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Introducao ao Direito Civil 2012 2

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GRADUAÇÃO
 2012.2
INTRODUÇÃO 
AO DIREITO CIVIL
AUTOR: CARLOS AFFONSO PEREIRA DE SOUZA
Sumário
Introdução ao Direito Civil
ROTEIRO DAS AULAS: ........................................................................................................................................... 3
PARTE I: INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL .................................................................................................................. 3
Aula 1 — Apresentação da disciplina — introdução ao Direito Civil ............................................. 3
Aula 2 — o papel da pessoa humana no direito civil moderno ....................................................... 6
PARTE II: DIREITO DAS PESSOAS ........................................................................................................................... 11
Aula 3 — Conceitos Estruturais — A Pessoa Física ...................................................................... 11
Aula 4 — Conceitos Estruturais — Direitos da Personalidade ..................................................... 26
Aula 5 — Direitos da Personalidade — Direito à Integridade Física ............................................ 39
Aula 6 — Direitos da Personalidade — Direito ao nome e à honra .............................................. 49
Aula 7 — Direitos da Personalidade — Direito à Privacidade ...................................................... 58
Aula 8 — Direitos da Personalidade — Direito à Privacidade e Tecnologia .................................. 66
Aula 9 — Direitos da Personalidade — Direito à Imagem ........................................................... 78
Aula 10 — Direito à Imagem e privacidade — 
análise de casos .............................................................................................................. 106
Aula 11 — Conceitos Estruturais — Pessoas jurídicas ............................................................... 121
Aula 12 — Pessoas jurídicas — sociedade, associações e fundações ............................................ 133
PARTE III: DIREITO DOS BENS ............................................................................................................................. 139
Aula 13 — Conceitos Estruturais — Bens ................................................................................. 139
Aula 14 — Benfeitorias — Bem de Família ............................................................................... 148
PARTE IV: NEGÓCIOS JURÍDICOS ......................................................................................................................... 168
Aula 15: — Conceitos Estruturais — Negócio Jurídico ............................................................. 168
Aula 16 — Invalidade do Negócio Jurídico ................................................................................ 179
Aula 17 — Interpretação dos Negócios Jurídicos ....................................................................... 183
Aula 18 — Defeitos do Negócio Jurídico: Erro e Dolo .............................................................. 188
Aula 19 — Defeitos do Negócio Jurídico: Coação, Simulação e Fraude contra Credores ........... 197
Aula 20 — Lesão e Estado de Perigo .......................................................................................... 206
Aula 21 — Condição, Termo e Encargo .................................................................................... 212
PARTE V: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA .................................................................................................................. 221
Aula 22 — Fundamentos para Aplicação da Prescrição e da Decadência .................................... 221
Aula 23 — Suspensão, Impedimento e Interrupção dos Prazos Prescricionais ............................ 240
INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL
FGV DIREITO RIO 3
ROTEIRO DAS AULAS:
PARTE I: INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL
AULA 1 — APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA — INTRODUÇÃO AO 
DIREITO CIVIL
EMENTÁRIO DE TEMAS
Direito Privado — Direito Civil — Direito Civil Constitucional — Apresen-
tação do Código Civil de 2002
LEITURA OBRIGATÓRIA
TEPEDINO, Gustavo. “Premissas Metodológicas para a Constitucionaliza-
ção do Direito Civil”, in Temas de Direito Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 
2004; pp. 7/22.
LEITURAS COMPLEMENTARES
GIORGIANNI, Michele. “O Direito Privado e suas Atuais Fronteiras”, in 
Revista dos Tribunais nº 747; e PEREIRA, Caio Mário da Silva. Institui-
ções de Direito Civil, v. I. Rio de Janeiro: Forense, 2005; pp. 5/27.
1. ROTEIRO DE AULA
Estudar o Direito Civil hoje signifi ca estudar um campo do Direito que 
atravessa uma de suas maiores transformações. Por um lado, diversas teorias 
tem sido erigidas sobre a chamada publicização, ou constitucionalização do 
Direito Civil, por outro, e mais particularmente no Brasil, a recente publi-
cação de um novo Código ainda acarreta, e acarretará por um longo tempo, 
todo um trabalho de adequação e interpretação do novo texto.
A análise dos dispositivos do Código Civil à luz da Constituição Federal 
marca os estudos não apenas do Direito Civil, mas de todo o Direito Privado, 
nos últimos trinta anos. Uma das premissas desse Direito Civil Constitu-
cional é justamente a aplicação dos princípios constitucionais nas relações 
travadas entre particulares.
INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL
FGV DIREITO RIO 4
1 O papel centralizador do Código Civil 
pode ser notado na seguinte passagem 
de José de Alencar, escrita pelo roman-
cista (e jurista) sobre a oportunidade 
de criação de um Código Civil para o 
Brasil: “Outorga-se aos povos ou eles 
conquistam no dia de sua liberdade 
uma Constituição, escrita ao estrepito 
da batalha ou às aclamações da praça 
publica, mas um Código Civil procede 
uma longa gestação das idéias; ele é o 
marco de um largo período no progres-
so da jurisprudência, e o depositário 
da experiência e estudo não só de um 
povo, mas da humanidade culta.” (in 
Esboços Jurídicos. Rio:Garnier, 1883; 
p. 132). 
2 Pietro Perlingieri. Perfi s do Direito Civil. 
Rio: Renovar, 1998; p. 6.
Tomando por base o rompimento da summa divisio entre Direito Pú-
blico e Direito Privado, e a afi rmação do texto constitucional como vértice 
axiológico e normativo do ordenamento jurídico, essa perspectiva de análise 
permite compreender como esses princípios infl uenciam as atividades dos 
particulares e podem ser exigidos na prática.
O Direito Civil Constitucional, ao aplicar os dispositivos constitucionais 
nas relações privadas, evidencia o fenômeno da perda do papel centralizador 
no ordenamento jurídico desempenhado pelo Código Civil na teoria jurídica 
do século XIX.1
Com a intensa produção legislativa que caracterizou o século XX, progres-
sivamente o Código Civil foi cedendo espaço para leis esparsas que inicial-
mente eram editadas de forma extraordinária, sendo sucessivamente substitu-
ído o caráter de excepcionalidade pela prática reiterada de elaboração de leis 
especiais, editadas em separado do Código Civil e constituindo verdadeiros 
micro-sistemas.
A fragmentação extrema do Direito Civil somente pôde ser evitada com a 
compreensão de que todo o ordenamento jurídico está sujeito aos preceitos 
constitucionais. A Constituição Federal, com o estabelecimento de princí-
pios que norteiam todo o ordenamento jurídico, reunifi ca o ordenamento, 
submetendo todas as relações jurídicas ao seu poder normativo.
Nesse sentido, explicita Pietro Perlingieri que “o código civil certamente 
perdeu a centralidade de outrora. O papel unifi cador do sistema, tanto nos 
seus aspectos mais tradicionalmente civilísticos quanto naqueles de relevân-
cia publicista, é desempenhado de maneira cada vez mais incisiva pelo texto 
constitucional.”2
O reconhecimento, à luz da moderna doutrina constitucional, da nor-
matividade dos princípios, confere à Constituição potencialtransformador 
jamais possuído. Sua infl uência se espraia por todo o ordenamento jurídico, 
propondo uma releitura dos institutos e consolidando a própria aplicabilida-
de da Constituição nas situações cotidianas.
Mas a discussão está longe de ser encerrada. A edição de um novo Código 
Civil pode fazer você se perguntar sobre a necessidade de se utilizar a Consti-
tuição nos estudos de Direito Civil. O recurso à Constituição parecia se fazer 
necessário quando o Código Civil em vigor no país era o mesmo desde 1916. 
Com a edição do novo Código, em 2002, pergunta-se: precisamos ainda da 
Constituição? Os diversos assuntos que serão estudados durante essa discipli-
na fornecerão a resposta para essa pergunta.
INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL
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Como primeira aula da disciplina, deve o professor buscar familiari-
zar o aluno com o estudo do Direito Civil através de uma curta expla-
nação sobre a transição do papel desempenhado pelo Código Civil no 
século XIX, para o atual papel do Código.
A necessidade de se estudar o Direito Civil com base nos precei-
tos fundamentais é a tônica dominante no texto de leitura obrigatória. 
Como os alunos já cursaram Direito Constitucional I, e já tomaram 
contato com conceitos como supremacia da Constituição, princípios 
constitucionais, ponderação de interesses e etc, eles não deverão ter 
difi culdades para compreender a dinâmica do Direito Civil Constitu-
cional.
É importante que o professor dê um panorama amplo dos estudos 
em Direito Civil no país, e, ao fi nal da aula, faça uma apresentação do 
Código Civil, explicando resumidamente as matérias que serão aborda-
das no decorrer do curso.
INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL
FGV DIREITO RIO 6
3 Nesse sentido, afi rma Gustavo Tepedi-
no que: “com a evolução cada vez mais 
dinâmica dos fatos sociais, torna-se 
assaz difícil estabelecer disciplina legis-
lativa para todas as possíveis situações 
jurídicas de que seja a pessoa humana 
titular.” (in Temas, cit.; p. 36.) 
4 Pietro Perlingieri. Perfi s do Direito Civil. 
Rio, Renovar, 1997; p. 155.
AULA 2 — O PAPEL DA PESSOA HUMANA NO DIREITO CIVIL 
MODERNO
EMENTÁRIO DE TEMAS
Dignidade da Pessoa Humana — Autonomia Privada
CASO GERADOR
“Lançamento de anão” e Peep-Show
LEITURA OBRIGATÓRIA
MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos à Pessoa Humana. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2003; pp. 81/117.
LEITURAS COMPLEMENTARES
AZEVEDO, Antonio Junqueira. “Caracterização Jurídica da Dignidade da 
Pessoa Humana”, in Estudos e Pareceres de Direito Privado. São Paulo: 
Saraiva, 2004; pp. 03/24.
