Buscar

Hobsbawn Unidade I

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

TEXTO 3: HOBSBAWM, E. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo A origem da Revolução Industrial – Capítulo 2
Primeiramente, a Revolução Industrial (Rev.Ind.) não foi uma mera aceleração do crescimento econômico, mas uma aceleração de crescimento em virtude da transformação econômica e social. Ao fim do séc. XVIII essa transformação ocorreu numa economia capitalista e através dela. A industrialização capitalista exige uma análise um pouco diferente da não-capitalista, pois explicar porque a busca do lucro privado levou à transformação tecnológica. Em segundo lugar, a revolução britânica foi a primeira na história, mas, não significa que ela haja começado do zero, ou que não se possam apontar fases anteriores de rápido desenvolvimento industrial e tecnológico. Por ser a primeira, é diferente em vários aspectos das revoluções industriais subseqüentes. Não pode ser explicada somente com base nos fatores externos, como imitação de técnicas mais avançadas, importação de capital e outros. As rev. posteriores usaram da experiência, do exemplo e dos recursos britânicos, enquanto que este pouco usufruiu dos outros países. A rev. britânica foi precedida por, no mínimo 200 anos de desenvolvimento econômico razoavelmente contínuo, que lançou seus alicerces e que a preparou para a industrialização. 
A Rev. Ind. nao pode ser explicada somente em termos britânicos, já que esta economia faz parte da “economia européia”. A Grã Bretanha fazia parte de uma ampla rede de relacionamentos econômicos, conectado com várias áreas “adiantadas” que possuíam industrialização potencial, áreas de “economia dependente” e também economias estrangeiras não envolvidas significativamente com a Europa. Economias dependentes eram as colônias formais, pontos de comércio e dominação e regiões especializadas economicamente para atender as áreas “adiantadas”. O mundo “adiantado” estava ligado ao mundo dependente pela divisão da atividade econômica: um lado urbanizado e o outro zonas produzindo e exportando produtos agrícolas ou matérias-primas. Essa relação é denominada de sistema de fluxos econômicos: de comércio, de pagamentos internacionais, de transferência de capital, de migração, etc. 
A economia européia já mostrava fortes sinais de expansão e desenvolvimento econômico, e ela, a partir do séc. XVI, tendia a dividir-se em unidades político-economicas independentes e concorrentes, como a Grã Bretanha e a França que possuíam suas estruturas econômicas e sociais, além de setores e regiões adiantados e dependentes. A origem da Rev. Ind. não deve ser explicada somente em termos de clima, geografia, mudança biológica na população e outros fatores exógenos, esses fatores que compõe os recursos naturais disponíveis não atuam por si sós, mas dentro de um dado quadro econômico, social e institucional, além disso, necessitam de fácil acesso ao mar, ou seja, baratos e viáveis meios de transportes. Explicações para a Rev. Ind. em termos de “acidentes históricos” também devem ser rejeitadas, já que os descobrimentos ultramarinos dos sécs. XV e XVI não bastam para explicar a industrialização, assim como a “revolução cientifica” do séc. XVII. Tampouco a Reforma Protestante pode ser um meio de explicar a Rev. Ind., como também os fatores políticos são rejeitados para tal função, mesmo estes incentivando e favorecendo a busca do lucro acima dos outros objetivos. A rejeição de explicações simplistas não significa que estas não possuam sua devida importância, somente atribuem a elas uma escala relativa de valores. 
No séc. XVIII, as principais pré-condições para a industrialização da Grã-Bretanha já existiam, no ano de 1750 era duvido a existência de um campesinato dono de terras em grandes partes da Inglaterra e de uma agricultura de subsistência. Nesse momento, já não havia mais dificuldade para a transferência de homens de atividades não industriais paras as industriais, além disso, o país acumulara capitais e tinha dimensões suficientes para permitir investimentos nos equipamentos necessários à transformação econômica. E possui uma parcela desses equipamentos estava em mãos de homens dispostos a investir no processo econômico. Desse modo, não havia escassez de capital, relativa ou absoluta, o país não era uma simples economia de mercado, mas sim um único mercado nacional com setor manufatureiro extensivo e bastante desenvolvido, assim como a estrutura comercial. Outro fator importante e que facilitou foram os transportes e as comunicações serem baratos, já que nenhuma parte do país era 112 km do mar e menos de algum curso de água navegável. 
Os problemas tecnológicos do começo da Rev. Ind. eram simples e não exigiam homens com qualificações especializadas. A maior parte das inovações técnicas e dos estabelecimentos produtivos precisavam de pouco investimento inicial e sua expansão podia ser financiada pelo acúmulo de lucros. Sendo assim, o desenvolvimento industrial achava-se dentro das possibilidades de um grande número de pequenos empresários e artesãos. E os obstáculos que surgiam no caminho da industrialização britânica foram de fácil superação, já que existiam as condições sociais econômicas fundamentais para isso, sendo bem simples e barata o tipo de industrialização verificado no séc. XVIII. E observando o desenvolvimento de uma industrialização embasada na iniciativa privada, a lógica freqüente é que a iniciativa privada opte automaticamente para a inovação, mas isso não é o que de fato ocorre. A iniciativa privada só tende para o lucro. 
Então, como surgiram na Grã-Bretanha do séc. XVIII as condições que levaram os homens de negócios a revolucionarem a produção? Há duas correntes que buscam explicar isso, a primeira salienta a importância do mercado interno, que era o maior escoadouro para os produtos do país; a segunda realça o mercado externo(exportação) que também era muito dinâmico e seguro. Portanto, ambas correntes eram essenciais, cada um a seu modo, como também um terceiro fator, o governo. Com relação ao mercado interno, este podia crescer de 4 maneiras importantes: crescimento populacional, que cria mais consumidores; transferência de pessoas, das rendas não-remuneradas para rendas monetárias, cria mais clientes; aumento da renda per capita, cria melhores clientes; advendo de bens produzidos industrialmente, em substituição a formas antigas de manufaturas ou importações. 
Uma característica importante verificada na população da Grã-Bretanha foi a duplicação desta em 50 ou 60 anos depois de 1780, voltando a duplicar nos 60 anos entre 1841 e 1901. Após o início real da Rev. Ind., as taxas de saldo fisiológico natural das principais regiões mostraram tendência para se igualarem e elas só possuem relevância na medida em que esclarecessem até que ponto o aumento populacional foi causa ou conseqüência de fatores econômicos. E quais foram os efeitos econômicos dessas mudanças? Mais gente significa mão-de-obra em maior quantidade e mais barata, na Inglaterra do séc. XVIII a força de trabalho em crescimento ajudou a industrialização devido a economia já ter uma característica dinâmica. Não se sabe ao certo qual a real importância dos transportes para o desenvolvimento industrial, não resta duvida de que o estímulo foi dado pelo mercado interno e pela crescente procura de alimentos e combustíveis. A diferença nos custos de transporte era tão acentuada que valia a pena realizar investimentos no setor. O carvão vegetal cresceu com o aumento das lareiras urbanas, e o ferro refletiu na procura por panelas, pregos, fogões, etc. A base pré industrial da indústria de carvão era muito mais sólida que a da indústria de ferro. Em 1720 o consumo de ferro na Grã-Bretanha foi inferior a 50.000 t, e em 1788, quando a Rev. Ind. já ia bem adiantada, não foi superior a 100.000 t, sendo que a verdadeira Rev. Ind. para o ferro e o carvão foi na era das estradas de ferro abrindo um mercado de massa, tanto para bens de consumo como de capital. A grande vantagem do mercado interno pré-industrial era sua dimensão e sua constância, que favoreceuo crescimento econômico e estava disponível para proteger as atividades de exportação contra as flutuações e os colapsos súbitos que era o preço que pagavam por um maior dinamismo. O mercado interno socorreu na década de 1780, quando ocorreram a guerra civil e Revolução Americana e também nas guerras napoleônicas, além de proporcionar amplos fundamentos para uma economia industrial generalizada. 
As atividades de exportação atuavam em condições muito diferentes, muito mais revolucionárias, apresentavam violentas flutuações e no longo prazo se expandiam muito mais e com maior rapidez que o mercado interno. Entre 1700 e 1750 as atividades do mercado interno aumentaram em 7% e as exportações em 76%; entre 1750 e 1770 em 7% e 80% respectivamente. A produção de algodão era vinculada essencialmente ao comércio ultramarino, sendo cada grama importada dos trópicos ou sub-trópicos e os produtos tinham de ser vendidos no exterior. O potencial extraordinário das atividades de exportação não dependiam da modesta taxa de crescimento “natural” da procura interna de qualquer país. E criar a ilusão de crescimento rápido era através de dois meios: conquista de mercados de exportação a uma série de outros países e a destruição da concorrência interna dentro de determinados países, por meios políticos ou semipolíticos da guerra e colonização. Assim, o país que concentrasse os mercados de exportação de outros povos, ou monopolizasse os mercados de exportação de grande parte do mundo podia expandir suas exportações a um ritmo que tornava a Rev. Ind. viável. 
