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Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Farmácia Departamento Farmácia Social Assistência Farmacêutica – Disciplina Optativa APOSTILA DE ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA NOÇÕES SOBRE O MERCADO FARMACÊUTICO Profª Dra. Marina Guimarães Lima Profª Dra. Cristina Mariano Ruas Brandão Material elaborado pela docente Laíse Sofia de Macedo Rodrigues. 2/2014 2 “Um povo que não conhece a sua história está condenado a repetir os mesmo erros” Para entender o contexto atual, devemos entender as diversas concepções do processo saúde-doença, que estão interligadas ao processo histórico, social e econômico do período vigente. Desta forma, a relação do mercado farmacêutico com a sociedade irá definir o modo como as pessoas se tratam e como lidam com a doença. Em diversas épocas, para muitas sociedades e civilizações, as explicações para a criação e o funcionamento do mundo residiram no sobrenatural. Em outros momentos, mesmo sem o conhecimento científico que explicasse de fato o fenômeno em questão, medidas eficazes foram tomadas para reversão dos problemas, como será explicitado no decorrer do texto. Em diversas épocas, para muitas sociedades e civilizações, as explicações para a criação e o funcionamento do mundo residiram ou residem no sobrenatural, sendo que mitos, lendas e histórias, frequentemente associados a alguma cultura religiosa, foram ou são as referências hermenêuticas para a compreensão dos fenômenos naturais, dentre os quais, as doenças. Com a divinização do desconhecido, utilizam- se cerimônias, rezas e rituais de magia ou religiosos, como instrumentos destinados a interferir ou mesmo dominar a natureza. A magia costuma ter um caráter de prática individual, em que os poderes sobrenaturais seriam dominados por um xamã, médium, Concepções não racionais ou mágico-religiosas 3 mago etc., para fins específicos. Nas religiões, um ou mais deuses seriam os responsáveis por todo o universo, sendo que alguns homens, devidamente preparados (sacerdotes, padres etc.), teriam a propriedade de intervir junto a ele(s), solicitando graças. Há também práticas em que se mesclam componentes da magia e de uma ou mais religiões. De acordo com Hegenberg (1998) e Scliar (2007), as concepções mágico-religiosas são típicas de sociedades primitivas. Entretanto, permanecem em todas as sociedades atuais, em alguma medida. No mundo ocidental, as concepções mágico-religiosas predominaram até a ANTIGA GRÉCIA , quando, mesmo em meio ao politeísmo, as explicações para os fenômenos físicos, químicos e biológicos passaram a ser buscadas na natureza, marcando o início do racionalismo. Posteriormente, em toda EUROPA MEDIEV AL , o racionalismo grego perdeu forças frente às crenças religiosas - pagãs e, principalmente, cristãs. Novamente, o adoecimento passou a ser considerado uma punição de Deus pelo pecado, ou o resultado da possessão pelo diabo ou da feitiçaria. O alívio era buscado por meio de rituais, preces e/ou invocação de santos. Alguns conceitos e práticas daquele período permanecem até hoje. São exemplos: os conceitos de contágio e isolamento. Presente no Velho Testamento, o contágio foi, primeiramente, relacionado à Segundo a concepção mágica, atos mágicos ou maldições podem desencadear doenças, introduzindo-as no organismo de um ser vivo. Predomina a ideia de que a doença é externa ao corpo do indivíduo. O tratamento, nessa lógica, também dependeria de ações ou rituais de magia. Na concepção religiosa, o processo saúde-doença é compreendido como decorrência da vontade divina. A doença seria uma resposta à transgressão de algum dos preceitos religiosos ou de uma atitude condenável, apoderando-se do corpo de um indivíduo ou grupo populacional. Em consequência, acredita-se que os deuses, ou seus representantes na Terra, têm o poder de interferir no processo da enfermidade e na sua cura. Na tradição judaico-cristã, por exemplo, Deus é tido como o Senhor da vida e da morte, bem como da saúde e da doença. Como premiação pela obediência à lei divina, tem-se saúde e, como castigo por seu descumprimento, a doença. 4 impureza espiritual que, além de contagiosa, era também associada a doenças (ROSEN, 1994). Na Europa Medieval, ser portador da lepra (atualmente designada como mal de Hansen ou Hanseníase) equivalia a uma sentença de ser “impuro” e uma condenação a um severo isolamento para o resto de sua vida. Também na Idade Média, a Europa foi assolada por outra praga, a Peste Negra, considerada como sinal da ira divina. Além das orações e das penitências como recurso para a salvação, foi estabelecida a obrigatoriedade da notificação dos casos às autoridades municipais, as quais providenciavam alimentos aos isolados. O isolamento passou a ser estendido a todos os que tivessem tido contato com o doente. Em casos suspeitos, as pessoas deviam ser observadas por um período específico, até que se certificasse a ausência da doença. Era o sistema de quarentena, também justificado, pelo menos em parte, por concepções religiosas. O abandono das explicações sobrenaturais caracteriza o pensamento racional do ocidente, hoje identificado, hegemonicamente, como pensamento científico. Entretanto, a busca pela saúde por meio de benzeduras, santuários, rezas, invocação de santos e outros rituais - religiosos ou não - ainda são relativamente comuns nos dias