Prévia do material em texto
Gestão financeira estratégica Carolina Casella Galli IESDE BRASIL 2020 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: metallic icon series/elements.envato.com CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ G16g Galli, Carolina Casella Gestão nanceira estratégica / Carolina Casella Galli. - 1. ed. - Curiti- ba [PR] : IESDE, 2020. 84 p. : il. Inclui bibliograa ISBN 978-85-387-6660-5 1. Administração nanceira. 2. Gestão estratégica. I. Título. 20-64911 CDD: 658.15 CDU: 658.15 Carolina Casella Galli Doutoranda em Administração pela Pontiícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Mestra em Administração pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em Gestão Empresarial pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Economista também pela UEM. Experiência em tutoria e docência para graduação a distância. Proessora conteudista e consultora em gestão nanceira, de negócios, de pessoas e estratégica. SUMÁRIO 1 Fundamentos da gestão financeira estratégica 9 1.1 Alocação de recursos e organização financeira 9 1.2 Funções da administração financeira estratégica 12 1.3 Objetivos e atividades das empresas 14 2 Gestão de caixa e capital de giro 19 2.1 Ciclo e controle de caixa 19 2.2 Características do capital de giro 28 2.3 Análise de crédito e despesas 30 3 Orçamento, preço e custo 35 3.1 Classificação de custos e despesas 36 3.2 Formação de preço 42 3.3 Controle orçamentário e planejamento 45 4 Decisões, análise de investimentos e riscos 52 4.1 Avaliação de investimentos 52 4.2 Gestão de riscos e incertezas 60 4.3 Criação de valor 64 5 Estratégias corporativas e planejamento 68 5.1 Finanças corporativas 68 5.2 Análise financeira e de tendências 72 5.3 Avaliação e planejamento estratégico 76 Gabarito 81 Este livro apresenta um recorte do universo da gestão nanceira estratégica, mostrando – por meio de alguns principais conceitos, elementos, erramentas, estratégias e índices – a possibilidade de conhecer e melhor gerir um empreendimento. Com oco na gestão nanceira das empresas, esta obra busca elucidar os aspectos mais importantes que envolvem as atividades nanceiras empresariais, dando prioridade para o entendimento da gestão interna,mas aomesmo tempo considerando o contexto externo das empresas. No primeiro capítulo, conhecemos os undamentos da gestão nanceira estratégica e os conceitos e termos essenciais para as nanças empresariais. Abordando a unção básica da economia – a alocação de recursos escassos –, discutimos as principais unções da gestão nanceira em relação ao cotidiano das empresas e às suas atividades, demostrando como é possível organizar as nanças quando temos o entendimento claro de quais são os objetivos que as empresas almejam alcançar. No segundo capítulo, tratamos das operações essenciais para a realização das atividades diárias da empresa, que dizem respeito à orma como esta aloca recursos e os organiza em curto prazo, bem como a questão da previsão de recursos, por meio de explicações e exemplos sobre o Fluxo de Caixa. Apresentamos, ainda, o capital de giro e sua relevância como indicador de saúde nanceira em curto prazo. Nesse mesmo capítulo, abordamos também a classicação das atividades empresariais e os conceitos de despesa, custo, gasto, incentivo e crédito. No terceiro capítulo, discutimos a importância de conhecer e elaborar o orçamento e da realização do planejamento orçamentário como erramenta estratégica de gestão nanceira. Apresentamos exemplicações de tipos de orçamentos, acompanhadas de refexões que analisam seus dados, o que congura ao orçamento um caráter de erramenta estratégica. Para tanto, conceituamos os indicadores nanceiros e econômicos da empresa, mostrando como são calculados e quais são as possíveis análises do gestor nanceiro. Sem ignorar os atores externos, incluímos alguns aspectos que devem ser considerados na elaboração de um planejamento orçamentário empresarial, como as taxas de juros e tributos. Diante da importância de aprimorar o conhecimento sobre a tomada de decisão, no quarto capítulo, tratamos da análise de investimentos. APRESENTAÇÃO Assim, discutimos a criação de valor como oco estratégico da gestão nanceira das empresas e apresentamos dierentes ormas de avaliação dos investimentos no que se reere à viabilidade, lucratividade e exposição aos riscos, com o intuito de trazer ao entendimento da administração estratégica a relevância da análise de investimentos. Noquintocapítulo,abordamosasestratégiascorporativaseoplanejamento. O entendimento do conteúdo apresentado abarca a ideia de que as empresas estão inseridas em um contexto de mudanças e expansões, no qual os agentes econômicos precisam estar cada vez mais cientes e preparados para lidar com o conhecimento teórico-prático que envolve o mundo das empresas e, especialmente, em como colocá-lo em ação. Dessa orma, apresentamos importantes indicadores, internos e externos à empresa, para a tomada de decisão estratégica. Por meio do estudo das nanças corporativas, dos indicadores nanceiros e dos dierentes tipos de análise, mostramos algumas maneiras utilizadas pelas empresas para se organizar estrategicamente, visando ao crescimento e desenvolvimento de seus negócios e pretendendo sempre o alinhamento entre as demandas, que se originam internamente, e as necessidades apresentadas pelo ambiente externo. Com base em uma abordagem conceitual e explicativa, nesta obra buscamos construir conhecimento a respeito de alguns dos principais aspectos que caracterizam a gestão nanceira estratégica das empresas. Bons estudos! Fundamentos da gestão financeira estratégica 9 1 Fundamentos da gestão financeira estratégica Quando alamos em gestão nanceira, tal ideia nos remete a uma innidade de imagens: um porquinho cheio de moedas para uma criança, uma conta bancária “recheada” para alguns, a aqui- sição de um carro novo, a mudança para aquela casa e/ou apar- tamento dos sonhos, a realização de uma viagem bacana, entre outras situações. Isso acontece porque gerir as nanças de ma- neira estratégica nos remete a uma sensação de bem-estar, de sucesso nanceiro. Neste capítulo, conheceremos quais são os undamentos da ges- tão nanceira estratégica, ou seja, os principais conceitos, denições e termos utilizados no universo das nanças, lembrando que, neste conteúdo, o oco está sobre as nanças empresariais. Falaremos so- bre como ela é eita, a importância da alocação de recursos e como organizamos inicialmente as nanças; apresentaremos as unções da administração nanceira estratégica, isto é, como se dá no dia a dia das empresas e, por m, exploraremos quais são os objetivos e as atividades mais comuns praticadas nas empresas para o desen- volvimento de uma gestão nanceira estratégica. 1.1 Alocação de recursos e organização financeira Vídeo Alocar recursos significa organizá-los de forma eficiente. É uma prática que envolve muito mais do que “juntar” dinheiro, investi- mentos e bens. Significa organizar de forma produtiva esses re- cursos e destiná-los a um determinado fim, ou seja, para alguma atividade específica. 10 Gestão financeira estratégica A alocação de recursos nas empresas envolve orientar os recur- sos nanceiros para alcançar lucros. Quando alamos em recursos, estamos nos referindo aos ativos que estão relacionados à produ- ção e ao comércio de bens e serviços nas empresas. O objetivo da organização nanceira empresarial, que ocorre a partir da alocação eciente de recursos, é, para a empresa privada, um retorno nan- ceiro compatível com o riscopara a empresa. Outro tipo de custo importante para o entendimento da gestão nanceira é o chamado custo de transação. O custo de transação está relacionado ao lucro líquido gerado pela empresa, por isso é importante conhecê-lo para que se saiba qual é a lucratividade do empreendimento. O quanto a empresa gasta com a manutenção de suas atividades, bem como o quanto gasta na realização de suas transações, como as de captação de recursos, por exemplo, são con- siderados custos de transação. Alguns fatores são levados em consideração para a análise do custo de transação. Nomomento da escolha, o tomador de decisão deve ten- tar maximizar suas inormações, isto é, obter omáximo de inormações possíveis a respeito do contexto que envolve determinada escolha, isso porque a chamada Teoria dos Custos de Transação tem o pressuposto de que a racionalidade dos indivíduos é limitada e, por isso, temos sem- pre que buscar o máximo de conhecimento possível a respeito do que se quer entender (REIS, 2019b). Outro fator a ser considerado no cálculo do custo de transação é o quanto uma oportunidade pode ser especíca. Isso se reere ao ato de que, quanto mais especíco or um produto, um serviço, um ativo, uma situação, maior será o custo de transação. O terceiro fator que impacta na percepção do custo de transação pelo gestor é o oportunis- mo, ou seja, deve-se levar em consideração que os agentes econômicos têm interesses dierentes e, muitas vezes, podem buscar agir conorme esses interesses, causando incerteza e instabilidade na realização de contratos. Por isso, existe a necessidade de uma gestão constante e ecaz da administração dos custos e das práticas de gestão nanceira da empresa (REIS, 2019b). 40 Gestão financeira estratégica Além desses custos, uma diferenciação fundamental para a admi- nistração nanceira e contábil da empresa é a existente entre os custos direto e indireto. O custo direto é todo aquele ligado ao produto e/ou serviço que a empresa desenvolve ou que ela não produz, mas que az parte da sua atividade uncional. Para obter, então, o preço base da venda de um produto e/ou serviço que será acrescido (mais tarde) pelos custos indiretos da produção, basta somar os custos diretos da empresa e dividi-los pela quantidade total produzida, assim: Preço base de venda (sem adição dos custos indiretos) = Custo direto total / Quantidade produzida total O custo indireto, por sua vez, é aquele composto pelos gastos com manutenção das atividades de mercado da empresa que não são di- retamente relacionados à produção, como transporte para entrega de determinado produto, se for o caso, despesas administrativas, energia, tempo de trabalho, tempo de pesquisa, entre outros exemplos, porque não estão diretamente vinculados às atividades m da empresa e, por isso, variam de empreendimento para empreendimento. A importân- cia de conhecer os custos indiretos reside no fato de que eles precisam ser rateados para que o gestor os inclua na elaboração do preço do produto e/ou serviço que será comercializado. Sobre as despesas, que são os dispêndios não relativos diretamente à produção da empresa, elas podem ser classicadas de dierentes or- mas, assim como vimos os diferentes tipos de custos existentes. Desse modo, podemos identicar alguns tipos de despesas: fxas, pré-opera- cionais, operacionais, não-operacionais, tributárias, administrativas, fnan- ceiras e despesas de capital. As despesas xas são aquelas não vinculadas ao custo do produto, ou seja, independe do custo de um produto e/ou serviço produzido ou vendido. Despesas xas são, por exemplo, energia elétrica, teleo- ne, internet. As despesas pré-operacionais, por sua vez, são as asso- ciadas à abertura ou expansão de um empreendimento. Neste caso, esse tipo de despesa pode vir da produção, pois envolve todos os as- pectos reerentes ao início de um empreendimento, isto é, à abertura de um negócio. Podemos elencar alguns exemplos de despesas pré- -operacionais, como licenças de funcionamento, instalação – local e de equipamentos –, capacitação de funcionários, entre outras. Orçamento, preço e custo 41 Outros tipos de despesas são as operacionais, aquelas associadas ao funcionamento e àmanutenção das operações, como amanutenção de uma máquina, por exemplo. No entanto, as despesas operacionais podem estar muitas vezes relacionadas a terceiros, como despesas com viagens, seguridade, despesas de escritório, folha de pagamen- to, publicidade, entre outras. O cálculo e a administração das despe- sas operacionais estão associados ao acompanhamento das nanças por meio da utilização do fuxo de caixa, do orçamento – tanto pessoal quanto empresarial –, do Balanço Patrimonial e também do Demons- trativo do Resultado de Exercício (DRE). As despesas não operacionais, no entanto, são aquelas que com- põem o DRE e são, requentemente, segmentadas em quatro tipos: as administrativas, comerciais, não operacionais e operacionais. O objetivo de conhecer as despesas não operacionais é analisar o desempenho da empresa no tocante à obtenção de lucro ou prejuízo. Exemplos de des- pesas não operacionais são: indenização de seguros, implementação de um negócio, os juros implicados em um empréstimo, entre outras. Outras despesas são as chamadas tributárias, aquelas destina- das ao pagamento dos impostos, multas, e/ou qualquer penalidade que a empresa venha a sorer. Pelo ato de as despesas tributárias variarem bastante conorme o tipo de empreendimento, alguns a- tores intererem na sua composição, como, por exemplo: o regime tributário adotado pela empresa, o tipo de produto que ela oere- ce, a sua localização geográica e onde o produto e/ou serviço é comercializado. A gestão das despesas tributárias deve ser eita por meio do orça- mento, ou seja, precisam estar no orçamento adotado pela empresa, com o chamado planejamento tributário, porque, assim, o gestor conse- gue administrar quais serão essas despesas em determinado período. Quando falamos nas despesas administrativas, nos referimos às despesas que incidem sobre o uncionamento do negócio de orma indireta e não atreladas à produção. Nesse sentido, é importante ressaltar que as despesas administrativas muitas vezes são tam- bém custos ixos e, quanto menores orem essas despesas e custos ixos, menor é o custo total da empresa e mais liberdade ela terá em escolher o quanto produzir. 42 Gestão financeira estratégica Outra classicação para as despesas é chamá-las de fnanceiras. As despesas nanceiras são aquelas registradas no DRE. De acordo com Reis (2018b), as despesas nanceiras: “representam o preço a ser pago por um empreendimento aos seus credores e são relativas aos juros provenientes de empréstimos contraídos pelo negócio, independente- mente de qual seja, de ato, o intuito dessa dívida”. Além dos tipos de despesas estudados até aqui, outra classicação é a chamada despesa de capital, que são investimentos utilizados pelas empresas quando buscam expandir seus negócios. Exemplos de des- pesas de capital, também chamadas de investimento de capital, podem ser: a construção de um novo espaço de atuação, a aquisição de bens de longa duração, como carros e alguma máquina/equipamento, entre outras. No fuxo de caixa, é no segmento de investimentos que as des- pesas de capital são contabilizadas. Como vimos, há uma extensa classicação para custos e despesas e, por isso, é importante saber identicá-los na estrutura de atividades da empresa para que seja possível a realização e acompanhamento de uma gestão nanceira eciente. 3.2 Formação de preço Vídeo A formação do preço de venda, tanto para produtos quanto ser- viços, é uma unção especialmente importante do gestor nanceiro, porque é preciso que o preço seja condizente com as necessidades internas da empresa e com o que é praticado pelo mercado. Nesse sentido, a empresa deve praticar um preço, ou seja, vender um produ- to/serviço a um preço que não incorra em prejuízos para si, que não produza retornos negativos. Dessa maneira, a ormaçãodo preço pode ser baseada no custo, na receita líquida, no valor do dinheiro no tempo, entre outras formas, sempre com uma análise recorrente das necessidades do empreendi- mento e do que tem acontecido no mercado em que a empresa está inserida e/ou opera (HOJI, 2012). O cálculo de um preço de venda líquido (PVL) e o cálculo do preço de venda bruto (PVB) com base nos custos da empresa, por exemplo, devem ser feitos a partir do conhecimento de qual é a receita líquida e Para complementar nosso estudo sobre os custos, tanto relativos a atores con- tábeis quanto fnanceiros, o livro Contabilidade de Custos, de Osni Moura Ribeiro, é uma leitura produtiva. Com uma construção didática, o autor esboça os construtos contábeis sobre os custos dos níveis mais áceis até as concepções mais com- plexas, azendo com que o entendimento seja passado de orma clara e muito explicativa. RIBEIRO, O. M. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. iro Orçamento, preço e custo 43 qual é a receita bruta empresarial a partir da identicação dos custos e despesas xos e variáveis. Dessa orma, partimos das equações: Receita líquida = custos (xos e variáveis) + despesas (xas e variáveis) + lucro e Receita bruta = custos (xos e variáveis) + despesas (xas e variáveis) + lucro + tributos Assim, para os cálculos do PVL e PVB, precisamos inicialmente cal- cular as receitas líquidas e brutas para depois, dividindo esses valores, separadamente, pela quantidade produzida e pela que a empresa es- tima vender, chegarmos aos preços de venda. Logo, o PVL unitário = receita líquida / quantidade produzida, e o PVB = receita bruta total / quantidade produzida. No caso do cálculo do preço de venda com base na receita lí- quida da empresa, podemos calcular o PVL a partir do percentual de lucro sobre a receita líquida ou deduzindo o percentual de lucro do percentual da margem de contribuição. Neste caso, para calcular a receita líquida, com base em uma margem de contribuição esta- belecida pela empresa, e, a partir do lucro que o gestor nanceiro pretende ter, temos a equação: Receita líquida = Soma dos custos e despesas xos / % margem de contribuição - % de lucro A partir da receita líquida obtida, calculamos o PVL da mesma ma- neira: dividindo a receita líquida pela quantidade produzida. Já a margem de contribuição é calculada subtraindo-se os custos e despesas variáveis da receita de vendas, ou seja: MC = receita das vendas – custos e despesas variáveis A margem de contribuição é importante porque é a dierença entre a receita de uma venda e os seus custos diretos e indiretos, ou seja, o valor da margem de contribuição é o quanto sobra do valor da venda do produto/serviço após o pagamento de todos os custos e despesas. Ela mostra então o quanto uma empresa consegue gerar de capital Para encontrar o valor percen- tual, aquele que aparece na equação do cálculo do PVL com base na receita líquida, utiliza- mos a equação: MC % = (MC / receita de vendas) * 100%. aia ai 44 Gestão financeira estratégica para continuar funcionando e o quanto gera de lucro em determinado período (REIS, 2018c). Para o cálculo do preço de venda em um mercado competitivo, por exemplo, muito requentemente estabelecido no ambiente orga- nizacional moderno, o gestor pode se basear no conceito do valor de dinheiro no tempo. Isso quer dizer que o gestor considerará a perda de valor do dinheiro no tempo, devido à ocorrência de amortizações e depreciações. Então a equação para o cálculo do preço de venda passa pela equação que calcula a receita bruta da seguinte orma: Receita bruta = custos + despesas + lucro + tributos + custos nanceiros - depreciações Conorme a complexidade dos cálculos das receitas bruta e líquida e dos preços de venda líquido e bruto aumentam – devido à incidência de custos e tributos recorrentes –, o gestor nanceiro está livre para buscar os melhores recursos possíveis para acilitar sua tarea, como, por exemplo, a utilização de uma planilha do Excel, a partir do modelo que o empreendimento venha a necessitar (HOJI, 2012). No tocante ao mercado, ou seja, pensando no cenário externo à empresa, podemos pensar na formação do preço de venda de algumas ormas, com base em elementos distintos que englobam a realidade do empreendimento. No contexto da globalização em que todos nós nos encontramos, as empresas precisam cada vez mais dar conta de quali- dade e bons preços aos consumidores, na manutenção de sua compe- titividade. A ideia básica de precicação para a venda é lucro = receita - custos - despesas - encargos nanceiros. Por isso, a busca incessante das empresas em diminuir dispêndios e maximizar receitas. Quando pensamos então no mercado como aquele que pode denir o preço de venda, uma orma de precicar é pormeio do preço corrente, em que concorrentes de um mesmo produto tendem a praticar preços semelhantes, e não há uma empresa que lidere essa precicação. Uma outra forma é praticar o chamado preço do concorrente, normalmente empresas adotam para determinado produto ou serviço um preço pra- ticado pela empresa líder do setor, por exemplo. Preços agressivos são aqueles que as empresas adotam quando determinam uma estratégia mais arriscada, praticando preços muito abaixo do que normalmente se tem nomercado com a nalidade de aumentar sua participação nomer- cado. Essa prática de redução brusca dos preços é chamada de dumping Orçamento, preço e custo 45 em termos econômicos. Podemos também ter a prática do chamado preço promocional, ou seja, as empresas fazem promoções, reduzindo o preço dos produtos ou serviços, a m de que mais clientes se atentem e busquem também novos produtos e serviços (HOJI, 2012). Como vimos, a formação do preço de venda é uma função que deve considerar, para cada tipo de empreendimento, as condições e neces- sidades internas da empresa pensando nos undamentos básicos, que são os dispêndios – custos e despesas xos e variáveis –, as receitas bruta e líquida e demais aspectos como o percentual de lucro que o gestor estabelece e pretende obter, assim como a margem de contri- buição que o negócio tem e, de modo geral, os elementos e aspectos que envolvem a rotina nanceira da empresa. Essa rotina, como vimos, também abrange o cenário externo à empresa, as condições econô- micas e nanceiras, taxas de câmbio e juros, tributação, entre outros indicadores ou contingências em determinados períodos de tempo. 