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MIGRAÇÃO E MEMÓRIA - RETERRITORIZAÇÃO E INSERÇÃO SOCIAL DE GAÚCHOS EM RORAIMA - SOUZA. Carla M.

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ESPAÇO E TEMPO
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APRESENTAÇÃO
O dossiê Espaço & Tempo reúne artigos que tratam de aspectos diversos dessa 
complexa relação. São oito artigos de acadêmicos de todo o país. A coletânea inicia 
com o trabalho de Carla Monteiro de Souza sobre a imigração de gaúchos em 
Roraima. Em seguida, Christian Nunes da Silva discute questões relativas à 
identidade cabocla e à cultura regional na Amazônia. Cristina Maria da Silva trata 
da imagem do corpo feminino no cenário cultural e político brasileiro. O artigo 
seguinte, de Estevão Martins Palitot, analisa como a delimitação de um território 
indígena contribui para a redefinição identitária desses povos. Gilmara Benevides 
Costa discute a revitalização de um engenho do século XVII e a produção da 
“memória”. José Francisco analisa como o processo de produção do espaço social 
é alienante e, por isso, é necessária sua “desconstrução” analítica para promover a 
justiça social. Na mesma linha temática, porém com abordagem diferente, Luana 
Cruz aborda a complexa relação entre patrimônio arquitetônico, cultura e 
desenvolvimento econômico. Por fim, William Seba Mallmann Bittar analisa, 
utilizando de referenciais da antropologia e do urbanismo, o ato do sepultar e a 
produção de cemitérios na sociedade contemporânea. 
Márcio Moraes Valença
Organizador
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Carla Monteiro de Souza
Professora do Departamento de História da Universidade Federal de Roraima (UFRR); 
doutora em História pela PUCRS.
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo examinar o papel do 
migrante gaúcho na ocupação humana do estado Roraima, 
focalizando processos de inserção social, estratégias de adaptação 
à realidade roraimense e de (re)territorialização.
Palavras-chave: migrantes; (re)territorialização; inserção social.
Abstract
The aim of this study is to characterize the role of the Gaucho 
settlement in the occupation of the Roraima State, focusing on 
social insertion processes, adaptation strategies to the local reality 
and geographic relocation.
Keywords: migrants; geographic relocation; social insertion.
MIGRAÇÃO E MEMÓRIA: 
(re)territorialização e inserção social entre 
gaúchos residentes em Roraima
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pa
pe
rs
105-120n. 33 2008 p. 
Ao olharmos um mapa do Brasil, é fácil constatarmos a sua dimensão 
continental. Essa característica espetacular remete à questão da diversidade - de 
paisagens, de climas e, logicamente, de pessoas. Pessoas e grupos muito 
diferentes entre si habitam diferentes lugares, ocupam, vivem e sentem de forma 
diferenciada essa grande extensão.
Mas, ao olharmos o mapa, é possível também pensarmos na forma como 
essas pessoas estão espalhadas por esse imenso território. É possível ampliar 
essa percepção quando incorporamos dados e informações quantitativas. Nota-
se, contudo, que informações censitárias, numéricas e estatísticas sobre a 
distribuição populacional vigente no Brasil, se tomadas de forma absoluta, afobada 
ou superficial, podem levar a conclusões falseadas ou, pior ainda, deterministas. 
Essa, com certeza, é a faceta traiçoeira dos números.
Não obstante, são os mapas e os números que permitem afirmar que a 
população brasileira está espalhada de forma desigual e descontínua, fato que 
define outro aspecto incontestável da realidade nacional: as diferenças regionais. 
Se, à leitura dos mapas e números forem agregadas outras leituras, um pouco mais 
satisfeitos, constataremos a possibilidade de lançar-se um olhar mais fecundo 
sobre o imenso Brasil – menos parcial, mais crítico, mais plural.
A realidade em torno de nós ganha novas cores e novos significados se, 
além de todos os recursos mencionados, tivermos a possibilidade de andar um 
pouco pelo Brasil, de conversar com outras pessoas, de conhecer lugares, de 
morar em lugares distantes e diferentes daquele em que nascemos e fomos 
criados. Sem exagero, um mundo novo de formas e significados se apresenta e 
estes, processados, podem engendrar questões instigantes e apaixonantes.
Nesse contexto, o objetivo deste artigo é apresentar alguns aspectos da 
migração de gaúchos para o estado de Roraima nas últimas três décadas, 
particularizando as categorias cotidiano, saudade, família e lugar na compreensão 
do processo de inserção social e (re)territorialização. Buscando formas diversas de 
constituição de fontes e de abordagens, e a par da riqueza dos movimentos 
migratórios internos ocorridos a partir dos anos de 1940 e intensificados nos anos 
de 1960-1970, o recorte foi profundamente influenciado pela natureza desse 
deslocamento, ocorrido entre os extremos geográficos do país.
1Este texto é parte de um estudo realizado entre os anos de 1995 e 2004 , 
que teve como ponto de partida as seguintes perguntas: O que fez com que 
indivíduos e famílias deixassem sua terra natal, o meio físico e social no qual foram 
formados e estavam inseridos, para se lançarem em uma terra e uma situação em 
muitos sentidos desconhecidas? Como foi esse percurso migratório? Como vivem 
na terra de adoção e como sentem a sua terra natal?
A consciência de que a questão das migrações esteve durante muito 
tempo condicionada por abordagens economicistas e deterministas, a 
complexidade que reveste essas perguntas, aponta para as fecundas 
possibilidades oferecidas pela história oral. Junto a isso, a constatação da carência 
de literatura e de fontes tradicionais sobre o tema transformou a oralidade em 
principal ferramenta metodológica na constituição das fontes. 
O lugar da oralidade e da memória
Parte expressiva da pesquisa citada acima foi realizada através das 
2memórias narradas de gaúchos migrantes . Cabe aqui, portanto, um parêntese a 
fim de que se tenha a justa medida do papel fundamental que a história oral 
desempenhou nesta investigação. 
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Muito já se disse sobre a história oral, e não nos cabe repetir. Deve-se 
ressaltar, no entanto, que a sua faceta mais interessante reside no fato de que sua 
utilização introduz na abordagem elementos inusitados e a possibilidade de se 
acessarem novas e insuspeitas dimensões do objeto. Portelli (2000, p.67) resume 
muito bem isso quando diz que se deve tratar a “memória não apenas como o lugar 
onde se 'recorda' a história, mas memória como história”.
