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UM ENSAIO SOBRE AS CAUSAS E CARACTERÍSTICAS DA MIGRAÇÃO

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UFMG/ CEDEPLAR/ Demografia – Avaliação de CDD (Componentes da Dinâmica Demográfica) 
Prof.: Eduardo L. G. Rios-Neto 
 
1
 
 
 
 
UM ENSAIO SOBRE AS CAUSAS E CARACTERÍSTICAS DA MIGRAÇÃO 
 
Jerônimo Oliveira Muniz 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
Em poucas palavras, o termo migração pode ser entendido como o movimento e a 
realocação de pessoas de uma região para outra. Entretanto, mais importante do que 
compreender o conceito é entender a forma pela qual se dá o processo migratório. O 
entendimento da distribuição e da movimentação da população entre regiões é fundamental 
para se desenhar políticas que possibilitem um melhor aproveitamento do espaço, assim como 
a homogeneização econômica e social entre as regiões. Neste sentido, a caracterização dos 
grupos mais propensos a migrar, assim como a identificação dos chamados fatores de 
expulsão (push factors) e atração (pul factors) são de fundamental importância para se traçar 
políticas que visem a equalização salarial e a igualdade regional em todas as suas formas. 
O presente ensaio não tem a pretensão de apontar soluções para a desigualdade regional 
tão evidente no nosso País, mas sim expor as principais teorias e abordagens comumente 
empregadas para se caracterizar e explicar os movimentos migratórios. A primeira abordagem 
concebe a migração do ponto de vista do indivíduo, e pode ser chamada de abordagem micro. 
A segunda, trata a migração como condicionada a fatores histórico-estruturais e lida com os 
movimentos migratórios sob a perspectiva dos grupos sociais. Esta abordagem pode ser 
chamada de macro. Por fim, a terceira abordagem trata as famílias ou domicílios como os 
agentes do processo decisório de migração. Na verdade, este último caso pode ser visto como 
uma extensão da abordagem micro, já que a única diferença está no fato dos indivíduos serem 
considerados em um nível mais agregado de análise, no qual os agentes passam a ser os 
domicílios. 
O ensaio está organizado da seguinte forma: a primeira seção discorre sobre as 
chamadas “leis” de migração, através das quais tenta-se apontar as principais tendências e 
pontos comuns aos movimentos migratórios de forma geral. A segunda seção apresenta as 
principais teorias de migração e está subdividida de acordo com os três tipos de abordagem 
brevemente comentados acima, ou seja, dividi-se em aspectos micro, macro e segundo a 
perspectiva familiar (ou domiciliar) de decisão. A terceira seção revisa quatro textos que 
discutem a distribuição populacional e o processo migratório brasileiro, tentando relacioná-los 
com as teorias previamente expostas na segunda parte. Por fim, a quarta seção conclui o 
ensaio tentando extrair alguns resultados e pontos comuns apresentados pelas teorias e pela 
literatura brasileira. 
 
UFMG/ CEDEPLAR/ Demografia – Avaliação de CDD (Componentes da Dinâmica Demográfica) 
Prof.: Eduardo L. G. Rios-Neto 
 
2
 
1. “LEIS” DE MIGRAÇÃO 
Um dos primeiros autores a formalizar uma teoria para explicar e caracterizar os 
movimentos migratórios foi RAVENSTEIN1 em 1885. Em seu estudo sobre as migrações 
internas na Grã-Bretanha o autor enumera um série de “leis empíricas da migração”2 para 
generalizar o processo de deslocamento populacional, levando em conta variáveis como 
distância, tecnologia, sexo, condição econômica e outras. 
De acordo com a “lei da distância”, por exemplo, a maioria dos migrantes, sobretudo as 
mulheres, tenderiam a realizar movimentos de curta distância, enquanto os movimentos de 
longa distância, representados em sua maioria por homens, se dariam apenas para as grandes 
cidades. Argumenta-se que grandes distância estariam associadas com custos maiores, tanto 
de ordem material e busca de informação (o que aumenta a incerteza em relação ao local de 
origem), quanto de ordem psíquica e de adaptação (novo habitat, novo emprego, etc.) 
A migração por etapas seria uma alternativa de se reduzir os custos associados às 
viagens de trechos mais longos. Para Ravenstein, antes de alcançarem as grandes cidades, as 
pessoas, normalmente originadas de áreas rurais, passavam por cidades de pequeno e médio 
porte, caraterizando assim a chamada migração por estágios ou em cadeia. 
Ravenstein também coloca que com o desenvolvimento de novas tecnologias, e 
consequentemente de novas formas de transporte, o deslocamento entre as regiões foi 
facilitado, aumentando assim o número de migrantes e possibilitando em alguns casos o 
“salto” de um ou outro estágio de migração, representado pela passagem nas pequenas e 
médias cidades. 
Além disso, o autor também reflete sobre a existência de “correntes e contracorrentes” 
migratórias. Segundo ele, os fluxos migratórios seriam caracterizados pela existência 
movimentos populacionais de ida e vinda, ou seja, para toda grupo de migrantes que se 
deslocasse em determinada direção (corrente) deveria existir um movimento na direção 
contrária e de menor intensidade (contracorrente), que poderia ser representado pelo grupo 
dos chamados migrantes de retorno. 
Apesar de apontar a melhoria nos transportes, a distância, o sexo e outros fatores como 
determinantes para o processo migratório, estes últimos funcionavam apenas como 
catalisadores, pois Ravenstein reconhecia o motivo econômico como a principal causa 
desencadeadora dos fluxos migratórios. 
Tendo-se em vista o contexto da revolução industrial no qual Ravenstein elaborou suas 
“leis”, é possível dizer que a simples possibilidade de se conseguir melhores salários nas 
regiões urbano-indústriais já bastaria para motivar a migração do campo para as cidades. 
Além disso, se por um lado as “leis de migração” se aplicam razoavelmente bem aos 
movimentos do campo à cidade de numerosos países em processo de industrialização, por 
outro lado também é possível se pensar na motivação econômica como uma causadora do 
fluxo inverso, isto é, como uma causadora das contracorrentes migratórias originadas da 
cidade para o campo. 
 
