federal, dos governos estaduais e de organizações da sociedade civil, tanto na formulação
de políticas públicas quanto na gestão de Unidades de Conservação.
R E S E R V A E X T R A T I V I S T A ( R E S E X ) C H I C O M E N D E S , N O A C R E
A Reserva Extrativista Chico Mendes, criada em 1990, é a Unidade de Conservação desta
modalidade que conta com a maior extensão territorial: 921.064 hectares. A Reserva abrange seis
municípios acreanos: Assis Brasil, Brasiléia, Capixaba, Xapuri, Sena Madureira e Rio Branco.
A Resex Chico Mendes possui um Plano de Utilização, elaborado por seus moradores e aprova-
do pelos órgãos ambientais, cujo objetivo é assegurar a sustentabilidade da utilização dos recur-
sos naturais. É também através do Plano que os moradores manifestam seu compromisso em
respeitar a legislação ambiental e que o órgão fiscalizador, o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente) verifica o cumprimento do que foi acordado. Dessa forma, os moradores da Resex são
os responsáveis pela implementação do Plano e pela gestão dos recursos naturais. 
O resultado deste complexo processo de ocupação da Amazônia é um dos traços marcantes da
região: a diversidade social. Alcançou-se a consciência de que a Amazônia não é somente um lugar
privilegiado da biodiversidade, mas também o lugar da sociodiversidade.
Porém, ainda são poucos os que percebem que dentro dessa floresta, ao mesmo tempo indomá-
vel e frágil, moram populações tradicionais que desenvolveram modos de vida compatíveis com as
características especiais desse ecossistema. A história da Amazônia nos revela, também, que esse
processo faz parte da construção de uma consciência ambiental e social mais equilibrada.
Apesar do imenso potencial, alguns fatores se colocam como desafios para o alcance dos obje-
tivos de um desenvolvimento sustentável da Amazônia, e dentre eles destacamos:
> Baixos níveis educacionais, com parcela significativa de populações analfabetas e de crianças
sem acesso à escola.
> Grave quadro de desorganização fundiária, do qual derivam sérios conflitos pela posse da terra,
determinando a expulsão de populações tradicionais que passam a engrossar frentes migratórias
para a periferia das cidades.
Diante desta situação, programas de inclusão social no meio urbano e rural, na Amazônia,
devem estar diretamente associados à geração de emprego e renda e à questão da sustentabili-
dade. A criação e consolidação de Reservas Extrativistas, Reservas de Desenvolvimento
Sustentável e a Demarcação das Terras Indígenas são iniciativas que asseguramo bem-estar
social e cultural das populações tradicionais e a manutenção dos estoques florestais e de biodi-
versidade por elas geridos.
No entanto, devido às proporções territoriais da região, o controle e manutenção desses progra-
mas requerem uma cooperação que passa pelo sistema de parcerias entre todas as organizações
e instituições envolvidas com a Amazônia.
CHICO MENDES, inesquecível
seringueiro que dedicou 
toda a sua vida à defesa dos
trabalhadores e dos povos 
da floresta.
A Ç Õ E S P A R A U M F U T U R O S U S T E N T Á V E LD E S A F I O S P A R A O D E S E N V O L V I M E N T O S U S T E N T Á V E L
P A R A S A B E R M A I S
Para saber mais sobre as
Unidades de Conservação e
a história de Chico Mendes,
m e rg u l h e n o C a p í t u l o 9 ,
“Áreas Legalmente Protegi-
das”, Caderno 3.
98 99
M O S A I C O D E U N I D A D E S D E C O N S E R V A Ç Ã O D O L A G O D E T U C U R U Í , N O P A R Á
O Mosaico de Tucuruí é uma demonstração de que é possível combinar diferentes modalidades
de conservação e assegurar que, tanto a natureza quanto a sociedade sejam beneficiados.
Na APA (Área de Proteção Ambiental) são permitidas atividades econômicas e de lazer, mas com
algumas restrições. 
