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ÃO ESPECIAL: Tânia e Márcia,mãe e professora de Patrick, afirmam que os avanços na aprendizagem do garoto só são conseguidos com a parceria entre elas, um verdadeiro TRABALHO DE EQUIPE 2ÍI l "Esteu sempre PQr perto para orientar no que fer.necessárío, Costo de observá-lo ..~ contar àprofessora como ele reagiu em cada atividade" \---- "Quando fui me informar sobre inclusão, comecei a perceber as diferenças e, Junto com T~nia, prõcuréíurna psicopedagoga" Márcia Pereira de Souza, professora Até o ano passado, Márcia Pereira de Souza, professora da EMEIEF Ruth Rocha, em Ji-Paraná, a 380 quillômetros de Por- to Velho, não acreditava na inclusão. "Se crianças com defi- ciência não aprendem como as demais, por que colocá-Ias em classes regulares?", pensava. Ela até as aceitava em sua sala, mas achava que apenas observar os "normais" bastaria para o aluno não se sentir excluído. Agora ela é apaixonada por edu- cação inclusiva. Quem a fez mudar de idéia foi Tânia Regina Pessoa Martins, mãe de Patrick Nerys, 9 anos, que vibrava a cada nova palavra que o menino, que tem paralisia cerebral, aprendia a ler e a escrever e nunca duvidou do potencial do garoto. Hoje Patrick cursa a 2a série. "O diálogo entre a famí- lia do aluno com deficiência e o professor é fundamental para o desenvolvimento da criança", explica Eliane Mauerberg-de- Castro, coordenadora do Programa de Educação Física Adap- tada da Universidade Estadual Paulista, em Rio Claro, no inte- rior de São Paulo. Márcia e Tânia contam, a seguir, como uma ajudou a outra no processo de aprendizagem de Patrick. DÉBORA DIDONÊ NOVA ESCOLA { Como foi a aproximação de vocês quando o Patrick entrou na escola? MÁRCIA [ Quando Tânia me contou que o menino tinha paralisia cerebral, perguntei à direção por que ele havia sido matriculado na minha sala se não era capaz de aprender. Eu tinha 25 alunos para alfabetizar e muito medo de que o índice de reprovação da turma aumentasse. Com as conversas diárias com Tânia, sempre cheia de esperança, fui percebendo que o trabalho de inclusão poderia dar certo. Ela perguntava o que o filho havia aprendido e comemorava as pequenas conquistas dele. Isso me contagiou. & escola e família+-'VJ-ã) s.;;. +ai TÂNIA [ Márcia era a terceira professora de Patrick, e com todas elas meu procedimento foi o mesmo: expliquei detalhada mente o que ele tem, deixei o laudo médico na escola para consulta e contei que ele pode fazer quase tudo na sala de aula. Márcia estava apreensiva, mas demonstrava interesse em ajudar. NOVA ESCOLA { Como foram os primeiros dias de aula? MÁRCIA [ Foram difíceis. Eu ficava incomodada por Patrick não ter o mesmo ritmo das outras crianças. Ele rolava no chão, derrubava objetos, batia na cabeça dos amigos e ainda ria quando eles choravam. Cheguei até a pedir que ele voltasse para a pré-escola ... Meu erro foi querer que ele agisse como os outros. Quando fui me informar sobre inclusão, comecei a perceber as diferenças e, junto com Tânia, procurei uma psicopedagoga. TÂNIA [ Meu filho sempre foi maior que os colegas e machucava os outros com suas brincadeiras. Todos reclamavam muito. Eu o repreendia quando isso acontecia e dizia a Márcia para fazer o mesmo. Inclusive levá-Ia à diretoria se fosse preciso. Deixei claro que ele devia ser tratado como os demais. c da NOVA ESCOLA { O trabalho didático feito na escola precisa ser reforçado em casa? MÁRCIA [Às vezes, sim, como na fase de alfabetização. Nesse período, ele faltou muito às aulas de reforço por causa do efeito dos remédios, que dão sono e cansaço. Montei então uma estratégia para ele estudar em casa e Tânia topou ajudar. Perguntei o nome das pessoas e dos bichos de que ele gostava e escrevi cada um numa folha de papel, com as iniciais em letras maiúsculas. Tânia colou as folhas no quarto do filho e lia com ele todos os dias. Um dia ele chegou feliz da vida porque descobriu que macaco começa com a mesma letra