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ANOTAÇÕES PSICANÁLISE WWW.FATECC.COM.BR Pl an o de E ns in o EMENTA A perspectiva histórica da psicologia da educação: objeto de estudo, objetivos e �nalidades. Fundamentos bio-psico-sociais da infância e da vida adulta: o desenvolvimento humano nas dimensões biológica, cogni - tiva, social e emocional. A escola como integrante do meio sociocultural que in�uencia, interfere e participa do desenvolvimento. Princípios e leis do processo de desenvolvimento. Esferas ou dimensões do desenvolvimento. A Psicologia do Desenvolvimento e a Psicanálise. Teorias de desenvolvimento e aprendizagem. OBJETIVOS Compreender a constituição da Psicologia e da Psicologia do t� Desenvolvimento. Identi�car o objeto de estudo da Psicologia, compreendendo o t� desenvolvimento humano. Relacionar o estudo da Psicologia do Desenvolvimento com o coti -t� diano da vida escolar. Apresentar as mudanças físicas e sociais que ocorrem ao longo da t� vida dos sujeitos, desde a concepção até a morte. CONTÉUDO PROGRAMÁTICO Psicologia do Desenvolvimento e métodos de estudo t� Processo de desenvolvimento humanot� Nascimento e desenvolvimento infantil t� Adolescência e aspectos sociaist� Vida adultat� FATEC - Psicanálise 04 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ANTUNES, M. A. M.; MEIRA, M. E. M. Psicologia escolar : práticas críticas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. BEE, Helen. A criança em desenvolvimento . 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 1996. ______. A criança em desenvolvimento . 9. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003. BRONFENBRENNER, U. A ecologia do desenvolvimento humano : experimentos naturais e planejados. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. CARVALHO, V. B. C. L. Desenvolvimento humano e psicologia . Belo Horizonte: UFMG, 1996. COLL, C.; PALACIOS, J; MARCHESI, A. Desenvolvimento psicológico e educação . 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003. v. 3. GAZZANIGA, M. S.; HEATHERTON, T. F. Ciência psicológica : mente, cérebro e comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2005. ROSA, M. Psicologia evolutiva . 8. ed. Petrópolis: Vozes, 1996. VYGOTSKY, L. S. Obras escolhidas : fundamentos de defectologia. Moscou: Editorial Pedagógica, 1997. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA. M. de l. Psicologias : uma introdução ao estudo de psicologia. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. BRANDÃO, C. R. O que é educação . São Paulo: Brasiliense, 1995. CHOMSKY, Noam. Novos horizontes no estudo da linguagem e da mente . São Paulo: UNESP, 2005. DAVIDOFF, Linda L. Introdução à psicologia . São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1983. MUSSEN, P. H. et al. Desenvolvimento e personalidade da criança . 4. ed. São Paulo: Harbra, 2001. NEWCOMBE, Nora. Desenvolvimento infantil. 8. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. PIAGET, J.; VYGOSTSKY, L. S. Novas contribuições para o debate . São Paulo: Ática, 1995. AULA 1 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO FATEC - Psicanálise 05 Esperamos que, ao �nal desta aula, você seja capaz de: compreender as diferentes perspectivas teóricas sobre o desenvolvi -t� mento humano; conhecer os diferentes métodos de pesquisa em Psicologia do Desen -t� volvimento. Para acompanhar esta aula, você precisa ter algum conhecimento sobre as diferentes concepções referentes ao processo de desenvolvimento humano. Para tanto, é importante que recorra ao sítio do Conselho Federal de Psicologia – CFP <http://www.cfp.org.br>, onde encontrará material referente a essa ciência. Esse conhecimento é importante para você compreender como se processa o saber sobre o desenvolvimento humano na Psicologia, bem como a sua impor - tância no campo da educação, que é o tema desta aula. Você estudará, nesta primeira aula, o conceito sobre o desenvolvimento humano, bem como a diferença entre desenvolvimento e crescimento. Quando se fala em desenvolvimento, comumente a idéia que nos vem à cabeça é crescimento: no senso comum, desenvolvimento está relacionado a acréscimo, ampliação, aumento, crescimento. Porém há diferença entre cresci - mento e desenvolvimento. Crescimento está relacionado aos aspectos quantitativos de um determinado organismo. Rosa (1996, p. 40) assevera que [...] é evidente que a mão de uma criança é bem menor que a mão de um adulto normal. Pelo processo normal do crescimento, Psicologia do Desenvolvimento e métodos de estudo Aula 1 AULA 1 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 06 FATEC - Psicanálise a mão da criança atinge o tamanho normal da mão do adulto, na medida em que ela cresce �sicamente. Dizemos, portanto, que, no caso, houve crescimento dessa parte do corpo. Desenvolvimento, por sua parte, diz respeito aos aspectos qualitativos daquele organismo. É ainda Rosa (1996, p. 40) que nos ensina que a mão de um adulto normal é diferente da mão de uma crian - cinha não somente por causa do seu tamanho. Ela é diferente, sobretudo, por causa de sua maior capacidade de coordenação de movimentos e de uso (ROSA, 1996, p. 40). Mesmo tendo consciência da diferença entre cresci- mento e desenvolvimento, é importante sabermos que nem sempre ela é mantida “ao pé da letra”, pois há momentos da vida em que esses dois processos não se separam. Nossa intenção é apresentar o cenário de debate encontrado a respeito de como se dá o desenvolvimento humano – suas teorias, aplicabilidades, problemáticas, dúvidas e certezas. É válido lembrar que, quando falamos em desenvolvimento, estamos nos referindo ao processo total que acompanha o homem durante sua vida, tanto nos aspectos físicos e neurológicos quanto nos aspectos cognitivos, emocionais e de relacionamentos sociais. Re�etiremos sobre as mudanças universais que os homens atravessam, sobre as diferenças individuais encontradas entre as pessoas, além da in�uência do ambiente no comportamento humano (NEWCOMBE, 1999). Para tanto, teremos como base os estudos da área da Psicologia do Desenvolvimento, que tem como função básica, para nós, oferecer os subsídios teóricos, para que possamos compreender a importância dos fatores biológicos e ambientais no processo de desenvolvimento humano, reconhecendo, desde já, que ambos os tipos de in�u - ência são importantes em nossas vidas. 1.1 Hereditariedade x meio ambiente Um dos pontos mais discutidos entre os psicólogos que estudam o desenvolvi - mento humano é o polêmico debate entre a hereditariedade e o meio ambiente. Isto é, qual dessas duas determinantes exerce maior in�uência no comporta - mento das pessoas? Pensando sobre o assuntoPensando sobre o assunto AULA 1 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO FATEC - Psicanálise 07 Este debate não é protagonizado somente pelos psicólogos. Historicamente, os próprios �lósofos também defendiam suas idéias, seja no grupo dos inatistas, que compreendiam que o ser humano nasce com características inatas, ou no grupo dos empiristas, que compreendem que o desenvol - vimento humano ocorre pelas impressões sensoriais que o organismo recebe, acumuladas com a experiência . Ainda hoje há muita discussão sobre qual dos aspectos, hereditários ou ambientais, é respon - sável pelo desenvolvimento humano. Cada um desses grupos defende a sua posição, a sua verdade . Podemos dizer que há uma verdadeira controvérsia entre os dois posiciona - mentos. Vamos veri�car um pouco mais a respeito dessas duas concepções. 1.1.1 E como fica o lado hereditário? De acordo com esta linha de pensamento, o comportamento humano é conduzido pelos fatores genéticos, pela maturação bioló - gica e funcionamento neurológico. Sendo assim, aspectos compor - tamentais percebidos no início da vida humana, como a manifestação de andar, falar e reagir às ações de outras pessoas, são concebidos como conseqüências congênitas,ou seja, que nasceram com o indi - víduo, não sendo resultantes de nenhuma aprendizagem ou experi - mentação efetuada depois do início da vida. 1.1.2 E o lado do ambiente? Já os cientistas que seguem esta outra linha de pensamento a�rmam que os fatores relacionados ao ambiente físico e social são, fundamentalmente, os prin - cipais norteadores do desenvolvimento humano. Desse modo, o comportamento das pessoas vai sendo construído a partir das experiências derivadas do contato com as pessoas e com os objetos presentes no mundo. Saiba mais AULA 1 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 08 FATEC - Psicanálise Deixando de lado essas discordâncias existentes entre os cientistas de cada grupo, acreditamos que a interação entre os aspectos biológicos e os aspectos ambientais é que é a responsável pelo desenvolvimento do homem, desde o momento do nascimento. Há momentos em que um dos aspectos se sobrepõe ao outro e vice-versa. Porém não há necessidade de de�nirmos qual aspecto tem maior ou menor in�uência, mas é importante perceber como acon - tece a relação entre eles. Um exemplo dessa interação acontece em um comportamento simples de desenhar , de uma criança no cenário escolar. Como meio ambiente, podemos falar da maturação �siológica necessária para o desenvolvimento da coordenação motora �na, a qual possibilita que a criança aprenda a desenhar. Assim, a hereditariedade é um potencial que pode ou não se consolidar. Tal concepção só é possível a partir das experiên - cias com o meio. Para a concepção interacionista , o organismo e o meio exercem ação recí - proca. A in�uência entre um e outro é a própria interação. Essa interação acar - reta mudanças sobre o indivíduo. Assim o conhecimento é construído a partir de uma interação entre o sujeito e o objeto. Vejamos agora como se processam os métodos de pesquisa na psicologia do desenvolvimento. 