Nesse sentido, foi através da narração das experiências guardadas na 
memória dos migrantes entrevistados que tivemos acesso a visões particulares e 
individuais, ao mesmo tempo impregnadas de elementos sociais, culturais, 
ideológicos. Nelas estão expostas as “dores” e as “delícias” de viver em outro 
lugar, de reestruturar relações humanas, espaciais e temporais, processo 
sabidamente difícil e complexo. Através delas, o intrincado processo de 
(re)espacialização e (re)territorialização ganhou cores vivas, possibilitando a 
exposição do seu caráter fundamental, isto é, de ser basicamente humano.
Ao contar o que viveu e vive, o migrante gaúcho requisitou a memória e 
os instrumentos narrativos necessários e desejáveis para ser o mais fidedigno 
possível, buscando atender a si mesmo e ao ouvinte. De modo geral, existe uma 
objetividade presumida no seu texto, aquela permitida pelas astúcias da memória 
e da fala, fato que em muitos momentos instigou incursões teóricas mais criativas 
e aprofundadas.
Ao produzir uma narrativa sobre a sua vida, o migrante é, a um só tempo, 
um produtor e um decodificador de narrativas, começando pelas suas próprias. 
Afinal, como afirma José Luiz Jobim (2003, p.149-150), toda narrativa “pertence a 
uma cultura, inscreve-se em uma história social, insere-se em um sistema de 
 convenções”. Entender e produzir uma narrativa envolve essencialmente o 
desenvolvimento de uma habilidade que possibilite a manipulação de códigos, 
valores, crenças, normas, algunsaté pouco familiares. Para narrar o que viveu e 
vive, é necessário dominar certos “quadros de referência” (Halbwachs, 1990), e o 
migrante recorre principalmente àqueles relacionados ao lugar de origem e ao de 
adoção. Narrar é ato que implica um repertório de capacidades profundamente 
alicerçadas em referências sociais, espaciais e territoriais.
Contar uma história acerca do passado, a partir daquilo que se considera 
ser seu começo, suas origens e elementos constituintes, pressupõe certos 
fundamentos que, ainda que intencionalmente colocados no passado, articulam-
se com o presente, justificando aquela mensagem que se deseja transmitir e 
dando-lhe consistência. Articula-se também com o meio, pois narrar é sempre ir 
além da suposta individualidade do autor e do ouvinte, “é fazer uso da herança 
cultural em que se enraíza a própria exitência da narrativa, como uma forma 
possível de dar sentido ao real” (Jobim, 2003, p.149-150). Ao narrar a sua 
experiência migratória e a sua vivência como “estrangeiro”, o migrante se 
movimenta em um tempo próprio, entre o passado e o presente, e entre espaços 
mais ou menos definidos: o “de lá” e o “daqui”.
Para os narradores, os “quadros de referências” a que recorrem guardam 
sentida distância, não só do ponto de vista geográfico mas também do 
sociocultural. Separam esses dois pontos extremos do país diferenças de ordem 
fisiográfica, climática e ambiental. Essas diferenças, somadas às diferenças nas 
suas formações sócio-históricas e culturais, são percebidas de forma muito 
peculiar pelo migrante, produzindo um acento especial nas suas narrativas, que 
ressalta a distância, o longo percurso, a grandiosidade do empreendimento.
Junto a essa percepção, digamos, subjetiva, os estudos sobre as 
migrações internas no Brasil tradicionalmente se alicerçam na análise das 
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desigualdades entre as regiões, aqui personificadas no Rio Grande do Sul e em 
Roraima. As motivações de ordem econômica são as primeiras a serem arroladas, 
deixando-se pouco espaço para as facetas inerentes à subjetividade, ao fato único, 
traduzidas principalmente na escolha entre migrar e ficar, já que as situações de 
exclusão ou de expulsão são, via de regra, englobantes. No entanto não é possível 
abordar uma migração sem caracterizar sua origem e seu destino.
RS e RR: origem e destino
O estudo da migração de gaúchos para Roraima, realizado nos últimos 
anos, comprovou que, além das motivações para migrar, devem-se buscar elucidar 
outras tantas características desse processo, tais como os recursos materiais, o 
nível de escolaridade, de conhecimentos técnicos, as peculiaridades da bagagem 
cultural dos migrantes, despertando o interesse também pelos processos e 
estratégias de inserção e de recolocação social e individual.
Por outro lado, o estudo mostrou também que há uma relação dialética 
entre as duas áreas enfocadas, uma situação de complementaridade e de 
interação, que extrapola as caracterizações bem demarcadas acerca das 
chamadas áreas de “expulsão” e de “atração”. Constante em muitos estudos sobre 
migrações, acreditamos que essa caracterização não dá conta da complexidade 
intrínseca aos processos migratórios, já que, antes de tudo, o movimento “de ir” 
decorre de uma decisão individual, apesar de constatada a existência de variadas 
pressões decorrentes de situações-limite.
Na necessária contextualização histórica da migração de gaúchos para 
Roraima, alguns elementos de ordem econômica, política e social foram definidos. 
Ganhou relevo o processo de modernização das relações de produção e de 
integração aos novos parâmetros econômicos nacionais que, a partir dos anos de 
1950-1960, configurou simultânea e complementarmente uma potencial situação 
de “expulsão” no Sul e de “atração” no Norte.
O exame desse processo e de seus efeitos em nível social e econômico 
no Rio Grande do Sul e em Roraima permitiu a construção de um “cenário”, que 
tornou possível entender as várias facetas dessa migração. Permitiu também 
visualizar, para cada uma das duas áreas, temporalidades diferentes, porém 
contemporâneas.
Contudo cabe destacar como efeitos comuns do processo de 
modernização nas duas regiões a progressiva valorização da terra e a mudança 
nas possibilidades de absorção da força de trabalho. Enquanto no Rio Grande do 
Sul se afunilavam as possibilidades de absorção de mão-de-obra, em Roraima 
operava-se a expansão da fronteira agrícola. Esse processo produziu também 
alterações demográficas: no RS, se intensificava a migração para fora do estado; 
em RR, se observava um crescimento populacional espetacular, decorrente da 
entrada de população migrante procedente das mais variadas regiões brasileiras.