1. ROTEIRO DE AULA
A proteção da pessoa humana hoje ocupa um papel central nos estudos 
jurídicos. Conforme leciona Pietro Perlingieri, a personalidade humana deve 
ser tutelada nas múltiplas situações enfrentadas pela pessoa, resultando que o 
modelo de direito subjetivo tipifi cado se mostrará sempre insufi ciente.3
Conforme expõe o autor italiano, “[a] esta matéria não se pode aplicar o 
direito subjetivo elaborado sobre a categoria do ‘ter’. Na categoria do ‘ser’ não 
existe a dualidade entre sujeito e objeto, porque ambos representam o ser, e 
a titularidade é institucional, orgânica. Onde o objeto da tutela é a pessoa, a 
perspectiva deve mudar; torna-se necessidade lógica reconhecer, pela especial 
natureza do interesse protegido, que é justamente a pessoa a constituir ao 
mesmo tempo o sujeito titular do direito e o ponto de referência objetivo da 
relação.”4
INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL
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5 Maria Celina Bodin de Moraes, “A Ca-
minho de um Direito Civil Constitucio-
nal”, in Revista de Direito Civil nº 65, p. 
28. Vide, ainda, Gustavo Tepedino. “Có-
digo Civil, os chamados micro-sistemas 
e a Constituição: premissas para uma 
reforma legislativa”, in Gustavo Tepe-
dino (coord). Problemas de Direito Civil-
Constitucional. Rio, Renovar, 2000; p. 
12; Luiz Edson Fachin. Teoria Crítica, cit.; 
p. 33; e Tereza Negreiros. “Dicotomia 
Público-Privado frente ao Problema da 
Colisão de Princípios”, in Ricardo Lobo 
Torres (org) Teoria dos Direitos Funda-
mentais. Rio, Renovar, 1999; p. 363.
A tutela que demanda a personalidade encontra-se além da summa divisio 
entre Direito Privado e Direito Público (direitos fundamentais e direitos da 
personalidade, respectivamente), e da discussão sobre a tipicidade ou atipici-
dade dos direitos da personalidade. Importa ao Direito que a pessoa humana 
seja protegida de forma integral.
Assim, perde relevância a discussão sobre o enunciado de um único direito 
subjetivo ou a classifi cação em inúmeros direitos da personalidade, que será 
trabalhada mais à frente. Deve-se, isso sim, salvaguardar a pessoa em qual-
quer momento da atividade social.
As diretrizes elencadas nos artigos 1º, I e III da Constituição Federal, ele-
gendo a cidadania e a dignidade da pessoa humana como fundamentos da 
República, somadas à adoção do princípio da igualdade substancial (art.3º, 
III), e da isonomia formal do art. 5º, acrescido da garantia residual constante 
do artigo 5º, § 2º condicionam todo o ordenamento jurídico. Tais diretrizes 
alcançam tanto a relação do indivíduo frente ao poder público como as rela-
ções tipicamente privadas. Na mesma direção está o entendimento de Maria 
Celina Bodin de Moraes:
“A rigor, portanto, o esforço hermenêutico do jurista moderno volta-se para a 
aplicação direta e efetiva dos valores e princípios da Constituição, não apenas na re-
lação Estado-indivíduo, mas também na relação interindividual, situada no âmbito 
dos modelos próprios do direito privado.”5
Dessa forma, a tutela da pessoa humana não pode ser restringida por con-
cepções estanques de relações jurídicas públicas, de um lado, e relações jurídi-
cas privadas, de outro. A pessoa humana requer proteção integral, atendendo 
à cláusula geral fi xada no texto constitucional para a proteção e promoção de 
sua dignidade.
Contudo, se é certa a necessidade de proteção integral da pessoa humana, 
resta ainda defi nir o que vem a ser a chamada “dignidade da pessoa humana”. 
Para trabalhar com esse conceito, leia o caso gerador abaixo.
INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL
FGV DIREITO RIO 8
2. CASO GERADOR
Leia a notícia abaixo:
Lançamento de Anão
Correio Brasiliense, 14 de março de 2002
A polícia invadiu um concurso de arremesso de anões promovido 
no bar Odissey, em Long Island, no Estado de Nova Iorque (EUA). Os 
clientes haviam pago US$ 10 para participar da bizarra competição, 
que funcionava como uma prova de arremesso de peso. Um agente da 
State Liquor Authority, entidade que fi scaliza os bares, informou que 
havia uma área de arremesso em que foram colocados dois colchões 
de ar e que os anões usavam capacete para se proteger. As 200 pessoas 
que haviam no local, inclusive os anões, foram liberados sem qualquer 
punição, mas o dono do bar, Tony Alfanom, foi multado em US$ 600. 
O arremesso de anões, legalizado em alguns estados norte-americanos, 
é proibido em Nova York.
A notícia acima reporta a proibição, nos Estados Unidos, da prática conhecida 
por lançamento de anão (“dwarf tossing”). A sua proibição em território francês 
gerou, nos anos 90, um dos mais conhecidos acórdãos do Conselho de Estado da-
quele país, o chamado caso “Morsang-sur-Orge”.
A Prefeitura de Morsang-sur-Orse decidiu acabar com os espetáculos de lança-
mento de anão naquela cidade. Para tanto, foi movimentada uma força policial 
para averiguar se nos bares e boates da região a prática estava sendo desenvolvida.
A Prefeitura, como Administração Pública, tem a faculdade de intervir nas 
relações privadas com o chamado “poder de polícia”. Especialmente no direito 
francês, existe uma legislação especial para a utilização do poder de polícia em 
eventos públicos, visando a garantir a segurança dos espectadores e prevenir even-
tuais tumultos.
Todavia, o fundamento utilizadopela Prefeitura para comandar as incursões 
nos bares e boates foi distinto. Alegou-se, à época, que a proibição da atividade 
estava sendo feita em homenagem ao princípio da indisponibilidade da dignida-
de da pessoa humana.
Um dos anões que foi proibido de ser lançado em boates locais ingressou então 
com uma ação contra a Prefeitura. Alegava o anão que a proibição baixada era 
ilegal pois violava a sua liberdade de iniciativa. Por conta de sua baixa estatura, 
argumentou o anão, estava difícil conseguir um emprego na cidade. Dessa forma, 
ser lançado de um lado para outra na boate era o único emprego que ele havia 
obtido. E agora o Estado estava lhe retirando o seu próprio sustento.
INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL
FGV DIREITO RIO 9
Na decisão de 27.10.1995, o Conselho de Estado francês pela primeira vez 
reconheceu a dignidade da pessoa humana como elemento integrante da “ordem 
pública” e, conseqüentemente, declarou ser a prática do lançamento de anão uma 
atividade que atenta contra a dignidade da pessoa, não podendo, mesmo volun-
tariamente, ser exercida pela mesma.
Se você fosse o juiz de um caso idêntico àquele decidido pelo Conselho de Esta-
do francês, qual seria a sua decisão?
CASO 2:
Na Alemanha discutia-se a possibilidade de se conceder uma licença de funcio-
namento para um estabelecimento onde se praticava o chamado “peep-show”, no 
qual uma mulher dança sensualmente (e geralmente sem roupas) em uma cabine 
fechada, mediante remuneração, para um espectador individual.
A licença de funcionamento não fora concedida administrativamente sob o 
argumento de que aquela atividade seria degradante para mulher e, portanto, 
violava a dignidade da pessoa humana. Em razão disso, os interessados ingressa-
ram com ação judicial questionando o ato administrativo. Eles argumentavam 
que a mulher estaria realizando aquele trabalho por livre e espontânea vontade 
e por isso não havia que se falar em violação à dignidade da pessoa humana. 
Sustentaram ainda que várias boates onde se praticava o strip-tease obtiveram a 
devida licença de funcionamento, razão pela qual o “peep-show” também deveria 
ser permitido.
O caso chegou até a Corte Constitucional alemã (TCF), que deveria decidir 
se merecia prevalecer a autonomia da vontade da mulher, que estava ali volunta-
riamente, por escolha própria, ou a dignidade da pessoa humana, já que aquela 
atividade colocava a dançarina na condição de mero objeto de prazer sexual.
A decisão foi no sentido de que o “peep-show” violaria a dignidade da pessoa 
humana e, portanto, deveria ser proibido. Na argumentação, o TCF decidiu que 
“a simples exibição do corpo feminino não viola a dignidade humana; assim, 
pelo menos em relação à dignidade da pessoa humana, não existe qualquer ob-
jeção contra as performances de strip-tease de um modo geral”. Já os Peep-shows 
— argumentaram os julgadores — “são bastante diferentes das performances de 
strip-tease. No strip-tease, existe uma performance artística. Já em um peep-show 
a mulher é colocada em uma posição degradante. Ela é tratada como um objeto 
para estímulo do interesse sexual dos expectadores”.
Explicou ainda o TCF que a violação da dignidade não seria afastada ou jus-
tifi cada pelo fato de a mulher que atua em um “peep-show” estar ali voluntaria-
mente. Afi nal, “a dignidade da pessoa humana é um objetivo e valor inalienável, 
cujo respeito não pode fi car ao arbítrio do indivíduo”
INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL
FGV DIREITO RIO 10
Você concorda com a decisão acima? Como a autonomia privada e o princípio 
da dignidade da pessoa humana podem ser enquadrados nesse caso?
(As citações foram extraídas de ADLER, Libby. Dignity and Degration: 
transnacional lessons from constitucional protection of sex. Disponível 
On-line: http://papers.ssrn.com/. O texto acima é uma adaptação do tex-
to de George Mamelstein constante do site: http://direitosfundamentais.
net/2007/08/14/jurisprudenciando-casos-curiosos-julgamentos-pitorescos/)
3. QUESTÕES DE CONCURSO
UnB/CESPE — OAB
37º Exame de Ordem 2008.3
QUESTÃO 20
Assinale a opção correta no que se refere à aplicação do princípio da dig-
nidade da pessoa humana.
