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RESUMÃO DE RELAÇÕES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS: TEXTOS 1 A 6 
 
TEXTO 1: A Grande Transformação – As origens da nossa época (Polanyi) 
- Dica: o texto é bastante conflituoso nas idéias, ele joga um argumento e logo depois destrói 
esse argumento citado, é bem confuso, mas vou colocar aqui o argumento que ele mais cita e 
que no fim “ganha”, utilizando as palavras dele. 
 
3 “Habitação versus progresso” (começa no cap 3 mesmo) 
 
- Ideia central: a essência do puro progresso econômico alcançara o seu aperfeiçoamento à 
custa de uma desarticulação social. 
- No século XVIII ocorreu um progresso miraculoso nos instrumentos de produção, 
acompanhado por uma catastrófica desarticulação nas vidas as pessoas comuns. 
- O liberalismo econômico interpretou mal a história da Revolução Industrial porque insistiu 
em julgar os acontecimentos sociais a partir de um ponto de vista econômico. 
- Para ilustrar a mudança nos padrões de vida das sociedades, estuda-se os cercamentos dos 
campos abertos e as conversões de terra arável em pastagem durante o primeiro período dos 
Tudor na Inglaterra. 
- Cercamentos: os senhores e nobres literalmente roubavam o pobre na sua parcela de terras 
comuns, demolindo casas que até então, por força de antigos costumes, eram consideradas 
como suas e de seus herdeiros. 
- Os cercamentos seriam um progresso óbvio se não ocorresse a conversão em pastagens já 
que a terra cercada vali duas ou três vezes mais da não cercada e onde a terra era cultivada 
não diminui empregos e aumentou o suprimento alimentar. 
- Mesmo com o cultivo de carneiros para a produção de lã dava empregos a pequenos 
posseiros e agricultores sem terra, e os novos centros de indústria de lã garantiam a renda a 
uma quantidade de artesãos. Entretanto ainda faltava uma economia de mercado para que 
esses efeitos tenham sido compensadores da conversão em pastos e cultivo de carneiros. 
(Lembrete: a Revolução Industrial na Inglaterra foi impulsionada principalmente pela indústria 
têxtil que precisa da lã do carneirinho, por isso é importante). 
- Os historiadores do sec XIX são unânimes em condenar a política dos Tudors e dos 
primeiros Stuarts como demagógica, se não inteiramente reacionária. Suas simpatias se 
inclinam naturalmente para o Parlamento, e esse organismo era favor dos cercamentos. Com 
efeito, a legislação anticercamento parece jamais ter consigo impedir o curso do movimento 
de cercamentos, nem parece mesmo tê-lo obstruído seriamente. 
- Entretanto, a Inglaterra suportou, sem grandes danos, a calamidade dos cercamentos, sem 
grandes danos, apenas porque os Tudors e os primeiros Stuarts usaram o poder da Coroa 
para diminuir o ritmo do processo de desenvolvimento econômico, até que ele se tornou 
socialmente suportável – utilizando o poder do governo central para socorrer as vítimas da 
transformação e tentando canalizar o processo de mudança de froma a torna o seu curso 
menos devastador. 
- Mas num certo sentido essa ruptura causou um dano infinito, pois ajudou a obliterar da 
memória da nação os horrores do período dos cercamentos e as realizações do governo para 
superar perigo do despovoamento. 
- O comércio marítimo também foi a fonte de um movimento que afetou o país como um todo, 
foi ainda o progresso como um todo nas sua escola mais grandiosa, que acarretou uma 
devastação sem precedentes nas moradias do povo comum. 
- Causas, na opinião do autor, para a Rev. Industrial: expansão dos mercados, presença do 
carvão e do ferro, clima úmido propício à indústria do algodão, multidão de pessoas 
despojadas pelos novos cercamentos, existência de instituições livres, invenção de máquinas. 
- Quando as máquinas complicadas e estabelecimentos fabris começaram a ser usados para 
a produção numa sociedade comercial, começou a tomar corpo a idéia de um mercado auto-
regulável, a motivação do lucro passa a substituir a motivação da subsistência, todas as 
transações se transformam em transações monetárias e estas, por sua vez, exigem que seja 
introduzido um meio de intercâmbio em cada articulação da vida industrial. 
- A transformação da economia anterior para esse sistema mostra um crescimento contínuo e 
desenvolvido mesmo que a desarticulação por tais engenhos devem desorganizar as relações 
humanos e ameaçar o aniquilamento do seu habitat. 
 
4 Sociedades e Sistemas Econômicos 
 
- Nenhuma sociedade poderia sobreviver durante qualquer período de tempo, naturalmente, a 
menos que possuísse uma economia de alguma espécie. Acontece porém, que, 
anteriormente à nossa época, nenhuma economia existiu, mesmo que em princípio, que fosse 
controlada por mercados. Embora a instituição do mercado fosse muito comum desde a Idade 
da Pedra, seu papel era apenas incidental na vida econômica. 
- Homem primitivo tinha uma psicologia socialista, longe de ser capitalista, daí se descarta o 
interesse de estudo nesse assunto. 
- As diferenças que existem entre povos civilizados e não civilizados foram demasiado 
exageradas, principalmente na esfera econômica, mesmo que os métodos da agricultura 
permaneceram substancialmente inalterados na maior parte da Europa Ocidental e Central 
até o inicio da era moderna, não tinham sequer alcançado o mundo romano de milhares de 
anos atrás. 
- O sistema econômico na verdade, é dirigido por motivações não econômicas, o homem 
valoriza os bens materiais na medida em que eles servem a seus propósitos. Nem o processo 
de produção, nem o de distribuição está ligado a interesses econômicos específicos relativos 
à posse de bens. 
- No exemplo de uma sociedade tribal, o interesse econômico individual só raramente é 
predominante, pois a comunidade vela para a que nenhum de seus membros esteja faminto. 
Existe ausência da motivação de lucro, ausência do princípio de trabalhar por uma 
remuneração, ausência do princípio do menor esforço, e especialmente, ausência de qualquer 
instituição separa e distinta baseada em motivações econômicas. 
- Dois princípios regem o comportamento em tribos: reciprocidade e redistribuição. O princípio 
da reciprocidade atuará em benefício da sua mulher e de seus filhos, compensando-o assim, 
economicamente, por seus atos de virtude cívica, de acordo com a organização sexual da 
sociedade. 
- O princípio da redistribuição é relacionado com aqueles que têm uma chefia em comum e 
por isso, uma caráter territorial, ou seja, é a parte de toda produção familiar que vai para o 
líder, e ele assim redistribui. Do ponto de vista econômico, é parte essencial do sistema 
vigente da divisão do trabalho, do comércio exterior, da taxação para finalidades públicas e 
das provisões de defesa. 
- Princípios de comportamento como esses não podem ser efetivos a menos que os padrões 
institucionais existentes levem à sua aplicação. 
- Enquanto a organização social segue a sua rotina normal, não há razão para a interferência 
de qualquer motivação econômica individual, não é preciso temer qualquer evasão do esforço 
pessoal, a divisão do trabalho fica assegurada automaticamente, as obrigações econômicas 
serão devidamente desempenhadas e, acima de tudo, estão assegurados os meios materiais 
para uma exibição exuberante de abundância em todos os festivais públicos. O sistema 
econômico é mera função da organização social. 
- Seja a distribuição feita por uma família influente ou por um indivíduo importante, uma 
aristocracia dominante ou um grupo de burocratas, o fato é que eles muitas vezes tentarão 
aumentar seu poder político através da maneira pela qual redistribuem bens. 
- Uma vez que as relações do grupo dominante com os dominados são diferentes, de acordo 
com os fundamentos que repousa o poder político, o princípio da redistribuição envolverá 
motivaçõesindividuais diferentes. 
 - Conclusão: todos os sistemas econômicos conhecidos por nós, até o fim do feudalismo na 
Europa Ocidental, foram organizados segundo os princípios da reciprocidade ou 
redistribuição, ou alguma combinação dos dois. Dentro dessa estrutura, a produção ordenada 
e as distribuições de bens era assegurada através de uma grande variedade de motivações 
individuais, disciplinadas por princípios gerais de comportamento. Entre elas, o lucro não 
ocupava lugar proeminente; os costumes, as leis, a magia e a religião cooperavam para 
induzir os indivíduos a cumprir as regras de comportamento, as quais, eventualmente 
garantiam o seu funcionamento no sistema econômico. 
 