1.2 Métodos de pesquisa Independente da área em que atuamos, quando vamos fazer uma pesquisa, é fundamental a escolha de um método que garanta uma probabilidade maior de sucesso na busca dos objetivos. É com base nesse pensamento que desta - camos, a seguir, três possibilidades de pesquisa, quando o assunto é o desen - volvimento humano. Esses três métodos destacados possuem diferenças entre si, é claro. Entretanto há um aspecto comum: eles carecem de uma observação controlada e sistemá - tica do comportamento. O primeiro método que destacamos é o método transversal . Nele, o estudo é realizado a partir de diferentes grupos de pessoas de diferentes idades. O segundo é o método longitudinal, que estuda as mesmas pessoas, durante um determinado período de tempo, estudo que pode durar anos e anos, décadas e décadas. O terceiro método é o que é chamado de experimental . Aqui, é realizado um estudo onde há uma combinação dos dois métodos anteriores, possibilitando ao pesquisador fazer interferências no processo de pesquisa, AULA 1 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO FATEC - Psicanálise 09 modi�cando algumas variáveis causais do comportamento e, por conseqüência, coletando outras variáveis de efeito. No quadro a seguir, apontamos as principais características positivas e nega - tivas de cada método, tendo como base os estudos de Mussen e outros (2001). Quadro: Comparativo de características MÉTODO CARACTERÍSTICAS POSITIVAS CARACTERÍSTICAS NEGATIVAS TRANSVERSAL é rápido de fazer;t� fornece informações sobre as t� diferenças de idade, apon - tando as especi�ci da des de cada faixa etá ria; é possível coletar diver sas t� informações a res peito de cada um dos sujeitos parti - cipantes, su gerindo novas hipóteses sobre o desenvolvi - mento humano. cada sujeito é observado, t� testado, uma única vez; o problema da t� coorte; o estudo é feito num determi -t nado momento histórico, não servindo talvez para outro deter - minado período de tempo; não fornece dados a respeito t das seqüências de desenvolvi - mento, daquilo que a pessoa vai acumulando com o passar dos anos. LONGITUDINAL as mesmas pessoas são t� estudadas ao longo de um período de tempo; permite estudar a estabili -t� dade, ou não, do compor - tamento ao longo dos anos; pode determinar se um t sujeito, individualmente, passa pela transição de compor - tamento sugerida nos estudos transversais. consome tempo e é oneroso;t� a provável alteração de resul -t� tados, já que os indivíduos, com o passar do tempo, se acostumam com os testes e com as observações; o estudos são feitos com grupos t� muito pequenos, di�cultando a generalização dos resultados em esferas maiores. EXPERIMENTAL permite manipular as variá -t� veis de causa, induzindo as prováveis respostas; possibilita testar uma deter -t� minada hipótese, uma expli - cação causal. não podemos manipular certas t variáveis, por motivos éticos, sobretudo quando os experi - mentos são realizados com seres humanos; os experimentos são reali -t zados em laboratórios, em locais arti�ciais, não sendo possível garantir generaliza - ções das descobertas para os ambientes naturais como a casa e a escola. Fonte: Mussen e outros (2001). AULA 1 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 10 FATEC - Psicanálise Saiba mais Como vimos, são várias as possibilidades de se realizarem estudos e pesquisa na área do desenvolvimento humano, bem como são grandes as diferenças teóricas sobre a compreensão do desenvolvimento também são marcantes. É importante que você entenda todas essas linhas de pensamento, para a reali - zação de seu trabalho, na área pedagógica, de forma efetiva. Nesta aula, discorremos sobre como se dá o desenvolvimento humano, pela ótica dos deterministas biológicos e dos deterministas ambientais ; a conclusão a que chegamos é que é a interação entre essas duas concepções que propicia ao homem desenvolver-se. Também exploramos as diferentes possibilidades de pesquisa no campo da Psicologia do Desenvolvimento, apontando que, inde - pendente do método escolhido, encontramos prós e contras no transcorrer dos estudos. Independentemente do método adotado para a realização de uma pesquisa na área da Psicologia do Desenvolvimento, o mais importante é termos consciência de que é a interação entre os aspectos biológicos e ambientais que propiciará um conhecimento mais elaborado do desenvolvimento humano. 1. Assinale V para as a�rmativas verdadeiras e F para as falsas. ( ) Para a concepção hereditária, o comportamento humano é conduzido pelo lado genético. ( ) Para a concepção ambientalista, o comportamento das pessoas vai sendo construído a partir das experiências das pessoas com os objetos presentes no mundo. ( ) Para a concepção interacionista o organismo e o meio exercem ação recíproca. ( ) Para a concepção interacionista a in�uência entre ambiente e meio é a própria interação entre eles. AULA 1 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO FATEC - Psicanálise 11 Agora, marque a seqüência correta: a) V, V, V, V c) V, F, V, F b) F, V, F, V d) F, F, F, F 2. Elabore um texto re�exivo, de no máximo dez linhas, esclarecendo as dife - renças entre as três perspectivas psicológicas. A teoria inatista, a teoria ambientalista e a teoria interacionista, no que diz respeito ao desenvolvi - mento humano. 3. Complete a sentença, optando pela alternativa correta. O método de pesquisa________ permite manipular as variáveis de causa, induzindo as prováveis _________. a) real, respostas b) experimental, respostas c) longitudinal, respostas d) transversal, respostas 4. Esclareça quais são as diferenças entre os métodos de pesquisa transversal e longitudinal. Na atividade um , a resposta correta é a letra (a),tendo em vista que todas as alternativas estão corretas. Para a concepção interacionista, o organismo e o meio exercem ação recíproca. A in�uência entre um e outro é a própria inte - ração. De acordo com a concepção hereditária, o comportamento humano é conduzido pelos fatores genéticos, pela maturação biológica e funcionamento neurológico; já na concepção ambientalista, o comportamento das pessoas vai sendo construído, a partir das experiências derivadas do contato com as pessoas e com os objetos presentes no mundo. Desta forma, cada teoria compreende a concepção do desenvolvimento de uma forma. Na perspectiva inatista, o ser humano é fruto de características eminentemente genéticas, na teoria ambien - talista, ele é fruto do meio, já na perspectiva interacionista, o ser humano se desenvolve a partir de um conjunto de fatores . Na atividade dois , a perspectiva teórica em que se coloca a hereditariedade, é marcada por características eminentemente genéticas; na teoria ambiental, o que determina o desenvolvimento humano é o próprio meio, já na teoria intera - cionista, a relação estabelecida entre sujeito e meio a responsável pelo desen - volvimento humano, não há supremacia entre elas. AULA 1 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 12 FATEC - Psicanálise Na atividade três , a resposta certa é (b), pois o método de pesquisa expe - rimental, que como o próprio nome já diz, é realizado por meio da experimen - tação de variáveis para um melhor conhecimento da realidade e, desta forma, obtenção das respostas desejáveis. A letra (a) está errada, pois não existe nesta perspectiva teórica o método de pesquisa real, bem como a pesquisa longitu - dinal, em relação à letra (c), e a pesquisa transversal, em relação a letra (d), não podem ser compreendidas como um método que pode vir a desenvolver as respostas desejadas pelo experimentador, são pesquisas de levantamentos de dados, sem o objetivo de desencadear respostas. Na atividade quatro , o método transversal é realizado a partir de diferentes grupos de pessoas de diferentes idades; já no método longitudinal, estuda-se um grupo de pessoas, durante um determinado período de tempo, que pode durar anos e anos, décadas e décadas. A realização das atividades lhe oportunizou veri�car o alcance dos obje - tivos propostos para esta aula de compreender as diferentes perspectivas teóricas sobre o desenvolvimento humano e de conhecer os diferentes métodos de pesquisa em Psicologia do Desenvolvimento. BEE, Helen. A criança em desenvolvimento . 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 1996. MUSSEN, P. H. et al. Desenvolvimento e personalidade da criança . 4. ed. São Paulo: Harbra, 2001. NEWCOMBE, Nara. Desenvolvimento infantil. 8. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. ROSA, M. Psicologia evolutiva . 