Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Instituto Federal Catarinense – Campus Araquari Alberto Gonçalves Evangelista Doenças Parasitárias dos Animais Domésticos 1 BASES DA RESISTÊNCIA AOS ANTIPARASITÁRIOS A resistência é uma grande preocupação dos médicos veterinários, pois os parasitos causam muitos danos na produtividade animal, e se ele criarem alto grau de resistência, nossos métodos de combate serão ineficazes. Todos os parasitos podem apresentam diferentes graus de resistência a diferentes tipos de produtos. A resistência é o aumento significativo de uma população capaz de resistir a dose letal de uma substância que era letal para a maioria dos organismos da mesma espécie. Essa resistência é causada por modificações genéticas, que se traduzem em mutações moleculares resultando na redução do efeito do fármaco na célula/organismo. Ela pode acontecer com a modificação do sítio da ação da droga, alteração no metabolismo da droga, e alteração os receptores celulares, diminuindo a afinidade do fármaco pelo organismo. No começo, os genes que induzem resistência aparecem com pouca frequência na população. Com o uso da mesma droga várias vezes, os parasitos sensíveis morrem, deixando apenas os com genes resistentes vivos. Os helmintos sobreviventes se reproduzem e contaminam o ambiente, reinfectando o animal com organismos resistentes. Ao longo das gerações, o número de organismos resistentes supera o número de organismos susceptíveis. A velocidade do aparecimento de resistência pode variar de acordo com o tipo de herança (se é dominante ou recessiva, mono ou poligênica, ligada ao sexo, etc) ou com o intervalo de gerações, que é o tempo do ciclo evolutivo normal do animal. A pressão de seleção também é importante e pode acelerar o surgimento de resistência. A quantidade de população em refúgio também pode aumentar a aparição de resistência. Essa população refúgio é a porção da população de parasitos que não receberam fármaco, ou seja, não foram selecionados. A população refúgio se consiste nos parasitos presentes na pastagem, e nos animais que não foram medicados. Uma baixa população refúgio gera maior resistência, pois mata mais rápido todos os organismos sensíveis, possibilitando a proliferação de resistentes. Provou-se que em 20/30 gerações, a mosca do chifre pode se tornar resistente a alguns inseticidas, sendo que adquiriram resistência a organofosforados e organoclorados, produtos muito eficientes e largamente utilizados nos anos 50 e 60. A partir dos anos 80 foram utilizados brincos com piretroides, para substituir o uso de organofosforados, por todo o continente americano. Para se verificar o quão resistente é um fármaco, pode-se realizar o teste de redução de OPG, sendo que deve ser feito o exame para se constatar a diminuição da quantidade de ovos nos dias 10 e 14 após o tratamento. Faz-se também o cultivo de larva, para que se saiba quais são os organismos resistentes. Instituto Federal Catarinense – Campus Araquari Alberto Gonçalves Evangelista Doenças Parasitárias dos Animais Domésticos 2 Outros métodos para avaliação da resistência dos antiparasitários são os testes de eficácia anti- helmíntica controlada, através de infecções experimental, pelo teste de eclosão in vitro, pelo teste se benzimidazóis previnem o embrionamento e eclosão dos ovos, pelo teste de inibição da motilidade larval in vitro, e pelo teste de desenvolvimento larval, em que se expõe os ovos a princípios ativos e se acompanha o desenvolvimento até L3. A resistência paralela é a resistência entre compostos com modo de ação similar, a de cruzada é a resistência entre compostos com modos de ação diferente, e a resistência múltipla é quando a resistência não é para o principio isolado, mas sim para todos os do grupo ao qual ele pertence. A reversão de resistência depende da frequência dos parasitos resistentes na população, sendo que em nematoides é extremamente rara a ocorrência. Existem diversos tipos de controle de parasitos, que trabalham com diversos graus de efetividade e promoção da resistência. Quando os animais apresentam sinais clínicos, os parasitos já provocaram dano, e já contaminaram o ambiente, utiliza-se um tratamento terapêutico. O tratamento supressivo é um método que leva ao impedimento do parasito completar seu ciclo. Esse tipo requer grande frequência de tratamentos, o que gera grande pressão de seleção, induzindo a resistência com maior velocidade. Um tratamento estratégico consiste no tratamento quando existe um menor número de parasitos no ambiente. Mecanismos de liberação lenta, como por exemplo o bólus, podem ser usados para diminuir a resistência, mas acabam criando uma liberação irregular do produto pelo animal. O uso de antiparasitários de longa ação são muito bons por permitir que o animal seja manejado menos vezes, mas acaba criando uma pressão de seleção maior. Para diminuir a criação de resistência, deve-se alterar o produto usado a cada ano, e não se utilizar produtos com menos de 90% de eficácia. Algo muito comum é a utilização da água ou alimentos para administração de antiparasitários. Porém, isso acaba gerando a aplicação de sub doses, pois o consumo do fármaco é voluntário. Essas sub doses acabam diminuindo a eficácia do fármaco, e aumentam as taxas de seleção para a doença. O ideal para se diminuir a resistência parasitária é o tratamento combinado com boas práticas de manejo, com uma seleção dos animais resistentes para a reprodução. Cuidado com rotação de pastagens, pois pode-se colocar o animal em uma pastagem contaminada, ou então, ao dar o vermífugo e muda-lo de pastagem, contaminar uma pastagem limpa, porque o vermífugo estimula a defecação. Pode-se também diminuir a pressão de seleção, minimizando o número de aplicações do fármaco, que pode ser feito através da divisão do rebanho em categorias, sendo que cada uma delas recebe o vermífugo em épocas diferentes. Aumentar a população refúgio também é uma solução para a resistência, e é feito através da dosificação individual do fármaco, com o uso de técnicas de OPG e Famacha. Dar sub dosagem induz uma maior resistência, então deve-se sempre dar a dose internacionalmente recomendada, de acordo com o peso do animal, certificar-se que a dose foi administrada e promover o jejum corretamente, se necessário. O controle integrado também pode ser recomendado, sendo que ele consiste em evitar o sobrepastejo contínuo no mesmo piquete, sendo que eles devem ter descanso de 60 a 90 dias, com pastejo de outras espécies animais, que irão consumir as larvas que estão na pastagem, mas não irão se infectar. O controle integrado também preza pela desverminação e quarentena de animais adquiridos, confinamento das categorias susceptíveis, seleção de animais resistentes e uso de raças mais resistentes para a produção.
Compartilhar