do meu nome. Sugeri também a Tânia que, quando fossem ao supermercado, ela mostrasse os produtos e lesse os rótulos para ele. TÂNIA [ Estou sempre por perto para orientar no que for necessário. Gosto de observá-Ia e contar à professora como ele reagiu em cada atividade. NOVA ESCOLA { Quais informações sobre o aluno são importantes para a escola? MÁRCIA [Todas as informações são fundamentais. Um dia, um dos meus alunos teve problemas para respirar e eu não sabia como acalmá-to. Teria sido diferente se a mãe tivesse me avisado do distúrbio. Os pais podem nos ajudar a entender por que o filho falta. Certa vez fiquei doente e tirei duas semanas de licença. Patrick não queria mais vir à escola. Tânia comentou comigo que ele adorava jogos de quadra. Quando voltei, organizei uma partida de futebol de rodo - no qual o utensílio é usado para empurrar um objeto para dentro do "gol", embaixo de uma cadeira -, mandei um convite e ele voltou a estudar bem animado. TÂNIA [ Preocupo-me em descrever seu estado de saúde e peço à professora para dar os remédios no horário. Acho interessante também contar sobre o desempenho dele nas tarefas de casa. Se percebo que está mal-humorado ou irritado antes de ir para a escola, digo a ele para se controlar e se comportar bem na classe. Sempre deixo claro que a professora é a autoridade. NOVA ESCOLA { Quais foram os avanços de Patrick desde que entrou na classe regular? MÁRCIA [ Ele já sabe ler e escrever muita coisa e conseguiu isso junto com os outros alunos. Fiquei tão contente com os avanços dele que comecei a mostrar seus trabalhos para todos, na escola e na universidade. TÂNIA [ Eu não imaginava que ele pudesse interagir tanto. E como gosta de aprender! Dia desses fui buscá-Io na escola e ele estava concentrado fazendo contas de Matemática. Foi uma surpresa! Sua atitude também mudou: agora ele age com bastante autonomia, quer ir sozinho para a escola e diz que não é mais bebê para ser acompanhado até a porta da sala. NOVA ESCOLA { Que outras conquistas vocês conseguiram com ele? MÁRCIA [ Batalhamos juntas por uma sala de recursos. Ficamos sabendo que havia uma sala equipada e trancada em outra unidade. Liguei várias vezes para a Secretaria de Educação pedindo a transferência do material e, como a resposta demorou, resolvi ir com Tânia até lá. A coordenadora de ensino se sensibilizou, entrou em contato com nosso diretor e em um mês a sala foi montada. Cerca de 50 crianças, da Ruth Rocha e de outras escolas da vizinhança, passam pela nova sala todas as semanas. TÂNIA [ Márcia fez curso para trabalhar com inclusão e ficou sabendo que um tratamento com psiquiatra poderia ajudar no caso de paralisia cerebral. Ela sugeriu, eu topei, e fomos juntas à primeira consulta. Márcia contou ao médico como meu filho se comportava na sala de aula. Patrick melhorou 90% em menos de um ano. Fiquei admirada porque, até então, eu nunca tinha sido aconselhada a fazer esse tipo de tratamento com meu filho. ~ CONTATO eEMEIEF Ruth Rocha, R.São Luís, 1831, 78960-000, Ji-Paraná, RO,tel. (69) 34244623 NOVA ESCOLA {INCLUSÃO} 17 OGOS Quando, coma e por que usar Adorados pelos alunos, eles são um recurso para trabalhar conteúdos em todas as disciplinas SALA DE AULA EDUCAÇÃO INFANTIL Melecas de todo tipo para a creche MATEMATICA OS desafios da subtração EDUCAÇÃO FíSICA A turma vai arrasar no skate ".... :,= LíNGUA PORTUGUESA A articulação de ideias num texto CIÊNCIAS Os minerais estão em quase tudo LíNGUA ESTRANGEIRA iCómo vas de Ia escuela a tu casa? i HISTÓRIA Na República, as reformas urbanas GEOGRAFIA Por dentro das bacias hidrográficas ARTE O tridimensional e a argila PRE o DE CUSTO· SEM FINS LUCRATIVOSa ISSN 0103011-6 ~ J~~~!I~~II~I,II,I~~llllIIIIIIlt1I1111Ir ANO XXVIII· Nº 260 • MARÇO 2013 Artigo A escrita na era digital, por Mirta Castedo e NataliaZuazo Depoimento o relato de uma professora sobre seu primeiro dia em classe NOSITE novaescola.org.brl extras260 Vídeo com receitas de outras