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Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 1 CURSO PREPARATÓRIO PARA OAB (DIREITO PENAL – 2ª FASE) PROF. RICARDO GALVÃO Contatos: E-‐mail – ricardojbgm@hotmail.com Facebook – www.facebook.com/galvao.ricardo Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 2 PROF. RICARDO GALVÃO DIREITO PENAL – PARTE GERAL 1. Princípios Penais e Constitucionais: 1.1. Princípios Penais: a. Princípio da Insignificância (tipicidade = tipicidade formal + tipicidade material); Requisitos para o princípio, segundo o STF: • mínima ofensividade da conduta; • nenhuma periculosidade social da ação; • reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento; • inexpressividade da lesão jurídica provocada. OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: curioso o tratamento dado pelo STJ/STF em relação aos delitos tributários, incluindo-‐se, aí, o delito de descaminho (art. 334, CPB). Tendo como foco o art. 20 da Lei nº 10.522/02, passaram as cortes de cúpula a entender que crimes fiscais, até o valor de R$ 10.000,00 (valor considerado irrelevante pela administração fazendária) não gerariam, por sua insignificância, infrações penais. Recentemente, o STF mudou seu posicionamento, ampliando a insignificância de tais delitos para o valor de até R$ 20.000,00, uma vez que a Portaria do Ministério da Fazenda de nº 75/2012, aumentou o parâmetro da já referida irrelevância para a administração tributária. O STJ, contudo, de forma bastante predominante, continua utilizando o parâmetro de R$ 10.000,00. Note-‐se que o aqui disposto se aplica apenas aos crimes tributários de natureza federal. b. Princípio da Individualização da Pena; c. Princípio da Proporcionalidade. Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 3 1.2. O Princípio da Legalidade: a) O princípio no ordenamento jurídico pátrio vigente: art. 5º, inciso XXXIX, da CF/88 e art. 1º do Código Penal Brasileiro. b) Corolários do Princípio da Legalidade (consequências do princípio na interpretação da lei penal) b.1. nullum crimen, nulla poena sine lege praevia; b.2. nullum crimen, nulla poena sine lege scripta; b.3. nullum crimen, nulla poena sine lege stricta; b.4. nullum crimen, nulla poena sine lege certa. Questão – XI Exame de Ordem (2013) O Ministério Público ofereceu denúncia contra Lucile, imputando-‐lhe a prática da conduta descrita no Art. 155, caput, do CP. Narrou a inicial acusatória que, no dia 18/10/2012, Lucile subtraiu, sem violência ou grave ameaça, de um grande estabelecimento comercial do ramo de venda de alimentos dois litros de leite e uma sacola de verduras, o que totalizou a quantia de R$10,00 (dez reais). Todas as exigências legais foram satisfeitas: a denúncia foi recebida, foi oferecida suspensão condicional do processo e foi apresentada resposta à acusação. O magistrado, entretanto, após convencer-‐se pelas razões invocadas na referida resposta à acusação, entende que a fato é atípico. Nesse sentido, tendo como base apenas as informações contidas no enunciado, responda, justificadamente, aos itens a seguir. A) O que o magistrado deve fazer? Indique o fundamento legal. B) Qual é o elemento ausente que justifica a alegada atipicidade? Utilize os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso. A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não pontua. Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 4 HORA DE APROFUNDAR! PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA: Desde o Direito Romano que os pretores (magistrados) não exerciam o seus poderes jurisdicionais em conflitos banais. Até hoje, a máxima latina que expressa o uso do princípio na Antiguidade ficou consagrada: de minus non curat praetor (de coisas pequenas não cuidam os pretores). Coube ao penalista alemão Claus Roxin, na década de 70, trazer para o Direito Penal a problemática da insignificância. O princípio da insignificância tem repercussão na estrutura do crime, afetando a própria tipicidade do fato (elemento do fato típico – primeiro elemento do crime). Quando o legislador protege determinado bem jurídico, tipificando conduta ofensiva a um valor essencial ao existir coletivo, pressupõe que a conduta proibida mereça a sanção cominada quando relevante (significativa) a ofensa ao bem em tutela. Para além de uma mera tipicidadeformal (adequação matemática da conduta praticada ao modelo de conduta proibida), o princípio exige ofensa relevante ao valor protegido (conceito de tipicidade material). A jurisprudência não tem admitido, de forma geral (há julgados em sentido contrário), a aplicação do princípio da insignificância em crimes contra a administração pública, crimes que envolvam violência ou grave ameaça à pessoa e crimes militares. Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 5 2. Aplicação da Lei Penal: 2.1. Lei Penal no Tempo: A) Considerações iniciais; B) Características da Lei Penal no Tempo (decorrência do art. 5º, inc. XXXIX e XL, da CF/88): • Irretroatividade da Lei Penal (observância da legalidade e anterioridade penais – art. 5º, inc. XXXIX, da CF); • Retroatividade da Lei mais Benigna (art. 2º, parágrafo único, do CPB); • Ultratividade da Lei mais Benigna. Leis excepcionais e temporárias (art. 3º do CPB – possuem ultratividade) B) Princípios Aplicáveis aos Conflitos de Leis Penais no Tempo: • “Abolitio Criminis” (art. 2º, caput, do CPB – art. 107, III, CPB); • “Novatio Legis Incriminadora”; • “Novatio Legis in Mellius” (art. 2º, parágrafo único, do CPB); • “Novatio Legis in Pejus”. C) Conceito de Tempo do Crime: -‐ Teorias: ATIVIDADE/RESULTADO/UBIQÜIDADE OU MISTA -‐ Art. 4º do CPB D) Pontos Importantes: -‐ Normas mistas; Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 6 -‐ Combinação de leis; -‐ S. 711/STF; -‐ Contagem dos prazos. 