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Proposta de assistência de enfermagem à criança portadora da Síndrome de Asperger Michelle da Silva Pollo Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem. Cláudia Polubriaginof Docente do Curso de Graduação em Enfermagem. Orientadora. RESUMORESUMORESUMORESUMORESUMO Introdução: A Síndrome de Asperger é um transtorno caracterizado pelo atraso na fala, distúrbio social, dificuldade na comunicação não verbal, coordenação motora comprometida e interesses peculiares. Este estudo ressaltou a importância do papel da enfermagem junto a estes pacientes. Objetivo: Propor uma assistência de enfermagem pertinente à criança com Síndrome de Asperger. Métodos: Revisão bibliográfica com recorte temporal de artigos publicados nos últimos 6 anos através dos bancos de dados LILACS, SciELO e MEDLINE, bem como, tudo o que já foi publicado, com o unitermo Síndrome de Asperger. Resultados: Baseado nas principais áreas afetadas pela Síndrome de Asperger, como comunicação e interação social prejudicada, foram estabelecido alguns diagnósticos de enfermagem e intervenções pertinentes. Conclusão: O diagnóstico para a Síndrome de Asperger apresenta dificuldades. Por isso ressalta a importância de maiores estudos a respeito, para melhor compreensão e colaboração a estes indivíduos portadores desta síndrome. Descritores: Síndrome de Asperger; Assistência de Enfermagem; Saúde mental. Pollo MS. Polubriaginof C. Proposta de assistência de enfermagem à criança portadora da Síndrome de Asperger. Rev Enferm UNISA 2007; 8: 50-3. Rev Enferm UNISA 2007; 8: 50-3.50 INTRODUÇÃO Em 1944, quatro crianças foram descritas por Hans Asperger, elas apresentavam dificuldade em se integrar socialmente e uma pobreza notável em sua comunicação não-verbal, porém esse estudo só ficou conhecido em 1981. A Sindrome de Asperger ganhou maior divulgação em 1971 com o trabalho de Kanner e Van Krevelen, e só entrou nos manuais psiquiátricos em 1993(1). Conhecida como “síndrome do gênio”, a mais notável característica desta síndrome é a de os pacientes desenvolvam habilidades fabulosas. Pessoas com habilidades que parecem extraordinárias, como o pianista canadense Glenn Gould, morto na década de 80, que aos três anos de idade, descobriu ter a capacidade de ler partituras de música espontaneamente. Na escola ele procurava se isolar, não tinha contato, não praticava esportes. Quando se tornou um pianista famoso passou a odiar apresentações públicas, tinha uma maneira de interpretar muito peculiar, gesticulando e cantarolando, o que na verdade hoje sabemos que se tratava de estereotipias. Ele faleceu sem saber qual era o seu real diagnóstico mas tinha consciência que algo de errado tinha com ele e por isso se automedicava com que havia disponíveis no mercado(2). Pessoas com esta síndrome podem ser muito eficientes em matemática, em cálculos rápidos, em memorizar lugares com facilidade, mas tem um prejuízo enorme para se relacionar com as pessoas e esses prejuízos levam ao isolamento. Os sintomas desta síndrome são observados ainda quando criança e uma característica fundamental é a interação social prejudicada. Quanto ao desenvolvimento motor ele pode ser normal ou um pouco atrasado, assim como a comunicação que pode ser tardia, porém quando aparece geralmente é composta por um vocabulário extenso e não esperado para sua idade(3). Há uma dificuldade em diagnosticar a Síndrome de Asperger, pois suas características são semelhantes com as do Autismo, que também é caracterizada pelo isolamento social, mas no Autismo este isolamento é muito mais acentuado. Outro ponto que podemos observar uma notável diferença é no desenvolvimento da fala, onde o portador da Síndrome de Asperger é mais precoce do que o autista, entretanto em alguns casos também apresentam dificuldades para iniciá-la. Surge então a polêmica, de que o autismo de alto funcionamento seria o portador da Síndrome de Asperger. Outros autores diferenciam o Autismo e a Síndrome de 51Rev Enferm UNISA 2007; 8: 50-3. Asperger alegando que os aspergers não tem comprometimento na aquisição da fala e que às vezes até possuem um Q.I. acima da média. O tratamento disponível atualmente é a combinação de fármacos com terapias comportamentais. Estas terapias são baseadas em uma “gratificação” quando a criança desempenha uma atividade de maneira correta, geralmente é compensada com algo que a criança goste. A criança não deve ser punida ou ser chamada a atenção quando tem comportamentos negativos. A enfermagem esta