8. ed. Petrópolis: Vozes, 1996. Estudaremos como se processam a concepção, a gestação e o parto, bem como as in�uências que podem acarretar doenças à criança que está por nascer. Anotações AULA 2 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO FATEC - Psicanálise 13 Esperamos que, ao �nal desta aula, você seja capaz de: descrever a fecundação humana e o desenvolvimento fetal;t� diferenciar variáveis biológicas de variáveis ambientais que interferem t� no desenvolvimento humano. Você terá mais facilidade no acompanhamento desta aula, se estiver familia - rizado com as teorias do desenvolvimento: inatistas, empiristas e interacionistas e seus métodos de estudo (aula um) e se revisar o material da área de Biologia sobre os processos de hereditariedade e fecundação pois precisaremos desses conhecimentos para a compreensão do desenvolvimento do ser humano e sua constituição de personalidade. Você estudará, nesta segunda aula, os perídos da concepção, gestação e parto, bem como as variáveis, biológicas e ambientais, que in�uenciam o desenvolvimento humano. Esses períodos são apresentados separadamente, para �ns didáticos, mas não devemos nos esquecer de que há uma interdependência entre elas. Segundo Mussen e outros (2001), cinco in�uências devem ser consideradas quando tratamos do comportamento de uma criança em desenvolvimento. Variáveis biológicas determinadas geneticamente (por exemplo, Síndrome de Down). Variáveis biológicas não-genéticas (por exemplo, se a mãe usou algum t� tipo de droga durante a gravidez). Aprendizagens anteriores (por exemplo, para uma criança escrever t� depende de seu conhecimento anterior sobre o formato, o nome e o som das letras). Concepção, Gestação e Parto: Gênese do Desenvolvimento Humano Aula 2 AULA 2 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 14 FATEC - Psicanálise Ambiente sócio-psicológico imediato (por exemplo, o contato que a t� criança tem com seus pais e irmãos). Meio social e cultural (por exemplo, a língua que a criança aprende t� depende de seu país de origem). Neste tema, estudaremos essas variáveis, enfocando, especi�camente, os primeiros meses de vida do ser humano, ainda no útero materno. Ou seja, estu - daremos o desenvolvimento humano da concepção da vida até o momento do nascimento do ser humano. 2.1 Como ocorre a concepção? A concepção ocorre quando um espermatozóide penetra a parede celular de um óvulo. Quando essas duas células, de 23 cromossomos cada, se unem, forma-se, então, um ovo ou zigoto, contendo 46 cromossomos (ou 23 pares de cromossomos). Imediatamente o zigoto começa a crescer por intermédio de subdivisões celulares. Esse é o início do desenvolvi - mento humano. Entre a concepção do ser humano e seu nascimento, passam-se, aproximadamente, 40 semanas, que são divi - dias em três períodos: o primeiro é conhecido por período ovular e vai da t� fertilização do óvulo até a implantação do óvulo na parede do útero; o segundo é conhecido por período embrionário e vai t� da segunda até a oitava semana de gestação. Durante esse período, ocorre a diferenciação celular, quando todos os órgãos começam a se desenvolver; o terceiro é conhecido por período fetal e vai da oitava semana t até o parto (que acontece, geralmente, por volta de 40 semanas do início da gestação). Esse período é caracterizado pelo crescimento dos órgãos. Pensando sobre o assuntoPensando sobre o assunto Porque durante todos esses períodos descritos acima ocorrem certos momentos delicados ao desenvolvimento. Esses momentos são chamados de períodos sensíveis ou críticos. Eles acontecem, principalmente, nos primeiros três AULA 2 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO FATEC - Psicanálise 15 meses de gestação. Ou seja: coincide com o período em que acontece a diferen - ciação celular para a formação dos vários órgãos. Saiba mais 2.2 Desenvolvimento fetal Iniciamos os primeiros meses de desenvolvi - mento fetal envolvidos pela placenta e recebendo a alimentação através do cordão umbilical. Segundo Mussen e outros (2001, p. 57), os principais marcos do desenvolvimento fetal humano são: Quadro 1: Marcos do desenvolvimento fetal IDADE GESTACIONAL DESENVOLVIMENTO 1 semana O óvulo fertilizado segue pela tuba uterina em direção ao útero. 2 semanas O embrião se liga ao revestimento uterino e está em rápido desenvolvimento. 3 semanas Seu corpo começa a tomar forma, segmentando-se em cabeça e região caudal. Já existe um coração primitivo. 4 semanas Início da formação da boca, trato gastrintestinal e fígado. Cabeça e cérebro sofrem maior diferenciação e o coração desenvolve-se mais rapidamente. 6 semanas Mãos e pés começam a se desenvolver mas os braços ainda são pequenos. O fígado começa a produzir células sangüíneas. 8 semanas O embrião já tem 2,5 cm de comprimento. O rosto de�ne-se. Começa a produção de músculos e cartilagens. 12 semanas O feto mede cerca de 7,5 cm decomprimento. O rosto tem o per�l de um bebê. Pálpebras e unhas começam a se formar. O sexo já é distinto. O sistema nervoso ainda é primitivo. 16 semanas O feto mede cerca de 11 cm de comprimento. A mãe já consegue sentir seus movimentos. As proporções corporais assemelham-se às de um bebê. Cabeça e órgãos internos desenvolvem-se rapidamente. 5 meses O feto mede cerca de 15 cm de comprimento. Já pode ouvir e mexer-se livremente. Mãos e pés estão completamente formados. AULA 2 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 16 FATEC - Psicanálise IDADE GESTACIONAL DESENVOLVIMENTO 6 meses O feto mede cerca de 25 cm de comprimento. Os olhos estão completamente formados e aparecem os botões gustativos em sua língua. Se o nascimento ocorrer prematuramente, o bebê já é capaz de inalar, exalar e produzir um choro leve. 7 meses O feto atinge a zona de viabilidade, ou seja, pode ocorrer nasci - mento prematuro. Já pode distingüir odores e gostos. A capacidade de respirar ainda é super�cial e irregular. As capacidades de sugar e engolir são fracas. 7 meses até o parto Está cada vez mais apto para a vida fora do ventre materno. Os músculos �cam mais fortes. Já pode respirar, sugar, engolir e chorar. As reações visuais e auditivas encontram-se �rmemente estabelecidas. Fonte: Mussen e outros (2001). Como mostra a tabela, iniciamos nossa vida quando uma célula (chamada ovo ou zigoto), que surge a partir da união das células germinativas dos pais, passa por rápida divisão celular e �xa-se no útero da mãe. Pela terceira semana, inicia-se a diferenciação dos órgãos e seu crescimento. Perto dos três meses, todos os sistemas já estão formados e, até o nascimento, basicamente o bebê cresce. Quanto mais próximo o nascimento, maior será a atividade de cada um dos sistemas. Assim, num período relativamente curto (cerca de nove meses) o bebê está formado e pronto para a vida fora do útero da mãe. Vamos agora falar sobre hereditariedade. Qual a in�uência da hereditarie - dade para o desenvolvimento humano? Quais as características que recebemos com a hereditariedade? Vejamos a seguir. 2.3 O que é hereditariedade? Hereditariedade é o termo usado para nos referirmos às características físicas que são transmitidas pelos pais à sua descendência, no momento da concepção de um �lho. Um ser humano possui 46 cromossomos, onde estão contidas todas as informações genéticas que o constituem. Esses 46 cromossomos organizam-se em 23 pares. Desses 23 pares, 22 são chamados autossomos. Os autossomos estão presentes tanto no sexo feminino quanto no masculino. O 23º par de cromossomos é chamado de cromossomo sexual e ele se difere entre os sexos. O sexo feminino possui dois cromossomos do tipo X e o sexo masculino possui um cromossomo do tipo X e um do tipo Y. Na formação das células germinativas (espermatozóide e óvulo), pelo processo de meiose, os 46 cromossomos são divididos ao meio, formando células de apenas 23 cromossomos. Esse processo acontece tanto no sexo femi - nino, quanto no masculino. AULA 2 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO FATEC - Psicanálise 17 Isso quer dizer que tanto as células germinativas de um homem, quanto as de uma mulher, possuem apenas metade de seu material genético. No momento em que essas células germinativas se encontram, seja por meio do ato sexual ou pela fertilização assistida num laboratório, forma-se, então, um novo ser humano, com 46 cromossomos (23 herdados do homem e 23 herdados da mulher). Se, nesse encontro, um cromossomo X da mulher encontrou um cromossomo Y do homem formar-se-á um ser humano do sexo masculino. Se, nesse encontro, um cromossomo X da mulher encontrou um cromossomo X do homem, então inicia-se a formação de um ser humano do sexo feminino. Assim, o início da vida do ser humano e, conseqüentemente, de seu desen - volvimento, inicia-se no momento em que um espermatozóide fecunda um óvulo. Tanto espermatozóide quanto óvulo são chamados gametas. A partir do momento da fecundação, essa única célula, formada pela união de um espermatozóide e um óvulo, ganha o nome de ovo ou zigoto e passa por vários processos de mitose. A mitose é um tipo de divisão celular em que as células são divididas e copiadas. Assim a partir de uma única célula, o zigoto, em pouco tempo, terá milhares de células. Os cromossomos são constituídos por milhares de outras partículas, denominadas genes. O gen é conside - rado a unidade básica da transmissão da hereditariedade e é constituído pelo DNA. Saiba mais Cada um de nós é uma combinação genética única, com exceção para os gêmeos univitelinos, também conhecidos como gêmeos idênticos. Esses gêmeos acontecem quando um zigoto (óvulo já fecundado) divide-se em dois ou mesmo três zigotos. Até hoje não foi desvendado o mecanismo pelo qual um zigoto se transforma em dois. E é por isso que esse tipo de gestação produz crianças exatamente iguais em seu material genético. Existem dois tipos de gêmeos: os gêmeos idênticos, cujos indivíduos têm material genético igual, e os gêmeos fraternos, cujos indivíduos possuem cerca de 50% do material genético concordante entre si. AULA 2 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 18 FATEC - Psicanálise Apesar de todo avanço de técnicas e de todos os estudos procedidos sobre a hereditariedade, ainda há muito o que aprender sobre as características humanas que podem ser atribuídas a cromossomos especí�cos, embora muitos acreditem que as diferenças individuais sofram grande in�uência da heredita - riedade. É importante notar que um organismo não herda padrões comporta - mentais formados mas, sim, uma base biológica. É essa base biológica que irá de�nir certos comportamentos que têm probabilidade de acontecer, caso o ambiente exija. É muito difícil investigar a hereditariedade do comportamento humano. Um tipo muito próprio dos estudos do desenvolvimento humano, no que tange à questão da in�uência do meio ambiente e da hereditariedade sobre o compor - tamento humano, é o que se utiliza de pares de gêmeos. Saiba mais Apesar de não ser possível controlar todas as in�uências do meio que agem sobre cada um dos indivíduos, podemos supor que os dois tipos de gêmeos tenham sido expostos a ambientes mais semelhantes do que outros pares de irmãos. Vamos supor que um estudo esteja investigando certa semelhança compor - tamental em pares de gêmeos. Se tal desempenho tiver uma correlação mais alta, no desempenho de gêmeos idênticos do que no desempenho de gêmeos fraternos, isso quer dizer que a hereditariedade, provavelmente, in�uencia tal desempenho. Se os desempenhos forem semelhantes, então a hereditariedade não estará desempenhando papel especial no comportamento estudado. Muitos estudos também utilizam pares de gêmeos idênticos, que tenham sido criados separadamente, a �m de esclarecer semelhanças e diferenças em seus comportamentos e elucidar o que tem mais peso na determinação de certos comportamentos, se o meio ou a hereditariedade. 