3No Rio Grande do Sul , observou-se que a perda de população foi mais 
sentida no interior do estado, onde o processo de modernização gerou basicamente 
duas situações: a expropriação dos pequenos e médios proprietário, através da 
concentração fundiária, e a subordinação destes ao capital, através da apropriação 
da renda da terra. No processo de avanço das relações capitalistas no Rio Grande 
do Sul, as possibilidades de geração de renda e aproveitamento da força de 
trabalho bem como de manutenção e reprodução de um modo de vida alicerçado no 
trabalho familiar ficaram cada vez mais difíceis: a sobrevivência norteada e mediada 
por laços tradicionais e afetivos se tornava cada dia menos viável.
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Uma das saídas para essa situação foi a busca de oportunidades em 
outras regiões. Junto a isso, há que se considerar também a própria dinâmica 
social gaúcha, tendo em vista que o deslocamento do indivíduo ou da família – 
primeiramente migrando para áreas virgens dentro do estado e depois para fora 
dele – é estratégia recorrente na história do Rio Grande do Sul. A migração, para os 
gaúchos, portanto, expressaria não só a procura de realização econômica, mas 
também de realização pessoal e cultural. A adoção dessa estratégia demonstraria 
o intento de recriar as condições de sobrevivência em outro espaço. Sinalizaria, 
também, a existência de toda uma carga cultural expressa através do apego a um 
modo de vida, que deve ser preservado em detrimento das relações impostas pelos 
novos padrões socioeconômicos.
Cabe destacar que, em termos socioculturais, os gaúchos constituem um 
dos grupos regionais mais bem definidos no conjunto da sociedade brasileira. Sua 
identidade regional, bastante bem demarcada e introjetada no imaginário nacional, 
está alicerçada em imagens e representações construídas a partir de elementos 
vinculados a um processo histórico de longa duração (Oliven, 1992). No âmbito 
desta pesquisa, apontamos que a identidade regional sulina é constiuída 
historicamente a partir da interação de duas vertentes básicas – uma pecuarista-
luso-brasileira e outra colonial-imigrante, chamadas aqui respectivamente de 
“pampa” e de “serra” –, que caracterizam na atualidade os gaúchos como um todo e 
os migrantes em especial.
A filiação regional, traduzida na configuração de elementos que 
conformam um perfil, relacionado à definição de certas características físicas, de 
personalidade e de caráter, a comportamentos, práticas individuais e sociais, está 
alicerçada na hegemonia imagética do “pampa” e no chamado “amálgama étnico”, 
ligado à imigração européia (Kaiser, 1999). Essa imagem que o gaúcho tem de si, 
que é mais do que uma definição pessoal e personalística, que o antecede aonde 
quer que vá, é que define, em boa parte, o seu processo de apropriação e de 
recolocação em um outro lugar. É essa bagagem cultural muito bem definida 
externamente ao estado e profundamente introjetada pelos naturais do Rio Grande 
do Sul que medeia cotidianamente a sua presença em Roraima, espaço 
considerado tão distinto e estranho.
A distância geográfica, por si só, já é eloqüente.O estado de Roraima, 
criado em outubro de 1988, localiza-se no extremo norte da fronteira nacional e 
ainda é uma das áreas mais desconhecidas do território nacional. É dotado de 
grandes riquezas naturais: minerais – ouro, diamante, cassiterita –, grandes fontes 
de água potável e uma biodiversidade distribuída entre as áreas de floresta, de 
campos naturais (lavrados) e de serras. No seu território habitam cerca de sete 
grupos indígenas, em diferentes estágios de relacionamento com a sociedade 
envolvente, incluindo os internacionalmente famosos Yanomami.
4Apesar de sua ocupação humana remontar às primeiras décadas do 
século XVIII, a região permaneceu despovoada até meados do século XX, quando 
foi criado o Território Federal do Rio Branco (1943), renomeado de “Roraima” em 
1962. A partir daí, ações no sentido do povoamento e do incremento econômico 
começaram a se tornar mais freqüentes, obtendo resultados realmente 
expressivos somente a partir dos anos 1970.
No contexto amazônico, Roraima pode ser definida como uma das áreas 
secundarizadas no processo de ocupação recente. Até a década de 1940, era uma 
área de povoamento rarefeito e desigualmente distribuído. Sua economia, 
incipiente e frágil, estava assentada na atividade pecuária, no extrativismo vegetal 
e mineral (garimpos). Em termos fundiários, predominavam as áreas indígenas, 
oficiais ou não, as terras devolutas e o latifúndio pecuarista.
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A criação do território federal enseja as primeiras iniciativas objetivando 
incrementar o povoamento da região. A exemplo do restante da Amazônia, 
pretendia-se implementar uma colonização de pequenos proprietários, direcionada 
à produção de gêneros alimentícios. Essas experiências, na maioria das vezes 
descontinuadas, só começam a lograr êxitos significativos no final da década de 
1970, início de 1980, quando o isolamento em que vivia a região começou a ser 
atacado, com a abertura da BR 174 (rodovia Manaus-Boa Vista-fronteira 
venezuelana) e da BR 210 (Perimetral Norte). Inscrita no processo de 
modernização da Amazônia, a implantação desses eixos rodoviários, por um lado, 
incentivou a vinda de migrantes – principalmente da região Nordeste, mas também 
de outras áreas do país –, mas, por outro, não foi capaz de incrementar e diversificar 
as suas atividades produtivas.
É também nesse período mais recente que se inicia a implantação de 
programas de assentamento de pequenos proprietários, visando conter a posse 
ilegal e ocupar amplas áreas de floresta, já que as áreas de campo (lavrados) 
tradicionalmente estavam reservadas à pecuária. Ao longo da década de 1980, a 
grande quantidade de terras livres ou consideradas livres, como as terras devolutas 
e as indígenas, ganham destaque através da ação decisiva de lideranças políticas 
locais, que passam a atuar no sentido de carrear recursos federais para a região, 
com vistas também à transformação desta em estado. Intensificam-se os fluxos 
migratórios para Roraima, com caráter marcadamente espontâneo.
Pode-se dizer que, nos anos 1980, ocorre uma verdadeira corrida para 
Roraima, ocasionada basicamente pelos estímulos à ocupação das terras e pelos 
inúmeros garimpos de ouro surgidos na área yanomami. No obstante o declínio dos 
números e taxas excepcionais registrados no período,e o seu progressivo declínio, 
Roraima segue atraindo significativos contingentes migratórios até os dias de hoje.
As migrações, portanto, desempenham papel fundamental na 
constituição socioeconômica de Roraima. O movimento de entrada de migrantes é 
constante, variando para mais nos momentos de surto econômico, como, por 
exemplo, o do garimpo de ouro mencionado acima. Além disso, as práticas 
políticas de caráter assistencialista e clientelístico difundiram a idéia enganosa de 
que as coisas em Roraima estão mais disponíveis e podem ser mais fáceis.