Cap. 5 e 6 
A permuta, a barganha e a troca constituem um principio de comportamento econômico que 
depende do padrão de mercado para sua efetivação. Um mercado é um local de encontro 
para a finalidade da permuta ou da compra e venda. 
Em outros sentidos, o principio da permuta não está em paridade estrit com os três outros 
principio. O padrão de mercado, com o qual ele está associado, é mais específico do que a 
simetria, a centralidade ou a autarquia. 
O padrão de mercado relacionando-se a um motivo peculiar próprio é capaz de criar uma 
instituição específica, a saber, o mercado. 
A sociedade tem que ser modelada de maneira a permitir que o sistema funcione de acordo 
com as suas próprias leis. A presença ou ausência de mercados ou de dinheiro não afeta 
necessariamente o sistema econômico de uma sociedade primitiva. 
Os mercados não são instituições que funcionam principalmente dentro de um economia, mas 
fora dela. 
Ä aplicação dos princípios observados na caá para obter bens encontrados fora dos limites do 
distrito levou a certas formas de troca que nos pareceram, mais tarde, como comércio. 
Embora as comunidade humanas nunca tenham deixado de lado, inteiramente, o comércio 
exterior, esse comércio nem sempre envolvia mercados, necessariamente. Originalmente, o 
comercio exterior sempre esteve mais ligado à aventura, exploração, caça, pirataria e guerra 
do que a permuta. 
O mercado externo é uma transação; a questão é a ausência de alguns tipos de mercadorias 
naquela região. 
O comércio local é limitado às mercadorias da região as quais não compensa transportar 
porque são demasiado pesadas, volumosas ou perecíveis. 
O comércio interno, por seu lado, é essencialmente competitivo. Além das trocas 
complementares, ele incluiu número muito maior de trocas nas quais mercadorias similares, 
de fontes de diferentes, são oferecidas em competição umas com as outras. 
As cidades, as crias dos mercados, não eram apenas as suas protetoras, mas também um 
meio de impedi-los de se expandirem pelo campo e, assim, incrustarem-se na organização 
econômica corrente da sociedade. 
Os mercados são, essencialmente, mercados de vizinhança, em nenhum lugar revelam 
indícios de reduzir o sistema econômico vigente a seus padrões. Eles não foram pontos de 
partida do comercio interno ou nacional. 
A cidade era uma organização burguesa, enquanto a influência militar e politica da cidade 
tornava possível lidar com os camponeses das redondezas, tal autoridade não podia ser 
exercida em relação ao mercado estrangeiro. 
A intervenção estatal, que havia liberado o comércio dos limites da cidade privilegiada, era 
agora chamada a lidar com dois perigosos estreitamente ligados, os quais a cidade havia 
contornado com sucesso, a saber, o monopólio e a competição. 
O estagio seguinte a revolução industrial na história da humanidade como sabemos, 
acarretou uma tentativa de estabelecer um grande mercado auto regulável. 
O mercado auto regulável era desconhecido e a emergência da ideia de auto regulação se 
constituiu numa inversão completa de tendência do desenvolvimento. 
A auto regulação significa que toda a produção é para venda no mercado, e que todos os 
rendimentos derivam de tais vendas. Por conseguinte, há mercados para todos os 
componentes da indústria,, não apenas para os bens, mas também para o trabalho, a terra e 
o dinheiro, seus preços chamados respectivamente , preços de mercadorias, salários, aluguel 
e juros. 
Assim é preciso que existam não apenas mercados para todos os elementos da indústria 
como também não deve ser adotada qualquer medida ou politica que possa influenciar a ação 
desses mercados. 
O mercantilismo, como toda a sua tendência em direção a comercialização, jamais atacou as 
salvaguardas que protegiam estes dois elementos básicos da produção – trabalho e terra – e 
os impedia de se tornarem objetos de comercio. 
Um mercado auto regulável exige, no mínimo, a separação institucional da sociedade em 
esferas econômica e politica. 
E verdade que nenhuma sociedade pode existir sem algum tipo de sistema eu assegure a 
ordem na produção e distribuição de bens. 
As mercadorias são aqui definidas, empiricamente, como objetos produzidos para a venda no 
mercado, por outro lado os mercados são definidos empiricamente como contatos reais entre 
compradores e vendedores. 
O ponto crucial é o seguinte: trabalho, terra e dinheiro são elementos essenciais da indústria, 
mas obviamente não são mercadorias. 
O simples fato do tecelão doméstico poder produzir quantidades maiores do que antes, no 
mesmo espaço de tempo, poderia induzi-lo a usar maquinas para aumentar seus ganhos, 
porem esse fato em si mesmo não afetava, necessariamente, a organização da profissão. 
O fluxo de bens e capitais se expandia, a dificuldade maior continuava a ser o fornecimento 
de matérias primas, às vezes inevitavelmente interrompido. Mesmo em tais caos, prejuízo do 
mercados proprietário das maquinas não era substancial. 
Como o desenvolvimento do sistema fabril se organizara como parte de um processo de 
compra e venda, o trabalho, a terra e o dinheiro também tiveram que se transformar em 
mercadorias reais, pois não eram produzidos para venda no mercado. Entretanto, a ficção de 
serem assim produzidos tornou-se o principio organizador da sociedade. 
A histórias social do século XIX foi, assim, o resultado de um duplo movimento, a ampliação 
da organização do mercado em relação as mercadorias fictícias. 
A sociedade se protegeu contra os perigos inerentes a um sistema de mercado auto 
regulável, e este foi o único aspecto abrangente na historia desses período. 
 
TEXTO 2: AS ORIGENS SOCIAIS DA DITADURA E DA DEMOCRACIA – A INGLATERRA E 
AS CONTRIBUIÇÕES DA VIOLÊNCIA PARA A EVOLUÇÃO (MOORE) 
 
OBJETIVO DO TEXTO: Mostrar o papel particular e muito significativo desempenhado pelas 
classes rurais na transformação em direção ao industrialismo. 
 
I- FORÇAS ARISTOCRÁTICAS NA DA BASE DA TRANSIÇÃO PARA O CAPITALISMO NA 
REGIÃO RURAL 
Para entender como se deu a transição do mundo pré-industrial para o mundo 
contemporâneo é necessário o entendimento das causas que levaram a Inglaterra a ser a 
pioneira a dar esse salto. Por que o processo de industrialização culminou, na Inglaterra, 
com o estabelecimento de uma sociedade relativamente livre? A Inglaterra foi durante longo 
tempo muito liberal, até mesmo na tolerância da oposição política organizada. O 
comportamento aristocrático dessa tolerância, por parte das classes dominantes, teve 
grande importância para a efetivação desse processo. 
O texto é constituído de observação dos fatos. Este mostra que existe um elemento mítico 
nas noções comuns sobre a capacidade britânica de resolver suas diferenças políticas e 
econômicas por meio de processos pacíficos, justos e econômicos. Para ele, essas noções 
são mais uma verdade parcial do que um mito, que é perpetuada através de escritos 
históricos do período que inicia a industrialização inglesa (por volta de 1750). Estes 
demonstram oambiente doméstico pacífico que caracterizava o período, o que acaba 
“deixando a sombra” a Revolução Puritana ou a Guerra Civil inglesa, ou seja, o período de 
paz foi muito mais significativo para a história britânica dos que os períodos conflituosos. 
A Guerra Civil Inglesa foi conseqüência de diversos processos de transformação que 
caracterizaram alguns séculos anteriores a esta. O que pode ser visto é que a sociedade 
moderna inglesa, que é secular, tem suas bases na ordem feudal e eclesiástica vivida pelo 
país no passado. A crescente importância do comércio, tanto na área rural quanto nas 
cidades, acabando assim gradualmente com o feudalismo, trouxe a emergencia de um 
absolutismo real, ambos transportados pela estrutura de uma luta religiosa violenta. Esta luta 
acompanhou por todo tempo o declínio de um tipo de civilização e o nascimento de uma nova 
civilização. 
Assim, foi no final da Idade Média que o comércio de lã inglês ganha espaço na economia 
britânica, tornando-se o maior fornecedor do produto para o mundo. Os reflexos do comércio 
de lã foram sentidos nas cidades, no campo e na política de uma forma mais geral. O principal 
mercado do produto inglês situava-se dentro do próprio continente e consistiam, 
principalmente, na Itália e nos Países Baixos. Foi o crescimento das cidades nesses países 
compradores o estímulo maior ao comercio inglês. 
Também estavam em jogo outros fatores importantes para essa economia inglesa. A peste 
negra (1348-1349) devastou grande parte da população inglesa, o que reduziu sua mão de 
obra sensivelmente. Houve também o movimento chamado “Lollarismo”, que consistiu em um 
pequeno movimento político e religioso do final do século XIV (que buscava a reforma da 
Igreja Católica, segundo WIKIPÉDIA, porque no texto não fala NADA mais sobre isso), 
seguido em 1381 por uma grave revolta camponesa. Essas agitações das classes mais 
inferiores tiveram grande importância para os rumos da história da Inglaterra. 
Também merecem destaque as importantes modificações da posição das classes 
superiores que estavam ocorrendo. A relações de dominação nas terras, e estas 
propriamente ditas, deixaram de ser o elo de ligação entre senhores e dominados. Embora 
outros aspectos do feudalismo se mantivessem, o Rei tentava voltar esses laços de relação a 
seu favor, objetivando fortalecer seu poder. 
A Guerra das Rosas (1455-1485) foi para a aristocracia proprietária de terras uma 
catástrofe social, pois esta guerra enfraqueceu tal classe e possibilitou a ascensão da 
Dinastia Tudor ao poder, consolidando ainda mais o poder real. Nesse período a terra passa a 
ser vista como instrumento de investimento e obtenção de lucro (passa a ser a forma de 
garantir o poder econômico e, consequentemente, poder político). Durante o governo de 
Henrique VIII há um impulso a agricultura comercial devido a motivações políticas e religiosas. 
Segundo alguns historiadores, a criação de uma nova religião e conseqüente confisco dos 
mosteiros feito pelo monarca pode ter contribuído para a promoção de novos proprietários das 
terras, que davam a esta um sendo mais comercial do que a antiga aristocracia. Mas, o 
principal significado do regime de Henrique VIII foi danificar um dos “pilares” da ordem antiga, 
a Igreja. Agitações em vários âmbitos começam nesse período, e as classes pertencentes a 
estas buscam apoio na coroa. Fica evidente que aumentava nesse momento a ameaça a boa 
ordem. 
Apesar disso, a Dinastia Tudor foi um período de relativa paz, trazida principalmente pelo 
estímulo contínuo a mercado de lã. A junção de ambos (mercado de lã + paz) gerou maior 
estímulo ao comércio e, consequentemente, maior desenvolvimento do capitalismo na 
sociedade rural. Segundo R. H. Tawney, “no século XV a terra tinha ainda um significado 
militar e social, para além de seu valor econômico. (...) A disciplina Tudor e suas jurisdições 
administrativas e incansáveis de burocracia puseram fim às guerras privadas e, arrancando 
os dentes do feudalismo, tornaram mais importante o manejo do dinheiro do que o comando 
de homens. Esta mudança marca a transição do conceito medieval de terra como base de 
funções e obrigações políticas para a idéia moderna de terra, como investimento pra a 
obtenção de rendimento. A propriedade de terra tende, em resumo, a ser comercializada.” -> 
modificação da visão sobre as terras. 
Assim, a paz e a lã, podem ser consideradas as bases da formação do capitalismo 
democrático, ou seja, estes dois pontos tinham de combinar-se de um modo específico para 
levar a uma das mais significativas forças que propulsionaram a Inglaterra a uma revolução 
que transformaria o capitalismo em capitalismo democrático (leva ao fim do poder absoluto do 
rei, posteriormente). No país, o fato do êxito dos governantes ser muito limitado (território 
relativamente pequeno em relação a outros), contribuiu para o triunfo da democracia 
parlamentar. É necessário observar que não foi apenas o comercio de lã que contribuiu para a 
formação dessa democracia (na Espanha, esse mesmo comércio foi utilizado pelo monarca 
para centralizar ainda mais seu poder). A chave da situação inglesa é que a vida comercial, 
tanto na cidade como no campo se desenvolveu principalmente em oposição à coroa. 
Assim, os homens deixam de considerar o problema agrário como uma questão de 
alimentação da população e começam a considerá-lo como o melhor meio de investir em 
capital de terras, isto é, por causa da criação de ovelhas (terras utilizadas como pastagens), 
deixa-se de produzir muito alimento para o auto-sustendo. Isso faz com que a necessidade de 
lucro aumente (maior necessidade de $ para comprar comida). 
 A terra passa a ser vista cada vez mais como um produto que pode ser comprado e 
vendido, ou seja, como uma propriedade particular para o capitalismo moderno. É preciso 
lembrar que durante o feudalismo também tinha havido propriedade privada, mas não no 
âmbito das terras. Esta era sempre caracterizada por grande diversidade de obrigações para 
com outras pessoas e não apenas para o individuo detentor da terra. Na Inglaterra, os 
camponeses começaram a aceitar os interesses próprios e a liberdade econômica como a 
base natural da sociedade humana. Dessa maneira, ao contrário da visão de que o 
individualismo econômico surgiu principalmente entre a burguesia, é possível notar tal pratica 
entre os senhores de terra, antes mesmo da guerra civil. 
Um dos mais significativos sinais da mudança de atitude (maior individualismo) foi a 
intensa movimentação no mercado de terras em meados do século XVI, que só se tornou 
possível devido a modificações na estrutura econômica da Inglaterra. Entre estas, as mais 
importantes foram as “vedações ou cerrados” (“enclosures”, usado pelo Armando como 
cercamentos). O autor define estes como “usurpações, pelos senhores ou seus lavradores, de 
terra em relação às quais a população do senhorio gozava de direitos comuns ou que se 
situavam em campos aráveis abertos.” O Armando define como “pequenos feudos”, que 
prejudicavam os camponeses (“novos feudos em um mundo que não era mais feudal). 
Buscando a obtenção de maiores lucros, sendo pela venda de lã ou pelo aluguel de terras, 
os senhores descobriram diversos métodos legais para subtrair os camponeses de seus 
direitos de cultivo em campos abertos e também de utilizar essas terras como pastagens para 
seu gado. Essa era uma situação muito grave, pois deixavam grande parte de população rural 
sem produzir. 
Dessa maneira, as terras, que antes estavam sujeitas às regras costumeiras de métodos 
de cultivo, agora podiam ser utilizadas segundo a vontade de cada um (são agora 
propriedade privada), que exploravam incessantemente os materiais da propriedade, visando 
maior eficiência e lucro. Estes hábitos não se limitavam às classes superiores proprietárias, 
mas também aos homens de classessuperiores dos camponeses. Surgem nesse momento, 
duas classes: os Yeomen, que é a classe citada acima, ou seja, os camponeses que 
conseguiram terras (classe “cuja franja superior tendia a confundir-se com a pequena gentry); 
e os gentry, classe que irá determinar a ordem no campo e também conduzirão a criação do 
parlamento. 
OBS: Assim, a PIRÂMIDE SOCIAL DA INGLATERRA, de cima para baixo era: 
REI -> NOBREZA -> GENTRY -> YEOMEN -> CAMPONESES. 
 
