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SISTEMATIZAÇÃO DO CUIDAR I ESTÁCIO DE SÁ Luciana Pessanha Dor: o 5º Sinal Vital Definição de Dor Segundo a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) a Dor é definida como: “Uma experiência sensorial e emocional desagradável que é associada a lesões reais ou potenciais ou descrita em termos de tais lesões. A dor é sempre subjetiva. Cada indivíduo aprende a utilizar este termo através de suas experiências”. Este conceito não admite uma relação direta entre lesão tecidual e dor e enfatiza o aspecto de subjetividade na interpretação do fenômeno doloroso. A expressão da dor varia não somente de um indivíduo para outro, mas também de acordo com as diferentes culturas”... Epidemiologia da Dor No Brasil as afecções do aparelho locomotor são as causas mais frequentes de dor. Lombalgias ocorrem em aproximadamente 70% dos brasileiros, cefaleias, dores abdominais e dor generalizada são também muito prevalentes em nosso meio. Mais de 1/3 dos brasileiros julga que a dor crônica os limita para as atividades habituais e mais de ¾ para as atividades recreacionais, relações sociais e familiares. Aproximadamente 10% a 50% dos indivíduos procura clínicas gerais devido a dor. A prevalência de dor nas unidades de internação hospitalar oscila entre 45% a 80%. A prevalência da dor varia, entre os sexos, de acordo com a prevalência natural das lesões causais. A enxaqueca, as dores faciais, a fibromialgia, a síndrome do cólon irritável, a artrite reumatóide e a dor por lesões de esforços repetitivos são mais comuns nas mulheres. A prevalência da dor eleva-se com o progredir da idade. Estima-se que 80% a 85% dos indivíduos com mais de 65 anos apresenta pelo menos um problema significativo de saúde que os predisponha a apresentar dor. Efeitos da dor da Qualidade de Vida 1.1- Aspectos Físicos Diminuição da capacidade funcional Diminuição da força e da resistência Náusea e perda de apetite Transtornos do sono causando irritabilidade, fadiga e dependência em medicamentos e álcool em uma tentativa de facilitar o sono. Dependência Química 1.2- Aspectos psicológicos Diminuição da alegria e do humor Aumento da ansiedade e do temor Depressão, sofrimento. Dificuldade de concentração Somatização Perda do controle Perdas sociais Diminuição das relações sociais Diminuição da atividade sexual e afetiva Aumento da necessidade de cuidados Tensão financeira como resultado de contas médicas, medicamentos e perda de renda devido ao tempo fora do trabalho Fisiologia da Dor O primeiro passo na sequência dos eventos que origina o fenômeno sensitivo-doloroso é a transformação dos estímulos ambientais em potenciais de ação que, das fibras nervosas periféricas, são transmitidas para o SNC. Os receptores nociceptivos são representados por terminações nervosas livres presentes nas fibras mielínicas finas A-delta e amielínicas C. Os nociceptores relacionados com as fibras C respondem à estimulação mecânica, térmica e/ou química intensas e, os relacionados às fibras A-delta, à estimulação mecânica e/ou térmica intensas. As fibras C – amielínicas são responsável pela transmissão da dor tipo lenta, e estão localizadas em estruturas profundas: músculos, tendões, vísceras. São conduzidas após o corno posterior da substância cinzenta da medula espinhal (CPME) principalmente ao feixe paleoespinotalâmico , sem organização somatotópica precisa , por este motivo a dor transmitida pelas fibras lentas C é difícil de ser localizada e quantificada As fibras A – mielínicas são responsáveis pela transmissão da dor tipo rápidas, e estão localizadas na pele , músculos, tendões. São conduzidas após o CPME principalmente ao feixe neoespinotalâmico , com organização somatotópica precisa e detalhada, por este motivo a dor somática pode ser precisa e quantificável. Terminações Nervosas em Pele Fisiologia da Dor A atividade dos receptores nociceptivos das fibras C é modulada pela ação de substâncias químicas, denominadas