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O Mercado Farmacêutico

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Universidade Federal de Minas Gerais 
Faculdade de Farmácia 
 Departamento Farmácia Social 
Assistência Farmacêutica – Disciplina Optativa 
 
 
APOSTILA DE ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA 
NOÇÕES SOBRE O MERCADO 
FARMACÊUTICO 
 
 
 
 
 
Profª Dra. Marina Guimarães Lima 
Profª Dra. Cristina Mariano Ruas Brandão 
 
Material elaborado pela docente Laíse Sofia de Macedo 
Rodrigues. 
 
 
 
2/2014
2 
 
 
 “Um povo que não conhece a sua história está condenado a repetir os 
mesmo erros” 
Para entender o contexto atual, devemos entender as diversas concepções do 
processo saúde-doença, que estão interligadas ao processo histórico, social e 
econômico do período vigente. Desta forma, a relação do mercado farmacêutico com a 
sociedade irá definir o modo como as pessoas se tratam e como lidam com a doença. 
Em diversas épocas, para muitas sociedades e civilizações, as explicações para a criação e o 
funcionamento do mundo residiram no sobrenatural. Em outros momentos, mesmo sem o 
conhecimento científico que explicasse de fato o fenômeno em questão, medidas eficazes 
foram tomadas para reversão dos problemas, como será explicitado no decorrer do texto. 
 
 
 
 
Em diversas épocas, para muitas sociedades e 
civilizações, as explicações para a criação e o 
funcionamento do mundo residiram ou residem no 
sobrenatural, sendo que mitos, lendas e histórias, 
frequentemente associados a alguma cultura religiosa, 
foram ou são as referências hermenêuticas para a 
compreensão dos fenômenos naturais, dentre os quais, 
as doenças. Com a divinização do desconhecido, utilizam-
se cerimônias, rezas e rituais de magia ou religiosos, como 
instrumentos destinados a interferir ou mesmo dominar a natureza. 
 
A magia costuma ter um caráter de prática individual, em que os 
poderes sobrenaturais seriam dominados por um xamã, médium, 
Concepções não racionais ou mágico-religiosas 
3 
 
mago etc., para fins específicos. Nas religiões, um ou mais deuses 
seriam os responsáveis por todo o universo, sendo que alguns 
homens, devidamente preparados (sacerdotes, padres etc.), teriam a 
propriedade de intervir junto a ele(s), solicitando graças. Há também 
práticas em que se mesclam componentes da magia e de uma ou mais 
religiões. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
De acordo com Hegenberg (1998) e Scliar (2007), as concepções 
mágico-religiosas são típicas de sociedades primitivas. Entretanto, 
permanecem em todas as sociedades atuais, em alguma medida. 
 
No mundo ocidental, as concepções mágico-religiosas predominaram 
até a ANTIGA GRÉCIA , quando, mesmo em meio ao politeísmo, as 
explicações para os fenômenos físicos, químicos e biológicos passaram 
a ser buscadas na natureza, marcando o início do racionalismo. 
 
Posteriormente, em toda EUROPA MEDIEV AL , o racionalismo grego 
perdeu forças frente às crenças religiosas - pagãs e, principalmente, 
cristãs. Novamente, o adoecimento passou a ser considerado uma 
punição de Deus pelo pecado, ou o resultado da possessão pelo diabo 
ou da feitiçaria. O alívio era buscado por meio de rituais, preces e/ou 
invocação de santos. 
 
Alguns conceitos e práticas daquele período permanecem até hoje. 
São exemplos: os conceitos de contágio e isolamento. Presente no 
Velho Testamento, o contágio foi, primeiramente, relacionado à 
 Segundo a concepção mágica, atos mágicos ou maldições podem 
desencadear doenças, introduzindo-as no organismo de um ser vivo. Predomina a ideia de que a 
doença é externa ao corpo do indivíduo. O tratamento, nessa lógica, também dependeria de 
ações ou rituais de magia. 
Na concepção religiosa, o processo saúde-doença é compreendido como decorrência da vontade 
divina. A doença seria uma resposta à transgressão de algum dos preceitos religiosos ou de uma 
atitude condenável, apoderando-se do corpo de um indivíduo ou grupo populacional. Em 
consequência, acredita-se que os deuses, ou seus representantes na Terra, têm o poder de 
interferir no processo da enfermidade e na sua cura. Na tradição judaico-cristã, por exemplo, Deus 
é tido como o Senhor da vida e da morte, bem como da saúde e da doença. Como premiação pela 
obediência à lei divina, tem-se saúde e, como castigo por seu descumprimento, a doença. 
 
 
4 
 
impureza espiritual que, além de contagiosa, era também associada a 
doenças (ROSEN, 1994). Na Europa Medieval, ser portador da lepra 
(atualmente designada como mal de Hansen ou Hanseníase) equivalia 
a uma sentença de ser “impuro” e uma condenação a um severo 
isolamento para o resto de sua vida. 
 
Também na Idade Média, a Europa foi assolada por outra praga, a 
Peste Negra, considerada como sinal da ira divina. Além das orações e 
das penitências como recurso para a salvação, foi estabelecida a 
obrigatoriedade da notificação dos casos às autoridades municipais, as 
quais providenciavam alimentos aos isolados. O isolamento passou a 
ser estendido a todos os que tivessem tido contato com o doente. Em 
casos suspeitos, as pessoas deviam ser observadas por um período 
específico, até que se certificasse a ausência da doença. Era o sistema 
de quarentena, também justificado, pelo menos em parte, por 
concepções religiosas. 
 
O abandono das explicações sobrenaturais caracteriza o pensamento 
racional do ocidente, hoje identificado, hegemonicamente, como 
pensamento científico. Entretanto, a busca pela saúde por meio de 
benzeduras, santuários, rezas, invocação de santos e outros rituais - 
religiosos ou não - ainda são relativamente comuns nos dias atuais, 
embora não costumem ser prevalentes onde se dispõe de meios para 
o cuidado em saúde, baseados em concepções racionais. 
Você já foi a uma benzedeira, ou conhece alguém que já foi? 
 