2.1. Aplicação da Lei Penal no Espaço: A) Lugar do Crime: -‐ Teorias: ATIVIDADE/RESULTADO/UBIQÜIDADE OU MISTA -‐ Art. 6º do CPB Art. 6º -‐ Considera-‐se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-‐se o resultado B) A Territorialidade (art. 5º do CPB): # Conceito * espaço terrestre (solo e subsolo); de Território: * rios e ilhas (oceânicas, fluviais e lacustres); * espaço marítimo (art. 1º da Lei n.º 8.617/93); * território nacional por extensão (art. 5º do CPB). Públicas ou privadas à serviço do governo: Privadas: Embarcações e aeronaves brasileiras: território brasileiro onde quer que se encontrem São territórios nacionais apenas se estiverem navegando/sobrevoando nosso espaço geográfico ou em alto-‐mar. Embarcações e aeronaves estrangeiras: Território estrangeiro, ainda que estejam navegando ou sobrevoando nosso espaço geográfico São territórios brasileiros se estiverem em nosso espaço geográfico, apenas. Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 7 C) A Extraterritorialidade (art. 7º do CPB): • Extraterritorialidade Condicionada • Extraterritorialidade Incondicionada D) A Sentença Penal Cumprida no Estrangeiro (art. 8º do CPB). Silvanete Dragão visitou a Holanda e lá realizou abortamento com a morte e expulsão do produto da concepção. No avião, já de volta para o Brasil, pediu socorro à tripulação da aeronave por conta de grave hemorragia que apresentava. Em terras brasileiras, foi socorrida por equipe médica que constatou ter sido a hemorragia uma consequência de manobras abortivas. Denunciada pelo Ministério Público por crime de aborto consentido (art. 124, CPB), você foi chamado para defendê-‐la. Qual a tese? 2.3. A Lei Penal em Relação às Pessoas: A) Considerações iniciais. B) Imunidades diplomáticas; C) Imunidades parlamentares (assegurada mesmo depois da E.C. n.º 35/2001): • Imunidade material (absoluta) – necessidade de um nexo funcional (crimes de opinião); • Imunidade processual (relativa): Abrangência: a) imunidade processual (CF, art. 53, §§ 3º, 4º e 5º); b) imunidade prisional (CF, art. 53, § 2º); c) foro especial por prerrogativa de função (CF, art. 53, § 1º); d) não obrigatoriedade de testemunhar (CF, art. 53, § 6º). Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 8 # Imunidades de deputados estaduais – art. 27, § 1º, da CF/88 (previsão expressa das imunidades, nos termos da Carta Maior de 88). # Imunidades de vereadores (art. 29, VIII, da CF/88 – apenas a imunidade material, limitada ao exercíciodas funções e nos limites da circunscrição municipal). João Alfredo, vereador na cidade de Toritama, cidade localizada no agreste pernambucano, em discurso de cunho político no teatro da localidade, acusou o Prefeito daquele Município de improbidade administrativa, acusando-‐lhe de ter causado prejuízo ao erário público em realização de obra desnecessária ao atendimento de interesses da coletividade e, ainda, superfaturada. O Prefeito da cidade, entendendo-‐se ofendido em sua honra, ofereceu queixa-‐crime contra o parlamentar municipal por crime de calúnia, alegando ter sido falsa a imputação de fato que configura crime, em abalo à sua honra objetiva. O que se poderia alegar em defesa do vereador-‐querelado na ação penal privada? 2.4. Concurso Aparente de Normas Penais (fundamento: vedação ao bis in idem): * princípio da especialidade (ex: art. 121 – 123); * princípio da subsidiariedade (exs: art. 146 – 147/ art. 171 – 307); * princípio da consunção/absorção (ex: art. 297 – 171); * princípio da alternatividade (ex: art. 122). HORA DE APROFUNDAR! 1. LEI PENAL NO TEMPO. CONCEITO DE TEMPO DO CRIME. RETROATIVIDADE. ULTRATIVIDADE: Um dos temas relevantes da teoria da lei penal diz respeito ao estudo do direito penal no tempo, ou seja, ao estudo das regras que procuram resolver os conflitos temporais neste setor da ordem jurídica. Por conta disso, o código penal procura, logo de início, conceituar o tempo do crime (art. 4º, CPB). É fundamental determinar, portanto, para saber Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 9 qual lei se aplicará à infração penal e para resolver outros conflitos, o tempo exato em que a infração foi cometida. Três teorias foram, para tal, criadas: a) teoria da atividade: tempo do crime seria o instante da prática da conduta (ação ou omissão), independentemente de quando o resultado se verificasse; b) teoria do resultado: tempo do crime seria o instante do seu resultado, independentemente do momento em que a conduta tivesse ocorrido; c) teoria da ubiquidade ou mista: tempo do crime deveria ser considerado tanto como o instante da atividade quanto do resultado (esta teoria apenas une os dois conceitos anteriores). O CPB, no art. 4º, considerou o tempo do crime como o da prática da ação ou omissão (conduta), independentemente do instante em que se deu o resultado (teoria da atividade, portanto). A lei penal tem a característica da irretroatividade, ou seja, seus efeitos não se estendem aos fatos praticados anteriormente ao início de sua vigência. No entanto, por expressa disposição constitucional (CF, art. 5º, XL) e legal (art. 2º, parágrafo único, CPB), a norma penal poderá ter efeito retroativo (estendendo-se, assim, aos fatos anteriores à sua vigência) quando for benéfica, ou seja, quando melhora, de qualquer maneira, a situação do réu. As normas penais benéficas reúnem ainda outra característica: a ultratividade (possibilidade das normas produzirem seus efeitos mesmo após sua revogação, desde que em relação a fatos que estejam sob o seu império). Diante disso, a doutrina passou a considerar que a norma penal benéfica teria extratividade (união das características da retroatividade + ultratividade). Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 10 IMPORTANTE: Por consequência da retroatividade da lei benéfica e da irretroatividade da lei maléfica, sempre será necessário, em direito penal material, aferir se a regra nova melhora ou piora a situação do réu e, assim, verificar sua possível aplicação. Contudo, a análise feita sobre a nova lei processual penal é diferente, em virtude do princípio da imediatidade da lei processual (art. 2º, CPP). Assim, não importa se a nova regra processual penal é melhor ou pior para o agente, aplicando-se de forma imediata, ainda que sem prejuízo da validade dos atos praticados sob o império da lei anterior. 2. LEIS TEMPORÁRIAS E LEIS EXCEPCIONAIS: É comum se ter a ideia de que as normas penais só podem ultragir, é dizer, produzir seus efeitos para além da sua revogação, quando benéficas. Contudo, deve-se atentar ao fato de que o próprio Código Penal, em seu art. 3º, autoriza a ultratividade das normas penais que sejam temporárias ou excepcionais (aquelas que têm prazo determinado de duração ou cuja vigência se condiciona a determinados eventos extraordinários). Tal regra é fundamental para se evitar a impunidade, afinal, caso não existisse tal regramento, os acusados pela ofensa a tais normas poderiam, durante o processo penal, utilizar manobras de procrastinação para que a norma deixasse de vigorar antes do término procedimental, garantindo, assim, sua impunidade. Embora não seja pacífico (longe disso!), hoje tem se discutido a constitucionalidade da regra do Diploma Punitivo acima referida. Ocorre que, segundo alguns autores (Nilo Batista e Zaffaroni, p. ex.), o sistema jurídico atual, implantado com a CF/88, não recepcionou regras que ofendam a regra de Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 11 ultratividade única da lei penal benéfica (art. 5º, XL, CF/88). 3. CONCEITO DE LUGAR DO CRIME: A aplicação da lei penal brasileira depende, necessariamente, da constatação do local em que o crime foi praticado, uma vez que fatos cometidos no estrangeiro não se submetem, como regra, à lei brasileira (salvo os casos referidos no art. 7º do CPB – hipóteses de extraterritorialidade). Dessa forma, faz-se necessária a criação de regra que diga, caso a conduta ocorra no Brasil e o resultado no exterior, ou mesmo quando a conduta foi praticada no estrangeiro e o resultado ocasionado em nosso território, se o fato deve, ou não, submeter-se à aplicação do CPB. Assim como ocorre em relação ao tempo do crime, no que diz respeito ao conceito de lugar do crime há três teorias: a) da atividade: lugar do crime seria apenas o local da prática da conduta, independentemente do local em que o resultado viesse a ocorrer; b) do resultado: lugar do crime, independentemente do lugar daprática da conduta, seria apenas aquele em que o resultado se verificou; c) ubiquidade ou mista: lugar do crime seria tanto o local da conduta quanto o do resultado. O CPB, em seu art. 6º, optou pela teoria da ubiquidade ou mista, é dizer, considera praticado o crime no local de sua ação ou omissão, bem como onde se produziu, ou deveria ter sido produzido, o resultado. Diante do exposto, o Brasil seria o local do crime e, por isso, nossa legislação seria aplicada tanto quando ocorresse um envenenamento no Brasil e a vítima viesse a morrer no exterior, ou mesmo se o envenenamento ocorresse no estrangeiro, morrendo a Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 12 vítima em território nacional. IMPORTANTE: apesar do CPB adotar a teoria da ubiquidade ou mista para aplicação da nossa legislação criminal, é de se verificar que o Código de Processo Penal, ao definir local do crime para efeitos de fixação de competência, optou pela teoria do resultado. Dessa forma, para delimitar a competência penal pelo lugar da infração (primeiro critério delimitador – art. 69, CPP), deve-se verificar o local em que o crime se consumou ou, no caso da tentativa, o local em que foi praticado o último ato de execução (adoção, como regra geral, da teoria do resultado). 4. APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO ESPAÇO: o princípio da territorialidade: O Código Penal é claro ao definir que a lei penal brasileira deve ser aplicada aos crimes cometidos em nosso território, sem prejuízo dos tratados e convenções internacionais. Isso quer dizer que, como regra, adotamos o princípio da territorialidade, ainda que de forma mitigada (ou temperada), uma vez que o próprio Diploma punitivo permite a sua aplicação a crimes cometidos no exterior (art. 7º, CPB). Mas o que devemos considerar como território nacional? a) o nosso solo, subsolo e a coluna de ar sobrestante a ambos. b) rios e ilhas (oceânicas, fluviais e lacustres). c) espaço territorial marítimo: Hoje, o espaço marítimo brasileiro compreende uma faixa de oceano que se estende a 12 milhas marítimas, contadas a partir da linha de preamar (ou Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 13 de baixa-mar). A regra antiga, do espaço marítimo de 200 milhas não prevalece mais. Território brasileiro soberano é apenas a faixa das 12 milhas, embora exista um respeito internacional a considerar as 200 milhas náuticas como uma zona de exploração econômica exclusiva do Brasil. d) território nacional por extensão (art. 5º, CPB). 