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Aula III - Clínica com crianças - 2013-1

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Clínica com crianças 
aula iii
Professora: Eliane de Augustinis
augustinispsi@hotmail.com
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A infância e o infantil
Toda sexualidade é infantil!!!!
Sexualidade adulta também é infantil. Mas porquê?
PORQUE O SUJEITO DO INCONSCIENTE NÃO TEM IDADE OU , SE QUISERMOS, É SEMPRE INFANTIL EM SUA NEUROSE.
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O infantil
O infantil para Freud será a relação com as experiências que deixam traços, restos de lembranças de prazer e desprazer vividas pela criança.
O infantil é uma reconstrução em análise, uma realidade psíquica, atravessada pela fantasia e marcada pelo recalque.
Assim, a sexualidade adulta é igual aos impulsos infantis recalcados. 
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O infantil e a infância
O infantil recalcado, muito mais que um relato sobre a infância, foi, desde sempre, o seu verdadeiro interesse. 
Freud enfatiza uma diferença entre infância e infantil recalcado, vejamos:
Infância – um tempo da realidade histórica.
Infantil – é atemporal e está remetido a conceitos como pulsão, recalque e inconsciente. É o que retorna em uma análise como uma lembrança atravessada pela fantasia e marcada pelo recalque.
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Assim, Freud reconhece que as fantasias eram constituídas de cenas que se destinavam a encobrir a atividade auto-erótica dos primeiros anos de infância, embelezá-las, mas detrás dessas fantasias, toda a gama da vida sexual da criança vinha à luz, demonstrando assim que, para a psicanálise, está em questão não a realidade dos fatos evolutivos da infância e sim a realidade psíquica constituída pelos desejos inconscientes e as fantasias a elas vinculadas.
 o conceito de infantil ultrapassa o conceito de infância e não corresponde à experiência de criança.
A REALIDADE PSÍQUICA E AS FANTASIAS
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A REALIDADE PSÍQUICA
ESCUTANDO AS PACIENTES HISTÉRICAS, FREUD ABANDONOU A TEORIA DO TRAUMA E DA SEDUÇÃO E DESCOBRIU A FANTASIA.
A PARTIR DAÍ, NÃO SÃO MAIS OS FATOS REAIS DA INFÂNCIA, MAS, A REALIDADE PSÍQUICA.
A REALIDADE PSÍQUICA É CONSTITUÍDA PELOS DESEJOS INCONSCIENTES E PELAS FANTASIAS LIGADAS A ESSES DESEJOS.
TENDO COMO PANO DE FUNDO 
A SEXUALIDADE INFANTIL
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Entre o erotismo e a educação
A cultura erotiza a criança para, em seguida, frustrá-la com uma série de necessárias interdições educativas cujo objeto é diminuir a força das pulsões sexuais e, mais tarde, impor repressões à realização das pulsões eróticas e agressivas.
Um conjunto de proibições é transmitido à criança, que, submersa na busca do impossível prazer absoluto, terá de se esforçar para encontrar, por meio do princípio do prazer, submetido à realidade, a satisfação permitida pela cultural.
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O QUE PEDEM OS PAIS AO ANALISTA?
Freud salienta sobre a expectativa dos pais sobre o tratamento da criança (uma ortopedia psíquica e pedagógica):
“...esperam que curem seu filho nervoso e desobediente. Entendem por criança sadia aquela que nunca causa problemas aos pais e nada lhe dê senão prazer. O médico pode conseguir a cura da criança, mas, depois, ela faz o que quer com mais decisão ainda, e a insatisfação dos pais é bem maior que antes. Em suma, não é indiferente que alguém venha à psicanálise por sua própria vontade, ou seja, levado a ela; quando é ele próprio que deseja mudar, ou apenas os seus parentes, que o amam (ou se supõe que o amem)” (Freud, 1920).
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A chegada da criança na análise
Freud deixou claro que uma das condições ideais de eficácia de um tratamento analítico é o fato da pessoa em análise ser seu próprio senhor, ou seja, ser capaz em um momento de sofrimento poder trazer os conflitos internos que são incapazes de resolver sozinho. Assim, leva o problema para o analista e lhe pede auxílio. Mas no caso da análise de crianças essa condição ideal é rompida de início, pois a criança é trazida pelos pais levando a questão de qual lugar esses pais irão ocupar no tratamento da criança.