2.4 Influência da genética no desenvolvimento humano Às vezes, a in�uência é clara e simples; outras vezes, não. Um exemplo de in�uência simples é o da fenilcetonúria, uma doença metabólica causada por genes recessivos e que, se não tratada, leva ao retardo mental. O tratament o AULA 2 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO FATEC - Psicanálise 19 é à base de uma dieta com baixo nível de fenilalanina. Havendo o tratamento constante, o comprometimento mental não é desencadeado. O teste do pezinho feito na criança recém-nascida detecta essa doença, entre outras. Contudo, esse tipo de in�uência simples é rara. Tanto uma doença pode aparecer a partir de um conjunto de genes, como de vários fatores ambientais. Nossa aparência depende, em muito, denossa herança genética. Assim, nascemos com olhos azuis ou castanhos, dependendo das características herdadas de nossos pais. Pessoas com olhos azuis ou castanhos têm a mesma probabilidade de ter boa ou má visão. Se for boa, seu desenvolvimento seguirá de certa forma, se for má, seguirá de outra. Mas há algo além da hereditarie - dade e que complica um pouco mais o estudo do desenvolvimento humano: certas regiões ou certas épocas valorizam mais algumas características físicas. As pessoas que possuem concordância genética com os padrões valori - zados numa determinada sociedade ou numa determinada época sentem-se mais aceitas e desenvolvem de forma mais plena seus potenciais. As pessoas que não possuem as características valorizadas podem não se desenvolver de forma tão plena. Ou seja: questões sociais e psicológicas surgem, mesmo quando estamos tratando da hereditariedade. Além dessas questões que envolvem genótipo e fenótipo, um grande número de doenças especí�cas podem ser transmitidas, interferindo no desen - volvimento humano. Saiba mais Segundo Bee (1996, p. 63), algumas dessas doenças são: Fenilcetonúriat� – Trata-se de uma doença que não pode ser diagnosti - cada antes do nascimento. É um transtorno metabólico em que a feni - lalania atinge níveis tóxicos, provocando retardo mental. O tratamento consiste em colocar a criança numa dieta especial. Doença de Tay-Sachst� – Doença degenerativa do sistema nervoso que leva à morte de seus portadores nos primeiros três ou quatro anos de vida. É uma doença que pode ser diagnosticada antes do nascimento. Anemia falciformet� – Doença sangüínea que pode ser fatal. Seu portador sente fortes dores nas articulações e possui maior suscetibilidade às infecções. Já pode ser diagnosticada antes do nascimento. AULA 2 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 20 FATEC - Psicanálise Fibrose cística intestinalt� �–�Doença�fatal�que�afeta�os�pulmões�e�o�USBUP� intestinal.�Seus�portadores�podem�chegar�até�os�vinte�anos�de�idade.�²� VNB�EPFOÎB�RVF�OÍP�QPEF�TFS�EJBHOPTUJDBEB�BOUFT�EP�OBTDJNFOUP� Distro�a musculart� �–�Doença�muscular�degenerativa�e� fatal.�O�gen�OB� distro�a�mais�comum�foi�recentemente�localizado,�o�que�leva�a�crer�RVF� FN�CSFWF�VN�EJBHOØTUJDP�BOUFT�EP�OBTDJNFOUP�FTUFKB�EJTQPOÓWFM� Além� das� doenças� que� podem� ser� transmitidas� pela� hereditariedade,� IÈ� UBNCÏN�erros�decorrentes�dos�vários�processos�de�divisões�celulares�e�das�re-alo - DBÎÜFT�EF�HFOFT�� Isso� acontece� por� causa� dos� genes recessivos ,� como� aquele� exemplP� narrado�no� JOÓcio�do�UØQJco.�Os�pais�de�uma�criança�portadora�de�fenilceto - núria�nem�sempre�manifestam�essa�doença.�Por�ser�uma�doença�recessiva,�sÍP� necessários�dois�pares�de�genes�recessivos�para�que�a�doença�apareça.�OT� pais�podem�ter�o�gene�dominante�e�o�recessivo�e,�assim,�nÍP�manifestarem�B� doença.�Porém�durante�a� fecundaÎÍo�de�um��lho,�o�gene�recessivo�da�mÍF� pode�se�unir�ao�gene�recessivo�do�pai�e,�assim,�conceCFr�uma�criança�porta - dora�da�doença.�Os�pais�nÍP�manifestam�a�doença,�apesar�de�serem�porta - doreT�Eo�Teu�Hene. Existem�muitas� anomalias� genéticas� que� podem� causar� retardo�mental� F� outros� comprometimentos� no� desenvolvimento.� Felizmente,� tais� BOPNBMJBT� ocorrem�raramente.�Elas�podem�atingir�tantos�os�autossomos�quanto�os�cromos - TPNPT�TFYVBJT� Um�exemplo�de�anomalia�atingindo�um�par�autossomo�é�a� 4ÓOESPNF�EF� Down,�na�qual�um�cromossomo�extra�no�par�de�número�21�resulta�em�SFUBSEP� mental.�As�DBSBDUFSÓTUJDBT�dessa�TÓOESPNF�KÈ�FTUÍP�descritas�há�muito�tempo,�NBT� OÍP�há�cura,�apenas�atendimento�especializado�a�seus�portadores,�de� forNB� que�os�mesmos�TFKBN�JODMVÓEPT�no�DPOWÓWJP�social,�desenvolvendo�suas�potencia - MJEBEFT�EB�NFMIPS�NBOFJSB�QPTTÓWFM�� As� DBSBDUFSÓTUJDBT� GÓTJDBT�mais�marcantes� dos� portadores� dessa� TÓOESPNF� TÍP��DBCFÎB�achatada�na�parte�de�trás,�CPDB�pequena�com�MÓOHVB�QSPFNJOFOUF � QÈMQFCSBT�estreitas�e�olhos�PCMÓRVPT��ÓSJT�com�manchas�CSBODBT��tônus�NVTDVMBS� EJNJOVÓEP��pescoço�de�aparência� MBSHB��orelhas�menores�do�que�as�dos� OÍP� portadores,�apresentando,�muitas�vezes,�uma�EPCSB�acentuada�na�parte�supe - SJPS��rosto�de�aparência�achatada�por�causa�dos�ossos�faciais�pouco�desenvol - WJEPT��NÍPT�e�pés� TÍP�pequenos�e�geralmente�há�um�grande�espaço�entre� P� QSJNFJSP�F�TFHVOEP�EFEPT�EPT�QÏT� A�4ÓOESPNF�de�Down,�além�do�comprometimento�intelectual,�pode�levar�B� graves�doenças�DBSEÓBDBT �EJTUÞSCJPT�visuais� (entre�eles�a�catarata�DPOHÐOJUB � anomalias� gastrintestinais,� QSPCMFNBT� auditivos,� hipertireoidismo,� QSPCMFNBT� psiquiátricos. AULA 2 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO FATEC - Psicanálise 21 Essas características variam amplamente entre os portadores da síndrome, e algumas podem ser atenuadas ou mesmo desaparecer durante o próprio processo de desenvolvimento ou necessitar de intervenções cirúrgicas. Não há como dizer se um casal vai ou não gerar uma criança portadora da Síndrome de Down. Trata-se de um erro genético que acontece durante a concepção. Contudo pode-se determinar se há mais ou menos probabilidade de o erro acontecer. Os fatores que podem aumentar tal probabilidade são: pais muito novos ou maduros, incidência de Down na família, outras alterações cromossômicas nos pais. Um exemplo de anomalia atingindo o par de cromossomos sexuais é a Síndrome de Klinefelter. Essa síndrome é responsável por problemas de compor - tamento e atraso no desenvolvimento intelectual e consiste em um indivíduo do sexo masculino (XY) possuir mais de um cromossomo X (XXY ou XXXXY). Os estudos mostram que o comprometimento mental é maior, quanto maior o número de cromossomos X. As principais características são esterilidade, as características secundárias masculinas (pêlos, voz grossa, aumento da força muscular) deixam de se desen - volver, podendo aparecer seios (ginecomastia), isso acontece devido à baixa produção de testosterona; aparecimento de problemas de comportamento e de aprendizagem, principalmente pelo atraso da linguagem. A principal forma de tratamento é a administração de doses de hormônios, mas mesmo assim não é possível a produção de sêmen. Quando se trata de doença mental, já não há tanta certeza do papel que a hereditariedade tem sobre seu desenvolvimento. Pensando sobre o assunto Portadora de necessidades especiais é a condição que interfere nas capaci - dades intelectuais de um indivíduo. Na de�ciência mental, estão comprometidas a capacidade de aprendizagem, certas habilidades motoras, linguagem, as várias formas de raciocínio, entre outros. Doença mental é a condição em que as capacidades intelectuais estão preservadas, mas a parte emocional está afetada. Exemplos de doença mental são a depressão e a esquizofrenia, entre outras Tanto alguns fatores ambientais podem gerar doença mental, como durante o uso de drogas ou alguma infecção, quanto fatores genéticos. AULA 2 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 22 FATEC - Psicanálise A Coréia de Huntington é um tipo de doença mental claramente de�nida por uma condição hereditária. Trata-se de um transtorno neurológico grave que resulta num rápido comprometimento do funcionamento físico e mental, que atinge a memória e atenção. Já a esquizofrenia e a depressão parecem possuir tanto determinação por fatores genéticos como fatores ambientais, não havendo forma de identi�car o que mais pesa em sua determinação. O termo que tem sido mais utilizado e parece melhor se adequar para essas condições é de herança de predisposição. 