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Editorial Publicação 2011. Título: Mídias Sociais e Eleições 2010 Autores: Adriana Cristina Omena Dos Santos Ana Brambilla Ana Maria Bicca Andreia Martins Anna Paula Castro Alves Carlos Manhanelli Carolina Tomas Batista Claudiana Silva Danila Dourado Eliane Fronza Fernanda Fabian Gabriela da Fonseca Gil Castilho Larissa Oliveira Leandro Mazzini Luiz Marcos Ferreira Júnior Marcel Ayres A PaperCliQ é uma agência focada em comunicação e estratégia, cujo principal objetivo é posicionar diferentes organizações no universo digital. Entre os seus principais serviços, estão: Planejamento Estratégico Digital, Monitoramento e Mensuração Online, Produção de Conteúdo e Relacionamento em Mídias Sociais, Coolhunting etc. Para saber mais, acesse www.papercliq.com.br | www. slideshare.net/papercliq | www.twitter.com/papercliq. Ruan Carlos Brito é publicitário (UFPA), mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas (UFBA), especializado em Comunicação e Política (UFBA). Atua nas áreas de Marketing Eleitoral, Assessoria de Comunicação Política, Gerenciamento e Monitoramento de Mídias Sociais. Marcel Ayres, Renata Cerqueira e Tarcízio Silva Nina Santos é assessora de comunicação política e pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Democracia Digital e Governo Eletrônico (CEADD- UFBA). Atua especialmente com estratégias políticas online, gerenciamento de perfis online, assessoria de comunicação online e campanhas online. Mariana Oliveira Martha Gabriel Murillo de Aragão Natália de Oliveira Santos Nina Santos Patrícia Rossini Renata Cerqueira Ruan Brito Samantha Shiraishi Sueli Bacelar Tarcízio Silva Direção de arte: Caio Sá Telles Danila Dourado Rodrigo Lessa Apresentação Em um momento em que qualquer pessoa com acesso a determinadas tecnologias e habilidades técnicas tem a possibilidade de registrar e compartilhar suas impressões de mundo, opiniões, gostos, desejos e satisfa- ções, também surge outra possibilidade de se construir a história. De forma colabo- rativa, cada usuário de internet realiza, em menor ou maior grau, um grande registro dos acontecimentos de seu tempo. Em 2010, foi a vez de uma grande massa de cidadãos, individualizados em seus usos da internet, observar, criticar e interferir nas eleições brasileiras. Com as possibilidades e as restrições de uma legislação eleitoral que não podia mais ignorar os avanços na des- centralização da comunicação, novos desa- fios e oportunidades se apresentaram para os brasileiros. Expectativas e comparações com as elei- ções americanas de 2008 foram inevitáveis, mas, entre os extremos do otimismo e do pessimismo, profissionais e cidadãos bra- sileiros fizeram sua própria história. Este ebook, organizado e escrito por pesquisa- dores teóricos e práticos de comunicação política e/ou comunicação digital, é uma iniciativa para registros referentes às elei- ções de 2010, servindo de insumo às diver- sas classes de atores sociais envolvidos no processo: assessores, marketeiros, consul- tores, jornalistas, políticos e cidadãos. A proposta deste e-book é reunir diferentes olhares daqueles interessados em examinar e refletir sobre o papel que as mídias sociais podem exercer nos processos eleitorais. Com isso, pessoas com diversas formações e trajetórias, profissionais e estudantes, au- tores convidados ou selecionados por Cha- mada de Trabalho, apresentam neste ma- terial suas formulações, entendimentos ou estudos de casos que relacionam as tecno- logias online às eleições brasileiras. Reunimos aqui variadas e ricas abordagens sobre esta temática tão fascinante e desafia- dora para qualquer pessoa que se proponha a compreender as características de nossa sociedade e de nossa época. Esperamos que este e-book funcione como um apanhado teórico e prático, diversificado e amplo, que contribua com o debate acerca das mídias sociais e dos processos políticos no Brasil. // ESTA OBRA É LICENCIADA POR UMA LICENÇA CREATIVE COMMONS Atribuição – Uso não-comercial – Compartilhamento pela mesma licença 2.0 Você pode: > copiar, distribuir, exibir e executar a obra; > criar obras derivadas. Sob as seguintes condições: > Atribuição. Você deve dar crédito ao autor original. > Uso não-comercial. Você não pode utilizar esta obra com finalidades comerciais. > Compartilhamento pela mesma licença. Se você alterar, transformar ou criar outra obra com base nesta, somente poderá distribuir a obra resultante sob uma licença idêntica a esta. > Para cada novo uso ou distribuição, você deve deixar claro para outros os termos da licença desta obra. > Qualquer uma destas condições pode ser renunciada, desde que você obtenha permissão do autor. Qualquer direito de uso legítimo (ou fair use) concedido por lei ou qualquer outro direito protegido pela legislação local não são em hipótese alguma afetados pelo disposto acima. Convidados 06. Redes sociais e eleições em 2010 08. De @Candidato para @Eleitor. Enter! 11. Mídias Sociais e as Eleições Brasileiras de 2010 14. A influência da campanha Obama nas eleições brasileiras de 2010 21. Comunidades do Orkut sobre Presidenciáveis nas Eleições Brasileiras de 2010 29. O papel da militância através das redes sociais durante as eleições 38. Democracia, eleições e redes sociais online: uma possibilidade de pluralização do diálogo 45. Branded Content nas Eleições 2010 57. Interface entre Jogos Sociais e Política: Oportunidades e Estratégias de Diferenciação 66. Monitoramento de Conversações sobre Políticos: prática, limites e possibilidades 71. Blog do Terra sobre Mídias Sociais e Eleições 76. A cobertura da primeira campanha on line na redação de A TARDE 81. Controle e Espetáculo - Privacidade & Transparência na Política e Eleições Selecionados 89. A interação e a mobilização nas redes sociais dos três princiais presidenciáveis 97. Candidatos Virtuais: O oficial e o oficioso no ciberespaço 104. O papel do blogueiro e o engajamento espontâneo nas eleições 111. O Twitter e as Campanhas Políticas: Uma Análise da Conversação dos Presidenciáveis 117. O Uso do Twitter pelos Presidenciáveis 126. Participação política na Era Digital: um estudo de caso das #Eleições2010 135. Midias sociais e a aproximação do eleitor com o candidato 142. A campanha virtual pode ser igual para todos os candidatos? 148. Política? “E eu com isso?” 151. A relação entre redes sociais na internet e o certame eleitoral no Brasil Mídias Sociais e Eleições 2010 Redes sociais e eleições em 2010 Por Murillo de Aragão F inalmente, a internet e as redes sociais tiveram um papel mais re- levante nas eleições brasileiras. Po- rém, como bem disse Pedro Doria em artigo no Estadão (31/10/10), ninguém venceu na rede. O empate entre os candidatos nesse meio de comunicação revela que, no limite, as redes sociais não favoreceram ninguém nem foram decisivas para o resultado final. O Brasil de 2010 ainda é um país em que a penetração da internet é baixa, apesar da vocação do brasileiro para a rede e do seu potencial de crescimento explosivo. Sen- do assim, não houve qualquer episódio nas redes que modificasse de modo claro e decisivo as tendências do processo elei- toral. No futuro, no entanto, não deverá ser assim. Alguém diria, de pronto, que a campanha de desinformação em torno de Dilma Rousse- ff e o tema do aborto podem ter-lhe rou- bado votos na reta final do primeiro turno. Mas o estrago causado pela ação na web foi bem menor, por exemplo, que a maciça cobertura da mídia eletrônica em torno do caso Erenice Guerra. Advogado, jornalista, cientista político e presidente da Arko Advice Pesquisas e sócio da Aragão-Osório Advogados Associados. É Formado em Direito pela Faculdade de Direito do Distrito Federal, é mestre em Ciência Política pela Universidade de Brasília e doutorem Sociologia (estudos latino-americanos) pelo Ceppac – Universidade de Brasília. Em 2007, foi nomeado pelo Presidente da República para o CDES – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. É ainda articulista em vários veículos de imprensa, por exemplo: jornal O Tempo (Belo Horizonte), jornal O Liberal (Belém), Blog do Noblat, revista Conjuntura Econômica (FGV), entre outros. www.arkoadvice.com.br www.blogdomurillodearagao.com.br www.twitter.com/murillodearagao Mídias Sociais e Eleições 2010 7 A situação seria diferente se tivéssemos um empate técnico, no qual “detalhes” como as redes sociais poderiam pender em favor de um ou de outro candidato. Ao pontu- ar tais aspectos volto a dizer que a internet e as redes sociais foram importantes, mas não decisivas. A campanha teve aspectos interessan- tes ligados à internet e às redes sociais e que merecem destaque. O fato que mais me chamou a atenção foi o uso do twit- ter na mobilização da militância partidá- ria e de simpatizantes dos candidatos. No caso brasileiro, é o que importa: mobilizar enormes contingentes eleitorais em favor de uma candidatura. O twitter também serviu para informar eventos e antecipar direções. Em especial, para repercutir as prévias das pesquisas, abundantemente comentadas na rede. Um segundo fato é que o uso da internet na disseminação da informação teve no ano- nimato o seu pior e mais perverso aspecto. Nesse sentido, alinho-me a Arthur Scho- penhauer, que dizia que o anonimato serve para tirar a responsabilidade daquele que não pode defender o que afirma. O anoni- mato na internet é um grave problema que termina por minar a própria credibilidade do meio. No futuro, vejo a credibilidade das redes sociais sendo avaliadas por seu grau de transparência. Na prática, o Código Penal não vale na in- ternet e, de forma esperta, alguns