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A PSICANÁLISE E SUA DIFERENÇA EM RELAÇÃO AOS PRINCÍPIOS PEDAGÓGICOS
Freud coloca a psicanálise no sentido oposto ao objetivo da pedagogia. A pedagogia prevê educar, ou seja, introduzir na criança os conceitos pré-determinados que venham nortear sua vida. Freud chamou de via di porre. 
Mas a psicanálise é exatamente a via di levare, ou seja, na escultura, se retira do bloco bruto da pedra o que jaz oculto, e surge então uma obra que estava ali contida, método que, para Freud, correspondia à psicanálise. 
Para que tenhamos de fato uma compreensão o mais próxima possível da realidade, levando em conta não apenas a realidade externa, mas também o mundo interno do paciente.
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AS FASES DE DESENVOLVIMENTO
FASE ORAL
FASE ANAL
FASE FÁLICA
FASE DA LATÊNCIA
FASE DA PUBERDADE e Fase genital
FASES PRÉ-GENITAIS
De 0 a 1 ano
De 1 a 3 anos
De 4 a 6 anos
Dos 7 aos 13 anos
Dos 14 aos 18
COMPLEXO DE ÉDIPO E COMPLEXO DE CASTRAÇÃO
DIQUES DA PULSÃO (ASCO, VERGONHA, MORALIDADE)
SUBLIMAÇÃO DA CURIOSIDADE SEXUAL
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Como a oralidade aparece na clínica?
Qualquer um que tenha observado um recém-nascido viu que o bebê pega o peito, solta, volta a pegar, para novamente largá-lo. Assim, o observador curioso deve ter reconhecido a precocidade com que essa atividade com que essa atividade introduz um nuance lúdica. 
Para o bebê, essa posição é desde muito cedo um resposta à demanda do Outro: “Deixe-se alimentar”. Mais tarde, ouviremos as mães relatarem o ocorrido de modo inverso, dizendo: “Meu bebê mamou no peito até os nove meses.” Isso está certo porque é o bebê quem pega o peito e também quem o deixa introduzindo desde o início um intervalo diferencial mínimo entre responder completamente à demanda do Outro e colocar uma resposta própria. 
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Caso clínico
Nenhuma mãe deixa de perceber a discordância originária entre a quantidade de comida que oferece amorosamente a seu filho e aquela que ele come. É certo que, desde o início, o alimento pode se transformar em fonte não de um equívoco, mas de uma enorme mal-entendido. Isso acontece quando sua significação assume um valor de um signo inamovível.
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Caso clínico
Podemos observar a história de um jovem psicótico que tinha sido obrigado pela mãe a ingerir, sistematicamente, até o último bocado de alimento. Ela agiu assim, firmemente, desde os primeiros anos de vida, com a certeza de estar cuidando de sua saúde. Essa era a sua inabalável certeza, que não se detinha nem diante dos vômitos da criança, que era obrigada a reengolir o que tinha expulsado. Impedida qualquer expulsão, negava-se também ao sujeito qualquer afirmação de sua existência.
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Caso clínico
Outro caso é de uma mãe, cujo corpo avantajado delatava a valorização do gozo oral: já tinha perdido as curvas femininas quando marcou uma consulta para o filho, de onde anos. O menino, retraído e pouco afeito a expressar suas inquietações, preocupava a progenitora, deixando-a com uma pergunta: por que, quando ela preparava seus nhoques prediletos, ele comia com verdadeiro gozo, mas deixava sempre, indefectivelmente, um ou dois no prato? Claro que essa mãe se interrogava pela enigmática atitude do filho, diferentemente da primeira mãe que não tinha dúvida de fazer valer seu critério. Deixar um ou dois pedaços de nhoque tinha um valor para esse filho de outorgar-lhe como sujeito a oportunidade de sair da demanda da mãe e poder fazer valer seus desejos, por isso coloca o apetite em jogo.
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Estudo dos textos de Freud
Três Ensaios da Sexualidade (1905)
O esclarecimento sexual das crianças (1907)
Sobre as teorias sexuais infantis (1908)
Organização genital infantil (1923)
A dissolução do Complexo de Édipo (1924)
A seguir, veremos as principais questões sobre o psiquismo nesses textos freudianos.
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O ESCLARECIMENTO SEXUAL DAS CRIANÇAS (1907).