2.5 O meio ambiente Quando falamos em meio ambiente, estamos nos referindo a um abrangente leque de in�uências. Mas, de forma geral, quando falamos de meio ambiente, podemos considerar cinco in�uências que se sobrepõem: o meio químico pré- natal, o meio químico pós-natal, as experiências sensoriais constantes,as expe - riências sensoriais variáveis e eventos físicos traumáticos. Como nosso tema refere-se à fase da vida que vai da concepção ao parto, vamos tratar especi�camente dos fatores ambientais nesse período da vida, ou seja, os que podem se apresentar dentro do útero (fatores ambientais pré- natais) e os que podem se apresentar no momento do parto (fatores ambien - tais perinatais). 2.6 Influência do meio ambiente no desenvolvimento humano Certos fatores externos podem causar algumas anormalidades no desenvol - vimento, mas, além dos fatores em si, deve-se, também, considerar a fase da gestação em que tal fator é apresentado. Ou seja: o risco que o bebê corre (ainda no útero) de sua mãe contrair rubéola é muito diferente, se a gestação estiver em seu segundo mês ou no nono mês. Isso acontece porque os três primeiros meses de gravidez são cruciais para o desenvolvimento de todos os órgãos e potenciais de funcio - namento dos mesmos. Algumas estruturas são formadas em períodos restritos da gravidez. Esses períodos são conhecidos como períodos sensíveis ou perío dos críticos. Se a gestante entrar em contato com uma substância química, por exemplo, num desses períodos, uma estrutura importante pode deixar de se formar ou pode ser formada com problemas em seu funcionamento. É por isso que os médicos recomendam que as mães não usem uma série de produtos químicos nos três primeiros meses de gestação (vários medica - mentos, produtos de beleza, bebidas alcoólicas, produtos de limpeza, passar por radiações, etc.). AULA 2 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO FATEC - Psicanálise 23 Estão entre os fatores teratogênicos: Quadro 2: Fatores Teratogênicos Doenças da mãe Rubéolat� Toxoplasmoset� Citomegalovírus (CMV)t� Herpest� Drogas utilizadas pela mãe Medicamentost� Cigarrot� Bebida alcoólicat� Drogas de abusot� Mãe exposta a certas condições ambientais tóxicas Chumbot� Radiaçãot� Fonte: Bee (1996). O quadro é apenas ilustrativo, mas pode haver outros fatores não menos impor - tantes. Vamos falar um pouco de cada um desses fatores. Quadro 3: Doenças da Mãe RUBÉOLA É uma doença infecciosa extremamente perigosa para o bebê se a gestação estiver em seus três primeiros meses. Pode levar a mal-for - mação congênita de grandes órgãos (sistema ocular, auditivo, cardíaco, sangue), assim como alterações neurológicas. Pode também causar de� - ciências menores que só serão diagnosticadas após muitos anos de vida e também pode levar ao aborto espontâneo. É uma doença evitável por já ter disponível uma vacina. Contudo, a vacina não pode ser adminis - trada se a mulher estiver grávida. TOXOPLASMOSE É uma doença causada por um parasita cujo principal hospedeiro é o gato. A principal forma de contaminação se dá pelo contato com fezes e urina desses animais. Em qualquer período da gestação em que ocorra a contaminação, corre-se o risco de aborto. Além disso, pode ocorrer casos em que a criança nasce morta (natimorto) ou criança viva, mas com doenças clinicamente severas, que podem aparecer logo após o nascimento ou anos mais tarde. Entre as doenças, podemos citar: microftalmia (olhos pequenos); microencefalia (encéfalo dimi - nuído), hidrocefalia (líquido no encéfalo) – condições que resultam em retardo mental; alterações nos pulmões, fígado e baço; calci�cações no cérebro, lesões na pele, cegueira. CITOMEGALOVÍRUS Portar tal vírus é condição menos conhecida, mas alastrada e muito séria. Cerca de 60% das mulheres possuem anticorpos para o CMV, mas não possuem nenhum tipo de sintoma. Porém quando o vírus está em sua forma ativa pode afetar o feto numa variedade de problemas sérios que inclui desde a surdez a amplos danos ao sistema nervoso central. HERPES E um vírus que também se apresenta numa forma ativa e, em outra, latente. Na forma ativa, seu portador apresenta lesões na pele. Se a mãe estiver com o vírus ativo no momento do parto, o bebê poderá ser contaminado. Além das lesões características, o bebê também poderá sofrer de uma complicação chamada meningoencefalite, que é uma in�amação potencialmente séria do sistema nervoso central. Fonte: Bee (1996). AULA 2 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 24 FATEC - Psicanálise Quadro 4: Demais fatores – drogas utilizadas pela mãe MEDICAMENTOS Muitos medicamentos, reconhecidamente, causam graves problemas à criança em gestação. Um exemplo é a aspirina. Em estudos animais, quando administrada em altas doses, possui efeito teratogênico. Os seres humanos não ingerem aspirina em doses tão altas quanto os experimentos mostram ser necessárias para tal efeito. Contudo o ácido benzóico potencializa o efeito da aspirina e ele é muito utili - zado como conservante alimentar (no ketchup, por exemplo). Esse exemplo de interação faz com que a aspirina seja evitada nos três primeiros meses de gestação. CIGARRO A nicotina não só afeta a capacidade do sangue da mãe em transportar oxigênio para o feto durante a gestação, como pode provocar aborto, retarda o crescimento fetal levando o bebê a ter baixo peso no momento do nascimento e ainda afeta o desenvolvi - mento físico e intelectual a longo prazo. Devemos lembrar, ainda, que o cigarro é composto por muitas outras substâncias químicas que também causam males ao bebê em formação. BEBIDA ALCOÓLICA Quanto maior a ingestão alcoólica, maiores as chances de o bebê desenvolver a Síndrome Alcoólica Fetal, cujos sintomas são: retardo no crescimento fetal pré e pós natal, nascimento prematuro, retardo mental, malformação física, distúrbios do sono e doença cardíaca congênita. Mesmo mães que bebem moderadamente têm bebês possuidores de alguns destes sintomas. DROGAS DE ABUSO Mães dependentes de alguns tipos de droga (heroína, metadona, cocaína) transmitem os efeitos dessa dependência ao feto. Filhos de dependentes de crack têm maior probabilidade de desenvol - verem problemas neurocomportamentais severos e permanentes. Muitos bebês, logo após o nascimento, apresentam sintomas de abstinência. Conforme o caso, os bebês podem passar por terapias de retirada de drogas de forma controlada, do mesmo formato em que usuários adultos passam. Fonte: Bee (1996). Quadro 5: Exposições ambientais CHUMBO A intoxicação por chumbo também pode causar prejuízos neurocom - portamentais. Mesmo com a substituição da gasolina com chumbo por sem chumbo e pela retirada do chumbo da composição de tintas, ainda assim encontram-se seqüelas da exposição em crianças pequenas, mesmo em ambientes considerados seguros. RADIAÇÃO Existem várias formas de radiação. O raio-X é uma fonte de problemas e é um tipo de exposição que pode ocorrer durante os exames de rotina aos quais a mãe está submetida. O pior período para a expo - sição é entre a segunda e sexta semana de gestação, mas mesmo nos últimos meses ainda há risco de algum problema. A radiação pode levar a malformações congênitas, lesão cerebral, maior incidência de câncer, diminuição do tempo de vida, mutações genéticas ao longo de várias gerações e morte. Fonte: Bee (1996). AULA 2 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO FATEC - Psicanálise 25 Há alguns outros fatores que também podem in�uenciar o desenvolvimento pré-natal: dieta da mãe, idade da mãe, número de gestações por que a mãe passou, estado emocional da mãe, fator-Rh. 2.7 O Parto O momento do nascimento é, também, um fator de grande in�uência no desen - volvimento. A facilidade ou di�culdade do nascimento em si e da rapidez com que o bebê começa a respirar são exemplos dos fatores que podem interferir. A falta de oxigenação do sistema nervoso central, principalmente do cérebro, é conhecida como anóxia (ou anoxia). Essa condição dani�ca neurô - nios e podem ocorrer defeitos motores. Umacriança que passa por esse tipo de situação pode apresentar paralisia das pernas, braços ou ambos; tremores; incapacidade de falar. Cerca de 30% do quadro conhecido como paralisia cerebral envolve falta de oxigenação do cérebro no momento do parto. A anóxia pode acontece r em algumas condições, a saber: mau posicionamento da criança no momento do parto;t� pela desproporção pélvica da mãe e feto;t� em partos prolongados ou precipitados;t� pelo feto imaturo, que não possui força para sair ou não consegue respirar;t crianças que aspiram secreções;t� hemorragias na mãe;t� cordão umbilical enrolado no pescoço do feto.t� Outro tipo de lesão que pode ocorrer no momento do parto é a do plexo braquial (que são as raízes nervosas que saem do pescoço e seguem para os braços). O plexo braquial é lesado quando a cabeça é subitamente afastada dos membros superiores. AULA 2 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 26 FATEC - Psicanálise Esse tipo de lesão ocorre, geralmente, nas seguintes condições: durante o parto natural, quando a criança é muito pesada ou há desproporção entre o tamanho da criança e a pélvis da mãe, e também quando o parto ocorre de forma demorada. Tal lesão ocasiona membro superior �ácido, próximo ao corpo e torcido, com punhos e dedos �exionados, sem movimentação e sensibilidade diminuída. Como você pôde perceber, há muitos fatores que podem interferir na saúde e formação do bebê, mesmo quando ele ainda está no ventre materno. É por isso que é muito importante garantir às gestantes que elas tenham acesso a informações relevantes sobre sua gestação, acesso a exames pré-natais e um parto que