algogênicas, liberadas em elevada concentração no ambiente tecidual em decorrência de processos inflamatórios, traumáticos e/ou isquêmicos. São originadas de células lesadas. Dentre as substâncias algogênicas, destacam-se: a acetilcolina, as prostaglandinas, a histamina, a serotonina, a bradicinina, o leucotrieno, a substância P, a tromboxana, o fator de ativação plaquetário, os radicais ácidos e os íons potássio. As fibras projetam-se nas unidades celulares do corno posterior da substância cinzenta da medula espinhal (CPME). O CPME não é apenas uma estação de coleta de informações transmitidas pelos aferentes primários. Contém interneurônios que interferem no processamento das informações sensitivas, inibindo ou facilitando a transmissão dos potenciais veiculados pelos aferentes primários para os sistemas de projeção supra-segmentares. A transmissão das informações nociceptivas da medula espinhal para as estruturas encefálicas é realizada mediante sistemas neuronais que compõem o trato espinotalâmico, espinorreticular, espinomesencefálico, espinocervical e outros. Sensação percebida sob a forma de Dor Fisiologia da Dor Tipos de dor Velocidade de transmissão: Dor rápida (f. neoespinotalâmico): Até 0,1’’ após estímulo Fibras mielinizadas (tipo A) Típica dos tecidos superficiais (corte, etc.) São inibidas por pressão Melhor localizada Nociceptores mecânicos, térmicos, álgicos Dor lenta (f. paleoespinotalâmico): Após 1’’ do estímulo Fibras amielínicas (tipo C) Todos tecidos (destruição, principalmente) Pobremente localizada Nociceptores mecânicos, térmicos, álgicos, químicos Estruturas orgânicas e sensibilidade à dor Estruturas muito sensíveis: Pele ( picada, calor, inflamação) Dentina e polpa dentária (picada e inflamação) Pleura parietal (inflamação e tração) Peritônio parietal ( inflamação e compressão) Cápsula Hepática ( distensão) Músculo Cardíaco ( anóxia) Sinóvia Periósteo Estruturas pouco ou nada Sensíveis: Ossos Tecido Hepático Superfícies articulares Pleura visceral e parênquima pulmonar Peritônio Visceral Pericárdio visceral Parênquima cerebral Estruturas orgânicas e sensibilidade à dor A ativação de nociceptores viscerais decorre da irritação das superfícies mucosa e serosa, torção ou tração do mesentério, distensão ou contração de uma víscera oca e resultado do impacto direto, tais como ocorre nos traumatismo. Estímulos similares são necessários para provocar dor na bexiga, ureter ou uretra. Os nociceptores gastro-intestinais reagem mais intensamente à dilatação excessiva ou à contração do intestino e/ou torção do mesentério. Tipos de Dor Dor Cutânea ou superficial Dor Profunda Dor visceral Dor referida Dor irradiada Dor Cutânea ou superficial (somática) Provocada por: Traumatismos, calor ou frio intensos, substâncias cáusticas e venenos. Intensidade: Depende muito do tipo e da intensidade do estímulo: é sentida no local exato do estímulo e a sensação tem qualidade própria para os diferentes estímulos. Dor Profunda (somática) Sentida nos músculos, tendões, articulações e fáscias. Dor Visceral Provocada por: Distensão, tração, inflamação, isquemia e contração espasmódica. Qualidade: Varia conforme a víscera: Coração Pleura Vísceras ocas Vísceras sólidas É percebida nas regiões que correspondem à sua origem embriológica Coração – retroesternal Intestino delgado – região umbilical Apêndice - epigástrio Dor Referida Profunda que se projeta à distância – metamérica. Convergência das vias aferentes cutâneas e profundas de um mesmo segmento. Não tem localização muito precisa e é contínua EX.: Angina ou IAM Dor Irradiada Provocada por: irritação direta de um nervo sensitivo ou misto. É sentida exatamente no território correspondente à raiz nervosa estimulada – superficial e profunda Ex: Dor ciática: percepção da dor em território que é inervado pela raiz nervosa estimulada. Características semiológicasda DOR Localização Irradiação Caráter ou qualidade Intensidade Duração Evolução Relação com as funções orgânicas Fatores desencadeantes ou agravantes Fatores que aliviam Manifestações concomitantes 1.Localização A melhor forma é pedir ao paciente que aponte com o dedo onde dói. Outros elementos podem ser retirados ao ver o paciente apontar: Ex: mão fechada retroesternal X ponta do dedo no precórdio. 