grandes sites e redes se escudam nas legislações mais complacentes do mundo para não atuar de forma enérgica contra a prática de crimes que envolvem a honra. Aos românticos, o anonimato tem um doce sabor libertário. Quando se está a favor, tudo é lindo e maravilhoso. Porém, quando se é vítima de difamação e calúnias é como sofrer de bullying sem saber a identidade de seus agressores e sem ter a quem reclamar. Como há complacência nas redes, podere- mos ter, como efeito colateral, ações restri- tivas no âmbito regulatório. Não devemos esquecer que vai haver uma discussão sobre o marco regulatório da internet no Brasil. Eleitoralmente falando, a questão é impor- tante, já que no futuro as redes sociais e a disseminação de informações por outras mídias terão peso ainda maior para a cons- trução de tendências e, claro, para a defini- ção de resultados eleitorais. H á duas verdades incontestáveis sobre a relação entre internet e política depois das eleições de 2010. Ela veio para ficar e vai ganhar mais importância; e, da forma como foi usada, atrapalhou mais que ajudou. É fato que as mídias sociais ganham es- paço a cada dia, a cada momento, a cada minuto em que você atualiza uma página do Orkut, Facebook, YouTube, Twitter e afins. Há poucos anos, era inimaginável um político trocar o seu famoso “santi- nho” por uma boa foto sorridente em uma página pessoal criada especialmen- te para a campanha. Aconteceu, como num clique. Primeiro, porque a minirre- forma eleitoral realizada em 2007 mu- dou muito as campanhas, limpou as ruas de faixas e folders e outros materiais pu- blicitários. Segundo, porque a inclusão digital cresceu incrivelmente – e ainda ocorre, neste momento – com a deman- da por computadores, os investimentos das telefônicas em internet e transmis- são de dados, e o projeto do próprio go- verno federal em implantar banda larga (para valer). De @candidato para @eleitor. Enter! Por Leandro Mazzini Dez anos de experiência no jornalismo on-line e impresso, em coberturas políticas no Rio de Janeiro (2000 a 2006) e Brasília (2007 até hoje). Desde 2007, assina o Informe JB, hoje no Jornal do Brasil Digital – coluna distribuída para diários do Paraná, Sergipe, Pará, e blogs de todo país. Comentarista da Rádio Digital News e da REDEVIDA de Televisão, no Jornal da Vida, em rede nacional, com boletins direto do Congresso ou do Palácio do Planalto. Apresentador do programa de debates semanal Tribuna Independente, ao vivo e em rede, na mesma emissora. Autor do livro “Corra que a Política Vem Aí” (2010). www.leandromazzini.com.br www.jblog.com.br/informejb.php www.twitter.com/leandromazzini Mídias Sociais e Eleições 2010 9 Todos esses fatores colaboraram, então, para que nas últimas três eleições (e isso conta os pleitos municipais) os candidatos trocassem o papel pela tela, o comício pelo spam, o discurso pela mensagem online, e até o corpo a corpo por trocas de emails, comentários no blog, além de postagens no Twitter. É o novo modus operandi das cam- panhas eleitorais, um irreversível avanço na comunicação e no elo entre o político e o eleitor – embora a internet possa, por outro lado, iniciar um processo de distanciamen- to entre o candidato e o cidadão. Acredito que isso vá acontecer, e poderá tomar ru- mos ainda misteriosos se a sociedade não cobrar a aproximação, ou seja, o aperto de mão e os olhos nos olhos. A internet é um mundo virtual maravilho- so que também tem suas armadilhas. Ob- viamente, em muitos casos ela nos priva da realidade. Mora aqui, logo, o fato de, em 2010, a rede eletrônica ter sido usada de tal forma maléfica – por maledicentes ocultos, publicitários e inclusive políticos mal in- tencionados – para prejudicar adversários. Não foram poucas as mensagens de falso conteúdo disparadas por e-mail para mi- lhões de eleitores, disseminando inverdades sobre presidenciáveis, candidatos a gover- nadores e deputados. Tudo em nome do di- nheiro, a mentira pelo poder. Gasta-se com esse método – marqueteiros renderam-se a este mecanismo –, há invasão de privacida- de – seu endereço eletrônico é distribuído ilegalmente não se sabe como –, e quem perde é toda a sociedade. Além dos pró- prios candidatos, que, em vez de focarem o discurso propositivo, perderam valiosos minutos em programas de rádio, TV, nas ruas e na própria internet para desmentir cenários e citações falsas que se renovavam a todo dia. Perdeu o eleitor, por acreditar nelas e espalhá-las para seus contatos. Esse é o lado ruim da internet no país. Pa- ga-se um preço por isso: não há uma lei que regulamente o uso da rede no Brasil. É um assunto delicado, os parlamentares sabem. Qualquer citação disso numa tribuna de ple- nário e vira-se alvo de ataques que remetem a uma palavra perigosa numa democracia: censura. Por ora, vê-se o que vê na internet porque não houve um debate sério, dedi- cado e minucioso sobre as redes sociais. E, pelo que se viu na campanha, não interes- sa a ninguém por ora. Cria-se um fato para prejudicar um adversário e, até que se pro- ve o contrário, o sujeito perde uma eleição. É a nova guerra política, a virtual. Dentre todos os websites, inegável apon- tar o Twitter como o mais avassalador nes- te cenário político. Em todos os sentidos. Para o bem ou para o mal. O Twitter virou um meio de comunicação social, em que encontramos comunicados oficiais de go- vernos e políticos antes mesmo que estes anunciem nos meios tradicionais. Vê-se o exemplo deste poder do canal nos números de seguidores – na primeira quinzena de dezembro de 2010, eram 1,3 milhão de se- guidores para os três principais presidenci- áveis que disputaram o pleito. Obviamente, um número pequeno, 1% dos eleitores, mas significantemente forte, por se tratarem de multiplicadores de opinião na rede social e na internet como um todo. Se, antes, um “santinho” passava por poucasmãos, ago- ra uma mensagem virtual chega a centenas, talvez milhares de eleitores, em apenas um clique e em poucos minutos. A urna eletrônica e sua apuração acelerada foram um avanço. Mas já é pouco diante do crescimento da internet e suas redes sociais, com sua conectividade acelerada e a essen- 10 cial interatividade. Chegará um dia, e será breve, em que o cidadão poderá votar numa eleição seguramente pela internet, ou pelo celular – via torpedo ou voz. Como existem vantagens e desvantagens, o perigo desse mundo novo que engole as campanhas é que a relação entre o candidato, o eleitor e a democracia se torne tão virtual quanto a tecnologia que já domina a política. Mídias Sociais e as Eleições Brasileiras de 2010 Por Carlos Manhanelli I maginavam que no Brasil o sucesso das mídias sociais seria proporcional ao que ocorreu nos Estados Unidos. Pensavam que o povo iria correr para seus celulares interativos, computadores e notebooks atrás de informações sobre seu candidato preferido, como se este fosse um ídolo do futebol, ator famoso ou um rockstar. Acharam que a dona Maria e o tio Zé – que assistem novelas, o jornal por embalo e desligam a TV quando a conhecida tela azul com letras em branco anuncia que a lei número 9.504/97 entra em ação com seu horário eleitoral gratuito – se dariam ao trabalho de buscar motivos para acreditar e votar em um candidato na internet. Aliás, dentro desse contexto, no de acreditar, foi um dos motivos pelo qual deu tão certo a campanha virtual de Obama: a esperan- ça. Foi o que alimentou e, principalmente, moveu as pessoas naquele país a trabalhar em prol do candidato democrata e acessar a internet e até colaborar financeiramente com débitos em cartões de crédito. Sendo a primeira vez que se usaram, na sua plenitude, as ferramentas da internet Jornalista, Publicitário, Radialista, Administrador de empresas. Especialista em Propaganda e Marketing pela ESPM, em Ciências Políticas pela FESP, MBA em Marketing pela USP e Mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo. Professor titular na cadeira de Comunicação Política e Marketing Eleitoral no curso de pós graduação (Maicop) da Universidade Pontifícia de Salamanca na Espanha. Presidente da ABCOP - Associação Brasileira dos Consultores Políticos e Assessores Eleitorais. Autor de livros como Estratégias Eleitorais e Marketing Político (1988), A Propaganda Política no Brasil Contemporâneo (2009) e Marketing Eleitoral o Passo a Passo do Nascimento de um Candidato (2010). Palavras-chave: Marketing, Campanhas, Candidatos, Mídias Sociais www.manhanelli.com.br www.marketingpolitico-manhanelli.blogspot.com www.twitter.com/manhanelli 12 em uma campanha eleitoral aqui no Brasil, nada se tem de muito concreto sobre como funcionam – se funcionam – as mídias so- ciais por aqui no âmbito político ou eleito- ral. Houve partido que fez desembarcar por essas terras o norte-americano Ben Self, só- cio da Blue State Digital, responsável pela movimentação na rede de computadores da campanha de Barack, acreditando na- quela antiga máxima “O que é bom para os E.U.A é bom para o Brasil”. Ledo engano. Só faltou levar em conta que eram realida- des distintas, e avisar essa turma que nem tudo que serve lá serve aqui também. En- tretanto, uma experiência pioneira que se mostrou muito acertada foi o debate online entre presidenciáveis na internet brasileira que ocorreu dia 18 de agosto de 2.010 no teatro da PUC-SP, em uma parceria entre o portal UOL e o jornal Folha de São Paulo. Foi algo que realmente movimentou as re- des sociais e quem se interessava por polí- tica, o que converteu a contenda em algo de alto nível. Algo de grande interatividade e dinâmica. Este é ainda um ano de expe- riências para o Brasil no campo das mídias sociais e suas aplicações na