5. DEMAIS PRINCÍPIOS DE APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO ESPAÇO: Todos os princípios aqui relacionados dizem respeito a hipóteses de extraterritorialidade (excepcional, no Brasil). Nosso país não adotou esses princípios de forma absoluta, mas uma breve leitura das hipóteses de extraterritorialidade do art. 7º do CPB já demonstra que pontualmente foram adotados em casos específicos. a) princípio da nacionalidade (ou personalidade): Pode ser visto por dois ângulos distintos. Pelo princípio da nacionalidade ativa, quando da prática de crime, deve-se aplicar a lei penal do país do autor do fato criminoso (sujeito ativo da infração penal), independentemente do local da infração. Pelo princípio da nacionalidade passiva, a seu turno, a lei penal a ser aplicada seria a do país da vítima da infração (sujeito passivo do crime). b) princípio da defesa (ou real): Por esse princípio, a lei penal a ser aplicada seria sempre a da nacionalidade do bem jurídico efetivamente lesionado com a prática da infração penal. c) princípio da justiça penal universal: Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 14 Partindo do pressuposto de que todos os países são instrumentos fundamentais à concretização de uma justiça penal, o princípio da justiça penal universal dispõe que a lei penal a ser aplicada ao crime é aquela do país em que o criminoso for encontrado, independentemente do local de sua efetiva prática. d) princípio do pavilhão ou da bandeira: Aplica-se a crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, dispondo, assim, que a lei penal a ser aplicada seria sempre a do país a que o meio de locomoção pertenceria e, assim, representado pela bandeira que ostenta. 6. A EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL: O art. 7º do Código Penal estabelece que em casos específicos a lei penal brasileira poderá ser aplicada a crimes cometidos no exterior. Chamamos isso de extraterritorialidade da lei penal. O nosso Diploma divide a extraterritorialidade em dois tipos: incondicionada (art. 7º, I) e condicionada (art. 7º, II). A divisão diz respeito à importância, sobretudo, dos bens jurídicos tutelados. Assim, em casos mais importantes, a lei penal brasileira se aplica aos fatos cometidos no estrangeiro, independentemente de qualquer condição (incondicionalmente), é dizer, ainda que lá fora tenha sido o seu autor julgado absolvido ou condenado, cumprindo pena ou não (caso tenha cumprido pena e venha cumprir a imposta no Brasil, deve ser aplicada a “detração internacional” mencionada no art. 8º do CPB). Em outros casos, para que a lei penal seja aplicada é fundamental a reunião de várias condições estabelecidas pelo próprio código, daí serem denominadas de hipóteses de extraterritorialidade Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 15 condicionada. 7. CONCURSO APARENTE DE NORMAS: O concurso real de crimes se verifica quando o agente, mediante uma só ou várias condutas, dá causa a mais de uma infração penal (arts. 69, 70 e 71, todos do CPB), de modo que sua responsabilidade recairá sobre todos os tipos penais (normas penais incriminadoras) correspondentes aos resultados. Às vezes, contudo, a conduta (ou condutas) do agente se enquadra em vários tipos penais, mas o afastamento de alguns é necessário, apesar da possibilidade textual da subsunção, porque, juridicamente, o concurso é meramente aparente. Os motivos dessa pluralidade aparente dependem do princípio aplicável à espécie e, em geral, evitam que a decisão seja injusta por efetivar o bis in idem. São princípios do concurso (ou conflito) aparente de normas penais: a) princípio da especialidade: decorre da aplicação da máxima latina lex especialis derrogat lex generalis. Há tipos penais que, em razão de vários elementos, são específicos (especiais) em relaçãoa outros, fazendo com que a norma incriminadora específica prevaleça sobre a norma geral. Exemplo nítido dessa especialidade é o tipo penal de infanticídio em relação ao homicídio, já que o que os diferencia é o fato do infanticídio ser um tipo realizado pela mãe do neonato, que esteja sob a influência do estado puerperal, ao praticar a conduta durante o parto ou logo após. b) princípio da subsidiariedade: aqui, existe uma relação de complementariedade entre duas normas, a principal e a complementar, de modo que a norma complementar só terá incidência caso o tipo principal não possa ser aplicado. Por vezes, a própria lei, Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 16 expressamente, traça essa relação (subsidiariedade expressa), como no caso do crime previsto no art. 307 do CPB (falsa identidade), em que o preceito secundário já dispõe: “se o fato não configura elemento de crime mais grave”; em outros casos, a subsidiariedade decorre da própria natureza das infrações, sem que a lei descreva tal relação (subsidiariedade tácita), como acontece, por exemplo, com o crime de constrangimento ilegal (art. 146, CPB), aplicável subsidiariamente quando não se tipificar o delito de estupro (art. 213, CPB) por não se direcionar a conduta a ato libidinoso. c) princípio da consunção: também conhecido como princípio da absorção, exige uma relação de meio e fim entre dois tipos penais, é dizer, anula-se norma penal que já esteja inserida em outra quando praticada aquela como meio para o alcance desta. Exemplos: lesão corporal é absorvida pelo homicídio; falsificação é absorvida pelo estelionato, quando meio para este (súmula 17, STJ). d) princípio da alternatividade: por esse princípio, em crime de conduta múltipla, ou de ação múltipla, a realização de várias das condutas típicas não caracteriza a sua prática por diversas vezes, mas uma só. Exemplo: o crime do art. 122 do CPB é praticado apenas uma vez, independentemente do número de condutas que o sujeito ativo venha a cometer (induzir, instigar e auxiliar ao suicídio). 3. Teoria Geral do Delito (generalidades): -‐ O conceito analítico do crime. 4. Teoria do Crime (Elementos – FATO TÍPICO): 4.1. Considerações iniciais (elementos do crime). Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 17 4.2. Elementos do fato típico (conduta, resultado, nexo de causalidade e tipicidade). 4.3. Espécies de condutas: 1) conduta ativa; 2) conduta omissiva: 1.2.1. crimes omissivos próprios; 1.2.2. crimes omissivos impróprios (comissivos por omissão – art. 13, § 2º, do Código Penal brasileiro); # Ausência de conduta (coação física irresistível, atos reflexos, atos inconscientes). 