A atuação do poder público nas ações de ocupação sempre foi decisiva, 
tanto na esfera federal como na local. Apesar de não haver uma pressão 
expressiva exercida por qualquer tipo de movimento organizado nos moldes do 
MST, verifica-se que, na atualidade, projetos de assentamento continuam sendo 
criados e instalados. Uma das justificativas recorrentes para a sua implantação é a 
necessidade de absorção da população migrante que chega ao estado 
diariamente. A distribuição ou o financiamento facilitado de lotes é uma prática 
comum em todo o estado de Roraima. Na área rural, abrem-se novas frentes de 
ocupação; na área urbana, primordialmente em Boa Vista, criam-se novos bairros 
ou conjuntos habitacionais. Cabe dizer que, apesar de o fato de a disponibilidade 
presumida de terras constituir-se em principal atrativo, a maioria expressiva dos 
habitantes vive na capital – cerca de 65% da população, segundo o IBGE.
Não obstante, é bom que se diga que o estado não está livre dos conflitos 
em torno da terra. Os principais conflitos e contendas fundiárias continuam os 
mesmos do início do século XX, ou seja, aqueles ligados à posse das terras 
indígenas, como o recente e rumoroso processo de homologação da Terra 
Indígena Raposa/Serra do Sol.
A procedência dos migrantes que acorrem a Roraima é a mais variada: 
segundo o IBGE, predominam os nordestinos e os nortistas. A forma de entrada no 
estado, assim como o caminho percorrido, os meios utilizados e as motivações 
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desses grupos vinculam-se fundamentalmente à situação de total exclusão na área 
de origem. A caracterização dos movimentos migratórios procedentes de outras 
regiões brasileiras é mais complexo, na medida em que se apresentam situações 
variadas e peculiares em relação à área de origem.
Infere-se, então, que Roriama é uma sociedade em formação. O seu 
processo de ocupação humana está em franco desenrolar e é profundamente 
influenciado pelo movimento dinâmico e incessante decorrente das migrações. 
Isso faz com que as espacialidades e as territorialidades também estejam em 
constante movimento, ainda que se constate a prevalência de algumas influências 
culturais relacionadas aos grupos que podem ser chamados de pioneiros – de 
origem essencialmente nordestina – e nativos – representados pelas várias etnias 
indígenas que ancestralmente habitam a região. O senso comum e, 
provavelmente, a preocupação mais recente – notadamente após a transformação 
em estado – de definir uma cultura regional roraimense ajudam a compor um 
quadro em que a hegemonia nordestina e o apagamento da contribuição indígena 
são componentes incontestáveis, ainda que os últimos se constituam na parcela 
mais organizada e mobilizada do movimento social local.
Não obstante, ainda que muitos afirmem que Roraima é um estado 
“nordestinizado” (Freitas, 1998), acreditamos que as características da formação e 
ocupação socioeconômica da região e a importância das migrações 
historicamente configuram inúmeras brechas, utilizadas por diferentes grupos 
vindos “de fora” em seus processos de territorialização e de recolocação social. 
Entendido como derradeira frente de expansão da fronteira, Roraima é o espaço no 
qual indígenas, garimpeiros, aventureiros, militares, empresários, colonos e 
migrantes vindos de várias regiões brasileiras interagem, convivem e buscam 
oportunidade e realizações.
Gaúchos em Roraima: uma caracterização necessária
Durante muito tempo, os argumentos fundamentados no plano 
econômico foram os predominantes nas explicações acerca do que Kaiser (1999) 
chama “diáspora gaúcha”, ou seja, do intenso movimento de saída do Rio Grande 
do Sul e espraiamento dos gaúchos pelas mais diversas partes do país, 
destacando-se aqui a Amazônia. Contudo trabalhos como o de Tavares dos 
Santos, Haesbaert e Kaiser abriram perspectivas para uma abordagem mais 
aprofundada e criativa do assunto, que aponta para a multiplicidade e a pluralidade 
de fatores e elementos e paraa multivocalidade dos sujeitos.
Alguns dados coletados junto ao IBGE e ao Centro de Estudos 
Migratórios podem ser bem ilustrativos da chamada “diáspora”: em 1980, o Rio 
Grande do Sul tinha cerca de 11% de sua população vivendo em outros estados; 
em 1985, os gaúchos representavam cerca de 1% da população migrante 
estabelecida em Rondônia; em 1970, representavam 0,3% da população residente 
em Roraima, passando a 0,7% em 1991 (Souza, 1997).
Em quase dez anos de pesquisas, foi possível delinear uma espécie de 
perfil para o gaúcho que migrou. No geral, ele é oriundo de áreas do interior, tanto 
rurais quanto urbanas, mais especificamente das áreas centro-norte do Rio 
Grande do Sul. Chamadas genericamente de áreas coloniais, nas últimas décadas 
do século XIX e primeiras do XX essas áreas receberam grandes contingentes de 
imigrantes não-lusitanos. Em função do tipo de ocupação humana e econômica 
historicamente empreendida, essas áreas têm como característica o grande 
número de pequenas e médias propriedades e uma tradição muito bem 
sedimentada em torno da organização familiar da produção.
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O movimento de saída do Rio Grande Sul tem como marco os anos de 
1940. Indo em direção a Santa Catarina e ao Paraná, muitos descendentes de 
colonos, principalmente alemães e italianos, buscavam alternativa para a 
escassez e o alto preço das terras. Como nos primeiros tempos, os que partem 
do Rio Grande do Sul são, geralmente: chefes de família preocupados com o 
futuro dos filhos; novos chefes de família buscando reproduzir o seu modo de 
vida tradicional; agricultores ambicionando uma propriedade maior; 
trabalhadores buscando melhores condições de produção e meios de trabalho 
mais modernos. Aderindo a programas e projetos de colonização, são também 
meeiros, arrendatários, posseiros que ambicionam ser donos da terra e do 
produto dela; profissionais recém-formados, buscando oportunidades, 
5independência e segurança .