política e elei- ções. Estamos vivenciando um grande la- boratório virtual nas campanhas eleitorais no nosso país. No Amapá, foi minguada a implantação da campanha virtual para o cargo de go- vernador. Isso ocorreu, pois, entre outras coisas, nesse Estado não há conexão por Banda Larga, o que torna pouco atrativo passar o dia brigando com a lentidão do velho modem discado. Outro motivo foi que a maioria das pes- soas que tinham acesso à internet era con- trária as candidaturas que se apresenta- vam, apesar da penetração dos candidatos serem muito forte entre os jovens. Por re- ceio de entrar com mais intensidade nes- se meio, não se aplicou muito empenho e dinheiro às mídias sociais durante essa campanha. O mesmo temor houve em uma campa- nha para deputado estadual no interior do Estado de São Paulo. Por preferir não se arriscar nesse plano, direcionou-se a verba para outras esferas da campanha e simplesmente ignorou-se a “moda” das mídias sociais. Em outra mão, outro aspirante a um car- go na Assembléia Legislativa de São Paulo, um senhor, na casa dos 70 anos idade, que não tinha boa penetração entre o eleitora- do jovem, decidiu entrar nesse campo. Foi criado um perfil no Orkut na tentativa de aproximá-lo desse público. Resultado: em dois meses dois perfis do candidato ficaram cheios, lotam de acessos e geram interativi- dade com o deputado. Surpresas de campa- nha eleitoral. Há, inclusive, campanhas e candidatos que se tornam um dos assuntos mais comenta- dos na rede. Isso se passou com um candi- dato a deputado federal por São Paulo (Ti- ririca), que se tornou, pelo menos durante uma semana, o nome mais comentado no Twitter. No Youtube, os vídeos desse mes- mo candidato com seus pedidos de voto no horário eleitoral gratuito são campeões de audiência na categoria. Outros apelaram para o SPAM causando indignação entre os eleitores pelo núme- ro recebidos, de todos os lados, vindos de amigos, parentes, colegas de trabalho em uma militância mal-direcionada, dos pró- prios candidatos comprando maillings e Mídias Sociais e Eleições 2010 13 disparando a torto e a direito sua “propa- ganda virtual”. Na rede social Twitter, por exemplo, há uma profusão de protestos nesse sentido. Algumas pessoas reclamam de receber até 50 emails por dia com esse teor. É caso clássico para analisarmos por que envio de email não solicitado, também chamado de SPAM, simplesmente não funciona. Utilizando o email marketing político da maneira certa, ele até pode ser vantajoso, pois estreita e deixa mais intimo o conta- to entre candidato e eleitor e serve como fonte de notícias e avisos sobre datas de comícios, debates, pesquisas, etc. principal- mente aos militantes. Em outras palavras, é útil para quem se interessa. Por outro lado, quando emails não solicitados com teor político chegam às caixas de entrada quase sempre são mal-recebidos. A não ser que você concorde plenamente com o conteúdo daquela mensagem elei- toral e, detalhe importante, não se importe nem um pouco de receber spam, você não vai mudar seu voto baseado no conteúdo de um email. Isso quer dizer que na grande maioria dos casos aquele simples email só vai causar incomodo. Sabemos que as pessoas enviam esse tipo de mensagem, com a melhor das inten- ções, mas, de bem intencionado a detenção está lotada, esta mensagem continua sendo spam. O conceito de Spam é: todo email não solicitado e enviado em massa. Curto e grosso. Você pode presumir que todos na sua lista compartilham das suas idéias, mas é bastante provável que isso não seja verdade, principalmente em se tratando de assuntos eleitorais. Só vamos obter o verdadeiro resultado do uso dessas ferramentas durante as campa- nhas, e fazer com que elas se tornem votos ou doações para campanhas, quando todas as ferramentas forem testadas aqui no Bra- sil. Como tudo ainda é muito novo, e mais da metadeda população brasileira não tem acesso à internet, qualquer conclusão será apressada, provavelmente incerta e prova- velmente incorreta. Ainda estamos no la- boratório. O remédio pode matar se apli- cado, sem os devidos testes, em campanhas eleitorais. A influência da campanha Obama nas eleições brasileiras de 2010 Por Mariana Oliveira É quase impossível falar sobre a influência das mídias sociais nas eleições sem que a palavra “Oba-ma” venha à cabeça. A estratégia digital da campanha realizada pela equipe de Barack Obama em 2008, nas eleições norte-americanas, se tornou parâ- metro de sucesso para qualquer campanha política que a sucedesse. Palestras, livros, documentários, entrevistas, posts em blo- gs, artigos acadêmicos: a campanha digital norte-americana foi retratada, discutida e analisada em inúmeras instâncias, sendo considerada por especialistas como uma das grandes responsáveis pela vitória do candidato democrata nos EUA. As estraté- gias adotadas foram minuciosamente estu- dadas por profissionais do mundo inteiro, como modelo a ser exportado. E é aí que entra o Brasil na história, a dispu- ta presidencial de 2010 e as mídias sociais. Como se daria essa relação? A expectativa era grande – bem como as responsabilida- des, também. E antes de qualquer definição oficial sobre candidaturas ou coligações, já circulavam questionamentos de analistas do cenário político e principalmente dos es- pecialistas de comunicação: como o Brasil, Mariana Oliveira é Analista de Pesquisa e Métricas na Talk Interactive e formanda em Comunicação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul Atuou na campanha presidencial de 2010 como parte da equipe digital do candidato José Serra, na área de Monitoramento e Métricas em Mídias Sociais. Palavras chave: campanha política, mídias sociais, monitoramento, democracia digital marianarrpp@gmail.com twitter.com/marianarrpp marianarrpp.wordpress.com google.com/profiles/marianarrpp Mídias Sociais e Eleições 2010 15 com seus milhões de usuários de Internet, vai utilizar esse potencial de audiência, com- partilhamento e relacionamento nas estraté- gias das campanhas? Repetirá o sucesso da campanha de Barack Obama? Os eleitores terão acesso a mais informações sobre seus candidatos, ajudando no processo transpa- rente de escolha do voto? Estes eleitores poderão se auto-organizar em movimentos políticos através da web? Os candidatos vão usufruir do potencial de troca e conversa- ção da web que, além da quebra de barreiras geográficas, possibilita uma aproximação maior do político com sua base eleitoral? Todas estas questões circundavam não só a cabeça do estrategista de campanha polí- tica, mas também a do eleitor conectado e interessado em saber como a internet con- tribuiria para a consciência política do país, ambos se deparando com um ambiente novo de construção de relacionamentos e conversação com eleitores. É possível comparar as campanhas? Como dito anteriormente, a estratégia digital da campanha Obama já foi revista e debati- da muitas vezes, em diferentes de formatos. Desde a simples criação e alimentação de perfis oficiais nas principais mídias sociais (e uma dedicação especial para a conta ofi- cial do candidato no Twitter, o que chamou a atenção de muitos descrentes no poder da ferramenta) até a criação de uma rede social online própria - a MyBarackObama.com - que possibilitava a interação entre seus par- ticipantes, a estratégia digital da campanha de Obama é a maior referência de sucesso de ferramentas de mídias sociais em uma campanha política. O problema de adotar esse modelo cegamen- te é que desconsideraríamos as diferenças es- truturais entre o processo político do Brasil e o dos EUA, ignorando questões fundamen- tais, como: a não-obrigatoriedade do voto nos Estados Unidos e a consciência política da população; a estrutura político-partidária dos países (que é completamente diferente, principalmente pela dicotomia presente nas eleições norte-americanas) e o processo de escolha dos candidatos dos partidos, já que no Brasil estes são decididos apenas pelos membros políticos das coligações e, nos Es- tados Unidos, são eleitos nas prévias com voto popular dos filiados aos partidos; o sis- tema de financiamento das campanhas e os recursos para propaganda eleitoral (as cotas televisivas gratuitas, por exemplo, inexistem na campanha norte-americana, o que exigiu maior atenção aos investimentos em estraté- gias para o mídia digital). A lista de diferenças fundamentais entre o processo político no Brasil e nos Estados Unidos é extensa e, por si só, já seria jus- tificativa para que a campanha digital de Barack Obama não servisse de parâmetro para a campanha digital dos candidatos a cargos públicos no Brasil. Mas outros fa- tores também devem ser destacados nessa análise comparativa: não bastam as diferen- ças entre os processos políticos nos países, ainda devemos considerar o enorme abis- mo digital entre Brasil e Estados Unidos. Os norte-americanos somam mais de 2401 milhões de usuários conectados à internet, enquanto no Brasil somos 67,52 milhões de usuários, menos de um terço. Outro exem- plo é a velocidade média da banda larga: nos EUA é de 4,6 Mbps, enquanto no Bra- sil a média3 é de 1,36 Mbps. E, muito além dos números, destacam-se também as faci- lidades de acesso à web, o investimento em 1 Internet World Stats - www.internetworldstats.com/am/us.htm 2 Internet World Stats - www.internetworldstats.com/sa/br.htm 3 Akamai, 2010. http://www.akamai.com/stateoftheinternet/ 16 tecnologia na educação, os hábitos culturais da população em relação ao uso da web, dentre tantas outras questões. Como esperar que as estratégias de campa- nha adotadas pela equipe de Barack Obama sejam compatíveis com a realidade brasilei- ra? Como