atuais, embora não costumem ser prevalentes onde se dispõe de meios para o cuidado em saúde, baseados em concepções racionais. Você já foi a uma benzedeira, ou conhece alguém que já foi? Como mencionado anteriormente, os gregos da antiguidade eram politeístas, sendo que algumas divindades eram consagradas à saúde. Contudo, entre os anos 600 e 500 a.C., iniciou-se, com os filósofos gregos pré-socráticos, outra forma de tentar compreender o mundo e, consequentemente, de interagir com ele, não mais por meio de rituais místicos. Foram as primeiras manifestações, no ocidente, da busca de explicações por meio da razão, considerada, desde então, como fonte do conhecimento. O Racionalismo Grego 5 A partir dos pré-socráticos, a natureza passou a ser compreendida a partir de quatro elementos, cada qual correspondendo a um estado da matéria: ar/estado gasoso, fogo/plasma, terra/sólido, água/líquido. As propriedades de cada elemento eram relacionadas ao frio, calor, secura e umidade (ar: úmido e quente; fogo: quente e seco; terra: seca e fria; água: fria e úmida). A diversidade da matéria encontrada na natureza resultaria das diferentes combinações dos quatro elementos. A terapêutica hipocrática buscava restaurar o equilíbrio, eliminando ou se contrapondo ao humor em excesso, procurando respostas na esfera da natureza e não no sobrenatural. Em relação às doenças endêmicas, Hipócrates as associava ao clima, solo e modo de vida (no qual estavam incluídos os exercícios e o descanso). Dois mil anos depois de Hipócrates, Paracelso (1493-1541) elaborou sua “VERSÃO QUÍMI CA” DA TEOR IA HUMORAL , afirmando que os líquidos corporais eram compostos de minerais em equilíbrio. Paracelso acreditava no poder de cura dos venenos (e outras substâncias), desde que na dose correta. Dessa forma, foi pioneiro ao empregar substâncias químicas para fins medicinais. Durante a Idade Média, com o predomínio do cristianismo(pensamento religioso), a racionalidade grega declinou no ocidente, prevalecendo o teocentrismo, cuja atenção e estudos estavam focados nos assuntos divinos. Concepções racionais só voltaram a ganhar expressividade, Hipócrates (460-377 a.C.), posteriormente, desenvolveu a concepção humoral: no corpo, a saúde resultaria do equilíbrio de quatro fluidos (humores), cada qual correspondendo a um dos quatro elementos. As correspondências estabelecidas foram: sangue-ar, bile amarela-fogo, bile preta-terra e fleuma-água. A saúde seria o resultado da mistura equilibrada dos humores, enquanto a doença resultaria da sua desorganização ou desequilíbrio. Nesse sentido, até hoje, é frequente a associação entre saúde/ equilíbrio e doença/desequilíbrio. Mecanicismo e Cartesianismo 6 O mecanicismo afirma que os fenômenos do mundo material são regidos por causas físicas e não por entes espirituais. Suas duas principais doutrinas são: o mundo é uma máquina e todo o real é físico; a redução dos fenômenos à física e de suas interações à mecânica é necessária e suficiente para conhecer e explicar o mundo e suas partes. na Europa, a partir do Renascimento, entre o final do século XIV e meados do século XVI. Desbancando o teocentrismo, ganhou força o humanismo, voltado às necessidades humanas e aos fenômenos naturais. Marcava-se, assim, o retorno ao pensamento racional, independente do pensamento religioso e místico da Idade Média. Iniciava-se a Revolução Científica, caracterizada pela profunda modificação na forma de investigar a natureza e interpretar os fenômenos observados. Dentro dessa nova corrente de pensamento, destacam-se os trabalhos no campo da física, desenvolvidos por Copérnico, Galileu, Kepler e Newton, entre tantos outros, os quais foram subsidiando a doutrina filosófica enunciada por René Descartes (1596-1650) e conhecida como mecanicismo. Outra importante contribuição desse período foi o desenvolvimento de um método para a investigação do mundo real. Proposto por Descartes, o MÉTODO CA RTES IANO , como ficou conhecido, estabeleceu os seguintes passos para a investigação científica: (1) verificação – buscar evidências sobre o fenômeno ou objeto de estudo; (2) análise – dividir o objeto investigado em suas menores partes (unidades) e submetê-las a estudo; (3) síntese – agrupar as unidades em um todo; (4) conclusão – enumerar os princípios, as observações e as conclusões com a finalidade de manter a ordem do pensamento. O mecanicismo, como forma de interpretação, e o cartesianismo, como forma de investigação, tiveram enorme influência no campo da biologia. Observando o corpo humano analogamente a uma máquina, os estudos sobre anatomia ganharam maior relevância, e a concepção humoral foi sendo substituída pela concepção de que nos órgãos (as peças da máquina) é que deveria estar localizada a doença. Teorias dos Miasmas e do Contágio 7 De acordo com Rosen (1994), mesmo com toda a inovação nos conhecimentos que marcaram o período renascentista, não houve benefício para as condições gerais da saúde. As pestes continuaram dizimando populações e impedindo o desenvolvimento de muitas regiões. O crescimento populacional e numérico das cidades tornava ainda mais agudo o problema. Para tentar compreender e controlar as endemias e epidemias coexistiam duas teorias. Por causa disso, recomendavam-se alguns cuidados para impedir a disseminação dos maus odores como forma de prevenir ou evitar as epidemias. Nas cidades maiores, o lixo, os