não gere ameaça ao bebê nem a si própria. Chegamos ao �nal da segunda aula. As informações recebidas nos darão subsídios para compreendermos como se realizam a concepção e o parto, bem como nos ajudarão nos cuidados para o controle de uma gestação sadia. A�nal, quem concebe são as mulheres, mas os homens têm participação direta nesta situação, e devem se responsabilizar pelas suas atitudes de progenitores. Nesta aula, você entrou em contato com muitas informações importantes sobre as principais in�uências ao desenvolvimento humano a que todos nós estamos submetidos, desde nossa concepção até o nascimento. Essas in�uências tanto são de caráter hereditário como ambiental e, além de cada uma ser impor - tante por si só, ainda interagem entre si. 1. Entre a concepção do ser humano até seu nascimento passam-se, aproximadamente: a) 40 semanas b) 32 semanas c) 37 semanas d) 30 semanas 2. Com base no número de semanas necessárias para uma gestação adequada para o bebê nascer saudável, entre em contato com um bebê que tenha AULA 2 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO FATEC - Psicanálise 27 nascido de 30 semanas e descreva seu desenvolvimento biológico, ou seja , veri�que se ele nasceu com alguma doença explícita ou algum tipo de de� - ciência. Solicite seu Apgar e converse com a mãe do bebê para ver que tipo de estimulação ela está realizando com o mesmo. Para maiores informa - ções, consulte alguma maternidade na sua cidade. 3. Complete a sentença: “É importante notar que um ________ não herda padrões comportamentais formados mas, sim, uma base________”. a) bebê, sólida; b) organismo, biológica; c) organismo; hereditária; d) bebê, biológica. 4. Segundo Mussen e outros (2001), as cinco in�uências que devem ser consi - deradas quando tratamos do comportamento de uma criança em desenvol - vimento são: a) variáveis biológicas determinadas historicamente; variáveis biológicas não-genéticas; aprendizagens anteriores; ambiente sociopsicológico imediato e meio social e psíquico; b) variáveis biológicas determinadas geneticamente; variáveis biológicas transmutáveis, aprendizagens anteriores; ambiente sociopsicológico imediato e meio social e cultural; c) variáveis biológicas determinadas geneticamente; variáveis biológicas não-genéticas; aprendizagens anteriores; ambiente sociopsicológico imediato e meio social e cultural; d) variáveis biológicas determinadas geneticamente; variáveis biológicas não-genéticas; aprendizagens imediatas, ambiente sociopsicológico imediato e meio social e cultural. 5. Crie uma situação em que o ambiente sociopsicológico imediato seja o responsável por um desenvolvimento prejudicado. Na atividade um , a reposta correta é a letra (a), pois entre a concepção do ser humano e seu nascimento, passam-se aproximadamente 40 semanas. As demais alternativas estão equivocadas. Na atividade dois , os processos de estimulação deverão estar presentes para o bom desenvolvimento do bebê. Caso isto não ocorra, as di�culdade psico-sociais aparecerão com o desenvolvimento e evolução desta criança. AULA 2 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 28 FATEC - Psicanálise A atividade três tem como resposta a opção (b), pois estamos nos referindo a um organismo humano, que não herda características prontas, mas nasce com características biológicas, enquanto aparato orgânico, de homo-sapiens, que podem vir a se desenvolver ou não, dependendo da interação estabelecida entre estes. As demais alternativas não se aplicam para completar a frase, pois na letra (a), coloca que o bebê nasce com base sólida, e vimos que o organismo do bebê tem aparatos biológicos, que não são sólidos, mas podem vir a solidi�car seu desenvolvimento dependendo de sua interação. O mesmo acontece para a letra (c), já que o organismo não nasce com características hereditárias de homo-sapiens, mas com capacidades de vir a se desenvolver, na mesma situação está a letra (b), pois estamos nos referindo a um organismo biológico enquanto características de vir a ser, sem o desenvolvimento do ser-humano próprio, na condição de um bebê. Já na atividade quatro a resposta correta é a (d), já que as variáveis biológicas determinadas geneticamente; variáveis biológicas não-genéticas; aprendizagens anteriores; ambiente sócio-psicológico imediato e meio social e cultural, são as cinco variáveis, que interferem no desenvolvimento humano. No que diz respeito à letra (a) , a resposta está errada porque as variáveis biológicas a que a psicologia do desenvolvimento se refere neste processo de in�uências no comportamento da criança, neste aspecto, é a construção gené - tica, e não a histórica. A resposta (b) está incorreta. As variáveis biológicas são constituídas genéticamente e não são transmutáveis porque o meio social é um dos responsáveis pelo desenvolvimento da criança, mas aqui, em relação ao processo de desenvolvimento, o psíquico não é uma variável biológica determinada historicamente; variáveis biológicas não-genéticas; aprendiza - gens anteriores; ambiente sócio-psicológico imediato e meio social e psíquico. A resposta (c) está incorreta porque o processo de aprendizagem a que se referem as cinco in�uências que desenvolvem o comportamento da criança, é a aprendizagem imediata, pois é a relação direta, espontânea e inicial com o processo de aprender. Na atividade cinco , você deve ter criado uma situação em que o ambiente sociopsicológico imediato seja o responsável por um desenvolvimento prejudi - cado. Por exemplo, uma criança que nasce em uma região onde exista uma mina de carvão e que �que exposta a seus resíduos, poderá apresentar problemas respiratórios, vir a sentir-se mal na escola e, sem um conhecimento e acompa - nhamento de suas atividades sociais, pode desencadear um quadro de doenças. Acarretando di�culdades de atenção, aprendizagem, memorização, etc. A realização das atividades lhe oportunizou veri�car o alcance dos obje - tivos propostos para esta aula de descrever a fecundação humana e o desenvol - vimento fetal e de diferenciar variáveis biológicas de variáveis ambientais, que interferemno desenvolvimento humano. AULA 2 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO FATEC - Psicanálise 29 BEE, Helen. A criança em desenvolvimento . 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 1996. MUSSEN, P. H. et al. Desenvolvimento e personalidade da criança . 4. ed. São Paulo: Harbra, 2001. Seguiremos estudando uma nova fase da vida do ser humano, a que vai do nascimento aos dois anos. Veremos como os fatores ambientais e biológicos interagem nesses momentos. Anotações AULA 2 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 30 FATEC - Psicanálise AULA 3 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO FATEC - Psicanálise 31 Esperamos que, ao �nal desta aula, você seja capaz de: apresentar as mudanças físicas no processo de crescimento do bebê;t� descrever as mudanças cognitivas e sociais que acontecem no processo t� de desenvolvimento do bebê. Para que você acompanhe bem esta aula, é necessário que você faça uma nova leitura da aula dois, pois é preciso que não haja dúvidas quanto aos dois principais determinantes do comportamento humano, a hereditariedade e o meio ambiente, tendo em vista que precisaremos destes conhecimentos para compreen - dermos o proc esso de desenvolvimento infantil em seus aspectos bio-psico-motor . Como explic ar todos os períodos da vida humana? Qual o mais importante para a construção da personalidade, desde o nascimento até o falecimento? Todos eles são fundamentais; entretanto, há um período, digamos, especial: são os primeiros dois anos de vida. Os bebês, logo após o nascimento, apresentam uma série de comportamentos que diferem dos comportamentos manifestados por crianças de maior idade. São esses comportamentos que estudaremos agora, procurando responder a algumas questões, como: a�nal, como é o real mundo de um bebê? Como se dão as alte - rações deste mundo, ao longo dos dois anos iniciais da vida humana? As mudanças comportamentais são muitas: desde um simples engatinhar até chegar a um processo de comunicaçã o oral. En�m, prepare-se para fazer parte de um processo surpreendente! Você �cará surpreso e encantado com as características divertidas, trabalhosas e fascinantes deste período da vida humana que trabalharemos nesta aula. Do Nascimento aos Dois anos de Idade Aula 3 AULA 3 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 32 FATEC - Psicanálise 3.1 O Recém-nascido Uma criança nasce pesando, aproximadamente, 3,5 Kg, com 40 cm de comprimento. Imediatamente após o nascimento, o bebê é examinado por médicos e enfermeiros que realizam diferentes testes para veri�car o seu estado. Vamos estudar dois métodos que, de maneira geral, nos oferecem um cenário dos processos avaliativos realizados junto aos recém-nascidos, a Escala de Avaliação Comportamental Neonatal de Brazelton e o Escore de Apgar . Saiba mais Virginia Apgar , in Bee, 2003, (1909-1974), anestesiologista americana, no início da década de 1950, chegou a cinco pontos-chave para a avaliação da vitalidade do recém nascido. O método de avaliação Escore de Apgar tornou-se uma das avaliações mais comuns do estado do bebê, imediatamente após o nascimento e, novamente, cinco minutos mais tarde, para a detecção de qual - quer problema que possa exigir cuidado especial. Nesse sistema, o recém-nascido é classi�cado de acordo com cinco critérios, conforme demonstrado abaixo, recebendo um escore (nota classi�catória) de 0, 1 ou 2 em cada critério, com um máximo de 10. Quadro 1: Escore de Apgar ASPECTO OBSERVADO NO BEBÊ 0 1 2 Ritmo cardíaco ausente <100/min >100/min Ritmo respiratório Não respira Choro fraco e respi - ração super�cial Choro forte e respiração regular Tônus muscular Flácido Alguma �exão das extremidades Bem �exionado Reação à estimulação dos pés Nenhuma Pouco movimento Choro Cor Azulado; pálido Corpo rosado, extremi - dades azuladas Todo rosado AULA 3 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO FATEC - Psicanálise 33 Um escore 10 é bastante incomum, imediatamente após o nasci - mento, porque a maior parte dos bebês mostra-se um tanto azulada nos dedos das mãos e pés, naquele estágio. Quando da avaliação cinco minutos mais tarde, 85 a 90% dos bebês recebem escore 9 a 10. Qualquer escore de 7 ou mais indica que o bebê não corre perigo. Um escore de 4, 5 ou 6 costuma signi�car que o bebê necessita de ajuda no estabelecimento dos padrões respi - ratórios normais. Um escore de 3 ou abaixo disso indica um bebê em condição crítica, embora aqueles com escores de Apgar tão baixos possam e costumam sobreviver. ( BEE, 1996, p. 117). 