3.3 Controle orçamentário e planejamento Vídeo O orçamento é um tipo de planejamento nanceiro amplamente utilizado na realidade das empresas. Como parte do registro das des- pesas e receitas, a ideia é que ele seja estabelecido para determinado período com o propósito de que a empresa tenha um plano de gestão e consiga executá-lo. Um entendimento sobre o orçamento é que tanto sua periodicidade e quanto a orma como é elaborado dependem do tipo de empreen- dimento que a empresa desenvolve. Isso ocorre porque, quanto mais fuidas orem as atividades da empresa, modicando-se rapidamente no dia a dia, movimentando diferentes tipos de atividades e recursos, como acontece nas empresas de tecnologia, por exemplo, mais fre- quente deve ser a elaboração do orçamento, ou seja, mais contínuo deve ser seu acompanhamento. Para a elaboração de um orçamento, o gestor precisa ter conhe- cimento de alguns indicadores nanceiros da empresa, undamentais na realização de um planejamento eciente para determinado período. Esses indicadores são, por exemplo, entradas e saídas de capital, fon- tes de renda da empresa, custos e despesas xos e variáveis, e vendas de produtos e/ou serviços. 46 Gestão financeira estratégica O planejamento orçamentário se dá em consonância com a es- tratégia estabelecida pela empresa, isto é, de acordo com os obje- tivos e demais aspectos que a empresa busca melhor desenvolver. Nesse sentido, a previsão orçamentária ocorre a partir de relatórios e demais documentos advindos de diferentes funcionários e por parte dos gestores no que diz respeito a tudo que precisaser planejado e mensurado. Com isso, as informações desses relatórios devem ser utilizadas por meio da análise das receitas e despesas e demais indi- cadores, especialmente sobre o que se deseja melhorar para que a empresa tenha um bom desempenho. Ele também pode ser ajustado a partir do planejamento inicialmen- te realizado. Isso porque, conforme as atividades da empresa se de- senvolvem, é necessário ajustar as nanças de acordo com um novo plano de negócios, principalmente quando há alterações signicativas com relação às receitas e despesas. Dessa maneira, podemos pensar nos orçamentos como de várias ormas, mais fexível, mais estático, que envolvem mais indicadores, menos indicadores, dependendo da necessidade que cada gestor identica na empresa (REIS, 2019c). Um tipo de orçamento fexível é aquele utilizado pelo gestor como um auxílio na elaboração dos cálculos de quantidades e valores espe- rados para determinado período, por exemplo. Pode estar mais rela- cionado ao controle dos custos e das despesas. O orçamento contínuo, nesse sentido, é aquele que abrange um período de doze meses e que pode ser revisado periodicamente de acordo com a percepção do ges- tor, na correção de erros e revisão de previsões. Há orçamentos elaborados com base nas despesas xas, no in- tuito de controlar o fuxo dessas despesas. Enquanto outros são mais focados nos gastos, com relação ao que pode ser sempre evi- tado e revisado, questionando de fato os dispêndios implicados nas atividades empresariais. O planejamento orçamentário, desse modo, é uma ferramenta que auxilia o gestor na organização das atividades e nanças empresariais para que seja possível conhecer quanto de dinheiro a empresa tem, quanto precisará despender para que consiga desenvolver suas ati- vidades e quanto deverá aturar para atingir seus objetivos. Por isso, Orçamento, preço e custo 47 para um orçamento ser eciente, é preciso que a empresa tenha cla- reza sobre quais são seus objetivos para o uturo e em quanto tempo pretende alcançá-los (REIS, 2019c). Sendo assim, o relatório orçamentário deve ser detalhado, sempre revisado e discutido, e composto pelos demonstrativos nanceiros da empresa, isto é, pelas inormações sobre fuxo de caixa, custos, inves- timentos e receitas. Tudo que envolve dispêndios e recebimentos de recursos deve ser registrado, bem como tudo que envolve todos os tipos de despesas, xas, variáveis, além de um esorço contínuo na bus- ca por otimizar as operações, isto é, cortar gastos. Mais do que isso, o orçamento deve conter as projeções que o gestor nanceiro az, com relação a atividades futuras, compras de terrenos, aquisição de máqui- nas, consertos, entre outros, por exemplo. Outro tipo de orçamento é o chamado de capital, ferramenta utiliza- da para que os gestores façam as previsões dos investimentos e cená- rios futuros para a empresa. No orçamento de capital, os investimentos são analisados conorme a previsibilidade de sua rentabilidade, ou seja, é um orçamento bastante estratégico, porque requentemente implica altos valores. Segundo Reis (2019d), aspectos como o fuxo de caixa, se a empresa é ou será competitiva nomercado, custos possivelmente im- plicados no crescimento da empresa, os riscos envolvidos no empreen- dimento, são todos presentes na elaboração do orçamento de capital. A elaboração do orçamento de capital envolve, então, cálculos do chamado valor presente líquido (VPL), uma das principais ferramen- tas da gestão de investimentos, taxa interna de retorno (TIR), fuxo de caixa descontado (FCD), e, até mesmo, a análise do período ne- cessário para a recuperação do investimento realizado. Ainda assim, outros aspectos são undamentais para a elaboração de um orça- mento de capital, como a localização geográca da empresa – devido a impostos e demais tributações que possam incorrer e são dieren- tes entre regiões –, análises que envolvem custos, mercados, supri- mentos, preços, nanciamentos, ou seja, relacionadas a indicadores dos mais variados segmentos da empresa. Além de ser necessário também considerar aspectos externos, como os cenários político e econômico, as taxas de câmbio, as taxas de juros, a infação, o au- mento salarial, por exemplo (REIS, 2019d). 48 Gestão financeira estratégica Como ferramenta de planejamento e instrumento de controle, por acompanhar as atividades empresariais e os recursos alocados em cada uma delas, o orçamento gera informações para a tomada de decisão relacionada à natureza dessas atividades, ou seja, de modo completo, um orçamento é a junção dos orçamentos referentes, por exemplo, a vendas, produção, custos, investimentos, entre outros, de acordo com cada tipo de atividade que compõe a empresa. Vamos entender um poucomais sobre o que é o orçamento de cada atividade para que, depois, seja possível visualizar como pode ser um modelo orçamentário empresarial. Um orçamento reerente a vendas, por exemplo, é aquele que registra a quantidade e o valor dos produtos a vender, juntamente com os impostos incorporados nessas vendas, a partir das projeções que o gestor de vendas, marketing, ou qualquer setor responsável por essas projeções faz. O orçamento relativo à produção, por exemplo, deve registrar a projeção dos produtos que serão produzidos em função das vendas planejadas, considerando estoques e outros aspectos que podem estar associados à produção. Outro orçamento é o de matérias-primas, esse é o que deve planejar a quantidade de materiais a comprar, a consu- mir, no que concerne aos impostos, às necessidades, sempre envolven- do os elementos que compõem a realidade de cada empreendimento. Esses exemplos mostram, então, como o orçamento é uma fer- ramenta de planejamento empresarial que deve ser feita de modo minucioso e, reforçando, adequado para a realidade de cada empreen- dimento, de acordo com a percepção que o gestor tem dos objetivos da empresa. A Figura 1 é um exemplo do montante de informações que podem compor a elaboração orçamentária de uma empresa. Orçamento, preço e custo 49 Figura 1 Estrutura de informações do planejamento orçamentário ORÇAMENTO DE MARKETING 1 ORÇAMENTO DE VENDAS 2 ORÇAMENTO DE PRODUÇÃO 3 ORÇAMENTO DE MATÉRIAS- -PRIMAS 4 ORÇAMENTO DE MÃO DE OBRA DIRETA 6 ORÇAMENTO DE CUSTO DE PRODUÇÃO DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO BALANÇO PATRIMONIAL DE 3, 6, 8, 9, 10 PARA 5, 7 ORÇAMENTO DE CAIXA 9 ORÇAMENTO DE APLICAÇÃO FINANCEIRA E EMPRÉSTIMOS 10 ANÁLISE DAS MOVIMENTAÇÕES FINANCEIRAS 5 ORÇAMENTO DE CUSTOS INDIRETOS DE FABRICAÇÃO 8 ORÇAMENTO DE INVESTIMENTOS 7 ORÇAMENTO DE DESPESAS DE VENDAS ORÇAMENTO DE PROCESSO DE PRODUÇÃO 7 ORÇAMENTO DE DESPESAS GERAIS E ADMINISTRATIVAS Fonte: Adaptada de Hoji, 2012, p. 410. Feitas essas considerações a respeito do que é um orçamento, seus elementos e aspectos, com relação às informações e aos dados que podem compô-lo, em conformidade com o que o gestor pensa ser ne- cessário registrar e planejar para o empreendimento, podemos discutir algumas vantagens e limitações da escolha de elaborar um orçamento. 50 Gestão financeira estratégica Nesse sentido, as limitações do planejamento orçamentário podem ser: mudança dos indicado- res econômicos; mudança das variáveis nanceiras e econômicas que aetam os valores projetados; diculdade em ajustar as projeções; o não acom- panhamento eciente das variações, o que pode atrasar a realização dos ajustes pontuais; o custo de implementar e acompanhar o sistema orçamen- tário, relativo à manutenção do sistema, pessoal qualicado para isso, entre outras (HOJI, 2012). No entanto, as vantagens são que o controle gerencial se torna mais robusto e objetivo; mais e- ciência na utilização dos recursos; a tomada de deci- são se torna mais diversicada no que diz respeito à elaboração do orçamento de cada área/setor e suas O livro Orçamento Empresarial Passo a Passo, de Masakazu Hoji, explora de modo didático como elaborar um orçamento empresarial, no que diz respeito à antecipação das transações, acompanhamento e erramentade análise para a tomada de decisão. Trata-se, portanto, de uma boa opção de leitura. HOJI, M. São Paulo: Saraiva, 2017. iro atividades; manutenção dos hábitos de planejamento e controle a partir da continuidade das projeções. Além da elaboração, de acordo com Hoji (2012), o acompanhamento do orçamento pode se dar, muitas vezes, por meio de softwares, sendo estes de diferentes tipos, o que facilita ao gestor optar pelo que melhor atenda às suas necessidades. CONSIDERAÇÕES FINAIS Orçamento, preço e custo são aspectos essenciais para a gestão f- nanceira empresarial. Quando bem ormulados e geridos pelos gestores fnanceiros, transormam-se em erramentas que guiam a tomada de de- cisão no tocante a quanto a empresa tem, teve e precisará ter, em termos de recursos ísicos e fnanceiros, para que consiga realizar efcientemente suas unções. Nesse sentido, é parte undamental da gestão fnanceira estratégica elaborar e analisar continuamente dierentes maneiras de pensar, de acordo com as necessidades de cada empreendimento; a melhor escolha do relatório orçamentário, com o objetivo de criar e manter um planeja- mento orçamentário que dê base aos gestores fnanceiros com relação às estratégias a serem tomadas, tanto no saber administrar os indicadores internos quanto no saber lidar com os indicadores externos à empresa. Orçamento, preço e custo 51 ATIVIDADES 1. Sobre a equação a seguir, explique quais elementos constituem as relações estabelecidas e qual a fnalidade da realização desse cálculo: MC = receita das vendas – custos e despesas variáveis. 2. Discorra a respeito do custo de transação, o que é e qual é a sua importância para a gestão fnanceira estratégica. 3. O que é um orçamento? Por que dizemos que o planejamento orçamentário é estratégico para a empresa? REFERÊNCIAS HOJI, M. Administração fnanceira: uma abordagem prática. São Paulo: Atlas, 2012. REIS, T. Custo de produção: a contabilidade undamental de uma empresa. Suno Research, 2018a. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/custo-producao/. Acesso em: 15 jun. 2020. REIS, T. As despesas nanceiras e sua importância dentro de uma análise contábil. Suno Research, 2018b. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/despesas- nanceiras/. Acesso em: 15 jun. 2020. REIS, T. Margem de contribuição: o indicador nanceiro das vendas de uma empresa. Suno Research, 2018c. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/margem-de- contribuicao/. Acesso em: 15 jun. 2020. REIS, T. CMV: o que é e como unciona o Custo de Mercadoria Vendida? Suno Research, 2019a. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/cmv/. Acesso em: 15 jun. 2020. REIS, T. Custos de transação: entenda como eles aetam a lucratividade. Suno Research, 2019b. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/custos-de-transacao/. Acesso em: 15 jun. 2020. REIS, T. Orçamento ajustado: como unciona essa orma de controle. Suno Research, 2019c. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/orcamento-ajustado/. Acesso em: 15 jun. 2020. REIS, T. Orçamento de capital: saiba o que ele representa para uma empresa. Suno Research, 2019d Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/orcamento-de- capital/. Acesso em: 15 jun. 2020. 52 Gestão financeira estratégica 4 Decisões, análise de investimentos e riscos O estudo para a tomada de decisão, bem como todos os as- pectos que envolvem a gestão nanceira empresarial, ganha uma nova dinâmica quando engloba a análise de investimentos. Investir é uma forma fundamental para que a empresa impulsione suas atividades e gere, de maneira consistente, cada vez mais lucrativi- dade. Assim, a análise de investimentos ganha orça quando estu- dada com o processo de criação de valor para a empresa, no qual se leva em consideração a possibilidade do crescimento sucessivo do empreendimento. No entanto, para que haja expansão, há exposição ao risco. Nesse sentido, a gestão nanceira estratégica também deve recor- rer a uma variedade de conceitos e ferramentas para que o agente econômico esteja cada vez mais seguro, com acesso ao máximo de inormações possível, para a tomada de decisão estratégica. Por isso, neste capítulo, o intuito é estudarmos algumas ormas de avaliar investimentos, como mensurá-los e, também, os riscos frequentemente implicados na análise de investimentos e na ges- tão nanceira de orma geral, apresentando, desse modo, como as empresas valorizam suas atividades por meio da agregação de valor para além da precicação de produtos e serviços. 4.1 Avaliação de investimentos Vídeo Para as empresas, investir signica uma orma de direcionar recur- sos nanceiros para gerar mais receita, mais aturamento e melhorar constantemente o fuxo de caixa. Para investir de modo seguro e prós- pero, as empresas contam com uma série de erramentas matemáticas e computacionais que, a partir de cálculos e análises diversas, direcio- nam a tomada de decisão dos investidores. Decisões, análise de investimentos e riscos 53 Algumas taxas e números são calculados e interpretados pelos ges- tores nanceiros com o objetivo de que a empresa visualize o cenário possível para que possa azer as melhores escolhas sobre como, quan- to, quando e onde investir. Essas avaliações, mesmo com o apoio de técnicas exatas – os cálculos e as previsões –, devem refetir o contexto atual do mercado e das organizações, que é de adaptação constante, de ação e reação, caracterizando as mudanças e o movimento do cená- rio nanceiro. Isso porque, como consequência da globalização, o am- biente nanceiro refete os cenários da sociedademoderna demaneira geral, o que envolve todos os âmbitos – política, saúde, educação, tec- nologia, indústria, comércio – dos aspectos nacionais e internacionais e os demais que compõem o mundo globalizado. Dessa orma, precisamos entender conceitualmente esses valores, mas também matematicamente, aprendendo a calcular, analisar e, com isso, avaliar os cenários econômicos com base em índices e taxas. São esses números que infuenciam e direcionam as decisões de in- vestimentos nas empresas. É importante lembrar que, dadas as condi- ções da sociedade moderna, globalizada e que muda constantemente, o gestor nanceiro decide sempre, considerando os aspectos internos da empresa – por meio de seus dados, cálculos, erramentas gerenciais – e aspectos externos – os elementos do cenário econômico. Um primeiro número que vamos conhecer é a chamada taxa de tur- nover, um índice de investimentos que indica a situação geral da em- presa quando mensura a rotatividade da carteira de investimentos, a requência de compra e venda de ativos. Com base nessa taxa, o gestor nanceiro consegue identicar a capacidade da empresa em gerar re- ceitas por meio de seus investimentos, comparado-as com os valores de suas dívidas e Patrimônio Líquido. A partir da análise dessa taxa, o gestor entende quantas vezes a empresa consegue retornar o capital nela investido. Isso quer dizer que quanto maior a taxa de turnover, mais a empresa consegue valorizar seus próprios ativos e transormá- -los em mais aturamento. Para calcular a taxa de turnover de investimentos, podemos utilizar a seguinte órmula: Turnover = receita líquida / (Patrimônio Líquido + dívidas) 54 Gestão financeira estratégica O valor obtido a partir dessa equaçãomostra que para cada x que sai do Patrimônio Líquido ou das dívidas da empresa, é gerado y em receita. Interpretando o valor da taxa de turnover dos investimentos pelo aspecto nanceiro, o valor alto de turnover indica que a empresa está eciente tanto no pagamento de suas contas quanto na orma como capta seus recursos. Pelo aspecto operacional, signica que a empresa consegue alocar ecientemente os recursos no seu processo produtivo, diminuindo desperdícios, por exemplo – mostrando que não necessita de um excesso de investimentos e que o empreendimento é sustentá- vel operacionalmente. Já na análise pelo aspecto comercial, o turnover elevado indica que a empresaestá sendo capaz de transormar seus produtos e/ou serviços em vendas e aturamento, aproveitando a pro- dução e ormando poucos estoques. O que podemos destacar, também, é que o turnover, como ou- tras taxas e índices de investimento, não aborda todos os aspectos que caracterizam a decisão de investir, o que, sem dúvida, é natural. Por isso, contamos com uma variedade de cálculos e erramentas que, analisada em conjunto, é essencial no direcionamento da to- mada de decisão eciente (HOJI, 2012). Tendo isso em vista, algumas limitações da taxa de turnover são: • não é um índice bom para comparar a eetividade de empresas de dierentes setores, porque cada empreendimento requer die- rentes necessidades; • é um cálculo elaborado em um determinado momento, então o valor dos investimentos pode mudar conorme a necessidade da empresa e o comportamento do mercado; • é uma taxa que não leva em consideração o lucro da empresa, pois somente a quantidade de vendas não signica que a empre- sa está sendo necessariamente lucrativa (REIS, 2018a). Um segundo indicador é o valor presente líquido (VPL), que inor- ma o quanto a empresa tem de fuxo de caixa no momento presen- te, considerando a totalidade de entradas e saídas dos recursos nanceiros. Segundo Assa Neto (2012), a base do cálculo do VPL é a dierença entre o valor presente do ciclo de caixa e o valor do investimento inicial – desembolso de caixa – , o que signica dizer que o VPL mostra como a empresa consegue criar valor por meio da realização de um determinado investimento. Decisões, análise de investimentos e riscos 55 O VPL, então, diz respeito ao valor do dinheiro no tempo, o que signica que o valor do dinheiro hoje não é o mesmo valor no utu- ro, e isso quer dizer que é preciso analisar como é possível valorizar esse dinheiro ao longo do tempo. O cálculo do VPL pode ser eito a partir da seguinte órmula: VPL = FCo+ ∑ (1 + TMA)i FCi (i=1) n O elemento FCo se reere ao investimento realizado pela em- presa na data de hoje, no presente. Esse investimento pode ser a compra de uma ação ou a realização de um projeto novo, por exemplo. Por representar sempre uma saída de caixa, o sinal desse elemento é sempre negativo. O elemento FCi se reere ao valor do investimento estimado pela empresa para o próximo período. O elemento TMA, por sua vez, reere-se à chamada taxa mínima de atratividade, que indica qual é o custo de levantar o capital inicial para a realização do investimento na data presente FCo. Quando esse custo não é identiicado, a TMA pode ser o valor dos juros im- plicados nessa operação de inanciamento inicial. A interpretação do VPL é positiva quando seu valor or positivo, ou seja, signiica que é viável a realização de determinado inves- timento. Em caso negativo, o cálculo mostra sua inviabilidade. O VPL sempre mostra ao gestor inanceiro qual investimento vale a pena realizar em detrimento de outro, isto é, apresenta o custo de oportunidade de se escolher uma alternativa em vez de outra (REIS, 2017e). Temos, ainda, um terceiro indicador muito utilizado por ser essen- cial na tomada de decisão dos investimentos: a taxa de retorno, sendo mais conhecida a denominada taxa interna de retorno (TIR). A TIR indica com um grau muito considerável de exatidão se um investimento será rentável no uturo. O cálculo da TIR se dá pela seguinte equação: ∑ (1 + TIR)t FCt t = 0 n = 0 Os elementos que constituem a órmula de obtenção matemática da TIR são: t como período de registro de ocorrência do ciclo de caixa (meses, trimestres, bimestres etc.); FCt, o fuxo de caixa de um determi- 56 Gestão financeira estratégica nado período t; n como número dos períodos analisados; e ∑, que é o somatório dos fuxos de todos os períodos. Para analisar a TIR, precisamos conhecer a TMA, isso porque é com base na comparação entre os valores da primeira com relação à segun- da que denimos se a TIR indica que o investimento é ou não atrativo. A taxa mínima de atratividade da empresa requentemente é o custo de capital, podendo a TMA ser, por exemplo, a taxa de juros para empres- tar ou tomar Capital de Terceiros. Com isso, sabe-se que, se a TIR or maior que a TMA, o investimento será atrativo; se a TIR or menor que a TMA, o investimento não será atrativo, porque signica que a rentabilidade de determinado investi- mento será menor do que a rentabilidade de qualquer investimento com um mínimo de retorno já denido; e se a TIR or igual à TMA, o investimento é neutro em relação à atratividade, pois signica que ren- deria o mesmo valor que uma taxa livre de risco. A interpretação da