De forma geral, os Yeomen avançavam no sentido de que todos se tornassem 
proprietários livres, regidos por direitos da propriedade privada. No âmbito econômico, estes 
constituíam “um grupo de pequenos capitalistas ambiciosos e agressivos, conscientes de que 
não tinham reserva suficientes para correrem grandes riscos, não esquecendo que muitas 
vezes se ganha tanto no poupar como no despender, mas decididos a despertar todas as 
oportunidades, fosse qual fosse sua origem, para aumentarem seus lucros.” É fato, portanto, 
que a criação de carneiros para prover o mercado de lã era em grande parte efetuada por 
esta classe, seguida pelos camponeses menos prósperos. A cultura de cereais era a segunda 
fonte mais importante de rendimento para os Yeomen. 
Assim, os Yeomen eram a força principal que se encontrava por trás dos enclosures 
camponeses. Dirigiam-se para as terras suscetíveis de lavoura, ou seja, essa era 
principalmente uma maneira de ir-se apropriando de terras abandonadas, e também de terras 
dos vizinhos, incluindo os senhores rurais que não se preocupavam com a defesa de suas 
terras. Os Yeomen também utilizavam-se de novas técnicas, afastando-se da tradicional 
produção, com o objetivo de obter maior lucro. 
O autor acredita que os Yeomen podem ser comparados com os Kulaks, classe presente 
na Rússia no final do século XIX. Segundo ele, elas só diferem por dois motivos: os Yeomen 
viviam em um ambiente mais favorável ao empreendimento individual e estes acabaram 
sendo vistos como heróis, diferentemente dos kulaks, que foram vistos como vilões na 
Rússia. 
Portanto, é visível que foram os Yeomen e, assim, as classe superiores proprietárias de 
terras, a classe que promoveu a onda do capitalismo agrário, ou seja, quem lutou realmente 
contra a Ordem Antiga. Os mais prejudicados com tal processo acabaram sendo os 
camponeses. 
 Esses se tornaram vítimas por alguns motivos, merecendo destaque a preservação de 
hábitos antigos e conservadores pela classe. Os camponeses mantiveram tais hábitos, pois a 
Inglaterra, segundo seu sistema medieval, possuía as propriedades divididas em séries de 
estreitas faixas, espalhadas confusamente em campos abertos. Nestes, a colheita era 
realizada ao mesmo tempo por todos, para que assim os gados pudessem pastar nestas 
áreas quando “limpas” (sem plantação). Assim, a operação do ciclo agrícola tinha que ser 
mais ou menos coordenado, ou seja, até poderia haver certas variações individuais, mas o 
que predominava no campo inglês era uma forte necessidade de organização cooperativa, 
situação esta difícil de ser modificada. Assim, o interesse camponês pela terra comum como 
fonte extra de pastagem e combustível (lenha) é evidente. Estes camponeses eram 
protegidos pelo a coroa e viam essa ajuda como uma proteção ao capitalismo de forma geral 
(a monarquia era boa com os camponeses porque tinha interesse em não criar uma classe 
que fosse economicamente forte ou uma classe que fosse contra a coroa britânica.) 
Mas, mesmo com essa ajuda da coroa, o capitalismo se inseria cada vez mais no campo. 
Os camponeses foram gradativamente afastados da terra: tanto as faixas cultivadas como os 
campos comuns eram transformados em pastagens, mudanças que foram substanciais para 
os que viviam no campo. A maior presença do capitalismo em tal âmbito pode ser vista de 
forma mais abrupta após a Guerra Civil Inglesa. 
Assim, na Inglaterra, os principais condutores do que viria a constituir uma sociedade 
moderna e secular foram fundamentalmente os comerciantes, tanto nos campos quanto nas 
cidades. Esses homens “abriram caminho” por si próprios, pois não tinham o apoio da coroa 
(muito poucos homens aceitavam o apoio do rei). À medida que a Guerra Civil se aproximava, 
aumentavam a oposição aos monopólios reais. 
A coroa, no reinado dos Stuart, fez alguns esforços para enfraquecer as tendências 
capitalistas, tanto sobre os camponeses como sobre as classes mais pobres das cidades. Um 
grande número de camponeses expropriados começava a tornar-se uma ameaça para a 
ordem estabelecida, fazendo assim surgirem conflitos por toda parte. A coroa, como forma de 
resolver esse problema criaram os chamados Tribunais Reais, que deram ao camponês toda 
a proteção que podia obter contra as expulsões ligadas aos enclosures. 
Em relação à cobrança de impostos, a coroa inglesa enchia seus cofres com multas 
cobradas, mas isso não era feito de forma efetiva. Ao contrario do que acontecia na França, a 
coroa inglesa não tinha conseguido construir sua própria máquina administrativa e legal, 
capaz de obrigar o cumprir sua lei nas zonas rurais. O que podia ser visto, dessa forma, que 
quem mantinha a ordem nos campos eram geralmente membros de pequena gentry, ou seja, 
a classe que NÃO era protegida pela coroa (a coroa possui uma política de proteção, que era 
principalmente utilizada para os camponeses). Assim, a principal conseqüência da política 
real foi hostilizar aqueles que gozavam do direito de fazer aquilo que queriam em sua própria 
propriedade. 
Essa política real levou à ligação das classes voltadas para o comercio na cidade de no 
campo, de modo a formarem uma oposição a coroa. Assim, a política agrária dos Stuart foi 
considerada um fracasso e esta acabou precipitando a Guerra Civil, considerado pelo autor 
como um conflito entre os direitos individuais e a autoridade real, concebido na base de um 
sansão religiosa. 
II- ASPECTOS AGRÁRIOS DA GUERRA CIVIL 
Os elementos comerciais entre as classes superiores proprietárias de terras (gentry) e, em 
menor número, entre os Yeomen, tornavam-se as principais forças de oposição ao rei e aos 
esforços reais de manter a antiga ordem, o que consistiu uma das causas (de grande 
importância) da guerra civil. O crescimento do comercio nas cidades tinha criado mercados 
para os produtos agrícolas, pondo assim em movimento um processo que levou à agricultura 
comercial e capitalista da própria zona rural. 
Essa maior influência comercial criou uma nova situação, as quais se adaptaram, de 
modos e êxitos diferentes, os diversos grupos dentro de cada uma das classes agrárias. Os 
aristocratas, senhores de títulos (que viviam com hábitos dispendiosos), eram a classe menos 
propensa a mudar. O principal corpo rural, os gentry, obteve êxito em se adaptar a essa nova 
ordem facilmente. Mas o seu êxito não foi inteiramente devido às atividades agrícolas. Essa 
pequena e média nobreza mantinha todos os gêneros de ligações pessoais e comerciais com 
as classes mais elevadas da cidade. Da gentry, surgiram os principais representantes de uma 
tendência histórica decisiva que modificou a estrutura da sociedade rural inglesa. Mas, 
também podia ser vista uma luta entre economias de diferentes tipos que correspondia mais 
às peculiaridades regionais do que as divisões sociais. Assim, houve muitos elementos da 
gentry que estagnaram ou se arruinaram. Os nobres que estagnaram foram aparentemente 
aqueles que tiveram menos espírito de iniciativa para melhorar a situação econômica das 
suas terras, e a quem faltaram contatos urbanos vantajosos, de natureza comercial ou oficial. 
Assim, sob o impacto do comercio e de alguma indústria, o sociedade inglesa desconjuntava-
se a partir de cima. 
Acontecimentos parecidos foram características também de outras revoluções modernas, 
como a francesa, russa e chinesa. À medida que a ordem antiga era quebrada, segmentos da 
sociedadeacabaram vindo à superfície e executaram grande parte do violento “trabalho sujo” 
de destruição do antigo regime abrindo caminho para uma nova série de instituições. 
Na Inglaterra, o mais importante desses trabalhos sujos foi o ato simbólico de decapitação 
de Carlos I. As influências populares nesse momento eram muito fortes - provinham de 
camadas abaixo dos gentry, muito provavelmente de assalariados urbanos e camponeses 
(Cromwell tem grande importância nessa parte da história inglesa). A própria execução do Rei 
teve de ser passada a força no Parlamento, por causa da ameaça armada do povo. Mesmo 
assim, houve certa camada população que se recusou a julgar o rei. O destino de Carlos I 
constituiu um aviso do que viria a acontecer no futuro. Posteriormente, nenhum rei inglês 