A. O uso de algemas não requer prévio juízo de ponderação da neces-
sidade, como em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou 
de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso 
ou de terceiros, pois, como a fuga é ato extremamente provável no 
momento da prisão, as algemas podem ser utilizadas como regra.
B. A referência, na CF, à dignidade da pessoa humana, aos direitos da 
pessoa humana, ao livre exercício dos direitos individuais e aosdi-
reitos e garantias individuais está relacionada aos direitos e garantias 
do indivíduo dotado de personalidade jurídica ou não. Desse modo, 
a aplicação do princípio da dignidade humana exige a proteção dos 
embriões humanos obtidos por fertilização in vitro e congelados, 
devendo-se evitar sua utilização em pesquisas científi cas e terapias.
C. A aplicação do princípio da insignifi cância, embora seja consequ-
ência do princípio da dignidade da pessoa humana, nãoé aplicável 
aos crimes militares, haja vista a dignidade do bem jurídico prote-
gido pelos tipos penais que têm por objeto de proteção os interesses 
da administração militar.
D. A ausência de indicação da conduta individualizada dos acusados 
de crimes societários, além de implicar a inobservância aos princí-
pios do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório, 
fere o princípio da dignidade da pessoa humana.
Resposta: D
INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL
FGV DIREITO RIO 11
PARTE II: DIREITO DAS PESSOAS
AULA 3 — CONCEITOS ESTRUTURAIS — A PESSOA FÍSICA
EMENTÁRIO DE TEMAS
Pessoa física — Início e fi m da personalidade — Incapacidade — Identifi ca-
ção e Registro
LEITURA OBRIGATÓRIA
RODRIGUES, Rafael Garcia. “A Pessoa e o Ser Humano no novo Código 
Civil”, in TEPEDINO, Gustavo. Parte Geral do Novo Código Civil. Rio 
de Janeiro: Renovar, 2004; pp. 1/34
LEITURAS COMPLEMENTARES
NONATO, Orozimbo. “Personalidade”, verb. in Repertório Enciclopédico do 
Direito Brasileiro, v. 37; e EBERLE, Simone. “Mais capacidade, menos 
autonomia: o estatuto da menoridade no novo Código Civil”, in Revis-
tra Trimestral de Direito Civil nª 17 (2004), pp. 181-191.
1. ROTEIRO DA AULA
Antes de ingressar no estudo da personalidade, é importante remeter aos 
conceitos de relação jurídica e de direito subjetivo. A relação jurídica, na con-
ceituação de Pontes de Miranda, nada mais é do que “a relação inter-humana, 
a que a regra jurídica, incidindo sobre os fatos, torna jurídica”. Assim, além da 
incidência da norma, que torna determinada relação relevante ao direito, te-
mos que, necessariamente, a relação jurídica se desenvolve entre entes capazes 
de ter direitos e deveres.
Outra consideração a que devemos nos remeter são os conceitos de direito 
subjetivo e direito objetivo. O direito objetivo, norma agendi, é o direito posto, 
ou seja, a norma jurídica que vigora em determinado Estado. Já o direito sub-
jetivo, de forma sucinta, é a prerrogativa titularizada por um indivíduo decor-
rente da regular observância de norma de direito objetivo. É a facultas agendi.
A conexidade desses conceitos com o de personalidade deriva justa-
mente do fato que, em regra, aos entes dotados de personalidade é dado 
INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL
FGV DIREITO RIO 12
integrar algum dos pólos da relação de direito material, seja o pólo ativo 
ou o pólo passivo.
Na tentativa de dirimir o caráter abstrato da matéria, pode-se socorrer 
com exemplos derivados do Direito das Obrigações. Assim, num contrato de 
compra e venda fi guram, concomitantemente, o vendedor e o comprador. O 
primeiro, sendo titular de um direito de crédito, é o sujeito ativo da relação; 
o segundo, comprador do bem, é o sujeito passivo, é aquele em virtudedo 
qual pode ser exigida uma ação condizente na entrega do bem. O vendedor 
é o devedor da relação.
Contudo, a dinâmica da relação obrigacional suscitada não é tão simples. 
A relação contratual citada, seguindo a lógica das obrigações, possui um ca-
ráter sinalagmático, ou seja, há correspondência na exigência de condutas 
recíprocas para ambas as partes.
Dessa forma, ao vendedor corresponde o direito subjetivo de receber a 
importância acordada, ao mesmo tempo em que compete ao comprador o 
dever-jurídico de pagar-lhe o preço. Analisando sob outra perspectiva, tem-se 
que, de forma concomitante, o comprador é titular do direito subjetivo de 
receber a mercadoria, ao passo que o vendedor está adstrito ao dever jurídico 
de entregá-la nas condições estabelecidas — dia, hora, quantidade, qualida-
de, etc.
Nos direitos reais, por outro lado, a defi nição do sujeito passivo não é tão 
clara como no exemplo acima apresentado: contra quem se pode exigir uma 
prestação quando o direito titularizado é o direito, p.ex, de propriedade sobre 
um bem? No direito de propriedade, enquanto o sujeito ativo é o titular do 
domínio, são sujeitos passivos da relação jurídica todas os demais terceiros, 
exceto o titular do direito real.
Personalidade e pessoa natural
O Código Civil regula a personalidade nos artigos 1º a 12. A personali-
dade, conforme exposto pela doutrina tradicional, se traduz na capacidade 
genérica para ser titular de direitos e deveres, sendo adquirida, a partir do 
que se depreende do artigo 2º do Código Civil, do nascimento com vida. 
Para uma crítica desse conceito de personalidade, remete-se a leitura à aula 
seguinte, sobre os chamados direitos da personalidade.
De forma clara, na confi guração da personalidade do indivíduo não há 
que tecer considerações acerca de elementos próprios de sua capacidade psí-
quica, tais como o tirocínio, a maturidade, a livre e consciente capacidade 
de manifestar sua vontade e de comportar-se de forma condizente com essa 
manifestação. A personalidade, de forma peremptória, pressupõe apenas o 
nascimento com vida. 
INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL
FGV DIREITO RIO 13
6 Caio Mário da Silva Pereira. Instituições 
de Direito Civil, v. I. Rio: Forense, 2005, 
p. 142.
7 Caio Mário da Silva Pereira. Instituições 
de Direito Civil, v. I. Rio: Forense, 2005; 
p. 146.
Como destaca Caio Mário, a personalidade não depende de consciência 
ou vontade do indivíduo, pois “a criança, mesmo recém-nascida, o louco, 
o portador de enfermidade que desliga o indivíduo do ambiente físico ou 
moral, não obstante a ausência de conhecimento da realidade, ou a falta de 
reação psíquica, é uma pessoa, e por isso mesmo dotado de personalidade, 
atributo inseparável do homem dentro da ordem jurídica, qualidade que não 
decorre do preenchimento de qualquer requisito psíquico e também dele 
inseparável.”6 
A personalidade, de acordo com a redação do artigo primeiro do CC2002, 
se inicia com a vida. Esse é o único pré-requisito, pois o direito brasileiro não 
considera, conforme a legislação estrangeira prevê em alguns casos, elemen-
tos como a viabilidade da vida ou mesmo, a “aparência humana”.
Contudo, o feto, enquanto integrante do corpo da mãe, não é uma massa 
amorfa desconsiderada em sua importância pelo direito. O próprio dispositi-
vo aqui referido, art. 2º, determina que a lei põe a salvo, desde a concepção, 
os direitos do nascituro.
Nascituro, é segundo a defi nição clássica, o ser já concebido e que se encontra 
no útero materno durante o período gestacional. Não é dotado ainda de perso-
nalidade, a qual somente surgirá no momento de seu nascimento com vida.
Não obstante essa falta de personalidade, o direito civil pátrio protege esse 
ente ainda em formação. Isso decorre da tradição romanística de nosso direi-
to, segundo a qual o feto, antes do nascimento, não é ainda uma pessoa, mas 
se vem à luz como um ser dotado de direitos, a sua existência, no tocante aos 
seus interesses, retroage ao momento de sua concepção. Os direitos reconheci-
dos ao nascituro permanecem então em estado de potencialidade até o advento 
do nascimento, quando só então efetivamente se aperfeiçoam.
A lógica dessa é muito clara: se o feto não nasce, ou se não nasce vivo, a 
relação de direito não chega a se formar. Nesse caso, nenhum direito será 
transmitido à mãe por intermédio do natimorto. É como se nunca houvesse 
ocorrido a concepção.
Surge logicamente a necessidade de precisar o momento no qual se reputa, 
para fi ns jurídicos, a regular constituição da vida. Quando temos efetivamen-
te esse nascimento com vida tão aludido pelo direito? Segundo a lição de 
Caio Mário, “[a] vida do novo ser confi gura-se no momento em que se opera 
a primeira troca oxicarbônica no meio ambiente. Viveu a criança que tiver 
inalado ar atmosférico, ainda que pereça em seguida. Desde que tenha respi-
rado, viveu: a entrada de ar nos pulmões denota a vida, mesmo que não tenha 
sido cortado o cordão umbilical, e a sua prova far-se-á por todos os meios, 
como sejam o choro, os movimentos, e essencialmente os processos técnicos 
de que se utiliza a medicina legal para a verifi cação do ar nos pulmões”.7
Não há que se falar em pré-condicionamentos de natureza temporal para 
o regular aperfeiçoamento da personalidade. Tendo nascido vivo, anda que 
INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL
FGV DIREITO RIO 14
8 Patrimônio na acepção jurídica deve 
ser concebido como o conjunto de 
relações jurídicas de que o indivíduo 
é titular. Dessa forma, transcende à 
simples ótica dos bens materialmente 
tangíveis.