diretamente ligada com os portadores da Síndrome de Asperger, por isso surge a questão. Como a enfermagem pode ajudar no tratamento da destes pacientes? Quando pensamos na atuação da enfermagem junto a estes pacientes percebemos que existem poucas pesquisas relacionando os cuidados que podem ser dados pela enfermagem. Este estudo portanto, propõe uma assistência de enfermagem pertinente ao portador da Síndrome de Asperger. OBJETIVO Propor uma assistência de enfermagem pertinente à criança com Sindrome de Asperger MÉTODO Tratou-se de uma revisão bibliográfica, realizada através dos bancos de dados LILACS, SciELO e MEDLINE, bem como, tudo o que já foi publicado, tendo como unitermo Síndrome de Asperger, com recorte temporal de artigos publicados nos últimos 6 anos (2000-2006). Foram examinados 18 artigos, dos quais 13 foram excluídos por não abrangerem temáticas e desviarem do objeto de estudo. Esta exclusão foi realizada através de um refinamento em leitura dos resumos. Também foram analisadas 8 teses e apenas 1 foi incluída nesta pesquisa. Os artigos selecionados foram submetidos à leitura crítica para assim organizar e analisar as informações necessárias para agrupamento dos dados, por pertinência e similaridade temática e assim obter os resultados. RESULTADOS E DISCUSSÃO A etiologia da Síndrome de Asperger ainda não foi estabelecida, apesar de ficar cada vez mais evidenciada a origem orgânica e genética. Não há critérios para o grupo dos sintomas de desenvolvimento da linguagem e de comunicação e os critérios de inicio da doença diferem no sentido de que haver retardo na aquisição da linguagem e nas habilidades cognitivas e de auto cuidado(3). O índice de prevalência desta síndrome atualmente é de 2 a 4 em 10.000 sendo que encontramos uma população maior de homens do que nas mulheres, com índice relatado de 9 para 1(1). O Autismo é considerado uma síndrome, trata-se de um conjunto de sintomas que caracterizam uma doença. Logo, as características do Autismo são definidas por alterações presentes desde idades muito precoces, e que se caracterizam por desvios qualitativos na comunicação, na interação social e no uso da imaginação. Estas três características foram chamadas de “tríade”, que é responsável por um padrão de comportamento restrito e repetitivo, mas com condições de inteligência que podem variar do retardo mental a níveis acima da média(4). “De acordo com o CID-10 a Síndrome de Asperger é um transtorno de validade nosológica incerta, caracterizado pelo mesmo tipo de anormalidades qualitativas de interação social recíproca que tipifica o autismo, junto com um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo”(1). Tanto o Autismo como a síndrome de Asperger são transtornos invasivos do desenvolvimento, caracterizado por prejuízo severo em diversas áreas do desenvolvimento. O autismo tem um desenvolvimento acentuadamente anormal em relação à interação social e na comunicação, já a Síndrome de Asperger não é acompanhada de nenhum atraso ou retardo global no desenvolvimento cognitivo ou de linguagem. Muitas vezes é observado que o quociente de inteligência (QI), do portador da Síndrome de Asperger é médio ou até acima da média de uma criança não portadora, o que pode mascarar um diagnóstico precoce. A Síndrome de Asperger é muito mais problemática do ponto de vista do diagnóstico,que o autismo, pois ainda não há um acordo generalizado de quais critérios devem ser usados para fazer diagnostico para esta síndrome. Existem muitos estudos mostrando que os critérios publicados no DSM-IV e no CID-10 não são adequados, porque não há crianças que alcancem esses níveis de critérios diagnósticos. O CID-10 e o DSM-IV dizem que a criança deve ter tido um desenvolvimento normal até os 3 anos de idade. Isso não é adequado, porque a grande maioria das crianças com a chamada “Síndrome de Asperger” teve alguma coisa estranha ou incomum no seu desenvolvimento nos seus três primeiros anos de vida(5). As características mais relevantes da Síndrome de Asperger é o comprometimento severo na interação social, pois desde bebê se mostra quieto e não demonstram interesse no contato físico. O contato visual é nulo ou com uma leve indiferença. Possuem um interesse peculiar por alguns assuntos como por exemplo matemática, geografia, estórias em quadrinhos, robótica etc. Estudos mostram que em uma pessoa saudável há a ativação maior em duas áreas do cérebro, uma é ligada ao reconhecimento das pessoas e a outra, a chamada Amídala, que nos ajuda a processar as emoções. Nas