exigir a mesma importância da internet no pleito eleitoral, sendo que os Estados Unidos contam com 3/4 da po- pulação com acesso à internet, enquanto essa proporção é de 1/3 no Brasil? Como trabalhar de maneira semelhante com pú- blicos tão heterogêneos (culturalmente e politicamente) como a audiência brasileira e a norte-americana? Partindo destas considerações, percebemos o quanto perderemos tempo ao comparar apressadamente as estratégias digitais das campanhas políticas destes países, ao invés de tentar identificar quais foram as influên- cias que foram adaptadas à realidade elei- toral brasileira com sucesso, sem o peso de que tenham os mesmos resultados. É pre- ciso olhar o processo de forma mais ampla, não se limitando a observar ações e ferra- mentas, mas sim os pilares estratégicos da campanha digital. Para exemplificar, podemos identificar ma- croestratégias da campanha de Barack Oba- ma que foram adotadas e readaptadas pelas campanhas dos três principais candidatos à presidência do Brasil: Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva. Centrais de boatos Centralizar possíveis inverdades em uma página do site oficial, com todas as infor- mações para desmentir o ocorrido, foi uma das principais estratégias da campanha de Barack Obama, já que o candidato era relativamente desconhecido pela grande maioria da população norte-americana e atraiu uma série de histórias consideradas caluniosas sobre seu passado. No Brasil, a influência foi clara: os três candidatos ado- taram postura semelhante em seus sites oficiais de campanha. Marina Silva, candi- data pelo PV, possuía uma área reservada (porém tímida) no site para as Perguntas Frequentes, em que respondia questões polêmicas como sua posição sobre aborto, religião, casamento homossexual, dentre outros alvos de boataria. Dilma Rousseff, candidata do PT, e José Serra, candidato do PSDB, dedicaram espaços e esforços maiores para o assunto– já que eram os dois principais candidatos e, consequente- mente, os mais atingidos. O site oficial de José Serra também conta- va com uma área de Perguntas Frequentes, que respondia dúvidas de eleitores como políticas para concursos públicos, privati- zações, meio-ambiente, entre outros. Além disso, uma seção mais específica, chamada Combata a Mentira, trazia textos que escla- reciam histórias mais elaboradas, como o suposto aborto de sua esposa Mônica Serra, desmentido em nota oficial no site. A cen- tral de boatos se tornou uma das áreas mais visitadas e compartilhadas do site oficial do candidato. Já a campanha de Dilma Rous- seff criou uma força-tarefa semelhante para combater boatos a respeito da candidata: o Espalhe a Verdade. Além dos desmentidos, a página também contava com orientações a militantes sobre como disseminar a infor- mação verdadeira para suas redes sociais. O Espalhe a Verdade também contava com uma central telefônica para receber as de- núncias, com números específicos para cada capital do país. Na campanha de Oba- ma, o uso de centrais telefônicas foi intenso e, como se pode ver, também influenciou a campanha brasileira. Mídias Sociais e Eleições 2010 17 Estas páginas focadas em esclarecer boatos foram de suma importância para o proces- so eleitoral brasileiro, principalmente para dois tipos de eleitores: o indeciso (ajudan- do a conhecer melhor os candidatos) e o militante (fornecendo argumentos que o ajudavam a convencer outros eleitores). Em ambos os casos, a existência de páginas centralizando desmentidos em caráter ofi- cial é uma das influências diretas da campa- nha norte-americana que também alcançou o sucesso em terras brasileiras. Doações pela internet Osite oficial de Barack Obama foi um dos grandes responsáveis pelas arrecadações de donativos para a campanha. A chamada para doação ocupava posição de destaque na página inicial – e o processo para doar era facilitado em poucos cliques. No Brasil, infelizmente não repetimos este sucesso. A candidata Marina Silva, que dispunha de um orçamento menor de campanha, foi a que mais investiu neste sistema de doações pela internet. A chamada também ocupava po- sição de destaque na página inicial do site, e o processo para doação se realizava em pouco mais de alguns cliques. A campanha da candidata Dilma também possuía um sistema de doações com destaque no site oficial – um pouco mais complexo que o de Marina, já que exigia mais passos e cliques. O site de José Serra não disponibilizou o recurso de doação via web. Primeiramente, devemos considerar as questões de financiamento de campanha eleitoral: culturalmente falando, o brasi- leiro não tem o hábito de contribuir para campanhas políticas como pessoa física. E, ainda falando sobre hábitos: é injusto comparar a quantidade de pessoas que fazem transações financeiras na internet (compras, pagamentos, doações) no Brasil e nos EUA. Ainda que a cada ano essa es- tatística cresça e cada vez mais brasileiros passem a “confiar” no sistema de paga- mentos online, esse número ainda é baixo. Ao somar estes fatores (pessoas que não fazem transações financeiras na internet e que não doam para campanhas políticas), temos um cenário em que a arrecadação online de doações não obteve o mesmo sucesso que a campanha de Obama. Ainda assim, é possível que estes primeiros pas- sos de incentivo à doação online ajudem a tornar o hábito cada vez mais comum entre os cidadãos brasileiros. Militância digital e cobertura colaborativa Uma das iniciativas de maior sucesso da campanha digital norte-americana foi a criação da rede social MyBarackObama. com, que centralizava conteúdo, orien- tações e ferramentas para eleitores que apoiavam o candidato, os “militantes” da campanha. A rede oferecia possibi- lidades como a criação de seu próprio blog de apoio (com o domínio “your- name.barackobama.com”), e incentivos aos militantes para que participassem da cobertura de eventos em tempo real enviando seus vídeos e fotos para o site. Além de estimular o compartilha- mento de conteúdo pró-candidato nas redes sociais, esta rede também se tor- nou ponto de encontro de militantes e discussão de estratégias para ajudar na campanha, uma incubadora de idéias e sugestões vindas diretamente dos eleito- res. Este reconhecimento dos cidadãos como parte do processo eleitoral faz parte da estratégia de relacionamento com o público, valorizando o conteúdo e participação do usuário e possibilitan- do a transformação dos eleitores em, de fato, militantes da causa. 18 No Brasil, esta estratégia foi adotada com sucesso pelos principais candidatos à Pre- sidência: as áreas reservadas para a “mili- tância digital” ocupavam posições de desta- que nos sites oficiais, oferecendo diversos recursos para os eleitores que desejassem participar ativamente da campanha: espa- ços de participação e colaboração (em que os eleitores poderiam discutir os planos de governo), fóruns e postagens de comentá- rios, tutoriais de como usar determinadas ferramentas (transmitir eventos, participar de movimentos no Twitter), e ambientes de interação entre os próprios eleitores. As chamadas “coberturas colaborativas” tam- bém tiveram grande importância para as estratégias digitais das campanhas brasilei- ras, pois forneciam conteúdo exclusivo em tempo real dos eventos – que, além de ser disseminado nas redes sociais, reforçavam o relacionamento com estes ativadores que enviavam o material. Twitter oficial Um dos maiores destaques na estratégia de campanha norte-americana, Barack Oba- ma - o político com o maior número de se- guidores do mundo - se tornou referência de boas práticas no uso da ferramenta – e não só entre os políticos. A integração com outras redes sociais também fez do Twitter um dos principais agregadores de notícias sobre a campanha: nos posts do microblog, eram referenciadas as fotos do Flickr, os vídeos do Youtube, a página oficial no Fa- cebook, fazendo que os outros canais tam- bém se fortalecessem. Entretanto, pouco depois da vitória nas eleições, Obama de- clarou que nunca usou o Twitter de fato: as postagens eram coordenadas por uma as- sessoria responsável. E até isso influenciou o posicionamento dos perfis no Twitter dos candidatos à Presidência. O perfil oficial de Marina Silva no Twitter, criado em janeiro de 2010, contava com mais de 270 mil seguidores no dia da eleição. Através dele, a candidata informava agen- da, plano de governo, opiniões, concedia respostas a questionamentos de eleitores, entre outros. As postagens eram realizadas pela própria candidata e por sua assesso- ria. O perfil de Dilma Rousseff, criado em abril de 2010, contava com mais de 240 mil seguidores no dia 3 de outubro. Os tweets tratavam basicamente sobre a agenda da candidata, além de posições sobre aconteci- mentos do dia e agradecimentos públicos. A candidata também direcionava mensagens a outros usuários, mas com menor freqü- ência do que os outros candidatos. Ainda assim, o conteúdo postado no perfil oficial era intensamente distribuído pelas redes de apoio à candidata, como os perfis @dilma- narede e @dilmanaweb. Já o perfil de José Serra, criado em maio de 2009 (cerca de 1 ano e meio antes do pleito eleitoral), teve destaque pela quantidade de seguidores (mais de 470 mil em 03/10, quase o dobro das outras candidatas), e também pela pe- culiar forma de atualização do perfil: geral- mente nas madrugadas adentro, rendendo o apelido de “indormível”. O perfil tratava de assuntos como agenda, plano de gover- no, opiniões, respostas a eleitores e, não se limitando a assuntos políticos, comentários sobre música, filmes, livros. O presidenci- ável fez questão de mostrar a pessoa além do