3.2 Escala de Avaliação Comportamental Neonatal de Brazelton É uma ferramenta utilizada pelos médicos para examinar o comportamento dos bebês, distinguindo suas diferenças indivi - duais, principalmente aquelas que têm relação com o comporta - mento social interativo. A escala de Brazelton avalia os comporta - mentos de bebês de até dois meses, em um processo interacional, considerando o desempenho mais satisfatório desse bebê. A seguir, apresentamos os estágios de consciência do bebê e suas características: sono profundo: olhos fechados, sem movimentos, t� respiração regular; sono ativo: olhos fechados, pequenos movimentos t� estremecidos, respiração irregular; sonolento: olhos abrindo e fechando;t� vigília tranqüila: olhos abertos, movimentos corporais t� mínimos, respiração regular; vigília ativa: olhos abertos, movimentos corporais vigorosos, respi -t ração irregular; choro e inquietude: olhos parcial ou inteiramente fechados, movimentos t� corporais vigorosos e duradouros. Um exemplo simples de teste, segundo o método de Brazelton, pode ser visu - alizado quando um médico agita um brinquedo na frente do bebê, deslocando-o de um lado para o outro. Os bebês recém-nascidos saudáveis acompanham esse deslocamento do brinquedo. É possível avaliar o comportamento do bebê quanto à sua capacidade de organização dos estados de consciência, atenção aos eventos ambientais, controle das atividades motoras, etc. A Avaliação Comportamental de Brazelton apresenta algumas indicações para o uso clínico. Porém esse método não é considerado uma avaliação neuro - lógica formal. AULA 3 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 34 FATEC - Psicanálise As principais indicações para a utilização do método de Brazelton são: examinar o bebê na presença dos pais;t� avaliar qual o impacto do comportamento do bebê no processo de t� vinculo junto aos pais; identi�car bebês com possíveis problemas motores ou comportamentais;t fornecer uma avaliação prévia para futuro acompanhamento, permi -t� tindo um planejamento de intervenção. 3.3 Reflexos de um Recém-nascido Re�exos são as reações físicas que uma pessoa responde ao receber estí - mulos sensoriais, reagindo a estes estímulos. Quando se fala em um bebê, são as reações que o mesmo emite ao receber qualquer tipo de estimulação senso - rial. Os re�exos de um recém-nascido podem ser percebidos pelas tendências perceptuais que o levam a prestar atenção a alguns objetos, ao mesmo tempo em que ele ignora outros que também estão ao seu redor. Saiba mais Quadro 2: Re�exos presentes no recém-nascido REFLEXOS PROCEDIMENTO USADO PARA ESTIMULAR O REFLEXO DESCRIÇÃO Re�exo de Babinski O examinador bate suavemente no lado do pé, do calcanhar até o dedão. O bebê �exiona o seu dedão enquanto estende os quatro dedos menores. Re�exo de Moro O examinador produz um ruído inesperado (por exemplo, estoura um balão) ou segura o bebê e deixa cair sua cabeça algunscentí - metros. Se o bebê estiver deitado de costas no berço, o examinador bate simultaneamente nas grades, na altura de sua cabeça. O bebê abre seus braços e depois junta-os na linha média do tronco. AULA 3 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO FATEC - Psicanálise 35 REFLEXOS PROCEDIMENTO USADO PARA ESTIMULAR O REFLEXO DESCRIÇÃO Re�exo da piscadela Um �ash de luz. O bebê fecha os olhos. Re�exo da preensão O examinador aperta a palma da mão do bebê com seu dedo ou um lápis. O bebê faz movimentos como se estivesse andando. Re�exo da busca O examinador estimula a bochecha ou o canto da boca do bebê. O bebê vira a cabeça em direção ao dedo, abre a boca e tenta chupá-lo. Re�exo da sucção O examinador insere o dedo indi - cador na boca do bebê. O bebê começa a sugá-lo. Re�exo da retração O examinador pressiona a sola do pé do bebê com um objeto pontiagudo. O bebê �exiona a perna, evitando o objeto. Re�exo da lambida O examinador põe água com açúcar na língua do bebê. O bebê lambe os lábios e pode sugar. Re�exo da careta O examinador põe uma subs - tância azeda na língua do bebê. O bebê contrai os lábios e fecha os olhos. Re�exo dos passos O bebê é segurado em pé e o examinador move-o para a frente e inclina-o para um lado. O bebê faz movimentos como se estivesse andando. Fonte: Mussen e outros (2001, p. 88-89). Saiba mais 3.4 Desenvolvimento Físico As mudanças na vida de um bebê, durante os primeiros meses de vida, se efetivam de modo extremamente rápido. É comum fazermos comentários do tipo “nossa, como seu �lho cresceu ” , quando reencontramos um(a) amigo(a) com o �lho, após um último encontro acontecido há poucos meses. O crescimento físico dos bebês está relacionado à maturação . Um bom exemplo desse processo é o aparecimento da fala na grande maioria das crianças, entre um e três anos de idade, que são expostas à fala adulta. O cérebro de um bebê de 3 meses de idade não está su�ciente - mente desenvolvido para permitir que o bebê entenda ou fale. No entanto, embora uma criança de 2 anos de idade esteja su�cien - temente matura, ela não falará, a menos que seja exposta à fala de outras pessoas. Assim, a maturação apenas não pode levar ao AULA 3 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 36 FATEC - Psicanálise aparecimento de uma função psicológica. Ela apenas serve para estabelecer a época mais precoce possível para o aparecimento daquela função (MUSSEN e outros, 2001, p. 93). É a maturação do cérebro, atrelada ao desenvolvimento da parte motora da coluna vertebral, que permite à criança sentar, engatinhar, �car em pé, andar, etc. A seguir, com o auxílio de ilustrações, apresentamos um quadro com as prin - cipais fases de desenvolvimento da postura e da locomoção do bebê. Também procuramos apontar algumas habilidades motoras e manipulativas percebidas nos primeiros meses de vida. A maturação se refere a uma série de aconte - cimentos biológicos no corpo e no cérebro que permite o surgimento de uma função psicológica, acreditando que temos um bebê saudável e que viva num ambiente cercado de pessoas e objetos . Quadro 3: Maturação IDADE POSTURA/LOCOMOÇÃO HABILIDADE 1 mês Levanta um pouco a cabeça Segura objeto, quando é colocado em sua mão 2 meses Levanta o peito Bate em objetos que estão próximos 3 meses Vira-se Tenta pegar o objeto mas não consegue 4 meses Senta-se com auxílio Tenta alcançar os objetos 5 meses Mantém ereta a cabeça, quando sentado Pega os objetos 6 meses Senta-se no cadeirão Pega objetos em movimento 7 meses Senta-se sem ajuda Tenta transferir objetos de uma mão à outra 8 meses Engatinha, arrastando o abdome Consegue passar um objeto de uma mão à outra 9 meses Fica de pé, apoiando-se em um móvel Pequenos sinais de preferência de uma mão 10 meses Anda, quando lhe seguram as mãos Continuam os sinais de preferência por uma das mãos AULA 3 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO FATEC - Psicanálise 37 IDADE POSTURA/LOCOMOÇÃO HABILIDADE 11 meses Engatinha, apoiando as mãos e os joelhos no chão Segura uma colher colocada em sua mão, mas não consegue levar o alimento à boca 12 meses Fica de pé sozinho Procura apoio para levantar-se, quando é preciso 13 meses Anda, quando guiado por uma pessoa adulta Empilha dois blocos 14 meses Anda sozinho Rola a bola para um adulto 18 meses Sobe e desce escadas; Caminha para trás e para os lados Coloca objetos em pequenos recipientes e depois os descarrega Fonte: Mussen e outros (2001). 3.5 Desenvolvimento Cognitivo Jean Piaget (1896-1980), psicólogo suíço, é considerado um dos teóricos mais importantes no campo do desenvolvimento cognitivo humano. Seus estudos tiveram um grande impacto sobre os campos da Psicologia e Psicanálise. O ponto de partida do processo de desenvolvimento cognitivo, para Piaget, era a interação entre biologia e experiência. “Ele partia do pressuposto de que as características biológicas de uma criança impõem alguns limites na ordem e na velocidade com que surgem competências cognitivas especí�cas. Ao mesmo tempo, ele acreditava que a experiência ativa com o mundo é crucial para o crescimento cognitivo” (NEWCOMBE, 1999). A tese de Piaget era que o desenvolvimento humano não se dá de forma sucessiva, acontecendo numa seqüência de quatro estágios: sensório-motor (0 a 18 meses); pré-operatório (18 meses a 7 anos); operatório concreto (7 a 12 anos) e opera - tório formal (12 anos ou mais). O nome estágio é utilizado porque o ser humano, no trans - correr da sua vida, vai passando por diferentes etapas, nas quais vai reorganizando a sua construção e interpretação do mundo vivido. Ou seja; a cada nova etapa, uma nova compreensão de mundo. Por enquanto, o que nos interessa é o primeiro desses grandes períodos do desenvolvimento intelectual, isto é, o estágio sensório-motor. Aqui, o crescimento cognitivo se dá pelas experiências sensoriais e ações motoras. Sendo assim, inicia com os re�exos e prossegue por mais seis subestágios, visualizados logo a seguir, em que há uma representação de uma classe de ações motoras utilizadas para o alcance de uma determinada meta. AULA 3 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 38 FATEC - Psicanálise Quadro 4: Subestágios SUBESTÁGIO IDADE NOME/PIAGET CARACTERÍSTICAS 1 0-1 mês Re�exos Prática de esquemas ou re�exos inatos, como o sugar e o olhar. Ausência de imitação. 