TIR, assim como os demais indicadores, apresen- ta vantagens e desvantagens. As vantagens da TIR são: acilidade de interpretação; considera a perda de valor do dinheiro no tempo, por isso traz fuxos uturos de capital para o presente; pode ser utilizada na comparação entre investimentos, porque se trata de um valor relativo, como o cálculo do VPL, por exemplo. As desvantagens da TIR são: • pode ser que não haja taxa interna de retorno ou que existam di- erentes taxas dependendo do tipo de empreendimento existente; • é um cálculo com certo grau de diculdade para ser realizado manualmente; • não serve para empreendimentos que tenham um ciclo de caixa dierente do convencional. A TIR é um dos indicadores nanceiros mais utilizados e, devido às suas características, muitas vezes é calculada e analisada por meio de planilhas eletrônicas e softwares estatísticos (REIS, 2018d). Outra taxa a ser considerada na avaliação dos investimentos é a taxa de desconto. Seu cálculo é utilizado para analisar o retorno dos investimentos, ou seja, é realizado sobre um valor uturo para se saber qual é o valor equivalente no presente. Assim, a taxa de desconto é cal- culada para identicar se o retorno de um determinado investimento será satisatório ao investidor – ou, melhor dizendo, àquele que dispo- Decisões, análise de investimentos e riscos 57 nibiliza o dinheiro. Para a empresa, esse valor pode ser o custo de um nanciamento de origem interna (empréstimos) ou externa, como no caso de dinheiro dos sócios da empresa (REIS, 2019c). Uma taxa de desconto conhecida é chamada de custo médio pon- derado do capital (Weighted Average Capital Cost – WACC), que analisa a atratividade de um investimento com base no cálculo do retorno es- perado de determinado investimento. O cálculo do WACC pode ser ex- presso da seguinte orma: WACC = E/V * Re + D/V * Rd * (1-Tc) Os elementos que compõem a órmula são: Re = custo de capital; Rd = custo da dívida; E = valor de mercado do patrimônio da empresa; D = valor de mercado da dívida da empresa; V = E + D = valor total de mercado do nanciamento da empresa (patrimônio e dívida); E/V = por- centagem de nanciamento que é patrimônio; D/V = porcentagem de nanciamento que é dívida; e Tc = taxa de imposto corporativo. Uma erramenta muito utilizada pelo mercado para avaliar os investimentos com relação à sua viabilidade e análise é o cálculo do payback simples e descontado. O payback é o nome dado ao tempo que se leva para recuperar o custo de um investimento, o prazo para que os rendimentos acumulados no tempo se igualem ao va- lor inicialmente investido. A importância de se calcular o payback reside na exatidão sobre quanto tempo o agente econômico levará para recuperar o valor inicial investido. Nesse sentido, a interpretação do valor calculado para o payback está diretamente relacionada ao tempo de recuperação do investimen- to inicial, pois quanto maior esse tempo, maior é o risco envolvido na realização do investimento, e quanto menor or esse tempo, menor será o risco e mais atrativo o investimento se tornará. A órmula para encontrar o valor do payback é: Payback = investimento inicial / ganhos no período Assim, as vantagens de calcular o payback de um investimento são: • trata-se de uma erramenta simples e prática; 58 Gestão financeira estratégica • por lidar diretamente com o tempo, mostra uma ideia de como será o uturoda empresa; • colabora para a identiicação dos graus de risco de determi- nado investimento. No entanto, há algumas desvantagens: o valor do payback varia para cada período analisado e, depois que o capital inicial é recupera- do em determinado período, o payback passa a não ser mais um bom indicador (REIS, 2019a). Um sexto indicador que revela o nível mínimo de rentabilidade que pode ser estimado como certo para um investimento é a chamada taxa livre de risco. Essa taxa diz respeito ao valor mínimo de rentabilidade que o investidor estima receber, com certo grau de certeza, com base no que oi investido – o capital investido, os juros atrelados à aplicação desse recurso sem risco. Para escolher a taxa livre de risco, que norteará o investidor em rela- ção à escolha de investir ou não (analisando o custo de oportunidade na tomada de decisão), o agente econômico olhará para o ator ísico, geo- gráco – uma vez que a taxa livre de risco variará para cada país, porque um país que proporciona um riscomenor ao investidor oerece umame- nor taxa –, e olhará para o ator temporal – os projetos que demandam maior duração de tempo oerecem riscos maiores (REIS, 2019d). Outro instrumento para avaliar a viabilidade de um investimento é a taxa mínima de atratividade (TMA), já citada anteriormente neste capí- tulo por aparecer nos cálculos e nas interpretações de outros índices e por ser um indicador que mostra o retorno nanceiro mínimo que um investimento deve gerar para que seja viável economicamente. A TMA, além de ser uma rentabilidade percentual, pode ser a taxa mínima de um empréstimo ou nanciamento que o agente econômico tomador se dispõe a aceitar. Não se calcula a TMA com uma órmula. Ela é tomada pelo agen- te econômico com base em algum índice existente na economia – por exemplo, a taxa básica de juros do Brasil, a SELIC. Dizer que uma TMA é, no mínimo, o valor da SELIC, signica que, para um investimento ser viável, no mínimo ele precisa ter uma rentabilidade maior que a dessa taxa. Desse modo, para estabelecer uma TMA, levam-se em considera- ção alguns aspectos, como o custo de oportunidade, o risco do negócio e o nível de liquidez de um projeto de investimento (REIS, 2019e). A Selic é a taxa básica de juros da economia. É o principal ins- trumento de política monetária utilizado pelo Banco Central para controlar a inação. Ela inuencia todas as taxas de juros do país, como as taxas de juros dos empréstimos, dos nanciamentos e das aplicações nanceiras (BCB, 2020). Decisões, análise de investimentos e riscos 59 Podemos apontar ainda, sendo o nosso oitavo indicador e erra- menta de análise de viabilidade dos investimentos, o retorno sobre o investimento (ROI), que calcula o rendimento que a empresa pode gerar a partir dos ativos que tem disponíveis. O ROI mede quanto a empresa ganhou ou perdeu de recursos em um investimento, podendo também ser utilizado por qualquer agente econômico que queira saber sobre a eciência de um investimento em relação a ações, undos de investimen- tos, títulos de renda xa, aquisição de equipamentos, abertura de novos empreendimentos, capacitação de prossionais, entre outras situações. O ROI é, por isso, uma erramenta que pode ser utilizada para die- rentes nalidades e é importante por considerar o histórico dos inves- timentos, o que az dele um índice essencial para a tomada de decisão, mas não como indicador de previsão de eventos uturos. Assim, pela análise do ROI, o agente econômico avalia o desempenho de uma em- presa quanto à sua aplicação de recursos; traz mais racionalidade para o processo da tomada de decisões; acilita o planejamento de objetivos com base na análise de resultados já atingidos, entre outras vantagens. O cálculo do ROI pode ser eito com a seguinte órmula: ROI = (lucro obtido – investimento) / investimento Uma ressalva a se azer sobre seu uso é que a análise das op- ções de um investimento deve ser eita utilizando-se outros indi- cadores junto ao ROI, isso porque uma avaliação eiciente precisa levar em consideração outros atores e variáveis de um ativo, como setor de atuação (se é o mesmo ou não) e período, isto é, tempo do investimento, por exemplo. Com isso, podemos elencar algumas vantagens na utilização do ROI: • mensura o tempo que um investimento leva para ser recuperado; • é uma medida utilizada em dierentes países, sendo universal; • é de ácil interpretação e cálculo, além de permitir a comparação entre dierentes tipos de investimentos. Por outro lado, algumas desvantagens do uso do ROI são: não leva em consideração o risco do investimento; não dispensa a utilização de outros índices para estimar o retorno de um investimento; e não leva em conta receitas e gastos de um período uturo, baseando-se apenas no período corrente (REIS, 2017d). 60 Gestão financeira estratégica Outro indicador utilizado pelos gestores nanceiros é o retorno so- bre o Patrimônio Líquido (ROE), uma porcentagem que indica a eciên- cia da empresa quanto à sua capacidade de gerar lucros. O ROE pode ser calculado quando se chega ao valor do lucro líquido acumulado pela empresa no período de 12 meses com relação ao seu Patrimônio Líquido: ROE = lucro líquido / Patrimônio Líquido É necessário observar que o valor do Patrimônio Líquido pode ser o valor dos ativos menos os passivos da empresa, como também o valor que os sócios (acionistas) têm investido em determinado período (REIS, 2017c). Por medir a orma e o quanto a empresa está gerando de lucro aplicando recursos, ou seja, sendo eciente, o ROE é um indicador de gestão e que também deve ser analisado em conjunto com demais in- dicadores. Em casos de análise comparativa, devem-se utilizar empre- sas pertencentes ao mesmo setor. 4.2 Gestão de riscos e incertezas Vídeo O risco nanceiro está associado à perda de dinheiro, à perda de recursos e capital e está presente em todas as atividades (HOJI, 2012). Nesse sentido, aprender a lidar com os riscos, bem como evitá-los, signica se precaver a m de tomar as melhores decisões em relação às escolhas eitas pelos agentes econômicos. Conorme a empresa atua em seu mercado, pode evitar ou atrair riscos nanceiros por meio das atividades e das práticas que reverbera. Quando a empresa obtém e trabalha com inormações de baixa qualidade, executa operações com alto grau de risco – dependendo do investimento que az –; quando se expõe às variáveis econômicas como taxa de juros e câmbio sem me- didas de gestão e se endivida em excesso, por exemplo, está sujeita a uma variedade considerável de riscos nanceiros. O cálculo do risco nanceiro de um empreendimento ocorre quando se exercita a combinação entre a probabilidade de o risco ocorrer e o prejuízo que ele pode gerar, de modo a mensurar essa condição e suas consequências. Dessa maneira, a análise dos riscos Becoming Warren Bufett é um documentário clás- sico para qualquer leitor interessado no mundo dos investimentos. Bufett é considerado, quase que de maneira unânime, o maior investidor dos nossos tempos. Com uma narrativa instigante, a vida de Bufett é perpassada da infância até ao dias atuais. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=PB5krSvFAPY. Acesso em: 27 jul. 2020. Vídeo Decisões, análise de investimentos e riscos 61 é um exercício contínuo devido à tomada de decisão constante no dia a dia empresarial, tanto com relação às operações nanceiras quanto à realização de investimentos. Alguns tipos de riscos são o de liquidez, aquele que a empresa sore quando não é capaz de cumprir seu passivo nanceiro devido a cir- cunstâncias como a má gestão do capital de giro; outro risco pode ser o de crédito, quando o credor está vulnerável à possibilidade de não recebimento; também há o risco de mercado, aquele a que a empresa está sujeita quando tem ações na bolsa de valores e há oscilações de preços e cotações, por exemplo (REIS, 2018c). A gestão nanceira e organizacional oerece uma orma de classi- car e administrar os riscos e, dadaa necessidade dessa ação no am- biente empresarial, vamos conhecer algumas classicações. Uma delas é o chamado rating, que diz respeito a uma avaliação de risco de crédito atribuída por uma agência de classicação de risco a uma empresa ou ao governo. O rating mostra quão robusta e sólida é a qualidade nan- ceira de determinado agente econômico, ou seja, qual é a incapacidade desse agente em cumprir com seus compromissos nanceiros. Essa nota de risco de crédito não é denitiva, porque a classicação pode mudar ao longo do tempo, ao passo que as agências de risco sorem modicações conorme as mudanças econômicas acontecem. As agências de classicação de risco, dessa orma, avaliam diver- sos aspectos e atores econômicos, nanceiros e sociais para emitir o rating de uma empresa ou país: resultados e projeções uturos; a con- sistência do Balanço Patrimonial; o fuxo de caixa; a taxa de juros; o contexto político em que a empresa e o país estão inseridos; o nível de alavancagem, entre outros. O rating é denido por meio da análise aproundada dos atores e aspectos descritos, englobando todas as inormações reerentes ao cenário em que a empresa se encontra. Além disso, o rating pode ser de dierentes tipos, por exemplo, analisar a relação entre retorno e ris- co de um ativo, o chamado rating por grau, que classica os ativos e os títulos pelo grau especulativo, que, por sua vez, identica o risco da inadimplência; o grau de investimento, títulos e ativos classicados com menor grau de inadimplência; e o rating por nota, que classica o título ou ativo de acordo com os graus de investimento e especulativo, avaliando a relação entre risco e retorno. Alavancagem é uma operação nanceira em que a empresa aumenta consideravelmente suas receitas sem aumentar seus gastos ou investimentos na mesma proporção. Nesse sentido, a alavancagem está relacionada ao endividamento da empresa em determinado momento, como na busca por uma alavanca nanceira de fato, em um empréstimo no banco de desenvolvimento, no uso de recursos de terceiros para a realização de algo no empreen- dimento, como a expansão de resultados, aumentando o Patrimônio Líquido. Assim, o uso da alavancagem deve ser feito com segurança, planejamento e conança, partindo do pressu- posto de que essa exposição será recuperada pela rentabilidade do investimento que será realizado. 62 Gestão financeira estratégica Com o rating, empresas e governos podem avaliar sua nota de risco e buscar, com isso, uma melhor gestão de dívidas e demais aspectos que impactam a saúde nanceira, buscando mais estabilidade e con- abilidade com níveis mais estáveis na atividade econômico-nanceira. Apesar da importância em conhecer o rating, as agências de classi- cação de risco não são isentas de críticas quanto a confitos de interes- ses entre grandes agências e suas respectivas avaliações às empresas. No entanto, o rating é uma erramenta importante para que investido- res relacionem os riscos e os retornos de títulos e ativos, o que minimi- za a assimetria de inormações no mercado e acilita os processos de gestão (REIS, 2019b). Outra erramenta utilizada pelo mercado para avaliar e classicar o grau de risco a que um undo de investimentos ou um ativo pode estar exposto é o Value at Risk (VaR). O gerenciamento do risco por meio do VaR é eito pela quanticação do risco nanceiro – dentro de um inter- valo de conança, é estimada uma perda máxima potencial que um investimento pode sorer em um determinado período. Desse modo, o valor do VaR será baseado em dois aspectos: no ní- vel de conança que um indicador oerece (recomenda-se que seja de nomínimo 95%) em determinado período analisado; e na possibilidade de perda, ou seja, o quanto uma carteira de ativos pode perder consi- derando-se o valor total. Há duas ormas de calcular o VaR. Uma delas se baseia no método analítico chamado de valor paramétrico, pelo qual utilizam-se estimativas de rentabilidades: VaR = │R – zẟ │V, em que R se reere ao retorno espe- rado; z é o valor do nível de signicância; ẟ é o desvio padrão de rentabi- lidade e V, o valor do investimento. Outra orma de calcular o VaR é por meio da análise dos rendimentos históricos dos retornos, então não se utilizam hipóteses e estimativas sobre a rentabilidade dos ativos. Apesar de ser utilizado no mercado como um meio de classicar os riscos nanceiros, o VaR não indica de ato o tamanho da possibilidade da perda de um retorno porque se baseia em um determinado nível de conança, isto é, uma hipótese matemática que pode não se consoli- dar. Além disso, há outras ormas de calcular o VaR, e isso abre possibi- lidades para dierentes interpretações e resultados divergentes, o que implica dizer que utilizá-lo em conjunto com demais indicadores é mais seguro e deve gerar mais eciência na tomada de decisão (REIS, 2018e). Decisões, análise de investimentos e riscos 63 Outra erramenta utilizada na classicação dos riscos nanceiros é o índice Beta, umamedida de risco que avalia o retorno dos investimen- tos em relação a previsões de retorno que uma simulação de carteira diversicada de investimentos poderia gerar em um mercado especí- co. Para isso, usam-se índices de mercado – como o da bolsa de valores de São Paulo, o Ibovespa – como base para o cálculo do índice Beta. A órmula para calcular o Beta como índice de gestão de riscos é: Beta = Covariância (Rm, Ri) / Variância (Rm) Em que Ri é o retorno da carteira e Rm, o retorno do índice domerca- do. Assim sendo, o valor do Betamostra quanto o retorno de uma cartei- ra consegue responder às variações do índice de determinadomercado. Quanto maior o or Beta de uma carteira, maior será a propensão de retorno dessa carteira em relação às variações do índice do mercado e, com isso, maior é o risco sistêmico dessa operação (REIS, 2017b). Quando uma empresa paga seus acionistas em retribuição por terem acreditado no empreendimento, isto é, terem investido na organização, chamamos esse pagamento de dividendos de ações. Uma companhia de capital aberto tem a opção de pagar dividendos aos seus investidores conorme o empreendimento gera valor ao longo do tempo. As empresas que pagam dividendos têm vanta- gens em comparação àquelas que não pagam por alguns motivos, como apresentar menor volatilidade, alta rentabilidade e alta gera- ção de caixa e lucratividade. A menor volatilidade acontece porque empresas que pagam divi- dendos tendem a ser mais previsíveis do que as que não pagam, pois podem pertencer, em maioria, a setores que têm uma demanda em continuidade e que não cessa. A alta rentabilidade, por sua vez, está as- sociada à capacidade que a empresa tem de gerar lucros, dividi-los por meio dos dividendos e, mesmo assim, continuar crescendo, como em- presas do setor de delidade. A alta geração de caixa e a lucratividade correspondem à noção de que, normalmente, as ações de dividendos são mais lucrativas que as outras no longo prazo (REIS, 2017a). No entanto, a percepção e a gestão do risco também incidem nas empresas que distribuem dividendos, e alguns aspectos devem ser le- vados em consideração, como a liquidez, a concentração e o preço das 64 Gestão financeira estratégica ações. O preço da ação deve ter uma margem de segurança, ou seja, mesmo que a empresa tenha um bom desempenho operacional, isto é, lucre bastante, se pagar caro demais por uma ação, diculta a distri- buição de dividendos aos acionistas (WAINBERG, 2018). No que diz respeito à liquidez, o risco que a empresa corre é o da alta dela, o que pode ocorrer, por exemplo, quando um investidor de longo prazo não pretende vender suas ações em um período menor de tempo e a empresa precisa de recursos por estar passando por uma emergência nanceira ao perceber sua deterioração econômica. Sobre a concentração, o risco é o de que a empresa esteja orte- mente concentrada em algum tipo especíco de ação – de algum setor em especial, por exemplo –, o que pode levar a uma perda drásticade capital caso a empresa erre em suas projeções quanto ao desempenho de determinada ação. Uma recomendação dos especialistas para mi- nimizar ao máximo o risco de concentração excessiva é que o agente econômico, seja ele pessoa ísica ou de caráter empresarial, não tenha mais que 20% de seu portólio em uma única ação, sendo indicado que o agente diversique a carteira e, com isso, atue com maior segurança. 4.3 Criação de valor Vídeo Criar ou agregar valor para a empresa signiica dizer que os produtos e/ou serviços oerecidos por ela são vistos pelos clientes como dierenciados se comparados aos produtos e serviços oerta- dos por outras companhias. Agregar valor signiica azer com que o cliente crie signiicado, valor, na compra de determinado produto ou serviço, para além do valor pago pelo cliente, o que chamamos de preço. Quando a empresa consegue agregar valor nesse sentido, consegue também abertura para aumentar os preços ao longo do tempo, gerando mais lucratividade. O preço serve como reerência para a clientela e normalmente segue as leis de oerta e demanda que permeiam o mercado, mas também variam de acordo com a necessidade, os gostos e demais aspectos que infuenciam o porquê, o quando e a quantidade que as pessoas compram. Dessa orma, os preços são ormados pelas em- presas com base na comparação com preços de concorrentes, na ca- pacidade aquisitiva do público-alvo, na margem de lucro prevista pelo Uma leitura interessante para quem busca um conhecimento mais apro- fundado sobre a tomada de decisão empresarial diante dos aspectos nanceiros que perpassam a gestão de todas as áreas da empresa, de uma forma didática e por meio de uma abordagem clara sobre situações reais, é o livro Finanças Corporativas: teoria e prática, de Aswath Damodaran. DAMODARAN, A. 2ª ed. São Paulo: Bookman, 2004. o Decisões, análise de investimentos e riscos 65 agente econômico e pela análise do custo de produção ou aquisição, ou seja, o preço pode ser estabelecido levando-se em consideração aspectos internos e externos à empresa. O valor, por sua vez, é um conceito amplo, subjetivo e que é discu- tido de dierentes ormas pelas áreas do conhecimento, já que indiví- duos atribuem valor de acordo com suas necessidades, seus desejos, suas expectativas, entre outros atores. O valor está muito mais relacio- nado à satisação do cliente para com determinado produto ou serviço, por isso as empresas buscam incessantemente aprimorar suas estra- tégias e melhorar a satisação da sua clientela. Por essa perspectiva, entendemos por que o ato de algo ser caro ou barato pode ser muito distinto entre as pessoas, uma vez que essa classicação dependerá de vários aspectos que não são necessariamente explícitos. Quanto mais valor as empresas conseguem atribuir aos seus pro- dutos e serviços, maior vantagem competitiva ela gera em comparação aos seus concorrentes, pois consegue elevar seus preços, aumentar a oerta e demanda, gerando mais lucratividade (REIS, 2018b). Para a empresa de capital aberto – aquela que tem ações –, criar ou agregar valor signica apresentar ao acionista uma rentabilidademaior que o custo de capital; melhor dizendo, a empresa deve remunerar o investidor para além do retorno esperado pelo capital investido. Para aqueles que se fascinam pelo mundo dos negócios, especialmente pela história do dinheiro e sua trajetória transformadora na vida das pessoas e das empresas por todo mundo, o livro A ascensão do dinheiro: a história fnanceira do mundo, do autor Niall Ferguson, é uma excelente leitura. A obra é interessante para entender o poder do fator econômico em crises, expansões e demais acontecimentos que caracterizam a história do dinheiro. FERGUSON, N. São Paulo: Crítica, 2017. o CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise de investimentos, assim como a gestão de riscos e incer- tezas e a criação de valor, são aspectos diretamente relacionados na gestão nanceira empresarial. Assim, de maneira geral, é undamental para as empresas e os agentes econômicos conhecer as possibilidades de investir e, com isso, gerar lucros e expandir o empreendimento. Co- nhecer os tipos de investimentos, como mensurá-los, conhecer os ris- cos e comominimizá-los, bem como entender sobre como as empresas criam valor em um mercado cada vez mais competitivo é essencial na maximização da eciência da gestão empresarial. Por isso, a gestão do risco aparece como erramenta gerencial in- dispensável para dar sustentação ao processo de investir. Quando realizada de modo eciente, a avaliação de investimento e a tomada de decisão acilitam o processo de criação e agregação de valor pelas 66 Gestão financeira estratégica empresas. Essas considerações conrmam, de maneira clara, que a ad- ministração nanceira estratégica possui um arcabouço conceitual e erramental que, quando utilizado em conjunto, ornece diversas possi- bilidades de ação e decisão para os gestores e os agentes econômicos. ATIVIDADES 1. Qual é a importância da avaliação de investimentos? 