A criação deste mosaico de UCs (unidades de conservação) teve início a partir de uma demanda
das populações locais, que solicitaram a criação de uma Reserva Extrativista, visando proteger a
biodiversidade da região e regularizar a situação fundiária. Sérios problemas sociais e ambientais
foram causados quando foi fechada a barragem de Tucuruí e o nível das águas do Tocantins subiu
cerca de 60 m inundando uma grande área e desalojando cerca de 4.500 famílias.
A iniciativa das populações locais contou com o apoio da Eletronorte, empresa que construiu e
opera a usina. Em 1997, foram realizados estudos técnicos para fundamentar as propostas de cria-
ção das Unidades de Conservação. Em 1999, os moradores se mobilizaram contra a intensificação
das atividades econômicas predatórias sobre as florestas e estoques de peixes e pelo reconheci-
mento de suas posses nas ilhas do lago. Foi então criada uma comissão composta por diferentes
representantes. A comissão conseguiu criar mecanismos de gestão compartilhada dos recursos
naturais através de um mosaico de Unidades de Conservação. 
USINA HIDRELÉTRICA
de Tucuruí no estado do Pará.
P A R A S A B E R M A I S > O mosaico de Unidades de Conservação do Lago de Tucuruí é constituído de duas
Reservas Estaduais de Desenvolvimento Sustentável, criadas pelo governo do estado do Pará, a RDS Alcobaça,
com 36.128 hectares e a RDS Pucuruí-Ararão, com 29.049 hectares, que ficam, ambas, dentro do perímetro de
uma outra Unidade de Conservação de Uso Sustentável, a Área de Proteção Ambiental Lago de Tucuruí, com
586.667 hectares, e abrange todo o espelho d’água do lago e suas margens. Com isso, todo o lago criado pela
construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí é uma área legalmente protegida.
100 101
S E G U N D O M O M E N T O
> Assista o programa com a turma.
T E R C E I R O M O M E N T O
> Reflexões sobre as imagens e conteúdos do programa.
Q U A R T O M O M E N T O
> Relembre com a turma a primeira atividade e faça um para-
lelo com o programa assistido.
> Sugira que cada um pesquise um pouco mais a sua árvore
genealógica, realizando entrevistas com os parentes para ten-
tar descobrir os seus antepassados mais distantes e as suas
origens. Organize com eles um esquema de perguntas que vise
suprir as informações que considerem importantes. Ex: nome,
nacionalidade de origem, data aproximada em que vieram
morar na região, motivo da mudança. Alerte quanto a tentar
montar as informações dentro de uma ordem cronológica, bus-
cando construir uma árvore genealógica.
Q U I N T O M O M E N T O
> O professor irá construir, em uma folha de papel pardo,
uma linha do tempo da história da ocupação da Amazônia a par-
tir das informações trazidas pelos alunos. 
> Pergunte as datas das viagens dos antepassados mais anti-
gos que conseguiram pesquisar. Marque na linha (deixe um
pequeno espaço inicial da linha em branco) a data mais antiga, a
origem desse antepassado e o motivo de sua mudança. Faça um
paralelo com o momento histórico. Continue perguntando quem
tem exemplos de uma data próxima à anterior e vá selecionando
os exemplos conforme o seu interesse para construir uma linha
do tempo que ilustre o processo de ocupação da Amazônia.
> Quando a linha estiver completa, até o presente, pergunte
se alguém sabe quem morava na Amazônia antes da data mais
antiga marcada na linha do papel. Converse um pouco sobre os
primeiros habitantes. Faça com que marquem na linha a
existência desses habitantes e proponha que a turma se orga-
nize em grupos para pesquisar mais sobre os diferentes mo-
mentos históricos do processo de ocupação da região, com o
objetivo de produzir um livro com essa história. 