cemitérios e os abatedouros de animais foram deslocados para fora da área urbana, de modo a controlar as fontes dos “miasmas”. Posteriormente, gases clorados passaram a ser utilizados para impedir ou retardar a decomposição de matérias orgânicas. A teoria dos miasmas, conforme Rosen (1994, p. 212), predominou até quase o final do século XIX. Mesmo com a utilização do microscópio para a observação de materiais biológicos, no século XVI, os “pequenos animais” observados eram considerados produtos e não a causa de doenças. Muitas das medidas práticas, recomendadas sob a lógica da teoria dos miasmas, ainda que esta fosse equivocada, contribuíram para melhorar as condições sanitárias das cidades europeias, reduzindo a incidência de doenças transmissíveis. Ações de saneamento básico são exemplos. A Teoria dos Miasmas considerava que vapores nocivos e de mau cheiro (os miasmas ou impurezas), provenientes de exalações de pessoas e animais doentes, emanações dos pântanos, de dejetos e substâncias em decomposição, se propagavam pelo ar, provocando doenças. 8 Como medida preventiva para a proliferação das epidemias, a teoria do contágio defendia medidas de isolamento, como a quarentena. Entretanto, o isolamento contrariava interesses políticos e econômicos, já que poderia implicar perdas financeiras e redução nos negócios. Essa pode ter sido uma das razões para que a teoria dos miasmas prevalecesse por tanto tempo. No final do século XIX, os trabalhos de Pasteur (1822- 1895) revolucionaram as concepções sobre saúde/doença, com a identificação das bactérias. Conforme sua “teoria germinal das enfermidades infecciosas”, cada enfermidade infecciosa seria causada por um micróbio. Com isso, inaugurou-se uma nova concepção da doença, a unicausalidade: a cada doença corresponde um agente causador que, uma vez identificado, poderá ser combatido. Dessa forma, toda a atenção se voltou para o desenvolvimento de recursos que possibilitassem a descoberta da causa, bem como de medicamentos para combatê-la. Uma vez obtidos os antibióticos, já no século XX, observou-se que a presença de um agente etiológico (vírus, bactérias, protozoários) era condição necessária, mas não suficiente para desencadear uma doença e que os indivíduos reagem diferentemente a um mesmo agente agressor. Essas observações levaram à proposição da multicausalidade das doenças. Entretanto, mesmo ampliando a compreensão sobre a causalidade das doenças, essa linha de pensamento tende a reafirmar unicamente as questões biológicas, A outra teoria para as epidemias, formulada por Girolamo Fracastoro (1478-1553), e conhecida como a Nova Teoria do Contágio, afirmava que as doenças epidêmicas resultavam da transmissão de diminutos agentes infecciosos, as seminárias (sementes), pelo contato direto pessoa a pessoa, por meio de agentes indiretos ou pelo ar. As sementes, além de se reproduzirem, poderiam alterar os humores corporais, instalando, em consequência, a infecção. Concepções Biológicas 9 escondendo a causalidade social. Nela, a influência da sociedade e do ambiente de trabalho sobre a saúde é considerada secundária. Algumas práticas do homem primitivo de avaliar a dor de uma ferida usando banhos de água fria, secando-as com folhas secas ou protegendo-a com lama trouxe a percepção de que algumas formas de terapia traziam melhores resultados comparadas a outras. Neste contexto, o homem foi introduzindo a prática da terapia com fármacos no seu dia-dia (ALVES, et al., 2012). Embora as ocupações na área da saúde não apresentassem qualquer grau de profissionalização ou diferenciação definido, na Antiguidade Clássica já existia alguma forma, embora muito rudimentar e imprecisa, de divisão de trabalho entre os que lidavam com medicamentos.Na Grécia eram várias as denominações utilizadas para os profissionais que lidavam com medicamentos, para além dos médicos. Os mais comuns seriam os pharmakopoloi (singular pharmakopolos), ou vendedores de medicamentos, que teriam igualmente outras funções no campo sanitário e cujo estatuto social e cultura não seriam elevados. Já os rhizotomoi (sing.rhizotomos), ou cortadores de raízes, teriam importância e estatuto mais elevados e cuja preparação e nível de conhecimentos seria maior. Os próprios médicos não apresentavam um estatuto definido: a maioria pertencia ao grupo social baixo dos artesãos e apenas um pequeno número de médicos se aproximava dos estratos sociais superiores, partilhando da intimidade e do respeito da elite social e intelectual grega, como Hipócrates. Em Roma, os preparadores e vendedores de medicamentos, drogas e cosméticos eram conhecidos por pharmacopoli (sing.pharmacopolus) e os pharmacopoei (sing.pharmacopoeus), os pharmacopoli circumforanei (vendedores itinerantes de medicamentos), os sellularii (vendedores de medicamentos estabelecidos em lugar fixo, o oposto dos circumforanei), os medicamentarii (preparadores de medicamentos), os pharmacotribae ou pharmacotritae (trituradores de drogas), os pigmentari, de pigmentum (corante, cor), preparadores de cosméticos e os herbarii (vendedores de ervas). Em Roma, os médicos eram de origem grega até finais da antiguidade. Primeiro foram levados como escravos e depois eram homens livres, mas sempre estrangeiros. O Homem e os medicamentos 10 O desenvolvimento do ensino universitário da medicina deu-se ao mesmo tempo em que sofreu um novo impulso o comércio