 
 
 
Como mencionado anteriormente, os gregos da antiguidade 
eram politeístas, sendo que algumas divindades eram 
consagradas à saúde. 
 
Contudo, entre os anos 600 e 500 a.C., iniciou-se, com os 
filósofos gregos pré-socráticos, outra forma de tentar 
compreender o mundo e, consequentemente, de interagir com 
ele, não mais por meio de rituais místicos. Foram as primeiras 
manifestações, no ocidente, da busca de explicações por meio 
da razão, considerada, desde então, como fonte do 
conhecimento. 
 
O Racionalismo Grego 
5 
 
A partir dos pré-socráticos, a natureza passou a ser compreendida a 
partir de quatro elementos, cada qual correspondendo a um estado 
da matéria: ar/estado gasoso, fogo/plasma, terra/sólido, 
água/líquido. As propriedades de cada elemento eram relacionadas 
ao frio, calor, secura e umidade (ar: úmido e quente; fogo: quente e 
seco; terra: seca e fria; água: fria e úmida). A diversidade da matéria 
encontrada na natureza resultaria das diferentes combinações dos 
quatro elementos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A terapêutica hipocrática buscava restaurar o equilíbrio, eliminando 
ou se contrapondo ao humor em excesso, procurando respostas na 
esfera da natureza e não no sobrenatural. Em relação às doenças 
endêmicas, Hipócrates as associava ao clima, solo e modo de vida (no 
qual estavam incluídos os exercícios e o descanso). 
Dois mil anos depois de Hipócrates, Paracelso (1493-1541) elaborou 
sua “VERSÃO QUÍMI CA” DA TEOR IA HUMORAL , afirmando que os 
líquidos corporais eram compostos de minerais em equilíbrio. 
Paracelso acreditava no poder de cura dos venenos (e outras 
substâncias), desde que na dose correta. Dessa forma, foi pioneiro ao 
empregar substâncias químicas para fins medicinais. 
 
 
 
Durante a Idade Média, com o predomínio do cristianismo(pensamento religioso), a racionalidade grega declinou no 
ocidente, prevalecendo o teocentrismo, cuja atenção e 
estudos estavam focados nos assuntos divinos. 
 
Concepções racionais só voltaram a ganhar expressividade, 
 Hipócrates (460-377 a.C.), posteriormente, desenvolveu a 
concepção humoral: no corpo, a saúde resultaria do equilíbrio de quatro fluidos (humores), 
cada qual correspondendo a um dos quatro elementos. As correspondências estabelecidas 
foram: sangue-ar, bile amarela-fogo, bile preta-terra e fleuma-água. 
A saúde seria o resultado da mistura equilibrada dos humores, enquanto a doença 
resultaria da sua desorganização ou desequilíbrio. Nesse sentido, até hoje, é frequente a 
associação entre saúde/ equilíbrio e doença/desequilíbrio. 
 
 
 
 
Mecanicismo e Cartesianismo 
6 
 
 O mecanicismo afirma que os fenômenos do mundo material são 
regidos por causas físicas e não por entes espirituais. Suas duas principais doutrinas são: o 
mundo é uma máquina e todo o real é físico; a redução dos fenômenos à física e de suas 
interações à mecânica é necessária e suficiente para conhecer e explicar o mundo e suas partes. 
 
 
 
 
na Europa, a partir do Renascimento, entre o final do século XIV e 
meados do século XVI. Desbancando o teocentrismo, ganhou força o 
humanismo, voltado às necessidades humanas e aos fenômenos 
naturais. Marcava-se, assim, o retorno ao pensamento racional, 
independente do pensamento religioso e místico da Idade Média. 
Iniciava-se a Revolução Científica, caracterizada pela profunda 
modificação na forma de investigar a natureza e interpretar os 
fenômenos observados. 
 
Dentro dessa nova corrente de pensamento, destacam-se os trabalhos 
no campo da física, desenvolvidos por Copérnico, Galileu, Kepler e 
Newton, entre tantos outros, os quais foram subsidiando a doutrina 
filosófica enunciada por René Descartes (1596-1650) e conhecida 
como mecanicismo. 
 
 
 
 
 
Outra importante contribuição desse período foi o desenvolvimento 
de um método para a investigação do mundo real. Proposto por 
Descartes, o MÉTODO CA RTES IANO , como ficou conhecido, 
estabeleceu os seguintes passos para a investigação científica: (1) 
verificação – buscar evidências sobre o fenômeno ou objeto de 
estudo; (2) análise – dividir o objeto investigado em suas menores 
partes (unidades) e submetê-las a estudo; (3) síntese – agrupar as 
unidades em um todo; (4) conclusão – enumerar os princípios, as 
observações e as conclusões com a finalidade de manter a ordem do 
pensamento. 
O mecanicismo, como forma de interpretação, e o cartesianismo, 
como forma de investigação, tiveram enorme influência no campo da 
biologia. Observando o corpo humano analogamente a uma máquina, 
os estudos sobre anatomia ganharam maior relevância, e a concepção 
humoral foi sendo substituída pela concepção de que nos órgãos (as 
peças da máquina) é que deveria estar localizada a doença. 
 
 
 
Teorias dos Miasmas e do Contágio 
7 
 
De acordo com Rosen (1994), mesmo com toda a inovação 
nos conhecimentos que marcaram o período renascentista, 
não houve benefício para as condições gerais da saúde. As 
pestes continuaram dizimando populações e impedindo o 
desenvolvimento de muitas regiões. O crescimento 
populacional e numérico das cidades tornava ainda mais 
agudo o problema. 
 