2. Explique os tipos de riscos nanceiros. 3. No que consiste a criação de valor para as empresas? REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012. BCB. Taxa Selic. 2020. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/controleinfacao/taxaselic. Acesso em: 29 jul. 2020. HOJI, M. Administração fnanceira: uma abordagem prática. São Paulo: Atlas, 2012. REIS, T. Dividendos de ações: recursos que podem potencializar os investimentos. Suno Research, 2017a. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/dividendos-de- acoes/. Acesso em: 29 jul. 2020. REIS, T. Índice Beta: importante indicador para gestão de riscos de uma carteira. Suno Research, 2017b. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/beta/. Acesso em: 29 jul. 2020. REIS, T. O ROE e sua utilidade numa análise de investimentos. Suno Research, 2017c. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/roe-utilidade/. Acesso em: 29 jul. 2020. REIS, T. ROI (Return on Investment): saiba como analisar esse indicador. Suno Research, 2017d. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/roi-return-on- investment/. Acesso em: 29 jul. 2020. REIS, T. Velos Presente Líquido: entenda como calcular e usar o VPL. Suno Research, 2017e. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/valor-presente-liquido/. Acesso em: 29 jul. 2020. REIS, T. O que é a taxa de turnover de investimentos de uma empresa?. Suno Research, 2018a. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/turnover/. Acesso em: 29 jul. 2020. REIS, T. Preço e valor: entenda de uma vez a dierença desses dois conceitos. Suno Research, 2018b. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/preco-valor/. Acesso em: 29 jul. 2020. REIS, T. Riscos nanceiros: entenda a importância de conhecê-los. Suno Research, 2018c. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/riscos-nanceiros/. Acesso em: 29 jul. 2020. REIS, T. TIR: apresenta a analisar investimentos utilizando a Taxa Interna de Retorno. Suno Research, 2018d. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/taxa-interna- de-retorno/. Acesso em: 29 jul. 2020. Decisões, análise de investimentos e riscos 67 REIS, T. Value at Risk (VaR): uma erramenta para gerenciar o risco em investimentos. Suno Research, 2018e. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/value-at-risk/. Acesso em: 29 jul. 2020. REIS, T. Payback: entenda como calcular o prazo de retorno de um investimento. Suno Research, 2019a. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/payback/. Acesso em: 29 jul. 2020. REIS, T. Rating: o que é e como unciona essa classicação de risco?. Suno Research, 2019b. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/rating/. Acesso em: 29 jul. 2020. REIS, T. Taxa de desconto: entenda como unciona esse tipo de cálculo. Suno Research, 2019c. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/taxa-de-desconto/. Acesso em: 29 jul. 2020. REIS, T. Taxa livrede risco: como utilizar essa taxa para avaliar investimentos?. Suno Research, 2019d. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/taxa-livre-de- risco/. Acesso em: 29 jul. 2020. REIS, T. TMA: entenda o que é a Taxa Mínima de Atratividade e como calculá-la. Suno Research, 2019e. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/taxa-minima- de-atratividade/. Acesso em: 29 jul. 2020. WAINBERG, R. Gestão de riscos: descubra os 3 grandes perigos para o investidor. Suno Research, 2018. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/gestao-de- riscos/. Acesso em: 29 jul. 2020. 68 Gestão financeira estratégica 5 Estratégias corporativas e planejamento Quando falamos em estratégias corporativas e planejamento, estamos nos referindo a uma grande variedade de opções que os gestores organizacionais podem acessar a fm de otimizar a efciência na tomada de decisão estratégica. Isso porque o en- tendimento da empresa como parte de um todo, em constante transormação e expansão, passou a exigir dos estudiosos e agen- tes atuantes na área corporativa, cada vez mais, conhecimento teórico-prático no tocante a novas ferramentas e alternativas de análises para a tomada de decisão. Nesse sentido, este capítulo aborda conceitos, aspectos e elementos econômico-fnanceiros que intererem diretamente nas decisões que são tomadas pelos gestores, especialmente em relação à administração fnanceira das empresas. Esses elemen- tos e aspectos abrangem tanto o ambiente econômico externo à empresa, que dá contorno a sua estrutura, quanto os diversos indicadores e variáveis de análise internos, que dão sustentação para a tomada de decisão. Além disso, são apresentadas, com base em uma defnição de estratégia, formas e processos da ad- ministração estratégica que levam a empresa à busca constante por melhoria e desenvolvimento. 5.1 Finanças corporativas Vídeo O tema das nanças corporativas está contido na evolução da socie- dade contemporânea e se relaciona com as mudanças no arcabouço conceitual, bem como nos métodos de avaliação das empresas. Con- orme se consolidaram as transormações da sociedade moderna, o administrador nanceiro passou a ter mais atribuições e responsabi- Estratégias corporativas e planejamento 69 lidades, sendo cada vez mais exigido em suas unções, o que conse- quentemente demandou dele mais especialização. No contorno das nanças corporativas temos a chamada governan- ça corporativa – que teve seu crescimento após a expansão do mo- vimento de globalização pelo mundo –, marcada pelo crescimento da interconectividade dos mercados, do aumento da complexidade das operações nanceiras, do aumento dos riscos e, por isso, da maior ne- cessidade de controle e gestão. Essas transormações zeram com que a governança corporativa trouxesse para a pauta das empresas temas como ética empresarial, transparência entre as organizações e seus stakeholders bem como sustentabilidade e responsabilidade. Isso implica dizer que a gover- nança corporativa voltou o olhar da empresa para uma diversidade de novas responsabilidades, que, ao mesmo tempo, têm como obje- tivo agregar valor econômico para a empresa, remunerando o capital de risco e atraindo investidores, ao passo que benecia os stakehol- ders e a sociedade como um todo. Com a evolução da administração nanceira e as responsabilidades das empresas se tornando gradativamente intensas, no que diz respeito ao gerenciamento dos recursos na busca pelas metas estabelecidas e à saúde nanceira e econômica em longo prazo, os administradores nan- ceiros ganharamaindamais relevância, principalmente diante de cenários como a escassez de capital no mercado e o aumento das taxas de juros. A taxa de juros ou os juros propriamente ditos se reerem à pre- erência temporal de indivíduos, empresas ou governo em consumir determinados bens ou serviços no presente e no uturo. Isso quer dizer que os agentes, quando postergam seu consumo, esperam uma re- compensa pelo sacriício que zeram em poupar, e é esse esorço que chamamos de juros (NETO, 2012). Quanto maiores orem as oscilações econômico-nanceiras, maiores serão as variações de escolhas dos agentes em relação a postergar ou não o consumo e, por isso, maiores serão as modicações nas taxas de juros também. Nesse cenário de mudanças, a tomada de decisão sobre a aplicação de recursos, denição de projetos e interpretação de modelos nan- ceiros exige do administrador nanceiro, além da capacitação técnica e especializada, uma visão estratégica que atue de maneira sinérgica para com o uturo dos negócios. Stakeholders são grupos ou indivíduos que, de alguma forma, participam das atividades desenvolvidas ou vinculadas a determinada empresa, impac- tando nos objetivos dela. Nesse sentido, stakeholders buscam se beneciar da empresa e auxi- liá-la a atingir seus objetivos de algum modo, pois fazem parte do que a empresa é, do que ela busca e do ambiente em que atua. Exemplos de stakeholders são: acionistas, fornecedores, clientes, governo, funcionários, entre outros (NETO, 2012). 70 Gestão financeira estratégica Dessa orma, quando alamos das nanças corporativas no ambien- te empresarial, a gestão nanceira tem como oco algumas unções essenciais que dizem respeito ao planejamento nanceiro, ao controle nanceiro e à administração de ativos e passivos. Por meio do planeja- mento nanceiro, o gestor pretende identicar e trabalhar com as ne- cessidades de expansão do empreendimento, assim como selecionar quais ativos devem ser mais rentáveis para a empresa, isto é, buscar estabelecer a melhor rentabilidade para os investimentos. O controle nanceiro, por sua vez, permite ao gestor acompanhar e administrar o desempenho nanceiro, analisando desajustes e azendo previsões, ajustando-os ao longo do tempo. Comaadministraçãode ativos, o gestor estuda continuamente quais são as melhores opções de risco e retorno dos possíveis investimentos, realizando também a gestão de capital de giro, ator primordial que demonstra a saúde nanceira do caixa da empresa. A administração de passivos, por m, é outra unção primordial da gestão nanceira corpo- rativa, em que se estudam as opções de nanciamento, a redução de custos, o aumento da liquidez e a administração dos riscos em relação ao gerenciamento dos undos de nanciamento. Assim, com base nessas quatro unções essenciais da administra- ção nanceira, as empresas passam a ser avaliadas mediante duas principais decisões: a maneira como tomam as decisões sobre investi- mentos, isto é, como aplicam recursos; e o modo como decidem nan- ciamentos, ou seja, como captam recursos. Além disso, uma terceira decisão implica a alocação dos resultados líquidos das empresas: a de dividendos, que é uma orma especíca e alternativa de a empresa - nanciar suas atividades. As decisões nanceiras de investimento e nanciamento, desse modo, devem ser tomadas de maneira integrada, já que representam duas importantes áreas de decisão das empresas, assim como a prá- tica da distribuição de dividendos – na implicação entre a decisão de nanciamento perante capital próprio, ao reter resultados, ou perante capital de terceiros, ao distribuir resultados – deve ser, também, inte- grada por meio do que se justica ser mais benéco para a empresa. Outro aspecto essencial a ser considerado no estudo das decisões nanceiras é o ambiente infacionário. A infação é provocada quando o poder aquisitivo da moeda é corroído ao longo do tempo, ou seja, Os dividendos se referem à distribuição de parte dos lucros aos acionistas da empresa. A decisão de distribuir os dividen- dos é tomada pelos gestores, com base na análise do custo de oportunidade existente entre a decisão de distribuir os recursos aos acionistas ou manter esses recursos retidos para que a empresa agregue mais valor aos seus negócios. Estratégias corporativas e planejamento 71 há uma diminuição do poder de compra da moeda. A infação é uma ocorrência requenteem diversas economias do mundo, devido às va- riações recorrentes nos índices gerais de preços delas. Um problema especial causado pela infação é a orma desigual com que atinge os agentes econômicos, pois aqueles que detêmmais rique- za são menos atingidos pela perda de valor da moeda e, com isso, so- remmenor perda do poder de compra. Sobre as nanças corporativas, especicamente, quando a infação não é devidamente considerada, os resultados previstos podem ser distorcidos, tornando as decisões pre- cárias, o que incorre em risco de perda do empreendimento. Desse modo, podemos citar, dentre as consequências da infação, a descaracterização dos valores patrimoniais da empresa e valoriza- ção de outros valores, dando a impressão de um cenário de possíveis compensações que não será verdadeiro. Esse processo vai se tornando complexo e contínuo à medida que a desvalorização da moeda vai cau- sando distorções dos valores nanceiros. A problemática infacionária, nesse sentido, deve estar sempre presente na elaboração dos modelos nanceiros, como na projeção do lucro empresarial, porque os valo- res estimados estarão comprometidos caso as variáveis de perda da moeda não sejam consideradas nos cálculos. Outros aspectos importantes quanto à tomada de decisão com rela- ção às nanças corporativas são, por exemplo, os objetivos da empre- sa e a concentração de capital. Os objetivos podem envolver aspectos, como: a maximização da riqueza e do lucro, a melhoria do valor de mercado – oco na expansão da riqueza dos acionistas –, o ambiente nanceiro e o valor da empresa, que são sempre atores analisáveis, assim como a responsabilidade social. Da mesma orma, a concentração de capital da empresa – no que diz respeito à organização das ações no mercado e às suas ormas de gestão – impacta a eciência de mercado de capitais e, por isso, é es- sencial para a tomada de decisão. O que podemos concluir com essas considerações é que as de- cisões inanceiras se baseiam em pressupostos que sustentam a adoção de dierentes modelos. Com a evolução das inanças, em conceitos e práticas, a administração inanceira vem se tornando cada vez mais consistente diante de uma vasta possibilidade de propostas (NETO, 2012). Para aqueles que se interessam pelas trans- formações incessantes da sociedade moderna, especialmente no que se reere à estrutura e aos objetivos das empresas atuais, o livro Finanças para Startups: o essencial para empreender, liderar e investir em startups é uma opção essencial para o entendimento dessa nova orma de organização empresarial, as startups. LOSADA, B. São Paulo: Saint Paul, 2020. o 72 Gestão financeira estratégica No entanto, é importante evidenciar que as decisões devem ser tomadas não apenas com base em pressupostos e modelos exatos, mas conorme se apresenta o ambiente econômico, tentando ao má- ximo aproximar as projeções da realidade das empresas em seus ce- nários de atuação. Isso quer dizer que aspectos restritivos – como a ausência de crédito e ineciência de recursos, por exemplo – limitam a capacidade de crescimento e competitividade das empresas e, nessa situação, é preciso criar e adaptar alternativas de ação. Desse modo, dadas as limitações e diculdades que podem vir a intererir no processo decisório, as empresas devem trabalhar com as decisões de nanciamento, investimento, concentração e distribuição de capital, bem como lidar com a taxa de juros, os aspectos infacioná- rios, entre outras situações, na busca da sua estabilidade nanceira e da continuidade do negócio. 5.2 Análise financeira e de tendências Vídeo A análise nanceira pode ser entendida como o acompanhamento da saúde das nanças da empresa, sendo essencial para a gestão do empreendimento, porque vai além do estudo do caixa, da liquidez e da análise de investimentos, por exemplo. Esses são alguns aspectos que, juntamente com uma diversidade de variáveis, estruturam a vida nan- ceira e, quando acompanhados de modo ecaz, permitem à empresa um crescimento e desenvolvimento sustentáveis ao longo do tempo. Com isso, a análise nanceira possibilita a visualização de aspectos que precisam de melhorias, setores que estão desajustados, gastos em excesso, investimentos que não dão retorno, entre outros pontos que, quando identicados e passíveis de correção, permitem uma realocação mais eciente de recursos e impulsionam a empresa na direção da reali- zação de suas atividades nas melhores condições possíveis. Dessa maneira, podemos pensar em alguns aspectos essenciais da análise nanceira para que, posteriormente, possamos entender como dierentes ormas de análise podem ser utilizadas na empresa, sendo benécas a ela, e, com base nisso, como identicar e trabalhar com algumas tendências de mercado. Alguns indicadores undamentais da análise nanceira podem ser, segundo Reis (2018b): Estratégias corporativas e planejamento 73 • capital circulante: indica o quanto de valor a empresa tem, levan- do em consideração o dinheiro e os estoques e descontando to- das suas obrigações em um determinado período; • prazo médio de recebimento: reere-se ao tempo em média que a empresa leva para receber por suas vendas; • rentabilidade sobre as vendas: mostra o quanto a empresa lucra com suas atividades; • endividamento: demonstra o quanto a empresa tem de dívidas em comparação com o quanto ela tem para quitá-las; • liquidez: apresenta o quanto e como o empreendimento con- segue se manter e sua capacidade de quitar obrigações em determinado período. Esses indicadores apontam para o caminho onde poderia se iniciar uma análise nanceira ecaz, na medida em que permitem ao gestor acessar dados e interpretá-los na tomada de decisão para o bom un- cionamento do empreendimento. No entanto, esses atores não são os únicos, pois a análise contábil, com sua innidade de inormações e va- riáveis, também é importante e compõe o cenário de uma gestão nan- ceira eciente – tal como no que diz respeito aos custos e às receitas. Outros indicadores nanceiros e suas respectivas análises devem ser levados em consideração conorme o gestor avalia a saúde nancei- ra da empresa. No caso da decisão pelos investimentos, por exemplo, o gestor nanceiro deve olhar para aspectos, como: a liquidez corrente – indicador em curto prazo dos recebimentos da empresa em um ano, em relação ao quanto ela deve pagar nesse mesmo período –; indica- dores de margens – demonstram o lucro em percentagem para cada venda líquida eetuada pela empresa –; dívida líquida – retrata, pormeio da análise do fuxo de caixa, qual a dívida líquida da empresa no período de um ano –; e o retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) – valor que representa o cálculo obtido da divisão do lucro de um ano da empresa pelo seu Patrimônio Líquido –, sendo que, quanto maior or esse valor, mais rentável se caracterizará o empreendimento (REIS, 2018a). Já para analisar o desdobramento de uma decisão utura, as em- presas utilizam o recurso da modelagem nanceira para direcionar a tomada de decisão a respeito de um projeto. Com amodelagem, os ges- tores conseguem elaborar projeções de cenários uturos com base nos cenários atuais, mediante um conjunto de pressupostos. Por meio da 74 Gestão financeira estratégica construção de um modelo matemático, que tende a representar a rea- lidade do mercado nanceiro, o gestor consegue projetar os possíveis investimentos para a empresa, tanto em curto quanto em longo prazo. As planilhas de Excel, erramenta mais comumente utilizada entre outros sotwares, dão base para a elaboração dos modelos, de acor- do com o planejamento estratégico elaborado pelo gestor para atingir seus objetivos, em que os dados da empresa são analisados em con- junto com os indicadores econômicos. Nesse sentido, a modelagem nanceira é uma erramenta de análise para a tomada de decisão que, segundo Reis (2019), tem como objetivos: • avaliar se o cenário que se projeta é consistente e sustentável; • representar o valor da empresa para possíveis investidoresassumido, e, para a pública, um lucro que representa uma gestão eciente que visa melhorar os serviços prestados à sociedade (BRAGA, 1989). A otimização no uso dos recursos para que a empresa tenha ca- pacidade de atingir seus objetivos também deve estar envolvida na alocação de recursos. Isso implica, para os gestores nanceiros, a ne- cessidade de conhecer todo o funcionamento da empresa, ou seja, os gestores precisam entender como todas as áreas da empresa intera- gem (BRAGA, 1989). Isso signica que os gestores devem ter uma visão holística da empresa, isto é, uma visão integrada dos setores de atua- ção. Dessa maneira, é possível entendermos como cada setor produz e interage com o outro e, assim, quanto recurso há disponível e como é possível trabalhá-lo de modo eciente. As fontes de recursos que podem estar disponíveis para a empresa também se diferem e podem ser: fontes de recursos próprios, que são as reservas, os lucros