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2 Hobsbawn - 1ª fase da RI

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TEXTO 4: HOBSBAWM, E. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. 
Capítulo 3 – A Revolução Industrial (1780-1840) 
“Quem fala da Revolução Industrial fala do algodão” – o algodão deu o tom da 
mudança industrial e foi o esteio das primeiras regiões, que não teriam existido 
se não fosse a industrialização. O capitalismo industrial baseada numa nova 
forma de produção, a fábrica, expressou uma nova sociedade. 
A manufatura de algodão foi um subproduto típico da crescente corrente de 
comércio internacional, principalmente colonial, sem a qual a Revolução 
Industrial não pode ser explicada. No começo do século XVIII a única 
fabricação pura de algodão era proveniente da Índia, mas em 1700 a 
manufatura de lã inglesa conseguiu o fim das importações e isso fez com que 
os fabricantes nacionais tivessem um trânsito livre no mercado interno. 
Até 1770, mais de 90% das exportações inglesas de algodão dirigiam-se para 
mercados colônias, sobretudo a África. O algodão ganhou vínculo 
característico com o mundo em desenvolvimento, mantido e fortalecido através 
de todas as flutuações que podiam acontecer. 
Até 1790, as plantações de algodão das Índias Ocidentais supriam a matéria-
prima necessária. A partir dessa data as plantações do sul dos Estados Unidos 
passaram a exercer esse papel, porém, este moderno centro de produção 
preservava uma primitiva forma de exploração do trabalho, a escravatura. O 
algodão era e continuou a ser, essencialmente, uma atividade de exportação. 
A fabricação britânica de algodão era a melhor do mundo em sua época, mas 
terminou como tinha começado, pois se baseava não em uma superioridade 
competitiva, mas em um monopólio dos mercados coloniais e 
subdesenvolvidos que lhe era garantido pelo Império britânico, pela Marinha e 
pela supremacia comercial. 
O problema técnico que determinou a natureza da fabricação do algodão foi o 
desequilíbrio entre a eficiência da fiação e da tecelagem. Três invenções 
conhecidas fizeram pender o prato da balança: 
1. o “filatório”, inventado em1760, que permitia o artesão trabalhar com 
vários fios de uma vez 
2. o tear movido a força hidráulica, 1768, possibilidade de fiar com uma 
combinação de rolos e fusos 
3. a mula, fusão das duas invenções acima, a que logo foi aplicada a 
energia do vapor. 
O período entre 1815-1840 assistiu a disseminação da produção fabril em 
todas as atividades algodoeiras, bem como o seu aperfeiçoamento através da 
adoção de dispositivos automáticos na década de 1820 e outras melhorias. 
Contudo, não ocorreram inovações técnicas. A tecnologia da manufatura do 
algodão era bastante simples e as outras mudanças que constituíram a 
Revolução Industrial também eram, exigiam pouco conhecimento científico ou 
qualificação técnica além do que dispunha um mecânico pratico do começo do 
século XVIII. 
A razão para isso não era nem a inexistência de inovação cientifica nem falta 
de interesse dos novos industriais pela revolução técnica. Pelo contrário, as 
inovações científicas abundavam e eram rapidamente aplicadas, sob uma 
lógica rigorosamente racionalista aos seus métodos de produção. Os 
fabricantes de algodão aprenderam a construir suas fábricas de forma 
puramente funcional. 
Nos primórdios da Revolução Industrial ela foi simples, porque a aplicação de 
idéias e de dispositivos simples, idéias conhecidas a séculos e por vezes pouco 
dispendiosas, era capaz de produzir resultados espetaculares. A novidade 
estava na presteza em que os homens práticos lidavam com a ciência e a 
tecnologia disponíveis, e no amplo mercado que se abria às mercadorias, na 
medida em que os preços e os custos caíam rapidamente. 
Segundo Hobsbawm, essa situação minimizou os requisitos básicos de 
qualificação, capital, volume de negócios ou organização e planejamento 
governamental, sem os quais nenhuma industrialização poderia ter êxito. 