9 Art. 15 C.F “É vedada a cassação de 
direitos políticos, cuja perda ou suspen-
são só se dará nos casos de: I- cancela-
mento da naturalização por sentença 
transitada em julgado; II – incapacida-
de civil absoluta; III – condenação cri-
minal transitada em julgado, enquanto 
durarem seus efeitos; IV – recusa de 
cumprir obrigação a todos imposta ou 
prestação alternativa, nos termos do 
art. 5º, VIII.” 
10 A necessidade de prova pode ser 
exemplifi cada pelo art. 88 da Lei de 
Registros Públicos: “Poderão os Juízes 
togados admitir justifi cação para o 
assento de óbito de pessoas desa-
parecidas em naufrágio, inundação, 
incêndio, terremoto ou qualquer outra 
catástrofe, quando estiver provada a 
sua presença no local do desastre e não 
for possível encontrar-se o cadáver para 
exame. Parágrafo único. Será também 
admitida a justifi cação no caso de desa-
parecimento em campanha, provados a 
impossibilidade de ter sido feito o re-
gistro nos termos do artigo 85 e os fatos 
que convençam da ocorrência do óbito.”
depois pereça, constituiu-se enquanto ser e, portanto, os direitos que se en-
contravam em estado potencial se aperfeiçoaram concomitantemente.
Conforme já abordado, todo ser humano é titular em caráter genérico de 
direitos, bastando para isso o seu nascimento com vida. Não obstante, não é 
somente ao homem que se confere personalidade, mas o direito igualmente 
a confere a outras entidades. É o caso de agrupamentos de indivíduos que se 
associam para a consecução de uma atividade econômica ou social (socieda-
des e associações), ou que se forma com vistas à destinação de um patrimônio 
para um fi m determinado (fundações). Qualquer que seja a fi gura de que se 
trate, o mais importante é constatar que tais entes são dotados de autonomia 
e independência em relação àqueles que lhe compõem.
Essa personalidade, que é conferida ao homem e aos entes por ele criados, 
não se estende a outros seres vivos. Hipóteses há em que a lei trata com espe-
cial consideração animais ou mesmo determinados objetos, contudo, apenas 
o faz em atenção ao homem que delas se serve. A vedação à caça ou aos maus 
tratos, por exemplo, não é refl exo de uma eventual personalidade dos animais 
ou mesmo de direitos que estes eventualmente titularizem. Corporifi catão 
somente a idéia de que, em determinadas situações, o sofrimento e pereci-
mento destes é atentatório ao direito do próprio homem.
Fim da personalidade civil
Essa mesma personalidade que é adquirida com o nascimento com vida, 
termina com o advento da morte (CC, art. 6º). Estende-se, então, durante 
todo o período de vida do indivíduo. Somente com a morte, a aptidão para 
adquirir direitos que se iniciou com o nascimento irá se expirar, transferindo-
se seu patrimônio8 aos herdeiros.
O direito atual não prevê hipótese alguma de perda da personalidade em 
vida, não constituindo exceção a previsão constitucional de cassação de direi-
tos políticos.9 Também não há que se caracterizar como morte a presunção 
inserida no regramento da ausência, na medida em que esta se opera somente 
no que toca aos efeitos patrimoniais.
De ordinário, prova-se a morte pela certidão extraída do assento de óbito. 
Pode, contudo, ser provada por uma sentença declaratória do falecimento, e 
nesse caso, o ônus da prova caberá àquele que possui interesse em provar que 
a pessoa esteja morta. 10
Comoriência
Reputam-se comorientes aquelas pessoas que falecem na mesma ocasião, de 
maneira a impossibilitar-se decifrar qual delas pré-morreu à outra. É o que 
INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL
FGV DIREITO RIO 15
pode ser facilmente visualizado, a título de exemplo, em hipóteses de incên-
dio, naufrágio ou queda de uma aeronave. Logicamente, existe a necessidade 
de valer-se de todos os recursos periciais possíveis no intento de descobrir o 
momento das mortes, e nesse particular, o jurista recorre muitas vezes a seara 
da medicina legal.
É nessa hipótese de falha na apuração da precedência dos óbitos que se 
adotou como regra a simultaneidade das mortes. Segundo determina o art. 
8º do CC2002:
Art. 8o Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo 
averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultanea-
mente mortos.
Os efeitos dessa presunção se processam de forma que, entre os como-
rientes, não há transferência de direitos, ou seja, há uma impossibilidade de 
que um suceda ao outro. Não obstante, os outros herdeiros de cada um dos 
comorientes devem ser chamados à sucessão.
A questão é relevante, pois dependendo da situação, pode implicar em 
uma série de efeitos do ponto de vista sucessório. O exemplo clássico remon-
ta à situação em que pai e fi lho são vitimados pelo mesmo acidente. A solu-
ção jurídica comportará enunciados inteiramente diferentes dependendo da 
apuração da ordem das pré-mortes. Na impossibilidade dessa aferição, vale-se 
da comoriência.
Registro Civil das Pessoas Naturais
O registro civil de pessoas naturais possui suas origens na prática adotada 
pela Igreja Católica na Idade Média segundo a qual os padres registravam o 
batismo, casamento e óbito dos fi éis. Justamente por esse motivo, o registro 
foi deixado a cargo da Igreja por um longo tempo.
Atualmente, os fatos atinentes ao estado das pessoas são averbados no 
registro civil. O Registro Civil de Pessoas Naturais congrega duas funções 
essenciais: (i) por um lado, documenta informações de relevante interesse; e 
(ii) por outro, confere publicidade a essas informações.
A par das fi nalidades já destacadas, existem ainda dois princípios que de-
vem pautar a atividade dos registros públicos: o da fé pública e da continui-
dade. A fé pública constitui-se de uma presunção de veracidade das informa-
ções constantes dos atos registrais. O princípio da continuidade, por sua vez, 
pressupõe que todas as informações atinentes ao indivíduo devem constar 
no registro para que se forme um histórico das situações jurídicas relevantes, 
sendo facultada a consulta por eventuais interessados.
INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL
FGV DIREITO RIO 16
11 Elucidativa também é a nomenclatu-
ra oriunda da tradição francesa, onde a 
capacidade de direito corresponde à ca-
pacidade de gozo e a capacidade de fato 
pressupõe a capacidade de exercício.
Capacidade
A capacidade, em sentido lato, congrega também a idéia de executorie-
dade de direitos da pessoa, correspondendo assim, não só à possibilidade 
do indivíduo adquiri-los, mas também de os exercer de per se ou mediante a 
assistência de outrem. Embora sejam conceitos distintos, existe uma comple-
mentaridade entre personalidade e capacidade.
A capacidade se subdivide em dois tipos distintos: a capacidade de direito, 
oriunda da personalidade e a capacidade de fato, que é a aptidão para utilizar 
e exercer direitos por si mesmo. A primeira remete à idéia de capacidade de 
aquisição, ao passo que a segunda implica numa capacidade de exercício.11
A capacidade de direito surge concomitantemente com a personalidade, 
isto é, tão logo ocorre o nascimento com vida. A vinculação entre capacidade 
de direito e personalidade é bem enunciada pela doutrina clássica. Do expos-
to, pode-se depreender uma conclusão: apenas da capacidade de fato decorre 
o pleno exercício de direitos.
No estudo sobre a personalidade jurídica, devemos ter em mente que ca-
pacidade é a regra e a incapacidade a exceção. Ou seja, toda pessoa tem a ca-
pacidade de direito ou de aquisição, sendo presumida a capacidade de fato 
(ou de exercício). Somente através de exceções de natureza legal o indivíduo 
pode ser privado da capacidade de fato. Assim, não constitui uma faculdade 
do indivíduo abdicar ou dispor de sua capacidade.
A incapacidade não denota forma alguma de restrição à personalidade ou 
a capacidade de direito. Os indivíduos por ela atingidos são afetados no exer-
cício pessoal e direto dos direitos, e, portanto, a sua natureza nada mais é do 
que uma limitação à autonomia de agir no mundo jurídico. Importante ter 
em mente que essa limitação deve ser sempre interpretada de forma restrita 
(stricti iuris) e em consonância com a idéia já aqui exposta de que capacidade 
é a regra e incapacidade é a exceção.
Qualquer restrição ao exercício de direitos que resulte de ato jurídico, seja 
ele inter vivos ou causa mortis, não implica em incapacidade. 
Outro preceito de grande importância que deve ser destacado na teoria 
acerca da incapacidade é o de que esta deriva exclusivamente da lei. É o le-
gislador que determina as hipóteses em que o indivíduo será privado de sua 
capacidade e cabe ao intérprete visualizar essas restrições de taxativamente. 
Esses dispositivos têm caráter de ordem pública.
Igualmente importante é evitar confundir incapacidade com a vedação 
que a lei impõe a algumas pessoas de pactuarem certos negócios jurídicos. É o 
caso, por exemplo, das hipóteses em que a lei taxa como defesa a possibilida-
de do tutor adquirir bens do pupilo ou ainda, dos ascendentes alienarem bens 
a alguns descendentes sem o expresso consentimento dos demais. A lógica 
INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL
FGV DIREITO RIO 17
dessas vedações é a preservação da moralidade e elas somente visam restringir, 
limitadamente, os atos por ela previstos.
A lógica que orienta a incapacidade é a proteção daqueles cujo discerni-
mento é falho. Somente aqueles eivados de defi ciências juridicamente rele-
vantes devem ser alvo do instituto. Os incapazes são submetidos a um regime 
legal privilegiado cujo principal escopo é a preservação de seus interesses.
Atentando à extensão das defi ciências, o direito gradua o nível de incapa-
cidade. Dessa forma, em sendo o défi cit psíquico menos ou mais severo, te-
mos a possibilidade de que aquele por ele atingido seja determinado absoluta 
ou relativamente incapaz.