pessoas que tem Asperger, quase não se vê a ativação da amídala e a parte do cérebro que é a mais ativada, não é aquela ligada à identificação do rosto, mas a que reconhece os objetos. Isto explica o fato delas não reconhecerem a diferença entre raiva e alegria no rosto das pessoas. A tendência ao isolamento o acompanha durante toda a vida, geralmente não possuem amigos. Muitas vezes, este comportamento é o que faz os pais procurarem ajuda. Logo, uma fase onde fica bastante evidenciado o problema Rev Enferm UNISA 2007; 8: 50-3.52 relacionado com a síndrome, é na fase escolar. Onde o relacionamento com os colegas fica bastante comprometido. Os pacientes são desajeitados e apresentam dificuldades psicomotoras óbvias. Por este motivo, freqüentemente não se interessam por atividades esportivas(2). Estes e outros sintomas da síndrome se apresentam bem cedo, dificilmente são os casos onde a detecção se da na adolescência, apesar dos sintomas serem mais tardios que o do Autismo. Outra característica são os movimentos esteriotipados, como flapping de mãos e rocking (balanceio do corpo sobre seu eixo). O que faz muitas vezes ter confusão na elaboração do diagnóstico e muitas vezes confundir com Autismo. Alguns apresentam ecolalia, que é a repetição imediata ou tardia de frases e sons ouvidos. Possuem dificuldade de expressão, mas não necessariamente uma ausência de sentimento, a forma de expressar o afeto ou manipular esse mundo afetivo é diferente de uma pessoa normal. O diagnóstico precoce é fundamental para o tratamento e é dado a partir da demonstração de prejuízos na qualidade da interação social e outra característica observada na síndrome é basicamente clínico e baseado em observações com os portadores. O tratamento é composto por antidepressivos e medicamentos para déficit de atenção, porém não são todos os casos que precisam deste tipo de tratamento, mas o que sempre é indicado é a associação com profissionais especializados em educação especial juntamente com a terapia comportamental(1). A enfermagem promove a assistência para os portadores da Síndrome de Asperger, porém, não é comum ouvirmos falar dessa assistência uma vez que relacionamos esta síndrome aos profissionais de psicologia, fonodiologia, psiquiatria e pouco relacionamos a enfermagem. Percebe-se também que há pouco interesse nestes profissionais na busca de maiores informações sobre o assunto, o que acarreta a notável pobreza nas publicações sobre a Síndrome de Asperger da assistência prestada pela enfermagem. Baseado nas principais áreas afetadas da Síndrome de Asperger, como comunicação e interação social prejudicada, foram estabelecido alguns diagnósticos de enfermagem e intervenções pertinentes a estes(5): - Diagnóstico de enfermagem - interação social prejudicada - Relacionado à: temperamento negativo; hostilidade subjacente; manipulação dos outros - Objetivo: Cliente será capaz de interagir com membros da equipe e colegas usando comportamentos aceitáveis e apropriados para a idade. - Prescrições de Enfermagem - Desenvolver uma relação de confiança com o cliente. Transmitir aceitação da pessoa separadamente do comportamento. - Justificativa: A aceitação incondicional aumenta os sentimentos de dignidade pessoal e pode servir para diminuir sentimentos de rejeição que se acumulam por um longo período. - Explicar ao cliente a respeito do comportamento passivo- agressivo. Descrever os comportamentos que não são aceitáveis e representar respostas mais adaptativas. Dar feedback positivo para comportamentos aceitáveis. - Justificativa: A representação de papéis é um meio de praticar-se comportamentos que o cliente não tem facilidade em executar. O feedback positivo e negativo aumenta a repetição de comportamentos desjáveis. - Proporcionar ao cliente situações de grupo. - Justificativa: O comportamento social apropriado é freqüentemente aprendido a partir do feedback positivo e negativo dos colegas. Os grupos também proporcionam um ambiente para o uso dos comportamentos ensaiados na representação dos papéis. - Diagnóstico de enfermagem - interação social prejudicada - Relacionado à: Impulsividade; comportamento oposicional e agressivo - Objetivo: Cliente vai ser capaz de interagir com membros da equipe e colegas usando comportamentos aceitáveis e adequados à idade. - Prescrições de Enfermagem - Desenvolver uma relação de confiança com o cliente. Transmitir aceitação da pessoa separadamente do comportamento inaceitável. - Justificativa: A aceitação incondicional aumenta os sentimentos de