O terceiro fator importante que contribuiu para a Rev. Ind. foi o governo estar disposto a empreender a guerra e a colonização em benefício dos manufatureiros britânicos, sendo assim a Grã-Bretanha estava disposta a subordinar toda a política externa a objetivos econômicos. Na guerra, as metas eram comerciais e navais. Por fim, a política britânica no séc. XVIII era de agressividade sistemática, em períodos de guerra a Grã-Bretanha encontrava-se na defensiva e o resultado dessa postura foi o triunfo obtido: o virtual monopólio, entre as potências européias, de colônias externas e o virtual monopólio de poder naval em escala mundial. A própria guerra, ao mutilar os principais competidores da Grã-Bretanha na Europa, fazia expandir as exportações. 
Resumidamente, os três principais setores da demanda do industrialismo foram: as exportações, apoiados pelo auxílio sistemático e agressivo do governo, proporcionaram e construíram (junto com a produção têxtil de algodão) o “setor básico” da industrialização. Além disso, conduziram a melhoria do transporte marítimo; o mercado interno proporcionou a base geral para uma economia industrializada em grande escala e incentivou grandes melhorias no transporte terrestre, importante base para carvão e inovações tecnológicas; governo dava apoio sistemático ao comércio e aos manufatureiros, bem como incentivos para inovação técnica e o desenvolvimento de indústrias de bens de capital. 
Não havia duvidas de que a primeira potencial industrial seria a Grã-Bretanha, porque os holandeses se dedicavam à confortável atividade tradicional (exploração da estrutura comercial e financeira e de suas colônias) e os franceses não tinham condições para recupera o terreno que havia perdido com a grande depressão econômica do séc. XVII. E a Rev. Ind. ocorreu no séc. XVIII pelo fato de toda a evolução da economia em geral, que a Grã-Bretanha fazia parte, para áreas “avançadas” da Europa e suas relações com as economias dependentes coloniais e semi-coloniais, os parceiros comercias marginais e regiões não envolvidas no sistema europeu de fluxos econômicos. O novo relacionamento entre as áreas “avançadas” e o resto do mundo,após a grande depressão econômica do séc. XVII, tendia a intensificar e alargar os fluxos de comércio. Na Europa, o surgimento de um mercado para produtos ultramarinos de uso cotidiano, mercado este que podia expandir-se ao se tornarem esses produtos disponíveis em maior quantidade e a preço menor; no exterior a criação de sistemas econômicos para produção desses bens (plantations mantidas por escravos); e a conquista de colônias destinadas a servir aos interesses de seus proprietários. 
A expansão geral do comércio no séc. XVIII foi bastante expressiva, em que todos os países, mas a expansão do comércio relacionada com o sistema colonial foi nada menos que espetacular. Essa vasta e crescente circulação de bens não servia apenas para trazer à Europa novas necessidades bem como o estímulo de produzir no país os artigos importados. Mais que isso, tais produtos proporcionavam um horizonte ilimitado de vendas e lucros para mercadores e fabricantes. E foram os britânicos que , com sua política e força, tanto quanto por sua iniciativa e seu espírito criador, capturaram esses mercados. A economia industrial britânica desenvolveu-se a partir do comércio e, sobretudo do comércio com o mudo subdesenvolvido. Durante todo o séc. XIX seria mantido esse padrão histórico: o comércio e a navegação mantinham o balanço de pagamentos, enquanto a troca de produtos primários ultramarinos por produtos manufaturados britânicos representava a base da economia internacional. 
TEXTO 4: HOBSBAWM, E. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. Capítulo 3 – A Revolução Industrial (1780-1840)
“Quem fala da Revolução Industrial fala do algodão” – o algodão deu o tom da mudança industrial e foi o esteio das primeiras regiões, que não teriam existido se não fosse a industrialização. O capitalismo industrial baseada numa nova forma de produção, a fábrica, expressou uma nova sociedade.
A manufatura de algodão foi um subproduto típico da crescente corrente de comércio internacional, principalmente colonial, sem a qual a Revolução Industrial não pode ser explicada. No começo do século XVIII a única fabricação pura de algodão era proveniente da Índia, mas em 1700 a manufatura de lã inglesa conseguiu o fim das importações e isso fez com que os fabricantes nacionais tivessem um trânsito livre no mercado interno. 
Até 1770, mais de 90% das exportações inglesas de algodão dirigiam-se para mercados colônias, sobretudo a África. O algodão ganhou vínculo característico com o mundo em desenvolvimento, mantido e fortalecido através de todas as flutuações que podiam acontecer. 
Até 1790, as plantações de algodão das Índias Ocidentais supriam a matéria-prima necessária. A partir dessa data as plantações do sul dos Estados Unidos passaram a exercer esse papel, porém, este moderno centro de produção preservava uma primitiva forma de exploração do trabalho, a escravatura. O algodão era e continuou a ser, essencialmente, uma atividade de exportação. 
A fabricação britânica de algodão era a melhor do mundo em sua época, mas terminou como tinha começado, pois se baseava não em uma superioridade competitiva, mas em um monopólio dos mercados coloniais e subdesenvolvidos que lhe era garantido pelo Império britânico, pela Marinha e pela supremacia comercial. 
O problema técnico que determinou a natureza da fabricação do algodão foi o desequilíbrio entre a eficiência da fiação e da tecelagem. Três invenções conhecidas fizeram pender o prato da balança: 
o “filatório”, inventado em1760, que permitia o artesão trabalhar com vários fios de uma vez
o tear movido a força hidráulica, 1768, possibilidade de fiar com uma combinação de rolos e fusos
a mula, fusão das duas invenções acima, a que logo foi aplicada a energia do vapor.
O período entre 1815-1840 assistiu a disseminação da produção fabril em todas as atividades algodoeiras, bem como o seu aperfeiçoamento através da adoção de dispositivos automáticos na década de 1820 e outras melhorias. Contudo, não ocorreram inovações técnicas. A tecnologia da manufatura do algodão era bastante simples e as outras mudanças que constituíram a Revolução Industrial também eram, exigiam pouco conhecimento científico ou qualificação técnica além do que dispunha um mecânico pratico do começo do século XVIII. 
A razão para isso nãoera nem a inexistência de inovação cientifica nem falta de interesse dos novos industriais pela revolução técnica. Pelo contrário, as inovações científicas abundavam e eram rapidamente aplicadas, sob uma lógica rigorosamente racionalista aos seus métodos de produção. Os fabricantes de algodão aprenderam a construir suas fábricas de forma puramente funcional.
Nos primórdios da Revolução Industrial ela foi simples, porque a aplicação de idéias e de dispositivos simples, idéias conhecidas a séculos e por vezes pouco dispendiosas, era capaz de produzir resultados espetaculares. A novidade estava na presteza em que os homens práticos lidavam com a ciência e a tecnologia disponíveis, e no amplo mercado que se abria às mercadorias, na medida em que os preços e os custos caíam rapidamente. 
Segundo Hobsbawm, essa situação minimizou os requisitos básicos de qualificação, capital, volume de negócios ou organização e planejamento governamental, sem os quais nenhuma industrialização poderia ter êxito.
Hobsbawm faz uma comparação com uma nação em desenvolvimento de hoje, que procura lançar sua própria industrialização. Ele identifica que as características espécies da produção moderna são de dimensões e de uma complexidade que as colocam além da experiência da maior parte a pequena classe de homens de negócios que possa existir no país, e exigem um volume de investimento de capital inicial muito além de suas possibilidades independentes de acumulação de capital.
O problema crucial do desenvolvimento econômico dos atuais países subdesenvolvidos reside no fato de que é muito fácil conseguir capital para a construção de uma indústria moderna do que administrá-la, há uma dificuldade de se encontrar pessoal de qualificação intermediária, sem essas características qualquer economia moderna poderia desbancar em ineficiência. As economias atrasadas que conseguiram se industrializar com sucesso foram aquelas que descobriram meios de multiplicar rapidamente esse pessoal.