As atividades sugeridas a se-
guir estão relacionadas à pro-
posta metodológica de edu-
cação ambiental apresentada
no caderno 1 do kit. A leitura
desse caderno ajudará no
desenvolvimento de um projeto de educação ambiental que
procura considerar, trabalhar e avaliar as particularidades de
cada contexto. Questionando o porquê e para que implementar
uma proposta dessa natureza. 
É importante lembrar que as atividades que se seguem são
apenas algumas sugestões possíveis de estruturar o modo
como trabalhar no cotidiano da sala de aula com esses temas,
aliados a uma prática educacional que valoriza a interdiscipli-
naridade, a transdisciplinaridade e a expressão dos conteúdos
através de diferentes linguagens artísticas. 
Esperamos que essas sugestões de atividades se somem
ao trabalho já desenvolvido por cada instituição e educador...
que sirva como inspiração para que cada um crie e recrie da
sua forma. 
Organizamos as sugestões de duas formas diferentes. A pri-
meira segue passo a passo um processo de trabalho com uma
proposta determinada, na qual as etapas são cuidadosamente
descritas exemplificando um desencadeamento de idéias. A se-
gunda sugestão indica outras possibilidades de trabalho com o
tema que podem complementar a proposta principal, substi-
tui-la ou somente provocar novas idéias nos professores.
S U G E S T Ã O P A S S O A P A S S O
> ANTES DE ASSISTIR AO PROGRAMA | SENSIBILIZAÇÃO PARA O TEMA
P R I M E I R O M O M E N T O
> Pergunte aos alunos quem já ouviu falar em árvore
genealógica e se sabem o que é. Deixe que eles falem o que
pensam ser isto.
> Junto com o grupo construa o conceito do que é arvore
genealógica. 
> Distribua uma folha em branco para cada aluno e peça que
escrevam na parte de baixo do papel o nome de cada um e o
lugar onde nasceu. Depois, que puxem para cima duas linhas e
escrevam na ponta de cada uma o nome da mãe e do pai (ou dos
responsáveis) e os seus lugares de origem. 
> Divida ao meio o quadro negro ou uma folha de papel pardo,
com um traço e peça para que cada um leia em voz alta a sua
naturalidade e a dos seus pais. Escreva de um lado as naturali-
dades dos alunos e do outro as dos pais.
> Façam, em conjunto, uma análise dos locais de origem que
apareceram e o número de vezes que cada uma delas aparece.
Levante questões que ajudem a refletir sobre os resultados
apresentados. 
I M P O R T A N T E > O número de aulas ou encontros necessários para
o desenvolvimento das etapas propostas aqui dependerá das dife-
rentes realidades e interações com os alunos.
T R A B A L H A N D O C O M O T E M A
LEITURA DE IMAGEM
Este programa mostra um resumo da história da região amazônica,
seus ciclos e as pessoas que fizeram parte dessa história.
Umaforma de realizar a “leitura de imagem” é lembrar com os alunos
como o programa começa, e ir, cena a cena, reconstruindo-o e regis-
trando e discutindo as informações associadas a cada cena. Registre
tudo no quadro. Assim, estaremos “reconstruindo”, cronologicamente,
a história da Amazônia.
Para ajudar nesse processo, o professor pode evocar algumas imagens
para que os alunos lembrem dos conteúdos associados a elas. Por
exemplo: quais mapas aparecem no programa? O que é falado sobre
eles? Ou ainda: quais são os fortes que aparecem no programa? Você
conhece algum deles? Lembrar das imagens é mais fácil e ajuda a
lembrarmos dos conteúdos.
102
BENCHIMOL, Samuel. Amazônia: Formação social e cultural, Manaus: Valer / Universidade do Amazonas, 1999.
COMISSÃO PRÓ-ÍNDIO DO ACRE (org.). História indígena. Rio Branco (RR): Comissão Pró-Índio do Acre, 1996.
CUNHA, Euclides da. Um paraíso perdido (org. Leandro Tocantins), Rio de Janeiro: José Olympio / Governo do Estado do Acre, 1986.