tentou de novo levar a sério o absolutismo real. A tentativa de Cromwell para estabelecer a 
ditadura parece simplesmente uma tentativa desesperada e falhada para destruição do antigo 
regime. 
Havia muitos elos que mantinham os modernizadores e os tradicionalistas ligados na 
mesma camada social e, entre esses elos, estava o medo comum das camadas inferiores. 
Esses elos ajudam explicar o motivo por que os alinhamentos das classes estavam longe de 
ser claros nesta Revolução. Carlos I fez todo o possível para agradar a gentry. Apesar da 
oposição dos Stuarts ao enclosures, o apoio de muitos nobres ricos à causa real não é muito 
surpreender. Dificilmente se poderia esperar que homens ricos se afastassem duas das 
principiais colunas, o rei e a igreja, que sustentavam a ordem social. 
A mesmo atitude ambígua em relação aos aspectos da antiga ordem que apoiavam os 
direitos da propriedade emergiu nas outras três grandes revoluções que se seguiram a 
Revolução Puritana. A política dos chefes da revolução era clara e retilínea. Opunha-se à 
interferência nos direitos de propriedade do senhor rural por parte do rei e por parte dos 
radicais provenientes das camadas mais baixas. Em 1641, o Longo Parlamento aboliu a 
chamada Câmara Star, a principal arma real contra os senhores rurais que praticavam o 
enclosures, e também o símbolo geral da arbitrariedade real. Cromwell e os seus aliados 
apararam com firmeza as ameaças radicais. 
Outros fatores contribuíram para o fato da Revolução Puritana nunca ter chegado a tornar-
se uma luta clara entre as camadas superiores e inferiores. A luta implicou uma combinação 
de confrontos a nível econômico, religioso e constitucional. Isso resulta que, à medida que os 
acontecimentos da Revolução se desenrolavam e os homens enfrentavam acontecimentos 
que não podiam controlar e cujas implicações não podiam prever, muitos dos que pertenciam 
às camadas superiores e inferiores se sentiram em situação difícil, e só com grande 
dificuldade conseguiram chegar a decisões (ambiente de incerteza!). 
Do ponto de vista econômico, a Guerra Civil não produziu qualquer transferência maciça 
da propriedade de terras de um grupo ou classe para outro. As conseqüências, no que diz 
respeito à propriedade de terras, foram menores do que na revolução francesa. Na Inglaterra, 
a facção parlamentar sofria cronicamente da falta de dinheiro e financiava a guerra, em parte, 
tomando o controle de propriedades e também através de confiscos. No entanto, os 
proprietários voltavam a comprar suas terras confiscadas, dando assim sua contribuição para 
as finanças dos inimigos. Muitas propriedades só foram recuperadas passada a guerra. 
As consequencias da Revolução Puritana foram profundas e duradouras no campo das 
relações legais e sociais. Com a abolição da Câmara Star, os camponeses perderam sua 
principal proteção contra o avanço das enclosures. Foram feitas algumas tentativas sob 
Cromwell para controlar as consequencias trazidas para estes. Ao quebrar o poder do Rei, a 
Guerra Civil varreu a principal barreira que impedia os senhores rurais de praticar o enclosure 
e, simultaneamente, preparou a Inglaterra para ser governada por uma “comissão de 
senhores rurais”, o que constituiu o Parlamento do século XVIII. 
Os críticos dos que consideram a Guerra Civil como uma revolução burguesa estão certos 
ao afirmarem que do conflito não resultou a tomada do poder político por parte da burguesia. 
As classes superiores rurais mantiveram o comando firme da política durante muitos séculos. 
As influências do capitalismo tinham penetrado e transformado grande parte da zona rural 
muito antes da Guerra Civil acontecer. A ligação entre o senhor rural encloser e a burguesia 
estava tão apertada e intima a ponto de ser difícil concluir onde uma começa e a outra acaba, 
dentro dos ramificados círculos de famílias da época. O resultado dessa luta foi uma vitória 
para uma aliança entre a democracia parlamentar e o capitalismo – “ a ordem aristocrática 
sobreviveu, mas sob uma nova forma, pois a sua base agora é mais o dinheiro do que o 
nascimento. E o próprio parlamento tornou-se o instrumento dos capitalistas proprietários de 
terra.” 
Para compreender a importância das realizações da Guerra Civil, é necessário afastarmo-
nos do pormenor e olharmos para frente e para trás. O princípio da sociedade capitalista é 
que o uso sem restrições da propriedade privada para o enriquecimento pessoal produz 
necessariamente, através do mecanismo dos mercados, uma riqueza e um bem-estar 
firmemente crescente para a sociedade em seu conjunto (como diziam os clássicos!!!). Na 
Inglaterra, este espírito triunfou por métodos “legais” e “pacíficos”, que, no entanto, podem ter 
causado mais violência e sofrimento do que a Guerra Civil em si, tanto no campo quanto na 
cidade. 
 Embora o impulso inicial para o capitalismo deva ter vindo das cidades já na Idade Média, 
prosseguiu nas zonas rurais com tanta força como nas zonas urbanas. Tanto o principio do 
capitalismo como o da democracia parlamentar são diretamente opostos àqueles que 
ultrapassam e que, em grande parte, venceram, durante a Guerra Civil: a autoridade apoiada 
na política e a produção voltada mais para o consumo do que para o lucro individual, na 
economia. Sem o triunfo desses princípios no século XVII, é difícil imaginar como a sociedade 
inglesa poderia ter-se modernizado pacificamente - até o ponto que era realmente pacífica – 
durante os séculos XVIII e XIX. 
III- ENCLOSURES E A DESTRUIÇÃO DA CLASSE CAMPONESA 
- A violência revolucionária pode contribuir, tanto como a reforma pacífica, para o 
estabelecimento de uma sociedade relativamente livre (ENCLOSURES)  Mas nem toda 
violência de significado histórico toma a forma de uma revolução. 
- Poucos historiadores profissionais hoje considerariam os enclosures como o principal 
instrumento através do qual uma aristocracia destruía o campesinado independentemente da 
Inglaterra  os autores anteriores explicam que os enclosures foram o golpe final que 
destruiu toda a estrutura da sociedade camponesa da Inglaterra incorporada na aldeia 
tradicional. 
- A própria guerra eliminou o rei, a última proteção dos camponeses contra os enclosures 
feitos pelas classes superiores proprietárias de terras. 
- A condução dos negócios públicos começou a ser efetuada cada vez mais à portas 
fechadas, perdendo todos os vestígios do caráter popular democrático que tinha tido durante 
a Idade Média. 
- Era o Parlamento que, em última análise, controlava o sistema dos enclosures. 
Formalmente, os processos por que um senhor rural executava um enclosure por ato do 
Parlamento eram públicos e democráticos. Na realidade, os donos de grandes propriedades 
dominavam os processos desde o princípio até o fim  os sufrágios não eram contados, mas 
pesados. Um grande proprietário podia sobrepor-se a toda uma comunidade de proprietários 
menores de terras e casas. 
- O resultado da própria Guerra Civil foi o de fortalecer grandemente a posição das classes 
superiores. 
- Durante a marcha para a nova era e para o mundo docomércio, a interligação entre 
burguesia e aristocracia rural manteve-se muito íntima. 
- Ninguém ainda negou a importância geral dos enclosures ou o fato de inúmeros 
camponeses perderem os seus direitos às terras comuns das aldeias, quando os grandes 
senhores rurais as absorviam. 
- O melhoramento das técnicas da agricultura, como o aumento da utilização dos adubos, 
novas culturas e forma de rotação não podiam aplicar-se aos campos sujeitos às regras do 
cultivo comum porque os camponeses de poucos meios ou mesmo de posses médias não 
conseguiam suportar as despesas  o capitalista rural justificava a miséria que causava 
apelando para os benefícios que obtinha para a sociedade, enquanto fazia enormes lucros 
pessoais. 
- Havia dois personagens que compunham a figura do capitalista rural: 
 a) Grande proprietário: era um aristocrata que não trabalhava e entregava os 
pormenores da administração da propriedade a um feitor, embora fiscalizasse sempre o que o 
feitor fazia  a grande contribuição do senhor rural para o desenvolvimento da agricultura 
capitalista era principalmente jurídica e política; era geralmente ele quem preparava os 
enclosures. 
 