retidos; fontes de recursos de terceiros, advindas de dívidas e outros compromissos; fontes de recursos permanentes, ou seja, os recursos próprios e as dívidas de longo prazo; fontes de recursos advindos de compromissos de curto prazo, chamadas de recursos tempo- rários; e fontes de recursos chamados onerosos, que implicam despesas nanceiras e fontes de recursos não onerosos, que não implicam essas despesas. Gerir essas fontes de recursos requer que a empresa se ade- que a prazos e custos, conforme interage com o ambiente em que está inserida e com seus parceiros (BRAGA, 1989). Além disso, gerir ecientemente os recursos signica analisar os projetos de investimento, o que vai além de conhecer o funcionamento da empresa com relação à integração de suas áreas. Esses projetos são representados pela denição e distribuição de ativos, estoques e con- tas a receber, bem como os também chamados ativos operacionais, por exemplo, além de imóveis, entre outros, que podem ser operacionais ou não, como aplicações nanceiras. É importante entendermos que, Fundamentos da gestão financeira estratégica 11 quando aloca recursos na forma de ativos, a empresa está lidando com custos nanceiros, porque ela sore o custo de oportunidade em azer essa escolha, buscando a geração de receitas, ou seja, de lucros futu- ros, com cada ativo (BRAGA, 1989). Segundo Neto (2012), no que implica articular de orma eciente a busca e alocação de recursos em torno dos objetivos da empresa, a organização nanceira depende cada vez mais da atuação do gestor nanceiro, para além de um organizador das técnicas e erramentas utilizadas na administração nanceira. O administrador de nanças precisa ter mais atenção sobre as informações estratégicas e outros valores que a empresa integra. Dessa orma, para organizarmos as nanças, é importante enten- dermos melhor o que signica administrar. O processo de administrar é também decidir e, especialmente, com que qualidade as decisões são tomadas. Conforme aponta Neto (2012), a tomada de decisão é uma prá- tica essencial porque requer conhecimento sobre diferentes funções da empresa, diferentes áreas e suas respectivas informações, o que reforça a ideia de Hoji (2012), para quem a empresa é um sistema dinâmico que necessita da interação eciente entre seus setores e atores. A administração nanceira vem evoluindo ao longo do tempo, prin- cipalmente após a década de 1920, época em que os negócios sofreram mudanças e se tornaram mais complexos. Devido a essas transforma- ções, a área nanceira não é mais apenas aquela que contabiliza os fatos, descrevendo-os e mensurando-os, mas sim a que busca sempre entender omotivo de determinados comportamentos e quais os efeitos deles. Segundo Neto (2012), com o passar do tempo, a administração nanceira recebeu infuência das teorias da administração, começando a olhar não apenas para fatores externos, como fornecedores, acio- nistas, isto é, as formas de alocação de recursos, mas também para os fatores internos da empresa, buscando desenvolver e melhorar sua estrutura. Essa evolução da administração nanceira se refetiu na transor- mação e no aperfeiçoamento da alocação de recursos, que passou a olhar também para ontes de nanciamento, investimentos – retorno e custo de capital – com oco nas decisões nanceiras. Mais ainda, a partir da década de 1990, o tema da gestão de risco ganhou relevân- cia, juntamente com o aprimoramento dos chamados indicadores eco- Uma dica interessante para o melhor enten- dimento da dinâmica da gestão nanceira empresarial é conhecê-la e aplicá-la no âmbito pessoal. Um livro que pode abrir os olhos para aspectos importantes, alertar para uma mudan- ça de comportamento e um possível caminho para novas realizações é o Do Mil ao Milhão. Sem cortar o cafézinho. NIGRO, Thiago. São Paulo: HarperCollins, 2018. o 12 Gestão financeira estratégica nômicos e nanceiros relacionados ao mercado, como taxa de juros, câmbio, cotações, entre outros. Também foi na década de 1990 que as estratégias da administração nanceira se voltaram para o conceito de criação de valor, juntamente com o movimento da globalização das nanças, que assim se caracterizou devido à integração das economias mundiais, mais interdependentes e expostas aos riscos de mercado (NETO, 2012). A administração nanceira, como podemos notar, é uma área de estudo que envolve tanto a teoria quanto a prática. Conforme evolui e se modica ao longo do tempo, é exigido cada vez mais que o gestor nanceiro seja capaz de gerenciar os recursos nanceiros de orma di- nâmica, considerando metas estratégicas e o todo em que a empresa está inserida. Segundo Neto (2012), essa evolução conceitual e práti- ca da administração nanceira permite que explicações mais lógicas e completas deem signicado aos comportamentos nanceiros, distan- ciando-se do pensamento meramente descritivo e restrito. Com relação às atividades nanceiras, ainda conorme Neto (2012), al- gumas unções podem ser, por exemplo, planejamento e controle nan- ceiro, administração de ativos e passivos, em que a empresa será avaliada segundo a forma com que toma decisões, como decisões de investimen- tos – em que os recursos são aplicados –, e decisões de nanciamentos – em que os recursos são captados. Além disso, as decisões nanceiras também se reerem a decisões de dividendos – que envolvem a distribui- ção ou retidão de lucros aos acionistas –, em que há a integração e o ali- nhamento das diferentes áreas responsáveis por essas decisões. 1.2 Funções da administração financeira estratégica Vídeo Uma das principais unções da administração nanceira é gerir o conjunto de atividades que ocorre dentro das empresas, especialmen- te com relação aos seus recursos. Isso porque a função crucial da em- presa é obter os recursos que são necessários para a determinação da estratégia que visa maximizar, isto é, otimizar esses recursos. Com isso, a unção nanceira, em qualquer empresa, importa essencialmente na estruturação das atividades operacionais, ou seja, seu desenvolvimen- to a m de que a empresa tenha sucesso (BRAGA, 1989). Fundamentos da gestão financeira estratégica 13 As unções nanceiras estão relacionadas desde a compreensão de elementos que compõem e caracterizam a gestão nanceira, até o que é realizado com os lucros. Dessa orma, as unções nancei- ras estão na identicação dos investimentos que vão constituir as formas de produção e estruturar a empresa, como instalações, má- quinas e imóveis. Já outras funções se referem ao estabelecimento das atividades operacionais, bem como a alocação de recursos para sua realização – dispêndio de mão de obra, pagamento de salários, demais despesas, outros custos. Segundo Braga (1989), o nanciamento das operações, a aplicação de recursos em estoques, a obtenção de recursos nas instituições - nanceiras, assim como as receitas de vendas e a forma como será a distribuição de lucros são considerações que se referem a como os recursos estarão em movimento na empresa, ou seja, as funções da gestão nanceira estãoe compradores; • melhorar o gerenciamento de riscos dos investimentos e, com isso, a estrutura e a dinâmica da organização também. Além disso, a modelagem nanceira serve para que a empresa con- siga: arrecadar mais recursos; adquirir ativos ou outros negócios; ex- pandir o empreendimento, abrindo novas lojas ou atuando em outros mercados; elaborar a previsão orçamentária, especialmente em longo prazo; dar prioridade para a alocação de capital em projetos que te- nham maior potencial de crescimento; e azer comparações entre em- presas do mesmo setor – estudo dos concorrentes, por exemplo. Essa modelagem também pode ser utilizada como projeção antecipada do desempenho das ações da empresa, quando or o caso, dependendo de quais eventos uturos possam ocorrer (REIS, 2019). Outros dois tipos de análises nanceiras são as chamadas horizontal e vertical, que dão base para entender como o negócio evolui ao longo do tempo e são requentemente utilizadas pelos gestores das empre- sas e investidores. As análises vertical e horizontal têm como objetivo entender como as operações da empresa variam no decorrer do tempo, isto é, na dinâmica do negócio. Na análise vertical, busca-se entender qual é o percentual de cada setor da empresa em seus resultados. Já na análise horizontal, pretende-se compreender como os resultados da empresa evoluem ao longo do tempo (REIS, 2018c). Vamos exemplicar o que seria uma análise vertical. Partindo de um demonstrativo de resultado da empresa X e ocando, neste exemplo, Estratégias corporativas e planejamento 75 apenas o valor da sua receita líquida em três dierentes localidades de atuação, regiões que chamaremos de A, B e C, vamos analisar, então, qual o percentual de cada setor nos resultados dessa empresa. Considerando as receitas líquidas obtidas pela empresa X no primeiro trimestre do ano de 2019, nas três regiões, temos: na lo- calidade A, uma receita líquida de 480 milhões de reais; na B, de 245 milhões; e na C, de 160 milhões. Para calcularmos o percentual de participação de cada local nos resultados inais da empresa X, temos que dividir a receita líquida de cada região pela receita lí- quida total da empresa no período analisado e, ao multiplicar esse valor por 100, teremos o percentual. A receita líquida total da empresa X no primeiro trimestre de 2019 será, então, a soma das receitas das regiões A, B e C: 480 + 245 + 160 = 885 milhões de reais. Com todos os valores necessários, podemos, enm, calcular o percentual de cada região no resultado nal da empresa X. Para a região A: (480 / 885) * 100 = 54,23%. Para a região B: (245 / 885) * 100 = 27,68%. Para a região C: (160 / 885) * 100 = 18,07%. Para eetuarmos a análise vertical, dessa orma, não basta apenas calcularmos os valores, mas interpretarmos o que signicam para a empresa X. Os valores calculados nos indicam que a região A é bastan- te signicativa para essa empresa no que se reere a valores de ven- das, por exemplo, já que mais de 50% da receita líquida da empresa X é atribuída à localidade A. Se pensarmos nas regiões B e C, conjunta- mente, ao somá-las percebemos que a empresa X tem mais de 45% de sua receita nesses locais, o que implica dizer que há uma parcela de mercado bastante signicativa e que, caso essas regiões sejam em outros países, a empresa X pode ter ganhos importantes com a va- lorização de determinadas moedas ou, caso contrário, perdas signi- cativas com a desvalorização. Além disso, se acontecer de uma das regiões ser instável economicamente ou mesmo susceptível a crises políticas, a empresa X deve se preocupar, pois ambas representam grande parte de suas vendas (REIS, 2018c). Para a análise horizontal, no entanto, devemos olhar para as Recei- tas Líquidas da empresa X ao longo do tempo, comparando-as em cada período nas dierentes regiões. Caso a receita líquida tenha crescido mais na região A, por exemplo, é preciso interpretar o motivo dessa ex- pansão – como no caso desse local ter sorido uma expansão de consu- Um livro considerado por muitos como um dos melhores quando se fala da obtenção de sucesso nos negócios é Iludidos pelo acaso: a infuência da sorte nos mercados e na vida. A ideia do autor se dá na quebra da idealização de que tudo nomundo dos negócios acontece por razões defnidas e, com isso, a leitura se torna ins- piradora e surpreendente. TALEB. N. N. São Paulo: Objetiva, 2019. o 76 Gestão financeira estratégica mo interno, o que impactaria o aumento das vendas e o crescimento da receita em determinado período. Esse crescimento também pode estar relacionado a um melhor posicionamento da marca da empresa X na região A, aumentando as vendas. Já uma receita em queda em alguma região, como na B, pode expressar impactos de uma recessão econô- mica, entre outros atores (REIS, 2018c). Essas considerações são exemplos de como as análises vertical e horizontal, com base no demonstrativo das receitas líquidas em de- terminados períodos, podem orientar a tomada de decisão do gestor nanceiro. Ainda assim, existem vários outros dados com valores es- senciais para a análise nanceira, que consideram os aspectos contá- beis e demais atores que estruturam o Demonstrativo de Resultado do Exercício (DRE), fuxo de caixa, entre outras erramentas de gestão. 5.3 Avaliação e planejamento estratégico Vídeo Por que o estudo da estratégia é importante? Para respondermos a essa pergunta, temos que pensar no processo de administração es- tratégica como undamental para a sustentação das empresas, princi- palmente no contexto globalizado e de constantes transormações em que estamos inseridos. Além disso, estudantes de uma vasta diversi- dade de áreas serão os uturos gestores e estrategistas das inúmeras empresas ao redor do mundo. Para além dessa consideração, a administração estratégica ornece erramentas importantes de gestão, como aquelas que levam as em- presas a garantir suas vantagens competitivas. A maioria das empresas possui estratégias voltadas para suas vantagens competitivas, portanto aquelas que não as têm proporcionam aos gestores ecientes poucos espaços de atuação e, com isso, eles se limitam em suas atividades e em seu desenvolvimento ao longo do tempo. Outrossim, a administração e o planejamento estratégicos não estão necessariamente vinculados às grandes empresas. Muito con- trariamente, são essenciais para a gestão de empreendimentos de qualquer dimensão, ao passo que pessoas capacitadas se tornam gestores conorme escolhem e implementam as estratégias mais convenientes para seus empreendimentos. Estratégias corporativas e planejamento 77 Um dos entendimentos do que é estratégia, o qual vamos especi- car aqui, é que ela, em uma empresa, se congura na orma como esta ganha vantagens competitivas. Falamos que se reere a um dos entendimentos, porque podemos entender estratégia como um con- ceito polissêmico, ou seja, que possui dierentes signicados e pode ser empregada em diversos contextos. Até mesmo dentro dos estu- dos de administração e economia, bem como no assunto que trata- mos neste tópico – em relação à administração estratégica e avaliação para a tomada de decisão –, poderíamos trabalhar com uma varieda- de de abordagens estratégicas. Porém, a m de que tenhamos oco sobre como a gestão estratégi- ca das empresas está muito vinculada na orma como capta e expande os recursos em um mercado cada vez mais complexo e competitivo, trataremos a estratégia da empresa como aquela capaz de azer com que a empresa crie e mantenha vantagens diante de sua concorrência. Isso signica dizer que o processo de gestão estratégica tem como nalidade concretizar as vantagens competitivas – em outras palavras, a empresa tem vantagem competitiva quando é capaz de criar valor eco- nômico acima do que criam suas concorrentes. Esse valor econômico diz respeito à dierença entre os beneícios percebidos pelo consumi- dor dos custos econômicos totais que a empresa tem em desenvolver e vender os bens e serviços adquiridos por esse consumidor.Ou seja, quanto mais essa dierença or positiva e os beneícios percebidos pelos consumidores superarem os dispêndios da empresa na produção e dis- tribuição,maior será a vantagem competitiva (BARNEY; HESTERLY, 2011). A vantagem competitiva, nesse sentido, pode se congurar como sustentável ou temporária, da mesma orma que ocorre com a des- vantagem competitiva. Quando uma empresa cria um valor econômico igual ao de suas rivais, temos uma paridade competitiva; quando ela cria um valor inerior, há uma desvantagem competitiva. Duas medidas são signicativas em relação à vantagem competitiva das empresas: o desempenho nanceiro e o desempenho econômico. O primeiro se reere aos recebimentos e perdas das empresas por meio de índices de lucros e dispêndios, que são utilizados na comparação com o desempe- nho nanceiro de outras empresas. O segundo, no entanto, compara o quanto a empresa tem de retorno no que diz respeito ao seu custo de 78 Gestão financeira estratégica capital, isto é, o desempenho econômico mede a taxa de retorno que a empresa se propôs a entregar para seus investidores no intuito de que eles investissem na empresa (BARNEY; HESTERLY, 2011). O processo de administração estratégica é uma orma da empre- sa determinar a estratégia que quer seguir, com base num conjunto de análises e decisões que a levem a obter vantagens competitivas. O início do processo de administração estratégica pode ser entendi- do quando a empresa identica sua missão, sua nalidade em longo prazo. Por meio dos objetivos estabelecidos, as empresas conseguem avaliar se estão conseguindo alcançar a missão estabelecida. Outro aspecto undamental do planejamento estratégico é quan- do a empresa passa a mapear seus ambientes interno e externo, estabelecendo, para o interno, suas orças e raquezas organizacio- nais e identicando, para o externo, suas oportunidades e ameaças. Com essa erramenta de mapeamento, o gestor consegue azer uma escolha estratégica. Ameaças podem ser, por exemplo, os chamados novos entran- tes – empresas que iniciam suas atividades em determinado setor ou ameaçam entrar no mercado e passam a concorrer com aquelas ali já estabelecidas. Barreiras à entrada, por sua vez, são atributos que um setor tem e que dicultam a entrada de qualquer organização, ou seja, exercem resistência às empresas entrantes. Quanto maior or o custo de uma empresa em entrar em determinado setor, maior será essa barreira. Um exemplo de barreira à entrada são as economias de esca- la, em que uma organização consegue diminuir seus custos em unção do aumento da quantidade que produz. A dierenciação de produtos e serviços também se caracteriza como uma barreira, assim como as vantagens de custos independentes. Além disso, são exemplos de barreiras à entrada: a adoção de determinadas tecnologias ou o desenvolvimento de tecnologias próprias; o chamado know-how gerencial, isto é, o conhecimento e inormações extremamen- te relevantes de determinadas empresas de setor especíco; o acesso acilitado de matérias-primas pelas empresas estabelecidas; as van- tagens de custo em processos de aprendizagem das empresas es- tabelecidas; e até mesmo as políticas governamentais que possam Estratégias corporativas e planejamento 79 dicultar entradas de empresas em determinados setores, como as regulamentações especícas. Ameaças podem ser relacionadas a empresas que se conguram como substitutas, conorme os produtos e serviços que oerecem, as- sim como o acesso aos ornecedores e compradores. No entanto, as orças podem ser: oportunidades de se consolidar em determinados setores, chamados de fragmentados por se caracterizarem por empre- sas pequenas ou de médio porte; e chances de a empresa ser pioneira em setores emergentes, por exemplo, por meio de liderança tecnológi- ca, pela posse de ativos com valor signicativo de mercado, na criação de mudanças para o consumidor, entre outras. Há, também, uma orma de classicar a estratégia em duas: a estra- tégia a nível de negócios, que se reere à liderança em custos e dieren- ciação de produtos, e a estratégia a nível corporativo, que diz respeito à integração vertical, aliança estratégica, diversicação, usão e aquisição (BARNEY; HESTERLY, 2011). Ou seja, por meio da adoção de dieren- tes erramentas, de acordo com a necessidade que o gestor estabelece para a empresa, notamos as possibilidades de tomada de decisão e os dierentes caminhos que a administração estratégica oerece. Nesse sentido, com as avaliações dos gestores, diante da escolha es- tratégica, tem-se o processo de implementação, o que implica em proje- tos de remuneração para as estratégias corporativas, políticas de controle gerencial e decisões sobre as estruturas organizacionais. É importante destacar, como visto, que o processo de gestão estra- tégica, em relação à avaliação, tomada de decisão e implementação, não acontece necessariamente por meio do uso de todas essas er- ramentas, em determinado período de tempo e de maneira concomi- tante. A estratégia pode acontecer conorme os gestores se deparam com as questões a serem resolvidas e mudanças imprevistas, tanto em relação aos aspectos internos quanto aos externos à empresa. É por esse motivo que entendemos a administração estratégica como um modo de se azer estratégia por meio da obtenção de vanta- gens competitivas, podendo ser considerada uma orma de se realizar uma gestão organizacional, haja vista a innidade de erramentas, pro- cessos e demais aspectos que envolvem o mundo das organizações. Um livro clássico do planejamento estratégico na área de administração é Safári da estratégia: um roteiro pela selva do plane- jamento estratégico. Neste livro, os autores deter- minam a importância da estratégia, bem como os diferentes aspectos e formas em que ela pode ser desenvolvida, em uma narrativa expressi- vamente didática, tanto para alunos quanto para interessados no universo da gestão. MINTZBERG, H.; AHLSTRAND, B.; LAMPEL, J. Porto Alegre: Bookman, 2010. o 80 Gestão financeira estratégica CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando os conceitos, indicadores, tipos de análises, processos de administração estratégica e demais aspectos e elementos apresentados neste capítulo, podemos entender a importância do conhecimento sobre o tema do planejamento estratégico no mundo organizacional. As empresas, por meio de sua estrutura de gestão, se organizam e buscam, constante- mente, se estabelecer em seus mercados e desenvolver seus negócios. Com isso, percebemos a necessidade de conhecer as ferramentas or- ganizacionais, especialmente no que se reere à gestão fnanceira, a fm de que a empresa tenha uma estratégia condizente com suas necessidades internas e esteja apta a atender e dialogar com o ambiente externo, bus- cando alcançar seus objetivos e se consolidando em longo prazo. ATIVIDADES 1. Com relação à estrutura de tomada de decisão empresarial fundamental para as empresas, discorra sobre os tipos de decisões fnanceiras que os gestores devem conhecer. 