Para tentar compreender e controlar as endemias e epidemias 
coexistiam duas teorias. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Por causa disso, recomendavam-se alguns cuidados para impedir a 
disseminação dos maus odores como forma de prevenir ou evitar as 
epidemias. Nas cidades maiores, o lixo, os cemitérios e os abatedouros 
de animais foram deslocados para fora da área urbana, de modo a 
controlar as fontes dos “miasmas”. Posteriormente, gases clorados 
passaram a ser utilizados para impedir ou retardar a decomposição de 
matérias orgânicas. 
 
A teoria dos miasmas, conforme Rosen (1994, p. 212), predominou até 
quase o final do século XIX. Mesmo com a utilização do microscópio 
para a observação de materiais biológicos, no século XVI, os 
“pequenos animais” observados eram considerados produtos e não a 
causa de doenças. 
 
Muitas das medidas práticas, recomendadas sob a lógica da teoria dos 
miasmas, ainda que esta fosse equivocada, contribuíram para 
melhorar as condições sanitárias das cidades europeias, reduzindo a 
incidência de doenças transmissíveis. Ações de saneamento básico são 
exemplos. 
 
 
 A Teoria dos Miasmas considerava que vapores nocivos e de mau cheiro 
(os miasmas ou impurezas), provenientes de exalações de pessoas e animais doentes, 
emanações dos pântanos, de dejetos e substâncias em decomposição, se propagavam pelo ar, 
provocando doenças. 
 
 
 
8 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Como medida preventiva para a proliferação das epidemias, a teoria 
do contágio defendia medidas de isolamento, como a quarentena. 
Entretanto, o isolamento contrariava interesses políticos e 
econômicos, já que poderia implicar perdas financeiras e redução nos 
negócios. Essa pode ter sido uma das razões para que a teoria dos 
miasmas prevalecesse por tanto tempo. 
 
 
 
 
No final do século XIX, os trabalhos de Pasteur (1822-
1895) revolucionaram as concepções sobre 
saúde/doença, com a identificação das bactérias. 
Conforme sua “teoria germinal das enfermidades 
infecciosas”, cada enfermidade infecciosa seria causada 
por um micróbio. Com isso, inaugurou-se uma nova 
concepção da doença, a unicausalidade: a cada doença corresponde 
um agente causador que, uma vez identificado, poderá ser combatido. 
Dessa forma, toda a atenção se voltou para o desenvolvimento de 
recursos que possibilitassem a descoberta da causa, bem como de 
medicamentos para combatê-la. 
 
Uma vez obtidos os antibióticos, já no século XX, observou-se que a 
presença de um agente etiológico (vírus, bactérias, protozoários) era 
condição necessária, mas não suficiente para desencadear uma 
doença e que os indivíduos reagem diferentemente a um mesmo 
agente agressor. Essas observações levaram à proposição da 
multicausalidade das doenças. Entretanto, mesmo ampliando a 
compreensão sobre a causalidade das doenças, essa linha de 
pensamento tende a reafirmar unicamente as questões biológicas, 
 A outra teoria para as epidemias, formulada por Girolamo Fracastoro 
(1478-1553), e conhecida como a Nova Teoria do Contágio, afirmava que as doenças 
epidêmicas resultavam da transmissão de diminutos agentes infecciosos, as seminárias 
(sementes), pelo contato direto pessoa a pessoa, por meio de agentes indiretos ou pelo ar. As 
sementes, além de se reproduzirem, poderiam alterar os humores corporais, instalando, em 
consequência, a infecção. 
 
 
 
Concepções Biológicas 
9 
 
escondendo a causalidade social. Nela, a influência da sociedade e do 
ambiente de trabalho sobre a saúde é considerada secundária. 
 
 
Algumas práticas do homem primitivo de avaliar a dor de 
uma ferida usando banhos de água fria, secando-as com 
folhas secas ou protegendo-a com lama trouxe a percepção 
de que algumas formas de terapia traziam melhores 
resultados comparadas a outras. Neste contexto, o homem 
foi introduzindo a prática da terapia com fármacos no seu 
dia-dia (ALVES, et al., 2012). 
Embora as ocupações na área da saúde não apresentassem 
qualquer grau de profissionalização ou diferenciação definido, na 
Antiguidade Clássica já existia alguma forma, embora muito 
rudimentar e imprecisa, de divisão de trabalho entre os que lidavam 
com medicamentos.Na Grécia eram várias as denominações utilizadas 
para os profissionais que lidavam com medicamentos, para além dos 
médicos. Os mais comuns seriam os pharmakopoloi (singular 
pharmakopolos), ou vendedores de medicamentos, que teriam 
igualmente outras funções no campo sanitário e cujo estatuto social e 
cultura não seriam elevados. Já os rhizotomoi (sing.rhizotomos), ou 
cortadores de raízes, teriam importância e estatuto mais elevados e 
cuja preparação e nível de conhecimentos seria maior. Os próprios 
médicos não apresentavam um estatuto definido: a maioria pertencia 
ao grupo social baixo dos artesãos e apenas um pequeno número de 
médicos se aproximava dos estratos sociais superiores, partilhando da 
intimidade e do respeito da elite social e intelectual grega, como 
Hipócrates. 
 
Em Roma, os preparadores e vendedores de medicamentos, drogas e 
cosméticos eram conhecidos por pharmacopoli (sing.pharmacopolus) e 
os pharmacopoei (sing.pharmacopoeus), os pharmacopoli 
circumforanei (vendedores itinerantes de medicamentos), os sellularii 
(vendedores de medicamentos estabelecidos em lugar fixo, o oposto 
dos circumforanei), os medicamentarii (preparadores de 
medicamentos), os pharmacotribae ou pharmacotritae (trituradores 
de drogas), os pigmentari, de pigmentum (corante, cor), preparadores 
de cosméticos e os herbarii (vendedores de ervas). Em Roma, os 
médicos eram de origem grega até finais da antiguidade. Primeiro 
foram levados como escravos e depois eram homens livres, mas 
sempre estrangeiros. 
 