de especiarias orientais através do Mediterrâneo e cresceu o número dos que se dedicavam ao comércio ambulante de drogas e especiarias. Estes comerciantes, os especieiros, foram sofrendo um progressivo processo de especialização na preparação de medicamentos, aumentando a sua perícia e formação técnica e perdendo progressivamente o caráter ambulante, à medida que, a partir do século XI, a formação médica em geral e a assimilação do saber médico greco-romano aumentavam e que as condições econômico-sociais, o desenvolvimento do comércio e crescimentos das cidades, o permitiam. O processo de atribuição de caráter nobre da profissão médica, associado ao domínio do latim e ao ensino universitário, implicava o abandono progressivo das funções manuais, incluindo a preparação de medicamentos, deixando o campo aberto para o crescimento do número de boticários. O mesmo processo de separação se deu entre a medicina, chamada dogmática, e a cirurgia, que juntamente com a farmácia constituíam a Medicina ministrante. Ao mesmo tempo em que os médicos passavam a ter um ensino universitário com professores altamente especializados, os farmacêuticos e cirurgiões mantinham um tipo de formação baseado na aprendizagem com um mestre estabelecido. Os boticários, cujo nome se encontra etimologicamente relacionado com a existência de um armazém fixo, foram surgindo por toda a Europa, substituindo os especieiros, mesmo nos idiomas em que esta denominação se manteve. Em 1240, Frederico II da Sicília e Nápoles, através do chamado Édito de Melfi, reafirmou a obrigatoriedade de um curso de tipo superior em Salerno para os médicos, ao mesmo tempo em que proibiu qualquer sociedade entre médicos e farmacêuticos e determinou que estes tivessem de dispensar os medicamentos de acordo com as receitas médicas e as normas da arte provenientes de Salerno. O mesmo diploma introduziu o princípio da necessidade de algum tipo de controle dos preços dos medicamentos e do licenciamento e inspeção da atividade farmacêutica. Estas normas foram progressivamente adotadas pela Europa. Você já parou para pensar quão antigas são as ações para regular o interesse comercial e a efetividade dessas ações considerando-se o mundo atual? Hoje, a indústria farmacêutica é responsável pela produção de medicamentos aliada às atividades como desenvolvimento, pesquisa, comercialização e distribuição de medicamentos. As principais descobertas da indústria aconteceram na década de 20 e 30, mas a maioria das indústrias farmacêuticas surgiu no final do século 19 e início do século 20, como uma das consequências da Revolução 11 Industrial. Após o processo de desenvolvimento de um novo produto, o que leva alguns anos ou meses de investimento, a indústria farmacêutica comercializa seus produtos. Outra forma de investimento para as novas pesquisas é através dos royalties. Uma visão sucinta da evolução cronológica do processo de descoberta de fármacos está ilustrada na figura abaixo: Figura 1: Cronologia do Processo de descoberta de fármacos. Barreiro, et al., 2006. 12 Algumas definições de conceitos importantes em farmácia fazem-se necessários para padronização das informações. O termo “remédio” é usado muitas vezes de forma equivocada como sinônimo de medicamento. De maneira geral, remédio é todo recurso que auxilia no alívio ou cura da dor ou da enfermidade, como por exemplo, repouso, psicoterapia, fisioterapia, acupuntura, cirurgia, etc. Produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico. É uma preparação adequada à administração que contém fármacos, ou seja, princípios ativos, podendo ainda conter adjuvantes ou veículos que idealmente não devem ser inertes – não possuir atividade biológica. O medicamento é um insumo estratégico de suporte às ações de saúde, cuja falta pode significar interrupções constantes no tratamento, o que afeta a qualidade de vida dos indivíduos e a credibilidade dos serviços farmacêuticos e do sistema de saúde (LOPES & TOLEDO, 2001; ANVISA, 2014). Os medicamentos só podem ser produzidos por estabelecimentos farmacêuticos, como farmácias magistrais (farmácias de manipulação), hospitais ou indústrias farmacêuticas. Remédio Medicamento De acordo com suas características, os medicamentos são diferenciados como magistrais, oficinais e especialidades farmacêuticas. Os medicamentos magistrais são preparações preparadas somente em farmácias de manipulação e seguem a prescrição médica, a qual especifica as quantidades do(s) princípio(s) ativo(s) e a forma farmacêutica. Os medicamentos oficinais são preparações contempladas pela farmacopeia legalmente aceita no Brasil. Esses medicamentos não podem possuir nome de marca ou fantasia. Já as especialidades farmacêuticas, são produtos de composição uniforme registrados junto ao Ministério da Saúde. Definições “Todo remédio é um medicamento, porém nem todo medicamento é um remédio.” 