 
1 RAVENSTEIN, E. G. (1885). As leis da migração. Traduzido de RAVENSTEIN, E. G. The laws of migration. 
Journal of the statistical society, 47(1): 167-227. In: MOURA, H. A. (org.). Migração interna, textos 
selecionados: teorias e modelos de análise. Tomo 1: 19-88. Fortaleza: BNB, 1980. 
2 No contexto de análise do autor, o termo “leis de migração” não deve ser levado ao pé da letra, como se 
comportamentos migratórios individuais e de grupos ocorressem independentemente do contexto e das 
diferenças pessoais que possam ocorrer. Ao invés disso, suas “leis empíricas” devem ser interpretadas como 
fatos, características e atitudes observadas pelo autor na maior parte dos movimentos migratórios por ele 
estudados, e que levam em conta o contexto e a época particular em que foram analisados, ou seja, a Revolução 
Industrial. 
UFMG/ CEDEPLAR/ Demografia – Avaliação de CDD (Componentes da Dinâmica Demográfica) 
Prof.: Eduardo L. G. Rios-Neto 
 
3
2. TEORIAS DE MIGRAÇÃO 
A literatura costuma levantar duas abordagens para explicar os movimentos migratórios: 
uma delas baseia-se em modelos neoclássicos de escolha individual; e a outra utiliza uma 
abordagem chamada de histórico-estrutural. Na primeira, a decisão de migrar ou não é 
concebida sob um ponto de vista micro, principalmente através da análise e da ponderação 
dos custos e benefícios esperados pelo indivíduo racional nos locais de origem e destino. 
Na segunda, o processo migratório é visto como uma decorrência da conjuntura 
econômica, social e política vigente. Para esta vertente de autores, os movimentos migratórios 
são determinados dentro de uma esfera histórico-estrutural ampla, capaz de suplantar os 
interesses individuais dentro do processo de decisão. Em outras palavras, considerar o 
contexto econômico e social no qual estão inseridos os migrantes potenciais é maisimportante 
para se analisar as causas do deslocamento populacional do que a simples análise de custos e 
benefícios, sugerida pela abordagem micro. 
Por fim, uma terceira abordagem tenta agregar as teorias neoclássica (micro) e histórico 
estrutural (macro) sob uma perspectiva domiciliar (ou familiar). 
Em seguida, cada uma das teorias expostas acima serão estudadas distintamente e um 
pouco mais a fundo, visando uma maior elucidação e compreensão do debate sobre as 
possíveis causas dos movimentos migratórios. 
 
2.1. MODELOS MIGRATÓRIOS MICRO 
Os modelos neoclássicos de decisão sobre migração, em sua maioria, levam em conta 
uma estrutura de custos e benefícios que são contabilizados sob o ponto de vista do indivíduo 
e, em alguns casos, sob o ponto de vista da família. Em um contexto micro, os investimentos 
em educação, treinamento e migração, normalmente são vistos como investimentos em capital 
humano, e visam sobretudo a ascensão social e a melhoria das condições de vida. 
O modelo de custo/benefício descrito por MASSEY (1990)3 baseia-se numa equação de 
retorno temporal esperado do ponto de vista individual, onde são levados em conta os custos 
decorrentes da migração e os ganhos esperados na região de origem e de destino, ambos 
ponderados pela renda esperada e pela probabilidade de ser empregado em cada uma das 
regiões envolvidas no processo de decisão. Sempre que o retorno esperado for positivo, o 
indivíduo irá optar pela migração, já que os benefícios esperados no local de destino seriam 
maiores do que na região de origem. 
Sob a ótica do indivíduo, tanto os custos quanto os benefícios assumem um alto grau de 
subjetividade, ou seja, o peso dado aos custos e benefícios irá depender quase que 
exclusivamente da racionalidade do agente. Os custos podem ser representados pelas 
amenidades do local de destino, pelo preço do transporte, pelas perdas psíquicas resultantes 
do afastamento dos familiares ou amigos, pelo custo de oportunidade envolvido no processo 
de mudança, pelo aumento do custo de vida, etc. Por outro lado, os benefícios podem ser na 
forma de incremento na satisfação pessoal no trabalho, aumento nos ganhos futuros, ganho 
em atividades não relacionadas ao mercado, melhoria da qualidade de vida e outros. 
Outro modelo semelhante de custos e benefícios é sugerido por MINCER (1978)4. A 
principal diferença do modelo de Mincer para o anterior consiste na distinção feita pelo autor 
entre as decisões individuais e familiares. Em seu modelo, Mincer diferencia os ganhos 
familiares dos ganhos pessoais, e argumenta que as famílias tendem a apresentar menor 
mobilidade do que os indivíduos, já que a decisão de migrar passa a depender de um número 
maior de pessoas. Passa-se portanto de uma decisão independente para uma interdependente. 
 