2.Irradiação Aplica-se os mesmos princípios anteriores Ex.: cólica renal 3.Caráter ou Qualidade Queimação: úlcera péptica Em pontada ou Fincada: Dor pleurítica Dor pulsátil: Alguns Tipos de cefaléia Dor em cólica: intestinal, menstrual Dor surda ( contínua, mas imprecisa e que não tem grande intensidade): –dor lombar Dor constritiva/ aperto: IAM Dor contínua: Pancreatite aguda Dor do membro Fantasma: dor no membro amputado 4.Intensidade Graduar intensidade Zero = nenhuma dor 10 = pior dor já sentida 10 Avaliação da Intensidade da Dor Escala Linear Analógica Visual - indicada por uma linha reta, com extremidades significando de um lado, ausência de dor, do lado oposto, a maior intensidade de dor já sentida pela criança, a qual a localiza no contínuo da escala, o grau da intensidade de sua dor. 5.Duração Tempo decorrido entre o início da dor e o exame Contínua Cíclica ( periódica) 6.Classificação quanto à evolução DOR AGUDA - Aquela que se manifesta transitoriamente durante um período relativamente curto, de minutos a algumas semanas, associada a lesões em tecidos ou órgãos, ocasionadas por inflamação, infecção, traumatismo ou outras causas. Normalmente desaparece quando a causa é corretamente diagnosticada e tratada DOR CRÔNICA - Tem duração prolongada, que pode se estender de vários meses a vários anos e que está quase sempre associada a um processo de doença crônica. A dor crônica pode também ser conseqüência de uma lesão já previamente tratada. Exemplos: Dor ocasionada pela artrite reumatóide (inflamação das articulações), dor do paciente com câncer, dor relacionada a esforços repetitivos durante o trabalho, dor nas costas e outras. DOR RECORRENTE - Apresenta períodos de curta duração que, no entanto, se repetem com freqüência, podendo ocorrer durante toda a vida do indivíduo, mesmo sem estar associada a um processo específico. Um exemplo clássico deste tipo de dor é a enxaqueca. 7.Relação com as Funções Orgânicas Leva em conta a localização da dor e os órgãos situados na área. Ex: Tórax Retroesternal Cervical Epigástrica Lombar Baixo ventre Pernas 8.Fatores Desencadeantes ou Agravantes Execução de esforço Alimentação Compressão do local 9.Fatores que Aliviam Também pode estar relacionados com as funções orgânicas Posições antálgicas Indução de vômito Resposta a analgésicos já utilizados 10.Manifestações Concomitantes A própria dor, quando muito intensa pode provocar outros sintomas. Cólicas: náuseas, vômitos, sudorese, palidez e mal-estar. É frequente que a dor se acompanhe de manifestações relacionadas diretamente com sua causa. Ex.: na cólica nefrética, náuseas e vômitos estão frequentemente associados aos episódios mais intensos, independentemente do ponto de obstrução, em consequência aos reflexos viscero-viscerais renointestinais. Num grande número de pacientes também podem ser observados sintomas de descarga adrenérgica como palidez cutânea, sudorese e taquicardia. Termos relacionados à dor Analgesia – ausência de dor à estimulação nociva Anestesia dolorosa – dor em uma área anestesiada Causalgia – dor queimante que persiste após lesão nervorsa traumática Disestesia- sensação anormal desagradável Hiperalgesia- sensibilidade aumentada à estimulação nociva, limiar da dor reduzido. Hiperestesia – sensibilidade aumentada à estimulação , excluindo os sentidos especiais, mas incluindo sensibilidade cutânea Hiperpatia – reação dolorosa excessiva e retardada após um estímulo repetitivo Hipoalgesia – sensibilidade diminuída à estimulação nociva Hipoestesia - sensibilidade diminuída à estimulação nociva , excluindo as sensações especiais Neuralgia – dor na distribuição de um ou mais nervos
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