13 Estabelecimento de manipulação de fórmulas magistrais e oficinais, e também comércio de medicamentos, insumos farmacêuticos, correlatos, drogas. Incluindo-se a prática de dispensação e o de atendimento privativo de unidade hospitalar. Unidade que fabrica medicamentos oficinais ou magistrais em hospitais, que, por via de regra, são destinados ao pacientes internados no hospital. Empresa de porte industrial, de propriedade pública ou privada, que produz medicamentos oficinais e especialidades farmacêuticas, inclusive medicamentos genéricos. Esses produtos ficam acessíveis à população pormeio de farmácias, drogarias, hospitais e unidade de saúde (ANVISA, 2014). Corresponde à classificação Anatômica Terapêutico Química, a qual as drogas são divididas em diferentes grupos, de acordo com o órgão ou sistema no qual eles atuam e suas propriedades químicas, farmacológicas e terapêuticas. As drogas são divididas em cinco níveis diferentes, sendo o primeiro, dividido em quatorze grupos principais, com um subgrupo farmacológico/terapêutico (segundo nível). Os terceiro e quarto níveis correspondem a subgrupos químicos/farmacológicos/terapêuticos, e o quinto nível, à substância química. Segue exemplo: Quadro 1: Classificação ATC da metformina 1° nível, grupo anatômico principal A Trato alimentar e metabolism 2° nível, subgrupo terapêutico A10 Drogas usadas em diabetes 3° nível, subgrupo farmacológico A10B Drogas de uso oral para redução da glicose sanguínea 4° nível, subgrupo químico A10BA Biguanidas 4° nível, subgrupo químico A10BA02 Metformina Farmácia Hospitalar Indústria Farmacêutica Farmácia Anatomical Therapeutic Chemical Code (ATC) Classificações dos Medicamentos Classificação segundo a comercialização 14 Medicamentos que precisam de retenção de receita ou de notificação de receita. Medicamentos em que a receita não é retida. Medicamentos de venda livre, ou OTC (original do inglês, Over-the- counter): são àqueles medicamentos que podem ser adquiridos sem prescrição médica, já que são destinados à sintomas e moléstias facilmente identificáveis por leigos (ANVISA, 2008). E, por último, temos a classificação de acordo com a categoria de registro no órgão federal responsável pela vigilância sanitária, que incluem: medicamentos de referência, similares e genéricos. produtos inovadores, registrados e comercializados no país, cuja eficácia, segurança e qualidade foram comprovados cientificamente junto ao órgão sanitário responsável pelo laboratório científico inventor. são àqueles que contêm o mesmo princípio ativo, mesma concentração, a mesma forma farmacêutica, via de administração, posologia e indicação terapêutica, e que é equivalente ao medicamento registrado no órgão de vigilância sanitária competente. Observa-se diferenças somente quanto ao prazo de validade, embalagem, rotulagem, excipientes e veículos, forma e tamanho do produto. E como o medicamento de referência, deve sempre ser identificado por nome de marca. São àqueles que são equivalentes e intercambáveis com os medicamentos de referência, já que a equivalência farmacêutica deve ser comprovada por meio de testes de bioequivalência e biodisponibilidade em laboratórios credenciados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. É a parcela que as indústrias que produzem um medicamento protegido por patente devem pagar àquela que desenvolveu a nova fórmula. “A inovação exige um acúmulo de competências que se inicia com aquelas necessárias à ‘imitação criativa’.” Medicamento de Referência Medicamentos Similares Medicamentos Genéricos Royalties 15 Na cadeia e produção de medicamentos existem basicamente três rotas tecnológicas. A primeira e a mais importante delas é por meio da síntese química, que gera os princípios ativos, também denominados de farmoquímicos. A segunda é por extração, a partir de produtos de origem vegetal ou animal. A terceira forma, que tem ganhado especial destaque na produção de novas drogas, é por meio da biotecnologia (Capanema et Palmeira Filho, 2007). As diferenças estruturais e competências organizacionais encontradas nas empresas que compõem a cadeia produtiva farmacêutica fazem com que seja conveniente classifica-las em duas categorias: indústria de farmoquímicos e indústria de medicamentos, ainda que muitas das grandes empresas do setor sejam integradas e operem nas duas. As do primeiro grupo concentram suas atividades na química fina e, por conseguinte, apoiam-se fortemente em suas competências tecnológicas. O segundo conjunto costuma operar na concepção de um bom produto do ponto de vista do marketing (Capanema et Palmeira Filho, 2007). Apesar das particularidades das empresas que atuam no setor farmacêutico, há algumas premissas que devem ser destacadas. Essa indústria está entre as que mais investem em P&D (UK, 2010). Além disso, as organizações farmacêuticas mais produtivas em P&D são as empresas globais com atividades de inovação tecnológicas distribuídas internacionalmente (Pammolli et al. 2011). Entretanto, um conflito de interesses existe na área de pesquisa e desenvolvimento de medicamentos (P & D), em particular na área das doenças negligenciadas. O setor privado domina a P & D, gastando milhões de dólares a cada ano o desenvolvimento de novas drogas para o mercado de massa. O imperativo do lucro garante que as drogas escolhidas para o desenvolvimento são aqueles com maior probabilidade de fornecer um alto retorno sobre o investimento da empresa. Como resultado, os medicamentos industrializados para uso no mundo são priorizados em detrimento daqueles utilizados usados em países mais pobres, onde muitos pacientes não seriam capazes de pagar por eles. A inovação constitui-se na implementação de um novo produto, ou um produto significativamente melhorado; serviço, processo ou método. A inovação se diferencia da invenção pelo fato da primeira aplicar o conhecimento e gerar um conhecimento com seu produto. Os