O Homem e os medicamentos 
10 
 
O desenvolvimento do ensino universitário da medicina deu-se ao 
mesmo tempo em que sofreu um novo impulso o comércio de 
especiarias orientais através do Mediterrâneo e cresceu o número dos 
que se dedicavam ao comércio ambulante de drogas e especiarias. 
Estes comerciantes, os especieiros, foram sofrendo um progressivo 
processo de especialização na preparação de medicamentos, 
aumentando a sua perícia e formação técnica e perdendo 
progressivamente o caráter ambulante, à medida que, a partir do 
século XI, a formação médica em geral e a assimilação do saber médico 
greco-romano aumentavam e que as condições econômico-sociais, o 
desenvolvimento do comércio e crescimentos das cidades, o 
permitiam. O processo de atribuição de caráter nobre da profissão 
médica, associado ao domínio do latim e ao ensino universitário, 
implicava o abandono progressivo das funções manuais, incluindo a 
preparação de medicamentos, deixando o campo aberto para o 
crescimento do número de boticários. O mesmo processo de 
separação se deu entre a medicina, chamada dogmática, e a cirurgia, 
que juntamente com a farmácia constituíam a Medicina ministrante. 
Ao mesmo tempo em que os médicos passavam a ter um ensino 
universitário com professores altamente especializados, os 
farmacêuticos e cirurgiões mantinham um tipo de formação baseado 
na aprendizagem com um mestre estabelecido. Os boticários, cujo 
nome se encontra etimologicamente relacionado com a existência de 
um armazém fixo, foram surgindo por toda a Europa, substituindo os 
especieiros, mesmo nos idiomas em que esta denominação se 
manteve. Em 1240, Frederico II da Sicília e Nápoles, através do 
chamado Édito de Melfi, reafirmou a obrigatoriedade de um curso de 
tipo superior em Salerno para os médicos, ao mesmo tempo em que 
proibiu qualquer sociedade entre médicos e farmacêuticos e 
determinou que estes tivessem de dispensar os medicamentos de 
acordo com as receitas médicas e as normas da arte provenientes de 
Salerno. O mesmo diploma introduziu o princípio da necessidade de 
algum tipo de controle dos preços dos medicamentos e do 
licenciamento e inspeção da atividade farmacêutica. Estas normas 
foram progressivamente adotadas pela Europa. 
 
Você já parou para pensar quão antigas são as ações para regular o interesse 
comercial e a efetividade dessas ações considerando-se o mundo atual? 
 
Hoje, a indústria farmacêutica é responsável pela produção de 
medicamentos aliada às atividades como desenvolvimento, pesquisa, 
comercialização e distribuição de medicamentos. As principais 
descobertas da indústria aconteceram na década de 20 e 30, mas a 
maioria das indústrias farmacêuticas surgiu no final do século 19 e 
início do século 20, como uma das consequências da Revolução 
11 
 
Industrial. Após o processo de desenvolvimento de um novo produto, 
o que leva alguns anos ou meses de investimento, a indústria 
farmacêutica comercializa seus produtos. Outra forma de 
investimento para as novas pesquisas é através dos royalties. 
 
Uma visão sucinta da evolução cronológica do processo de descoberta 
de fármacos está ilustrada na figura abaixo: 
 
 
 
 
Figura 1: Cronologia do Processo de descoberta de fármacos. Barreiro, et al., 
2006. 
 
 
 
12 
 
 
 
Algumas definições de conceitos importantes em farmácia fazem-se 
necessários para padronização das informações. 
 
 
 
 O termo “remédio” é usado muitas vezes de forma 
equivocada como sinônimo de medicamento. De maneira geral, 
remédio é todo recurso que auxilia no alívio ou cura da dor ou da 
enfermidade, como por exemplo, repouso, psicoterapia, fisioterapia, 
acupuntura, cirurgia, etc. 
 Produto farmacêutico, tecnicamente 
obtido ou elaborado, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou 
para fins de diagnóstico. É uma preparação adequada à administração 
que contém fármacos, ou seja, princípios ativos, podendo ainda conter 
adjuvantes ou veículos que idealmente não devem ser inertes – não 
possuir atividade biológica. O medicamento é um insumo estratégico 
de suporte às ações de saúde, cuja falta pode significar interrupções 
constantes no tratamento, o que afeta a qualidade de vida dos 
indivíduos e a credibilidade dos serviços farmacêuticos e do sistema de 
saúde (LOPES & TOLEDO, 2001; ANVISA, 2014). Os medicamentos só 
podem ser produzidos por estabelecimentos farmacêuticos, como 
farmácias magistrais (farmácias de manipulação), hospitais ou 
indústrias farmacêuticas. 
 
 
 
 
 
 
 
Remédio 
Medicamento 
 De acordo com suas características, os medicamentos são diferenciados 
como magistrais, oficinais e especialidades farmacêuticas. Os medicamentos magistrais são 
preparações preparadas somente em farmácias de manipulação e seguem a prescrição médica, 
a qual especifica as quantidades do(s) princípio(s) ativo(s) e a forma farmacêutica. Os 
medicamentos oficinais são preparações contempladas pela farmacopeia legalmente aceita no 
Brasil. Esses medicamentos não podem possuir nome de marca ou fantasia. Já as especialidades 
farmacêuticas, são produtos de composição uniforme registrados junto ao Ministério da Saúde. 
 
 
Definições 
“Todo remédio é um medicamento, porém nem todo medicamento é um remédio.” 
13 
 
 
 
 Estabelecimento de manipulação de fórmulas 
magistrais e oficinais, e também comércio de medicamentos, insumos 
farmacêuticos, correlatos, drogas. Incluindo-se a prática de 
dispensação e o de atendimento privativo de unidade hospitalar. 
 Unidade que fabrica medicamentos 
oficinais ou magistrais em hospitais, que, por via de regra, são 
destinados ao pacientes internados no hospital. 
 Empresa de porte industrial, de 
propriedade pública ou privada, que produz medicamentos oficinais e 
especialidades farmacêuticas, inclusive medicamentos genéricos. 
Esses produtos ficam acessíveis à população pormeio de farmácias, 
drogarias, hospitais e unidade de saúde (ANVISA, 2014). 
 