 b) Rendeiro: boas propriedades, com 200 acres ou mais, eram arrendadas a grandes 
rendeiros que pagassem as suas rendas com regularidade e mantivessem as terras em boa 
ordem  os grandes arrendatários davam a contribuição econômica. 
- Nas classes superiores, era muito comum entregar parte da responsabilidade a um agente. 
Deste modo, o proprietário tinha tempo livre para os esportes, para a cultura e para a política, 
enquanto o trabalho do agente tomou muito das características de uma profissão. O grande 
senhor rural tomava as decisões principais e o agente administrava os assuntos de rotina. 
- Os três métodos mais importantes de melhoria de situação naquela época eram todos 
utilizados para consolidar as propriedades, os enclosures e a substituição dos arrendamentos 
vitalícios por arrendamento por um determinado número de anos. 
- Parece que o movimento do enclosure ganhou força considerável por volta de 1760 para vir 
a morrer depois de 1832, altura em que tinha tornado o campo inglês completamente 
irreconhecível. O aumento crescente dos preços dos alimentos e, provavelmente também, a 
dificuldade em obter mão-de-obra para trabalhar parecem ter sidos os fatores principais que 
tentaram e forçaram os senhores rurais a alargar as suas propriedades e a racionalizar o seu 
cultivo. 
- À medida que a grande propriedade se tornava maior e era trabalhada cada vez mais 
segundo princípios mercantis, a comunidade camponesa medieval acabou sendo destruída. É 
muito provável que a onda de enclosures parlamentares tenha simplesmente concedido 
sanção legal a um processo de erosão da propriedade camponesa  a intrusão do comércio 
numa comunidade camponesa geralmente põe em marcha uma tendência para a 
concentração da terra em menor número de mãos. 
- Os que tinham direitos de propriedade a defender, durante o processo de enclosure, 
aproveitaram-se melhor da tempestade do que aqueles que não os tinham. Aqueles cujos 
direitos de propriedade iam de frágeis a não existentes, não aparecem no registro histórico 
por não terem direitos de propriedade a defender. 
- Dentro dessas camadas inferiores, antes do enclosure, havia diversas posições econômicas 
e legais. A maior parte das famílias pobres tinha uma pequena moradia e o direito de cultivar 
algumas faixas de terreno. Para os proprietários de casas e certamente para os trabalhadores 
sem terras, que tinham apenas um uso costumeiro mas não legal da terra comum, a perda 
desse direito ou privilégio significava a ruína. 
- Os pobres homens da base do conjunto rural eram assim escorraçados para aumentarem o 
novo exército de trabalhadores rurais, necessário durante algum tempo pare erguer as cercas, 
cavar valas e abrir estradas, ou para levarem a cabo novos sistemas de agricultura, que ainda 
não podiam ser executados por meio de maquinaria que iria dispensar os trabalhadores. 
- Os estudiosos modernos tendem a crer que os desapossados proprietários de casas e 
trabalhadores sem terras continuavam a trabalhar no campo enquanto os restantes, 
“excedentes não absorvidos”, se tornavam operários industriais  geralmente, apenas os 
jovens, os solteiros ou os artífices da aldeia estavam dispostos a deixar a sua terra – e só 
esses eram desejosos pelos novos patrões industriais. Os homens maduros, com família, não 
eram tão fáceis de treinar nem podiam facilmente romper com completo com a vida rural, por 
isso eles recorreram ao seu último direito, o direito à assistência aos pobres. 
- O enclosure das terras comuns, juntamente com a falta de terras e as exigências de uma 
economia monetária tiveram como resultado um aumento considerável do número de pobres, 
havendo a sustentar quase metade das famílias da aldeia que recebia assistência para 
pobres e muitas outras que recebiam assistência intermitente. 
- No século XVIII, com o golpe final dos enclosures e das influencias comerciais, estes 
pequenos lavradores, geralmente, já não conseguiram resistir ou lutar. Parece claro que, 
quando desapareceram os campos comuns e um novo sistema econômico começou a vingar 
nas zonas rurais, a antiga comunidade camponesa finalmente cedeu e desintegrou-se  com 
o advento da indústria, os eclosures fortaleceram muito os mais importante senhores rurais e 
quebraram a coluna dorsal do campesinato inglês. 
- O fato de a violência e a coerção que produziram estes resultados terem tido lugar durante 
um longo período, o fato de ocorrerem principalmente dentro de uma estrutura de lei e de 
ordem e de terem ajudado a estabelecer a democracia sobre uma base mais firme, não 
devem impedir-nos de ver que se tratava de violência em massa, exercida pelas classes 
superiores sobre as inferiores. 
- Analisar por que meios a violência dos séculos XVII e XVIII - a primeira, aberta e 
revolucionária; a segunda, mais escondida e legal, mas nem por isso menos violenta – 
preparou o caminho para a transição pacífica no século XIX. 
- Talvez o mais importante legado do passado violento fosse o fortalecimento do Parlamento à 
custa do rei  Se o Parlamento emergiu da Guerra Civil principalmente como um instrumento 
de uma classe superior proprietária de terras e de espírito comercial, o fato de essa classe ter 
desenvolvido uma base econômica que a levou à oposição violenta à coroa antes da Guerra 
Civil relaciona-se muito com o fortalecimento do Parlamento. 
- O forte tom comercial da vida das classes superiores proprietárias de terras, tanto da gentry 
como da aristocracia titulada, significava também que não havia uma sólida falange de 
oposição aristocrática ao avanço da indústria em si. 
- Por mais brutal e cruel que tivesse sido a destruição da classe camponesa, ela contribuiu 
para a mudança pacífica e democrática mais ainda do que o fortalecimento do Parlamento  
significou que podia continuar havendo modernização na Inglaterra, sem o enorme 
reservatório de forças conservadoras e reacionárias e significou também que a possibilidade 
de revoluções por parte dos camponeses podia ser excluída da agenda histórica. 
- Durante o século XVIII, o comércio tinha feito progressos consideráveis. Começavam agora 
a aparecer sinais de conflito entre os interesses dos proprietários de terras e os relacionados 
com o comércio  começava a surgir a idéia da necessidade de renovar a antiquada 
estrutura social da Inglaterra, especialmente o seu Parlamente corrupto. 
- Com a Revolução Francesa, as classes superiores, tanto da cidade como no campo, 
cerraram fileiras em volta de slogans patrióticos e conservadores, contra a ameaça do 
radicalismo e da tirania na França contra a mais remota ameaça aos seus privilégios  
Regimes aceitáveis na Europa e a ausência de ameaças desses lados era um dos pré-
requisitos para uma evoluçãopacífica da democracia da Inglaterra. 
- Temporariamente condenado, durante as Guerras Napoleônicas, o capitalismo industrial 
inglês podia expandir-se – principalmente por meios pacífico -, sacar recursos estrangeiros e 
transformar a Inglaterra na oficina do mundo. 
- A máquina repressiva do Estado inglês era relativamente fraca, em conseqüência da Guerra 
Civil, da anterior evolução da monarquia e do maior incremento e confiança dada à armada, 
de preferência ao exército: a ausência de uma monarquia forte, apoiada num exército e na 
burocracia facilitou o desenvolvimento da democracia parlamentar 
- A Lei da Reforma de 1832, que deu o voto aos capitalistas industriais, e a extinção das leis 
sobre cereais de 1846 não arruinaram as classes superiores proprietárias de terra, mas 
mostraram os limites do seu poder. 
- O movimento Cartista apresentou fortes tons de violência, o que constitui um teste para os 
princípios liberais  o tratamento relativamente suave que recebeu das mãos das classes 
governantes pode ser atribuído a três fatores: 
 a) Forte corrente favorável a que se fizesse algo no sentido de aliviar a miséria geral, 
bem como uma marcada relutância ao emprego da forca; 
 b) A Inglaterra carecia de uma máquina repressiva forte; 
 c) Combinação de legislação no sentido de melhorar a situação dos pobres e de uma 
volta favorável da situação econômica pode ter tirado todo o vapor do movimento antes de ele 
se tornar uma ameaça realmente grave. 
- Na Inglaterra, os interesses dos proprietários entraram, até certo ponto, num concurso de 
popularidade com a burguesia, para ganhar o apoio das massas. 
- Partilhando o desenvolvimento geral vitoriano e tendo continuado a adquirir hábitos 
burgueses e capitalistas, as classes superiores proprietárias tinham muito menos motivo para 
se opor ao avanço do capitalismo e da democracia  as fronteiras entre a nobreza abastada 
e as classes mais elevadas dos negociantes e profissionais encontravam-se imprecisas e 
oscilantes. 
- A partir de 1870, as terras tornaram-se mais um símbolo de posição de que base de poder 
político em parte porque o fim da Guerra Civil Americana e o aparecimento dos navios a vapor 
começaram a fazer surgir o trigo americano na Europa e, verificou-se nessa altura, uma 
depressão na agricultura que começou a prejudicar gravemente a base econômica das 
camadas superiores proprietárias. 
- Quanto aos problemas agrícolas, os governos conservadores de 1874-1879 apenas 
tomaram pequenas medidas paliativas; os liberais, a partir de 1880, ou deixavam as coisas 
seguir o seu curso ou atacavam ativamente os interesses agrários  isso nunca poderia ter 
sucedido se, por essa altura, as camadas superiores inglesas não tivessem deixado de ser 
agrárias. A base econômica tinha-se transferido para a indústria e para o comércio (a posição 
economia das classes governantes sofreu lenta erosão, de um modo que lhes permitiu passar 
de uma base econômica para outra, apenas com um mínimo de dificuldades). 
- Por essa época, apesar do furor, o problema agrário e a questão do poder da aristocracia 
proprietária tinham recuado e dado lugar a novas questões, que se centravam no modo de 
incorporar o trabalhador industrial num consenso democrático. 
FATORES QUE SE DESTACAM COMO RESPONSÁVEIS PELO PROGRESSO DA 
INGLATERRA NO CAMINHO DA DEMOCRACIA: 
a) Parlamento relativamente forte e independente; 
b) Interesse comercial e industrial com a sua própria base econômica; 
c) Nenhum problema grave com os camponeses. 
 
