Buscar

A ATIPICIDADE DA CONTRAVENÇÃO PENAL DE PORTE DE ARMA BRANCA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

A ATIPICIDADE DA CONTRAVENÇÃO PENAL DE PORTE DE ARMA BRANCA 
 
O art. 19 da Lei de Contravenções Penais, prevê como infração penal “trazer consigo 
arma fora de casa ou de dependência desta, sem licença da autoridade”, sujeitando o 
infrator à pena de “prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano" 
O artigo supracitado era aplicado também em relação à arma de fogo, quando inexistia 
lei regulamentando a posse, porte, registro e comercialização de armas de fogo e 
munição. 
Em relação ao porte de arma branca (faca, soco inglês, canivetes, dentre outros), não 
são raras as apresentações de autores nas delegacias, ou até mesmo as denúncias 
oferecidas pelo Ministério Público. Entretanto, entendo ser tal conduta atípica, como 
será visto adiante. 
A contravenção em tela é bastante clara: restará configurada desde que o autor não 
possua "licença da autoridade". No entanto, não há regulamentação de licença para o 
porte de armas brancas. Ora, se não existe norma jurídica disciplinando em que 
condições o uso de arma branca pode ser admitida , não há como, nem a quem, 
solicitar autorização para o seu porte. 
Trata-se de norma penal em branco, dependendo de complementação de outra norma 
jurídica. O ilustre doutrinador Magalhães Noronha assim preleciona acerca do assunto: 
"É aquele, pois, preenchido por outra disposição legal, por decretos, regulamentos e 
portarias" (Noronha, E. Magalhães, Direito Penal, São Paulo, Saraiva, 2000, v. 1, p. 48). 
Na conhecida frase de Binding, "a lei penal em branco é um corpo errante em busca de 
alma" (Apud Soler, Derecho Penal argentino, Buenos Aires, TEA, 1976, v. 1, p. 122) 
Sendo assim, o porte de faca, ou outra arma branca, não é proibido em nosso 
ordenamento jurídico, razão pela qual entendo não ser possível, sequer, a instauração 
de termo circunstanciado para apurar o fato. 
Em ação penal perante o Juizado Especial Criminal de Rio Negrinho/SC (autos n. 
055.13.000140-0), justamente sobre a contravenção ora discutida, a Exma. Dra. 
Monike Silva Póvoas, Juíza de Direito da comarca, rejeitou a denúncia oferecida pelo 
Ministério Público sob este mesmo fundamento, qual seja, pela atipicidade da 
conduta. 
Corroborando o quanto exposto, a jurisprudência dos nossos tribunais tem 
comungado do mesmo entendimento ora mencionado, como podemos observar: 
“APELAÇÃO CRIMINAL. PORTE ILEGAL DE ARMA BRANCA (ART.19, CAPUT, DO 
DECRETO-LEI Nº. 3.688/41). Tipo contravencional que carece de regulamentação sobre 
as condições em que o porte de arma branca seria admitido e/ou inadmitido. Norma 
penal em branco não complementada. Absolvição que se impunha, com força no 
princípio da legalidade (art. 386, inc. III, do C.P.P.). Sentença mantida por seus próprios 
fundamentos. APELO IMPROVIDO.” (Apelação Crime n.º 70009858002, 6ª Câmara 
Criminal, TJRS, Rel. Aymoré Roque Pottes de Mello, julgado em 24.08.2005). 
 
“PENAL E PROCESSO PENAL. PORTE DE ARMA BRANCA. CONTRAVENÇÃO. ATIPICIDADE. 
1. A conduta de quem transporta faca em via pública não se subsume ao tipo descrito 
no artigo 19 do Decreto-Lei 3.688/41, haja vista a ausência de regulamentação sobre o 
porte e uso de armas brancas. 2. Inexistindo a possibilidade de se obter autorização 
para o uso e porte de instrumentos da espécie, improcede a pretensão punitiva, em 
face do princípio da reserva legal estrita. 3. Recurso conhecido e 
provido.” (20060710016643APJ, Relator SANDOVAL OLIVEIRA, Primeira Turma Recursal 
dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do D.F., julgado em 17/06/2008, DJ 
06/08/2008 p. 110) 
 
Pelo acima exposto, conclui-se que a contravenção prevista no artigo 19 da LCP é 
atípica, não havendo qualquer motivo para eventual autor ser conduzido à Delegacia, 
ou até mesmo ter contra si um termo circunstanciado instaurado, causando-lhe 
constrangimento desnecessário e até mesmo abusivo. 
 
Rubens Almeida Passos de Freitas 
Delegado de Polícia Civil em Santa Catarina

Outros materiais