No caso da Grã-Bretanha (GB), em nenhum momento enfrentou-se escassez de homens competentes e pôde até mesmo passar sem um sistema de educação elementar pública até 1870. A verdade é que nessa época praticamente qualquer coisa tinha mercado, sobretudo tendo em vista a simplicidade do cliente nacional e estrangeiro. 
Assim, com notável rapidez e facilidade, surgiu entre as fazendas de Lancashire um novo sistema industrial baseado numa nova inovação tecnológica, que prevaleceu sobre o já estabelecido. O capital acumulado dentro da atividade substituiu as hipotecas de fazendas e as poupanças dos donos de estalagens, um proletariado fabril tomou o lugar de alguns estabelecimento mecanizados que eram operados por uma massa de trabalhadores domésticos dependentes. Nos decênios que seguiram as Guerras Napoleônicas, gradualmente se dissiparam os antigos elementos da nova industrialização e a moderna indústria deixou de ser a realização de uma minoria pioneira para se tornar a norma da vida de Lancashire. 
Conseqüências:
Estrutura descentralizada do algodão, resultado de ela ter nascido das atividades sem planejamento de pequenos fabricantes. A indústria do algodão surgiu como um complexo de firmas altamente especializadas de médio porte. Esse tipo de estrutura comercial apresenta uma vantagem de flexibilidade e presta-se bem a uma rápida expansão inicial.
Aparecimento de um forte movimento sindicalista
Nova relação econômica entre os homens, um novo sistema de produção, novo ritmo de vida, nova sociedade e nova era histórica. 
 O novo sistema de Lancashire consistia de três elementos:
Divisão da população ativa entre empregadores capitalistas e trabalhadores que nada possuíam além de sua força de trabalho, que vendiam em troca de salário
A produção na fábrica consistia em uma combinação de máquinas especializadas com mão-de-obra especializada
Dominação de toda a economia pela procura e acumulação de lucro por parte dos capitalistas
Visões sobre a industrialização: 
oAlguns grupos não viam nada de errado com o novo sistema
utros que nada tinham a ganhar com ele, senão o , o rejeitavam
Um terceiro grupo, do qual Robert Owen faz parte, aceitava a Revolução Industrial e o progresso técnico como veículos de conhecimento e abundância potencial para todos, mas rejeitava a sua forma capitalista como causadora efetiva da exploração.
Nessa primeira fase da industrialização britânica, nenhuma outra atividade podia ser comparada, em importância, a do algodão. Sua contribuição para a economia internacional era muito importante, correspondia a metade do valor total das exportações. A balança de pagamentos da GB dependia dessa atividade, como também da navegação e do comércio ultramarino.
A fabricação de algodão contribuía para a acumulação de capital que outras, ao menos porque a rápida mecanização e a barata mão-de-obra permitiam uma elevada transferência dos rendimentos do trabalho para o capital.
O algodão estimulou a industrialização e a revolução técnica. No entanto, lhe faltava capacidade direta para estimular outras atividades pesadas de bens de capital como carvão, ferro e aço. Entretanto, o processo geral de urbanização ofereceu um substancial estímulo ao carvão no começo do século XIX. 
Carvão: as lareiras consumiam 2/3 do que era produzido, os processos de extração continuavam primitivos, mas devido a elevada demanda a mineração foi obrigada a encontrar mudanças técnicas, assim foi empregada a máquina a vapor. 
Ferro: encontrou mais dificuldades, antes da Revolução Industrial a GB não o produzia em grande quantidade, inovações tecnológicas aumentaram a capacidade da atividade e deslocaram definitivamente a indústria para as jazidas de carvão. Após as Guerras Napoleônicas, em que começou a Revolução Industrial em outros países o ferro adquiriu crescente importância para as exportações. O ferro estimulou as atividades que consumiam esse metal como os transportes. 
Outros setores da economia: acentuado crescimento econômico, bem como alguma transformação industrial, mas dificilmente poderia se falar em Revolução Industrial.
Esta industrialização era limitada, se baseava em um único setor têxtil e não podia ser estável nem sólida. Hobsbawm identifica que o período inicial da industrialização britânica atravessou uma crise que alcançou seu estágio agudo da década de 1830/1840, a comprovação desta crise foi a insatisfação social que se alastrou na GB, em nenhum outro momento da história britânica o povo se mostrou tão insatisfeito.
A pobreza dos britânicos era um fator importante para as dificuldades econômicas do capitalismo, pois impunha limites às dimensões e à expansão do mercado interno para os produtos nacionais. As vantagens econômicas dos altos salários, quer como incentivo a maior produtividade ou acréscimo ao poder aquisitivo não foram descobertas até meados do século. 
Tanto na teoria quanto na prática incentivava-se a importância da acumulação de capital pelos capitalistas e os lucros faziam a economia funcionar e expandir-se através do reinvestimento, assim, deveriam ser aumentados a todo custo. 
Tal ponto de vista repousava em dois pressupostos:
O progresso industrial exigia altos investimentos e o de que não haveria poupança suficiente no caso de não serem mantidas baixas as rendas das massas não-capitalistas. Pressuposto mais verdadeiro no longo do que no curto prazo, pois as primeiras fases da Revolução Industrial foram relativamente baratas.
Os salários deveriam ser mantidos baixos. 
Duas coisas preocupavam os homens de negócio: a taxa de seus lucros e a taxa de expansão dos mercados. Com a industrialização, a produção multiplicou-se, os preços caíram, mas os custos de produção não podiam ser reduzidos proporcionalmente, quando terminaram as Guerras napoleônicas entrou-se em um período de deflação. 
Os mercados não estavam se expandindo com rapidez suficiente para absorver a produção com a taxa de crescimento que a economia se habituara e, internamente, os mercados cresciam pouco. O único país industrializado nomundo viu-se na impossibilidade de manter um excedente na exportação em seu comércio de mercadorias e apresentou um déficit comercial e de serviços. 
Nenhum período foi tão conturbado, politicamente e socialmente tenso como este. Tanto a classe média quanto a trabalhadora exigiam mudanças fundamentais. O desespero da década de 1830/40 foi uma soma de angústias: a classe trabalhadora não tinha o que comer e os empresários estavam sufocados com os métodos políticos e fiscais com os quais o governo estava lentamente sufocando a economia. Na década de 1840, como colocado por Marx e Engels, o espectro do comunismo rondava a Europa. 
TEXTO 5: HOBSBAWM, E. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo - cap. 6: Industrialização: A Segunda Fase (1840-1895)
A primeira fase da industrialização britânica, baseada na produção têxtil, estava perto de seu fim, dando origem a uma nova fase do industrialismo, baseada nas indústrias de bens de capital, no carvão, no ferro e no aço. Com alicerces muito mais firmes para o crescimento econômico. Em nenhuma outra época a taxa de crescimento das exportações britânicas havia aumentado tanto como entre 1840 e 1860. 
Isso se deu, devido a dois motivos: 
Crescente industrialização do resto do mundo, criando um mercado em rápido crescimento para aquele tipo de bens de capital. 
Pressão para se investir em algo lucrativo (estradas de ferro) o capital vastamente acumulado. 
Entre 1830 e 1850 foram construídos cerca de 9.650km de estradas de ferro na Grã-Bretanha. De forma que em 1850 a rede básica já estava praticamente pronta. Tal transformação foi revolucionária, alterou a velocidade do movimento da vida humana. Afetando a vida de todos, inclusive a do cidadão comum. As estradas de ferro pareciam estar várias gerações à frente do resto da economia, tornando-se algo ultramoderno. Sua organização e seus métodos não tinham paralelos em nenhuma outra atividade.
É normal pensar que esse extraordinário desenvolvimento refletisse as necessidades de transporte de uma economia industrial - SÓ QUE NOT! A velocidade tinha importância relativamente secundária para bens não-perecíveis. E a maior parte do país utilizava o transporte aquático. (Não há comprovações de que dificuldades de transportes prejudicassem seriamente o desenvolvimento da indústria em geral). Outro fator observado é que muitas estradas construídas eram irracionais, segundo qualquer critério de transporte.
Fazia sentido ligar uma mina de carvão, distante de rios, até a costa por meio de uma longa ferrovia, uma vez que os elevados custos de construção dessa linha seriam mais que compensados pelas vendas de carvão que ela possibilitaria. Também fazia sentido levar um bem produzido em uma região para outra onde até então se exercia o monopólio de tal artigo. Por conseqüência, observou-se que, tais investimentos atraíram inúmeros investidores e homens de negócios interessados em expandir o comércio de suas cidades e conseguir um retorno maior ao seu capital. Porém poucos desses investimentos tinham uma justificativa racional de acontecer. Muitas vezes ligavam lugares sem importância comercial, sem utilidade ou razão de existir. O importante aqui não era a serventia da linha férrea e sim o fato de construí-las.