- a pulsão sexual - o recém-nascido já vem ao mundo com sua sexualidade, sendo seu desenvolvimento na fase da amamentação e na primeira infância acompanhado de sensações sexuais;
- as sensações sexuais são produzidas em várias partes da pele – zonas erógenas
o clima de mistério apenas impede a criança de apreender intelectualmente as atividades para as quais já está psiquicamente preparada
e fisicamente apta.
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A ESCOLHA DE OBJETO
Nos Três Ensaios da Sexualidade (1905), Freud diz que a escolha de um objeto como uma característica da fase da puberdade do desenvolvimento, na verdade já teria sido feita na infância: isto é, a totalidade das correntes sexuais passou a ser dirigida para uma única pessoa em relação à qual elas buscam alcançar seus objetivos. A única diferença é que a partir da puberdade já se chegaria à reprodução com a organização genital.
Em A Organização Genital infantil (1923), Freud dirá que após estudar percebeu que o fato de não haver alcançado a genitalidade, isso não interfere pois no auge do desenvolvimento sexual infantil, o interesse pelos genitais é quase tão grande que para o adulto. 
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A primazia do falo
Freud percebeu que o importante não é o fato de se chegar a genitalização adulta mas no fato do interesse pelo órgão genital (para ambos os sexos), significar que se considera apenas a possibilidade de existir apenas um órgão genital, o masculino. 
Ou seja, o que está em jogo não é o interesse pelos genitais, mas pelo “falo”. Assim, Freud percebe que não há uma percepção da diferença entre masculino e feminino e a fantasia criada é entre castrados e não-castrados.
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A primazia do falo
Desconhecimento da diferença sexual:
 Entendimento de que há apenas um órgão genital, o masculino. Portanto, existem aqueles que possuem e aqueles que perderam esse objeto.
MASCULINO
FEMININO
NÃO-CASTRADOS
CASTRADOS
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A FASE FÁLICA
NÃO SE DEFINE PELA OPOSIÇÃO ENTRE MASCULINO E FEMININO
CASTRADO E NÃO-CASTRADO
UMA ÚNICA LIBIDO, MASCULINA E ATIVA
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Freud DESCOBRIU O COMPLEXO DE CASTRAÇÃO E ESTABELECEU SUA ARTICULAÇÃO COM O COMPLEXO DE ÉDIPO (QUE ESTÁ NA BASE DO CONFLITO PSÍQUICO).
COMPLEXO DE ÉDIPO
COMPLEXO DE CASTRAÇÃO
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O COMPLEXO DE CASTRAÇÃO
FALO IMAGINÁRIO 
EM 1923 O COMPLEXO DE ÉDIPO ESTARÁ DEFINITIVAMENTE RELACIONADO AO COMPEXO DE CASTRAÇÃO.
O COMPLEXO DE ÉDIPO É RECONHECIDO COMO UNIVERSAL
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O complexo de castração nos meninos
Freud descreve como isso ocorre nos meninos e ainda desconhecer o processo nas meninas. Mas nos meninos é natural presumir que todos os outros seres do mundo, possuem um órgão genital como o seu próprio, inclusive as coisas inanimadas. Curioso, passa a pesquisar as outras pessoas. Ao descobrir que existem pessoas que não tem o falo, nega tal descoberta acreditando que irá crescer um falo, e que é apenas pequenininho. Isso porque a falta de um pênis é vista como resultado da castração.
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A FASE FÁLICA
SERÁ DESENVOLVIDA EM 1923 EM "A ORGANIZAÇÃO GENITAL INFANTIL"
PRIMAZIA DO GENITAL (PÊNIS)
SEXUALIDADE ADULTA
PRIMAZIA DO FALO
SEXUALIDADE INFANTIL
AUSÊNCIA DA REPRESENTAÇÃO PSÍQUICA DO SEXO FEMININO.
A DIFERENÇA SEXUAL SE DÁ EM TORNO DE TER OU NÃO O FALO
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Porquê isso causa tanto desconforto nos menininhos?
Por que a criança se defronta com a tarefa de chegar a um acordo com a castração em relação a si própria. 
Há um dano narcísico mediante a possibilidade de uma perda corporal originária da perda do seio da mãe após o sugar, de entregar suas fezes e até de sua separação do útero ao nascer. 
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A depreciação das mulheres
O horror dos órgãos genitais femininos que muitos têm seria derivada nessa convicção de que as mulheres não possuem pênis. São pessoas desprezíveis que perderam seus órgãos genitais, por serem culpadas de impulsos inadimissíveis.