Distinção que também deve ser destacada é aquela relativa à graduação 
da forma de proteção, no sentido de que aos relativamente incapazes assume 
o aspecto da assistência, e em relação aos absolutamente incapazes assume o 
aspecto da representação.
Distinção entre incapacidade relativa e absoluta
O elenco dos absolutamente incapazesestá previsto no artigo 3º do 
CC2002, ao passo que os relativamente incapazes se encontram no artigo 
4º do mesmo diploma. Grosso modo, pode-se dizer que a distinção entre 
incapacidade absoluta e relativa é de grau apenas. As incapacidades decorrem 
ou da idade imatura ou de uma defi ciência física e mental determinada. O 
citado artigo 3º assim dispõe sobre a matéria:
Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:
I — os menores de dezesseis anos;
II — os que, por enfermidade ou defi ciência mental, não tiverem o necessário 
discernimento para a prática desses atos;
III — os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.
O artigo 4º do CC2002, por sua vez, considera relativamente incapazes 
aqueles que:
Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:
I — os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II — os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por defi ciência mental, 
tenham o discernimento reduzido;
III — os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;
IV — os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.
INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL
FGV DIREITO RIO 18
12 Caio Mário da Silva Pereira. Institui-
ções de Direito Civil, v. I. Rio: Forense, 
2005; p. 169.
Atentando-se à redação da lei, pode-se observar que aos absolutamente 
incapazes é defeso a prática, de forma autônoma, de quaisquer atos jurídicos. 
A norma desconsidera a sua vontade, não sendo a mesma qualifi cada como 
elemento válido para o aperfeiçoamento de relações jurídicas.
Se ao arrepio da lei, o absolutamente incapaz pratica um ato jurídico, 
através de sua própria manifestação de vontade, isto é, não se valendo aqui 
de representante legalmente constituído, este ato deve ser reputado nulo. É 
o defi nido pelo art. 166, I, do CC2002, que prescreve ser nulo o negócio 
jurídico quando celebrado por pessoa absolutamente incapaz.
Situação distinta é a da capacidade relativa, pois nela a inaptidão físico-
psíquica dos benefi ciários é menos pronunciada. O julgamento da realidade 
nessas pessoas não se opera com perfeição, mas também não deve ser de 
todo desprezado. A liberdade para agir no mundo jurídico é restringida, mas 
não de todo anulada, sendo ainda condicionada, para sua regular validade, a 
intermediação de um assistente. Esse assistente, pessoa plenamente capaz, é 
quem aconselhará o relativamente incapaz.
Os atos praticados por relativamente incapaz são passíveis de anulação. 
Contudo, uma vez submetido tal ato à anuência do assistente, ele será con-
validado e terá força cogente equivalente aos atos que desde o seu início per-
feitamente se constituem.
Incapacidade absoluta
Absolutamente incapazes, como visto, são aqueles que detêm direitos, podem 
adquiri-los, mas são desabilitados a exercê-los. Sendo apartados de atividades ci-
vis, não participam direta e pessoalmente de qualquer negócio jurídico.12 Con-
trariando-se essa vedação que a lei os imprime, o ato será nulo de pleno direito.
Os indivíduos que se encontram nessa situação se valem de representantes 
que os substituem por completo na prática de todos os atos atinentes a vida 
civil. A representação pode se dar de duas formas: automaticamente, ou por 
nomeação ou designação de autoridade judiciária.
A representação se processa de forma automática quando em virtude de 
relações de parentesco ocorrem as hipóteses legais já determinadas. No caso 
de nomeação, o representante adquire esse status em virtude de ato judicial.
A incapacidade absoluta ou está relacionada à idade ou à enfermidade men-
tal. Os preceitos legais versam exclusivamente sobre essas duas causas.
Incapacidade absoluta dos menores de dezesseis anos — A lei parte do pressu-
posto de que indivíduos de pouca idade são naturalmente inaptos ao exercí-
cio de atos da vida civil. Essa incapacidade é decorrente da falta de discerni-
mento e maturidade que o legislador crê que somente o transcurso dos anos 
é capaz de dotar o indivíduo.
INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL
FGV DIREITO RIO 19
Nesse particular, chama maior atenção que a fi xação da idade de 16 anos 
para o fi m da incapacidade absoluta é inovação do CC2002. No direito an-
terior, esse estado se alongava até os 18 anos.
Os que, por enfermidade ou defi ciência mental não tiverem o necessário dis-
cernimento para a prática desses atos — O inciso II do art. 3º se refere àqueles 
nos quais, ao se constatar problemas psíquicos, fi cam impossibilitados de se 
autogovernar. No entanto, a decretação da incapacidade depende de um pro-
cesso de interdição, o qual é disciplinado pelos artigos 1.177 e seguintes do 
CPC, processo esse em que o interditando se valerá dos meios legais para im-
pedir tal provimento jurisdicional. No processo de interdição, o juiz se valerá 
dos meios de prova, em particular de laudo pericial médico. A participação 
do Ministério Público também é necessária.
Também é relevante a questão de saber se são válidos os atos praticados 
pelo amental anteriormente à sentença que declare a sua interdição. A pro-
blemática aqui enunciada remete a dois interesses confl itantes: por um lado, 
encontra-se o amental, que tendo seu discernimento maculado, pratica atos 
que lhe são desfavoráveis e é por conta disso, alvo de uma especial conside-
ração por parte da lei; por outro lado, encontra-se o interesse do terceiro de 
boa-fé que com ele contrata. A possibilidade de anulação do ato jurídico 
poderá causar o inconveniente da falta de segurança jurídica.
A questão é controvertida tanto em campo doutrinário como jurispruden-
cial. Autores e juízes demonstram inclinações diversas e a somente a análise 
da situação casuística representa o fator determinante para a invalidação ou 
não de atos praticados pelos amentais antes de sua interdição.
A boa-fé do contratante que negocia com o amental se consubstancia 
numa série de condutas que devem ser necessariamente observadas. Assim, 
p.ex., se o contratante tinha conhecimento do estado de afetação intelectiva 
da outra parte, se a alienação era evidente, se a apuração da condição de inca-
pacidade podia ter sido feita, ou ainda, se as próprias condições do negócio já 
induziam que o contratante não estaria procedendo de forma coerente, não 
há que se falar em boa-fé.
Má-fé e boa-fé, valendo-nos aqui de uma alegoria muito utilizada, não são 
campos limítrofes, separados por uma tênue fronteira. Não existe uma deli-
mitação precisa. Existe, em verdade, uma grande “região cinzenta” que separa 
a boa-fé da má-fé. Por conseguinte, o fato de um contratante não agir delibe-
radamente de ma-fé não implica na necessária retidão de conduta do mesmo.
A boa-fé perpassa a idéia de não agir em desfavor da parte contrária com o 
intuído de angariar vantagem, consubstanciando-se muitas vezes num atuar 
positivo, diligente e que congrega elementos de ordem moral. Não obstante, 
como se observa, o entendimento no sentido de tornar nulo o ato executado 
por incapaz já foi diversas vezes afi rmado nos tribunais:
INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL
FGV DIREITO RIO 20
13 STJ, Resp nº 296895/PR, Min. Carlos 
Alberto Direito; j. em 29.06.2004.
Nulidade de ato jurídico praticado por incapaz antes da sentença de interdição. 
Reconhecimento da incapacidade e da ausência de notoriedade. Proteção do adqui-
rente de boa-fé. Precedentes da Corte.
1. A decretação da nulidade do ato jurídico praticado pelo incapaz não depende 
da sentença de interdição. Reconhecida pelas instâncias ordinárias a existência da 
incapacidade, impõe-se a decretação da nulidade, protegendo-se o adquirente de boa-
fé com a retenção do imóvel até a devolução do preço pago, devidamente corrigido, e 
a indenização das benfeitorias, na forma de precedente da Corte.
2. Recurso especial conhecido e provido13
Essa posição fica mais defensável quando se verifi ca que na legislação pro-
cessualista brasileira a sentença proferida no processo de interdição tem efeito 
declaratório. Não se trata de provimento constitutivo, não é o decreto de 
interdição, que cria a incapacidade, mas sim o pré-constituído estado de alie-
nação mental.
O desfazimento do negócio, quando determinado, não pode implicar em 
prejuízo ainda maior para aquele que acreditava dele extrair todos os efeitos 
esperados. No caso apresentado, apesar do desfazimento do ato de caráter 
negocial, os valores empregados na conservação e aprimoramento do imóvel 
alienado pelo incapaz devem ser ressarcidos.
Contudo, a invalidação dos atos não é questão absolutamente pacífi ca. 
Julgados há que, dispondo em sentido oposto, prescrevem que em home-
nagem ao contratante de boa-fé, é imperioso não desfazer o ato jurídico ce-
lebrado antes da sentença que decrete a incapacidade absoluta. Os autores 
que defendem a continuidade do negócio, postulando a primazia da boa-fé, 
asseveram que essa deve restar clara, facilmente perceptível.
Os que, mesmo por motivo transitório, não puderem exprimir a sua vontade 
— Não só a vontade deve ser livre em sua construção, fruto da perfeita ela-
boração intelectiva do agente. Ela deve se pronunciar igualmente sob forma 
desembaraçada, deve ser livre em sua exteriorização. Se essa segunda conside-
ração é ausente na manifestação de vontade o ato simplesmente carecerá de 
seu elemento gerador.
Incapacidade relativa
Os relativamente incapazes não são de todo privados da capacidade de 
fato. O diferencial aqui não é a incapacidade de se autodeterminar, pois os 
relativamente incapazes possuem discernimento que não pode ser desconsi-
derado pelo direito. É por conta dessa constatação que eles se encontram a 
meio caminho entre a incapacidade plena e o livre exercício de prerrogativas 
jurídicas.
INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL
FGV DIREITO RIO 21
Nos atos da vida civil, exige a lei que sejam eles assistidos por quem o di-
reito positivo encarrega desse ofício — em razão do laço de parentesco ou em 
virtude de relação de ordem civil, ou ainda por designação judicial.