2. Sobre a análise fnanceira, descreva sua importância e cite quais aspectos podem ser impactados por ela na gestão das empresas. 3. Conceitue administração estratégica e sua relação com a gestão empresarial. REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012. BARNEY, J. B.; HESTERLY, W. S. Administração estratégica e vantagem competitiva. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. REIS, T. Análise de indicadores: conheça a importância de levá-los em conta. 2018a. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/analise-indicadores/ Acesso em: 10 jul. 2020. REIS, T. Análise nanceira: conheça o negócio para melhorá-lo. Suno Research, 2018b. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/analise-nanceira/ Acesso em: 10 jul. 2020. REIS, T. Análise vertical e horizontal: aprenda na prática como azer. Suno Research, 2018c. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/analise-vertical-e-horizontal/ Acesso em: 10 jul. 2020.REIS, T. Modelagem nanceira: entenda como unciona essa erramenta. Suno Research, 2019. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/modelagem-nanceira/ Acesso em: 10 jul. 2020. Gabarito 81 GABARITO 1 Fundamentos da gestão fnanceira estratégica 1. A alocação de recursos envolve a otimização no uso dos recursos para que a empresa tenha capacidade de atingir seus objetivos. Por isso, a alocação de recursos implica aos gestores nanceiros o conhecimento de todo o funcionamento da empresa, melhor dizendo, os gestores precisam entender como todas as áreas da empresa interagem. Isso signica dizer que os gestores devem ter visão integrada dos setores de atuação, pois, dessa maneira, é possível entender como cada setor produz e interage com outro, e assim quanto recurso tem disponível e como é possível trabalhar de orma eciente com esses recursos. 2. As unções nanceiras estão na identicação dos investimentos que vão constituir as formas de produção, que vão estruturar a empresa, como instalações, máquinas, os imóveis. Outras funções se referem ao estabelecimento das atividades operacionais, bem como a locação de recursos para sua realização – dispêndio de mão de obra, pagamento de salários, demais despesas, outros custos. O nanciamento das operações, a aplicação de recursos em estoques, por exemplo, a obtenção de recursos nas instituições nanceiras, assim como as receitas de vendas e a forma como será a distribuição de lucros. 3. O objetivo principal é que as empresas tenham retornos nanceiros que justiquem e compensem sua exposição aos riscos assumidos em determinadas decisões, transações, investimentos, novas atividades, entre outras situações do dia a dia. Essa recompensa ao risco se refere aos resultados econômicos e nanceiros, normalmente relacionados a períodos de médio a longo prazo. 2 Gestão de caixa e capital de giro 1. O fuxo de caixa direto é o mais utilizado pelas empresas, pois analisa semdescontosquantoaempresa registroudeentradas (recebimentos) e saídas (pagamentos). A disponibilização das informações, assim, é feita diariamente. Outro tipo de forma de se registrar o ciclo de caixa da empresa é o livre, que se reere ao fuxo de caixa operacional (o quanto dele) a empresa obteve depois de ter realizado todos seus gastos. Esse fuxo se reere ao valor presente da empresa, o que ca disponível para ser utilizado. 82 Gestão financeira estratégica 2. O fuxo de caixa dos investimentos ou caixa líquido das atividades de investimento é o segmento que registra as entradas e saídas referentes aos investimentos que a empresa realiza. Caso a empresa compre um terreno, por exemplo, esse desembolso é registrado como uma saída de caixa. A venda de um terreno, em contrapartida, é registrada como uma entrada de caixa. Já o caixa líquido das atividades de nanciamento registra as transações que se reerem a estrutura de capital da empresa, como a variação de caixa, a obtenção e pagamento de empréstimos, o retorno de ações, entre outras atividades. 3. Sobre as despesas, podemos classicá-las para melhor compreender comosedá a composiçãodos ciclos operacional e nanceiro. A despesa administrativa, por exemplo, é aquela que não está relacionada de orma direta com a produção, reere-se normalmente às questões administrativas, como contas de telefone, recepção, dispêndios com limpeza, departamento jurídico. Podem ser chamadas também de gastos gerais. As despesas operacionais, entretanto, estão relacionadas as atividades da produção de bens e serviços, a matéria-prima de ato. Isto quer dizer que, havendo uma mudança na quantidade produzida pela empresa do produto x, os custos operacionais mudam, mas os custos administrativos se mantêm estáveis. 4. O capital de giro pode ser representado com a seguinte relação: Ativo Circulante – Passivo Circulante = capital de giro. O Ativo Circulante se refere aos chamados ativos da empresa, que são, por exemplo, o caixa, os estoques, as aplicações nanceiras, as contas a receber, entre outros recursos que indicam as entradas e/ou recursos disponíveis da empresa. O Passivo Circulante, por sua vez, indica as obrigações de curto prazo da empresa, como pagamento de fornecedores, contas a pagar, dívidas e demais dispêndios. 3 Orçamento, preço e custo 1. MC = receita das vendas – custos e despesas variáveis. Essa equação se refere ao cálculo da margem de contribuição. Receita de vendas é o valor calculado da soma entre os custos xos e variáveis com as despesas xas e variáveis mais o lucro – no cálculo da receita líquida. Para o cálculo da receita bruta fazemos essa soma e ainda somamos o valor dos tributos. Os custos e despesas variáveis são calculados a partir da identicação deles, utilizando a erramenta de fuxo de caixa, por exemplo, e azendo a soma entre custos e despesas não xos que a empresa tem. O conhecimento da margem de contribuição é importante para o gestor nanceiro porque é a dierença entre a Gabarito 83 receita de uma venda e os seus custos diretos e indiretos, ou seja, o valor da margem de contribuição é o quanto sobra do valor da venda do produto e/ ou serviço após o pagamento de todos os custos e despesas. A margem de contribuição mostra então o quanto uma empresa consegue gerar de capital para continuar funcionando e o quanto gera de lucro em determinado período. 2. O custo de transação está relacionado ao lucro líquido gerado pela empresa – o quanto a empresa gasta com manutenção de suas atividades bem como o quanto gasta na realização de suas transações. Nomomento da escolha de qual transação fazer, o tomador de decisão deve tentar maximizar suas informações para buscar o máximo de conhecimento possível a respeito do que se quer entender. Outro fator a ser considerado no cálculo do custo de transação é a especicidade do produto, quanto mais especíco or um produto, um serviço, um ativo, uma situação, maior será o custo de transação. O gestor deve se atentar ao oportunismo porque os agentes econômicos têm interesses diferentes e, muitas vezes, podem buscar agir conforme esses interesses, causando incerteza e instabilidade na realização e cumprimento de contratos. 3. O planejamento orçamentário é uma ferramenta que auxilia o gestor na organização das atividades e nanças empresariais para que seja possível conhecer quanto de dinheiro a empresa tem, quanto precisará despender para que consiga desenvolver suas atividades e quanto deverá faturar para atingir seus objetivos. Para a elaboração de um orçamento, o gestor precisa ter conhecimento de alguns indicadores nanceiros da empresa, undamentais para que seja possível realizar um planejamento eciente para determinado período. O planejamento orçamentário é estratégico porque se dá em consonância com a estratégia estabelecida pela empresa, isto é, de acordo com os objetivos e demais aspectos que a empresa busca melhor desenvolver. Nesse sentido, a previsão orçamentária ocorre a partir de relatórios e demais documentos advindos de diferentes funcionários e por parte dos gestores no que diz respeito a tudo que precisa ser planejado e mensurado. 4 Decisões, análise de investimentos e riscos 1. A avaliação de investimentos tem importância signicativa para as empresas e também para os investidores, pois direciona a sua tomada de decisão. A partir dela, é possível analisar as possibilidades dos desdobramentos de um determinado investimento, como o grau de segurança, de risco e até mesmo a prosperidade do investimento. 84 Gestão financeira estratégica 2. Há três tipos de riscos nanceiros: liquidez, crédito e mercado. O risco de liquidez é aquele que a empresa sofre quando não é capaz de cumprir seu passivo nanceiro. O risco de crédito ocorre quando o credor está vulnerável à possibilidade de não recebimento. O risco de mercado acontece quando a empresa tem ações na bolsa de valores, caso ocorram oscilações de preços e cotações. 3. A criação de valor consiste em dizer que os produtos e/ou serviços oferecidos por uma empresa são vistos pelos clientes comodiferenciados se comparados aos produtos e serviços ofertados por outras empresas, ou seja, a agregação de valor se refere a criar significado na compra de produtos e/ou serviços para além do valor pago pelo cliente. 5 Estratégias corporativas e planejamento 1. As decisões nanceiras nas empresas se reerem a: investimentos, ligados à aplicaçãode recursos; nanciamento, relacionados à captação de recursos; e dividendos, que remetem à alocação dos resultados líquidos das empresas. As decisões nanceiras de investimento e nanciamento, dessa orma, devem ser tomadas demaneira integrada, já que representam duas importantes áreas de decisão das empresas. As decisões nanceiras devem ser tomadas conorme o ambiente econômico, tentando ao máximo aproximar as projeções da realidade das empresas em seus cenários de atuação. 2. A análise nanceira, por meio de um conjunto de aspectos, indicadores e variáveis, acompanham a vida nanceira de uma empresa. Com as análises nanceiras, é possível visualizar oquedeve sermelhoradoe/ou priorizado, quais são as operações que estão desajustadas, os gastos em excesso, o status dos investimentos, a realocação dos recursos, entre outros pontos que devem ser identicados e trabalhados. 3. A administração estratégica pode ser entendida como fundamental paraasustentaçãodasempresas, fornecendo ferramentas importantes de gestão, como aquelas que levam as empresas a garantir suas vantagens competitivas. Nesse sentido, a estratégia empresarial pode ser entendida como aquela capaz de fazer com que a empresa crie e mantenha vantagens diante de sua concorrência.relacionadas a toda estruturação do fuxo de recursos que são denidos e desenvolvidos nas empresas. Nesse sentido, segundo Braga (1989), a alocação de recursos e os objetivos e atividades das empresas se fundam a partir de como elas denem e desenvolvem suas unções. As duas tareas essenciais que norteiam essas funções são a aquisição dos recursos para a empresa da forma mais proveitosa possível, com relação à facilidade de acesso, e a alocação eciente desses recursos. Dessa orma, garantir um fuxo de recursos, alocando-os e orga- nizando-os, garantir liquidez e rentabilidade, estabelecer metas para a administração nanceira, utilizar de orma eciente as inormações relacionadas à contabilidade, conhecer e desenvolver as áreas de de- cisões nanceiras, organizando de maneira eciente o setor nanceiro da empresa, contemplam, de modo geral, as funções da administração nanceira estratégica (BRAGA, 1989; HOJI, 2012). A partir disso, entendendo um pouco melhor quais são as funções da administração nanceira, perguntamos: o que signica essa admi- nistração ser estratégica? A importância de conhecer as funções da gestão nanceira é nortear quais são os elementos e aspectos a serem pensados e desenvolvidos com relação ao universo nanceiro da em- presa. No entanto, essas funções só se tornam fundamentais para a gestão nanceira quando entendidas pelo ponto de vista da estratégia. 14 Gestão financeira estratégica Estratégia é um conceito polissêmico, isto é, estratégia é um constru- to que possui dierentes signicados, dependendo da vertente teórica e do contexto em que é empregada. No entanto, quando falamos em economia e nanças, especicamente, podemos pensar na estratégia como o caminho que a empresa traça para alcançar vantagens compe- titivas. Vantagens competitivas são atributos que diferem a empresa de seus concorrentes, isto é, quando a empresa consegue gerar maior valor econômico nomomento em que é comparada às suas concorren- tes (BARNEY; HESTERLY, 2011). Nesse sentido, ainda segundo os autores, por meio da estratégia, a empresa pode minimizar a probabilidade de realização de erros, ao passo que acompanha, de forma sistemática, o processo de adminis- tração estratégica. Essa administração se refere a um conjunto de as- pectos que busca orientar a empresa à adoção do que seria a melhor estratégia possível, para que a empresa atinja seus objetivos e, espe- cialmente, obtenha vantagens competitivas. Além das vantagens competitivas, há demais conceitos e aspec- tos que se associam à gestão financeira estratégica e que compõem o processo de gestão estratégica da empresa, com relação tanto aos aspectos e elementos da dinâmica interna à empresa quanto à dinâmica externa. 1.3 Objetivos e atividades das empresas Vídeo Os objetivos e atividades das empresas que dão sustentação para a gestão nanceira estarão, muitas vezes, voltados para que a empresa priorize seu valor de mercado, o que signica buscar a maximização de sua riqueza. Segundo Hoji (2012), essa valorização dos recursos se refere tanto aos bens físicos e materiais das empresas, quanto ao seu capital investido, se esse for o caso. Como objetivo principal, as empresas buscam ter retornos fi- nanceiros que justifiquem, melhor dizendo, compensem sua ex- posição ao risco assumido em determinadas decisões, transações, investimentos, novas atividades, entre outras situações do dia a dia. Essa recompensa ao risco se refere a resultados econômicos e financeiros, normalmente relacionados a períodos de médio a longo prazo (HOJI, 2012). A visualização de como estratégias pessoais e empresariais podem coincidir e confitar, não deixando de lado aspectos polêmicos sobre as escolhas estratégicas, mas não menos inspira- dores, está implicada no lme The Founder ou, em português, Fome de Poder, lançado em 2016. Direção: John Lee Hancock. Diamond Films. 2016. e Fundamentos da gestão financeira estratégica 15 Com isso, a empresa pode ser entendida como um sistema que visa reproduzir e aumentar os recursos financeiros nela investi- dos, tanto em âmbito privado quanto público (BRAGA, 1989). Para Hoji (2012), a empresa pode ser entendida como um sistema que unciona de orma dinâmica – aberta ao ambiente – porque deve representar os interesses dos diferentes atores que estão a ela re- lacionados, como os administradores, aqueles que lidam com os aspectos da gestão de forma direta, os colaboradores e as demais esferas que integram o ambiente em que a empresa opera, além do governo, dos fornecedores, dos clientes e demais parceiros. Entender a empresa como esse sistema que visa criar e gerar rique- zas implica reconhecer seus integrantes, administradores, colaborado- res e parceiros e também as características do ambiente em que está inserida, como, por exemplo, se caracteriza seu setor produtivo, o setor de serviço que oferece, o ambiente virtual em que atua. Por isso, as atividades empresariais podem ser dierenciadas e classicadas. Uma forma de diferenciação é entre atividades de operações, de investimen- tos e de nanciamentos (HOJI, 2012). As atividades operacionais dão estrutura ao aspecto operacio- nal da empresa, ou seja, azem reerência às atividades de geração de lucro, das contas, compra e venda das matérias-primas, dos ele- mentos que envolvem a prestação de serviço – como distribuição, aluguel, elaboração dos salários, aspectos jurídicos, controle das contas, entradas e saídas de recursos –, quando or o caso, entre outros aspectos que integram as atividades básicas e estruturantes da empresa. Dessa orma, segundo Hoji (2012), podemos classicar as atividades operacionais como aquelas que dão forma ao planeja- mento estratégico empresarial. As atividades de investimento, por sua vez, são aquelas que dão suporte às atividades operacionais, caso a empresa trabalhe com as contas de investimentos, sejam eles temporários ou os chamados per- manentes. Os investimentos, nesse caso, referem-se aos recursos apli- cados que, quase sempre, servem para estruturar a empresa, como a obtenção de máquinas e equipamentos ou demais bens de valor con- siderável e que estruturam a capacidade produtiva da empresa, e/ou o capital que é aplicado (HOJI, 2012). 16 Gestão financeira estratégica Ainda, Hoji (2012) explica que as atividades de nanciamentos são aquelas que refetem as decisões da empresa com relação à orma como irá nanciar suas atividades de operações e de investimentos. Quando são estudadas as contas nanceiras – aquelas que se reerem aos chamados ativos e passivos fnanceiros –, é possível entendermos que as atividades de nanciamentos são aquelas que caracterizam as contas do passivo nanceiro e também do chamado Patrimônio Líquido. Quando, então, pensamos na empresa como um sistema que deve buscar gerar riquezas por meio de seus integrantes e realização de suas atividades – sendo elas operacionais, de investimentos e nancia- mentos –, podemos entender a empresa como esse sistema dinâmico que unciona pela existência de ciclos (HOJI, 2012). Os ciclos, nesse sentido, são o operacional – quando se pensa na atividade inicial de compra de matéria-prima e no recebimento da venda, por exemplo –, em que o ciclo é o tempo existente entre o prazo de rotação dos estoques e o prazo de receber pela venda efetuada; o ciclo econômico, que representa desde o processo de compra de matéria-prima até a venda do produto fabricado, quando a empresa recebe pela venda de determinado produto e/ou serviço advindo dessa matéria-prima. Assim, o ciclo econômico ocorre en- quanto a empresa desembolsa com a compra das matérias-primas. O ciclo nanceiro, no entanto, normalmente se caracteriza pelo iní- cio da compra da matéria-prima com o primeiro recebimento refe- rente à venda (HOJI, 2012). Esses processos chamados também de ciclos são classicados em estratégias, ferramentas e instrumentos, que são base para a gestão, ou seja, para a administração nanceira das empresas. É importante ressaltar, a partir dessas considerações, que a denição doobjetivo da empresa não é algo fácil de se fazer porque implica se orientar ou para satisfação dos proprietários ou para o que pode ser a atribuição de um bem-estar social (NETO, 2012). Nesse sentido, a maximização do lucro como objetivo principal da empresa está sujeita a diversas controvérsias, principalmente porque não mensura, por exemplo, o quanto a empresa é capaz de efetuar seus pagamentos. Não leva em consideração o risco, sendo o lucro en- tão uma medida de desempenho que, no longo prazo, não leva em conta os riscos associados às atividades da empresa. Da mesma forma, Para entender um pouco mais sobre o que é o valor de mercado e como a empresa caminha na construção do seu valor, agregando seus objetivos buscando sempre ser bem-sucedida, especial- mente no quesito die- renciação, em que preço não é entendido como valor, o livro “Como Vender Valor: O revolucionário sistema Venda + Valor para resolver os problemas dos clientes e vencer” é uma dica interessante de leitura e refexão. ROCCATO, P. L. 2. ed. São Paulo: Editora Portal do Canal, 2018. o Fundamentos da gestão financeira estratégica 17 o lucro não demonstra como os resultados da empresa podem ser dis- tribuídos ao longo do tempo (NETO, 2012). Por essas avaliações, segundo Neto (2012), é que o chamado valor de mercado se caracteriza como um critério bem utilizado para indicar a tomada de decisões nanceiras na empresa. O valor de mercado é a riqueza dos acionistas, e é por meio de instrumentos decisórios – como fuxos de caixa, taxa de atratividade e risco, isto é, expectativas dos investidores, que podem se alterar ao longo do tempo – que se deter- mina o valor de mercado de uma empresa. Assim, os objetivos e atividades da empresa estão constantemen- te sendo alinhados para que haja geração de riqueza, isto é, para o aumento do valor de mercado da empresa. Para isso, como colocado anteriormente, existem diferentes ferramentas e indicadores para nortear a tomada de decisão. No entanto, o gestor nanceiro é um administrador que deve estar além de dados descritivos e ser um en- tendedor de todo o contexto em que a empresa está inserida, conhe- cendo sua dinâmica e buscando explicações cada vez mais completas sobre as mudanças de comportamentos nanceiros e no âmbito da economia de forma geral. CONSIDERAÇÕES FINAIS Conhecer os undamentos da gestão nanceira estratégica pode aci- litar a orma como indivíduos, sendo gestores ou não, melhor compreen- dem as atividades que envolvem os âmbitos econômico e nanceiro das empresas, sejam atividades do contexto operacional ou do contexto da tomada de decisões estratégicas. Diante da complexidade da sociedade moderna e das consequências da globalização em todos os setores, especialmente no nanceiro, as transormações constantes na economia demandam maior capacitação de gestores e colaboradores no entendimento dos novos papéis das or- ganizações atuais, especialmente no que se reere à competitividade e sobrevivência das empresas a longo prazo. Nesse sentido, para participar dos processos, atividades e decisões do setor nanceiro, é preciso que mais e mais pessoas sejam capacitadas e conheçam a área nanceira, o que vai além da descrição de números e re- gistros contábeis, mas buscar explicações cada vez mais completas para as questões que constantemente emergem na realidade empresarial. 18 Gestão financeira estratégica ATIVIDADES 1. Por que a visão holística do gestor é importante na alocação eciente de recursos para a empresa? 