Em pouco tempo, as ferrovias não tinham mais pra onde crescer e a economia não sabia mais como absorver um investimento industrial de tal magnitude. Dessa forma, o mais óbvio escoadouro disponível para esse excedente de capital era o investimento no exterior. 
O capital a ser investido era vasto, e os ingleses, atraídos pela “revolução tecnológica”, projetavam seus lucros não administrando as estradas, mas sim construindo-as ou planejando-as, mesmo que os custos para isso estivessem extraordinariamente inflados. Grande parte deste capital se perdeu nas recessões decorridas das “ondas ferroviárias”.
O dinheiro era vasto e estava lá para ser gasto, se não rendeu muitos lucros, ao menos produziu algo útil: um sistema de transportes, um novo meio de mobilizar a acumulação de capital de todos os tipos para fins industriais, uma nova e vasta fonte de emprego e um estímulo duradouro às atividades nacionais de bens de capitais. Desta forma, observa-se que elas constituíram uma boa solução para a crise da primeira fase do capitalismo britânico.
A construção de ferrovias em todo o mundo continuou em escala cada vez maior, pelo menos até a década de 1880. Essa extraordinária expansão foi reflexo de dois processos paralelos: A industrialização nos países “adiantados” (desenvolvidos) e a abertura econômica das áreas subdesenvolvidas. Fazendo com que a Alemanha e os Estados Unidos logo se tornassem economias industriais comparáveis à britânica. E lançando as bases da das economias tropicais e subtropicais baseadas na exportação de produtos industriais e de capital. E até a década de 1970, os efeitos eram também benéficos para a Grã-Bretanha. 
Pode-se citar três conseqüências para essa mudança na orientação da economia britânica:
A Revolução Industrial na indústria pesada – que pela primeira vez supriu a economia de ferro em abundância e com aço. A produção de carvão somente aumentou a quantidade de mineiros, sem incorporar novas tecnologias. O grande aumento na produção de ferro deveu-se à melhorias na capacidade e produtividade dos altos-fornos. A produção de aço foi revolucionada e passou e ser produzida em massa. 
Aumento no nível de emprego e transferência de mão-de-obra para ocupações mais bem remuneradas. Entretanto o salário real de muitas categorias de trabalhadores não melhorou substancialmente e as condições de habitação e serviços urbanos continuavam precárias. 
Aumento da exportação de capital britânico para o exterior – não somente em estradas de ferro, mas também nos tradicionais bens imóveis e em títulos de governo, além da criação de diversas bolsas como a de Liverpool e Manchester. 
Vale ressaltar que a expansão dos transportes que acompanhou a expansão do ferro, do aço e do carvão, proporcionaram emprego pra gente que até então tinha dificuldade em conseguir trabalho. Trabalhadores desqualificados ganhavam melhores salários. Além de se reduzir o excedente agrícola, melhorando a situação dos trabalhadores rurais. A mão-de-obra qualificada mais que dobrou nesse setor. Nesta época o número de trabalhadores metalúrgicos era muito maior que os da área têxtil. 
Com as estradas de ferro, a Grã-Bretanha entrou num período de plena industrialização. Sua economia já não se equilibrava mais precariamente em dois ou três setores pioneiros (têxteis). Criaram suas bases na produção de bens de capital, que facilitava o advento da tecnologia e da organização moderna para uma grande variedade de atividades. A economia britânica podia produzir qualquer coisa de desejasse. Superara a crise original do começo da revolução Industrial, e ainda não começara a sentir a crise do país industrial pioneiro que deixa de ser a única potência industrial do mundo.
Uma economia industrial plenamente industrializada implica permanência de mais industrialização. As classes industriais (empregadores e empregados) se adaptaram rápido a esse modo de vida revolucionário:
Empregadores – Seguiam o modelo da primeira fase da revolução industrial. Exigiam longas jornadas de trabalho com o mínimo valor salarial a ser pago, como única alternativa viável para se obter lucros. Sem qualquer familiaridade com as regras do livre mercado. 
Empregados – Eram dominados pela Lei de Contrato, que os tornava passíveis de prisão por abandono de emprego. Os sindicatos eram considerados como fontes de catástrofe econômica e por isso, destinados ao fracasso quase que imediato. Desta forma, não era surpresa que os trabalhadores também se recusassem a aceitar o capitalismo, visto que este não lhes oferecia nenhuma vantagem. 
Porém, observa-se que em meados da década de 1840, Os empregadores começaram a abandonar, de forma espontânea e não oficial, os métodos “extensivos” de exploração, como o aumento de horas de trabalho e redução de salários,preferindo métodos “intensivos”, que significavam o oposto. Os industriais britânicos agora se sentiam suficientemente ricos e seguros para permitirem tais mudanças. A Lei das Dez Horas é um exemplo disso, além da “semana-inglesa”, um fim de semana livre. Pagamentos de incentivo aos maiores resultados dos trabalhadores, com contratos mais curtos e flexíveis. Diminuiu a coerção extra-econômica e inseriu os Inspetores Fabris. 
Nas minas o progresso foi mais lento, embora a servidão anual fosse abolida em 1872. O injusto Código do Servo e Senhor foi finalmente abolido em 1875. Mais importante que isso, foi a concessão, aos sindicatos, daquilo que equivalia ao seu moderno estatuto legal. Daí em diante passariam a ser aceitos como permanentes e não como componentes necessariamente nocivos ao cenário industrial.
Entretanto, a mudança mais significativa foi de natureza política: A Lei de Reforma de 1867, que aceitou um sistema eleitoral que dependia dos votos da classe trabalhadora. Os governantes da Grã-Bretanha não receberam bem a reforma. Pelo contrário, se não fosse as agitações das massas pobres, não teriam cedido tanto. Porém a aceitaram com disposição, pois já não consideravam a classe trabalhadora britânica como revolucionária. Os riscos do socialismo desapareceram. 
Outro fato importante foi a descoberta de que o capitalismo não era uma catástrofe temporária, mas sim um sistema permanente que permitia alguma melhoria, alterara os objetivos de suas lutas. Não havia socialistas pra sonharem com uma nova sociedade. Havia sindicatos, procurando explorar as leis da Economia Política a fim de criar escassez da mão-de-obra que representavam e assim aumentar os salários de seus membros.
No cenário do começo da década de 1870 não era provável que qualquer coisa de muito séria desse errado com a economia britânica. Contudo, aconteceu. Assim como a primeira fase da industrialização, a segunda, também gerou a sua própria depressão. O período de 1873-96 foi conhecido como a “Grande Depressão” (sem comparação com o período de 1830-40 e 1920-30). Após o seu progresso triunfal, a economia estagnava. Embora a prosperidade britânica do começo do década de 1870 não terminasse em um desastre como fora a dos Estados Unidos e da Europa Central, em meio aos destroços de banqueiros falidos e fábricas desativadas, sua decadência era sem precedentes. Ao contrário das outras crises, a Inglaterra não iria renascer. Preços, juros e taxas de juros caíam ou permaneciam inexplicavelmente baixos. E só cessaria em meados de 1890. 
Entra 1890-95 Estados Unidos e Alemanha superaram a Grã-Bretanha na produção de aço. Durante a “Grande Depressão”, a Grã-Bretanha tornou-se apenas uma das três maiores potências industriais, em certos sentidos, a mais fraca delas. A crise foi sentida de forma diferente pelos países, (nos EUA e Alemanha o período foi de extraordinário avanço e não estagnação). Porém é fato que ela marca o fim da fase “britânica” da industrialização. O problema é que antes a Grã-Bretanha controlava praticamente sozinha todo o comércio mundial, sendo único país produtor e exportador. Porém novas fábricas começaram a funcionar ao redor do mundo e novas regiões agrícolas foram cultivadas, levando a uma queda de preços dos produtos. A agricultura britânica achava-se devastada na medida em que se havia especializado no cultivo de cereais, que agora perdiam inteiramente sua capacidade competitiva, e sua importância era muito pequena para que ganhasse alguma forma de proteção.