 
 
 
 
 
 Corresponde à 
classificação Anatômica Terapêutico Química, a qual as drogas são 
divididas em diferentes grupos, de acordo com o órgão ou sistema no 
qual eles atuam e suas propriedades químicas, farmacológicas e 
terapêuticas. As drogas são divididas em cinco níveis diferentes, sendo 
o primeiro, dividido em quatorze grupos principais, com um subgrupo 
farmacológico/terapêutico (segundo nível). Os terceiro e quarto níveis 
correspondem a subgrupos químicos/farmacológicos/terapêuticos, e o 
quinto nível, à substância química. Segue exemplo: 
Quadro 1: Classificação ATC da metformina 
1° nível, grupo anatômico principal A Trato alimentar e metabolism 
2° nível, subgrupo terapêutico A10 Drogas usadas em diabetes 
3° nível, subgrupo farmacológico A10B Drogas de uso oral para redução da glicose sanguínea 
4° nível, subgrupo químico A10BA Biguanidas 
4° nível, subgrupo químico A10BA02 Metformina 
 
 
Farmácia Hospitalar 
Indústria Farmacêutica 
Farmácia 
Anatomical Therapeutic Chemical Code 
(ATC) 
Classificações dos Medicamentos 
Classificação segundo a comercialização 
14 
 
Medicamentos que precisam de retenção de receita ou de notificação 
de receita. 
Medicamentos em que a receita não é retida. 
Medicamentos de venda livre, ou OTC (original do inglês, Over-the-
counter): são àqueles medicamentos que podem ser adquiridos sem 
prescrição médica, já que são destinados à sintomas e moléstias 
facilmente identificáveis por leigos (ANVISA, 2008). 
E, por último, temos a classificação de acordo com a categoria de 
registro no órgão federal responsável pela vigilância sanitária, que 
incluem: medicamentos de referência, similares e genéricos. 
 
 produtos inovadores, 
registrados e comercializados no país, cuja eficácia, segurança e 
qualidade foram comprovados cientificamente junto ao órgão 
sanitário responsável pelo laboratório científico inventor. 
 são àqueles que contêm o 
mesmo princípio ativo, mesma concentração, a mesma forma 
farmacêutica, via de administração, posologia e indicação terapêutica, 
e que é equivalente ao medicamento registrado no órgão de vigilância 
sanitária competente. Observa-se diferenças somente quanto ao 
prazo de validade, embalagem, rotulagem, excipientes e veículos, 
forma e tamanho do produto. E como o medicamento de referência, 
deve sempre ser identificado por nome de marca. 
 São àqueles que são 
equivalentes e intercambáveis com os medicamentos de referência, já 
que a equivalência farmacêutica deve ser comprovada por meio de 
testes de bioequivalência e biodisponibilidade em laboratórios 
credenciados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. 
 É a parcela que as indústrias que produzem 
um medicamento protegido por patente devem pagar àquela que 
desenvolveu a nova fórmula. 
 
 
 
“A inovação exige um acúmulo de competências que se inicia com aquelas 
necessárias à ‘imitação criativa’.” 
 
Medicamento de Referência 
Medicamentos Similares 
Medicamentos Genéricos 
Royalties 
15 
 
Na cadeia e produção de medicamentos existem basicamente três 
rotas tecnológicas. A primeira e a mais importante delas é por meio da 
síntese química, que gera os princípios ativos, também denominados 
de farmoquímicos. A segunda é por extração, a partir de produtos de 
origem vegetal ou animal. A terceira forma, que tem ganhado especial 
destaque na produção de novas drogas, é por meio da biotecnologia 
(Capanema et Palmeira Filho, 2007). As diferenças estruturais e 
competências organizacionais encontradas nas empresas que 
compõem a cadeia produtiva farmacêutica fazem com que seja 
conveniente classifica-las em duas categorias: indústria de 
farmoquímicos e indústria de medicamentos, ainda que muitas das 
grandes empresas do setor sejam integradas e operem nas duas. As do 
primeiro grupo concentram suas atividades na química fina e, por 
conseguinte, apoiam-se fortemente em suas competências 
tecnológicas. O segundo conjunto costuma operar na concepção de 
um bom produto do ponto de vista do marketing (Capanema et 
Palmeira Filho, 2007). Apesar das particularidades das empresas que 
atuam no setor farmacêutico, há algumas premissas que devem ser 
destacadas. Essa indústria está entre as que mais investem em P&D 
(UK, 2010). Além disso, as organizações farmacêuticas mais produtivas 
em P&D são as empresas globais com atividades de inovação 
tecnológicas distribuídas internacionalmente (Pammolli et al. 2011). 
 
Entretanto, um conflito de interesses existe na área de pesquisa e 
desenvolvimento de medicamentos (P & D), em particular na área das 
doenças negligenciadas. O setor privado domina a P & D, gastando 
milhões de dólares a cada ano o desenvolvimento de novas drogas 
para o mercado de massa. O imperativo do lucro garante que as 
drogas escolhidas para o desenvolvimento são aqueles com maior 
probabilidade de fornecer um alto retorno sobre o investimento da 
empresa. Como resultado, os medicamentos industrializados para uso 
no mundo são priorizados em detrimento daqueles utilizados usados 
em países mais pobres, onde muitos pacientes não seriam capazes de 
pagar por eles. 
 
A inovação constitui-se na implementação de um novo produto, ou 
um produto significativamente melhorado; serviço, processo ou 
método. A inovação se diferencia da invenção pelo fato da primeira 
aplicar o conhecimento e gerar um conhecimento com seu produto. 
Os elementos necessários para a conclusão de uma inovação são: 
 
 Processo de concepção de novas tecnologias: etapa que se 
conhece o ambiente onde a tecnologia em desenvolvimento 
será aplicada, se permeiam por caminhos promissores e 
competitivos. Para isto, deve-se pontuar (i) qual o problema a 
16 
 
ser solucionado com tal inovação, (ii) o que existe para tentar 
solucionar o problema e (iii) qual a solução proposta com a 
sua tecnologia. 
 