Como já ressaltado nas considerações gerais que versam sobre a capaci-
dade, os atos praticados por relativamente incapaz não são nulos de pleno 
direito, mas apenas anuláveis. Uma vez ratifi cados pelo assistente do inca-
paz, nenhum outro vício poderá ser argüido contra eles. São entendimen-
tos que também se encontram expressos na lei, nos artigos 171 e 172 do 
Código Civil:
Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio 
jurídico:
I — por incapacidade relativa do agente;
II — por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude 
contra credores. (grifo nosso);
Art. 172. O negócio anulável pode ser confi rmado pelas partes, salvo direito de 
terceiro.
O CC2002 considera como relativamente incapazes os maiores de dezesseis 
e menores de dezoito anos. Aqui se admite que o indivíduo já tenha alcançado 
determinado desenvolvimento intelectual, e que, portanto, não há que se 
desprezar a sua vontade. Seguindo a lógica da incapacidade relativa, para que 
seus atos sejam reputados válidos, a lei prevê a anuência de seu pai ou tutor. 
Contudo, quem atua no negócio jurídico é o próprio menor, sendo a sua 
vontade a real a mola propulsora do negócio a ser celebrado.
Ao defi nir a incapacidade relativa entre dezesseis e dezoito anos, o CC2002 
se harmonizou com as regras eleitorais e com a maioridade penal. Se o me-
nor púbere realiza ato jurídico sem a assistência de seu representante esse ato 
será passível de anulação, tanto pelo menor como por seu assistente legal. 
Contudo, o direito se pauta também pela regra de que a ninguém é dado se 
benefi ciar de sua própria torpeza, e dessa forma, aquele que dolosamente age, 
enganando o outro contratante, não pode encontrar acolhida no direito. É o 
que dispõe o art. 180:
Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de 
uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela 
outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior.
Além aqueles de idade superior a dezesseis e inferior a 18, o código aloca 
entre os relativamente incapazes outras fi guras. É o caso dos ébrios habituais, 
dos viciados em tóxicos e daqueles eivados de defi ciência mental — defi ciência 
essa que ao contrário da enunciada no art. 3º não obsta a prática de atos civis.
INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL
FGV DIREITO RIO 22
A norma se volta à idéia de que os indivíduos eivados desses impedimen-
tos são alcançados por uma redução do seu discernimento. Contudo, é in-
cumbência da jurisprudência nacional estabelecer o que será, exatamente, 
este discernimento reduzido de que trata a norma.
Pródigo é aquele que, desordenadamente, gasta e destrói o seu patrimônio. 
A proteção se inspira no relevante interesse social de proteção de sua família e 
da própria integridade patrimonial do titular, sendo a incapacidade decretada 
judicialmente por requisição do cônjuge ou de outro familiar.
A sua interdição e a conseqüente necessidade de assistência não se ope-
ram em relação à prática de todos os atos. Concernem apenas àqueles que 
possam implicar em redução de seu patrimônio, e ao interesse de sua fa-
mília representado no mesmo. Os demais atos da vida civil poderão ser 
livremente praticados.
A capacidade dos indígenas, por sua vez, é regulada em legislação especial, 
qual seja, o Estatuto do Índio (Lei nº 6001/73), o qual erige normas que 
atentam à especial condição das comunidades indígenas aos costumes que 
lhes são próprias.
Antecipação de Maioridade
A antecipação de maioridade é tão-somente a aquisição da capacidade 
civil antes da idade de 18 anos, legalmente instituída. Em regra, a capacidade 
de fato só é conferida ao indivíduo a partir do momento em que este adquire 
18 anos, contudo o art. 5º prevê determinadas situações onde há inconve-
niência de obstar a prática pelos menores de 18 anos de determinadas ações.
Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fi ca ha-
bilitada à prática de todos os atos da vida civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I — pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instru-
mento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, 
ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;
II — pelo casamento;
III — pelo exercício de emprego público efetivo;
IV — pela colação de grau em curso de ensino superior;
V — pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de 
emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha 
economia própria.
A hipótese do inciso I é a possibilidade de antecipação voluntária de maio-
ridade, que deve contar ou com a anuência das fi guras paterna e materna, ou 
INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL
FGV DIREITO RIO 23
com sentença judicial. Vale destacar que a exigência da participação de ambos 
os progenitores nesse ato é obrigatória e decorrente da dicção constitucional 
que prevê igualdade plena de direitos entre homem e mulher.
Os demais casos de antecipação, inseridos nos incisos II a V, são situações 
expressamente consideradas por preceito legal, onde o legislador reputa como 
inconveniente que ao menor seja vetada a capacidade de fato. Em qualquer 
dos casos previstos nesse artigo, a revogação da capacidade de fato antecipada 
é impossível.
Questões de concurso:
XXXVI Concurso para o Ingresso na Magistratura de Carreira do Estado do 
Rio de Janeiro.
Prova Preliminar — Direito Civil
1. Agente incapaz demanda, devidamente representado, a anulação de con-
trato, alegando que, quando de sua celebração, não estava apto a entendê-lo e 
querê-lo.A contraparte comprova que o ato não causou prejuízo ao incapaz. 
Procede o pedido de anulação?
Concurso para ingresso no cargo de Advogado de Empresa — BNDES (2002)
6. Se o menor tiver idade superior a dezoito anos, os pais podem conce-
der-lhe a emancipação, dada por escritura pública ou particular, cessam a 
incapacidade,
(a) pela declaração de ausência dos pais.
(b) pela habilitação para dirigir veículos automotores.
(c) pela habilitação e conhecimento da língua portuguesa.
(d) pelo estabelecimento, com recursos próprios, de sociedade civil ou co-
mercial.
(e) pelo ingresso em curso superior, através de concurso vestibular.
Exame da Ordem — OAB/SP (concurso nº 126)
29. Compete aos pais, quanto à pessoa dos fi lhos menores:
(a) representá-los, até os 18 anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa 
idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento.
(b) conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casar, sendo impossível 
o suprimento judicial nesse caso.
INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL
FGV DIREITO RIO 24
(c) reclamá-los de quem ilegalmente os detenha, fazendo uso da própria for-
ça, independente de autorização do poder judiciário.
(d) exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua 
idade e condição, sem prejuízo de sua formação.
Ordem dos Advogados do Brasil
42º Exame de Ordem Unifi cado — 2010.2
39. Com relação ao procedimento da curatela dos interditos, é correto 
afirmar que:
A. Na ausência dos pais, do tutor e do cônjuge, um parente próximo 
pode requerer a interdição.
B. A sentença proferida pelo juiz faz coisa julgada material.
C. A realização de prova pericial, consistente no exame do interditan-
do, é facultativa, podendo o juiz dispensá-la.
D. O Ministério Público não tem legii midade para requerer a interdição.
Resposta: A
Ordem dos Advogados do Brasil
VI EXAME DE ORDEM UNIFICADO
41. A Lei Civil afi rma que, a despeito de a personalidade civil da pessoa 
começar com o nascimento com vida, ao nascituro serão assegurados os seus 
direitos desde a concepção. Para tanto, é correto afi rmar que, na ação de pos-
se em nome de nascituro,
A. a nomeação de médico pelo juiz para que emita laudo que compro-
ve o estado de gravidez da requerente, assim previsto na lei proces-
sual civil, não poderá ser dispensado em qualquer hipótese.
B. por se tratar de mera expectativa de nascimento com vida, por-
tanto, não tendo o nascituro personalidade civil, fi ca dispensada a 
intervenção do Ministério Público na causa.
C. reconhecida a gravidez, a sentença declarará que seja a requerente 
investida na posse dos direitos que assistam ao nascituro; não ca-
bendo àquela o exercício do pátrio poder, o juiz nomeará curador.
D. são documentos indispensáveis à ação o laudo comprobatório do 
estado gestacional emitido pelo médico nomeado pelo juiz e a cer-
tidão de óbito da pessoa de quem o nascituro é sucesso.
Resposta: C
INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL
FGV DIREITO RIO 25
UnB/CESPE — OAB
39º Exame de Ordem 2009.2
QUESTÃO 33
Assinale a opção correta acerca das pessoas naturais e jurídicas.
A. Na sistemática do Código Civil, não se admite a declaração judicial 
de morte presumida sem decretação de ausência.
B. A existência legal das pessoas jurídicas de direito privado começa 
com o início de suas atividades jurídicas.
C. A personalidade civil da pessoa natural tem início a partir donas-
cimento com vida, independentemente do preenchimentode qual-
quer requisito psíquico.
D. O indivíduo de 16 anos de idade, ao contrair casamento,adquire a 
plena capacidade civil por meio da emancipação,voltando à condi-
ção de incapaz se, um ano após o casamento, sobrevier a separação 
judicial.
Resposta: C
INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL
FGV DIREITO RIO 26
AULA 4 — CONCEITOS ESTRUTURAIS — DIREITOS DA PERSONA-
LIDADE
EMENTÁRIO DE TEMAS
Direitos da Personalidade — Teorias negativistas do século XIX — Afi rmação 
no século XX — Características dos direitos da personalidade — Classifi cação — 
O problema da fonte dos direitos da personalidade — Teoria Monista e Pluralista 
—(atividade em sala)
ATIVIDADE EM SALA:
Análise do Capítulo de direitos da personalidade do Código Civil (arts. 12/21)
LEITURA OBRIGATÓRIA
DONEDA, Danilo. “Os Direitos da Personalidade no novo Código Civil”, 
in TEPEDINO, Gustavo. Parte Geral do Novo Código Civil. Rio de Ja-
neiro: Renovar, 2004; pp. 35/58.
LEITURAS COMPLEMENTARES
CAMPOS, Diogo Leite de. “Lições de Direitos da Personalidade”, In Boletim 
da Faculdade de Direito, Coimbra, Universidade de Coimbra, 1991; pp. 