TEXTO 3: HOBSBAWM, E. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo A origem da 
Revolução Industrial – Capítulo 2 
Primeiramente, a Revolução Industrial (Rev.Ind.) não foi uma mera aceleração do crescimento 
econômico, mas uma aceleração de crescimento em virtude da transformação econômica e 
social. Ao fim do séc. XVIII essa transformação ocorreu numa economia capitalista e através 
dela. A industrialização capitalista exige uma análise um pouco diferente da não-capitalista, 
pois explicar porque a busca do lucro privado levou à transformação tecnológica. Em segundo 
lugar, a revolução britânica foi a primeira na história, mas, não significa que ela haja 
começado do zero, ou que não se possam apontar fases anteriores de rápido 
desenvolvimento industrial e tecnológico. Por ser a primeira, é diferente em vários aspectos 
das revoluções industriais subseqüentes. Não pode ser explicada somente com base nos 
fatores externos, como imitação de técnicas mais avançadas, importação de capital e outros. 
As rev. posteriores usaram da experiência, do exemplo e dos recursos britânicos, enquanto 
que este pouco usufruiu dos outros países. A rev. britânica foi precedida por, no mínimo 200 
anos de desenvolvimento econômico razoavelmente contínuo, que lançou seus alicerces e 
que a preparou para a industrialização. 
A Rev. Ind. nao pode ser explicada somente em termos britânicos, já que esta economia faz 
parte da “economia européia”. A Grã Bretanha fazia parte de uma ampla rede de 
relacionamentos econômicos, conectado com várias áreas “adiantadas” que possuíam 
industrialização potencial, áreas de “economia dependente” e também economias 
estrangeiras não envolvidas significativamente com a Europa. Economias dependentes eram 
as colônias formais, pontos de comércio e dominação e regiões especializadas 
economicamente para atender as áreas “adiantadas”. O mundo “adiantado” estava ligado ao 
mundo dependente pela divisão da atividade econômica: um lado urbanizado e o outro zonas 
produzindo e exportando produtos agrícolas ou matérias-primas. Essa relação é denominada 
de sistema de fluxos econômicos: de comércio, de pagamentos internacionais, de 
transferência de capital, de migração, etc. 
A economia européia já mostrava fortes sinais de expansão e desenvolvimento econômico, e 
ela, a partir do séc. XVI, tendia a dividir-se em unidades político-economicas independentes e 
concorrentes, como a Grã Bretanha e a França que possuíam suas estruturas econômicas e 
sociais, além de setores e regiões adiantados e dependentes. A origem da Rev. Ind. não deve 
ser explicada somente em termos de clima, geografia, mudança biológica na população e 
outros fatores exógenos, esses fatores que compõe os recursos naturais disponíveis não 
atuam por si sós, mas dentro de um dado quadro econômico, social e institucional, além 
disso, necessitam de fácil acesso ao mar, ou seja, baratos e viáveis meios de transportes. 
Explicações para a Rev. Ind. em termos de “acidentes históricos” também devem ser 
rejeitadas, já que os descobrimentos ultramarinos dos sécs. XV e XVI não bastam para 
explicar a industrialização, assim como a “revolução cientifica” do séc. XVII. Tampouco a 
Reforma Protestante pode ser um meio de explicar a Rev. Ind., como também os fatores 
políticos são rejeitados para tal função, mesmo estes incentivando e favorecendo a busca do 
lucro acima dos outros objetivos. A rejeição de explicações simplistas não significa que estas 
não possuam sua devida importância, somente atribuem a elas uma escala relativa de 
valores. 
No séc. XVIII, as principais pré-condições para a industrialização da Grã-Bretanha já existiam, 
no ano de 1750 era duvido a existência de um campesinato dono de terras em grandes partes 
da Inglaterra e de uma agricultura de subsistência. Nesse momento, já não havia mais 
dificuldade para a transferência de homens de atividades não industriais paras as industriais, 
além disso, o país acumulara capitais e tinha dimensões suficientes para permitir 
investimentos nos equipamentos necessários à transformação econômica. E possui uma 
parcela desses equipamentos estava em mãos de homens dispostos a investir no processo 
econômico. Desse modo, não havia escassez de capital, relativa ou absoluta, o país não era 
uma simples economiade mercado, mas sim um único mercado nacional com setor 
manufatureiro extensivo e bastante desenvolvido, assim como a estrutura comercial. Outro 
fator importante e que facilitou foram os transportes e as comunicações serem baratos, já que 
nenhuma parte do país era 112 km do mar e menos de algum curso de água navegável. 
Os problemas tecnológicos do começo da Rev. Ind. eram simples e não exigiam homens com 
qualificações especializadas. A maior parte das inovações técnicas e dos estabelecimentos 
produtivos precisavam de pouco investimento inicial e sua expansão podia ser financiada pelo 
acúmulo de lucros. Sendo assim, o desenvolvimento industrial achava-se dentro das 
possibilidades de um grande número de pequenos empresários e artesãos. E os obstáculos 
que surgiam no caminho da industrialização britânica foram de fácil superação, já que 
existiam as condições sociais econômicas fundamentais para isso, sendo bem simples e 
barata o tipo de industrialização verificado no séc. XVIII. E observando o desenvolvimento de 
uma industrialização embasada na iniciativa privada, a lógica freqüente é que a iniciativa 
privada opte automaticamente para a inovação, mas isso não é o que de fato ocorre. A 
iniciativa privada só tende para o lucro. 
Então, como surgiram na Grã-Bretanha do séc. XVIII as condições que levaram os homens de 
negócios a revolucionarem a produção? Há duas correntes que buscam explicar isso, a 
primeira salienta a importância do mercado interno, que era o maior escoadouro para os 
produtos do país; a segunda realça o mercado externo(exportação) que também era muito 
dinâmico e seguro. Portanto, ambas correntes eram essenciais, cada um a seu modo, como 
também um terceiro fator, o governo. Com relação ao mercado interno, este podia crescer de 
4 maneiras importantes: crescimento populacional, que cria mais consumidores; transferência 
de pessoas, das rendas não-remuneradas para rendas monetárias, cria mais clientes; 
aumento da renda per capita, cria melhores clientes; advendo de bens produzidos 
industrialmente, em substituição a formas antigas de manufaturas ou importações. 
Uma característica importante verificada na população da Grã-Bretanha foi a duplicação desta 
em 50 ou 60 anos depois de 1780, voltando a duplicar nos 60 anos entre 1841 e 1901. Após o 
início real da Rev. Ind., as taxas de saldo fisiológico natural das principais regiões mostraram 
tendência para se igualarem e elas só possuem relevância na medida em que esclarecessem 
até que ponto o aumento populacional foi causa ou conseqüência de fatores econômicos. E 
quais foram os efeitos econômicos dessas mudanças? Mais gente significa mão-de-obra em 
maior quantidade e mais barata, na Inglaterra do séc. XVIII a força de trabalho em 
crescimento ajudou a industrialização devido a economia já ter uma característica dinâmica. 
Não se sabe ao certo qual a real importância dos transportes para o desenvolvimento 
industrial, não resta duvida de que o estímulo foi dado pelo mercado interno e pela crescente 
procura de alimentos e combustíveis. A diferença nos custos de transporte era tão acentuada 
que valia a pena realizar investimentos no setor. O carvão vegetal cresceu com o aumento 
das lareiras urbanas, e o ferro refletiu na procura por panelas, pregos, fogões, etc. A base pré 
industrial da indústria de carvão era muito mais sólida que a da indústria de ferro. Em 1720 o 
consumo de ferro na Grã-Bretanha foi inferior a 50.000 t, e em 1788, quando a Rev. Ind. já ia 
bem adiantada, não foi superior a 100.000 t, sendo que a verdadeira Rev. Ind. para o ferro e o 
carvão foi na era das estradas de ferro abrindo um mercado de massa, tanto para bens de 
consumo como de capital. A grande vantagem do mercado interno pré-industrial era sua 
dimensão e sua constância, que favoreceu o crescimento econômico e estava disponível para 
proteger as atividades de exportação contra as flutuações e os colapsos súbitos que era o 
preço que pagavam por um maior dinamismo. O mercado interno socorreu na década de 
1780, quando ocorreram a guerra civil e Revolução Americana e também nas guerras 
napoleônicas, além de proporcionar amplos fundamentos para uma economia industrial 
generalizada. 
As atividades de exportação atuavam em condições muito diferentes, muito mais 
revolucionárias, apresentavam violentas flutuações e no longo prazo se expandiam muito 
mais e com maior rapidez que o mercado interno. Entre 1700 e 1750 as atividades do 
mercado interno aumentaram em 7% e as exportações em 76%; entre 1750 e 1770 em 7% e 
80% respectivamente. A produção de algodão era vinculada essencialmente ao comércio 
ultramarino, sendo cada grama importada dos trópicos ou sub-trópicos e os produtos tinham 
de ser vendidos no exterior. O potencial extraordinário das atividades de exportação não 
dependiam da modesta taxa de crescimento “natural” da procura interna de qualquer país. E 
criar a ilusão de crescimento rápido era através de dois meios: conquista de mercados de 
exportação a uma série de outros países e a destruição da concorrência interna dentro de 
determinados países, por meios políticos ou semipolíticos da guerra e colonização. Assim, o 
país que concentrasse os mercados de exportação de outros povos, ou monopolizasse os 
mercados de exportação de grande parte do mundo podia expandir suas exportações a um 
ritmo que tornava a Rev. Ind. viável. 
O terceiro fator importante que contribuiu para a Rev. Ind. foi o governo estar disposto a 
empreender a guerra e a colonização em benefício dos manufatureiros britânicos, sendo 
assim a Grã-Bretanha estava disposta a subordinar toda a política externa a objetivos 
econômicos. Na guerra, as metas eram comerciais e navais. Por fim, a política britânica no 
séc. XVIII era de agressividade sistemática, em períodos de guerra a Grã-Bretanha 
encontrava-se na defensiva e o resultado dessa postura foi o triunfo obtido: o virtual 
monopólio, entre as potências européias, de colônias externas e o virtual monopólio de poder 
naval em escala mundial. A própria guerra, ao mutilar os principais competidores da Grã-
Bretanha na Europa, fazia expandir as exportações. 
Resumidamente, os três principais setores da demanda do industrialismo foram: as 
exportações, apoiados pelo auxílio sistemático e agressivo do governo, proporcionaram e 
construíram (junto com a produção têxtil de algodão) o “setor básico” da industrialização. 
Além disso, conduziram a melhoria do transporte marítimo; o mercado interno proporcionou a 
base geral para uma economia industrializada em grande escala e incentivou grandes 
melhorias no transporte terrestre, importante base para carvão e inovações tecnológicas; 
governo dava apoio sistemático ao comércio e aos manufatureiros, bem como incentivos para 
inovação técnica e o desenvolvimento de indústrias de bens de capital. 
Não havia duvidas de que a primeira potencial industrial seria a Grã-Bretanha, porque os 
holandeses se dedicavam à confortável atividade tradicional (exploração da estrutura 
comercial e financeira e de suas colônias) e os franceses não tinham condições para recupera 
o terreno que havia perdido com a grande depressão econômica do séc. XVII. E a Rev. Ind. 
ocorreu no séc. XVIII pelo fato de toda a evolução da economia em geral, que a Grã-Bretanha 
fazia parte, para áreas “avançadas” da Europa e suas relações com as economias 
dependentes coloniais e semi-coloniais, os parceiros comercias marginais e regiões não 
envolvidas no sistema europeu de fluxos econômicos. O novo relacionamento entre as áreas 
“avançadas” e o resto do mundo,após a grande depressão econômica do séc. XVII, tendia a 
intensificar e alargar os fluxos de comércio. Na Europa, o surgimento de um mercado para 
produtos ultramarinosde uso cotidiano, mercado este que podia expandir-se ao se tornarem 
esses produtos disponíveis em maior quantidade e a preço menor; no exterior a criação de 
sistemas econômicos para produção desses bens (plantations mantidas por escravos); e a 
conquista de colônias destinadas a servir aos interesses de seus proprietários. 
A expansão geral do comércio no séc. XVIII foi bastante expressiva, em que todos os países, 
mas a expansão do comércio relacionada com o sistema colonial foi nada menos que 
espetacular. Essa vasta e crescente circulação de bens não servia apenas para trazer à 
Europa novas necessidades bem como o estímulo de produzir no país os artigos importados. 
Mais que isso, tais produtos proporcionavam um horizonte ilimitado de vendas e lucros para 
mercadores e fabricantes. E foram os britânicos que , com sua política e força, tanto quanto 
por sua iniciativa e seu espírito criador, capturaram esses mercados. A economia industrial 
britânica desenvolveu-se a partir do comércio e, sobretudo do comércio com o mudo 
subdesenvolvido. Durante todo o séc. XIX seria mantido esse padrão histórico: o comércio e a 
navegação mantinham o balanço de pagamentos, enquanto a troca de produtos primários 
ultramarinos por produtos manufaturados britânicos representava a base da economia 
internacional. 
 