 Elaboração do design experimental: etapa que o pesquisador 
realiza o delineamento da elaboração do seu projeto. Como 
exemplo disso, temos: definição do número amostral para a 
prova de conceito. 
 
 Aplicação de Boas Práticas de Laboratório (BPL): quando o 
pesquisador define as suas BPL, ele possibilita a realização de 
contraprova, cria uma facilidade de rastrear os resultados 
obtidos nos ensaios e aumenta a credibilidade na classe 
científica. 
 
 Estratégias na divulgação dos resultados: Os resultados 
podem ser divulgados como publicação de artigos, 
apresentações orais, defesas abertas, disponibilização de 
dissertações e teses em bibliotecas ou na internet, e por meio 
de depósito de patentes. 
 
 Fontes de financiamento à pesquisa: Buscas por instituições 
que fomentam as pesquisas. Existem fontes públicas e 
privadas disponíveis ao pesquisador consultar. 
 
 
 
 
- Nova Entidade Química (NEQ): Identificação e desenvolvimento de 
nova molécula com ação terapêutica. 
Ex.: Descoberta do Taxol® 
 
- Novos Biológicos e estratégias terapêuticas: desenvolvimento de 
proteínas e peptídeos ativos, anticorpos monoclonais, terapia celular, 
imunoterapias, etc. 
Ex.: Rituximabe 
 
- Técnicas e metodologias aplicadas à Pesquisa & Desenvolvimento: 
novos modelos animais,softwares, biomarcadores, novas técnicas de 
validação de alvos moleculares, entre outros. 
Ex.: Método computacional para analisar interação receptor-ligante. 
 
- Melhorias de medicamentos: novas associações, formulações, 
dosagens, formas farmacêuticas, administração. 
Ex.: Anel vaginal 
Tipos de Inovações Tecnológicas na Indústria Farmacêutica 
17 
 
 
- Novas vacinas: identificação de novos antígenos, adjuvantes e 
modelos de vacinas. 
Ex.: vacina de DNA para hepatite B 
 
- Modelos de diagnóstico, prognóstico e predição de resposta: 
desenvolvimento de procedimentos que auxiliam no diagnóstico mais 
precoce e preciso. 
Ex.: Teste HER2 
 
- Novo processo produtivo: desenvolvimento ou melhoria de 
processos industriais. 
Ex.: Xalatan® 
 
- Novo Uso: Desenvolvimento de um princípio ativo já conhecido para 
outros usos médicos. 
Ex.: Aspirina® 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A indústria Farmacêutica mundial tem conseguido enfrentar e superar os 
obstáculos criados pelo ambiente recessivo das grandes economias do 
mundo.” 
Nelson Mussolini – Presidente da Sindusfarma 
 
O mercado farmacêutico mundial gera US $ 300 bilhões por ano, um 
número que deverá subir para US $ 400 bilhões nos próximos três 
anos. As 10 maiores empresas de medicamentos controlam mais de 
Etapas envolvidas no processo de P&D de medicamentos 
1. Fase Química: consiste no isolamento de substâncias através de extração de 
produtos naturais, síntese química ou processos biotecnológicos. 
2. Fase Biológica: testes biológicos, in vitro. 
3. Fase Clínica: realização de ensaios clínicos 
4. Fase Galênica: especificações da produção industrial do medicamento. 
 
 
18 
 
um terço desse mercado, com vendas de mais de US $ 10 bilhões por 
ano e margens de lucro de cerca de 30%. Seis são sediadas nos Estados 
Unidos e quatro na Europa. Empresas gastam atualmente um terço de 
todas as receitas de vendas na comercialização de seus produtos - 
cerca de duas vezes o que gastam em pesquisa e desenvolvimento. 
 
Segundo especialistas, o setor farmacêutico nos Estados Unidos e a 
Europa sofreram as mesmas adversidades dos demais segmentos 
econômicos em detrimento do estouro da bolha imobiliária norte-
americana, em 2008. E paralelamente, esse mesmo mercado abalado, 
passa por um complicado processo e adaptação de sua tradicional 
matriz de desenvolvimento, baseada na síntese química, para as novas 
técnicas de biotecnologia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A produção de novos fármacos compreende uma cadeia complexa. 
Entretanto no Brasil, a atividade industrial farmacêutica é consolidada 
com as empresas multinacionais instalando-se no país e passando a 
realizar apenas a quarta etapa da cadeia industrial farmacêutica, como 
transformação do fármaco ou princípio ativo em medicamento, 
através da implantação da formulação galênica e o necessário controle 
de qualidade dos medicamentos acabados. Por outro lado, a indústria 
nacional, soberanamente de caráter familiar, se dedica na produção 
de medicamentos similares, não havendo nenhuma perspectiva de 
inovação (Barreiro, 2006). 
 
Foi no período de 1890 a 1950 que a indústria farmacêutica brasileira 
nasceu e desenvolveu. Comparados aos países Europeus, esse 
desenvolvimento foi tardio, visto que já no final do século XIX seu 
setor já possuía avanços notáveis. 
 
O Estado Brasileiro teve grande influencia no incentivo à indústria 
farmacêutica, pois o seu desenvolvimento sempre esteve atrelado à 
saúde pública e às práticas sanitárias de prevenção e combate às 
doenças, já que as doenças infecciosas advindas das péssimas 
condições sanitárias dos cortiços da época gerou uma demanda maior 
da indústria farmacêutica, incentivando o desenvolvimento de vacinas, 
A Indústria Farmacêutica no Brasil 
19 
 
soros e medicamentos. Neste contexto histórico datado ao final dos 
anos 20, surgiu o Instituto Vacinogênico e o Instituto Butantan, ambos 
localizados no estado de São Paulo, como foco na produção de vacinas 
de varíola e contra a peste, respectivamente . 
 