candidato,ainda que nos últimos dias de campanha o perfil tenha adotado uma pos- tura mais eleitoreira. Neste quesito, a comparação dos perfis dos candidatos à presidência do Brasil com o perfil do candidato à presidência dos Esta- dos Unidos também incorre em um erro: o Twitter teve um peso maior na estratégia Mídias Sociais e Eleições 2010 19 digital das eleições brasileiras do que nas norte-americanas, e acabou muitas vezes por pautar a mídia chamada “tradicional”. Declarações dos candidatos em seus per- fis acabavam ultrapassando os limites da internet: apareceram como tópicos em entrevistas televisivas e ganharam páginas em jornais e revistas. Comparativamen- te falando, no sentido de conversar com o eleitor, os candidatos brasileiros deram um passo além da estratégia Obama, que raramente respondia eleitores e se limita- va a distribuir informação em formato de broadcasting. Conteúdo oficial da campanha x conteúdo do eleitor Para enriquecer a discussão, uma das prin- cipais diferenciações que devem ser feitas é a de que a estratégia de campanha oficial dos candidatos, principalmente a digital, não responde pela campanha como um todo. Por exemplo: a campanha do can- didato X adota uma política responsável em relação a envios de e email-marketing. Entretanto, não há como se ter controle sobre as correntes de e-mails e spams que são enviados pelos próprios eleitores, mi- litantes ou simpatizantes do candidato – que evidentemente não seguem a política de envios da campanha oficial. Em uma associação precipitada, os eleito- res acabaram por confundir e declarar que “a campanha do candidato X está pratican- do spam” – ainda que por muitas vezes os estrategistas nem tivessem conhecimento sobre esta ou aquela corrente de e-mails. É apenas um exemplo, mas existem dezenas de situações em que as campanhas oficiais são facilmente confundidas pelas campa- nhas “naturais”, feitas pelos próprios elei- tores. É um reflexo da democratização das ferramentas de produção de conteúdo, como câmeras digitais, webcams e programas de edição de áudio e vídeo, da populariza- ção do uso de e-mail e redes sociais onli- ne e da possibilidade de compartilhamento em tempo real na web. Não é novidade que cada vez mais as pessoas produzem conteú- do (textos, fotos, vídeos, áudios), publicam em seus perfis e enviam para seus amigos. No processo eleitoral não foi diferente: eleitores queriam participar ativamente da campanha de seu candidato, seja enviando material próprio, seja distribuindo informa- ção. Qualquer pessoa pode fazer um e-mail com um vídeo amador e enviar para seus contatos, valorizando seu candidato ou de- negrindo a imagem do adversário - e esse e-mail pode ser repassado muitas vezes, atingindo milhares de pessoas. Assim, a linha que separa a campanha “ofi- cial” da campanha “não-oficial” é muito tênue: além dos eleitores, muitos analistas e pesquisadores também não fizeram essa diferenciação, o que acaba limitando a aná- lise da estratégia de campanha digital em si mesma, e seus resultados diretos. Em al- guns casos, a campanha oficial absorve este conteúdo gratuito e adota como parte da estratégia; em outros, o material não pode ser utilizado por conteúdo vetado pela le- gislação eleitoral. Mesmo assim, a esta as- sociação entre as campanhas existe e tem suas conseqüências positivas (como vídeos de apoio e sugestões) e negativas (caso o conteúdo não-oficial ofenda o outro can- didato). Considerações finais O que se pode perceber ao analisar a influ- ência da campanha de Barack Obama nas eleições brasileiras é que, apesar de realida- des distintas, algumas ações enriqueceram o processo político como um todo, trazendo 20 mais informação e conteúdo para o eleitor conectado e abrindo espaço para que este se expressasse e participasse ativamente da campanha do candidato. No que concerne às ações pontuais (como jogos, aplicativos para iPhone e outros artefatos técnicos), as diferenças são evidentes e refletem o “in- sucesso” das estratégias digitais brasileiras perante à campanha Obama. Mas, consi- derando as macroestratégias da campanha Obama que foram adotadas e readaptadas, obtivemos resultados expressivos para a re- alidade política brasileira. A intenção aqui não é afirmar que a cam- panha digital brasileira foi melhor ou pior do que a norte-americana, e sim apontar as diferenças básicas que devem ser conside- radas neste ato de comparação. De fato, a influência da campanha Obama proporcio- nou uma série de benefícios e aprendizados para o processo político brasileiro, mas os principais resultados vieram de tentativas e experimentações aliadas à realidade do Brasil, o que com certeza irá influenciar as próximas eleições, quem sabe até de outros países. Dizer que o Brasil não agregou bons resultados em mídias sociais nas eleições de 2010 é injusto e precipitado: mesmo com tanta disparidade cultural e intelectual, re- cursos financeiros menores e uma situação política desgastada como a nossa, as cam- panhas digitais do país avançaram impor- tantes passos em direção a um pleito em que o eleitor é convidado a se informar, debater e realmente participar do processo eleitoral brasileiro. Os próximos passos irão refletir essas primeiras iniciativas de aproxi- mar candidatos, eleitores e política através da web, tornando a decisão pelo voto cada vez mais bem informada, participativa e transparente. Uma Análise das Comunidades do Orkut Voltadas para Presidenciáveis nas Eleições Brasileiras de 2010 Por Ruan Brito Uma Abordagem sobre a Vida Coletiva Contemporânea N a Contemporaneidade, a vida coletiva pode ser compreen- dida a partir de características bastante específicas, e que se contrapõem de maneira mar- cante ao que foi predominante na época moderna. A partir das últimas décadas do século XX, uma série de estudos e formu- lações teóricas relevantes aponta para mu- danças profundas em processos sociais e culturais. De maneira geral, vivemos uma época marcada pela instabilidade institucional e pela reconfiguração de conceitos centrais segundo o paradigma da Modernidade. O processo de globalização das últimas déca- das provoca um conjunto de permanentes fluxos – de natureza comercial, financeira, informacional e humana – os quais deses- tabilizam noções tradicionais e demandam a revisão de figuras clássicas, em torno das quais a sociedade organizou-se por muitos séculos. Instituições que funcionaram como referências centralizadoras – Família, Esco- la, Igreja, Estado etc. – entram em crise, e Graduado em Comunicação Social – Publicidade pela Universidade Federal do Pará; mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia (na linha de Cibercultura); especializando em Comunicação e Política pela Universidade Federal da Bahia; pesquisador do GITS – Grupo de Pesquisa em Interação, Tecnologias Digitais e Sociedade. Palavras-chave: Comunidade, Orkut, Eleições, Presidenciáveis. www.crapula-mor.blogspot.com www.twitter.com/CrapulaMor 22 a sociedade revela-se heterogênea e frag- mentada. Para Stuart Hall (1999), trata-se de uma mudança estrutural que fragmenta elementos culturais de classe, gênero, etnia, raça, nacionalidade, que no passado cir- cunscreviam nossas individualidades e nos- sas identidades pessoais. É possível dizer que, enquanto a proposta da Modernidade contempla relações sociais estáveis, finalistas, contratuais, e um sujei- to racionalizado e individualista; o estilo de vida contemporâneo, por sua vez, é mar- cado por interações mais efêmeras, afetivas e voltadas para o presente, o sujeito pós- moderno demonstra-se plural e afeito as diversas formas de agregações sociais. Neste cenário, temos que o sujeitoatual de- fine-se menos por uma identidade – defini- da, unidimensional e já acabada, e mais por identificações – múltiplas, diversificadas e não necessariamente coerentes entre si, uma vez que tal sujeito circula por uma di- versidade de grupos, estilos, experiências e formas de expressão. A figura do indivíduo isolado e ego-centrado, central nas formu- lações sociológicas, históricas, psicológicas e políticas da Modernidade, cede espaço a uma persona contemporânea, eminentemen- te relacional, de tendência comunitária, e que só pode ser compreendida em relação ao outro (MAFFESOLI, 1996). Este novo cenário favorece agregações so- ciais caracterizadas pela afetividade, em- patia e espontaneidade. Podemos mesmo falar em uma espécie de sinergia coletiva, uma atração social que se dissemina pela vida contemporânea. Mesmo as situações mais cotidianas ou banais podem conter este vitalismo criativo. Trata-se de um mo- vimento coletivo que compele as pessoas a se reunirem nas mais diversas ocasiões, para compartilhar seus pensamentos e emoções. As experiências, as sensações e os prazeres passam a adquirir maior sentido quando compartilhados com o grupo. Assim, ga- nham destaque as práticas denominadas comunitárias. “É a comunidade, ou melhor, as comuni- dades particulares, onde se despedaça o arquétipo tönnesiano, que sucede à socie- dade moderna, em uma fase marcada pela crise do paradigma estatal e pela difusão do conflito multicultural. Nesse caso, a comunidade não é mais entendida como um fenômeno residual no que diz respei- to às formas socioculturais adotadas pela modernidade, e sim como uma réplica à insuficiência do seu modelo individualís- tico-universalista: é a mesma sociedade dos indivíduos, já destruidora da antiga comunidade orgânica, que agora gera novas formas comunitárias como reação póstuma à própria entropia interna” (ES- POSITO, 2007, p. 16). O sujeito da contemporaneidade pode ser considerado como componente, a parte que precisa