2 1-4 meses Reações circulares primárias Início da coordenação de esquemas de diferentes órgãos dos sentidos. 3 4-8 meses Reações circulares secundárias Bebê torna-se muito mais consciente dos eventos externos a seu corpo e os faz acontecer novamente. 4 8-12 meses Coordenação de esquemas secundários Comportamento claramente inten - cional meios-�ns. Ocorre a imitação de comportamentos. 5 12-18 meses Reações circulares terciárias Começa a “experimentação”, novas maneiras de manipular os objetos. Exploração bastante ativa e inten - cional, por tentativa e erro. 6 18-24 meses Início do planejamento representativo Desenvolvimento do uso dos símbolos para representar objetos ou eventos. A criança compreende que o símbolo está separado do objeto. Fonte: Adaptação de Bee (2003). 3.6 Desenvolvimento Emocional e Social Além dos campos relacionados às partes física e cognitiva dos bebês, há um sistema psicológico que, digamos, completa o quadro geral do desenvolvimento, na faixa etária do zero aos dois anos de idade, que são as reações emocionais e comportamentos que estão relacionados a elas. As emoções são importantes porque estão ligadas diretamente aos comportamentos apresentados,por exemplo, por um bebê. É fácil ilustrar o que estamos dizendo aqui. Vamos imaginar um bebê brincando, na sala da casa, com bolas coloridas espalhadas no chão. De repente, ele pára de brincar porque viu uma pessoa estranha entrando no recinto, alterando seu estado emocional. A emo ção, em muitas vezes, está ligada ao estado de tensão interna do ser humano, que é seguida por um conjunto de pensa - mentos a respeito dos sentimentos e das possíveis ações que os originaram. Porém principalmente para crianças com menos de um ano de idade, essa teoria não funciona, pois elas ainda não desen - volveram, de modo signi�cativo, suas consciências e suas experi - ências com o mundo exterior. Desse modo, a emoção ganha um outro signi�cado, mais atrelado às alterações físicas e cerebrais. AULA 3 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO FATEC - Psicanálise 39 Nos cinco primeiros meses de vida, os bebês apresentam diversas reações que apontam, por conseguinte, para diferentes estados emocionais. A seguir, exem - pli�camos alguns desses estados emocionais e o porquê dessas ocorrência s. Quadro 5: Estados emocionais EVENTO AMBIENTAL REAÇÃO DO BEBÊ DENOMINAÇÃO Evento inesperado Parada da atividade motora e desaceleração dos bati - mentos cardíacos. “Surpresa em resposta ao inesperado”. Dor, frio, fome Aumento na movimentação, fechar os olhos, aumento dos batimentos cardíacos e choro. “Insatisfação em resposta à privação física”. Alimentação Diminuição no tônus muscular e o fechar dos olhos. “Relaxamento em resposta à grati�cação”. Evento familiar, interação social Aumento da movimentação dos membros, de sorrisos e balbucios efusivos. “Excitação em resposta à assimi - lação de um evento”. Fonte: Adaptação de Mussen e outros (2001). 3.7 Desenvolvimento em Lev Vygotsky Outro teórico importante para o estudo do desenvolvimento humano é Lev Vygotsky. Partindo dos estudos realizados pela psicologia sócio-histórica russa, compreende-se que nós todos nascemos com a capacidade de realizar alguns processos básicos para a nossa sobrevivência como seres vivos. Esses processos, tais como atenção, memória, percepção, motivação, etc. são comuns a todos nós e a alguns seres vivos pertencentes ao nosso mesmo �lo biológico, ou seja, aos mamíferos, que é o que herdamos �logeneticamente. Chamados de Processos Básicos , caracterizam-se pelo seu rudimentalismo, por sua simpli - cidade, são o mínimo necessário. Dessa forma, por exemplo, a atenção existe como um ato re�exo, assim como nos mamíferos, que serve a nossos objetivos, necessidades e interesses de sobrevivência. Porém esses processos não nos diferenciam dos demais mamíferos, não nos tornam humanos. Então, o que é que nos torna humanos? Vygotsky (1997) a�rma que o que leva a ocorrência do desenvolvimento, de qualquer processo em qual - quer espécie, é a necessidade, de forma que o desenvolvimento da própria personalidade ocorre devido à necessidade. Mas que necessidade é essa que impulsiona o desenvolvimento da personalidade no sujeito? Conforme Vygotsky (1997) relata, existe, para nós seres humanos, uma necessidade, vinda de nosso ambiente sócio-histórico, de reestruturarmos esses processos básicos, pois, diferentemente dos demais animais de nosso �lo, nós vivemos em um ambiente cultural que, paradoxalmente, é a força motriz para o desenvolvimento da personalidade do sujeito e é o que permite ao sujeito desenvolver-se como AULA 3 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 40 FATEC - Psicanálise ser humano. Dessa forma, podemos compreender que o ser torna-se sujeito humano somente na interação com sua cultura e sociedade, pois é apenas nessa relação que os processos superiores (por meio da zona de desenvolvi - mento proximal), aqueles que nos caracterizam enquanto seres humanos, vão se construindo, o que vem a demonstrar a importância e o impacto de outro ser humano na formação da personalidade do sujeito. O outro me constrói, ao mesmo tempo em que eu o construo. E essa construção da personalidade partilhada com o outro ocorre desde a concepção da criança, ou seja, desde o momento em que a criança estabelece uma interação com o mundo humano concreto, com o outro ser humano já imbuído da cultura e história da sua. Para �nalizar esta aula, lembramos a importância que o outro tem na vida do bebê. Podemos, então perceber o papel que os pais exercem no desenvolvi - mento de seus �lhos. Ressaltamos que a importância dos pais, no desenvolvimento de um novo ser, faz-se imprescindível em todos os momentos da trajetória de vida de seu �lho, porém é condição imprescindível que os pais acompanhem os bebês, pois estes são dependentes em todos os aspectos: biológicos, orgânicos, psicológicos, sociais e econômicos. Vemos, no transcorrer das aulas, o quanto é fundamental a teia de relacionamentos que é construída ao longo da vida, con�rmando a velha teoria de que o ser humano é um ser social, ou seja, ele precisa relacionar-se com outras pessoas para que aconteça seu desenvolvimento social e sua vida se torne humanizada e hominizada. A maioria dos estudos sobre a cognição em bebês recebe forte in�uência das teorias piagetianas sobre a inteligência. No que diz respeito às emoções, o vínculo entre os pais e o bebê é essencial para a existência do apego. Esse vínculo pode ter início logo nas primeiras horas de vida do bebê. Porém, é com o passar do tempo, na multiplicação dos comportamentos, que ele será mais bem estruturado. Estudamos, nesta aula, os principais pontos referentes ao desenvolvimento da vida de um bebê, desde os aspectos físicos (o engatinhar, o andar, etc.) até os aspectos sociais, apontando a importância dos pais no cotidiano social desse bebê. 1. O primeiro estágio de desenvolvimento infantil, preconizado por Piaget é: a) motor c) adaptação b) pré-sensorial d) sensório-motor Após sua resposta, justi�que-a com a elaboração de um texto informativo para os professores da Educação Infantil. AULA 3 • PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO FATEC - Psicanálise 41 2. Assista ao �lme Olha quem está falando e faça um paralelo entre o desen - volvimento sensório-motor, tendo como base a teoria de Jean Piaget. Observe como o bebê desenvolve seu movimento corporal. A que situações estimulativas e sensoriais o bebê reage e à quais ignora. 3. Aos 18 meses o bebê já é capaz de: I. subir escadas II. descer escadas III. caminhar para trás IV. caminhar para os lados a) Somente a a�rmativa I está correta. b) As a�rmativas I e a II estão corretas. c) As a�rmativas I, II e III estão corretas. d) Todas as alternativas estão corretas. 4. Comente a seguinte a�rmação do caderno de conteúdos, p. 202: “A emoção, em muitas vezes, está ligada ao estado de tensão interna do ser humano, que é seguida por um conjunto de pensamentos [...] para crianças com menos de um ano de idade, essa teoria não funciona”. Na atividade um , a resposta correta é a (d), pois o primeiro estágio de desenvolvimento infantil, preconizado por Piaget, é o estágio sensório-motor. As demais estão erradas porque antes de qualquer outro desenvolvimento de adap - tação, ou motor, é necessário que o bebê responda às estimulações imediatas do meio. Quanto ao período pré-sensorial, este não existe na teoria de Piaget. A justi�cativa servirá como orientação aos professores da educação infantil, ela deverá conter as informações de que os processos de estimulação são fundamen - tais para que as crianças desenvolvam seus processos cognitivos. Na atividade dois , os aspectos que devem ter sido observados são as carac - terísticas do desenvolvimento motor. Por exemplo, se sobe escadas, se desce, como realiza os movimentos, as facilidades e di�culdades para a realização
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