Uma nova fase tecnológica abriu novas possibilidades na década de 1890, a economia britânica hesitava em investir nesses novos meios. Desta forma, ao se preencher o vácuo da procura, os mercados tendiam a se saturar, pois embora houvessem evidentemente crescido, não haviam com suficiente rapidez de produção e capacidade de produção dos bens manufaturados. Ao se declinarem os altos lucros dos pioneiros industriais, esmagados entre a concorrência, que fazia baixar os preços, e da fábrica cada vez mais dispendiosa e mecanizada, com seus custos cada vez mais altos e inelásticos, os empresários começaram a procurar ansiosamente uma saída. E, enquanto a procuravam, as crescentes massas das classes operárias nas economias industriais juntaram-se à população agrícola em agitações em prol de melhorias e reforma. A era da “Grande Depressão” foi também a era do surgimento dos partidos proletários socialistas por toda a Europa.
A crise não foi apenas temporária. Revelou que outros países tinham agora condições de produzir para si mesmos, talvez até para exportação, aquilo que até então só se podia conseguir da Grã-Bretanha. Ao contrário do países, que recorriam agora a taxas aduaneiras, para proteger tanto a sua agricultura quantos os seus mercados industriais (como França, EUA, Alemanha), a Grã-Bretanha apegava-se ao máximo ao livre comércio. A Grã-Bretanha achava-se por demais comprometida com a tecnologia e a organização comercial da primeira fase da industrialização, que lhe havia servido tão bem. Isso lhe deixou apenas uma saída – uma saída tradicional para a Grã-Bretanha, embora agora também adotada pelas potências concorrentes: a conquista econômica (e cada vez mais política) de áreas do mundo até então inexploradas. O imperialismo.
Desta forma, a era da Grande Depressão gerou também a era do imperialismo. O imperialismo formal da “partilha da África” na década de 1880, o imperialismo semi-formal de consórcios nacionais ou internacionais que assumiam a administração financeira de países pobres, o imperialismo informal do investimento estrangeiro. O imperialismo não era algo novo para a Inglaterra. O que havia de novo era o fim do virtual monopólio britânico no mundo subdesenvolvido, e a conseqüente necessidade de se delimitar formalmente regiões de influência imperial.
Cada vez mais o empresariado, de uma maneira ou de outra, recorria ao Estado não só para pedir carta branca como também para pedir auxílio. Surgiu uma nova dimensão na política internacional. Que iria dar origem a um novo período de guerras mundiais após um longo período de paz. 
Vale ressaltar que o fim da era de expansão incontestada, a dúvida quanto às futuras perspectivas da economia britânica, geravam uma mudança fundamental na política britânica. Em meados da década de 1890 o grande Partido Liberal achava-se esfacelado, e a grande parcela de seus capitalistas haviam-se bandeado para os conservadores ou os “liberal-unionistas”, que no futuro se fundiriam aos conservadores. Estava iminente o surgimento de um Partido Liberal independente apoiado pelos sindicatos e inspirados pelos socialistas. Já o primeiro socialista proletário estava instalado na Câmara dos Comuns. -> Finda a Grande Depressão, as coisas haviam mudado.
TEXTO 6: Hobsbawm - Capítulo 7 – A Grã-Bretanha Na Economia Mundial
Hobsbawm acreditava que no sentido literal talvez a Grã-Bretanha nunca tenha sido a “oficina mecânica do mundo”, porém, seu predomínio industrial era tão grande que acabou legitimando a expressão.
Já na década de 1840, o maior rival da Grã-Bretanha era os EUA, seguido pela França, Alemanha e Bélgica. Esses e outros países, exceto a Bélgica, achavam-se retardatários no que se referia à industrialização, mas se continuassem se industrializando, a vantagem britânica diminuiria inevitavelmente. O que de fato ocorreu. 
1880 o declínio relativo da Inglaterra era visível, inclusive nos setores antes dominantes.
 1890 No início desta década tanto os EUA quanto a Alemanha ultrapassaram a Inglaterra na produção do aço (mercadoria essencial para a industrialização)
A partir do momento que demais países se industrializavam e ultrapassavam a Inglaterra, esse país passou a integrar um grupo de potências industriais, deixando de ser líder e também de ter o “monopólio” desse processo. 
A primitiva economia britânica dependia, para sua expansão, principalmente do comércio internacional. Com exceção do carvão, seus suprimentos internos de matérias-primas não eram suficientes e era necessário importar.Crescente necessidade de importar alimentos, visto que a partir de meados do século XIX o país não tinha mais condições de alimentar sua população somente com sua produção interna. Por mais que a população inglesa estivesse crescendo, sua grande maioria (classes trabalhadoras) era pobre para prover um mercado interno intensivo para quaisquer produtos que não fossem de primeira necessidade. 
A economia britânica criou um padrão característico e peculiar de relações internacionais. Dependia em alto grau do comércio exterior, ou seja, trocava suas manufaturas e outros bens e serviços (capital, operações bancárias, e etc), característicos de sua economia desenvolvida, por produtos primários estrangeiros. 
A aspiração britânica era transformar o mundo em um conjunto de economias dependentes, e a ela complementares; cada uma trocaria os produtos primários correspondentes à sua situação geográfica pelas manufaturas inglesas. Entretanto, várias dessas economias complementares se desenvolveram, sobretudo com base em alguns produtos especializados locais cujos principais compradores eram os britânicos.
Após a década de 1870, o crescimento de um amplo comércio internacional de alimentos acrescentou vários outros países ao grupo de economias industrializadas.
Como a Grã-Bretanha já não era a única economia desenvolvida ou em industrialização, os demais países industrializados, eram, naturalmente, parceiros comerciais da Inglaterra, e na realidade, clientes potencialmente mais importantes para seus produtos que o mundo subdesenvolvido, por serem mais ricos e mais dependentes da compra de manufaturas. 
 Um país em processo de industrialização, de início necessitava da Inglaterra, uma vez que esta era muitas vezes a única fonte de capital, maquinaria e técnica.
As primeiras estradas de ferro foram construídas por empreiteiros britânicos, usando locomotivas, trilhos, pessoal técnico e capital proveniente da Grã-Bretanha.
Era inevitável que uma economia em industrialização procurasse proteger suas indústrias contra os britânicos, pois se não o fizesse era improvável que tais indústrias conseguissem se desenvolver ao ponto de serem capazes de competir com as indústrias britânicas.
 Assim que terminavam de utilizar a Grã-Bretanha como pudessem, esses países tendiam inevitavelmente a adotar a protecionismo. 
Esse protecionismo começou a se tornar óbvio a partir de meados do século XIX, quando as exportações britânicas para os países de industrialização retardatária, apesar de continuarem grandes, começaram a dar mostras de estacionar ou declinar. 
Devido a esse mesmo protecionismo executado por esses países atrasados industrialmente, que se tornavam competidores da Inglaterra, ocorreu um estímulo a uma maior relação com os países subdesenvolvidos, que representavam economias complementares à britânica. 
Segundo Hobsbawm, em termos amplos, só houve um momento histórico em que tanto os setores desenvolvido quanto o subdesenvolvido do mundo mostraram interesse em cooperar com a economia inglesa ao invés de hostilizá-la: entre 1846 (abolição das Leis do Trigo) e a eclosão da Grande Depressão em 1873.
 Nesse período, as áreas subdesenvolvidas não tinham praticamente outro país para venderem suas mercadorias; e os países desenvolvidos, que estavam entrando em processo de rápida industrialização, necessitavam importar capital e bens de capital.
Antes da década de 1840 (antes da era das estradas de ferro) a economia mundial possuía dimensões modestas; modesta também era a influência da Grã-Bretanha.
 Após 1873 a situação “avançada” do mundo foi de rivalidade entre os países desenvolvidos; aos quais somente a Grã-Bretanha tinha interesse no livre comércio;
O livre fluxo de mercadorias foi o primeiro a ser inibido pelas barreiras alfandegárias e outras medidas discriminatórias que passaram a ser levantadas com freqüência e intensidade cada vez maiores depois de 1880.
Principal indicador da economia com o resto do mundo é o balanço de pagamentos, isto é, o saldo das receitas e do capital que um país recebe do exterior e dos seus desembolsos para países estrangeiros.
O balanço consiste de itens visíveis e invisíveis. Os quais podem ser de credito ou debito.
Ex: Visíveis de credito: exportação de mercadorias e venda de ouro.
Invisíveis de debito: lucro do comercio exterior ( como firmas de um pais no outro), ganhos de frete, de seguro; despesas pessoais dos imigrantes , ganhos de contrabandistas. 
Visíveis de debito: custos de importação de mercadorias, transportadores estrangeiros, remessas de dividendos e juros a outro país 
Os dois lados deveriam se igualar (déficit e credito), porém nunca ocorre
O Balanço de pagamento com o mundo implica em um sistema de compensações e liquidações (compensações com uns países, liquidações com outros); dessa forma sempre ocorrem déficit e superávit nos negócios entre países. 