encontrar seus pares para for- mar o todo, numa permanente busca pela alteridade. Aqui, a ênfase está na troca, na partilha, na simbiose entre os diversos integrantes dos grupos sociais, ainda que de modo informal e sem maiores enga- jamentos em projetos ou ideologias mais sólidas. Este traço sociológico é definido por Maffesoli (1996) como um novo tipo de interação: a socialidade. Enquanto a so- ciabilidade, moderna, vinculou-se a uma concepção de mundo produtivista e objeti- va; a socialidade diz respeito às práticas mais frívolas e efêmeras. Com esta noção, o au- tor refere-se a micro-ligações cotidianas, atividades triviais de socialização, espécies de ‘neotribos’, despretensiosas, freqüen- temente recreativas e aparentemente sem importância, mas que moldam nossa época e nossa cultura. Mídias Sociais e Eleições 2010 23 Com isto, várias esferas da vida em socie- dade passam a ser influenciadas por esta ló- gica da tribalização. Desde reuniões de mo- radores de uma localidade, de estudantes, trabalhadores, simpatizantes de uma causa, manifestantes, praticantes de uma ativida- de ou de um esporte, admiradores de uma arte ou celebridade, até as festas, concertos, shows, raves, exposições etc., por mais pas- sageiras que sejam, e ainda não produzam um resultado formal, todas refletem esta tendência socializante típica da Contempo- raneidade, que reúne aqueles com um pen- samento, um sentimento comum ou algo a compartilhar. Na música, no entretenimento, na religião, nos meios profissionais, na política, enfim, em diversos ambientes, surgem reuniões temporárias, agrupamentos espontâneos, ou ainda, Comunidades nos moldes con- temporâneos. Nesta perspectiva, as carac- terísticas comunitárias não refletem mais os valores clássicos de profundo comprometi- mento, compartilhamento de experiências marcantes, laços humanos significativos e duradouros, projeções de longo prazo, dentre outros. Esta definição tradicional de Comunidade não é compatível com os traços sociológicos atuais, em que se veri- fica uma atração social descomprometida e afetuosa. A política, em específico, ilustra um con- junto de mudanças típicas desta conjuntu- ra atual. Conceitos clássicos como os de Estado, República, Democracia, campos ideológicos bem definidos, como direita e esquerda, parecem não se adequar mais a este novo cenário sócio-cultural mais flui- do e disperso. O contrato social, proposto pela lógica política moderna, calcado em uma conotação racionalista e produtivista, já não dá conta das demandas, dos confli- tos e dos fenômenos da sociedade de hoje. A própria idéia de uma identidade nacional ou de um “Estado-nação” em que tudo é regulado por um seleto grupo precisa ser rediscutida. A crise da política racionalizada provoca um grave descompasso entre os discursos oficiais, institucionalizados e a vida coleti- va popular. Aqueles que concentram poder (político, econômico ou simbólico) e ocu- pam os espaços de tomada de decisão ca- recem de legitimidade social. As demandas populares, elaboradas de modos cada vez mais complexos e heterogêneos, provocam a falência da própria ação política, e muitas vezes conseguem encontrar saídas que dri- blam as instâncias decisórias. Os mecanis- mos políticos e burocráticos permanecem em inúmeras esferas da vida cotidiana, mas exercem uma função cada vez mais proto- colar e apontam para um esvaziamento de sentido social. Para Maffesoli, “a sabedoria mortífera de nossos dinossauros modernos deixa de estar em sintonia com aqueles que dizem sim à vida; sim, apesar de tudo, à vida! Pois é disso que se trata: da extraordinária defasagem das elites intelectuais e políticas em relação às coisas da vida” (2009, p. 18). É partir desta concepção que Maffesoli (1997) propõe o que denomina de “transfi- guração do político”, ou seja, uma mutação de ordem social e cultural, em que a imagem tradicional da política apóia-se sobre uma figura existente para tornar-se outra coisa. Segundo esta visão, a política, nos termos contemporâneos, apresenta elementos for- temente comunitários. Os grandes projetos e ideários são progressivamente suprimidos por uma predisposição à associação, a um conexionismo, à formação de Comunida- des pós-modernas. 24 O Papel das Comunidades Virtuais em Nossa Época Nesta cadeia de mudanças do tipo mais profundo que vivenciamos, verifica-se que a Comunidade adquire relevância e precisa ser compreendida em novos termos. E, na- quilo que se refere à tendência gregária da Contemporaneidade, é necessário ressaltar o papel das tecnologias digitais. Na ambi- ência online, temos mais uma maneira de proporcionarmos encontros e associações, as mais diversas, de acordo com preferên- cias, afiliações, hábitos, identificações etc. sem a necessidade de co-presença física. André Lemos (2004) reporta-se à noção de cibersocialidade para referir-se ao tipo de interação descrita por Maffesoli, mas que se dá por meio das tecnologias do ciberespaço. Para este autor, o vitalismo social de nossa época pode ser potencializado pelas tecno- logias digitais, as quais favorecem as situa- ções lúdicas e os processos comunitários. Por sua vez, Pierre Lévy (1999) compreende que não é possível compreender o técnico e o social como pólos desassociados. Para que determinada ferramenta tecnológica torne-se disseminada e profícua na socieda- de, é necessário que os sujeitos apropriem- se destas ferramentas, ou seja, que haja um ambiente social que torne pertinente o uso das ferramentas técnicas. No caso, a inter- net configura-se como uma tecnologia alta- mente adequada para nossa época, uma vez que promove processos de colaboração, criação e conexão entre as pessoas. Assim, estes autores enfatizam o papel socializantedo ciberespaço, a possibilidade vinculada às tecnologias digitais de satisfazer o desejo coletivo pelos agrupamentos, pela livre ex- pressão e circulação das idéias, pela comu- nicação recíproca, ainda que mediada pelo computador. Para Lévy, “uma das idéias, ou talvez, devêssemos dizer, uma das pulsões mais fortes na origem do ciberespaço é a da interconexão. Para a cibercultura, a co- nexão é sempre preferível ao isolamento. A conexão é um bem em si” (1999, p. 127). Após participar da Comunidade WELL – Whole Earth ‘Lectronic Link (http://www. well.com/), Howard Rheingold relatou uma experiência com forte envolvimento emocional. O autor afirma: “Eu me impor- to com estas pessoas que eu conheci por meio do meu computador, e eu me impor- to profundamente com o futuro do meio que permite a nossa reunião” (RHEIN- GOLD, 1993, online). Nesta abordagem, uma Comunidade Virtual implica discus- sões públicas entre pessoas, permeadas por suficiente sentimento humano e relações de cunho pessoal. Porém, observa-se que os grupamentos online apresentam varia- dos formatos e graus de envolvimentos en- tre os membros, traços que não podem ser antecipados ou generalizados. Mais recentemente, nos últimos anos da dé- cada de 90 e principalmente nos anos 2000, ganhou força outra forma de socialização na web: os Sites de Redes Sociais (SRSs). As pesquisas científicas voltadas a estas plata- formas online adotam atitude diferente da- quela com a qual as primeiras Comunidades Virtuais foram tratadas. As formulações teóricas e os estudos acadêmicos sobre os SRSs têm mais foco sobre o indivíduo, seu perfil e sua navegação nas redes de cone- xões, do que sobre práticas comunitárias. Segundo Boyd e Ellisson, e possível definir um Site de Redes Sociais como: um serviço baseado na Internet que permite aos indi- víduos (1) construir um perfil público ou semi-público dentro de um sistema conec- tado, (2) articular uma lista de outros usuá- rios com os quais compartilham uma cone- Mídias Sociais e Eleições 2010 25 xão, e (3) visualizar e mover-se por sua lista de conexões e pelas dos outros usuários, no mesmo sistema (BOYD e ELLISSON, 2007). Notadamente, o conjunto destes sites apre- senta variadas propostas e segmentações – muitos se voltaram para grupos específicos (asiáticos, negros, religiosos, fãs de anime, simpatizantes de determinado candidato etc.), outros priorizaram determinados usos (profissional, amoroso, musical etc.); alguns deram certo e tornaram-se bastante popu- lares, enquanto outros tiveram de encerrar suas atividades. De todo modo, guardadas as características particulares, as Redes So- ciais atraem um contingente expressivo de usuários do mundo inteiro, e configuram-se como uma forma relevante de socialização na atualidade. Em nível global, o Facebook (http://www.face- book.com/) atrai o maior número de usuários, com mais de 500 milhões de perfis ativos. Já no Brasil é o Orkut (http://www.orkut.com. br/) que faz maior sucesso de público, com dezenas de milhões de participantes. Nes- te último, as Comunidades são ferramen- tas importantes, reunindo pessoas com as mais diferentes motivações e finalidade. Ainda que o foco deste tipo de site esteja sobre o perfil dos usuários e suas listas de contatos, o Orkut proporciona também a possibilidade da reunião de pessoas com algo a compartilhar. Obviamente, os usu- ários do site de relacionamentos poderão apenas vincular seus perfis à Comunidade, tornando-se um dos membros, ou ainda de- senvolver forte envolvimento com outros participantes, aproximando-se do processo relatado por Rheingold. A este respeito, é preciso examinar cada caso, respeitando as dinâmicas e os princípios específicos de cada agrupamento online. Para os propósitos deste artigo, interessam especificamente Comunidades Virtuais voltadas aos candidatos à presidência da re- pública nas eleições brasileiras de 2010, as quais serão abordadas no