3 MASSEY, D. S. (1990) Social Structure, household strategies, and the cumulative causation of migration. 
Population Index 56 (1): 3-26. 
4 MINCER, Jacob. (1978). Family Migrations Decisions. Journal of Political Economy, 86: 749-773. 
UFMG/ CEDEPLAR/ Demografia – Avaliação de CDD (Componentes da Dinâmica Demográfica) 
Prof.: Eduardo L. G. Rios-Neto 
 
4
Tomando como referência um casal, por exemplo, pode-se argumentar que a decisão de 
migrar irá depender do resultado líquido originado da diferença entre o ganho do chefe (Gij1) 
e o ganho do cônjuge (Gij2). Crianças e demais agregados atuariam apenas de forma indireta 
no processo decisório. Mincer também levanta a possibilidade de poder haver um impasse na 
decisão de migrar caso os ganhos esperados pelos membros do domicílio não possuam o 
mesmo sinal. A tabela abaixo sintetiza esta discussão: 
 
Tabela 1: Resumo sobre a decisão de migrar a partir da decisão tomada por dois indivíduos 
Valor de 
Gij1 + Gij2 
Valor de 
Gij1 
Valor de 
Gij2 
migração Chefe de domicílio Cônjuge 
>0 >0 >0 ocorre Migrante Migrante 
>0 >0 <0 ocorre Migrante Migrante ligado 
>0 <0 >0 ocorre Migrante ligado Migrante 
<0 >0 <0 Não ocorre Não-migrante ligado Não-migrante 
<0 <0 >0 Não ocorre Não-migrante Não-migrante ligado 
<0 <0 <0 Não ocorre Não-migrante Não-migrante 
FONTE: MINCER (1978). In: GOLGHER(2001)5 
 
Sendo Gij1 + Gij2 o ganho líquido da migração, pela tabela acima se observa que podem 
haver quatro situações onde o impasse pode ocorrer: na segunda e terceira linhas ocorrerá a 
migração, mas um dos indivíduos terá o seu ganho esperado negativo, o que o qualifica como 
um migrante ligado (tied mover). O migrante ligado migra apenas porque o ganho total do 
casal supera a sua perda individual. Na quarta e quinta linhas, a migração não ocorre porque o 
ganho total do casal é negativo, apesar de para um dos indivíduos ela ser vantajosa. Nesse 
caso, o indivíduo que esperaria ganhos positivos da migração é qualificado como não 
migrante ligado (tied stayer). A partir deste modelo, MINCER (1978) explica porque solteiros 
são mais propensos a migrar do que casados, e porque a instabilidade do casamento pode estar 
relacionada com o poder de barganha intra-domiciliar. Numa situação onde o chefe o cônjuge 
trabalham, a decisão de migrar tende a ser mais complicada do que numa situação onde 
apenas um dos membros aufere salário. No primeiro caso a mobilidade do casal tende a ser 
menor do que na do segundo porque a relação de dependência, pelo menos monetária, não é 
tão forte quanto a que ocorre quando apenas um dos integrantes do domicílio trabalha. 
Alguns autores argumentam que a interação entre o casal geraria externalidades para 
ambos, e portanto a função de utilidade da família deveria ser acrescida dos ganhos 
decorrentes desta interação positiva. Em outras palavras, os ganhos de escala, a divisão dos 
custos e de tarefas, o apoio emocional, etc. ajudariam o casal a se adaptar ao local de destino. 
Por fim, numa tentativa de formalizar a questão sobre o tipo de região que atrairia 
pessoas mais qualificadas e aquelas que atrairiam indivíduos com baixa escolaridade, 
BORJAS (1996)6 conclui que áreas onde a taxa de retorno por capital humano é superior 
tendem a atrair pessoas com escolaridade mais elevada, enquanto áreas com taxas de retorno 
menores atrairiam pessoas de baixa qualificação. 
 
2.2. ABORDAGEM MACRO E HISTÓRICO-ESTRUTURAL DA MIGRAÇÃO 
De acordo com a abordagem histórico-estrutural proposta em modelos macro, a 
migração seria uma decorrência da desigualdade econômica entre as regiões. Segundo estes 
modelos, as áreas mais prósperas tenderiam a atrair os migrantes das regiões onde houvesse 
recessão econômica. Em outras palavras, a migração seria causada pelo diferencial de oferta e 
demanda existente no mercado de trabalho. A teoria clássica de equilíbrio do mercado de 
 
5 GOLGHER, André Braz. (2001) Os Determinantes da Migração e Diferenciais entre Migrantes e Não-
migrantes em Minas Gerais. Tese de doutorado, CEDEPLAR, UFMG. 
6 BORJAS, G. J. (1996). Labor Mobility. In: BORJAS, G. J. Labor Economics. McGraw-Hill. Cap. 9: 279-287. 
UFMG/ CEDEPLAR/ Demografia – Avaliação de CDD (Componentes da Dinâmica Demográfica) 
Prof.: Eduardo L. G. Rios-Neto 
 