CUNHA, Manuela C. e ALMEIDA, Mauro B. (orgs.). Enciclopédia da floresta – O Alto Juruá: práticas e conhecimentos das popu-
lações, São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
MARTINELLO, Pedro. A “Batalha da Borracha” na Segunda Guerra Mundial e suas conseqüências para o Vale Amazônico, São Paulo:
Ufac, 1988 (Cadernos Ufac n.1).
MARTINS, Edílson. Amazônia, a última fronteira, Rio de Janeiro: Codecri, 1982.
MORAN, Emilio F. A ecologia humana das populações da Amazônia. Petrópolis (RJ): Vozes, 1990.
PROUS, André. Arqueologia brasileira, Brasília: EdUnB, 1992.
RENARD-CASEVITZ, France-Marie. História Kampa: Memória Ashaninca, organização de Manuela C. Cunha in História dos índios
no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
SMITH, Anthony. Os conquistadores do Amazonas: quatro séculos de exploração e aventura no maior rio do mundo, São Paulo:
Best Seller, 1994.
B I B L I O G R A F I A
> Divida a linha do tempo em grupos e peça que cada um
fique responsável por pesquisar o período que lhe coube e
escrever um capítulo da história. 
S E X T O M O M E N T O
> Cada grupo deverá ler para a turma o texto produzido. A lei-
tura pode respeitar a ordem cronológica da linha do tempo.
> Peça para que cada grupo releia o seu texto procurando dar
atenção à correção ortográfica e que façam um desenho ilus-
trando a história contada. Se preferir, pode trocar os textos
entre os grupos de modo que cada um corrija um texto produzi-
do por outro grupo.
> Juntem os textos para formar um livrinho.
S É T I M O M O M E N T O
> Proponha, como forma de socialização do trabalho, uma
exposição com a linha do tempo construída com um pedaço da
história de cada livrinho produzido pela turma e as árvores
genealógicas elaboradas por cada um.
> Sugira que cada aluno reveja a sua árvore genealógica,
procurando torná-la mais clara e esteticamente agradável. No
lugar do seu próprio nome podem elaborar um auto-retrato.
> Convidem toda a escola e os pais dos alunos para a inaugu-
ração da exposição.
O U T R A S S U G E S T Õ E S
> Montar com a turma uma peça teatral que dramatize o
processo histórico de ocupação da Amazônia.
> Propor que cada aluno faça a sua linha do tempo, desde quan-
do nasceu até o dia presente, lembrando as suas datas mais mar-
cantes. Essa linha pode misturar textos, desenhos e fotos. 
> Elaborar com a turma um grande painel com o mapa da Ama-
zônia que expresse o resultado do processo histórico de ocupação
da Amazônia: a diversidade étnica de sua população amazônica.
Misturar técnicas diferentes, como desenho, pintura e colagem.DICA > Existem várias formas de juntar os textos e desenhos; gram-
peando, colando, amarrando com barbante ou similar. O acabamento
pode ser de pano, folhas secas ,papel colorido, reciclado, etc. Deixe a
sua imaginação livre para criar. Não esqueça da capa e da folha dos
autores e referências bibliográficas.
I M P O R T A N T E > As atividades práticas/teóricas e a proposta pe-
dagógica sugeridas nesse capítulo mesclam conteúdos de diferentes
disciplinas. Elas podem fazer parte de um projeto integrado, quando
cada educador desenvolve suas especificidades ou ser desenvolvidas
por um único educador. 
É importante elaborar um projeto de trabalho que estabeleça metas e
objetivos, criando um encadeamento das atividades, passo a passo,
mesmo que durante o trabalho ele seja alterado. A intenção e o profunda-
mento do trabalho dependerá das prioridades e necessidades do grupo.
Esteja aberto para as propostas e demandas dos alunos, todo pla-
nejamento pode e deve ser revisto e avaliado.

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