elementos necessários para a conclusão de uma inovação são: Processo de concepção de novas tecnologias: etapa que se conhece o ambiente onde a tecnologia em desenvolvimento será aplicada, se permeiam por caminhos promissores e competitivos. Para isto, deve-se pontuar (i) qual o problema a 16 ser solucionado com tal inovação, (ii) o que existe para tentar solucionar o problema e (iii) qual a solução proposta com a sua tecnologia. Elaboração do design experimental: etapa que o pesquisador realiza o delineamento da elaboração do seu projeto. Como exemplo disso, temos: definição do número amostral para a prova de conceito. Aplicação de Boas Práticas de Laboratório (BPL): quando o pesquisador define as suas BPL, ele possibilita a realização de contraprova, cria uma facilidade de rastrear os resultados obtidos nos ensaios e aumenta a credibilidade na classe científica. Estratégias na divulgação dos resultados: Os resultados podem ser divulgados como publicação de artigos, apresentações orais, defesas abertas, disponibilização de dissertações e teses em bibliotecas ou na internet, e por meio de depósito de patentes. Fontes de financiamento à pesquisa: Buscas por instituições que fomentam as pesquisas. Existem fontes públicas e privadas disponíveis ao pesquisador consultar. - Nova Entidade Química (NEQ): Identificação e desenvolvimento de nova molécula com ação terapêutica. Ex.: Descoberta do Taxol® - Novos Biológicos e estratégias terapêuticas: desenvolvimento de proteínas e peptídeos ativos, anticorpos monoclonais, terapia celular, imunoterapias, etc. Ex.: Rituximabe - Técnicas e metodologias aplicadas à Pesquisa & Desenvolvimento: novos modelos animais,softwares, biomarcadores, novas técnicas de validação de alvos moleculares, entre outros. Ex.: Método computacional para analisar interação receptor-ligante. - Melhorias de medicamentos: novas associações, formulações, dosagens, formas farmacêuticas, administração. Ex.: Anel vaginal Tipos de Inovações Tecnológicas na Indústria Farmacêutica 17 - Novas vacinas: identificação de novos antígenos, adjuvantes e modelos de vacinas. Ex.: vacina de DNA para hepatite B - Modelos de diagnóstico, prognóstico e predição de resposta: desenvolvimento de procedimentos que auxiliam no diagnóstico mais precoce e preciso. Ex.: Teste HER2 - Novo processo produtivo: desenvolvimento ou melhoria de processos industriais. Ex.: Xalatan® - Novo Uso: Desenvolvimento de um princípio ativo já conhecido para outros usos médicos. Ex.: Aspirina® “A indústria Farmacêutica mundial tem conseguido enfrentar e superar os obstáculos criados pelo ambiente recessivo das grandes economias do mundo.” Nelson Mussolini – Presidente da Sindusfarma O mercado farmacêutico mundial gera US $ 300 bilhões por ano, um número que deverá subir para US $ 400 bilhões nos próximos três anos. As 10 maiores empresas de medicamentos controlam mais de Etapas envolvidas no processo de P&D de medicamentos 1. Fase Química: consiste no isolamento de substâncias através de extração de produtos naturais, síntese química ou processos biotecnológicos. 2. Fase Biológica: testes biológicos, in vitro. 3. Fase Clínica: realização de ensaios clínicos 4. Fase Galênica: especificações da produção industrial do medicamento. 18 um terço desse mercado, com vendas de mais de US $ 10 bilhões por ano e margens de lucro de cerca de 30%. Seis são sediadas nos Estados Unidos e quatro na Europa. Empresas gastam atualmente um terço de todas as receitas de vendas na comercialização de seus produtos - cerca de duas vezes o que gastam em pesquisa e desenvolvimento. Segundo especialistas, o setor farmacêutico nos Estados Unidos e a Europa sofreram as mesmas adversidades dos demais segmentos econômicos em detrimento do estouro da bolha imobiliária norte- americana, em 2008. E paralelamente, esse mesmo mercado abalado, passa por um complicado processo e adaptação de sua tradicional matriz de desenvolvimento, baseada na síntese química, para as novas técnicas de biotecnologia. A produção de novos fármacos compreende uma cadeia complexa. Entretanto no Brasil, a atividade industrial farmacêutica é consolidada com as empresas multinacionais instalando-se no país e passando a realizar apenas a quarta etapa da cadeia industrial farmacêutica, como transformação do fármaco ou princípio ativo em medicamento, através da implantação da formulação galênica e o necessário controle de qualidade dos medicamentos acabados. Por outro lado, a indústria nacional, soberanamente de caráter familiar, se dedica na produção de medicamentos similares, não havendo nenhuma perspectiva de inovação (Barreiro, 2006). Foi no período de 1890 a 1950 que a indústria farmacêutica brasileira nasceu e desenvolveu. Comparados aos países Europeus, esse desenvolvimento foi tardio, visto que já no final do século XIX seu setor já possuía avanços notáveis. O Estado Brasileiro teve grande influencia no incentivo à indústria farmacêutica, pois o seu desenvolvimento sempre esteve atrelado à saúde pública e às práticas sanitárias de prevenção e combate às doenças, já que as doenças infecciosas advindas das péssimas condições sanitárias dos cortiços da época gerou uma demanda maior da indústria farmacêutica, incentivando o desenvolvimento de vacinas, A Indústria Farmacêutica no Brasil 19 soros e medicamentos. Neste contexto histórico datado ao final dos anos 20, surgiu o Instituto