melecas. Melecas na parede, no papel e no corpo todo .Amassar, rasgar, sentir, cheirar, experimentar e tocar são palavras de ordem para os pequenos ANNA RACHEL FERREIRA novaescola@fvc.org.br Colaboraram CAROLlNE FERREIRA e WELLlNGTON SOARES v: as fotos desta reportagem: elas mostram momentos em que as crianças de 1 a 2 anos do CEI Rio Pequeno II, na capital paulista, se de-. liciam com misturas e melecas - combinações de materiais com texturas diferentes feitas para ma- nipular e usar em suportes variados. As imagens ilustraram o relatório feito pela professora Fabia- na França Barbosa narrando suas propostas e intervenções e as reações que causaram, compon- do um belo registro para avaliar seu trabalho e a atividade da turma ao longo dos meses. O objetivo de Fabiana era que os pequenos en- trassem em contato com diversas formas de explo- ração dos materiais e ampliassem seu modo de mexer com eles por meio da vivência, da observa- ção dos colegas e das suas orientações. Com esse leque de experiências, a turma aprendeu várias i::oisas.Por exemplo: quanto mais farinha se junta à água, mais densa a mistura fica. Já se ela está muito líquida, escorre pela parede e não pode ser contida com as mãos. Quando você fala sobre .questões desse tipo e chama a atenção para cada diferente aspecto observado - como texturas, co- res e efeitos - ajuda as crianças a fazer observa- ções, explorações e a construir noções importan- tes nessa fase. Para isso, não basta deixar que elas brinquem e pronto: a proposta exige muito pla- nejamento e intencionalidade. No início, Fabiana pesquisou em sites e livros e consultou colegas até formar um cardápio de receitas com combinações frias oumomas feitas de amido de milho, farinha de trigo, anilina, gua- che, sagu e cola, entré outros - mas sem elemen- tos tóxicos, já que poderiam ser levados à boca. Propostas desse tipo pedem a preparação do ambiente para que a (aparente) bagunça ocorra. A escola deve reservar um espaço apropriado - em que os pequenos possam espalhar as melecas sem danificar a pintura das paredes, por exemplo, e sem se machucar. Por isso, evite locais com es- cadas ou quinas. É importante ainda pedir que os pais enviem uma troca de roupa a mais ou uma camiseta maior para que eles fiquem à vontade. A organização do banho também precisa ser prevista no planejamento, já que fica impossível qualquer outra atividade antes de todos estarem limpos. Mas lembre-se de que a sujeira faz parte das experiências: "Os pequenos conhecem omun- do por meio da ação, e o corpo inteiro trabalha a favor dessa pesquisa. A criança testa e descobre possibilidades com as melecas", explica Kátia Kei- ko Matunaga, coordenadora pedagógica das tur- mas de até 3 anos da Escola Viva, em São Paulo. Fabiana deu espaço para os pequenos explora- rem as misturas à vontade. "Nem sempre é fácil vê-los se sujarem, mas é preciso saber que esses são momentos de aprendizagem", diz. Para que o processo seja realmente proveitoso, é essencial pensar em uma regularidade para ~:atividade - foram de 30 a 50minutos por semana o ano todo, sempre começando com a apresentação de cada ingrediente separadamente. Só depois eles eram misturados para que todos observassem as dife- renças. Nesses momentos, ela lançava questões e explicava o processo: "Vamos acrescentar mais farinha?", "O que vocês acham que vai acontecer?" e "Agora vou mexer para misturar". Contato com uma grande variedade de materiais enriquece a.atividade O primeiro dia com as melecas foi uma farra. A professora colocou as crianças sentadas em roda e apresentou a elas uma goma de água e farinha de trigo cozida. Aos poucos, foi acrescentando anilina e todas se espantaram com a mágica mu- dança de cor. Fabiana chamava a atenção delas dizendo: "Olhem como está ficando colorida!". Quando já estavam envolvidas e alvoroçadas, foi hora de colocarem amão na massa. Elas po- diam passar a mistura em cartolinas coladas no chão, mas muitas ficaram felizes apenas sentindo a textura. "Quando um dos pequenos começou a usar a cartolina como apoio, eu perguntei: 'Al- guém mais quer ver como é?' E aos poucos eles experimentaram o novo suporte". Denise Lumia, assistente de Fabiana, observou ainda que muitas queriam sentir a textura no cor- po e nos cabelos. Uma delas, no entanto, não quis 1ORGANIZAÇÃOGERAL Planeje o tempo de duração, o local e o material necessário para a atividade permanente, que deve ser proposta com variações. Para isso, pesquise diversas receitas. 