5
trabalho coloca que regiões com escassez de mão-de-obra tenderiam a oferecer salários mais 
elevados, e portanto atrairiam migrantes. Por outro lado, as áreas com excesso de mão-de-
obra tenderiam a pagar salários mais baixos, graças a existência de um “exército industrial de 
reserva”. O equilíbrio salarial se daria na medida em que a migração fosse eqüalizando o 
contigente populacional ao número de vagas disponíveis no mercado de trabalho. A migração 
atuaria como uma maneira de aumentar os salários nas áreas que estivessem perdendo 
indivíduos, e de diminui-los nas que estivessem recebendo. Dessa forma, o processo 
migratório ocorreria até que os diferenciaissalariais se tornassem nulos ou insignificantes. 
Um dos primeiros modelos clássicos de migração foi proposto por LEWIS7 em 1954. O 
autor considera dois setores em seu modelo: um capitalista e outro de subsistência. No 
primeiro estariam incluídos os setores mais industrializados e urbanos da sociedade, e no 
segundo estariam o meio rural e as atividades agrárias. De acordo com os pressupostos do 
modelo, o setor agrícola possuiria excesso de mão-de-obra e pagaria um salário de 
subsistência igual a produtividade marginal do trabalho rural, enquanto o capitalista pagaria 
um salário fixo maior do que o salário agrícola para atrair a oferta ilimitada de mão-de-obra. 
A dinâmica migratória equilibrante do modelo ocorre na medida em que o estoque de 
trabalhadores do setor rural é diminuído por causa da modernização da sociedade e por causa 
da migração para os centros urbanos, o que faz com que a produtividade marginal do trabalho 
rural, e consequentemente os salários sejam também ampliados. Em outras palavras, com a 
escassez de mão-de-obra no campo haveria uma tendência de aumento dos salários agrícolas, 
que causaria a redução no diferencial entre os salários urbano e rural, provocando assim o 
equilíbrio entre as produtividades marginais nos dois setores e dando fim ao processo de 
ajuste via migração. 
Entretanto, apesar de parecer plausível para explicar a migração rural-urbana nos países 
em desenvolvimento, o modelo de Lewis não lida com o observável problema do desemprego 
urbano. Para propor uma alternativa ao modelo de Lewis, TODARO (1969)8 sugeriu a adoção 
de uma equação de retorno líquido esperado da migração que levasse em consideração não 
apenas os salários médios no meio urbano, mas também a probabilidade de se estar 
empregado nesse meio. De acordo com Todaro, se a taxa de desemprego no meio urbano 
fosse muito elevada, a diferença entre os salários urbano e rural não seria suficiente para 
incentivar a migração. 
Em abordagem semelhante, Todaro reformula seu modelo juntamente com Harris 
(HARRIS e TODARO, 1970)9 para agregar a ele a noção de que o equilíbrio inter-regional no 
mercado de trabalho seria subótimo. No ponto ótimo de produção todos os indivíduos 
estariam empregados e as produtividades marginais no meio urbano e rural seriam iguais. 
Entretanto, de acordo com o modelo, as produtividades marginais do campo e da cidade 
sempre seriam superiores às exigidas para se alcançar o equilíbrio, e portanto as 
produtividades marginais nunca se igualariam, provocando assim a existência constante de 
um contigente de trabalhadores desempregados. 
Sob o ponto de vista histórico-estrutural, vários autores dão um outro tipo de tratamento 
aos processos migratórios. Para SINGER (1973)10, por exemplo, as migrações seriam 
 
7 LEWIS, W. A. (1954) Economic development with unlimited supplies of labor. The Manchester School of 
Economic and Social Studies. 22: 139-91. 
8 TODARO, M. P. A model of labor migration and urban unemployment in less developed coutries. The 
american economic review. 59: 138-48. 
9 HARRIS, J. H. e TODARO, M. P. (1970). Migração, Desemprego e desenvolvimento: uma análise com dois 
setores. Traduzido de HARRIS, J. H. and TODARO, M. P. Migration, Unemployment and development: two-
sector analysis. The American Economic Review, 15: 126-142. In: MOURA, H. A. (org.) Migração Interna, 
textos selecionados: teorias e métodos de análise. Tomo 1: 173-209. Fortaleza: BNB, 1980. 
10 SINGER, P. I. (1975). Migrações Internas: considerações teóricas sobre o seu estudo. In: SINGER, P. I. 
Economia Política e Urbanização. Cap. 2: 29-60. São Paulo: Editora Brasiliense. 
UFMG/ CEDEPLAR/ Demografia – Avaliação de CDD (Componentes da Dinâmica Demográfica) 
Prof.: Eduardo L. G. Rios-Neto 
 