129/223; PONTES DE MIRANDA, Francisco. Tratado de Direito Pri-
vado, tomo VII. Campinas: Booksellers, 2000; pp. 29/40; TEPEDINO, 
Gustavo. “A Tutela da Personalidade no Ordenamento Civil-Constitu-
cional Brasileiro”, in Temas de Direito Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 
2004; pp. 23/54; e ASCENSÃO, José de Oliveira. “Pessoa, direitos fun-
damentais e direitos da personalidade”, in Revista Trimestral de Direito 
Civil nº 26 (2006), pp. 43-66.
1. ROTEIRO DE AULA
Os estudos jurídicos sobre a personalidade e a conseqüente elaboração de 
uma teoria dos direitos da personalidade remontam ao fi nal do século XIX. 
Os primeiros tratadistas a se debruçar sobre o tema, todavia, assim o fi zeram 
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14 Apud. Gustavo Tepedino. Temas de 
Direito Civil. Rio, Renovar, 2001; p. 25.
para refutar a possibilidade de construção de uma teoria jurídica legítima 
sobre um objeto tão abstrato.
Esse panorama foi gradualmente sendo alterado pela necessidade, cada vez 
mais evidente — sobretudo na primeira metade do século XX — de dotar o 
Direito de mecanismos efi cientes para tutelar a dignidade da pessoa humana.
Visando a atingir esse objetivo, percebeu-se que seriam inefi cazes apenas 
medidas de natureza política, econômica ou social. A coerção do ordenamen-
to jurídico precisava ser utilizada para que a pessoa humana fosse protegida 
contra violações à sua dignidade. Sendo assim, os juristas se dedicaram ao 
tema, elaborando-se uma teoria jurídica sobre a personalidade, que evoluiu 
do inicial repúdio à noção de que a personalidade poderia ser objeto de direi-
to, até a sua mais ampla proteção.
O Direito Civil, em especial, recepcionou a matéria em estudo na “parte 
geral” dos Códigos, tratados e manuais. Buscando suprir a mencionada de-
manda por uma tutela da pessoa pelo Direito, os civilistas reuniram-se em 
torno de uma teoria geral dos chamados “direitos da personalidade”, hoje 
largamente sistematizada.
Todavia, cumpre se explicar — ainda que detidamente — a evolução do 
pensamento jurídico sobre a tutela da personalidade, iniciando-se pelas teo-
rias que negavam a possibilidade de um estudo jurídico sobre o tema.
Teorias negativistas dos direitos da personalidade
Apesar da consagração dos direitos humanos nas Cartas de Direitos do 
século XIX, a dogmática do Direito Civil encontrou difi culdades em reco-
nhecer a existência de direitos atinentes à personalidade humana. Surgiram, 
assim, questionamentos sobre a natureza e a amplitude desses direitos.
Grande parte das teorias negativistas dos direitos da personalidade sus-
tentava que a personalidade, entendida como a titularidade de direitos, não 
poderia atuar em uma relação jurídica como sujeito e objeto desses direitos 
concomitantemente. Tratar-se-ia de uma confusão de papéis inadmissível 
para a teoria civilística.
Conforme entendimento defendido por Jellinek, a vida e a honra de um 
indivíduo, por exemplo, não pertenceriam à categoria do ter, mas sim à ca-
tegoria do ser. Dessa forma, não poderiam ser compatibilizadas com a noção 
de direitos subjetivos, os quais teriam aplicação restrita à seara das relações 
jurídicas de cunho patrimonial.14
O cerne da discussão sobre a existência dos direitosda personalidade re-
monta à concepção de alguns autores de que esse instituto, se adotado, termi-
naria por conferir ao um indivíduo absoluto sobre a sua própria pessoa. Em 
última, instância, estar-se-ia legitimando o suicídio.
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15 Andreas Von Thur. Derecho Civil, vol. 
12. Madrid: Marcial Pons, 1999; p. 371.
16 F. Pontes de Miranda. Tratado de Di-
reito Privado, tomo I. Rio, Borsoi, 1952; 
p. 153.
17 Idem. Ibidem; p. 153.
Não sendo possível, portanto, conceder aos direitos da personalidade o ca-
ráter de direitos subjetivos, pois se estaria conferindo à vontade individual a 
faculdade de dispor sobre características fundamentais do ser humano (como 
a vida), restava apenas a proteção do ordenamento jurídico contra lesões atra-
vés do manejo da responsabilidade civil.
A presença preponderante da vontade individual na confi guração dos di-
reitos subjetivos pode ser notada na seguinte afi rmação de Andreas Von Th ur:
“El concepto de derecho subjetivo, tal como lo desarrollamos em el §1, no es más 
que una abstracción de los derechos que tienen por sujeto al ser humano; el señorío 
de la voluntad, en que esencialmente consiste, es un carácter exclusivo del hombre 
— si se prescinde de los entes creados por el orden jurídico —, así como constituyen 
fi nes esencialmente individuales los intereses a cuyo servicio el señorío de la voluntad 
se destina, esto es, la conservación de la existencia y el logro de los propósitos que el 
individuo elige libremente.”15
Não tardou para que as teorias negativistas começassem a ser contestadas, 
reconhecendo-se a relevância do estudo da personalidade para o Direito. A 
partir desse momento, é importante notar as obras doutrinárias que aborda-
ram o tema analisaram a personalidade através de um prisma essencialmente 
estrutural, isto é, buscando inserir a personalidade ora na fi gura do sujeito 
das relações jurídicas, ora na posição de objeto a ser tutelado.
Segundo o ponto de vista estrutural, a pessoa representa nas relações ju-
rídicas subjetivas o sujeito de tais situações. Identifi cando-se a pessoa com a 
fi gura do sujeito de direito — o titular das relações jurídicas — a personali-
dade terminaria por se confundir com a própria capacidade jurídica.
Essa concepção de pessoa pode ser percebida em diversos tratados e manu-
ais de Direito Civil do século XIX e, ainda, em obras clássicas do século XX. 
Nessa direção, manifesta-se Pontes de Miranda:
“Rigorosamente, só se devia tratar das pessoas, depois de se tratar dos sujeitos de 
direito; porque ser pessoa é apenas ter a possibilidade de ser sujeito de direito. Ser 
sujeito de direito é estar na posição de titular de direito. (...) Se alguém não está em 
relação de direito não é sujeito de direito: é pessoa; isto é, pode ser sujeito de direito, 
além daqueles direitos que o ser pessoa produz.”16
A partir do enunciado acima, conclui o tratadista que:
“A personalidade é a possibilidade de se encaixar em suportes fáticos, que, pela 
incidência das regras jurídicas, se tornem fatos jurídicos; portanto, a possibilidade de 
ser sujeito de direito.”17
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18 San Tiago Dantas. Programa de Direito 
Civil, v. I. Rio, Ed. Rio; p. 192.
19 Segundo Luiz Edson Fachin: “O que a 
capacidade faz, na verdade, é informar 
a medida da personalbidade e o grau 
da sanção que se volta contra o não 
atendimento a esse requisito.” (in Teo-
ria Crítica do Direito Civil. Rio, Renovar, 
2000; p. 32). Acrescenta, ainda, o refe-
rido autor que “a capacidade é só uma 
medida da personalidade” (in Teoria 
Crítica, cit.; p. 36).
20 Serpa Lopes. Curso de Direito Civil. Rio, 
Freitas Bastos, 1989, p.205.
21 Orlando Gomes. Introdução ao Direito 
Civil. Rio, Forense. Rio, Forense, 1997; 
p.131.
Adotando conceituação diversa, é possível ainda observar a personalidade 
como o conjunto de atributos da pessoa humana, sendo assim, objeto de 
tutela pelo ordenamento jurídico. Tomando-se a personalidade como va-
lor, deve-se levar em conta a plêiade de características indispensáveis ao ser 
humano que emanam da personalidade e demandam, portanto, a devida 
proteção jurídica.
Nesse sentido, cumpre transcrever a célebre lição de San Tiago Dantas 
sobre a distinção entre personalidade e capacidade jurídica:
“A palavra personalidade está tomada, aí, em dois sentidos diferentes. Quando 
falamos em direitos da personalidade não estamos identifi cando aí a personalidade 
como a capacidade de ter direitos e obrigações; estamos então considerando a perso-
nalidade como um fato natural, como um conjunto de atributos inerentes à condição 
humana; estamos pensando num homem vivo que é a capacidade jurídica em outras 
ocasiões identifi cadas com a personalidade.”18
A capacidade jurídica, entendida como a legitimidade para o exercício de 
direitos, encontra-se disciplinada no Código Civil (artigo 1o), e não se con-
funde com a personalidade19, cujo início se dá com o nascimento com vida. 
Sua duração coincide com a da vida humana, extingüindo-se com a morte, 
natural ou presumida (i.e., a ausência).
Pode-se reconhecer, portanto, duas correntes: (i) aquela que identifi ca a 
personalidade com o sujeito de direitos e obrigações, compreendendo ser 
impossível o reconhecimento de direitos da personalidade pela concomitân-
cia nas posições de sujeito e objeto das relações jurídicas; e (ii) aquela que, 
buscando legitimar a existência dos direitos da personalidade, considera que 
o objeto das relações jurídicas seriam seus atributos essenciais.
O reconhecimento da personalidade como objeto de direito
Há, como visto, quem defi na os direitos da personalidade como aqueles 
atinentes à utilização e disponibilidade de certos atributos inatos ao indiví-
duo, como projeções biopsíquicas da pessoa humana, constituindo, assim, 
bens jurídicos assegurados e disciplinados pelo ordenamento.20
A doutrina, ao admitir a personalidade como objeto de direito, buscou 
superar o dogma da impossibilidade de serem coincidentes a pessoa e o ob-
jeto de uma relação jurídica. Os direitos da personalidade seriam, portanto, 
direitos cujo objeto são bens jurídicos que se convertem em projeções físicas 
ou psíquicas da pessoa humana, por determinação legal, que os individualiza 
para lhes dispensar proteção.21 Dessa forma, não se há de confundir o objeto 
— as projeções que merecem tutela jurídica — com a personalidade.