TEXTO 4: HOBSBAWM, E. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. Capítulo 3 – A 
Revolução Industrial (1780-1840) 
“Quem fala da Revolução Industrial fala do algodão” – o algodão deu o tom da mudança 
industrial e foi o esteio das primeiras regiões, que não teriam existido se não fosse a 
industrialização. O capitalismo industrial baseada numa nova forma de produção, a fábrica, 
expressou uma nova sociedade. 
A manufatura de algodão foi um subproduto típico da crescente corrente de comércio 
internacional, principalmente colonial, sem a qual a Revolução Industrial não pode ser 
explicada. No começo do século XVIII a única fabricação pura de algodão era proveniente da 
Índia, mas em 1700 a manufatura de lã inglesa conseguiu o fim das importações e isso fez 
com que os fabricantes nacionais tivessem um trânsito livre no mercado interno. 
Até 1770, mais de 90% das exportações inglesas de algodão dirigiam-se para mercados 
colônias, sobretudo a África. O algodão ganhou vínculo característico com o mundo em 
desenvolvimento, mantido e fortalecido através de todas as flutuações que podiam acontecer. 
Até 1790, as plantações de algodão das Índias Ocidentais supriam a matéria-prima 
necessária. A partir dessa data as plantações do sul dos Estados Unidos passaram a exercer 
esse papel, porém, este moderno centro de produção preservava uma primitiva forma de 
exploração do trabalho, a escravatura. O algodão era e continuou a ser, essencialmente, uma 
atividade de exportação. 
A fabricação britânica de algodão era a melhor do mundo em sua época, mas terminou como 
tinha começado, pois se baseava não em uma superioridade competitiva, mas em um 
monopólio dos mercados coloniais e subdesenvolvidos que lhe era garantido pelo Império 
britânico, pela Marinha e pela supremacia comercial. 
O problema técnico que determinou a natureza da fabricação do algodão foi o desequilíbrio 
entre a eficiência da fiação e da tecelagem. Três invenções conhecidas fizeram pender o 
prato da balança: 
1. o “filatório”, inventado em1760, que permitia o artesão trabalhar com vários fios de uma 
vez 
2. o tear movido a força hidráulica, 1768, possibilidade de fiar com uma combinação de 
rolos e fusos 
3. a mula, fusão das duas invenções acima, a que logo foi aplicada a energia do vapor. 
O período entre 1815-1840 assistiu a disseminação da produção fabril em todas as atividades 
algodoeiras, bem como o seu aperfeiçoamento através da adoção de dispositivos automáticos 
na década de 1820 e outras melhorias. Contudo, não ocorreram inovações técnicas. A 
tecnologia da manufatura do algodão era bastante simples e as outras mudanças que 
constituíram a Revolução Industrial também eram, exigiam pouco conhecimento científico ou 
qualificação técnica além do que dispunha um mecânico pratico do começo do século XVIII. 
A razão para isso não era nem a inexistência de inovação cientifica nem falta de interesse dos 
novos industriais pela revolução técnica. Pelo contrário, as inovações científicas abundavam e 
eram rapidamente aplicadas, sob uma lógica rigorosamente racionalista aos seus métodos de 
produção. Os fabricantes de algodão aprenderam a construir suas fábricas de forma 
puramente funcional. 
Nos primórdios da Revolução Industrial ela foi simples, porque a aplicação de idéias e de 
dispositivos simples, idéias conhecidas a séculos e por vezes pouco dispendiosas, era capaz 
de produzir resultados espetaculares. A novidade estava na presteza em que os homens 
práticos lidavam com a ciência e a tecnologia disponíveis, e no amplo mercado que se abria 
às mercadorias, na medida em que os preços e os custos caíam rapidamente. 
Segundo Hobsbawm, essa situação minimizou os requisitos básicos de qualificação, capital, 
volume de negócios ou organização e planejamento governamental, sem os quais nenhuma 
industrialização poderia ter êxito. 
Hobsbawm faz uma comparação com uma nação em desenvolvimento de hoje, que procura 
lançar sua própria industrialização. Ele identifica que as características espécies da produção 
moderna são de dimensões e de uma complexidade que as colocam além da experiência da 
maior parte a pequena classe de homens de negócios que possa existir no país, e exigem um 
volume de investimento de capital inicial muito além de suas possibilidades independentes de 
acumulação de capital. 
O problema crucial do desenvolvimento econômico dos atuais países subdesenvolvidos 
reside no fato de que é muito fácil conseguir capital para a construção de uma indústria 
moderna do que administrá-la, há uma dificuldade de se encontrar pessoal de qualificação 
intermediária, sem essas características qualquer economia moderna poderia desbancar em 
ineficiência. As economias atrasadas que conseguiram se industrializar com sucesso foram 
aquelas que descobriram meios de multiplicar rapidamente esse pessoal. 
No caso da Grã-Bretanha (GB), em nenhum momento enfrentou-se escassez de homens 
competentes e pôde até mesmo passar sem um sistema de educação elementar pública até 
1870. A verdade é que nessa época praticamente qualquer coisa tinha mercado, sobretudo 
tendo em vista a simplicidade do cliente nacional e estrangeiro. 
Assim, com notável rapidez e facilidade, surgiu entre as fazendas de Lancashire um novo 
sistema industrial baseado numa nova inovação tecnológica, que prevaleceu sobre o já 
estabelecido. O capital acumulado dentro da atividade substituiu as hipotecas de fazendas e 
as poupanças dos donos de estalagens, um proletariado fabril tomou o lugar de alguns 
estabelecimento mecanizados que eram operados por uma massa de trabalhadores 
domésticos dependentes. Nos decênios que seguiram as Guerras Napoleônicas, 
gradualmente se dissiparam os antigos elementos da nova industrialização e a moderna 
indústria deixou de ser a realização de uma minoria pioneira para se tornar a norma da vida 
de Lancashire. 
Conseqüências: 
 Estrutura descentralizada do algodão, resultado de ela ter nascido das atividades sem 
planejamento de pequenos fabricantes. A indústria do algodão surgiu como um 
complexo de firmas altamente especializadas de médio porte. Esse tipo de estrutura 
comercial apresenta uma vantagem de flexibilidade e presta-se bem a uma rápida 
expansão inicial. 
 Aparecimento de um forte movimento sindicalista 
 Nova relação econômica entre os homens, um novo sistema de produção, novo ritmo 
de vida, nova sociedadee nova era histórica. 
 O novo sistema de Lancashire consistia de três elementos: 
 Divisão da população ativa entre empregadores capitalistas e trabalhadores que 
nada possuíam além de sua força de trabalho, que vendiam em troca de salário 
 A produção na fábrica consistia em uma combinação de máquinas 
especializadas com mão-de-obra especializada 
 Dominação de toda a economia pela procura e acumulação de lucro por parte 
dos capitalistas 
Visões sobre a industrialização: 
 oAlguns grupos não viam nada de errado com o novo sistema 
 utros que nada tinham a ganhar com ele, senão o , o rejeitavam 
 Um terceiro grupo, do qual Robert Owen faz parte, aceitava a Revolução Industrial e o 
progresso técnico como veículos de conhecimento e abundância potencial para todos, 
mas rejeitava a sua forma capitalista como causadora efetiva da exploração. 
Nessa primeira fase da industrialização britânica, nenhuma outra atividade podia ser 
comparada, em importância, a do algodão. Sua contribuição para a economia internacional 
era muito importante, correspondia a metade do valor total das exportações. A balança de 
pagamentos da GB dependia dessa atividade, como também da navegação e do comércio 
ultramarino. 
A fabricação de algodão contribuía para a acumulação de capital que outras, ao menos 
porque a rápida mecanização e a barata mão-de-obra permitiam uma elevada transferência 
dos rendimentos do trabalho para o capital. 
O algodão estimulou a industrialização e a revolução técnica. No entanto, lhe faltava 
capacidade direta para estimular outras atividades pesadas de bens de capital como carvão, 
ferro e aço. Entretanto, o processo geral de urbanização ofereceu um substancial estímulo ao 
carvão no começo do século XIX. 
 Carvão: as lareiras consumiam 2/3 do que era produzido, os processos de extração 
continuavam primitivos, mas devido a elevada demanda a mineração foi obrigada a 
encontrar mudanças técnicas, assim foi empregada a máquina a vapor. 
 Ferro: encontrou mais dificuldades, antes da Revolução Industrial a GB não o produzia 
em grande quantidade, inovações tecnológicas aumentaram a capacidade da atividade 
e deslocaram definitivamente a indústria para as jazidas de carvão. Após as Guerras 
Napoleônicas, em que começou a Revolução Industrial em outros países o ferro 
adquiriu crescente importância para as exportações. O ferro estimulou as atividades 
que consumiam esse metal como os transportes. 
 Outros setores da economia: acentuado crescimento econômico, bem como alguma 
transformação industrial, mas dificilmente poderia se falar em Revolução Industrial. 
Esta industrialização era limitada, se baseava em um único setor têxtil e não podia ser estável 
nem sólida. Hobsbawm identifica que o período inicial da industrialização britânica atravessou 
uma crise que alcançou seu estágio agudo da década de 1830/1840, a comprovação desta 
crise foi a insatisfação social que se alastrou na GB, em nenhum outro momento da história 
britânica o povo se mostrou tão insatisfeito. 
A pobreza dos britânicos era um fator importante para as dificuldades econômicas do 
capitalismo, pois impunha limites às dimensões e à expansão do mercado interno para os 
produtos nacionais. As vantagens econômicas dos altos salários, quer como incentivo a maior 
produtividade ou acréscimo ao poder aquisitivo não foram descobertas até meados do século. 
Tanto na teoria quanto na prática incentivava-se a importância da acumulação de capital 
pelos capitalistas e os lucros faziam a economia funcionar e expandir-se através do 
reinvestimento, assim, deveriam ser aumentados a todo custo. 
Tal ponto de vista repousava em dois pressupostos: 
1. O progresso industrial exigia altos investimentos e o de que não haveria poupança 
suficiente no caso de não serem mantidas baixas as rendas das massas não-
capitalistas. Pressuposto mais verdadeiro no longo do que no curto prazo, pois as 
primeiras fases da Revolução Industrial foram relativamente baratas. 
2. Os salários deveriam ser mantidos baixos. 
Duas coisas preocupavam os homens de negócio: a taxa de seus lucros e a taxa de 
expansão dos mercados. Com a industrialização, a produção multiplicou-se, os preços 
caíram, mas os custos de produção não podiam ser reduzidos proporcionalmente, quando 
terminaram as Guerras napoleônicas entrou-se em um período de deflação. 
Os mercados não estavam se expandindo com rapidez suficiente para absorver a produção 
com a taxa de crescimento que a economia se habituara e, internamente, os mercados 
cresciam pouco. O único país industrializado no mundo viu-se na impossibilidade de manter 
um excedente na exportação em seu comércio de mercadorias e apresentou um déficit 
comercial e de serviços. 
Nenhum período foi tão conturbado, politicamente e socialmente tenso como este. Tanto a 
classe média quanto a trabalhadora exigiam mudanças fundamentais. O desespero da 
década de 1830/40 foi uma soma de angústias: a classe trabalhadora não tinha o que comer 
e os empresários estavam sufocados com os métodos políticos e fiscais com os quais o 
governo estava lentamente sufocando a economia. Na década de 1840, como colocado por 
Marx e Engels, o espectro do comunismo rondava a Europa. 
 