2. Sobre as dierentes unções desenvolvidas pela área nanceira, é preciso entender quais são e como os recursos se movimentam na empresa, relacionando as unções com o fuxo de recursos que estão em constante circulação. Nesse sentido, descreva quais são essas unções que são desenvolvidas pela área nanceira. 3. Sabendo que a maximização da riqueza é buscada incessantemente pelas empresas, explique qual é o objetivo principal do exercício da gestão nanceira estratégica que corrobora para que a organização valorize sua riqueza. REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012. BARNEY, J. B.; HESTERLY, W. S. Administração estratégica e vantagem competitiva. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. BRAGA, R. Fundamentos e técnicas de administração fnanceira. São Paulo: Atlas, 1989. HOJI, M. Administração fnanceira: uma abordagem prática. São Paulo: Atlas, 2012. Gestão de caixa e capital de giro 19 2 Gestão de caixa e capital de giro Neste capítulo, os temas tratados referem-se ao caminho per- corrido pelos recursos nanceiros dentro da empresa, a orma como esses recursos são alocados em atividades e operações essenciais para o funcionamento diário da empresa, consideran- do-se o curto prazo e, ao mesmo tempo, direcionando-se para períodos posteriores. Aqui conheceremos dois instrumentos importantes da gestão nanceira: o ciclo ou fuxo de caixa e o capital de giro. Tratando- se de como os gestores organizam as atividades empresariais, em operacionais, de investimento e nanciamento, assim como no foco das entradas e saídas de recursos no curto prazo, apresen- taremos dierentes ormas de registrar as operações nanceiras. Para isso, abordaremos conceitos relacionados aos dispên- dios nanceiros – como despesas, custos e gastos – e aos incen- tivos e o crédito. 2.1 Ciclo e controle de caixa Vídeo O caixa da empresa se refere ao que chamamos de fuxo de caixa. Conhecido também como ciclo de caixa, trata-se do registro das en- tradas e saídas de capital líquido no exercício nanceiro das empre- sas em determinado período. O demonstrativo do fuxo de caixa (DFC) documenta as entradas e saídas de caixa da empresa em um período especíco e, por isso, é um registro indispensável para que se aça uma análise eciente da viabilidade nanceira de determinada empresa. O fuxo de caixa pode ser dividido em três segmentos de análise, o operacional, de investimentos e de nanciamentos. O segmento opera- cional descreve, por exemplo, a receita advinda das vendas; o segmento de investimentos descreve o quanto a empresa tem investido ou precisa 20 Gestão financeira estratégica investir; e o segmento de nanciamentos apresenta como a empresa - nancia suas operações, isto é, quais são as ontes do capital utilizado para investir. Fontes de investimento e nanciamento podem ser, por exemplo, empréstimos em bancos, capitalização por meio de títulos e por meio da aplicação de investidores, entre outros (WAINBERG, 2018a). O ciclo de caixa representa a quantidade de liquidez que a empresa tem disponível, por isso é tanto um registro fundamental para identi- car a saúde nanceira quanto um dado importante para investidores interessados em determinada empresa. Pensando dessa maneira, como os agentes nanceiros podem op- tar por investir em uma empresa ao invés de outra a partir da análise do fuxo de caixa? É simples. Quando positivo, o ciclo de caixa mostra que a empresa tem receita líquida crescente, o que signica dizer, por exemplo, que ela pode liqui- dar suas dívidas, é capaz de remunerar seus investidores, reinvestir no próprio negócio, entre outras situações. Já quando se encontra negati- vo, o ciclo de caixa aponta que a empresa tem diculdades para realizar suas operações e, dependendo do tempo em que ca nessa situação ruim, indica que suas operações se inviabilizam ainda mais, o que se congura em um cenário muito preocupante. Dessa orma, o fuxo de caixa, sendo o registro de tudo que entra e sai da empresa, é importante independentemente do tamanho do empreendimento – pequeno, médio ou grande –, e da quantidade de capital envolvida em suas operações, porque indica de orma precisa a quantidade de dinheiro disponível para o desenvolvimento das ati- vidades da empresa. Pelo fato de as empresas se diferenciarem em necessidades, características de operações, clientela, entre outros ato- res, existem também tipos distintos de fuxos de caixa. O fuxo de caixa diário é aquele muitas vezes praticadopelas em- presas que realizam uma quantidade signicativa de transações nan- ceiras diárias, como restaurantes, lojas, mercados, entre outras. Esse modelo de registro se reere especicamente aos recursos que entram e saem da empresa em determinado dia. Para um período maior, essa análise não traz contribuições. Outro modelo é o chamado fuxo de caixa simples, utilizado em empresas menores, que possuem uma quantidade razoável de ope- Gestão de caixa e capital de giro 21 rações diárias e/ou semanais e registram de orma simplicada as ati- vidades nanceiras. São anotações que se reerem ao resultado da conta de subtração entre tudo que entrou e tudo que saiu de recursos em determinado período. É uma orma eciente de registrar, no en- tanto, mesmo que simplicada, é preciso que o fuxo de caixa simples seja eito com critérios. O fuxo de caixa direto, entretanto, é o mais utilizado pelas empre- sas, pois analisa, sem descontos, o quanto a empresa registrou de en- tradas (recebimentos) e saídas (pagamentos). Assim, as inormações são disponibilizadas diariamente (WEINBERG, 2018a; REIS, 2019). O fuxo de caixa operacional, outro modelo, refere-se somente às receitas e despesas em determinado período, no qual é feita a soma do lucro antes mesmo de descontar os juros e impostos pagos pela empresa. O ciclo operacional não deixa de registrar o faturamento em- presarial, porém não registra se há necessidade de capital de giro e não contabiliza os investimentos. Outra forma de se registrar o ciclo de caixa da empresa é o livre, que se reere ao fuxo de caixa operacional, isto é, o quanto a empresa ob- teve dele depois de ter realizado todos seus gastos. Esse fuxo se reere ao valor presente da empresa, o que ca disponível para ser utilizado (WEINBERG, 2018a). Uma outra orma de registar as atividades nanceiras da empresa é o fuxo de caixa indireto. Neste ciclo, a base é o chamado Demonstrativo de Resultado do Exercício (DRE), sendo assim, o gestor utiliza os lucros e prejuízos advindos das inormações contábeis e Balanço Patrimonial para saber quanto a empresa tem disponível de ativo em liquidez. Como se ba- seia nos valores de lucro e prejuízo, o registro de caixa indireto pode apre- sentar distorções preocupantes nos resultados,mesmo sendo uma orma simplicada de registrar as operações nanceiras (WEINBERG, 2018a). Outro tipo de registro é o chamado ciclo de caixa projetado. Além de registrar, o gestor nanceiro analisa as entradas e saídas de recursos, podendo então azer projeções para as uturas operações. Com ele, o responsável pelo registro e pela análise passa a ser estratégico, pois começa a gerir investimentos que podem vir a ocorrer, az projeções de pagamentos e recebimentos, consegue corrigir falhas conforme anali- sa o que pode estar sendo gasto sem necessidade e onde podem haver oportunidades de recebimentos (WEINBERG, 2018a). Balanço Patrimonial é um tipo de demonstração em forma de relatório que apresenta as situações econômica e contábil da empresa, pois registra as infor- mações relativas a bens, valores e direitos que a empresa possui em determinado período. O Balanço Patrimonial é constituído por três principais grupos de contas, o Ati- vo Circulante, o Passivo Circulante e o Patrimônio Líquido. aia ai 22 Gestão financeira estratégica Por m, há, ainda, o ciclo de caixa chamado descontado. Por meio dele, são eitas projeções do quanto a empresa poderá gerar de re- cursos no futuro, e é essa medida que estabelece seu valor presente. Nesse sistema de caixa, dois aspectos são levados em consideração, o risco e o retorno, variáveis importantes que se reerem a possíveis resultados uturos e descontos do fuxo de caixa. O ciclo de caixa des- contado permite que seja estimado um valor de investimento, bem como riscos e oportunidades a ele implicados (WEINBERG, 2018a). Tendo em vista as diferentes formas de se registrar os ciclos de cai- xa, é possível entender como a análise desse fuxo de operações é un- damental para a empresa, tanto na realização e manutenção de suas atividades quanto para a avaliação dela no mercado. Por isso, para os investidores, é tão relevante conhecer e analisar os ciclos de caixa. Nesse sentido, vamos entender melhor como se constitui um fuxo de caixa. É preciso ter emmente que, por meio do fuxo de operações e do fuxo de nanciamentos, a empresa tem acesso aos recursos, e, por meio do fuxo de investimentos, ela mostra como utiliza esses recursos. O fuxo de caixa das operações, ou caixa líquido das atividades operacionais, reere-se ao lucro líquido gerado a partir das operações, além de ser a primeira conta no DRE. Forma-se o resultado de caixa das operações quando são descontadas transações que não aetam o caixa, como depreciação, impostos dieridos, depreciação, provisões para devedores, entre outras. Por sua vez, o fuxo de caixa dos investimentos, ou caixa líquido das atividades de investimento, é o segmento que registra as entradas e saídas reerentes aos investimentos que a empresa realiza. Caso a em- presa compre um terreno, por exemplo, esse desembolso é registrado como uma saída de caixa. A venda de um terreno, em contrapartida, é registrada como uma entrada de caixa. Já o caixa líquido das atividades de nanciamento registra as tran- sações que se reerem à estrutura de capital da empresa, como a va- riação de caixa, a obtenção e pagamento de empréstimos, o retorno de ações, entre outras atividades. A partir do entendimento de como o fuxo de caixa é composto, in- dependentemente do tipo de modelo que o gestor nanceiro adote para a empresa, podemos, assim, representar o ciclo de caixa empre- sarial por meio dessas relações: Gestão de caixa e capital de giro 23 Caixa inicial + caixa líquido das atividades operacionais + caixa das atividades de investimento + caixa das atividades de nanciamento = caixa nal de determinado período. Essas relações entre os componentes do ciclo de caixa também apontam para a importância de conhecermos e analisarmos o ciclo de caixa de uma empresa. Quando o gestor avalia as operações que compõem o fuxo de caixa, ele pretende entender como a empresa está operando, por exemplo, se positivamente, ou seja, obtendo boas margens, tendo despesas compatíveis com o previsto, isto é, se tem geração de fuxo de caixa (WAINBERG, 2018a). A partir dessas percepções, o gestor, e/ou demais interessados nas atividades da empresa, analisará como a empresa tem inves- tido, ou melhor dizendo, se as decisões tomadas estão gerando o retorno esperado, bem como se a empresa tem o potencial de investir cada vez mais na busca pelo crescimento e desenvolvimen- to do negócio. Se sim, será analisada também de que orma serão inanciados os investimentos, quais são os prazos de pagamento e os juros implicados nas atividades de inanciamento (WAINBERG, 2018a). Apesar de todas essas considerações, é relevante esclarecer que, mesmo sendo um indicativo undamental sobre a saúde da empresa, a análise do ciclo de caixa deve ser eita juntamente com a análise de outros indicadores signicativos para a empresa. Dessa maneira, quando alamos em ciclo e controle de caixa, nos reerimos à realização do demonstrativo de fuxo de caixa (DFC). A partir dele, é possível entender, de fato, como o caixa de uma empre- sa é gerado, porque são apresentadas as entradas e saídas de caixa registradas em um período especíco. Para exemplicar, como o fuxo de caixa pode ser elaborado de acor- do com a estrutura nanceira de cada empresa, podemos visualizar duas representações de DFC. Uma delas está na Figura 1, que apresen- ta ummodelo de DFC simplicado e, como pode ser visto na ilustração, tem como objetivo registrar as atividades diárias da empresa, por isso lemos “Movimento do Dia” na parte superior do fuxo de caixa. Uma dica para o melhor entendimento do Fluxo de Caixa e como elabo- rá-lo de forma prática a m de atender ao que determinada empresa necessita, é o livro Finan- ças para Autônomos, que aborda, além do fuxo de caixa,a explicação de demais conceitos e como se aplicam nas atividades nanceiras das empresas de acordo com suas necessidades. AMURI, E. São José dos Campos: Editora Benvirá, 2018. iro Para empresas classicadas como de capital aberto e aquelas cujo Patrimônio Líquido excede dois milhões de reais, o DFC é obrigatório, exigido pela Lei n. 11.638/2007. orae 24 Gestão financeira estratégica Figura 1 Modelo simplicado de fuxo de caixa ATIVIDADES Movimento do Dia Saldo Acumulado R$ US$ R$ US$ ATIVIDADES DE OPERAÇÕES Recebimento de vendas (-) Impostos sobre vendas e compras (-) Materiais e serviços (-) Salários e encargos sociais – ábrica (-) Custos indiretos de fabricação (=) Superavit (decit) bruto operacional (+) Outras receitas operacionais (-) Outras despesas operacionais (=) Resultado antes dos eeitos nanceiros (+) Juros recebidos *** *** (–) Juros pagos (+/-) Ganho (perda) com infação (+/-) Ganho (perda) na conversão (=) Superavit (decit) de operações ATIVIDADES DE INVESTIMENTOS (-) Investimentos permanentes – aplicação (-) Imobilizado – aplicação (-) Dierido – aplicação (+) Investimentos permanentes – venda/dividendos (+) Imobilizado – venda (+/-) Resultado não operacional (=) Superavit (decit) de investimentos ATIVIDADES FINANCEIRAS (+) Investimentos temporários – resgate (+) Empréstimos – captação (+) Integralização de capital (-) Investimentos temporários – aplicação (-) Empréstimos – amortização (-) Dividendo pagos (=) Superavit (decit) de nanciamentos CAIXA Superavit (decit) (A + B + C) (+) Saldo anterior (=) Saldo nal Fonte: Adaptada de Hoji, 2012, p. 152. Gestão de caixa e capital de giro 25 Podemos notar ainda que no modelo de DFC da Figura 1, apresen- tam-se três segmentosquepodemcomporo ciclo de caixa: as atividades operacionais, as atividades de investimento e as atividades nanceiras, reerentes às atividades de nanciamento. As operações caracteriza- das pelo sinal de (+) indicam as entradas de recursos, as operações sinalizadas com (-) relacionadas às saídas de recursos, em que se tem espaço para o resultado das operações (=) no nal de cada segmento, podendo apontar para um superavit (saldo positivo) ou decit (saldo negativo). Sobre as atividades presentes no DFC da Figura 1, destacamos algu- mas que podem não car muito claras quanto ao que se reerem. Na atividade Imobilizado – aplicação, o termo imobilizado se refere ao ativo ormado pelos bens que estruturam a empresa, ou seja, que são essen- ciais para a sua existência, como propriedades, automóveis, o próprio maquinário da empresa, entre outros bens tangíveis. Em Dierido – aplicação, o termo dierido diz respeito a uma despesa que foi feita no momento do registro e ainda não foi consumida, por isso pode ser chamada de despesa pré-operacional. Exemplos dessas despesas são custos com estudos, despesas com organização, propa- gandas, abertura de rma, dentre outros. Esses dispêndios são trata- dos como ativos diferidos porque são cobrados das despesas antes que os beneícios advindos deles sejam consumidos. A atividade Integralização de capital, ou dizendo de outra orma, ca- pital a integralizar, reere-se a uma parte do capital da empresa que ainda não az parte do caixa, ou seja, é o capital intencionado para ser investido na empresa, à vista ou parcelado, da parte de um sócio ou acionista, dependendo do contrato estabelecido. Outra atividade que pode ser destacada é Dividendos pagos, que se referem aos recursos pagos pelas empresas a seus acionis- tas, que podem ser remunerados em dinheiro ou por meio de juros sobre o capital. Esse pagamento ocorre para a corretora em que o acionista possui ação – o período de pagamento varia de empresa para empresa. Já a Figura 2 apresenta um modelo analítico de DFC, em que são discriminadas as operações das atividades operacionais e nancei- ras. Esse exemplo de modelo também se reere a uma movimenta- ção diária, e o que devemos destacar é que a escolha do modelo de 26 Gestão financeira estratégica DFC eita pelo gestor nanceiro, bem como o período que ele quer analisar devem atender às demandas e necessidades do empreen- dimento, por isso existem diferentes modelos e formas de dispor as atividades, sejam elas operacionais ou nanceiras, relacionadas aos investimentos e nanciamentos. Figura 2 Modelo analítico de fuxo de caixa ITENS E ATIVIDADES Movimentos do Dia Saldo Acumulado R$ US$ R$ US$ ATIVIDADES DE OPERAÇÕES 1. (+) Recebimento de vendas Vendas no mercado interno Vendas no mercado externo 2. (-) Impostos sobre vendas e compras ICMS IPI Outros impostos 3. (-) Materiais e serviços Matérias-primas Serviços contratados 4. (-) Salários e encargos sociais/ábrica Salários Encargos sociais 5. (-) Custos indiretos de fabricação Aluguel Manutenção industrial etc. 8. (-) Outras despesas operacionais Comissão sobre vendas Salários e encargos sociais Despesas com veículos Imposto de Renda Propaganda Outras despesas 10. (+) Juros recebidos Juros sobre investimentos temporários Juros de mora Resultados de hedge recebidos (Continua) Gestão de caixa e capital de giro 27 ITENS E ATIVIDADES Movimentos do Dia Saldo Acumulado R$ US$ R$ US$ 11. (-) Juros pagos Juros sobre empréstimos e nancia- mentos Juros de mora Resultados de hedge pagos 12. (-) Ganho (perda) com infação Sobre o saldo de caixa Sobre vendas nanciadas Sobre investimentos temporários ATIVIDADES FINANCEIRAS 22. (+) Investimentos temporários – resgate Fundos de investimento nanceiro Certicado de depósito bancário etc. 23. (+) Empréstimos – captação Empréstimos para capital de giro Financiamento de importação etc. 26. (-) Investimentos temporários – aplicação Fundos de investimento nanceiro Certicado de depósito bancário etc. 27. (-) Empréstimos – regaste Empréstimos para capital de giro Financiamento de importação etc. Fonte: Adaptada de Hoji, 2012, p. 153. No modelo analítico da Figura 2, também podemos destacar o sig- nicado de algumas atividades. Na atividade 11, constam os chamados juros de mora, que se referem a uma penalidade advinda do atraso da quitação de uma dívida. Na mesma atividade, está descrita a operação resultados de hegde pagos, em que o hegde é um fundo de investimen- to que se caracteriza por altas taxas de retorno, no qual os recursos são alocados sem levar em consideração políticas rígidas muitas vezes estabelecidas para a maioria dos outros fundos. Notamos ainda que, no DFC analítico da Figura 2, o registro ter- mina na atividade 27, que consta no segmento das atividades nan- ceiras. Para nalizar esse registro de caixa, é preciso, assim como aparece na Figura 2, echar o caixa, desse modo o saldo nal será (=) o saldo inicial (anterior ao período presente) (+) o saldo resultante do período presente (superavit ou decit). 28 Gestão financeira estratégica 2.2 Características do capital de giro Vídeo Capital de giro é o nome dado ao recurso nanceiro undamental que permite à empresa conseguir desenvolver suas atividades do dia a dia. É um recurso necessário para que a empresa tenha uma garantia nanceira no período posterior ao pagamento de salários, desembol- sos como custos e despesas, aquisição de estoques, entre outras situa- ções que caracterizam a rotina nanceira das empresas no curto prazo. Assim como o ciclo de fuxo de caixa é um indicador eciente para medir a saúde nanceira de uma empresa, o capital de giro também o é, além de possuir oco no curto prazo (REIS, 2018b). O capital de giro então pode ser representado com a seguinte relação: Ativo Circulante – Passivo Circulante = capital de giro O componente Ativo Circulante se reere aos chamados ativos da empresa que são, por exemplo, o caixa, os estoques, as aplicações - nanceiras, as contas a receber, entre outros recursos que indicam as entradas e/ou recursos disponíveis da empresa. O Passivo Circulante, por sua vez, indica as obrigações de curto prazo da empresa, como pa- gamentode ornecedores, contas a pagar, dívidas e demais dispêndios. Dada essa relação entre Ativo e Passivo Circulante, o que espera- mos do capital de giro é que ele seja um montante sempre positivo, isto é, que os ativos sejam sempre superiores aos passivos. Mas e as empresas que trabalham com vendas a prazo, por exemplo, como con- seguem se organizar? Vamos pensar sobre isso. Se os recebimentos se- rão uturos, mas os dispêndios presentes se mantêm estáveis, de que orma o gestor nanceiro pode se atentar à saúde nanceira de curto prazo? Melhor dizendo, como saberá se terá capital de giro para que as atividades da empresa não sejam prejudicadas? Para responder a essas perguntas, o gestor nanceiro deve se atentar aos seguintes aspectos: se está havendo redução de vendas, se há crescimento de inadimplência, se as despesas nanceiras estão aumentando, se os custos vêm aumentando, entre outros aspectos que mostram uma mudança de comportamento dos componentes - nanceiros. Por isso, o gestor nanceiro deve estar sempre atento ao que pode ser passível de redução de gastos, azer a manutenção do controle da inadimplência e estar sempre revendo suas estratégias de recebimentos (REIS, 2018b). Uma dica para conhecer- mos melhor o capital de giro e, com isso, aperfei- çoarmos sua gestão no dia a dia das empresas é o livro Administração do capital de giro, o qual é interessante por con- textualizar o capital de giro enquanto conceito e técnica de gestão para a realidade brasileira, trazendo modernidade a essa análise vital para a manutenção da saúde nanceira de qualquer empresa. ASSAF NETO, A.; SILVA; C. A. T. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2011. iro Gestão de caixa e capital de giro 29 No entanto, uma ressalva importante sobre o capital de giro é que, como toda alta é prejudicial, o excesso de capital de giro tambémo é. Isso porque essa situação pode signicar que a empresa está trabalhando com umexcedente de estoques, ou seja, está com recursos parados por tempo e volumemaiores do que o necessário, ou também, pode estar perdendo oportunidades de reinvestir seu excedente de caixa (REIS, 2018b). Para ilustrar esse conceito e instrumento de gestão nanceira tão im- portante, na Figura 3, está representado um exemplo tradicional, e, por isso, aparentemente complexo, de ciclode capital degirodeuma indústria. Figura 3 Ciclo de capital de giro em uma indústria Ve nd as à vi st a Contas não Circulantes Ativos Circulantes Operações Passivos Circulantes Estoques de matérias-primas e materiais auxiliares Compras Pedidos Fornecedores Atividades administrativas e outras Despesas operacionais Contas a pagar Remessas Prov. Imp. Renda etc. Baixa dos estoques MOD e parte dos CIFDepreciação ProduçãoAtivos Fixos Estoques de produtos Custos de produção Baixas (CPV) Vendas Duplicatas a receber Vendas a prazo Cobrança Desconto de duplicatas Duplicatas descontadas (redutora do AC) Empréstimos a curto prazo Pagamentos Incobráveis Lí qu id o cr ed ita do Capital de giro Caixa e bancos Excedente gerado Capital circulante líquido (parte do PL e do ELP) Recebimentos Fonte: Adaptada de Braga, 1989, p. 83. 30 Gestão financeira estratégica Apesar de parecer conuso, com relação à quantidade de atividades e operações descritas, o ciclo de capital de giro da Figura 3 chama a atenção sobre o capital de giro estar descrito como aquele que dá suporte para a realização das atividades da empresa, que é do segmento industrial. Isso reorça o que sabemos, estando como alicerce, o capital de giro é o recurso nanceiro que garante a saúde nanceira da empresa no período posterior à realização de todas as suas obrigações de curto prazo, isto é, demonstra que o Ativo Circulante é maior do que o Passi- vo Circulante. Assim como no DFC, o capital de giro pode ser ilustrado de dierentes ormas, para que o gestor nanceiro visualize e avalie, da melhor maneira possível, o fuxo de atividades e recursos transaciona- dos na empresa no curto prazo. 2.3 Análise de crédito e despesas Vídeo Vamos alar de crédito e despesas, dois conceitos undamentais para entender como os gestores podem conduzir de maneira eciente as atividades nanceiras das empresas. Primeiramente, conhecer a di- erença entre despesa, custo e gasto acilita a organização das nanças, isso tanto em âmbito pessoal quanto empresarial. A despesa pode ser entendida como o dispêndio nanceiro relacio- nado a uma constância, isto é, um dispêndio recorrente, que normal- mente ocorre mensalmente (MOSMANN, 2020). Exemplos de despesas são aluguel, contas de teleone, energia, água, condomínio, alimenta- ção, entre outros. O custo, por sua vez, reere-se a uma aquisição, assim como o gasto. Custo e gasto são conceitos parecidos e, muitas vezes, conundidos. No entanto, custo é uma aquisição necessária, isto é, não poderia ser subs- tituída. Já o gasto pode ser entendido como uma aquisição supérfua, ou seja, poderia ser adiada, dispensada (MOSMANN, 2020). Veja que, por esse entendimento, a realização e classicação de custo e gasto depen- dem, essencialmente, da gestão nanceira, de como o gestor entende e toma decisão a partir dos recursos disponíveis, e essa importância reside tanto no âmbito empresarial, foco do nosso estudo, quanto no pessoal. Nesse sentido, quando estudamos esses conceitos, crédito, despesa, custo, gasto, ciclo de caixa, capital de giro, ativos, passivos, entre outros, que dão nome e signicado às atividades e aos valores do dia a dia - Gestão de caixa e capital de giro 31 nanceiro das empresas, estamos nos referindo aos ciclos operacional e nanceiro. Esses ciclos, então, compõem o cenário do setor nanceiro. Para reorçar, o ciclo operacional é aquele que auxilia o gestor no entendimento de quantas mercadorias, e/ou serviços, estão em mo- vimento na empresa. Portanto, é o período referente ao desembolso inicial relacionado à produção, seguido do período de venda e, poste- riormente, o recebimento das vendas, no relacionamento cliente-em- presa. É esse período que mostra para o gestor quanto de capital de giro é necessário para dar continuidade às atividades e, com isso, po- der expandir o empreendimento (REIS, 2018c). Com relação ao ciclo nanceiro, o ponto principal é a estratégia, isto é, o conceito estraté- gico começa a azer parte da tomada de decisão do gestor nanceiro, porque passa a se tratar da análise de projeção do ciclo de caixa, por exemplo, para além da necessidade de obter capital de giro. Sobre as despesas, podemos classicá-las para melhor compreen- dermos como se dá a composição dos ciclos operacional e nanceiro. A despesa administrativa, por exemplo, é aquela que não está relaciona- da de orma direta com a produção, além disso se reere normalmente às questões administrativas, como contas de teleone, recepção, dispên- dios com limpeza, departamento jurídico. Pode ser chamada tambémde gastos gerais. As despesas operacionais, entretanto, estão relacionadas às atividades da produção de bens e serviços, à matéria-prima de ato (REIS, 2018d). Isso quer dizer que, existindo uma mudança na quantida- de produzida pela empresa do produto x, os custos operacionais mu- dam, mas os custos administrativos se mantêm estáveis. Quando alamos sobre as despesas administrativas, podemos dizer que estamos alando também de custos xos, que são também chama- dos de gastos permanentes, como já dito anteriormente. Nesse sentido, a importância da gestão das despesas administrativas reside no enten- dimento de que, quanto menor or o custo xo da empresa, menores são os custos totais e maiores as oportunidades de a empresa azer as melhores escolhas com relação ao quanto produzir. Dizendo de outra maneira, quanto mais a empresa produz, mais ragmentado, ou seja, mais diluído nos custos totais da empresa, o valor do custo xo estará. As despesas não operacionais, por sua vez, reerem-se aos gastos que ormam o DRE. Como ocorrem ora da produção, os gastos não operacionais não incidem sobre os custos da produção.Dessa orma, O fato de que a empresa pode conduzir suas escolhas para otimizar a forma e o quanto produz leva-nos a outro con- ceito, o de economia de escala, que é recorrente para a gestão das contas de ciclo de caixa e capital de giro, no que se refere às despesas. Economia de escala é um conceito que dá nome ao momento em que a empresa produz uma quantidade a mais de bem e/ou serviço e, com isso, consegue reduzir o custo de produção por unidade. Esse aumento de produção a um custo menor torna a empresa mais competitiva nesse quesito. aia ai 32 Gestão financeira estratégica como vimos, a despesa administrativa é não operacional. Outras des- pesas não operacionais são: indenização de seguros, aluguéis, despe- sas de ajuste de valor de mercado, despesas patrimoniais, juros sobre um empréstimo, entre outras. Por último, temos as despesas classicadas como nanceiras. Ree- rem-se ao preço que uma empresa paga aos seus credores e aos juros de empréstimos eitos em prol do empreendimento. Dessa orma, nor- malmente as despesas nanceiras constam no DRE como vinculadas ao endividamento da empresa. Feitas as considerações sobre as despesas, vamos então ao enten- dimento do crédito. O crédito ao consumidor é uma modalidade de empréstimo e de nanciamento de origem bancária, de lojas ou outras instituições nanceiras, também chamado de Crédito Direto ao Consu- midor (CDC). Normalmente o valor liberado para empréstimo, indepen- dentemente de quanto, pois varia em cada caso, destina-se a compras, nanciamento de imóveis, veículos, por exemplo. Tanto pessoa ísica quanto jurídica podem utilizar o CDC. Alguns aspectos sobre a concessão de crédito para as empresas devem ser observados. A necessidade de resolver problemas de capi- tal de giro insuciente, obtenção de máquinas ou de um imóvel maior para o empreendimento são situações que exemplicam uma possível necessidade da concessão de crédito ser realmente utilizada para be- neciar a empresa. Entretanto, para ser eita com parcimônia, é impor- tante o gestor nanceiro atentar para a real necessidade desse tipo de operação e realizar seu planejamento, para que haja aumento da lucratividade, a m de que a empresa possa ter condições de quitar o crédito. Dizendo de outra orma, é necessário que a taxa de retorno sobre o valor emprestado seja maior do que o custo para consegui-lo. A análise de crédito trata da capacidade de pagamento dos juros, no período estabelecido para a operação, por quem assumiu o em- préstimo. Na avaliação para a liberação do crédito, o banco avalia, por exemplo, histórico de pagamentos, situação patrimonial, garantias e adores. Quando se az análise de crédito, o analista responsável pela gestão de risco do crédito deve ornecer ao credor o máximo de inor- mações possíveis sobre o cenário real da capacidade do devedor em honrar os compromissos (WAINBERG, 2018b). Para visualizar de forma mais concreta como os conceitos de gasto, des- pesa, custo, receita, entre outros, dão forma ao dia a dia da gestão nanceira das empresas, uma dica é assistir à série de vídeos do canal Suno Research com Alberto Amparo. De uma orma bastante didática, ele auxilia no entendimento de como os conceitos se aplicam no cotidiano da adminis- tração nanceira. Disponível em: https://youtu. be/YpJemiJ4qo8. Acesso em: 16 jun. 2020. Vídeo Gestão de caixa e capital de giro 33 Como vimos, o crédito é essencial tanto às pessoas quanto às em- presas, para que haja continuidade e um melhor planejamento das nanças. No entanto, é relevante vericarmos se existe a real neces- sidade de buscá-lo e, especialmente, onde alocar esse recurso, ao pensarmos principalmente no retorno nanceiro que ele trará em de- terminado planejamento pessoal e/ou empreendimento. CONSIDERAÇÕES FINAIS A gestão nanceira estratégica envolve todos os aspectos que carac- terizam uma empresa, o que signica conhecer desde as atividades es- senciais até as políticas de tomadas de decisão estratégicas. Dessa orma, a gestão de caixa e capital de giro apresentada neste capítulo reorça o olhar minucioso e atento que o gestor nanceiro deve ter com a transação de recursos e operações no dia a dia empresarial. Entender como as atividades são organizadas e de que orma os recur- sos são alocados implica conhecer a saúde nanceira da empresa, se está em uma situação positiva ou negativa com relação ao desenvolvimento de funções, na busca por seus objetivos e, ainda, se está competitiva quando comparada a outras empresas. Por isso, a orma escolhida pelo gestor para registrar a movimentação - nanceira, e de quemaneira identica e trabalha sobre suas necessidades e di- ferenciais implica o olhar para o curto prazo com planejamento para períodos posteriores. Assim,o conhecimentodas ferramentasdegestãoaqui apresenta- das, além de conceitos essenciais, é também instrumento de direcionamento. ATIVIDADES 1. Sabendo que o fuxo ou ciclo de caixa é instrumento essencial de gestão para o registro e acompanhamento da saúde nanceira das empresas, dierencie o ciclo de caixa direto do ciclo de caixa livre. 2. Aodierenciarasatividadesdeinvestimentodasatividadesdenanciamento, o gestor nanceiro consegue também alocar os dierentes recursos advindos dessas atividades de orma correta na elaboração do fuxo de caixa. Descreva por que o fuxo de caixa das atividades de investimento é dierente do fuxo de caixa das atividades de nanciamento. 3. As despesas, assim como os gastos e custos, fazem parte da rotina nanceira das empresas e saber registrá-las é tão importante quanto 34 Gestão financeira estratégica identicá-las. Para azer esse exercício de identicação, explique por que as despesas administrativas se diferenciam das despesas operacionais. 4. Sabendo que, quando alamos em capital de giro, estamos também nos reerindo às contas do Passivo e Ativo Circulantes das empresas, descreva qual é a operação simplicada que mostra como se calcula o capital de giro e explique a dierença entre Ativo e Passivo Circulantes. REFERÊNCIAS BRAGA, R. Fundamentos e técnicas de administração nanceira. São Paulo: Atlas, 1989. HOJI, M. Administração nanceira: uma abordagem prática. São Paulo: Atlas, 2012. MOSMANN, G. Entenda a dierença entre despesas, custos e gastos. 2020. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/custos-e-gastos/. Acesso em: 20 maio 2020. REIS, T. Capital de giro: o que é qual sua importância para a empresa? Suno Research, 2018b. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/capital-giro/. Acesso em: 20 maio 2020. REIS, T. Ciclo operacional: veja como unciona esse aspecto vital de um negócio. Suno Research, 2018c. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/ciclo- operacional/. Acesso em: 20 maio 2020. REIS, T. Fluxo de caixa direto: conheça esta análise nanceira. Suno Research, 2019. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/fuxo-de-caixa-direto/. Acesso em: 20 maio 2020. REIS, T. O que é balanço patrimonial e qual a unção desse demonstrativo contábil. Suno Research, 2018a. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/o-que-e- balanco-patrimonial/. Acesso em: 20 maio 2020. REIS, T. O que são despesas administrativas? Saiba como analisá-las. Suno Research, 2018d. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/despesas-administrativas/. Acesso em: 20 maio 2020. WAINBERG, R. Análise de crédito: siga essas 3 dicas para se proteger de perdas. 2018b. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/analise-de-credito/. Acesso em: 20 maio 2020. WAINBERG, R. Fluxo de caixa: o que é, qual sua importância e como analisá-lo? 2018a. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/fuxo-de-caixa/. Acesso em: 20 maio 2020. Orçamento, preço e custo 35 3 Orçamento, preço e custo Uma parte importante da gestão fnanceira estratégica é aque- la que aborda o planejamento orçamentário como erramenta es- sencial para guiar a tomada de decisão do gestor com relação às fnançasempresariais. A importância da elaboração orçamentária é que ela demonstra como a saúde fnanceira está, esteve e deve estar no decorrer do desenvolvimento das atividades empresa- riais, o que implica, necessariamente, a análise de atores internos e externos à empresa. Os atores internos podem ser chamados de indicadores fnan- ceiros e econômicos pertencentes à empresa. Envolvem o conheci- mento da estrutura de custos, despesas, quantidades produzidas e vendidas, percentual de lucro e demais aspectos que o gestor fnanceiro deve conhecer para azer a manutenção fnanceira das operações. Os atores externos, por sua vez, não são menos im- portantes, como as taxas de câmbio, juros, impostos e tributos pra- ticados no ambiente em que a empresa atua e no cenário nacional. Sendo assim, o planejamento orçamentário, bem como os indi- cadores internos da empresa, especialmente os relacionados aos custos e à precifcação de produtos e serviços, são uma erramenta que oerece recursos matemáticos e conceituais para que o gestor elabore e desenvolva cada vez melhor a rotina fnanceira, especial- mente as projeções uturas necessárias para a manutenção e o progresso do empreendimento. 36 Gestão financeira estratégica 3.1 Classificação de custos e despesas Vídeo Os custos e as despesas são conceitos relacionados aos gastos de uma organização na realização de suas atividades. Os custos se refe- rem aos gastos vinculados às atividades principais da organização, nor- malmente pertencentes à produção, como compras de matéria-prima, pagamentos de contas, entre outras operações essenciais. As despesas, por sua vez, já não são diretamente relativas à produ- ção, mas, sim, à continuidade do empreendimento, alguns exemplos de despesas podem ser os salários, as comissões pagas, entre outras. Quanto à classicação, ambos custos e despesas podem ser fxos – gas- tos que não variam com a variação do volume produzido ou vendido – e variáveis – gastos que variam conforme a variação do volume pro- duzido ou vendido. O conhecimento da diferenciação existente entre custos e despesas, ou seja, saber classicá-los, tem importância porque é o acompanha- mento das atividades e processos internos da empresa que permite ao gestor encontrar as melhores oportunidades e criar mecanismos de controle, com relação à organização e à maximização dos resultados. O estudo dos custos e despesas se refere a uma parte das ciências contábeis que é a contabilidade de custos, undamentalmente impor- tante para a gestão econômica da empresa, já que, por meio dela, as inormações nanceiras transormam-se em indicadores de gestão, ali- cerces para a tomada de decisão. A partir disso, vamos nos aprofundar nos diferentes tipos de custos undamentais para a administração nanceira empresarial. O primeiro deles é o chamado custo de produção. Esse custo se refere a quanto se gasta para produzir algo e, a partir dele, é possível determinar por quanto um produto deve ser vendido para poder “cobrir” o custo de produção, isto é, o necessário para gerar lucro para a empresa. De acordo com Reis (2018a), o cálculo do custo de produção está vinculado à viabilidade econômica do empreendimento, servindo como um indício para saber como estão a produção e a capacidade da em- presa em maximizar seus retornos. O custo de produção está também associado a quanto a empresa consegue ser competitiva em relação Orçamento, preço e custo 37 ao mercado, isto é, quanto consegue produzir gastando menos e, por isso, a importância da análise constante dos processos e das atividades internos à organização. Para formar o custo de produção, temos que olhar para os gastos com matérias-primas, gastos com materiais e gastos com abricação. Custos com mão de obra, por exemplo, são salários, encargos sociais; assim como o cálculo de quanto custa a hora de trabalho. Depreciação, custos de energia elétrica e manutenção são custos de abricação, por exemplo. De maneira geral, os custos de produção envolvem muitas variáveis, como cálculos de aluguel, custos de manutenção, máquinas, entre outras (REIS, 2018a). Sobre os custos envolvidos no processo de produção, podemos apontar os custos fxos e variáveis, custo total, marginal e de oportunida- de. Vejamos cada um deles a m de saber identicá-los e mensurá-los para que a administração nanceira empresarial seja eciente. Os custos xos são aqueles que não sorem variação conorme a va- riação da quantidade produzida. O exemplo do aluguel caracteriza mui- to essa denição de custo xo, porque não se altera com a produção e é um dispêndio constante e necessário para que a empresa continue a realizar suas atividades. O custo xo médio pode ser calculado a partir do custo xo total, sendo então: Custo xo médio = custo xo total / quantidade produzida total O valor do custo xo médio nos indica quanto a empresa gasta para produzir uma unidade. Os custos variáveis, ao contrário, são aqueles que variam de acordo com a quantidade produzida, como, por exemplo, a compra de maté- rias-primas. Dentro do custo variável, temos o chamado custo variável médio, que é o custo que varia para cada unidade produzida. Então podemos calcular assim: Custo variável médio = custo variável total / quantidade produzida total Esse cálculo é importante porque indica qual pode ser o preço do produto a ser vendido. 38 Gestão financeira estratégica O indicador que aponta para a lucratividade da empresa, especial- mente com relação ao lucro bruto é o chamado custo da mercadoria vendida (CVM). O cálculo do CVM é eito da seguinte orma: CMV = E (inicial) + C – E (nal) Em determinado período especíco, o custo da mercadoria vendi- da será o estoque inicial adicionado do valor das compras feitas nesse mesmo período, subtraindo-se, desse valor, o estoque nal. O cálculo do CVM aponta para a necessidade de gerir os estoques, pois quanto maior o valor do estoque em determinado período, menor será, por exemplo, o capital de giro da empresa nesse mesmo período (REIS, 2019a). O conhecimento dos custos e despesas faz com que en- tendamos de forma conjunta diferentes conceitos que, na prática, são indicadores undamentais da saúde nanceira empresarial. Ainda pode ser calculado o custo total médio: Custo total médio = custo total / quantidade produzida total Esse custo é undamental no processo de precicação do produto vendido, porque espera-se que esse preço seja, no mínimo, maior que o custo total médio. O cálculo do custo marginal é outra operação fundamental à gestão nanceira. O custo marginal indica quanto precisamos para produzir uma unidade a mais do que se produz. Então, quanto custaria produzir 101 pregos, sendo que produzimos 100 pregos por dia? Essa resposta é dada quando encontramos o custo marginal. O cálculo do custo mar- ginal tem como objetivo encontrar um ponto de otimização em que o custo de produzir uma unidade a mais seja igual ao custo total médio de toda produção. Nesse sentido, podemos calcular o custo marginal dessa orma: Custo marginal = variação do custo total / variação da quantidade produzida Custo marginal então é a conexão entre as variações de custo e a quantidade produzida. Quando o custo marginal é zero – situação que normalmente acontece em empresas de tecnologia e inovação –, signi- ca que as empresas conseguiram criar ormas ecientes de produção Orçamento, preço e custo 39 que reduzem o custo marginal a níveis baixíssimos, ou seja, o custo xo de produção é muito maior do que o custo variável. Outro custo importante é o chamado custo de oportunidade, o custo de escolher uma coisa em detrimento de outra. Na gestão nanceira, o custo de oportunidade signica renunciar a uma escolha porque oi feita outra, como por exemplo, escolher fazer um investimento em um novo empreendimento ao invés de utilizar um espaço que já se tem. Para isso, o gestor deve estar sempre pensando sobre quais são os ris- cos de escolher algo em detrimento de outro, e quais são os beneícios que essa escolha deve trazer