Hobsbawm faz uma comparação com uma nação em desenvolvimento de hoje, 
que procura lançar sua própria industrialização. Ele identifica que as 
características espécies da produção moderna são de dimensões e de uma 
complexidade que as colocam além da experiência da maior parte a pequena 
classe de homens de negócios que possa existir no país, e exigem um volume 
de investimento de capital inicial muito além de suas possibilidades 
independentes de acumulação de capital. 
O problema crucial do desenvolvimento econômico dos atuais países 
subdesenvolvidos reside no fato de que é muito fácil conseguir capital para a 
construção de uma indústria moderna do que administrá-la, há uma dificuldade 
de se encontrar pessoal de qualificação intermediária, sem essas 
características qualquer economia moderna poderia desbancar em ineficiência. 
As economias atrasadas que conseguiram se industrializar com sucesso foram 
aquelas que descobriram meios de multiplicar rapidamente esse pessoal. 
No caso da Grã-Bretanha (GB), em nenhum momento enfrentou-se escassez 
de homens competentes e pôde até mesmo passar sem um sistema de 
educação elementar pública até 1870. A verdade é que nessa época 
praticamente qualquer coisa tinha mercado, sobretudo tendo em vista a 
simplicidade do cliente nacional e estrangeiro. 
Assim, com notável rapidez e facilidade, surgiu entre as fazendas de 
Lancashire um novo sistema industrial baseado numa nova inovação 
tecnológica, que prevaleceu sobre o já estabelecido. O capital acumulado 
dentro da atividade substituiu as hipotecas de fazendas e as poupanças dos 
donos de estalagens, um proletariado fabril tomou o lugar de alguns 
estabelecimento mecanizados que eram operados por uma massa de 
trabalhadores domésticos dependentes. Nos decênios que seguiram as 
Guerras Napoleônicas, gradualmente se dissiparam os antigos elementos da 
nova industrialização e a moderna indústria deixou de ser a realização de uma 
minoria pioneira para se tornar a norma da vida de Lancashire. 
Conseqüências: 
 Estrutura descentralizada do algodão, resultado de ela ter nascido das 
atividades sem planejamento de pequenos fabricantes. A indústria do 
algodão surgiu como um complexo de firmas altamente especializadas 
de médio porte. Esse tipo de estrutura comercial apresenta uma 
vantagem de flexibilidade e presta-se bem a uma rápida expansão 
inicial. 
 Aparecimento de um forte movimento sindicalista 
 Nova relação econômica entre os homens, um novo sistema de 
produção, novo ritmo de vida, nova sociedade e nova era histórica. 
 O novo sistema de Lancashire consistia de três elementos: 
 Divisão da população ativa entre empregadores capitalistas e 
trabalhadores que nada possuíam além de sua força de trabalho, 
que vendiam em troca de salário 
 A produção na fábrica consistia em uma combinação de 
máquinas especializadas com mão-de-obra especializada 
 Dominação de toda a economia pela procura e acumulação de 
lucro por parte dos capitalistas 
Visões sobre a industrialização: 
 oAlguns grupos não viam nada de errado com o novo sistema 
 utros que nada tinham a ganhar com ele, senão o , o rejeitavam 
 Um terceiro grupo, do qual Robert Owen faz parte, aceitava a Revolução 
Industrial e o progresso técnico como veículos de conhecimento e 
abundância potencial para todos, mas rejeitava a sua forma capitalista 
como causadora efetiva da exploração. 
Nessa primeira fase da industrialização britânica, nenhuma outra atividade 
podia ser comparada, em importância, a do algodão. Sua contribuição para a 
economia internacional era muito importante, correspondia a metade do valor 
total das exportações. A balança de pagamentos da GB dependia dessa 
atividade, como também da navegação e do comércio ultramarino. 