A partir dos anos 50 algumas mudanças foram observadas no setor. A 
primeira mudança foi provocada pelo presidente Juscelino Kubitschek 
e seus planos de desenvolvimento. Já no governo militar, houve uma 
abertura das portas do mercado farmacêutico para as empresas 
estrangeiras. Enquanto que na década de 80, o setor ficou marcado 
pela estagnação, devido à instabilidade inflacionária, entre os anos de 
1980 e 2000, houve o crescimento das indústrias farmacêuticas 
nacionais, entretanto, enfrentou o controle de preço por parte do 
governo, a L E I D A S PA T E N T E S como fortalecimento do monopólio da 
produção, mas ao mesmo tempo incentivo da inovação científica e 
tecnológica, o baixo prestígio dos produtos nacionais frente aos 
importados, novas regras estabelecidas pela Agência Nacional de 
Vigilância Sanitária, criada em 1999, para o registro de novos 
medicamentos e a entrada dos genéricos neste cenário, o qual forçou 
importantes modificações no perfil do mercado farmacêutico no 
Brasil, principalmente na quebra de monopólios de alguns produtos 
para comercialização. 
 
O sistema de comercialização no Brasil é marcado por algumas 
peculiaridades. O controle de preços dos medicamentos a serem 
comercializados no Brasil é conduzido pela C Â M A R A D E RE G U L A Ç Ã O 
D E ME R C A D O D E ME D I C A M E N T O S (CMED) . Cabe à CMED definir os 
preços máximos dos produtos, estipular os reajustes anuais e 
assegurar o cumprimento dessas determinações pela indústria 
farmacêutica. A definição dos preços de novos fármacos é baseada 
nos valores de referências globais. O custo no Brasil não pode superar 
o menos preço cobrado entre noves diferentes mercados (EUA, Nova 
Zelândia, Austrália, Grécia, Portugal, Itália, Espanha, França, Canadá). 
Por lei, os genéricos são 35% mais baratos que os medicamentos de 
referência. Mas a média de descontos chega até 50%. No mundo, o 
mercado dos genéricos por volta de 17% ao ano e movimenta cerca de 
US$ 55 bilhões (dos quais US$ 22 bilhões se concentram nos Estados 
Unidos, onde esses medicamentos respondem por 60% das 
prescrições médicas). Segundo a Associação Brasileira das Indústrias 
de Medicamentos Genéricos (Pró-Genérico), desde que chegaram ao 
mercado brasileiro, em meados do ano 2000, os genéricos já 
proporcionaram uma economia de US$ 10,5 bilhões aos consumidores 
brasileiros (VALDUGA, 2009). 
20 
 
Um aspecto importante no mercado doméstico é a concentração do 
serviço de distribuição nas mãos de poucos grupos regionais e 
nacionais, visto que somente de 25% a 35% os produtos são realmente 
entregues diretamente ao varejo. Este mesmo varejo, que tem feito 
grandes fusões de redes de drogarias visando à consolidação no 
mercado, como a Drogasil e Droga Raia, fusão da qual se originou a 
Raia Drogasil, a maior rede de drogarias do Brasil, com participação de 
8,3% do mercado varejista. 
O SUS também é responsável pela compra e distribuição de 
medicamentos no Brasil. Para a aquisição do SUS os medicamentos 
devem estar contemplados na RE L A Ç Ã O NA C I O N A L D E 
ME D I C A M E N T O S ES S E N C I A I S (RENAME ). A organização da 
Assistência farmacêutica no SUS é dividida em três componentes: 
Básico, Estratégico e Especializado, com definições de aquisição, 
financiamento e dispensação para cada ente federado: municipal, 
estadual e federal. 
Outra estratégia de distribuição de medicamentos é realizada pelo 
PR O G R A M A F A R M Á C I A PO PU L A R , criado pelo Governo Federal, com 
intuito de ampliar o acesso aos medicamentos para as doenças mais 
comuns entre a população. O programa possui sua rede própria de 
Farmácias Populares e conta com a parceira de farmácias e drogarias 
privadas, chamada de “Aqui tem Farmácia Popular” (MS, 2014). 
 
 
Confirmando-se o fim do período mais agudo da crise internacional, as 
perspectivas da economia mundial são animadoras. Em primeiro lugar, 
pelo reaquecimento dos negócios nos principais mercados. Outros 
fatores são as tecnologias inovadoras que estão sendo incorporadas 
pelas empresas, gerando novos produtos e elevando a produtividade. 
Além disso, os mercados consumidores dos países emergentes 
continuam em expansão e vários acordos de livre comércio entre 
blocos econômicos, atualmente em negociação, poderão dar um 
impulso adicional a essa dinâmica. 
Alguns especialistas, dizem que o mercado farmacêutico está, sem 
dúvida, sofrendo e crescendo com os obstáculos do cenário global e o 
seu desenvolvimento na vertente industrial. A aposta nos 
medicamentos sintéticos, de síntese química, oferecem poucas 
21 
 