Esses elementos, reunidos às entrevistas realizadas em Roraima, 
permitiram o esboço de um perfil dos migrantes gaúchos, possibilitando uma 
caracterização englobante do gaúcho que migra para Roraima: ele quer 
oportunidades profissionais; quer largar o trabalho manual e de baixo nível 
tecnológico; ele não é um “despossuído”, ou seja, chega com alguns recursos – 
materiais, intelectuais e profissionais –, tem perspectivas e/ou planos; ele age por 
conta própria, não se registrando a ação de empresas, cooperativas ou a ação 
direta de agentes públicos, o que possibilita caracterizar essa migração como 
basicamente espontânea; ele é portador de uma “bagagem cultural” muito bem 
constiuída, que o distingue e o antecede.
Como em outros casos, aqui também muitos desses migrantes 
articularam-se em redes de informação sobre as oportunidades profissionais e a 
disponibilidade de terras. Essas informações possibilitaram a constituição de 
impressões e de representações positivas acerca de Roraima, o que levou muitos a 
considerarem a região como o novo El Dorado.
Nas narrativas orais, o migrante gaúcho “conta” a sua vida e o seu 
percurso migratório. Fala sempre sobre quem é, por que lugares passou, que 
lugares ocupa no espaço, a que temporalidade se vincula. Fala de tempos longos e 
curtos, do geral e do particular, do familiar e do estranho, do eu e do outro, da 
origem e do destino.
Nas suas falas, as referências espaciais e sociais ao lugar de origem e ao 
lugar de adoção se cruzam a todo momento, mostrando que o processo de 
inserção social do migrante envolve não só o investimento no domínio do meio 
físico e social que se apresenta, mas, como afirma Zilá Mesquita (1995, p.83), 
envolve “conhecer de novo, mapear-se a si mesmo”, a partir de uma variedade de 
“impulsos (raízes)” e de “estímulos (antenas)”. Através das narrativas orais, 
percebe-se que esse é um processo dinâmico e relacional, no qual o indivíduo 
busca explicar-se coerentemente, busca dizer “quem é” naquele tempo e naquele 
espaço que adotou como seu.
Isso implica que o espaço seja concebido de uma forma bastante 
amplificada, fugindo bastante das tradicionais concepções sobre “origem” e 
“destino”. Milton Santos (1997, p.71) lança luz sobre a questão intrincada da 
caracterização de espaço, quando diz que o espaço “é o resultado da soma e da 
síntese, sempre refeita, da paisagem com a sociedade através da espacialidade”, 
que é um momento da inserção social. O espaço é um dado do processo social, é a 
sociedade encaixada na paisagem; é, a um só tempo, vida e materialidade (Santos, 
1997, p.71). O espaço contém movimento e é a realidade material a partir da qual 
se manifesta toda ação, intencional ou não, do sujeito. O espaço fornece elementos 
e marcadores concretos, fundamentais na (re)construção de representações, de 
relações e de práticas a partir das quais se estrutura a vida cotidiana do migrante.
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Com freqüência, a noção de espaço se confunde com a de território. 
Pode-se dizer que, antes, uma liga-se à outra. Zilá Mesquita (1995) afirma que o 
território é gerado a partir do espaço, como resultado de uma ação orientada por 
um programa e conduzida por um sujeito. Territorializar seria, então, o processo de 
apropriação, concreta ou abstrata, de um espaço por um sujeito. Com propriedade, 
a autora lembra as analogias de Rasffetin que explicam o espaço como “a prisão 
original” e o território como “a prisão que os homens se dão” (Mesquita, 1995, p.82). 
Em se tratando de migrantes, pode-se dizer que espaço e território são concebidos 
como categorias ao mesmo tempo condicionantes dos processos de inserção 
social e de apropriação espaço-territorial e condicionadas por eles.
Nesse campo, Busto Cara (1995) afirma que o território pode ser 
concebido como uma apropriação social, objetiva e multidimensional do espaço, e 
a territorialidade como a subjetivação do processo vivida pelo grupo social ou pelo 
indivíduo. É através da territorialidade que indivíduos e grupos tomam consciência 
de seu espaço de vida (Cara, 1995, p.67), com base em imagens, representações e 
projetos. A territorialidade, por um lado, sofre influência condicionante e definidora 
do global; por outro, do local e do cotidiano.
O território, portanto, é o que está mais próximo possível de nós. O 
espaço tem significação social e individual e se estende até onde vai a 
territorialidade, entendida como projeção da identidade sobre o território 
(Mesquita, 1995, p.83). Espaço e território se condicionam e se transformam 
mutuamente mediante a ação dos sujeitos.
Na abordagem de uma situação de migração, essa relação complexa 
entre o espaço e o território adquire importância capital, pois é ela que permite ao 
indivíduo encontrar-se no mundo. Viver em um outro lugar, apropriar-se concreta e 
simbolicamente de um outro espaço, vincula-se à experiência individual vivida no 
coletivo. (Re)territorializar, como forma de apropriação, implica recorrer a uma 
memória reflexiva, vinculada ao vivenciado, e a uma memória projetiva, ligada as 
aspirações, projetos e programas (Cara, 1995, p.68).
Em uma situação de migração, ocorre uma ruptura de uma territorialidade 
estabelecida, o que conduz o indivíduo a uma tomada de consciência, a direcionar 
pensamentos e ações no sentido de (re)conhecer-se, individual e coletivamente 
(Mesquita, 1995, p.85). Esse processo de apropriação e de recolocação social e 
espacial se constrói cotidianamente de forma dinâmica e relacional, situando o 
indivíduo e dando-lhe a capacidade de sentir e dizer “quem é” naquele espaço e 
naquele tempo. O cotidiano é importante elemento não só na busca de sentido de 
pertencimento e de identidade, mas na necessidade de construção constante de 
nossos espaços de referência. Na complexidade da memória narrada do migrante, 
o cotidiano situa-se em um tempo e um espaço próprios,onde o ontem e o hoje, o 
aqui e o lá se entrecruzam e se complementam na busca de inteligibilidade.
Cotidiano, saudade, família e lugar
Pode-se dizer que o cotidiano é “como um ponto de partida, como a 
experiência básica elementar e permanente que alimenta a geração de nossas 
representações, produtor de sociabilidades e de indentidade de base” (Cara, 1995, 
p.71). É a globalidade mas é também o local, na porção de espaço ocupada e 
vivenciada em que se engendram permanências e transformações. 
O cotidiano é, ao mesmo tempo, o interior perceptivo e a informação 
externa. Permeado por diferentes “raízes' e “antenas”, pode ser diferente para cada 
indivíduo – portanto diferenciado segundo o sexo, a idade, classe social, etnia, 
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filiação regional – ou, ao contrário, o mesmo para todos. Pode-se dizer que significa 
o permanente diferenciado no tempo e no espaço.