2PARCERIAEM CASA Compartilhe o objetivo com os pais e peça que enviem urna roupa extra para os filhos, que vão se sujar. ~ovaescola.org.br MARÇO2013 65 Sala de aula Educação Infantilcthe 3HORA DEEXPERI M ENTAR No momento da brincadeira, dê oportunidade para os pequenos explorarem as melecas sozinhas ou com os colegas. Incentive o uso de diversos suportes, como as paredes ou papéis no chão. Inclua bonecas, carrinhos ou panelinlÍas na atividade. 41NTERVIlZ SENECESSARIO Durante o trabalho, observe atentamente as reações das crianças e a interação entre elas. Interrompa apenas se precisarem de ajuda ou de materiais que possam proporcionar novos desafios. 66 MARÇO 2013 nO)laescola.org.br brincar com as melecas, e,isso foi respeitado. "Al- guns ficam receosos de tocar o que causa estra- nheza. Em casos como esse, é possível oferecer algum instrumento, como um palito de sorvete, que permita um contato indireto. Mas aos poucos, vendo os colegas, muitas vezes mudam seu com- portamento", explica Kátia. Ela também sugere que o professor intervenha com perguntas do ti- po: "É possível segurar a meleca tom as mãos?", e ver como as crianças tentam resolver a dúvida com materiais mais ou menos líquidos. Num outro momento, a professora ofereceu uma goma gelada de amido de milho e anilina. "Para que elas notassem a temperatura, dizia' que colocassem a mão. Muitas.respondiam que estava fria, outros tiravam a mão rapidamente, riam, gritavam, se expressavam mesmo sem falar", con- ta. Em pé e sobre tapetes de material antiderra- pante, elas mergulhavam as mãos nos potes e passavam a mistura nos azulejos do corredor. De tempos em tempos, Fabiana trazia novas cores e _chamava a atenção para isso com frases do tipo: "Olhem só, agora temos tinta vermelha!". A atividade seguinte consistia em fazer uma mistura com farinha, variando a textura e a espes- sura. Para isso, recipientes com água' estavam à disposição dos pequenos. A professora e a auxiliar ficavam sempre por perto, ensinando as crianças a usar a colher para transferir os ingredientes de um lado para o outro. Bonecas, potinhos e cami- nhões também foram incluídos. A todo momen- to, elas conversavam sobre as mudanças que ocor- riam na mistura e sobre o que os demais estavam fazendo: "Vejam o que o colega de vocês fez agora! Quanta água ele colocou!" Para realizar as atividades, a educadora buscou ajuda na bibliografia. No livro Aprender e Ensinar na Educação Infantil (Eulália Bassedas, Teresa Hu- guet e Isabel Solé, 357 págs., Ed. Artmed, tel, 51/3062-3757,79 reais) leu sobre a importância de estabelecer uma relação próxima com as crianças em atividades como essa.Já em Sabores, Cores, Sons e Aromas (Maria da Graça Souza Hom, 119 págs., Bd.Artmed.dz reais), viu como preparar o espaço para um desenvolvimento adequado. As leituras foram produtivas e o trabalho bem- sucedido. No início do ano, seu tempo precisava ser dividido entre questões de relacionamento (resolver conflitos e incentivar a relação entre as crianças) e a atenção para o que os pequenos le- vavam à boca (embora não sejam tóxicas, as mis- turas não devem ser comidas). Mas nos últimos meses eles já incluíamos colegas na brincadeira e tinham muitas ideias sobre manipular às mele- cas sem pensar só em levá-Ias à boca. Crianças e professora, depois de tantas misturas e experiên- cias, tinham muitas fotos para rever e estavam prontas para novos desafios.
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