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História da imunologia

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UM POUCO DA HISTÓRIA DA IMUNOLOGIA
	A doença como castigo das divindades prevaleceu durante séculos na crença das populações. Dos gravames e afrontas provocados pelo homem originavam-se as iras dos Deuses que, no seu esforço, dizimavam as massas com epidemias. A Ilíada deixou-nos uma imagem plena de objetividade dos danos nos acampamentos gregos exterminados pela peste. Homero salientou o valor da punição desferida pelos gênios, relacionou causa e efeito e profetizou a indispensabilidade da humildade e constrição humana como condição primeira e imprescindível à quietação dos Deuses.
	O termo imunidade é derivado da palavra em latim immunitas, que se referia à isenção de vários deveres cívicos e de processamento legal oferecida aos senadores romanos durante as ocupações do ofício. Os historiadores creditam a Tucídides, em Atenas, durante o quinto século a. C., ter sido o primeiro a mencionar imunidade a uma infecção que ele chamou "peste" (mas que provavelmente não se tratava da peste bubônica que conhecemos hoje). 
	Quando os surtos de doença, como a varíola ou a peste bubônica, se espalharam sobre as primeiras sociedades humanas, embora muitas pessoas tivessem morrido, outras se recuperaram. No século XII os chineses observaram que os indivíduos que se recuperavam da varíola eram resistentes a ataques posteriores desta doença. Diante desta observação eles infectaram crianças deliberadamente com a varíola ao esfregar crostas de indivíduos infectados em pequenos cortes na pele das crianças; aquelas que sobreviviam da doença resultante, ficaram então, protegidas pelo resto da vida. Os riscos inerentes deste procedimento eram aceitáveis em uma época de alta mortalidade infantil; com o desenvolvimento da experiência e da casuística os chineses perceberam que os casos eram minimizados utilizando-se crostas de casos leves de varíola. Como resultado, a mortalidade oriunda da inoculação (ou variolação) caiu a cerca de 1%, comparada a mortalidade de 20% de casos de varíola clínica. O conhecimento da variolação se espalhou para o ocidente até a Europa no início do século XVIII e logo se tornou largamente utilizado. 
	Os surtos de peste bovina tinham ocorrência comum por toda Europa Ocidental desde o século IX e inevitavelmente matavam grande número de bovinos. Como nenhum dos remédios tradicionais parecia funcionar e as lesões nos animais lembravam vagamente as observadas na varíola, foi sugerido, em 1754, que a inoculação poderia ajudar. Esse processo envolvia o embebimento de um pedaço de barbante com a secreção nasal de um animal com a peste bovina e a inserção do mesmo no interior de uma incisão na pata do animal a ser protegido. A doença resultante era normalmente mais suave que a infecção natural, e o animal inoculado tornava-se resistente a doença. O processo se mostrou muito popular e inoculadores capacitados viajavam pela Europa inoculando bovinos e marcando-os para mostrar que estavam protegidos contra a peste bovina.
	Em 1798, Edward Jenner, um médico inglês, demonstrou que o material de lesões de varíola bovina poderia ser substituído pelo da varíola humana na variolação. Como a varíola bovina não causava doença grave no homem, o uso desse procedimento reduziu os riscos decorrentes da variolação em níveis insignificantes. A eficácia dessa técnica, denominada vacinação (vacca do latim quer dizer vaca). Um testemunho eloqüente quanto a importância e o progresso imunologia foi o anúncio feito pela Organização Mundial de Saúde, em 1980, de que a varíola era a primeira doença infecciosa a ser erradicada em todo mundo por um programa de vacinação. 
	Uma vez aceitos os princípios gerais da inoculação (mesmo que ninguém tivesse a mais vaga idéia de como ela funcionava), tentativas foram feitas em utilizar um procedimento semelhante para evitar as doenças em animais. Algumas dessas tentativas foram relativamente efetivas. A mesma experiência foi então aplicada aos ovinos (ovinação) e esta técnica também ganhou adeptos por toda a Europa. Outras tentativas menos bem sucedidas também foram tentadas como por exemplo a inoculação da varíola bovina no nariz de cães com cinomose que por motivos óbvios, ao nosso conhecimento atual, não deram o resultado esperado.
	A noção de que os microorganismos são causadores de doenças era vaga e mencionada nos trabalhos mais antigos que procuravam esclarecer a natureza do contágio e do miasma. Contagium era uma substância derivada do corpo doente e que, passando de um indivíduo para o outro, transmitia a moléstia. Miasma era uma substância gerada fora do corpo e que, espalhando-se por intermédio do ar, produzia a doença. O Contágio entretanto derivava do organismo doente enquanto o miasma de matéria morta. Assim a sífilis (de homem para homem) e a raiva (do cão para o homem) eram exemplos típicos de moléstias devidas ao contágio. O impaludismo e a gripe eram consideradas doenças miasmáticas; isto é, adquiridas pela permanência em lugares de ar pestilencial, donde resultaram os nomes malária (ital. malária, mau ar) e influenza (motivada por influência atmosférica).
	Hieronymus Fracastorius, no seu livro De contagionibus et contagiosis morbis et eorum curatione (1546), foi o primeiro a postular a idéia de que o contagium fosse devido a agentes vivos, criando assim, a doutrina do contagium vivum.