Balanço implica nos preços das mercadorias (termos de troca): se os países “melhorarem” comprarão mais produtos importados e se “piorarem” comprarão menos. (assim que o autor coloca mesmo). 
Para a Inglaterra esta análise é principalmente importante para a relação de seus produtos industriais e matérias-primas. 
Porem é importante perceber que mesmo parecendo uma vantagem para Inglaterra que o preço das matérias primas diminuam em relação aos produtos industriais; este pode se tornar um inconveniente porque os países de bens primários comprariam menos e estes (países de bens primários) são os mercados inglês. .
Já o oposto (países primários hipoteticamente com produtos mais caros), não afetara tanto o fluxo de compra inglês, por este ser totalmente dependente de matérias-primas e alimentos (principalmente) internacionais. 
Com a contínua revolução industrial os produtos sofreram barateamento, enquanto os bens primários sofrem maior procura - > assim, termos de trocas abaixam para os industriais.
Crescimento do mercado interno (motivos)-> aumento de nível de vida, importação de alimentos mais baratos e queda da importância do algodão (menos importação na Inglaterra ).
Crescimento de economia satélite, (semi) coloniais, produtores de bens primários -> colocaram seus termos de comercio sob o controle economias industriais dominantes (principalmente a Grã-Bretanha).
1860 – déficit cada vez maior das importações sobre as exportações.
Estranheza (pelo autor)- mesmo voltada ao mercado externo e tendo o monopólio industrial por tanto tempo, a Grã-Bretanha nunca teve superávit.
Justificativas para tal (porém duvidosa de acordo com Hobsbawn): há analistas que culpavam as Leis de Trigo as quais impediram que os clientes dos ingleses ganhassem também com suas exportações.
Compradores dos produtos britânicos refletem os limites do mercado da exportação inglesa. Consistiam de países (os compradores) ou que não desejavam adquirir grande quantidade ou países que eram pobres demais
Tradicional inclinação da economia britânica para o mundo ‘’subdesenvolvido’’.
Input do texto: Na verdade, no sec. XIX ninguém se preocupava com déficit ou superávit (não sabiam que existiam) 
Transações invisíveis proporcionavam um grande excedente para a Inglaterra-> principalmente providos pela frota mercante inglesa. De modo geral, as rendas invisíveis cobriam o déficit comercial inglês no primeiro quartel do século. 
1875 – Renda gerada por capitais previamente exportados pela Inglaterra já produzia modesto excedente. A posição internacional da economia britânica passou a depender cada vez mais da propensão britânica para investir ou emprestar seus excedentes acumulados no exterior.
Esse excedente e o comercio de aspectos visíveis, cada vez mais, dependente do mundo subdesenvolvido. Era mais fácil (após 1820) que o comercio britânico conquiste mercados dos países subdesenvolvidos do que entrar nos mercados desenvolvidos (mais competitivos).
 Após 1820 fora mais fácil para o comércio de mercadorias britânico conquistar cada vez mais mercados no mundo subdesenvolvidodo que penetrar nos mercados desenvolvidos, mais lucrativos, porém, mais resistentes e rivais. 
 Nesse sentido, duas áreas do mundo eram de especial importância para a Grã-Bretanha: América Latina e Índias Orientais.
As exportações de capital da Inglaterra, inclusive para o mundo subdesenvolvido, antes de década de 1840, consistiam essencialmente em empréstimos oficiais. Depois, a maior parte passou a compor-se de empréstimos oficiais, estradas de ferro e empresas de serviços públicos. 
Por volta de 1850 a Europa e os Estados Unidos ainda recebiam cerca de metade dessas exportações de capital, mas entre 1860 e 1890, a proporção destinada para a Europa caiu sensivelmente, e a dos EUA passou a declinar lentamente, até que sofreu uma queda brusca durante a Primeira Guerra Mundial. A América Latina e a Índia vieram cobrir essa brecha. 
A Índia tornava-se um mercado cada vez mais importante para o principal produto de exportação da Grã-Bretanha, o algodão. Isso ocorreu porque na primeira metade do século XIX a política inglesa fora destruir a atividade têxtil local, para que não competisse com a sua. 
Antes da Primeira Guerra Mundial, a “chave” de todo o sistema de pagamentos da Grã-Bretanha estava na Índia, uma vez que ela provavelmente financiava mais de dois quintos dos déficits totais da Inglaterra.
 Assim, a Índia proporcionava não só os recursos para investimentos em seu próprio país, como também grande parte do total de rendimentos de investimentos oriundas do exterior. 
A partir da década de 1880 tornou-se popular entre as grandes potências o “imperialismo”, divisão do mundo em colônias formais e em “esferas de influência”. 
 Para a Inglaterra isso foi um passo atrás, pois trocou o império informal, que correspondia a maior parte do mundo subdesenvolvido, por um império formal, que era equivalente a um quarto daquele. 
O sentido de anexar todas as áreas possíveis era ganhar o controle das matérias-primas, vitais para o desenvolvimento econômico moderno, que esses países possuíam. 
No entre - guerras, após a derrocada da estrutura das relações econômicas internacionais inglesa, anterior a 1914, havia os impérios para amortecer os choques causados por uma situação mundial cada vez mais dura. 
O colapso do comércio após a Primeira Guerra deu-se tanto à crise geral da economia mundial, que fez diminuir o âmbito das transações econômicas internacionais, como também à retardada, porém inevitável revelação de que a indústria britânica havia se tornado obsoleta e ineficiente. 
Depois da guerra, o comércio mundial só recuperou o nível de 1913 durante um período breve, que vai de 1926 a 1929.
Não foi modernizando sua economia que a Grã-Bretanha “escapou” da Grande Depressão (1973-1896). Primeiramente, o país havia exportado mais para as economias atrasadas e retardatárias, e utilizara ao máximo sua última grande inovação técnica, o navio de ferro a vapor.
Enquanto a indústria inglesa era ultrapassada, suas finanças se tornavam cada vez mais essenciais.
Paradoxalmente, o mesmo processo que debilitava a produção britânica – o surgimento de novas potências industriais – fortalecia suas finanças.
As economias retardatárias aumentavam suas importações de produtos primários do mundo subdesenvolvido, mas não possuíam com este as relações intensas e tradicionais que a Inglaterra possuía. 
Com a Primeira Guerra Mundial, a Grã-Bretanha deixou de ser a maior nação credora do mundo, sobretudo por ter sido obrigada a liquidar parte de seus investimentos nos Estados Unidos, tornando-se grande devedora desse país, que ao fim da guerra se transformou no maior credor. 
Depois de 1919, a Grã-Bretanha pareceu recuperar-se, e seus governantes fizeram de tudo para tentar restabelecer os padrões de 1913, entretanto, isto não passou de uma grande ilusão. 
HOBSBAWM, E. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. Cap. 09 – O Começo do Declínio
A partir da Revolução Industrial a economia transformou-se continuamente. Às vezes os resultados dessas mudanças são tão intensos que se fala até mesmo em uma “segunda” Revolução Industrial. Uma das principais diferenças entre as fases da Revolução Industrial é que a primeira foi invulgar e arcaica e porque a Grã-Bretanha, a pioneira, permanecia presa a esse padrão arcaico, o que não acontecia com as novas economias industriais.
QUATRO PRINCIPAIS MUDANÇAS:
1ª) Papel da ciência na tecnologia
Na primeira fase essa influência foi pequena e de importância secundária. As invenções eram simples e, na maior parte das vezes, eram fruto da habilidade, da experiência prática e da disposição para experimentar coisas novas para ver se dava certo. As fontes básicas de energia (carvão e água) eram antigas e familiares e as matérias-primas fundamentais não eram diferentes das utilizadas imemorialmente. Existiam novidades revolucionárias do ponto de vista tecnológico, como na indústria química, por exemplo, que às vezes também atraíam atenção pela sua popularidade (como a iluminação a gás). Entretanto, sua importância para a produção era secundária. Na fase arcaica da industrialização os maiores triunfos tecnológicos foram a estrada de ferro e o barco a vapor, mas estes eram pré-científicos ou, pelo menos, semi-científicos.
Contudo, a própria escala colossal da ferrovia e a revolução que ela proporcionou nos transportes fizeram com que a tecnologia científica se tornasse ainda mais necessária, como por exemplo, a utilização da borracha e do petróleo, bem como a Física clássica e a Química Inorgânica. Nas décadas de 1830 e 1840, surgiram dois novos instrumentos à disposição da indústria: o Eletromagnetismo e a Química Orgânica.