6
processos historicamente condicionados por características estruturais da industrialização. As 
mudanças demográficas, sociais e históricas, representadas sobretudo pelo crescimento 
populacional (decorrente da alta fecundidade), pela modernização e pela alteração das 
relações de produção seriam as principais responsáveis pela determinação da dinâmica 
migratória. Segundo o autor, haveriam dois tipos de fatores de expulsão (push) atuando sobre 
a região de origem: os de mudança e os de estagnação. Nos primeiros, a introdução das 
relações capitalistas englobando novas técnicas de produção causaria o aumento da 
produtividade local, provocando assim a redução do nível local de emprego, a migração para 
outras regiões e consequentemente a redução do tamanho absoluto da população. Já os fatores 
de estagnação seriam decorrentes da pressão populacional sobre os meios de produção 
agrícola. Neste caso, a migração seria uma decorrência do crescimento vegetativo não 
acompanhado pela ampliação do número de empregos no campo. 
SINGER (1973) também avalia a migração como um fenômeno estrutural e relacionado 
com a classe social (ou grupo) do migrante. Por ser um processo social, cuja unidade atuante 
não é o indivíduo mas o grupo, a hipótese básica levantada por Singer é que “(…) o fluxo 
determina os movimentos unitários e estes só podem ser compreendidos no quadro mais geral 
daquele.”11 Em outras palavras, principalmente por razões de cunho econômico, num primeiro 
momento determinadas classes seriam postas em movimento e, somente em um segundo 
momento, haveria uma seletividade dentro destes mesmos grupos. 
 
2.3. MODELOS DE DECISÃO INTRA-DOMICILIARES 
Todas as teorias discorridas até aqui são bastante úteis em estudos migratórios e 
agregam várias concepções distintas sobre as razões que levam indivíduos e grupos sociais a 
migrarem. Entretanto, os pressupostos adotados por estes modelos nem sempre são tão 
plausíveis. Em primeiro lugar, os migrantes não respondem mecanicamente a diferenciais de 
renda ou emprego; em segundo lugar, os indivíduos são heterogêneos quanto às suas 
preferências e motivações, agem em contextos diferenciados e nem sempre são capazes de 
elaborar e maximizar de forma ótima sua função de retorno esperado para medirem o 
benefício da migração. Além destes, há uma série de outros pressupostos que enfraquecem as 
teorias micro e macro abordadas até aqui. Apenas para exemplificar, é possível citar: ausência 
de assimetria de informação, comportamentos racionais, mercados perfeitos, quantificação 
monetária de amenidades, ausência ou contabilização do risco de migrar, e outros. 
Para vencer algumas destas limitações, alguns autores propõem a adoção do domicílio 
como unidade de análise numa tentativa de se integrar as abordagens individual e histórico-
estrutural. Um ponto essencial da abordagem domiciliar é que as decisões a respeito da 
migração não são tomadas por atores individuais, mas por grupos de pessoas – normalmente 
famílias ou domicílios – que agem coletivamente para maximizar a renda esperada, minimizar 
os riscos e superar dificuldades associadas às imperfeições do mercado. Tal como colocado 
por WOOD (1982)12, entre as possíveis estratégias adotadas pela unidade domiciliar como 
resposta aos choques econômicos pode-se destacar, como componente central, a mobilidade 
geográfica de um ou de todos os membros do domicílio. A distribuição dos membros do 
domicílio em atividades produtivas distintas pode ser uma boa estratégia para se diversificar o 
risco quando os ganhos em várias localidades não são correlacionados entre si. Além disso o 
domicílio também pode adotar uma série de medidas compensatórias para superar a crise, por 
exemplo: a intensificação da produção agrícola, alterar a divisão sexual do trabalho dentro do 
domicílio, pegar dinheiro emprestado, iniciar a produção de artesanatos, reduzir o consumo 
entre os membros do domicílio, etc. 
 
11 SINGER, P. I. (1975). op. cit., p. 54. 
12 WOOD, C. H. (1982) Equilibriumand historical-structural perspectives on migration. International 
Migration Review, 16 (2): 298-318. 
UFMG/ CEDEPLAR/ Demografia – Avaliação de CDD (Componentes da Dinâmica Demográfica) 
Prof.: Eduardo L. G. Rios-Neto 
 
7
O modelo de MINCER (1978)13 exposto na seção 2.1. também é aplicável para se 
estudar a decisão familiar de migração. A vantagem deste modelo é que ele pode ser utilizado 
tanto para um quanto para vários membros do domicílio, já que ele se baseia unicamente nos 
custos e benefícios esperados advindos da soma dos ganhos individuais de cada um dos 
membros do domicílio. Na verdade, este modelo pode ser visto como uma extensão do 
modelo micro individual. A diferença básica consiste em adotar as famílias como o padrão de 
referência micro ao invés do indivíduo. 
 