A noção de cotidiano vincula-se ao local, ao ponto de onde o sistema de 
relações se faz visível, nas relações mínimas de sustento da cotidianeidade, como, 
por exemplo, a família. Essas relações elementares e a tomada de consciência de 
uma temporalidade e espacialidade básica são a trama, o continente, a substância 
que dá sentido à cotidianidade. Território e cotidiano são os pontos de referência, o 
lugar a partir do qual nos inserimos, os pontos que permitem receber e aportar, que 
permitem definições (Cara, 1995, p.71-72).
Uma migração e seus desdobramentos envolvem a recomposição dos 
pontos de referência. Requerem que a trama relacional que articula indivíduo(s) e 
espaço(s) seja recomposta e recolocada em termos da cotidianidade e da 
territorialidade. Através de uma série de ações e práticas, no nível do concreto e do 
abstrato, o indivíduo que migra recompõe o seu cotidiano, reconstruindo a cada dia 
as relações com aquele novo espaço que não é o seu, mas que, por escolha ou 
contingência, a ele deve integrar-se. Esse processo se reveste de uma 
temporalidade muito particular: envolve o passado – a bagagem sociocultural do 
indivíduo, assim como sentimentos, saudades, carências e perdas; o presente – o 
imediato que impele o indivíduo a agir e lhe fornece informações e estímulos; e o 
futuro – os objetivos, os desejos e as aspirações que suscitaram o deslocamento e 
todo o processo em si, e que vão ganhando novo sentido a cada dia.
O estabelecimento de uma outra relação espaço-territorial, se, por um 
lado, contém uma faceta generalizadora, que pode sugerir um certo nivelamento de 
práticas e de estratégias bem como de certos padrões de comportamento diante do 
novo, do estranho, do desconhecido, por outro é extremamente particularizada e 
individuada. Cada indivíduo reage a esse processo à sua maneira, ainda que, em 
algumas situações, possam ser observados comportamentos, atribuições de 
sentido e constituição de representações bastante homogeneizadas. A construção 
de uma outra territorialidade é mediação entre uma situação que está dada, um “vir-
a-ser” – que, muitas vezes, existe mais no sonho que na realidade – e por algo que 
foi, mas que ainda está muito vívido e nítido em tudo que o indivíduo é e faz.
Acreditamos que, na migração de gaúchos para Roraima, a individuação 
desempenha papel muito importante, não só pela constatação de que não existe 
6uma comunidade solidamente constituída – elemento que facilita a geração e a 
disseminação de idéias e práticas mais homogeneizadas – mas, e principalmente, 
pela forma como foram estruturadas as narrativas abordadas. Nelas se destaca o 
que está mais próximo, o contíguo, ou seja, a família e as experiências relacionadas 
aos contatos e ao desempenho individual, como aquelas ligadas ao trabalho. 
Excetuando-se o CTG Nova Querência – situado em Boa Vista –, não há referências 
concretas a formação e instituição de grupos ou associações que denotem qualquer 
forma de organização que ultrapasse o informal. O principal núcleo de sociabilidade 
é a família nuclear ou estendida e as relações sociais no geral, como as de 
vizinhança e os contatos decorrentes das atividades profissionais.
Nesse sentido, não se pode dizer que os gaúchos entrevistados são 
pessoas com vivência restrita e restritiva. Talvez influenciados pelo tempo em que 
estão em Roraima – em média 20 anos –, quando falam de si prórios e de suas 
famílias, demonstram que a integração foi e é uma conquista cotidiana. Deixam 
transparecer que integrar-se e viver bem em Roraima e continuar sendo “quem se 
é” são coisas que não se excluem, antes se completam. O que se observou nas 
narrativas é que há uma preocupação de explicar esse fato, de lhe conferir valor 
positivo, de caracterizá-lo como um desafio diário.
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Na incorporação do passado gaúcho ao presente roraimense, algumas 
manifestações podem ser consideradas como simples nostalgia, outras não. Como 
afirmam Feldman-Bianco e Huse (s/d, p.26-27), a saudade é algo palpável: 
compõe-se de múltiplas camadas de tempo e espaço, que superpõem significados 
e valores culturais que estão, muitas vezes, em conflito. A saudade é a 
representação dinâmica da forma como os migrantes percebem, confrontam e 
expressam as mudanças em suas vidas.
Na construção de uma nova terriorialidade, alguns comportamentos, 
hábitos e práticas são, de certa forma, ritualizados no cotidiano. Assim, os “rituais” 
cotidianos e domésticos narrados pelos gaúchos não só apontam para a nostalgia da 
terra natal, mas demonstram um desejo consciente de valorizar e reafirmar as suas 
referências culturais frente aos estímulos e informações recebidos em seu presente.
É interessante destacar que, em quase todas as falas, foi mencionada de 
forma expressiva a manutenção de hábitos alimentares, tanto no cotidiano quanto 
em momentos especiais e comemorações. Observa-se que as referências a 
determinados pratos são recorrentes: é o carreteiro, o churrasco, a galinhada, a 
polenta, as massas. Eles explicam que o cardápio diário em suas casa é bem 
“típico”, afirmando que isso diz muito sobre a sua origem.
Como em outros grupos que buscam uma nova territorialização, os 
costumes, notadamente os hábitos alimentares, são importantes referenciais 
identitários. Acreditamos que a manutenção de certos itens no cardápio diário 
demonstra a preocupação – inconsciente, por certo – de preservar as memórias do 
lugar de origem naquilo que elas têm de mais básico e necessário. Torna-se, assim, 
referência direta e cotidiana aquilo que não pode ser esquecido, aquilo que deve 
ser confirmado no âmbito familiar ou extensivo, aquilo sem o que não é possível 
viver. Observa-se que, face à exigüidade de outras manifestações regionalistas e 
folclóricas, excetuando-se a Semana Farroupilha, que é comemorada no CTG 
Nova Querência, em Boa Vista, esses rituais domésticos adquirem função 
importante como marcadores no jogo relacional estabelecido entre os gaúchos e a 
sociedade roraimense, no qual é preciso ceder e confirmar diuturnamente.