Sendo assim, os principais progressos técnicos da segunda metade do século XIX foram essencialmente científicos. Duas das mais importantes indústrias da nova fase da industrialização, a elétrica e a química se baseavam no conhecimento científico. O aperfeiçoamento do motor de combustão interna, embora não consistisse em um problema científico novo, envolvia dois ramos da indústria química (refinação e processamento do material do petróleo e da borracha).
Ao fim do século XIX já estava claro, principalmente em decorrência da experiência da avançada indústria química alemã, que o avanço do progresso tecnológico era função do insumo de mão-de-obra com qualificação científica, equipamento e dinheiro em projetos de pesquisa sistemática.
2ª) Expansão sistemática do sistema fabril a áreas até então intocadas pelo sistema
A longo prazo, a mais importante dessas áreas foi a própria fabricação de máquinas, ou, nos tempos modernos, de “bens de consumo duráveis”, que consistem basicamente em máquinas de uso pessoal, e não para uso produtivo (máquinas para fazer máquinas). É a essa evolução – parte técnica, parte organização – que chamamos “produção em massa”, e que, quando a aplicação do trabalho humano ao processo real de produção é reduzida ao ponto de imperceptibilidade, damos o nome de “automação”.
A mecanização da fabricação de máquinas dependia de uma procura vasta e padronizada do mesmo tipo de máquina. Por isso, o campo pioneiro foi a produção de armamentos. Os primeiros produtos dessa fase foram produzidos nos EUA. Ex.: máquina de costura de Elias Howe, adaptada por Isaac Singer; máquina de escrever; fechadura Yale; revólver Colt e metralhadora. Os norteamericanos também foram os primeiros a adotar a produção em massa de automóveis. Além disso, substâncias como tungstênio, manganês, cromo, níquel e outros elementos que antes eram curiosidades para geólogos e químicos, passam a ser componentes essenciais da metalurgia após 1870.
Outro aspecto desse desenvolvimento foi a organização sistemática da produção em massa através do fluxo planejado dos processos e da “administração científica” do trabalho, ou seja, a análise e a decomposição das tarefas, tanto humanas quanto mecânicas. EUA foram pioneiros nessa área também, principalmente pela falta de mão-de-obra qualificada que eles enfrentavam. As experiênciasde linhas de produção contínuas remetiam aos ianques técnicos como Oliver Evans, que inventou um moinho de trigo totalmente automático e a correia transportadora; ideias que só foram desenvolvidas na década de 1890. Tais experiências só foram seriamente desenvolvidas e passaram a ter maturidade nas fábricas de veículos de Henry Ford (1800). Nos anos 80 do século XIX a “administração científica” passou a ser realidade principalmente por influência de F. W. Taylor. Em 1900 estavam lançados os alicerces da moderna indústria em grande escala.
3ª) Descoberta de que o maior mercado potencial estaria nos crescentes rendimentos da massa de trabalhadores nos países desenvolvidos
EUA também foram os precursores, talvez pelo tamanho potencial de seu mercado interno, talvez pelas rendas relativamente altas de seu povo.
Exemplo: A indústria de motores de automóveis foi edificada com base no pressuposto de que um carro suficientemente barato, por dispendioso que fosse, encontraria um mercado de massa. Na era arcaica da industrialização isso seria inconcebível.
O mercado para a produção em massa era extensivo, e não intensivo, e ainda assim se limitava aos artigos mais simples e padronizados. Em outras palavras, era preferível produzir mais produtos baratos e vender uma quantidade maior deles do que produzir mercadorias de preço elevado e não vender em grande quantidade.
Produtos mais baratos Vendem mais Maiores lucros
4ª) Aumento na escala da empresa econômica, a concentração da produção e da propriedade, surgimento de trustes, monopólios e oligopólios
Muitas pessoas já suspeitavam que a concentração fosse o resultado lógico da concorrência. Vários economistas defendiam que uma economia empresarial em regime de livre concorrência era forçoso, socialmente inconveniente e economicamente retrógrado. Acreditava-se que as “grandes empresas” fossem melhores do que as pequenas, pelo menos a longo prazo: mais dinâmicas, mais eficientes, mais aptas a enfrentar as tarefas do desenvolvimento, cada vez mais complexas e dispendiosas. O verdadeiro problema não estava no fato de serem grandes, mas de serem anti-sociais (porque beneficiavam o rico em relação ao pobre).
Nesse contexto o estado vitoriano (abstinência deliberada de orientação e interferência econômica) foi praticamente abandonado, depois de 1873, ou seja, o papel do governo se tornava cada vez mais decisivo.
***
Em todos esses quatro aspectos, a Grã-Bretanha atrasou-se em relação a seus rivais. Em vários ramos em que ela havia sido a primeira a trilhar, agora havia sido deixada para trás. Essa transformação súbita da economia industrial mais dinâmica na mais retardada e conservadora em trinta ou quarenta anos (1860-90/1900) constitui a questão crucial da história econômica britânica.
O contraste entre a Grã-Bretanha e os Estados industriais mais modernos é particularmente visível nas novas “indústrias de base”, e se torna ainda mais marcante quando comparamos seu fraco desempenho com as realizações da indústria britânica nos setores em que a estrutura e a técnica arcaica ainda podiam produzir os melhores resultados.
Exemplo: setor de construção naval. Os construtores britânicos haviam sido beneficiados no passado pelo enorme peso da Grã-Bretanha como potência mercantil e pela preferência que os armadores britânicos davam a navios de sua própria bandeira. Triunfo dos estaleiros britânicos veio com o navio de ferro e aço; enquanto as demais indústrias britânicas ficavam para trás, os estaleiros progrediam. Contudo, nenhuma das vantagens da moderna técnica e organização produtivas se aplicava a navios, pois eram construídos em gigantescas unidades isoladas. Por outro lado, as vantagens da especialização em pequenas unidades eram imensas.
Já nas indústrias do tipo científico-tecnológico, e nos casos em que a integração e a produção em grande escala compensavam, a história britânica foi diferente. 
Exemplos:
A Grã-Bretanha foi a pioneira da indústria química e na invenção das anilinas, na década de 1840 já se baseava em pesquisas acadêmicas alemãs e em 1913 cabiam-lhe apenas 11% da produção mundial e o que restava de sua indústria química pertencia a estrangeiros imigrantes, como a firma Brunner-Mond, posterior núcleo das Imperial Chemical Industries.
A eletrotécnica foi na teoria e na prática uma realização dos britânicos (fundações científicas de Clerk Maxwell; telégrafo elétrico de Wheatstone). No entanto, em 1913, a produção da indústria elétrica britânica era pouco superior a um terço da alemã, e suas exportações pouco superiores a metade. E mais uma vez foram os estrangeiros que invadiram a Grã-Bretanha (Ex.: Westinghouse e capital para construção do metrô londrino – norteamericanos)
Indústria de máquinas e máquinas-ferramentas também teve origem britânica (Manchester). Entretanto, foi este o campo em que os países estrangeiros, principalmente os EUA, ganharam dianteira mais significativa. Na década de 1890 foi dos EUA que veio o impulso para adoção de máquinas-ferramentas automáticas e foi uma companhia americana que teve o monopólio da maquinaria utilizada na fabricação dos produtos da primeira indústria completamente mecanizada – a de botas e sapatos.
O caso mais triste talvez tenha sido o da indústria de ferro e aço, pois ela perdeu sua preeminência no próprio momento em que maior era seu papel na economia britânica e mais inconteste era seu domínio na economia mundial. Todas as inovações importantes na produção do aço nasceram na Grã-Bretanha ou ali foram aperfeiçoadas: conversor Bessemer (produção em massa de aço); fornalha Siemes-Martin (expansão da produtividade); processo básico Gilchrist-Thomas (utilização de uma nova faixa de minérios para a fabricação do aço). Com exceção do conversor, a indústria britânica tardou em utilizar os novos métodos e deixou inteiramente de acompanhar os aperfeiçoamentos posteriores. Não só a produção britânica se via atrás da alemã e da norteamericana no início da década de 1890, mas sua produtividade também era menor.
***
Qual a razão de tudo isso? Evidentemente os britânicos não se adaptaram a circunstâncias novas, mas poderiam tê-lo feito. Não há nenhum motivo para que a educação técnica e científica na Grã-Bretanha permanecesse relegada ao desdém, nada justificava seu atraso educacional em relação à Alemanha ou aos EUA.