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22 Alexandre Ferreira Assumpção Alves. 
A Pessoa Jurídica e os Direitos da Perso-
nalidade. Rio, Renovar, 1998; pp. 58/59.
23 Danilo Doneda. “Os direitos da per-
sonalidade no novo Código Civil”, in 
Gustavo Tepedino. A Parte Geral do Novo 
Código Civil. Rio, Renovar, 2003; p. 45.
24 Conforme enunciado por Gustavo 
Tepedino, no Temas, cit.; p. 24.
O reconhecimento das projeções da personalidade como objeto das situa-
ções jurídicas se mostrou, como se verá mais à frente, uma importante tenta-
tiva de afi rmação dos direitos da personalidade. Todavia, a busca doutrinária 
por um objeto externo à pessoa para garantir a legitimidade da categoria dos 
direitos da personalidade denota ainda um apego à forma de confi guração 
dos direitos subjetivos patrimoniais.
Inserida em um substrato que privilegia a concepção de direito subjetivo 
como um direito essencialmente patrimonial, a teoria dos direitos da perso-
nalidade sempre se padeceu da necessidade de se buscar um objeto externo ao 
sujeito. Essa ótica remonta à estrutura dogmática dos direitos patrimoniais, 
conforme explicita Alexandre Ferreira de Assumpção Alves:
“Os bens externos dão origem a vários direitos de ordem patrimonial, sobre os 
quais o homem exerce suas faculdades de apropriação, de domínio. Quanto aos in-
ternos, estes compõe uma categoria própria de direitos, que são osdireitos da persona-
lidade, cujas características específi cas os distinguem dos demais.”22
As teorias criadas sob o manto do reconhecimento dos atributos, caracte-
rísticas, ou radiações da personalidade como objeto da relação jurídica sub-
jetiva, podem ser identifi cadas pela prática comum de se buscar um bem 
jurídico que não se identifi casse com a pessoa, uma vez que as utilidades 
sobre as quais recaem os interesses patrimoniais do indivíduo lhe são sempre 
exteriores.
Todavia, essa estrutura não se enquadra no que tange às relações jurídi-
cas não-patrimoniais. Não cabe ao civilista do século XXI utilizar estruturas 
pertencentes a construções doutrinárias pretéritas se as mesmas, além de não 
se adaptarem com perfeição à situação que se busca tutelar, ainda conferem 
apenas uma proteção inefi ciente.
Ao se buscar um objeto externo ao sujeito para validar a fórmula dos direi-
tos da personalidade, a doutrina terminou por não vislumbrar toda a poten-
cialidade dessa categoria, persistindo em um modelo que apenas contribuiu 
para operar como fator de limitação de sua efetiva atuação.23
A partir do preceito constitucional que elege a dignidade da pessoa huma-
na como fundamento da República brasileira (art. 1º, III da CFRB), cabe ao 
civilista optar por uma nova dogmática dos chamados direitos da personali-
dade, defi nindo a sua situação jurídica de forma consoante com a complexi-
dade da realidade social.
Cumpre, portanto, que se reconheça os direitos da personalidade como 
aqueles direitos atinentes à tutela da pessoa humana, considerados essenciais 
à sua dignidade e integridade.24
Afi rmada essa trajetória teórica de afi rmação dos direitos da personalida-
de, em seguida serão abordados alguns pontos de relevo na dogmática dos 
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FGV DIREITO RIO 31
25 Santos Cifuentes se utiliza da ex-
pressão “direitos inatos”, mas adverte 
que o sentido em que a emprega parte 
de uma “depuração prévia de idéias 
advindas das ressonâncias históricas 
que a palavra produz”. Assim, quando 
o autor se refere a “direitos inatos”, ele 
está a se referir a direitos que nascem 
com o próprio sujeito, a partir do iní-
cio de sua respiração vital, “estando 
indefectivelmente unidos ao homem 
enquanto subiectum iuris” (in Derechos 
Personalísimos. Buenos Aires, Astrea, 2ª 
ed., 1995; pp. 175/176).
26 Santos Cifuentes. Derechos Personalí-
simos, cit.; pp. 183/184. 
27 Conforme dicção de Alexandre Fer-
reira de Assumpção Alves. A Pessoa 
Jurídica, cit.; p. 66.
mencionados direitos, com destaque para as suas características e classifi ca-
ções, ambas delineadas pela doutrina, bem como o problema da fonte dos 
direitos da personalidade e o embate entre as teorias monistas e pluralistas.
Características dos direitos da personalidade
Os direitos da personalidade possuem algumas características que lhes são 
conferidas por grande parte dos estudos doutrinários. Embora exista alguma 
discussão sobre a sua correta enumeração, pode-se reduzir as características 
dos direitos da personalidade a seis, quais sejam: (i) a generalidade; (ii) a 
extra-patrimonialidade; (iii) a indisponibilidade; (iv) o caráter absoluto; (v) a 
imprescitibilidade; e (vi) a intransmissibilidade.
Por generalidade se entende que os direitos da personalidade são natural-
mente concedidos a todos pelo simples fato de se estar vivo. Essa relação entre 
a carcaterísitca da generalidade e a simples existência da pessoa, faz com que 
alguns autores utilizem a expressão “direitos inatos”. Todavia, a terminologia 
deve ser evitada, uma vez que ela estabelece uma conotação jusnaturalista 
para o estudo da tutela da pessoa humana, o que implica em uma tomada de 
posição quanto à fonte dos direitos da personalidade.25 Segundo o entendi-
mento jusnaturalista, os mencionados direitos seriam pré-existentes à ordem 
jurídica, independendo de qualquer conformação legislativa.
Adicionalmente, deve-se esclarecer que, dentre o rol de direitos da perso-
nalidade em espécie, usualmente estabelecido pela doutrina, alguns direitos 
não adquiridos pelo simples fato da pessoa existir. Nesse particular, o direito 
moral do autor, reconhecidamente um direito da personalidade, requer que 
uma obra do espírito seja efetivamente realizada para que sobre o autor recaia 
a proteção do direito.
A extra-patrimonialidade dos direitos da personalidade impõe que se faça 
uma observação preliminar, segundo advertência de Santos Cifuentes: a re-
ferida característica signifi ca apenas que os direitos da personalidade não po-
derão ser objeto de apreciação pecuniária, mas essa circunstância não implica 
que os mesmos sejam incapazes de produzir efeitos econômicos.26 Trata-se de 
duas situações distintas.
Vale destacar que essa característica não impede que a lesão a direito da 
personalidade resulte em indenização pecuniária, pois a mesma se insere 
no campo da responsabilidade civil, buscando apenas garantir o equiva-
lente daqueles bens personalíssimos que constituem o objeto dos direitos 
da personalidade.27
Assim, mesmo não sendo possível apreciar o valor pecuniário de um di-
reito da personalidade, a pessoa poderá se valer de sua utilização para obter 
um retorno de ordem econômica. Já conectando essa discussão com o pro-
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28 Gilberto Haddad Jabur. Liberdade de 
Pensamento e Direito à Vida Privada. 
São Paulo, Revista dos Tribunais, 2000; 
pp. 48/49.
29 Vide, p.ex, Francesco Galgano. Diritto 
Civile e Commerciale, vol.I. Padova, CE-
DAM, 1990; p. 151.
30 Gilberto Haddad Jabur. Liberdade de 
Pensamento, cit.; p. 55.
31 Gilberto Haddad Jabur. Liberdade de 
Pensamento, cit.; p. 74.
blema da indisponibilidade, complementa Gilberto Haddad Jabur que os 
direitos da personalidade:
“[P]or dizerem mais ao conteúdo físico, moral ou espiritual do homem, do que 
ao seu acervo material, não se imiscuem com o patrimônio, na acepção coloquial de-
ferida ao termo, mas sobre ele exercem infl uência, porquanto podem, pela limitação 
de seu exercício (ou limitação parcial e voluntária de vontade), emprestar utilidade 
econômica. É o caso da permissão de uso ou venda da imagem e da divulgação de 
dados íntimos, através ou não de contraprestação pecuniária. Não se trata de con-
sagrar a disposição desses bens, posto intransmissíveis e por isso indisponíveis, mas 
de temporária autorização, o que amiúde ocorre para a sua utilização e exploração 
econômica.”28
A indisponibilidade trata da impossibilidade do titular dos direitos da per-
sonalidade para dispor desses direitos conforme o seu livre alvitre, tornando-
os igualmente irrenunciáveis e impenhoráveis. Dessa forma, existe uma re-
lação de complementaridade entre a extra-patrimonialidade — que, como 
visto, permite que a pessoa autorize a utilização de direito da personalidade 
em troca de compensação fi nanceira — e a indisponibilidade desses direitos.
De fato, a indisponibilidade de que trata a doutrina deve ser relativiza-
da, na medida em que algumas faculdades emanadas dos direitos da per-
sonalidade permitem a contraprestação pecuniária. O direito à imagem é o 
exemplo sempre mencionado nesse sentido.29 Nessas circunstâncias, o direito 
permanece intacto, apenas sendo cedidas temporariamente algumas de suas 
potencialidades.30
Seguindo-se a enumeração de suas características, os direitos da persona-
lidade são absolutos na medida em que os mesmos são oponíveis erga-omnes, 
impondo-se a todos os terceiros o dever de respeitá-los. Essa característica 
pode ser então enunciada como verdadeira decorrência da obrigação geral de 
abstenção inscrita no princípio neminen laedere.
A utilização do termo “absolutos”, todavia, parece imprecisa na medida em 
que não se procura defender, com essa característica, o entendimento de que 
os direitos da personalidade sempre prevalecerão e serão

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