Vacinogênico e o Instituto Butantan, ambos localizados no estado de São Paulo, como foco na produção de vacinas de varíola e contra a peste, respectivamente . A partir dos anos 50 algumas mudanças foram observadas no setor. A primeira mudança foi provocada pelo presidente Juscelino Kubitschek e seus planos de desenvolvimento. Já no governo militar, houve uma abertura das portas do mercado farmacêutico para as empresas estrangeiras. Enquanto que na década de 80, o setor ficou marcado pela estagnação, devido à instabilidade inflacionária, entre os anos de 1980 e 2000, houve o crescimento das indústrias farmacêuticas nacionais, entretanto, enfrentou o controle de preço por parte do governo, a L E I D A S PA T E N T E S como fortalecimento do monopólio da produção, mas ao mesmo tempo incentivo da inovação científica e tecnológica, o baixo prestígio dos produtos nacionais frente aos importados, novas regras estabelecidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, criada em 1999, para o registro de novos medicamentos e a entrada dos genéricos neste cenário, o qual forçou importantes modificações no perfil do mercado farmacêutico no Brasil, principalmente na quebra de monopólios de alguns produtos para comercialização. O sistema de comercialização no Brasil é marcado por algumas peculiaridades. O controle de preços dos medicamentos a serem comercializados no Brasil é conduzido pela C Â M A R A D E RE G U L A Ç Ã O D E ME R C A D O D E ME D I C A M E N T O S (CMED) . Cabe à CMED definir os preços máximos dos produtos, estipular os reajustes anuais e assegurar o cumprimento dessas determinações pela indústria farmacêutica. A definição dos preços de novos fármacos é baseada nos valores de referências globais. O custo no Brasil não pode superar o menos preço cobrado entre noves diferentes mercados (EUA, Nova Zelândia, Austrália, Grécia, Portugal, Itália, Espanha, França, Canadá). Por lei, os genéricos são 35% mais baratos que os medicamentos de referência. Mas a média de descontos chega até 50%. No mundo, o mercado dos genéricos por volta de 17% ao ano e movimenta cerca de US$ 55 bilhões (dos quais US$ 22 bilhões se concentram nos Estados Unidos, onde esses medicamentos respondem por 60% das prescrições médicas). Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró-Genérico), desde que chegaram ao mercado brasileiro, em meados do ano 2000, os genéricos já proporcionaram uma economia de US$ 10,5 bilhões aos consumidores brasileiros (VALDUGA, 2009). 20 Um aspecto importante no mercado doméstico é a concentração do serviço de distribuição nas mãos de poucos grupos regionais e nacionais, visto que somente de 25% a 35% os produtos são realmente entregues diretamente ao varejo. Este mesmo varejo, que tem feito grandes fusões de redes de drogarias visando à consolidação no mercado, como a Drogasil e Droga Raia, fusão da qual se originou a Raia Drogasil, a maior rede de drogarias do Brasil, com participação de 8,3% do mercado varejista. O SUS também é responsável pela compra e distribuição de medicamentos no Brasil. Para a aquisição do SUS os medicamentos devem estar contemplados na RE L A Ç Ã O NA C I O N A L D E ME D I C A M E N T O S ES S E N C I A I S (RENAME ). A organização da Assistência farmacêutica no SUS é dividida em três componentes: Básico, Estratégico e Especializado, com definições de aquisição, financiamento e dispensação para cada ente federado: municipal, estadual e federal. Outra estratégia de distribuição de medicamentos é realizada pelo PR O G R A M A F A R M Á C I A PO PU L A R , criado pelo Governo Federal, com intuito de ampliar o acesso aos medicamentos para as doenças mais comuns entre a população. O programa possui sua rede própria de Farmácias Populares e conta com a parceira de farmácias e drogarias privadas, chamada de “Aqui tem Farmácia Popular” (MS, 2014). Confirmando-se o fim do período mais agudo da crise internacional, as perspectivas da economia mundial são animadoras. Em primeiro lugar, pelo reaquecimento dos negócios nos principais mercados. Outros fatores são as tecnologias inovadoras que estão sendo incorporadas pelas empresas, gerando novos produtos e elevando a produtividade. Além disso, os mercados consumidores dos países emergentes continuam em expansão e vários acordos de livre comércio entre blocos econômicos, atualmente em negociação, poderão dar um impulso adicional a essa dinâmica. Alguns especialistas, dizem que o mercado farmacêutico está, sem dúvida, sofrendo e crescendo com os obstáculos do cenário global e o seu desenvolvimento na vertente industrial. A aposta nos medicamentos sintéticos, de síntese química, oferecem poucas 21 oportunidades de verdadeiras inovações e são inundadas pelo crédito nos genéricos. Conforme as tendências dos mercados mundiais, o setor farmacêutico aposta nos mercados nicho de alta complexidade, chamados na biotecnologia de produtos biológicos e biossimilares. Ao longe de duas décadas, o Brasil vive um importante ciclo de estabilidade econômica e política, o que tem refletido no notável desenvolvimento da economia nacional, mesmo não atingindo índices tão altos quanto em outros países também emergentes. O quinto maior país em extensão territorial e em população, o Brasil registrou, em 2012, um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 2,42 trilhões, atingindo o sétimo maior do planeta, e com sinais de