3. O CASO BRASILEIRO 
Em seguida serão discutidos e analisados alguns trabalhos sobre migração aplicados ao 
Brasil sob a luz das teorias e modelos migratórios expostos até aqui. Em cada caso, faz-se 
uma tentativa de relacionar os movimentos populacionais às características específicas de 
desenvolvimento e de mostrar as mudanças estruturais do processo, dadas as forças 
econômicas, políticas e sociais vigentes em cada um dos períodos de análise. 
Em um de seus trabalhos, LOPES (1973)14 concebe o desenvolvimento sob uma 
perspectiva histórico-estrutural e atribui ao mesmo a causalidade dos movimentos de 
população. Neste estudo, Lopes dá atenção especial às migrações no Nordeste e aponta, entre 
outros fatores, o declínio das taxas de mortalidade como responsável pela migração das áreas 
rurais para as urbanas. Segundo ele, o declínio da mortalidade ocorrido na década de 50 e 
início da de 60 teve o efeito de multiplicar a população gerando uma força de trabalho 
excedente com três destinos possíveis: “(a) migrar para os centros urbanos; (b) empregar-se 
como força de trabalho temporária nas plantações de grandes propriedades; e (c) migrar para a 
fronteira agrícola, onde as terras livres podem reproduzir a agricultura de subsistência.”15 
Neste caso, os fatores de estagnação sugeridos por Singer parecem se verificar na medida em 
que pressões migratórias são geradas pelo crescimento populacional gerando correntes de 
migrantes para outras localidades, em especial centros urbanos. 
VAINER e BRITO (2001)16 realizaram um estudo no qual tentam explicar a formação 
do Brasil contemporâneo fazendo uma análise do processo histórico ocorrido no país nos 
últimos 150 anos. Neste paper os autores assumem que a Abolição da Escravatura (1888) e a 
proclamação da República (1889) constituíram o marco inicial da história migratória recente 
da nação, e a partir destes dois pontos históricos discutem o desenvolvimento do capitalismo, 
a urbanização, a desigualdade do processo de distribuição populacional do território 
brasileiro, a intervenção do Estado em vários período e conjunturas para promover ou 
restringir a migração, a desigualdade no mercado de trabalho, e mais uma série de outros 
tópicos referentes aos processos e dinâmicas migratórias ocorridas no Brasil desde a Abolição 
da Escravatura. Fundamentalmente, VAINER e BRITO (2001) separam a historia migratória 
do País em três grandes períodos: 
i. “1888-1930: período de constituição do mercado de trabalho livre, caracterizado pela 
predominância da migração internacional; 
ii. 1930-1980: período caracterizado pelo processo de industrialização e pela ocupação da 
fronteira agrícola, sendo também dominado pela modernização e proletarização da 
população rural, propiciando a migração interna para as cidades, estabelecendo um 
processo explosivo de urbanização e contribuindo para a formação de um mercado 
nacional integrado de trabalho; 
 
13 MINCER, Jacob. (1978). Op. Cit. 
14 LOPES, J. R. B. (1973). Desenvolvimento e migrações: uma abordagem histórico-estrutural. Estudos 
CEBRAP, 6. São Paulo: Editora Brasiliense. 
15 LOPES, J. R. B. (1973). Op. cit. p. 137 
16 VAINER, C. B. e BRITO, F. Migration and Migrants Shaping Contemporary Brazil. Presented at the 
Special Session on Brazilian Demography at the 24th General Population Conference of the IUSSP, Salvador, 
Bahia, Brazil, September 18-24, 2001. (disponível em CD-ROM) 
UFMG/ CEDEPLAR/ Demografia – Avaliação de CDD (Componentes da Dinâmica Demográfica) 
Prof.: Eduardo L. G. Rios-Neto 
 
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iii. 1980 em diante: período marcado pela queda do crescimento econômico, pela saturação 
da capacidade de absorção do mercado de trabalho, pelo processo de circulação 
generalizada da população migrante, pela seletividade, marginalização e exclusão no 
mercado de trabalho e pela introdução da migração internacional.”17 
Em estudo recente, BRITO (2000)18 analisa a padrão migratório brasileiro a partir da 
segunda metade do século XX. Para analisar o processo histórico no qual as migrações 
internas ocorreram o autor faz uma análise da dinâmica econômica e social vigente no Brasil 
de 1940 até 1998. Tal como é feito por Singer (1973), Brito (2000) também considera a 
migração como um processo social, e por isso adota uma abordagem histórico-estrutural para 
estudar os processos migratórios. 
Em um primeiro momento, de 1940/60, Brito explica as migrações interestaduais 
através dos desequilíbrios regionais e sociais advindos do desenvolvimento do capitalismo no 
Brasil. Neste período, as trajetórias dominantes originavam-se principalmente de Minas 
Gerais e Nordeste, e tinham como destino os estados com maior crescimento urbano-
industrial (São Paulo e Rio de Janeiro), e as regiões de expansão da fronteira agrícola (Paraná 
e região Centro-Oeste). Em um segundo momento, 1960/80, os investimento públicos e a 
política econômica agravaram ainda mais as desigualdades regionais e reforçaram a tendência 
migratória rural-urbana que já vinha ocorrendo em anos anteriores. Além disso, as políticas 
públicas de transporte e telecomunicações provocaram maior integração entre as regiões e 
facilitaram as migrações internas na medida em que os custos impostos pela distância e pela 
assimetria de informação foram sendo reduzidos. 
 A partir da década de 80, o país ingressou numa grande crise de transição. A redução 
do crescimento econômico e a desconcentração espacial da atividade industrial ocorrida nos 
pólos de atração enfraqueceram os fluxos migratórios, advindos principalmente do Nordeste e 
de Minas Gerais. Entretanto, a inércia e a ilusão migratórias continuaram atuando e 
alimentando os centros urbanos com imigrantes que agora não eram mais absorvidos pelo 
mercado formal de trabalho, mas sim pela informalização. “Entre 1980 e 1995, o emprego 
industrial cresceu apenas 1,4% ao ano e o agrícola 0,8%. Já o emprego no setor terciário, o 
maior reduto da informalização, tece um acréscimo médio anual de 4,8%.”19 Por outro lado, a 
ampliação das telecomunicações e das redes de interação social passaram a atuar contra as 
correntes migratórias que se dirigiam aos grandes centros urbanos. Através destes dois meios, 
uma série de amenidades urbanas passaram a ser melhor percebidas por migrantes potenciais. 
A violência urbana, o desemprego, as dificuldades de acesso aos serviços públicos, etc. 
passaram a atuar como externalidades negativas e consequentemente a comprometer a ilusão 
migratória. 
No Brasil recente, de 1990 em diante, a predominância é da migração urbano-urbana, 
principalmente como decorrência da redução do estoque da população rural que foi 
responsável pela maior parte dos fluxos ocorridos no período 1960/80. Além da redução do 
fluxo migratório em direção aos grandes centros urbanos, outra tendência recente se refere a 
migração de retorno que vem ocorrendo para os considerados grandes reservatórios de força 
de trabalho, Minas Gerais e Nordeste. No caso de Minas Gerais, o aumento da capacidade de 
retenção migratória tem sido acompanhadopela sua capacidade de atração. Tal como 
colocado por Brito (2000), a migração para Minas Gerais não é só uma consequência do 
retorno daqueles que “fracassaram” em outros Estados, mas também uma decorrência da 
oportunidades geradas nas regiões de expansão agro-industrial, como o Triângulo e o Alto 
Paranaíba, a região Sul do Estado e as áreas metropolitanas. 
 