TEXTO 5: HOBSBAWM, E. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo - cap. 6: 
Industrialização: A Segunda Fase (1840-1895) 
 
A primeira fase da industrialização britânica, baseada na produção têxtil, estava perto de seu 
fim, dando origem a uma nova fase do industrialismo, baseada nas indústrias de bens de 
capital, no carvão, no ferro e no aço. Com alicerces muito mais firmes para o crescimento 
econômico. Em nenhuma outra época a taxa de crescimento das exportações britânicas havia 
aumentado tanto como entre 1840 e 1860. 
Isso se deu, devido a dois motivos: 
1- Crescente industrialização do resto do mundo, criando um mercado em rápido 
crescimento para aquele tipo de bens de capital. 
2- Pressão para se investir em algo lucrativo (estradas de ferro) o capital vastamente 
acumulado. 
Entre 1830 e 1850 foram construídos cerca de 9.650km de estradas de ferro na Grã-
Bretanha. De forma que em 1850 a rede básica já estava praticamente pronta. Tal 
transformação foi revolucionária, alterou a velocidade do movimento da vida humana. 
Afetando a vida de todos, inclusive a do cidadão comum. As estradas de ferro pareciam estar 
várias gerações à frente do resto da economia, tornando-se algo ultramoderno. Sua 
organização e seus métodos não tinham paralelos em nenhuma outra atividade. 
É normal pensar que esse extraordinário desenvolvimento refletisse as necessidades de 
transporte de uma economia industrial - SÓ QUE NOT! A velocidade tinha importância 
relativamente secundária para bens não-perecíveis. E a maior parte do país utilizava o 
transporte aquático. (Não há comprovações de que dificuldades de transportes prejudicassem 
seriamente o desenvolvimento da indústria em geral). Outro fator observado é que muitas 
estradas construídas eram irracionais, segundo qualquer critério de transporte. 
Fazia sentido ligar uma mina de carvão, distante de rios, até a costa por meio de uma longa 
ferrovia, uma vez que os elevados custos de construção dessa linha seriam mais que 
compensados pelas vendas de carvão que ela possibilitaria. Também fazia sentido levar um 
bem produzido em uma região para outra onde até então se exercia o monopólio de tal artigo. 
Por conseqüência, observou-se que, tais investimentos atraíram inúmeros investidores e 
homens de negócios interessados em expandir o comércio de suas cidades e conseguir um 
retorno maior ao seu capital. Porém poucos desses investimentos tinham uma justificativa 
racional de acontecer. Muitas vezes ligavam

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