desigualdade pessoal. - Discutir com o cliente comportamentos aceitáveis e os que não são aceitáveis. - Justificativa: O reforço negativo pode alterar comportamentos indesejáveis. - Proporcionar ao cliente situações de grupo. - Justificativa: Um comportamento social apropriado é freqüentemente aprendido a partir do feedback positivo e negativo dos colegas. - Diagnóstico de enfermagem - Comunicação verbal alterada - Relacionado à: Retraimento para dentro de si mesmo; estimulação sensorial inadequada; alterações neurológicas - Objetivo: Cliente estabelecerá um meio de comunicar necessidades e desejos a outras pessoas - Prescrições de Enfermagem - Manter a consistência na designação dos prestadores de cuidados - Justificativa: A consistência facilita a confiança e aumenta a capacidade do prestador de cuidados em compreender as tentativas de comunicação da criança. - Prever e satisfazer as necessidades da criança até poder- se estabelecer a comunicação. - Justificativa: Prever as necessidades ajuda a diminuir a frustração enquanto a criança esta aprendendo a comunicação. - Procurar estabelecer esclarecimento e validação - Justificativa: Validação assegura que a mensagem visada seja transmitida - Dar reforço positivo quando o contato olhos nos olhos for usado para transmitir expressões não ver. - Justificativa: O reforço positivo aumenta a auto-estima e encoraja a repetição. Os profissionais interessados ou que vêem a necessidade de saber mais sobre uma assistência adequada a estes pacientes aconselha-se que procure algum tipo treinamento 53Rev Enferm UNISA 2007; 8: 50-3. de métodos e assim aplicá-los. O método TEACCH (por exemplo, trata-se de um tratamento e educação para crianças autistas e com distúrbios correlatos da comunicação) que se baseia na organização do ambiente físico através de rotinas, de forma a adaptar o ambiente para tornar mais fácil para a criança compreendê-lo, visa desenvolver a independência da criança. O ABA (Análise aplicada do comportamento) é mais um método de tratamento comportamental, que visa ensinar à criança habilidadesque ela não possui, através da introdução destas habilidades por etapas. A resposta adequada da criança tem como conseqüência a ocorrência de algo agradável para ela, o que na prática é uma recompensa. Um outro método é o PECS (Sistema de comunicação através da troca de figuras) que visa ajudar a criança a perceber que através da comunicação ela pode conseguir muito mais rapidamente as coisas que deseja. (5) Vale ressaltar que é de extrema importância ter a colaboração dos pais destes pacientes, pois estes são os que passam a maior parte do tempo com eles, sendo assim, o enfermeiro entra com o papel de educador, mostrando o quanto é fundamental a participação de todos no tratamento e nos cuidados que não são restritos somente a equipe terapêutica(7). CONCLUSÃO O diagnóstico para a Síndrome de Asperger ainda apresenta dificuldade, devido à similaridade com outros espectros do autismo. Por isso ressalta a importância de maiores estudos a respeito, para melhor compreensão e colaboração a estes indivíduos portadores desta síndrome. Evidencia-se de uma forma geral, uma carência de estudos na área de assistência de enfermagem relacionada a esta síndrome. Encontra-se muito, de uma forma geral, abordando o tema autismo, mas não a relacionando com a Síndrome de Asperger. Outro ponto importante, é o papel do enfermeiro educador, onde ele deverá fornecer informações úteis ao cuidadores e estratégias, baseadas em estudos e assim favorecer um convívio com a família do paciente. Logo fica evidenciado o quanto é fundamental a pesquisa científica nesta área de atuação da enfermagem. REFERÊNCIAS 1. Vadasz E. Autismo: você sabe o que é? São Paulo: Associação Amigos do Autista; 2004. 2. Klin A. Autismo e Síndrome de Asperger: uma visão global. Rev Bras Psiquiatr 2006; 28(Supl I): 3-11. 3. Binda F. Síndrome de Asperger e Autismo - Concepções teóricas e perspectivas de práticas fonoaudiológicas. Psicol Argum 2004; 22(38): 39-47. 4. Associação Amigos do Autismo [homepage na Internet].São Paulo: AMA; 2005. [citadao 2007 Jun 10]. Disponível em: http://www.ama.org.br/html/ apre_arti.php?cod 5. Mello AMSR. Autismo: Guia Prático. 5º ed. São Paulo. CORDE; 2007. 6. Towsend MC. Enfermagem Psiquiátrica- Conceitos e Cuidados. 3ª ed. Guanabara; 2002. 7. Braga MR. Ávila LA. Detecção dos transtornos invasivos na criança: perspectiva das mães. Rev Latino-am Enfermagem 2004; 12 (6): 884-9.
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