A fabricação de algodão contribuíapara a acumulação de capital que outras, 
ao menos porque a rápida mecanização e a barata mão-de-obra permitiam 
uma elevada transferência dos rendimentos do trabalho para o capital. 
O algodão estimulou a industrialização e a revolução técnica. No entanto, lhe 
faltava capacidade direta para estimular outras atividades pesadas de bens de 
capital como carvão, ferro e aço. Entretanto, o processo geral de urbanização 
ofereceu um substancial estímulo ao carvão no começo do século XIX. 
 Carvão: as lareiras consumiam 2/3 do que era produzido, os processos 
de extração continuavam primitivos, mas devido a elevada demanda a 
mineração foi obrigada a encontrar mudanças técnicas, assim foi 
empregada a máquina a vapor. 
 Ferro: encontrou mais dificuldades, antes da Revolução Industrial a GB 
não o produzia em grande quantidade, inovações tecnológicas 
aumentaram a capacidade da atividade e deslocaram definitivamente a 
indústria para as jazidas de carvão. Após as Guerras Napoleônicas, em 
que começou a Revolução Industrial em outros países o ferro adquiriu 
crescente importância para as exportações. O ferro estimulou as 
atividades que consumiam esse metal como os transportes. 
 Outros setores da economia: acentuado crescimento econômico, bem 
como alguma transformação industrial, mas dificilmente poderia se falar 
em Revolução Industrial. 
Esta industrialização era limitada, se baseava em um único setor têxtil e não 
podia ser estável nem sólida. Hobsbawm identifica que o período inicial da 
industrialização britânica atravessou uma crise que alcançou seu estágio agudo 
da década de 1830/1840, a comprovação desta crise foi a insatisfação social 
que se alastrou na GB, em nenhum outro momento da história britânica o povo 
se mostrou tão insatisfeito. 
A pobreza dos britânicos era um fator importante para as dificuldades 
econômicas do capitalismo, pois impunha limites às dimensões e à expansão 
do mercado interno para os produtos nacionais. As vantagens econômicas dos 
altos salários, quer como incentivo a maior produtividade ou acréscimo ao 
poder aquisitivo não foram descobertas até meados do século. 
Tanto na teoria quanto na prática incentivava-se a importância da acumulação 
de capital pelos capitalistas e os lucros faziam a economia funcionar e 
expandir-se através do reinvestimento, assim, deveriam ser aumentados a todo 
custo. 
Tal ponto de vista repousava em dois pressupostos: 
1. O progresso industrial exigia altos investimentos e o de que não haveria 
poupança suficiente no caso de não serem mantidas baixas as rendas 
das massas não-capitalistas. Pressuposto mais verdadeiro no longo do 
que no curto prazo, pois as primeiras fases da Revolução Industrial 
foram relativamente baratas. 
2. Os salários deveriam ser mantidos baixos. 
Duas coisas preocupavam os homens de negócio: a taxa de seus lucros e a 
taxa de expansão dos mercados. Com a industrialização, a produção 
multiplicou-se, os preços caíram, mas os custos de produção não podiam ser 
reduzidos proporcionalmente, quando terminaram as Guerras napoleônicas 
entrou-se em um período de deflação. 
Os mercados não estavam se expandindo com rapidez suficiente para absorver 
a produção com a taxa de crescimento que a economia se habituara e, 
internamente, os mercados cresciam pouco. O único país industrializado no 
mundo viu-se na impossibilidade de manter um excedente na exportação em 
seu comércio de mercadorias e apresentou um déficit comercial e de serviços. 
Nenhum período foi tão conturbado, politicamente e socialmente tenso como 
este. Tanto a classe média quanto a trabalhadora exigiam mudanças 
fundamentais. O desespero da década de 1830/40 foi uma soma de angústias: 
a classe trabalhadora não tinha o que comer e os empresários estavam 
sufocados com os métodos políticos e fiscais com os quais o governo estava 
lentamente sufocando a economia. Na década de 1840, como colocado por 
Marx e Engels, o espectro do comunismo rondava a Europa.

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