17 VAINER, C. B. e BRITO, F. (2001) op. cit. p. 4. 
18 BRITO, Fausto. (2000). Brasil, Final de século: a transição para um novo padrão migratório? Anais da ABEP 
2000, Caxambú. 
19 BRITO, Fausto. (2000). Op. cit., p. 25. 
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Por fim, o autor conclui que a dinâmica da economia e da sociedade no Brasil recente 
têm restringido as oportunidades de emprego, de criação de novas oportunidades ocupacionais 
e de acesso à terra, esvaziando o conteúdo social e cultural das trajetórias migratórias 
dominantes, restringindo ainda mais as oportunidades de mobilidade social no país. 
Em um paper apresentado recentemente na XXIV conferência geral da IUSSP, 
SAWYER e RIGOTTI (2001)20 analisam a migração e a distribuição populacional sob uma 
perspectiva rural, mas ao mesmo tempo buscando relações com o mundo urbano. Neste 
trabalho os autores fazem um apanhado quantitativo das tendências demográficas recentes e 
as combinam com uma interpretação histórica baseada parcialmente na abordagem “histórico-
estrutural”. Além disso, tentam adicionar aspectos econômicos (modernização da agricultura e 
o surgimento da marginalidade), sociais (extensão e ampliação dos benefícios de saúde e 
educação oferecidos pelo Estado aos moradores de áreas rurais) e culturais (incorporação da 
cultura urbana para se estudar os moradores das regiões rurais) da dinâmica da população 
rural numa tentativa de incorporar dimensões que poderiam ser perdidas se a análise fosse 
restrita à abordagem histórico-estrutural. 
Primeiramente, o estudo apresenta alguns comentários sobre os dados e os métodos 
utilizados para se estudar migração e a distribuição populacional brasileira. Em seguida ele 
analisa as tendências demográficas da área rural entre 1950 e 2000 através de uma abordagem 
histórico-estrutural, tece alguns comentários sobre a dinâmica da população rural, apresenta a 
situação e algumas possíveis previsões para os próximos cinqüenta anos. Por fim, o autor faz 
algumas recomendações e aponta alguns dos campos de estudo mais relevantes para a 
realização de políticas públicas e ação social. 
No caso da migração rural, SAWYER e RIGOTTI (2001) colocam que o que se observa 
nos últimos cinqüenta anos é uma tendência de esvaziamento do campo (tanto absoluto 
quanto relativo) que deve-se sobretudo ao êxodo rural. Juntamente com o diferencial regional 
de salários e a melhoria dos sistemas de transporte, a formação de economias de escala e de 
aglomeração no Sudeste também contribuíram para reforçar os fluxos migratórios advindos 
do Nordeste, Minas Gerais e de outras regiões do país. Segundo os autores, a migração rural-
urbana observada no Brasil de 1950 em diante se deu por etapas e foi conduzida tanto por 
fatores de expulsão quanto de estagnação, o que a torna compatível com uma das “leis” de 
Ravenstein (step-wise migration) e com a abordagem histórico-estrutural sugerida por Singer. 
Por outro lado, apesar da migração rural-urbana ser caracterizada por Singer como de 
expulsão, e não de atração, sob a ótica da teoria da modernização pode-se apontar alguns 
fatores que funcionam como atrativos dos fluxos do campo para as cidades. Nesta abordagem, 
apesar dos motivos individuais (como por exemplo a melhoria dos padrões de consumo) 
tenderem a prevalecer sobre as razões estruturais, algumas causas deveriam ser consideradas 
eminentemente estruturais, como por exemplo a busca por melhores condições de saúde e 
educação. 
Por outro lado deve-se colocar que, independentemente do modelo causal utilizado para 
se explicar os fluxos rurais-urbano, o que se tem observado a partir da década de 90 é uma 
inversão destes fluxos no qual as grandes metrópoles passaram a expulsar ao invés de atrair 
migrantes. Em São Paulo por exemplo, o processo de conurbação e os efeitos de 
transbordamento possibilitaram que o interior se beneficiasse de bens e serviços que antes 
eram produzidos apenas nos grandes centros. Além disso, os baixos níveis de violência e 
poluição, os baixos aluguéis e o custo de vida reduzido contribuíram para tornar o interior 
uma opção mais atrativa para se viver. 
 