4.4. Conduta Dolosa (conceito). A) Elementos da conduta dolosa: a) consciência (-‐ o erro de tipo); b) vontade. A TEORIA DO ERRO: 1. Erro de tipo essencial: a) definição; b) modalidades (vencível/invencível); c) erro acidental: • erro quanto à pessoa (art. 20, § 3º, CPB); • erro quanto ao objeto; • erro na execução (aberratio ictus – art. 73, CPB); • resultado diverso do pretendido (aberratio criminis – ar. 74, CPB); • erro quanto ao nexo de causalidade (aberratio causae). d) erro provocado por terceiro (art. 20, § 2º., do CPB); Art. 20 -‐ O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 18 Descriminantes putativas § 1º -‐ É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo. Erro determinado por terceiro § 2º -‐ Responde pelo crime o terceiro que determina o erro. Erro sobre a pessoa § 3º -‐ O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime. 2. Erro de proibição a) definição; b) diferenciações; c) espécies (vencível/invencível – art. 21 do CPB). Erro sobre a ilicitude do fato Art. 21 -‐ O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-‐la de um sexto a um terço. Parágrafo único -‐ Considera-‐se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência. 3. Erro sobre descriminantes/excludentes putativas: a) erro sobre a situação de fato que, se existente, tornaria a ação legítima; Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.comDireito Penal OAB 2ª Fase 19 b) erro sobre a existência de uma causa de exclusão da ilicitude que, em verdade, não é prevista pelo ordenamento jurídico-‐penal; c) erro sobre os limites da causa de exclusão de ilicitude. -‐ Teorias da culpabilidade (repercussão na problemática do erro): a) teoria extremada (estrita): Teoria Extremada (estrita): Dolo: Culpabilidade: (erro sobre as descriminantes = erro de proibição) no tipo atenuada (evitável) excluída (inevitável) b) teoria limitada: Teoria Limitada: Dolo: Culpabilidade: (erro que recai sobre situação de fato = erro de tipo permissivo) excluído punição por fato culposo se previsto em lei Teoria Limitada: Dolo: Culpabilidade: (erro sobre os limites ou existência da causa de justificação = erro de proibição) no tipo atenuada (evitável) excluída (inevitável) 4. Erro na execução (aberratio ictus) e resultado diverso do pretendido (aberratio criminis) – arts. 73 e 74 do CPB. Erro na execução Art. 73 -‐ Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-‐se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-‐se a regra do art. 70 deste Código. Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 20 Resultado diverso do pretendido Art. 74 -‐ Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na execução do crime, sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica-‐se a regra do art. 70 deste Código. B) Fases (momentos) da conduta dolosa1: a) momento cognoscitivo, intelectual; b) momento volitivo. C) Espécies básicas de dolo (art. 18, I, do CPB): a) dolo direto (teoria da vontade – dolo direto de primeiro e segundo graus); b) dolo indireto (teoria do assentimento – alternativo e eventual). D) Outras classificações: a) dolo de dano; b) dolo de perigo; c) dolo genérico; d) dolo específico2. 4.5. Conduta Culposa: A) Elementos da conduta culposa: a) conduta; b) ofensa a um dever de cuidado objetivo; c) resultado involuntário; d) previsibilidade; 1 Podem ser tidas como decorrentes de seus elementos. 2 Alguns autores têm repudiado tal nomenclatura por entenderem de melhor técnica 2 Alguns autores têm repudiado tal nomenclatura por entenderem de melhor técnica a expressão “elemento subjetivo especial do tipo penal”. Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 21 e) previsão legal (excepcionalidade do crime culposo – art. 18, parágrafo único do CPB). B) Modalidades básicas (art. 18, II): a) imprudência; b) negligência; c) imperícia. C) Culpa inconsciente e culpa consciente: PREVISIBILIDADE ≠ PREVISÃO a) culpa inconsciente; b) culpa consciente. D) Culpa consciente e dolo eventual: 4.6. Conduta preterdolosa (entidade intermediária) 4.7. Resultado: a) o “caminho do crime” (iter criminis ); b) crime consumado e tentado3 (art. 14, CPB); 3 Verificar as diferenças entre tentativas perfeita (crime falho) e imperfeita. Verificar, também, os casos em que não será possível falar em tentativa: crimes Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 22 c) desistência voluntária e arrependimento eficaz (art. 15, CPB); d) arrependimento posterior (art. 16, CPB); e) crime impossível / tentativa inidônea / tentativa inadequada (art. 17, CPB) – teorias subjetiva/ objetiva (pura e temperada) / sintomática. f) classificações de crimes quanto ao resultado: • crimes formais; • crimes materiais; • crime de mera conduta; • crimes instantâneos; • crimes instantâneos de efeitos permanentes; 4.8. Nexo de causalidade: CONDUTA RESULTADO nexo causal A) Teoria da Equivalência das Condições (art. 13 do CPB): utilizaçãodo processo hipotético de eliminação. Art. 13. O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputado a quem lhe deu causa. Considera-‐se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. B) Concausas: a) preexistentes; b) concomitantes; c) supervenientes. culposos, crimes preterdolosos, crimes unissubisistentes, crimes omissivos puros e contravenções penais (art. 4º da Lei de Contravenções Penais – LCP). Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 23 C) Causas Absoluta e Relativamente Independentes: Causas: Preexistentes Concomitantes Supervenientes Absolutam. Exclui a imputação Exclui a imputação Exclui a imputação Relativam. Não exclui Não exclui Só exclui no art. 13, §1º. D) Causa Superveniente Relativamente Independente: § 1o. A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-‐se a quem os praticou. 