A cabeça de medusa é o símbolo mitológico do horror a esses seres castrados.
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O MENINO E A ANGÚSTIA DE CASTRAÇÃO
O MENINO VÊ QUE A MENINA NÃO TEM O PÊNIS E ACREDITA QUE AINDA VAI CRESCER, OU FOI RETIRADO
Ver página 23 do livro Édipo de Terezinha Costa. 
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Em o esclarecimento sexual das crianças Freud retorna o que já havia dito nos Três ensaios a partir de questões levantadas por um certo Dr. Furst;
Deve a criança ser esclarecida sobre os fatos da vida sexual?
Em que idade isso deve ocorrer?
É claro para Freud que não se deve negar a sexualidade para as crianças! E diz: “Que propósito se visa atingir negando às crianças, ou aos jovens, esclarecimento desse tipo sobre a vida sexual dos seres humanos? Freud acrescenta que é a má consciência dos adultos sobre os assuntos sexuais que os leva a criar esse mistério todo sobre sexualidade diante das crianças. E retoma as questões importantes descobertas por ele:
- de que a pulsão sexual não ocorre somente a partir da adolescência, mas muito antes, o recém-nascido já vem ao mundo com sua sexualidade, sendo seu desenvolvimento na fase da amamentação e na primeira infância acompanhado de sensações sexuais;
- Não são apenas os órgãos sexuais que geram sensações de prazer sexual;
- as sensações sexuais são produzidas em várias partes da pele – zonas erógenas – tanto pelo instinto biológico quanto pelo período de autoerotismo;
- muito antes da adolescência a criança já é capaz de manifestações psíquicas de amor – amor, dedicação, ciúme. Com frequência, uma irrupção desses estados mentais associa-se às sensações físicas de excitação sexual, de modo que a criança não pode ficar em dúvida quanto à conexão entre ambos;
- e por fim, o clima de mistério apenas impede a criança de apreender intelectualmente as atividades para as quais já está psiquicamente preparada e fisicamente apta.
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 A oposição entre os sexos, segundo Freud, enuncia-se da seguinte forma: "órgão genital masculino ou castrado". Portanto, na chamada fase fálica, a oposição não se dá entre masculino e feminino, mas entre fálico e castrado (ou ativo e passivo), o que o leva a postular a existência de uma só libido, masculina, no sentido de ativa.
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Em 1909, quando Freud publicou a análise do pequeno Hans, ele queria comprovar suas teses sobre a sexualidade infantil. A partir dessa análise, ilustrou e ampliou grande parte do conteúdo que havia sido teorizado em “Sobre as teorias sexuais as crianças”, descobriu o complexo de castração e estabeleceu sua articulação com o complexo de Édipo, estando este último na base do conflito psíquico. Assim, as teorias sexuais infantis são expostas já vinculadas aos conflitos edípicos.
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É em torno da representação psíquica do pênis - o falo imaginário - e não do pênis real, que se organizará o complexo de castração. Apesar de o complexo de castração ter sido abordado nos artigos anteriores, somente nesse artigo de 1923, o conceito será relacionado com o complexo de Édipo e reconhecido como universal. 
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Em "A organização genital infantil: uma interpolação na teoria da sexualidade", Freud vai fazer uma reformulação teórica importante para a compreensão dos mecanismos ligados ao complexo de castração e seus efeitos para a estruturação da subjetividade. Freud explica a diferença entre a sexualidade infantil e a adulta, não pela primazia dada ao genital (o pênis), mas pela primazia dada ao falo, ou seja, para Freud a fase fálica caracteriza-se pela ausência de representação psíquica do sexo feminino, organizando-se a diferença sexual em torno da posse ou não do falo. 
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No que ser refere à castração, Freud afirma que, no decorrer de suas pesquisas, o menino chega à conclusão de que o pênis não é comum a todas as crianças. Ao observar meninas, ou a irmãzinha brincando, suspeita de que existe ali algo diferente. No entanto, a primeira reação da criança é "rejeitar o fato" e acreditar que elas realmente têm um pênis. Nesse momento, "encobem a contradição entre a observação e a preconcepção dizendo-se que o pênis ainda é pequeno e ficará maior dentro em pouco". só mais tarde chegam à "conclusão" de que o pênis estivera lá antes e foi retirado. Portanto, a falta de pênis é vista como resultado da castração. A partir desse momento, o menino se angustia, pois, se existem seres que foram castrados, ele corre igualmente o risco da castração.
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