 
20 SAWYER, D. & RIGOTTI, J. I. R. Migration and Spatial Distribution of Rural Population in Brazil, 
1950-2050. Presented at the Special Session on Brazilian Demography at the 24th General Population Conference 
of the IUSSP, Salvador, Bahia, Brazil, September 18-24, 2001. (disponível em CD-ROM) 
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4. CONCLUSÃO 
O debate em torno das razões que levam à migração normalmente se divide em fatores 
causais econômicos e não-econômicos. No caso da abordagem micro, os dois fatores podem 
ou não ser contabilizados pelo indivíduo durante a sua decisão de migrar, tudo irá depender da 
limitação da sua racionalidade tendo-se em vista que variáveis pessoais como sexo, idade, 
escolaridade, estado civil, aspirações, etc. mudam o modo pelo qual o indivíduo constrói a sua 
função utilidade e avalia o seu local de origem frente aos demais. Como corolário, os ganhos 
esperados nas regiões de origem e de destino que levam as pessoas a migrarem também 
tendem a variar dependendo das características pessoais do indivíduo tomador de decisões. 
No caso da abordagem macro estrutural, os fatores econômicos fundamentados nos 
diferenciais de emprego e salários inter-regionais tendem a prevalecer como motivação para 
se migrar. Na abordagem micro, apesar das razões não-econômicas serem mais percebidas 
pelo indivíduo que no caso da abordagem macro, os fatores econômicos também tendem a 
prevalecer. Seja pela insatisfação com os rendimentos, pela insatisfação com o trabalho 
realizado no local de origem, seja por causa do pressão gerada pelo desemprego, ou seja pela 
presença de ofertas mais atraentes de trabalho em outra localidade, os aspectos econômicos 
acabam prevalecendo sobre a decisão do migrante. 
A revisão da literatura internacional serviu para expor as principais teorias sobre 
migração, tanto no âmbito micro quanto na esfera macro. Por outro lado, os textos revisados 
pela literatura brasileira serviram para contextualizar algumas das teorias estudadas e dar uma 
visão do processo migratório brasileiro desde a Abolição da Escravatura. O estudo realizado 
por VAINER e BRITO (2001) é importante para se entender o processo de formação e 
distribuição populacional do Brasil contemporâneo sob o ponto de vista histórico. Os 
trabalhos de BRITO (2000) e SAWYER e RIGOTTI (2001) também adotam uma perspectiva 
histórico-estrutural para explicar os fluxos migratórios, mas fazem algumas referências 
pontuais a fatores causais micro que levam os indivíduos a migrarem. No primeiro trabalho, 
BRITO (2000) divide os últimos cinqüenta anos em três períodos e tenta justificar o processo 
migratório interestadual brasileiro abordando aspectos políticos e histórico-estruturais da 
economia ao mesmo tempo em que faz referência a fatores como seletividade e cultura 
migratória. No segundo trabalho, SAWYER e RIGOTTI (2001) estudam os movimentos 
migratórios e apontam algumas tendências dando ênfase especial a população rural. Estes 
autores, além de fazerem um background histórico da migração ocorrida nos últimos 
cinqüenta anos, também fazem referênciaa fatores econômicos, sociais e culturais para 
explicar alguma das razões que levam os indivíduos e os grupos sociais a migrarem. 
Em suma, todos os trabalhos aplicados ao caso brasileiro revisados neste ensaio 
apresentam a abordagem histórico-estrutural sugerida por Singer, mas ao mesmo tempo 
agregam discreta e implicitamente as teorias de Lewis e algumas das leis de migração de 
Ravenstein. A teoria de Lewis se apresenta no caso brasileiro através da migração movida 
pela desigualdade inter-regional e interestadual de salários e emprego; e as leis de Ravenstein 
são verificadas nos movimentos por etapas, facilitados pela melhoria das comunicações e dos 
transportes, e originados principalmente do campo para as cidades (principalmente até a 
década de 90). 
Finalmente, pode-se afirmar que o quadro teórico exposto serviu para reforçar a idéia da 
migração ser um comportamento altamente relacionado e condicionado ao sucesso ou à falha 
das iniciativas tomadas pelo indivíduo ou pelo domicílio que, por sua vez, interagem com o 
contexto social, econômico e político vigentes. Consequentemente, o estudo da migração 
necessita de teorias capazes de integrar estruturas sociais amplas com decisões individuais e 
domiciliares, conectando assim os dois níveis de análise - o micro e o macro – e relacionando 
causas e conseqüências ao longo do tempo e do espaço.

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