Era inevitável que as indústrias britânicas pioneiras perdessem terreno com relação ao resto do mundo industrializado, e que declinassem suas taxas de expansão; no entanto, esse fenômeno não teria necessariamente de ser acompanhado por uma perda de impulso e de eficiência, principalmente no que diz respeito aos ramos em que suas indústrias começaram praticamente ao mesmo tempo em que as demais nações. Então, a Grã-Bretanha não conseguiu se adaptar a novas condições porque não pudesse, mas porque não quis. A pergunta que se coloca é: não quis por quê? Hobsbawn nos apresenta duas possíveis respostas: uma sociológica e uma econômica.
RESPOSTA SOCIOLÓGICA
Aponta a falta (ou o declínio) de iniciativa por parte dos empresários, ou o conservadorismo da sociedade britânica, ou ambas as coisas. O capitalista britânico tendia a ser absorvido na camada dos gentlemen ou mesmo dos aristocratas, superior e mais respeitada socialmente, e quando conseguia alcançar esse objetivo, deixava de esforçar. A pequena firma familiar, que constituía o tipo característico de empresa, estava imunizada com bastante eficiência contra o crescimento excessivo, que trazia o risco de perda de controle por parte da família. Assim, cada geração tornava-se menos empreendedora que a anterior e, abrigada por trás das fortalezas dos lucros pioneiros, tinha menos de sê-lo.
Um homem talvez tivesse de trabalhar muito para ascender à classe média, mas depois de estabelecido com um ramo de negócio moderadamente florescente podia levar a vida com bastante tranquilidade. De acordo co a teoria econômica, a bancarrota era o castigo do homem de negócios ineficiente; contudo, o nível de bancarrotas na Grã-Bretanha era muitobaixo. Sendo assim, o empresário britânico não precisava trabalhar muito. Há um alto nível de comodismo entre eles.
Faltava também à economia britânica alguns incentivos não-econômicos, uma vez que é natural que uma nação que já chegou ao topo, política e economicamente, tenda a tratar o resto do mundo com soberba e um certo grau de desprezo.
Do ponto de vista sociológico, o incentivo para ganhar dinheiro depressa não era totalmente fraco na Grã-Bretanha vitoriana, nem a atração exercida pela pequena nobreza e pela aristocracia era dominante.
No início do século XIX não faltara à Grã-Bretanha aquele prazer profundo até irracional, no progresso técnico em si mesmo. Mas é evidente que havia setores na economia britânica aos quais se aplicavam algumas das acusações de torpor e conservadorismo
RESPOSTA ECONÔMICA
Numa economia capitalista (pelo menos em suas versões oitocentistas) os empresários só serão dinâmicos na medida em que o dinamismo for racional segundo o critério da firma individual, que consiste em maximizar os ganhos, minimizar as perdas, ou possivelmente apenas manter aquilo que se considera ser uma satisfatória taxa de lucro a longo prazo. Mas a racionalidade da firma individual é inadequada, porque os interesses da firma e o da economia podem ser divergentes. Uma economia capitalista não é planejada, ela emerge de inumeráveis decisões individuais tomadas na busca do interesse pessoal.
A explicação econômica mais comum (e provavelmente a melhor) para a perda de dinamismo da indústria britânica é que ela resultou “em última análise da dianteira longamente mantida como potência industrial”. O pioneirismo industrial britânico ocorreu naturalmente e em condições especiais que não poderiam ser mantidas. No entanto, passar de um padrão velho e obsolescente para um novo padrão era caro e difícil. Era caro porque implicava tanto a renúncia a velhos investimentos, ainda capazes de render bons lucros, como a investimentos novos, de custo inicial ainda maior. Era difícil porque exigiria um acordo para a racionalização de grande número de firmas e indústrias individuais, nenhuma das quais poderia com segurança o caminho que tomaria o benefício dessa racionalização. Enquanto se pudesse lucrar satisfatoriamente com o sistema antigo, o incentivo para a mudança seria pequeno.
Exemplos: 
Indústria de ferro e aço – os britânicos tardaram em adotar o processo “básico” de Gilchrist-Thomas porque podiam importar minérios não-fosfóricos com facilidade e a preços baixos. O forte investimento em usinas e em áreas industriais obsoletas amarrou a indústria britânica a uma tecnologia obsoleta
Ferrovias e minas de carvão – em 1893, Sir George Elliot sugeriu a formação de um truste para racionalizar a indústria, uma vez que o funcionamento independente de várias minas estava produzindo ineficiências na exploração de cada jazida. A reação dos industriais foi negativa, pois as minas ineficientes não desejavam que a sua parcela do fundo fosse avaliada segundo critérios racionais. As estradas de ferro britânicas eram arcaicas: os vagões eram muito pequenos e eram de propriedade das minas e não das empresas ferroviárias.
A pura catástrofe pode, às vezes, vir em socorro do capitalismo, como no caso das duas guerras mundiais, em que fábricas alemãs foram destruídas e se fez necessário a instalação de novas fábricas. A ameaça de catástrofe econômica pode também gerar um incentivo forte para se gastar em modernização. Durante a Grande Depressão (principalmente décadas de 1880 e 1890) a ameaça que pairava sobre a indústria britânica e o estado em que ela se encontrava fizeram com que se falasse muito em modernização e que pressões fossem feitas por parte de várias indústrias.
Exemplos: plano de racionalização das minas de carvão; indústria do gás (obrigada, por pressão sindical, a ser a que se mecanizava mais rapidamente); ferrovias (para reduzirem seus custos operacionais – Great Western instalou novas linhas em 1892); mudança técnica em engenharia acelerou-se, principalmente por pressão militar (impulsionada pela indústria de armamentos, em rápido processo de expansão e modernização, principalmente pela Marinha)
Nesse período da Grande Depressão também se discutiu bastante a combinação econômica – formação de cartéis, trustes, etc. – e na verdade ocorreu um certo grau de concentração desse tipo.
Entretanto, se comparados aos padrões norteamericanos e alemães dessa época, tais mudanças foram relativamente modestas e o impulso para realizá-las logo enfraqueceu. A Grande Depressão não foi, infelizmente, bastante grande para assustar a indústria britânica e obrigá-la a mudanças realmente fundamentais.
A razão disso é que os métodos tradicionais para obtenção de lucros ainda não estavam esgotados, proporcionando uma alternativa mais barata e mais conveniente do que a modernização – por algum tempo. Recuar para seu sistema de colônias formais ou informais, confiar em as força crescente como eixo do crédito internacional, do comércio e de acordos parecia ser uma solução tanto mais óbvia quanto, por assim dizer, se oferecia gratuitamente.
OPÇÕES DA GRÃ-BRETANHA:
Exportação de algodão para a Ásia (indústria algodoeira, ao enfrentar dificuldades fugia da Europa e da América do Norte e se refugiava na Ásia e na África)
Exportação de carvão para os navios de todo o mundo
Minas de ouro de Johannesburgo
Bondes argentinos
Lucros dos bancos mercantis da City
Quando enfrentava um desafio era mais fácil e mais barato para a Grã-Bretanha recuar para uma parte ainda não explorada dessas zonas favorecidas do que enfrentar a concorrência face a face. De maneira geral, o conjunto da economia britânica tendeu a fugir da indústria e buscar abrigo no comércio e nas operações financeiras, setores que, embora fortalecessem ainda mais seus concorrentes reais e futuros, ainda proporcionavam lucros polpudos para os britânicos.
A Grã-Bretanha estava se tornando uma economia mais parasitária que competitiva, vivendo do que sobrava do monopólio mundial, do mundo subdesenvolvido, de suas acumulações de riquezas no passado e do progresso de seus rivais. Principalmente durante o breve e feliz período eduardiano, o contraste entre a necessidade de modernização e a complacência cada vez mais próspera dos ricos tornou-se gritante.
Nessa época em que a Grã-Bretanha se encontrava, visivelmente atrasada, havia uma atmosfera de intranquilidade, de desorientação e de tensão. Foram nestes anos que o Partido Trabalhista surgiu como força eleitoral, houve uma racionalização da esquerda socialista, ocorreram eclosões da “agitação” dos trabalhadores e houve o colapso político. Foram os anos em que os Lordes desafiaram os Comuns, em que uma extrema direita parecia sair em campo aberto, em que escândalos de corrupção financeira abalavam os Gabinetes e em que oficiais do Exército, com apoio do Partido Conservador, amotinavam-se contra leis aprovadas pelo Parlamento. Quanto rebentou a guerra, em 1914, ela veio como um alívio da crise, uma coisa nova, talvez até mesmo como uma espécie de solução.

Outros materiais