chegar, ainda nesta década, a quinta maior economia. A recente expansão do mercado brasileiro veio acompanhado de ascensão das classes sociais junto ao aumento de consumo, que em 2012, representou 61% do PIB nacional, cenário favorável ao investimento estrangeiro. Toda essa desenvoltura do mercado brasileiro, refletiu na instauração da situação de “pleno emprego”, termo usado por especialistas quando o país possui a taxa de emprego em torno de 5% da população economicamente ativa há mais de dois anos. Contudo, a economia brasileira ainda tem muito a avançar. O país se depara com grandes desafios voltados à infraestrutura, especialmente nas cadeias de transporte e logística, melhoramento dos setores de telecomunicações, energia e educação. Se por um lado, as indústrias pressionam para a realização de ajustes fiscais, justiçando-se pelas elevadas cargas tributária; por outro, a população pressiona por melhorias no acesso e qualidade do serviço de saúde, que é direito de cidadania definido pela Constituição Federal de 1988. O Brasil foi um dos últimos países a ingressar na crise financeira global instituída em 2009 e uma das primeiras nações a reverter a dificuldade econômica instituída. Entretanto, a economia brasileira ainda se encontra fortemente atrelada ao mercado de países emergentes - como a China – e estreita e dependente relação aos países desenvolvidos, motivo este que sofreu de maneira significativa os impactos da queda da economia dos Estados Unidos e países da Europa. Ainda assim, o Brasil mantém até hoje um ambiente de negócios favorável, particularmente, com maior destaque no desempenho da indústria farmacêutica. Na corrida pela inovação, o Brasil tem mostrado potencial para competir com o resto do mundo. Devido à estabilidade econômica, a construção de centros de pesquisas sofisticados, segurança jurídica e capital intelectual reconhecido, o País se tornou alvo de investidores em todo mundo. 22 De acordo com a UNESCO (A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), o seguimento de biociências (ou ciências da vida) é uma das áreas de maior potencial para o desenvolvimento local de inovações tecnológicas, já que concentra 42, 2% dos doutores titulados no país (CENTRO DE GESTÃO E ESTUDO ESTRATÉGICO, 2010). Uma importante evolução no Brasil em termos de gastos financeiros no mercado de saúde tem sido beneficiado pela indústria farmacêutica. De 2007 a 2011, no varejo apresentou um crescimento acumulado de 82,2 %, saltando de R$ 23,6 bilhões para R$ 43 bilhões, de acordo com os dados da IMS Helth. Em 2012, o varejo farmacêutico brasileiro registrou faturamento total de R$ 49,6 bilhões, o que representa um incremento de 15% em relação a 2011. Esses grandes saltos são resultados de vários fatores, em primeiro lugar o envelhecimento da população, em função do aumento da expectativa de vida das pessoas, e o melhoramento da renda do brasileiro, devido ao aquecimento da economia e na oferta de empregos. Na lista de medicamentos mais vendidos no Brasil, incluem àqueles destinados ao controle da hipertensão e do colesterol, além de uma parte significativa dos MIP’s – medicamentos isentos de prescrição e outros relacionados à qualidade de vida, como o Viagra (PWC). Referências Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (2010) Doutores: estudos de demografia da base técnico- científica brasileira – Brasília, DF. Ministério da Saúde. 2014. Programa Farmácia Popular.Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/secretarias/sctie/farmacia-popular. Valduga, C. J. A Indústria Farmacêutica – Uma Breve História. Rev. Pesq. Inov. Farm. 1(1):40-52, ago-dez, 2009 LOPES, L.C.; TOLEDO, M.I. Princípios básicos de farmacologia clínica relevantes ao estudo da farmacoepidemiologia. In: CASTRO, L.L.C. (Org.). Fundamentos de farmacoepidemiologia. Campo Grande: Grupo de Pesquisa em Uso Racional de Medicamentos - GRUPURAM, 2001. p. 19–36. ANVISA, 2014 - Classificação ATC. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/datavisa/Substancia/ATC.htm. Capanema, L. X. L, Palmeira Filho, P. L. (2009), “Indústria farmacêutica brasileira: reflexões sobre sua estrutura e potencial de investimentos”. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento /liv_perspectivas/06.pdf>. (Acesso em: 23 agosto de 2009). 23 UK-United Kingdom. (2010), R&D Scoreboard - The 2010 R&D Commentary & Analysis. Department for Business, Innovation & Skills (BIS), UK. Pammolli, F., Magazzini, L., Riccaboni, M. (2011) “The productivity crisis in pharmaceutical R&D”, Nature Reviews Drug Discovery. V. 10, pp. 428-438. 24 Exercícios 1) Sobre a Lei das Patentes, descreva seus principais pontos. Defina e explique seus pontos positivos e negativos para a saúde pública no Brasil. 2) Defina e cite exemplos dos diferentes tipos de inovação tecnológica no setor farmacêutico. 3) Quais ações deveriam ser tomadas no Brasil para aumentar as pesquisas no setor de Pesquisa e Desenvolvimento? Cite e explique 5 ações. 4) O que é a lei dos genéricos? Cite as consequências da política para a saúde pública no Brasil. 5) Escolha um princípio ativo e uma posologia. Procure no Banco de preços em Saúde o preço desse medicamento no ano de 2013. Verifique as diferenças entre os distribuidores/fabricantes e quantitativo adquirido. Discuta as diferenças, considerando-se o mercado farmacêutico.
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