4.9. Conceito de tipicidade. Peça Prático-‐Profissional (2012.3) Gisele foi denunciada, com recebimento ocorrido em 31/10/2010, pela prática do delito de lesão corporal leve, com a presença da circunstância agravante, de ter o crime sido cometido contra mulher grávida. Isso porque, segundo narrou a inicial acusatória, Gisele, no dia 01/04/2009, então com 19 anos, objetivando provocar lesão corporal leve em Amanda, deu um chute nas costas de Carolina, por confundi-‐la com aquela, ocasião em que Carolina (que estava grávida) caiu de joelhos no chão, lesionando-‐se. Questão (IX Exame de Ordem – 2012.3) Wilson, extremamente embriagado, discute com seu amigo Junior na calçada de um bar já vazio pelo avançado da hora. A discussão torna-‐se acalorada e, com intenção de matar, Wilson desfere quinze facadas em Junior, todas na altura do abdômen. Todavia, ao ver o amigo gritando de dor e esvaindo-‐se em sangue, Wilson, desesperado, pega um taxi para levar Junior ao hospital. Lá chegando, o socorro é eficiente e Junior consegue recuperar-‐se das graves lesões sofridas. Analise o caso narrado e, com base apenas nas informações dadas, responda, fundamentadamente, aos itens a seguir. A) É cabível responsabilizar Wilson por tentativa de homicídio? B) Caso Junior, mesmo tendo sido socorrido, não se recuperasse das lesões e viesse a falecer no dia seguinte aos fatos, qual seria a responsabilidade jurídico-‐penal de Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 24 Wilson? Questão (IX Exame de Ordem – 2012.3) Mário está sendo processado por tentativa de homicídio uma vez que injetou substância venenosa em Luciano, com o objetivo de matá-‐lo. No curso do processo, uma amostra da referida substância foi recolhida para análise e enviada ao Instituto de Criminalística, ficando comprovado que, pelas condições de armazenamento e acondicionamento, a substância não fora hábil para produzir os efeitos a que estava destinada. Mesmo assim, arguindo que o magistrado não estava adstrito ao laudo, o Ministério Público pugnou pela pronúncia de Mário nos exatos termos da denúncia. Questão – VII Exame de Ordem (2012.1) Larissa, senhora aposentada de 60 anos, estava na rodoviária de sua cidade quando foi abordada por um jovem simpático e bem vestido. O jovem pediu-‐lhe que levasse para a cidade de destino, uma caixa de medicamentos para um primo, que padecia de grave enfermidade. Inocente, e seguindo seus preceitos religiosos, a Sra. Larissa atende ao rapaz: pega a caixa, entra no ônibus e segue viagem. Chegando ao local da entrega, a senhora é abordada por policiais que, ao abrirem a caixa de remédios, verificam a existência de 250 gramas de cocaína em seu interior. Atualmente, Larissa está sendo processada pelo crime de tráfico de entorpecente, previsto no art. 33 da lei n. 11.343, de 23 de agosto de 2006.Considerando a situação acima descrita e empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente, responda: qual a tese defensiva aplicável à Larissa? Questão – VII Exame de Ordem (2012.1) Maurício, jovem de classe alta, rebelde e sem escrúpulos, começa a namorar Joana, menina de boa família, de classe menos favorecida e moradora de área de risco em uma das maiores comunidades do Brasil. No dia do aniversário de 18 anos de Joana, Maurício resolve convidá-‐la para jantar num dos restaurantes mais caros da cidade e, posteriormente, leva-‐a para conhecer a suíte presidencial de um hotel considerado um dos mais luxuosos do mundo, onde passa a noite com ela. Na manhã seguinte, Maurício e Joana resolvem permanecer por mais dois dias. Ao final da estada, Mauricio contabiliza os gastos daqueles dias de prodigalidade, apurando o total de R$ 18.000,00 (dezoito mil reais). Todos os pagamentos foram realizados em espécie, haja vista que, na noite anterior, Maurício havia trocado com sua mãe um cheque de R$20.000,00 (vinte mil reais) por dinheiro em espécie, cheque que Maurício sabia, de antemão, não possuir fundos. Considerando apenas os fatos descritos, responda, de forma justificada, os questionamentos a seguir. A) Maurício e Joana cometeram algum crime? Justifique sua resposta e, caso seja positiva, tipifique as condutas atribuídas a cada um dos personagens, desenvolvendo a tese de defesa. Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 25 B) Caso Maurício tivesse invadido a casa de sua mãe com uma pistola de brinquedo e a ameaçado, a fim de conseguir a quantia de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), sua situação jurídica seria diferente? Justifique. Questão – VI Exame de Ordem (2011.3) Ao chegar a um bar, Caio encontra Tício, um antigo desafeto que, certa vez, o havia ameaçado de morte. Após ingerir meio litro de uísque para tentar criar coragem de abordar Tício, Caio partiu em sua direção com a intenção de cumprimentá-‐lo. Ao aproximar-‐se de Tício, Caio observou que seu desafeto bruscamente pôs a mão por debaixo da camisa, momento em que achou que Tício estava prestes a sacar uma arma de fogo para vitimá-‐lo. Em razão disso, Caio imediatamente muniu-‐se de uma faca que estava sobre o balcão do bar e desferiu um golpe no abdome de Tício, o qual veio a falecer. Após análise do local por peritos do Instituto de Criminalística da Polícia Civil, descobriu-‐se que Tício estava tentando apenas pegar o maço de cigarros que estava no cós de sua calça. Considerando a situação acima, responda aos itens a seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso. a) Levando-‐se em conta apenas os dados do enunciado, Caio praticou crime? Em caso positivo, qual? Em caso negativo, por que razão? b) Supondo que, nesse caso, Caio tivesse desferido 35 golpes na barriga de Tício, como deveria ser analisada a sua conduta sob a ótica do Direito Penal? Questão – VI Exame de Ordem (2011.3) Carlos Alberto, jovem recém-‐formado em Economia, foi contratado em janeiro de 2009 pela ABC Investimentos S.A., pessoa jurídica de direito privado que tem como atividade principal a captação de recursos financeiros de terceiros para aplicar no mercado de valores mobiliários, com a função