oportunidades de verdadeiras inovações e são inundadas pelo crédito 
nos genéricos. Conforme as tendências dos mercados mundiais, o 
setor farmacêutico aposta nos mercados nicho de alta complexidade, 
chamados na biotecnologia de produtos biológicos e biossimilares. 
Ao longe de duas décadas, o Brasil vive um importante ciclo de 
estabilidade econômica e política, o que tem refletido no notável 
desenvolvimento da economia nacional, mesmo não atingindo índices 
tão altos quanto em outros países também emergentes. 
O quinto maior país em extensão territorial e em população, o Brasil 
registrou, em 2012, um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 2,42 
trilhões, atingindo o sétimo maior do planeta, e com sinais de chegar, 
ainda nesta década, a quinta maior economia. A recente expansão do 
mercado brasileiro veio acompanhado de ascensão das classes sociais 
junto ao aumento de consumo, que em 2012, representou 61% do PIB 
nacional, cenário favorável ao investimento estrangeiro. Toda essa 
desenvoltura do mercado brasileiro, refletiu na instauração da 
situação de “pleno emprego”, termo usado por especialistas quando o 
país possui a taxa de emprego em torno de 5% da população 
economicamente ativa há mais de dois anos. 
Contudo, a economia brasileira ainda tem muito a avançar. O país se 
depara com grandes desafios voltados à infraestrutura, especialmente 
nas cadeias de transporte e logística, melhoramento dos setores de 
telecomunicações, energia e educação. Se por um lado, as indústrias 
pressionam para a realização de ajustes fiscais, justiçando-se pelas 
elevadas cargas tributária; por outro, a população pressiona por 
melhorias no acesso e qualidade do serviço de saúde, que é direito 
de cidadania definido pela Constituição Federal de 1988. 
O Brasil foi um dos últimos países a ingressar na crise financeira global 
instituída em 2009 e uma das primeiras nações a reverter a dificuldade 
econômica instituída. Entretanto, a economia brasileira ainda se 
encontra fortemente atrelada ao mercado de países emergentes - 
como a China – e estreita e dependente relação aos países 
desenvolvidos, motivo este que sofreu de maneira significativa os 
impactos da queda da economia dos Estados Unidos e países da 
Europa. Ainda assim, o Brasil mantém até hoje um ambiente de 
negócios favorável, particularmente, com maior destaque no 
desempenho da indústria farmacêutica. 
Na corrida pela inovação, o Brasil tem mostrado potencial para 
competir com o resto do mundo. Devido à estabilidade econômica, a 
construção de centros de pesquisas sofisticados, segurança jurídica e 
capital intelectual reconhecido, o País se tornou alvo de investidores 
em todo mundo. 
22 
 
De acordo com a UNESCO (A Organização das Nações Unidas para a 
Educação, a Ciência e a Cultura), o seguimento de biociências (ou 
ciências da vida) é uma das áreas de maior potencial para o 
desenvolvimento local de inovações tecnológicas, já que concentra 42, 
2% dos doutores titulados no país (CENTRO DE GESTÃO E ESTUDO 
ESTRATÉGICO, 2010). 
Uma importante evolução no Brasil em termos de gastos financeiros 
no mercado de saúde tem sido beneficiado pela indústria 
farmacêutica. De 2007 a 2011, no varejo apresentou um crescimento 
acumulado de 82,2 %, saltando de R$ 23,6 bilhões para R$ 43 bilhões, 
de acordo com os dados da IMS Helth. Em 2012, o varejo farmacêutico 
brasileiro registrou faturamento total de R$ 49,6 bilhões, o que 
representa um incremento de 15% em relação a 2011. Esses grandes 
saltos são resultados de vários fatores, em primeiro lugar o 
envelhecimento da população, em função do aumento da expectativa 
de vida das pessoas, e o melhoramento da renda do brasileiro, devido 
ao aquecimento da economia e na oferta de empregos. Na lista de 
medicamentos mais vendidos no Brasil, incluem àqueles destinados ao 
controle da hipertensão e do colesterol, além de uma parte 
significativa dos MIP’s – medicamentos isentos de prescrição e outros 
relacionados à qualidade de vida, como o Viagra (PWC). 
 
 
Referências 
Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (2010) Doutores: estudos de demografia da base técnico-
científica brasileira – Brasília, DF. 
 
Ministério da Saúde. 2014. Programa Farmácia Popular.Disponível em: 
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/secretarias/sctie/farmacia-popular. 
 
Valduga, C. J. A Indústria Farmacêutica – Uma Breve História. Rev. Pesq. Inov. Farm. 1(1):40-52, ago-dez, 
2009 
 
LOPES, L.C.; TOLEDO, M.I. Princípios básicos de farmacologia clínica relevantes ao estudo da 
farmacoepidemiologia. In: CASTRO, L.L.C. (Org.). Fundamentos de farmacoepidemiologia. Campo 
Grande: Grupo de Pesquisa em Uso Racional de Medicamentos - GRUPURAM, 2001. p. 19–36. 
 
ANVISA, 2014 - Classificação ATC. Disponível em: 
http://www.anvisa.gov.br/datavisa/Substancia/ATC.htm. 
 
Capanema, L. X. L, Palmeira Filho, P. L. (2009), “Indústria farmacêutica brasileira: reflexões sobre sua 
estrutura e potencial de investimentos”. Disponível em: 
<http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento
/liv_perspectivas/06.pdf>. (Acesso em: 23 agosto de 2009). 
23 
 
 
UK-United Kingdom. (2010), R&D Scoreboard - The 2010 R&D Commentary & Analysis. Department for 
Business, Innovation & Skills (BIS), UK. 
 
Pammolli, F., Magazzini, L., Riccaboni, M. (2011) “The productivity crisis in pharmaceutical R&D”, Nature 
Reviews Drug Discovery. V. 10, pp. 428-438. 
 
24 
 
Exercícios 
 
1) Sobre a Lei das Patentes, descreva seus principais pontos. Defina e explique seus pontos 
positivos e negativos para a saúde pública no Brasil. 
2) Defina e cite exemplos dos diferentes tipos de inovação tecnológica no setor farmacêutico. 
3) Quais ações deveriam ser tomadas no Brasil para aumentar as pesquisas no setor de Pesquisa e 
Desenvolvimento? Cite e explique 5 ações. 
4) O que é a lei dos genéricos? Cite as consequências da política para a saúde pública no Brasil. 
5) Escolha um princípio ativo e uma posologia. Procure no Banco de preços em Saúde o preço 
desse medicamento no ano de 2013. Verifique as diferenças entre os distribuidores/fabricantes 
e quantitativo adquirido. Discuta as diferenças, considerando-se o mercado farmacêutico.

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