próximo item. As Comunidades do Orkut e as Eleições Presidenciais Para este trabalho, foram observadas três Comunidades do Orkut sobre os principais presidenciáveis nas eleições de 2010: “Vo- tamos Dilma Presidente – PT”1, “Marina 1 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=1583686 Silva – PV”2 e “José Serra Presidente”3. No caso das Comunidades dedicadas à Dilma e à Marina, tratam-se das maiores páginas sobre as presidenciáveis existentes no Orkut, à época da pesquisa. Por este motivo, foram selecionadas para compor o artigo. No caso de José Serra, há outra Comunidade com maior número de parti- cipantes, a “José Serra – Presidente”4. No entanto, esta Comunidade foi criada origi- nalmente para vídeos do site Youtube. Por isso, ela não faz parte deste estudo. Consi- derou-se mais conveniente comparar três páginas que estavam, originalmente, volta- das à temática eleitoral. O período designado para a análise, de 15 a 30 de agosto de 2010, foi definido a par- tir de marcos importantes na disputa elei- toral: neste mês houve a primeira rodada de entrevistas com os principais candidatos no Jornal Nacional, da Rede Globo – nos dias 9 (Dilma), 10 (Serra) e 11 (Marina); além disso, no dia 17 teve início o horário eleitoral gratuito. Tais eventos ajudaram a agendar o tema eleitoral perante a popula- 2 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=11934095 3 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=22482901 4 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=355236 26 ção, agregando maior visibilidade às cam- panhas, o que tendia a favorecer a procura por Comunidades dos presidenciáveis no Orkut. No gráfico abaixo, temos as evolu- ções das quantidades de membros nas três Comunidades. Como podemos constatar pelo gráfico, as três Comunidades apresentaram cresci- mento uniforme nas suas quantidades de membros, no período observado. A Co- munidade da candidata Dilma cresceu em torno de 24% em quantidade de membros; a Comunidade da candidata Marina, 16%; e a de Serra, 9%. De fato, com o decorrer da disputa, mais pessoas ingressaram nas Co- munidades dos presidenciáveis analisadas. O crescimento foi permanente e estável ao longo dos 15 dias, nos três agrupamentos. A página da candidata petista, que já assu- mia a dianteira nas pesquisas de intenção de votos naquele mês, foi a que apresentou maior incremento na quantidade de mem- bros. Já a página voltada ao candidato tu- cano, que enfrentava queda nas pesquisas, foi a que apresentou menor crescimento. É interessante verificar que, embora as candidaturas de Dilma e Serra tenham sido maiores em estrutura eleitoral e intenção de votos, ao longo de toda a campanha, foi a Comunidade voltada à Marina que sustentou o maior número de participan- tes, de 15 a 30 de agosto. Isto mostra que a lógica mais geral das eleições não neces- sariamente é reproduzida em determina- da mídia social. No caso, a candidatura de Marina não esteve em patamar inferior às outras duas, no que diz respeito à concen- tração de participantes em Comunidades do site Orkut. Com relação aos tópicos criados no perío- do, temos que, na Comunidade “Votamos Dilma Presidente – PT”, dentre os mais comentados estiveram: “Dilma”, criado pelo usuário Brasil; “cai fora ‘Brasil’ de araque”, criado pela usuária Fabiane; “Dil- ma Presidente? Leia esse topico com aten- çao”, da usuária Letícia; “Dilma abre 17 pontos sobre Serra e venceria no 1º”, do usuário Soldado; e “DEFINAM SERRA EM UMA PALAVRA?”, de Werley. Mídias Sociais e Eleições 2010 27 Na Comunidade “Marina Silva – PV”, os tópicos mais comentados, no período analisado, foram: “Aquecimento Global não existe”, criado pelo usuário Emerson Avelar; “QUARTA-FEIRA TEM DEBA- TE NO UOL / FOLHA”, do participan- te Fernaиdo; “MARINA APÓIA DILMA NO 2° TURNO”, de Uzias; “DEBATEDOS PRESIDENCIÁVEIS – AGORA!”, criado por DU { }; e “ADESIVE SUA FOTO COM O NOME DA MARI- NA 43”, de Marina Silva. Já na “José Serra Presidente”, os tópicos com maior número de mensagens foram: “Novo Ibope”, criado pelo usuário Dio- nísio, “1º debate online entre presidenciá- veis hoje”, da participante MARGARIDA; “Lula no programa de Serra”, de João; “Datafolha : Dilma 17 pontos na frente”, de Rodrigo Guedes; e “Quem foi expulso injustamente?”, de Holger. Percebemos que alguns dos tópicos causa- vam divergência nos grupos, como o tópico “Dilma”, em que o usuário Brasil criticava a candidata petista em sua própria Comuni- dade. Este tópico recebeu forte hostilidade dos outros membros, com a postagem de mensagens e com a criação de outro tópico denominado “cai fora “Brasil” de araque”. O usuário que não era partidário de Dil- ma foi visto pelos outros membros como um estranho, um intruso. De modo similar, tópicos como “Aquecimento Global não existe” ou “Lula no programa de Serra” questionavam bandeiras ou estratégias das respectivas campanhas. Porém, a maior parte dos tópicos e das inte- rações existentes nas Comunidades consis- tia em convergência entre os participantes. As páginas colaboravam para a sedimenta- ção social das candidaturas homenageadas e desqualificação dos adversários, ainda que em certos momentos assumissem tom crí- tico. Os participantes estavam majoritaria- mente preocupados em trocar percepções e debater os encaminhamentos das campa- nhas, os eventos eleitorais e as informações gerais da disputa. Considerações Finais A despeito da intensidade do envolvimen- to pessoal entre os membros, Comunida- des Virtuais como as formadas no Orkut podem refletir um padrão de interação tí- pico de nossa época. Segundo um conjun- to de autores referenciados neste artigo, a compreensão da Comunidade nos termos contemporâneos prevê que tais associações sejam efêmeras, informais e sem maiores engajamentos. As Comunidades Virtuais voltadas a presi- denciáveis analisadas neste artigo funciona- ram, durante as eleições de 2010, principal- mente como fóruns abertos e espaços de encontro entre partidários dos respectivos candidatos. Os conteúdos oficiais das cam- panhas eram apropriados pelos participan- tes, adquirindo novos contornos e novos olhares, eventualmente críticos. As inte- rações nas páginas do Orkut estavam em função do apoio aos candidatos, com pre- domínio da convergência de pensamentos e emoções. 28 Referências Bibliográficas BOYD, D.; ELLISON, N. Social Network Sites: Definition, history, and scholarship. Journal of Computer-Mediated Communication, 13(1), Re- trieved December 10, 2007. ESPOSITO, R. Niilismo e Comunidade. In: PAIVA, R. (Org.). O Retorno da Comunidade: os novos caminhos do social. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007. HALL, S. A Identidade Cultural na Pós-Mo- dernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 1999. LEMOS, A. Cibercultura: Tecnologia e Vida So- cial na Cultura Contemporânea. 2º Ed. Porto Ale- gre: Sulina, 2004. LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. MAFFESOLI, M. A República dos Bons Senti- mentos. São Paulo: Iluminuras, 2009. ______________ A Transfiguração do Político - A Tribalização do Mundo. Porto. Alegre: Sulina, 1997. ______________ No Fundo das Aparências. Petrópolis: Vozes, 1996. RHEINGOLD, H. The Virtual Community: Homesteading on the Electronic Frontier. Rea- ding. Massachusetts: Addison-Wesley, 1993. O papel da militância através das redes sociais durante as eleições Por Gil Castillo N o final de julho de 2010, uma simpática avó de Minessota, nos Estados Unidos, dirige-se à unidade de uma rede de hi- permercados e usa seu poder de compra como forma de protestar contra a empresa. Logo em seguida, um ator britâ- nico envia uma mensagem sobre o assunto pelo Twitter. Tempos depois, no início de setembro, em Moçambique, África, cidadãos saem às ruas, em protesto contra o aumento do pre- ço do pão. Entre uma coisa e outra, no Brasil, em ple- na campanha eleitoral, humoristas fazem passeata, em Copacabana, contra a censura ao humor nas eleições. A avó, o ator, o povo moçambicano, os hu- moristas. O que todos têm em comum? São consu- midores e cidadãos, com uma causa na ca- beça e a tecnologia nas mãos. Publicitária e consultora política, desde de 1992 atua no marketing político nas áreas de planejamento estratégico e criativo. Ao longo de sua carreira, vem trabalhando em diversas campanhas eleitorais e projetos de comunicação, tanto na área pública, quanto na área privada, no Brasil, América Latina e África. Especialista em Propaganda Política, rádio, TV e novas tecnologias de comunicação, é Diretora de Relações Públicas da ABCOP-Associação Brasileira de Consultores Político, membro da ALACOP - Associação Latino-Americana de Consultores Políticos e editora do blog MarketingPolitico.com Palavras-chave: Marketing Político, Eleições, Internet, Cidadania, Política www.marketingpolitico.com.br gil@marketingpolitico.com.br www.twitter.com/gilcastillo www.twitter.com/MktPol 30 A Avó e o ator Eden Prairie, indignada com a informa- ção de que a rede Target havia doado US$ 150,000 para a campanha de Tom Emmer, candidato ao Governo do Estado de Mi- nessota (EUA), entra em uma loja da rede, faz tranquilamente uma compra de US$ 226. Em seguida, procura pela gerência, devolve a compra, explica seus motivos e destroi o cartão de crédito da empresa. Mo- tivo: o candidato do Partido Republicano era declaradamente anti-gay e Eden estava agindo em defesa de seu neto, gay. Esse protesto poderia ter caído no esquecimen- Mídias Sociais e Eleições 2010 31 to se o site de jornalismo colaborativo www. TheUpTake.org não houvesse gravado um vídeo1, mostrando toda a ação, a declaração emocionada da avó e postado em seu canal no Youtube. Enquanto isso, no Velho Continente, o ator, jornalista e tuiteiro britânico Stephen Fry2, defensor da causa gay, envia uma mensa- gem sobre o vídeo com a hashtag #boycott- Target, imediatamente retuitada em massa. 