Acreditamos que a fundação do CTG Nova Querência também se 
encaixa nesse contexto de saudade. Buscaria satisfazer necessidades básicas, 
“naturais”, como dizem alguns narradores, em um duplo aspecto. Por um lado, a 
sua criação se relacionaria à carência e à nostalgia das coisas da terra, intentando 
reconstituir parcialmente o lugar de origem, resgatando um sentido de lar, do que é 
familiar ou, como diz um dos narradores, do “torrão”, da “querência”. O ambiente do 
CTG, ainda que não fizesse parte do cotidiano de alguns dos entrevistados no 
passado sulino, adquiriu um novo significado no presente roraimense, pois é 
emblema, síntese regionalista e cultural que deve ser cultuada e vivida como 
condição mesma da existência ou, ainda, do ser gaúcho. Mesmo que não seja 
freqüentado e vivido cotidianamente, o CTG está lá, integra a paisagem, demarca 
espacialmente, colocando sempreà mão a possibilidade de resgatar algo do lugar 
de origem, cumprindo, portanto, importante função instrumental no processo de 
(re)territorialização.
Podemos dizer, ainda, que a criação do CTG, na primeira metade da 
década de 1980, significa também a expressão de um sentimento de afirmação 
como grupo social regionalmente identificado, levando-se em conta que nesse 
período os fluxos migratórios para Roraima se intensificavam. Além de congregar 
os gaúchos, que, naquele momento, experimentavam um sentido acréscimo 
numérico, lhes dava visibilidade social, na medida em que outros grupos regionais 
também cresciam.
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Como explicam Feldman-Bianco e Huse (s/d), a saudade é parte 
constitutiva do “eu” ou da pessoa. É experiência localizada entre as memórias do 
passado e o desejo do futuro, estando associada às camadas de tempo e espaço 
anteriores ao deslocamento, ou seja, ao que chamam ”saudade da terra” 
(Feldman-Bianco e Huse, s/d, p.27). Essa “saudade da terra”, em maior ou menor 
grau, povoa o cotidiano do migrante e faz parte da memória constitutiva na 
reconstrução da identidade no nível do “eu” ou da pessoa.
Essa nostalgia do lugar de origem adquire várias formas e pode ser 
representada pelas mais diversas imagens, fundamentadas no cotidiano anterior 
ao deslocamento. Observamos que as saudades relatadas pelos gaúchos dizem 
muito sobre a decisão de migrar, buscando justificar e explicar, para si mesmos e 
para o ouvinte, o afastamento da família e o apartamento do lugar de origem.
O círculo familiar é colocado como o grande pilar que alicerça e dá sentido 
ao que cada um é. Através do reforço positivo – o apoio e o incentivo da família, por 
exemplo – ou negativo – quando são relatados incompreensões e rompimentos –, 
o abandono do círculo familiar foi e ainda é um “divisor de águas” na vida desses 
indivíduos. As menções ao lugar de origem relacionam-se ao que se pode chamar 
de costumes, a toda uma gama de práticas que territorializam e identificam, e a 
aspectos mais objetivos, como o clima e a paisagem na qual o indivíduo se 
reconhece e se insere.
Essas imagens, associadas à família e ao lugar, dizem respeito à 
saudade da terra, localizada em um tempo atemporal da infância ou da juventude. 
Em algumas das narrativas, o expediente de utilizar o passado, “os bons tempos de 
outrora”, como elemento para lidar com o presente é bem consciente. Em outras, é 
utilizado para falar das conquistas do presente, que são associadas à vivência dos 
costumes regionais no seio da família lá no sul. Verificamos que essas lembranças 
do passado podem caminhar em dois sentidos no processo memória/narração. Por 
um lado, diante da situação de estar em um outro lugar, se re-significam no 
presente, inserindo-se em uma idéia de vida como continuidade e totalidade. Por 
outro, as lembranças insistem em contrastar com o presente, expressando 
rupturas, descontinuidades, traduzidas em perdas e na retroalimentação da 
saudade, influindo positiva ou negativamente na constituição da nova 
territorialidade.
Vale ressaltar que, no geral, a narração das lembranças da família e do 
lugar tem um tom prazeroso, pontuado de expressões que denotam carinho, 
apreço, apego, carência e, por vezes, humor. Nas narrativas, a infância e a 
juventude junto à família são contadas com riqueza de detalhes pelos narradores. 
Nota-se que o movimento constante que associa passado e presente vem, 
algumas vezes, acompanhado de comentários sobre as incertezas inerentes à 
distância. Não poder vivenciar o cotidiano familiar não angustia mais, no entanto 
episódios excepcionais, ligados a doenças, ao envelhecimento e à morte dos entes 
queridos, a situações aflitivas que podem acontecer lá ou aqui, são colocados 
como preocupações constantes.
Pode-se dizer que a “saudade da terra”, personificada na família e no 
lugar de origem, romanticamente engendra significado para as vidas marcadas por 
mudanças abruptas. Em uma migração, representa uma estratégia para resistir à 
imersão total em uma outra realidade, em um outro espaço. Fornece as base para a 
reconstrução do eu, propiciando a constituição de uma nova territorialidade, de 
uma outra articulação entre o indivíduo e o espaço, entre o eu e o outro.
A “saudade da terra”, a rememoração de um outro tempo, ao lado de 
outras pessoas e em um outro lugar, medeia também a narrativa do futuro. Tanto o 
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futuro contido no momento da migração, que hoje é presente vivido e re-
significado, quanto o futuro contido no presente vivido no ato da entrevista. Assim 
as lembranças do lugar de origem se projetam também para além do presente e do 
vivido, engendrando planos e expectativas para o futuro.
Nas narrativas dos gaúchos, a fronteira, no caso Roraima, é considerada 
como o lugar portador de oportunidades. Antes da migração era uma promessa 
para o futuro, uma realidade ainda não vivenciada mas muito desejada. No 
momento em que se efetiva a narração, esses indivíduos, que já estão há algum 
tempo em Roraima, tentam reinventar a utopia vivida cotidianamente, através da 
narração de sucessos, de conquistas, de obstáculos que foram superados.
Carlos Rodrigues Brandão (s/d, p.65), inspirado em Guimarães Rosa, diz 
que o indivíduo, ao recorrer às suas lembranças, busca ”sobretudo, o fio invisível, 
que deveria tudo unir e dar sentido a tudo que se reconhece que foi vivido e agora 
se memoriza“. Rememorar, mais que construir uma autobiografia, é a busca, pelo 
narrador, de sentido para si e para os outros. É a busca, pela pessoa, de uma 
identidade intelegível, plausível e coerente, que seja capaz de dar sentido ao real 
vivido no plano individual e social. É utilizada para explicar e justificar 
comportamentos, práticas e idéias, para identificá-lo e situá-lo no espaço.