de assistente direto do presidente da companhia, Augusto César. No primeiro mês de trabalho, Carlos Alberto foi informado de que sua função principal seria elaborar relatórios e portfólios da companhia a serem endereçados aos acionistas com o fim de informá-‐los acerca da situação financeira da ABC. Para tanto, Carlos Alberto baseava-‐se, exclusivamente, nos dados financeiros a ele fornecidos pelo presidente Augusto César. Em agosto de 2010, foi apurado, em auditoria contábil realizada nas finanças da ABC, que as informações mensalmente enviadas por Carlos Alberto aos acionistas da companhia eram falsas, haja vista que os relatórios alteravam a realidade sobre as finanças da companhia, sonegando informações capazes de revelar que a ABC estava em situação financeira periclitante. Considerando-‐se a situação acima descrita, responda aos itens a seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso. Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 26 Caso Carlos Alberto fosse denunciado por qualquer crime praticadono exercício das suas funções enquanto assistente da presidência da ABC, que argumentos a defesa poderia apresentar para o caso? Questão – V Exame de Ordem (2011.2) Joaquina, ao chegar à casa de sua filha, Esmeralda, deparou-‐se com seu genro, Adaílton, mantendo relações sexuais com sua neta, a menor F.M., de 12 anos de idade, fato ocorrido no dia 2 de janeiro de 2011. Transtornada com a situação, Joaquina foi à delegacia de polícia, onde registrou ocorrência do fato criminoso. Ao término do Inquérito Policial instaurado para apurar os fatos narrados, descobriu-‐se que Adaílton vinha mantendo relações sexuais com a referida menor desde novembro de 2010. Apurou-‐se, ainda, que Esmeralda, mãe de F.M., sabia de toda a situação e, apesar de ficar enojada, não comunicava o fato à polícia com receio de perder o marido que muito amava. Na condição de advogado(a) consultado(a) por Joaquina, avó da menor, responda aos itens a seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso. Esmeralda praticou crime? Em caso afirmativo, qual? Peça Prático-‐Profissional (2013 – XI EXAME) Jerusa, atrasada para importante compromisso profissional, dirige seu carro bastante preocupada, mas respeitando os limites de velocidade. Em uma via de mão dupla, Jerusa decide ultrapassar o carro à sua frente, o qual estava abaixo da velocidade permitida. Para realizar a referida manobra, entretanto, Jerusa não liga a respectiva seta luminosa sinalizadora do veículo e, no momento da ultrapassagem, vem a atingir Diogo, motociclista que, em alta velocidade, conduzia sua moto no sentido oposto da via. Não obstante a presteza no socorro que veio após o chamado da própria Jerusa e das demais testemunhas, Diogo falece em razão dos ferimentos sofridos pela colisão. Instaurado o respectivo inquérito policial, após o curso das investigações, o Ministério Público decide oferecer denúncia contra Jerusa, imputando-‐lhe a prática do delito de homicídio doloso simples, na modalidade dolo eventual (Art. 121 c/c Art. 18, I parte final, ambos do CP). Argumentou o ilustre membro do Parquet a imprevisão de Jerusa acerca do resultado que poderia causar ao não ligara seta do veículo para realizar a ultrapassagem, além de não atentar para o trânsito em sentido contrário. A denúncia foi recebida pelo juiz competente e todos os atos processuais exigidos em lei foram regularmente praticados. Finda a instrução probatória, o juiz competente, em decisão devidamente fundamentada, decidiu pronunciar Jerusa pelo crime apontado na inicial acusatória. O advogado de Jerusa é intimado da referida decisão em 02 de agosto de 2013 (sexta-‐feira). Questão – X Exame de Ordem (2013) Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 27 Erika e Ana Paula, jovens universitárias, resolvem passar o dia em uma praia paradisíaca, de difícil acesso (feito através de uma trilha), bastante deserta e isolada, tão isolada que não há qualquer estabelecimento comercial no local e nem mesmo sinal de telefonia celular. As jovens chegam bastante cedo e, ao chegarem, percebem que, além delas, há somente um salva-‐vidas na praia. Ana Paula decide dar um mergulho no mar, que estava bastante calmo naquele dia. Erika, por sua vez, sem saber nadar, decide puxar assunto com o salva-‐vidas, Wilson, poiso achou muito bonito. Durante a conversa, Erika e Wilson percebem que têm vários interesses em comum e ficam encanta dos um pelo outro. Ocorre que, nesse intervalo de tempo, Wilson percebe que Ana Paula está se afogando. Instigado por Erika, Wilson decide não efetuar o salvamento, que era perfeitamente possível. Ana Paula, então, acaba morrendo afogada. Nesse sentido, atento apenas ao caso narrado e respondendo de forma fundamentada, indique a responsabilidade jurídico-‐penal de Erika e Wilson. Questão – X Exame de Ordem (2013) Maria, mulher solteira de 40 anos, mora no Bairro Paciência, na cidade Esperança. Por conta de seu comportamento, Maria sempre foi alvo de comentários maldosos por parte dos vizinhos; alguns até chegavam a afirmar que ela tinha “cara de quem cometeu crime”. Não obstante tais comentários, nunca houve prova de qualquer das histórias contadas, mas o fato é que Maria é pessoa conhecida na localidade onde mora por ter má-‐índole, já que sempre arruma brigas e inimizades. Certo dia, com raiva de sua vizinha Josefa, Maria resolve quebrar a janela da residência desta. Para tanto, espera chegar a hora em que sabia que Josefa não estaria em casa e, apósolhar em volta para ter certeza de que ninguém a observava, Maria arremessa com força, na direção da casa da vizinha, um enorme tijolo. Ocorre que Josefa, naquele dia, não havia saído de casa e o tijolo após quebrar a vidraça, atinge também sua nuca. Josefa falece instantaneamente. Nesse sentido, tendo por base apenas as informações descritas no enunciado, responda justificadamente: É correto afirmar que Maria deve responder por homicídio doloso consumado? HORA DE APROFUNDAR! 