1 Vídeo: Consumer Vents At Target For Right-Wing Donation: http://www.youtube.com/watch?v=2SipXbgyi68 2 Site: http://www.stephenfry.com/ Essa foi apenas uma das frentes de protes- to que, com a rapidez da conexão de cada um, ganhou as páginas do HuffingtonPost3 e um vídeo4 - nos moldes dos comerciais de liquidação da Target -, produzido pelo Mo- veOn.org, dizendo que “a democracia não estava à venda”, direcionando as pessoas à página específica da ação, a www.Target- Boycott.org, entre outros tantos atos e cober- turas da mídia. 3 Notícia - Huffington Post - “MoveOn.Org Calls For Target Boycott In New Ad”: http://www.huffingtonpost. com/2010/08/17/boycott-target-commercial_n_684815.html 4 Vídeo: Boycott Target: http://www.youtube.com/watch?v=- nAuJj7twMI Não cabe (e nem há aqui elementos cientí- ficos para) uma análise profunda sobre as eleições 2010 em Minessota, mas é fato que Tom Emmer perdeu para Mark Dayton, do DFL - Democratic Farmer Labor Party. E, obviamente, a Target, que embora afirme ter uma política favorável à contratação de funcionários gays, teve uma imensa exposi- ção de sua marca relacionada, no mínimo, à intolerância. Os moçambicanos Do outro lado do mundo, no belo país ba- nhado pelo Índico, cuja renda per capita é de US$ 75.005 ao mês, o governo anunciou o aumento de produtos básicos, entre eles o pão. Indignado, o povo utilizou-se do melhor meio de comunicação disponível, o SMS6. Assim como se combina um encon- tro entre amigos, o povo combinou data para sair às ruas e protestar. Infelizmente, não sem uma repressão violenta, que resul- tou em 10 mortos, cerca de 400 feridos e na suspensão dos serviços de envio deSMSs7 5 The World Fact Book: https://www.cia.gov/library/ publications/the-world-factbook/geos/mz.html 6 Notícia - Estadão.com - 08/09/2010 - “Greve é articulada pelo celular em Moçambique”: http://www.estadao.com.br/ estadaodehoje/20100908/not_imp606550,0.php 7 Notícia - Tek - 13/09/2010 - “Mensagens SMS bloqueadas em Moçambique”: http://tek.sapo.pt/noticias/ 32 pelos dias seguintes. Não fosse a rapidez da tecnologia, talvez as manifestações não ti- vessem acontecido, nem haveria um olhar da mídia mundial para o assunto. O Jornal moçambicano “O País”8, chegou a usar uma plataforma colaborativa, em sua versão online, para que os cidadãos reportassem os focos de protestos e de repressão tanto na capital, Maputo, quanto nas províncias. Foi essa exposição, antes improvável num mundo analógico e sem a participação do cidadão como produtor de informação, que forçou o governo moçambicano a recuar, naquele momento, cancelando o aumento dos produtos e serviços, preocupado com uma exposição negativa de sua “marca ins- titucional”, já que tenta posicionar-se inter- nacionalmente como um governo demo- crático e progressista, distanciando-se da imagem totalitária de um grupo que está no poder há mais de 40 anos. Os Humoristas No “país da piada pronta”, humoristas saem às ruas para terem o direito de fazer humor9. A questão pareceria até engraça- telecomunicacoesmensagens_sms_bloqueadas_em_ mocambique_1091826.html 8 Site: http://www.opais.co.mz 9 Notícia - O Globo - 22/08/2010 - “Humoristas fazem passeata da se não representasse a grande pérola no quesito “legislação eleitoral ultrapas- sada”, principalmente nas questões rela- tivas à comunicação. Depois de anos de lutas, discussões, emen- das e remendos na Lei Eleitoral, com um atraso de uns 10 anos, houve uma maior abertura para o uso da internet nas elei- ções. Mas, num completo contra-senso, o texto da nova Lei manteve a proibição de se fazer piadas com candidatos no rá- dio e na TV, fato que há muito já havia se tornado obsoleto na internet. E foi pela própria internet, através do Twitter e das redes sociais, que o evento ganhou força, sensibilizou a opinião pública e deu aos humoristas o direito a usar tanta matéria- prima valiosa para nos fazer rir e sermos críticos com aqueles que são pagos pelos nossos impostos. Os três episódios citados, num mar de casos que poderiam ilustrar este texto, servem para nos fazer refletir sobre a di- nâmica da descentralização do poder da em Copacabana contra a lei eleitoral”: http://oglobo.globo. com/pais/eleicoes2010/mat/2010/08/22/humoristas-fazem- passeata-em-copacabana-contra-lei-eleitoral-917452251.asp informação e do grande potencial mobili- zador que as novas tecnologias nos colo- cam à disposição. Para o sociólogo francês Dominique Wol- ton, que cunhou o conceito de “sociedade individualista de massa”10, apesar de com- partilhar sobre a importância da internet para a comunicação, não se diz um fasci- nado por ela como construtora da demo- cracia, porque “só funciona para formar comunidades (...) e não sociedades”11 onde, afirma, é preciso conviver com as diferen- ças. Ao rádio, à TV e à imprensa estariam destinados os papéis de coesão social. Ape- sar de não concordar cegamente com Wol- ton, acredito que seu pensamento é uma das peças para explicar o papel que as no- vas tecnologias estão desempenhando sim na constituição das sociedades, sobretudo quando usadas nos processos eleitorais. Para explicar-me melhor, busco a ajuda do antropólogo Néstor Gacía Canclini, que 10 Livro: “Internet, E Depois? Uma Teoria Critica Das Novas Midias”, Wolton.Dominique, Editora Sulina 11 Entrevista - Folha de São Paulo - 09/11/2010: http://www1. folha.uol.com.br/equilibrioesaude/827509-facebook-so-disfarca- falta-de-relacoes-humanas-diz-sociologo.shtml Mídias Sociais e Eleições 2010 33 em seu livro “Consumidores e Cidadãos”12 alerta que a globalização não é um mero mecanismo de homogeneização, mas na verdade um reordenamento das diferenças e das igualdades. Nesse processo, vamos deduzir, para desenvolvimento de nosso questionamento, que o papel de um consu- midor cada vez mais crítico, que estabelece relações racionais e emocionais com mar- cas, produtos e serviços, seja uma imensa escola para o exercício da cidadania global e da própria discussão política, sobretudo através do uso das novas tecnologias. O uso das redes sociais digitais e das fer- ramentas de interação têm proporcionado ao consumidor-cidadão a oportunidade de informar-se, comparar, trocar idéias e ex- pressar suas preferências políticas, mobili- zando-se por causas nas quais acredita. Numa licença poética, mesclando os dois pensamentos, temos as pessoas que procu- ram e se organizam em grupos afins e ponto, como afirma Wolton, mas que também es- tão exercitando suas semelhanças e diferen- ças, através de confrontos e questionamen- 12 Livro: “Consumidores e Cdadãos”, Canclini, Néstor García, Editora UFRJ tos entre seus grupos diversos, de maneira cada vez mais global, como nos diz Canclini. E é essa dinâmica que nos leva à militância, ao engajamento, características fundamen- tais para se entender a comunicação política na rede. Características essas que nos fazem assinarmos um manifesto pela libertação de Sakineh13, no Irã, com a mesma convicção com que tuitamos nossas hashtags e aderimos 13 Site: http://www.liberdadeparasakineh.com.br/ ao abaixo-assinado pelo Ficha Limpa14. Ou com que algum intolerante na Catalunha, Es- panha, joga um game online15 em que é preciso eliminar imigrantes, ou outro intolerante, na Alemanha, prefere destruir mesquitas, através de um game chamado “Moschee Ba ba!”16 14 Site: http://www.fichalimpa.org.br/ 15 Notícia - UOL - 17/11/2010: http://forum.jogos.uol.com. br/game-que-elimina-imigrantes-causa-polemica-em-campanha- eleitoral-catala_t_1172434 16 Site: http://www.moschee-baba.at/ 34 E as eleições no Brasil? Em junho de 2010, num artigo para a Re- vista Campaigns & Elections en Español, es- crevi sobre aspectos que considerava mui- to claros sobre as eleições no Brasil com o uso da internet: primeiro que, embora o caso Obama fosse uma grande referên- cia, provavelmente não teríamos uma re- petição dos fatos por aqui, por motivos óbvios; segundo, que seria um grande la- boratório para todos nós, cidadãos, polí- ticos, profissionais de comunicação, pro- fissionais de TI, consultores etc. Terceiro, que a estratégia da campanha deveria ser única e integrada: existe marketing eleito- ral e seu planejamento deve contemplar todas as frentes; por último, que 2010 se- ria a eleição da militância on-line, que já vinha se destacando, através de projetos muito interessantes, bem antes do perío- do eleitoral. No artigo, cheguei a citar três exemplos: a rede de blogs de apoiadores de Dilma, o www.Dilma2010.blog.br, pos- teriormente - e sabiamente - incorporada pela campanha do PT; o caso do “Mo- biliza PSDB” (www.mobilizapsdb.org. br), que durante a campanha tornou-se o “Mobiliza”, com ótimas ações interativas e agora está fora do ar; e o site de Marina Silva, espelhando-se num perfil parecido ao de Obama, o www.minhamarina.org. br, que continua no ar e atualizado, ponto importantíssimo para quem ganhou a ex- posição e votação expressiva de Marina, mas ficou sem mandato. À época da publicação do artigo, algumas pessoas torceram o nariz, umas porque en- xergavam a internet como protagonista iso- lada destas eleições e com potencial muito maior na conquista do voto, outras porque subestimavam sua importância, entenden- do o ambiente como um veículo de massa, estático, de monólogos e não segmentado, dinâmico e para o diálogo, como na reali- dade é. Na prática, o que vimos pelo Brasil afora foi
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