Considerações finais
Em suma, com a breve configuração histórica dos dois espaços, Roraima 
e Rio Grande do Sul, buscamos dar forma a uma abordagem centrada no indivíduo, 
inscrita no cotidiano, norteada pelas visões desse indivíduo e explicitada em suas 
narrativas. Dando voz aos migrantes gaúchos, ampliamos a percepção da realidade 
e os registros que dela se fazem, ampliando também, portanto, as possibilidades de 
fazer história.
Os dois espaços enfocados, ainda que integrantes da mesma entidade 
nacional, guardam expressivas diferenças entre si, aqui brevemente evidenciadas. 
A escolha é um importante componente desse processo migratório, e o gaúcho que 
se dirige a Roraima, antes de acreditar nas virtuais possibilidades oferecidas, 
acredita no seu potencial e na sua capacidade de articular-se com sucesso em um 
outro lugar. Ele se considera um indivíduo dotado de instrumental cultural 
diferenciado, o que lhe proporcionaria certas vantagens, no plano individual e social.
A articulação em torno da família – baseada em princípios, tradições, 
práticas e relações afetivas, disciplinares e de autoridade – é importante elemento 
na composição dessa bagagem cultural autoconcebida e auto-explicativa. A 
família, nuclear ou estendida, configurada por relações consangüíneas e/ou de 
afinidade, é o espaço primeiro de construção e de afirmação da nova 
territorialidade que precisa tomar corpo em Roraima. Nos relatos, fica claro que 
recompor cotidianamente essa situação de “estar junto dos seus” é estratégia 
essencial de inserção. Ao re-significar e atualizar a “saudade da terra” no âmbito 
doméstico e no tempo indefinido do cotidiano, o migrante adapta aqueles 
elementos tão caros que enformam a sua identidade, no plano individual e social, e 
dá-lhes novo sentido.
Então, pode-se inferir que a luta pela apropriação de espaços coletivos 
não é o mais importante. Acreditamos que, a exemplo de outros grupos migrantes, 
os gaúchos também concebem Roraima como um ambiente cultural fluido, aberto 
a novas influências, noqual não se coloca a necessidade imperiosa da constituição 
de nichos sociais de expressão e de poder. E isso fica claro nas palavras de uma 
das gaúchas entrevistadas quando diz que Roraima é um estado feito por 
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brasileiros, ou seja, onde acredita haver “espaço” para todos os que chegam, onde 
a “mesclagem” pode ser e é o recurso mais eficiente para o bem viver e na 
constituição de um regionalismo roraimense.
É, portanto, na manutenção do espaço de referência privado, traduzido 
na tentativa de reproduzir o cotidiano familiar e doméstico atual, e também adaptá-
lo àquele anterior a migração, que está o cerne do entendimento da presença 
gaúcha em Roraima. É no cotidiano vivido no privado que se processam as 
apropriações, as mediações e as sínteses necessárias ao bom andamento da vida 
em um outro lugar. Situadas na temporalidade fluida e complexa da memória e da 
narrativa, é na casa do gaúcho em Roraima, no lar e na família que se dão as 
manifestações mais expressivas de seu pertencimento regional.
As outras instâncias nas quais o gaúcho se move em Roraima – trabalho, 
vida social, relações de vizinhança –, segundo as suas próprias visões e palavras, 
requerem mais “jogo de cintura”. A abertura e a flexibilidade em relação à 
sociedade de adoção são amplamente aprovadas pelos narradores e encaradas 
como algo “saudável”, prática inerente e necessária quando se está em um lugar 
que não é o seu. Considerando-se indivíduos dotados de uma carga cultural muito 
consistente, eles entendem que essa flexibilidade não se constitui em elemento 
suficientemente forte a ponto de descaracterizá-los. Ainda que boa parte dos 
narradores afirme que hoje esse processo seja vivenciado de maneira quase 
“natural”, e que em certos aspectos seja agradável e estimulante, eles expõem com 
bastante nitidez seu caráter instrumental, isto é, como estratégia importante para a 
concretização de seus objetivos e anseios, necessária e fundamental ao processo 
de deitar raízes no lugar que escolheram para viver.
NOTAS
1 As pesquisas desenvolvidas nesse período estão registradas na dissertação intitulada Do Chuí ao 
Oiapoque: migrações de gaúchos para Roraima e em na tese História, memória e migração: processos de 
territorialização e estratégias de inserção entre migrantes gaúchos radicados em Roraima (Souza, 1997 e 
2004, respectivamente) Ver também o livro Gaúchos em Roraima (Souza, 2001).
2 Foram realizadas 14 entrevistas, com indivíduos que residiam em Roraima havia mais de dez anos, com o 
objetivo central de abordar as suas trajetórias migrantes. Em 1996, foram realizadas sete entrevistas, com 
quatro homens e três mulheres, em três municípios de Roraima, Boa Vista, Alto Alegre e São João da Baliza. 
Em 2001, foram realizadas outras sete, todas em Boa Vista, capital do estado de Roraima, com cinco homens 
e duas mulheres, todos descendentes de italianos. Em ambos os períodos, realizou-se entrevista aberta, 
com duração média de duas horas. Essa coletânea de narrativas é abordada de forma mais detida no item 
Cotidiano, saudade, família e lugar.
3 A respeito disso, ver Fee (1990); Haesbaert (1997); Tavares dos Santos (1993) e Tedesco (1999).
4 Sobre a ocupação humana de Roraima, ver Barbosa (1993); Barros (1995) e Vale (2005).
5 A leitura de Haesbaert (1997); Kaiser (1999); Tavares dos Santos (1993); Oliven (1992) e Tedesco (1999) 
permitiram o esboço desse perfil.
6 Nesse sentido, buscamos Constantino (1991), quando define comunidade como o grupo social que detém 
algumas características específicas, tais como um projeto comum, laços ideológicos, estabilidade e normas 
de coexistência. Os indivíduos unem-se também através de laços afetivos, por necessidade ou por 
conveniência. Buscam legitimação e afirmação através de princípios ideológicos, recorrendo a elementos 
como origem comum e tradições que diferenciem, valorizem e dêem credibilidade. Em muitos casos – como 
no de grupos étnicos –, se utilizam de símbolos, organizam entidades e associações e/ou demarcam o 
espaço em que estão estabelecidos, identificando-o de forma inequívoca (Constantino, 1991, p.42-46).
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