1. TEORIA DO CRIME: O crime é formado por uma estrutura tripartite, composta dos seguintes elementos: FATO TÍPICO – toda conduta que cause um resultado reputado como um modelo de conduta reprovável. São, assim, elementos integrantes do fato típico: conduta, resultado, nexo de causalidade e tipicidade. Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 28 ANTIJURIDICIDADE – para que haja crime, o fato típico tem que ser ilícito, é dizer, contrário ao direito. Antijuridicidade (ou ilicitude) é um juízo de contradição entre o fato típico praticado e as regras que compõem o ordenamento jurídico, como um todo. Importante lembrar que o fato típico e ilícito, embora ainda não configurem crime, identificam-se, doutrinariamente, como “injusto penal”. CULPABILIDADE – é um juízo de censura ou reprovação feito sobre o autor do injusto penal (fato típico + antijurídico). Note que enquanto os elementos anteriores são análises feitas sobre a conduta humana, a culpabilidade é o único momento da estrutura da infração penal em que se analisa o autor da conduta, censurando-o por seu agir ou por sua omissão. Por isso, são elementos que devem estar presentes na culpabilidade: a. Imputabilidade: é uma capacidade (ou aptidão) para o agente ser sujeito de reprovação no âmbito penal. Alguns indivíduos, em virtude de patologias, desenvolvimento mental insuficiente ou retardado, ausência de maturidade ou, mesmo, embriaguez, podem não apresentar tal capacidade e, assim, não praticarão crime pela ausência de culpabilidade. b. Potencial Consciência da Ilicitude: para que possa ser estabelecido um juízo de censura sobre o agente, faz-se imprescindível que, no momento da conduta, o agente tivesse ao menos a potencial consciência de que a sua conduta agride o ordenamento jurídico. Não age com potencial consciência da ilicitude aquele que atua em erro de proibição, cujo tratamento no CPB encontra-se no art. 21. c. Exigibilidade de Conduta Diversa: a responsabilidade criminal exige que se possa fazer sobre o praticante do injusto uma exigência de uma conduta diferente da escolhida por ele. Há casos em que o Direito não pode exigir do praticante do injusto uma ação diferente da adotada, como ocorre na Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 29 conduta daquele que agiu mediante coação moral a que não podia resistir. 2. CLASSIFICAÇÃO DE DOLO E MODALIDADES BÁSICAS DE CULPA: Dolo é a vontade consciente dirigida à realização de determinado fato típico. São, assim, elementos que integram a estrutura do fato típico doloso: a vontade e a consciência. O CPB dispõe, em seu art. 18, I, que se diz o crime doloso quando o agente quis o resultado ou quando assumiu o risco de produzi-lo. Diante disso, pode-se afirmar que há duas espécies básicas de dolo: o dolo direto, em que o agente deseja diretamente o resultado previsto na norma penal; o dolo indireto, em que o agente assume o risco de produção do resultado. A maior parte da doutrina extrai duas modalidades do dolo indireto: do dolo eventual (quando o agente não quer produzir o resultado, mas assume o risco) e o alternativo (o agente quer produzir um ou outro resultado – matar o ferir, p. ex.). Consultar, ainda, a seguinte classificação: • dolo de dano; • dolo de perigo; • dolo genérico; • dolo específico; • dolo de primeiro grau; • dolo de segundo grau. Culpa é a prática de uma conduta ofensiva a um dever de cuidado objetivo que causa um resultado involuntário previsível (excepcionalmente previsto). Segundo o nosso CPB, são modalidades de culpa: a. Imprudência: é uma forma ativa da conduta culposa. Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 30 O agente age sem cautela, sem ponderação. Na nossa região NE, dizemos que o agente atua com afoiteza. b. Negligência: é uma forma omissiva da conduta culposa. O agente, por não ter cautela, não faz aquilo que deveria para evitar dano a terceiros. c. Imperícia: é a falta de habilidade ou aptidão para a realização de determinada atividade, profissão, arte, ofício. No campo doutrinário, analisa-se a culpa, ainda, a partir de duas modalidades básicas: a. Culpa Consciente: é a culpa em que há previsão, ou seja, o agente efetivamente prevê (antevê) o resultado, embora confie, sinceramente, que este não irá acontecer por acreditar em sua habilidade. b. Culpa Inconsciente: é a culpa em que não há previsão, mas apenas previsibilidade. O agente não prevê um resultado previsível, ou seja, não consegue prever que a sua conduta, ofensiva a um dever de cuidado, pode vir a causar dano a outrem (a possibilidade nem passa pela cabeça do agente). Consulte, ainda, o seguinte a respeito da culpa: • culpa própria; • culpa imprópria. 3. CRIMES OMISSIVOS: O Direito Penal é formado por normas não- incriminadoras (que estabelecem princípios, conceitos, permissões etc.) e incriminadoras (que incriminam, tornam típicas, algumas condutas humanas ofensivas a determinados valores essenciais ao existir coletivo). Boa Viagem: Rua Visconde de Jequitinhonha, 76. tel: 34628989 e 33425049 Boa Vista: Rua Montevidéu, 276. Tel: 34230732. falecom@espacojuridico.com www.espacojuridico.com Direito Penal OAB 2ª Fase 31 As normas penais incriminadoras possuem preceito proibitivo, é dizer, vedam a prática de determinada conduta (art. 121, CPB – proíbe a conduta de matar), ou possuem preceito imperativo, ou seja, exigem a prática de determinada conduta (art. 135, CPB – exige o dever de solidariedade na prestação do socorro ou na comunicação do fato às autoridades públicas competentes). Diante disso, fica fácil perceber que as normas penais incriminadoras de preceito proibitivo podem ser violadas através de
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