	No dia 30 de abril de 1878, foi apresentada à Academia de Ciências de Paris a sensacional comunicação de Pasteur, Joubert & Chamberland sobre a teoria dos germes. neste trabalho Pasteur, baseado em suas experiências relativas ao carbúnculo e a septicemia pelo vibrião séptico, desenvolve a teoria microbiana da infecção, afirmando que o micróbio visto por Davaine & Rayer (1850) no sangue de animais carbunculosos é o agente daquela infecção, "tal como o ácaro é a causa da sarna (Cestoni, 1687) e a triquina causa da triquinose". Um pouco antes em 1876, Koch já vinha atacando o problema do carbúnculo, publicando uma memória sobre os caracteres culturais e a biologia do Bacillus antracis que é, ainda hoje, um modelo de trabalho, notável pela exatidão e pela minúcia técnica.
	As implicações gerais das observações de Jenner acerca da varíola bovina e da importância da redução da capacidade de um organismo imunizador causar doença não foram percebidas até 1879. Naquele ano Louis Pasteur, na França, investigou a cólera aviária, doença causada pela bactéria hoje conhecida como Pasteurella multocida. Pasteur tinha uma cultura de organismos, que foi acidentalmente esquecida no laboratório, enquanto seu assistente saía em férias. Quando o assistente retornou e tentou infectar galinhas com esta cultura envelhecida, as aves permaneceram saudáveis. Tendo pouca verba, Pasteur manteve estas galinhas para um segundo experimento, no qual esta foram desafiadas novamente, desta vez com cultura fresca de Pasteurella multocida, sabidamente capaz de matar galinhas e para a surpresa de Pasteur as galinhas ficaram resistentes a infecção e não morreram. Em um salto intelectual notável, Pasteur imediatamente reconheceu este fenômeno e era semelhante em princípio a vacinação de Jenner utilizada na vacina bovina. Na vacinação, a exposição do animal à cepa de um organismo, que não causará doença (cepa avirulenta), pode provocar uma resposta imune; esta resposta imune irá proteger o animal contra a infecção subseqüente por cepa produtora de doença (virulenta) do mesmo ou de um microrganismo relacionado. Tendo estabelecido o princípio geral da vacinação, Pasteur aplicou-o, inicialmente ao antraz. Produziu bactérias avirulentas do antraz (Bacillus anthracis) por meio do cultivo das mesmas em temperaturas incomumente altas. Esses organismos atenuados foram, então, utilizados como vacina para proteger ovinos contra o desafio com bactérias virulentas do antraz. Pasteur também desenvolveu com sucesso a vacina contra a raiva por meio da secagem de medulas espinhais coletadas de coelhos infectados com raiva e depois, utilizou-as como material vacinal. Quando salvou da raiva a maioria de um grupo delavradores russos que foram mordidos por lobos raivosos o Czar enviou-lhe 100.000 francos. Esse dinheiro, em conjunto com outros donativos provenientes de praticamente todos os lugares do mundo, foi o inicio do mundialmente famoso Instituto Pasteur em Paris.
	Uma descoberta fundamental para imunologia foi aquela realizada pelo russo Elie Metchnikoff (1845 - 1916). Enquanto estudava larvas de estrela do mar, ele observou que certas células englobavam lascas de madeira que haviam sido introduzidas na larva. Tais células foram denominadas fagócitos, palavra originada do grego que significa "devorador de células". Metchnikoff, enquanto trabalhava no Instituto Pasteur de Paris, verificou que certos leucócitos (células sangüíneas da série branca) "comiam" bactérias causadoras de doença, na maioria dos animais, incluindo o homem. Ele formulou a teoria de que os fagócitos eram a primeira e mais importante linha de defesa contra a infecção. 
	Com os trabalhos fundamentais de Metchinikov sobre a inflamação, o estudo experimental da imunidade frutificou nos vinte anos subseqüentes, com uma série de brilhantes descobertas, que constituem a origem da imunologia moderna. Os grandes nomes deste período como E. Metchinikov (teoria fagocitária da imunidade), P. Ehrlich e J. Bordet (mecanismo das reações sorológicas) cujos trabalhos mereceram a outorga do Prêmio Nobel aos dois primeiros em 1908 e ao terceiro, em 1919. E. von Behring (Prêmio Nobel, 1901) e E. Roux (antitoxinas), Wassermann (sorodiagnóstico da sífilis) e Ramon (anatoxinas) tem seus nomes associados a descobertas de grande importância prática e a K. Landsteiner (Prêmio Nobel, 1930), além da descoberta dos grupos sangüíneos, devem-se valiosas contribuições sobre a natureza química da especificidade sorológica, marco inicial da moderna imunoquímica.
	Podemos ainda destacar como de grande importância as décadas de 1930 e 1950, um período de ênfase com relação a imunoquímica, sob a influência dos trabalhos de Heidelberger e sua escola que, tendo estabelecido metodologia rigorosa para a dosagem dos anticorpos, puderam desvendar numerosos aspectos obscuros da Sorologia Clássica, que não fora possível investigar com as técnicas utilizadas até então.
	Graças, sobretudo, ao estímulo trazido pelas hipóteses de Burnet relativas ao mecanismo de reconhecimento das substâncias estranhas e à formação dos anticorpos, os aspectos imunobiológicos da imunologia passaram a ser objeto de intensa investigação. A descoberta do fenômeno da imunotolerância adquirida e a interpretação do mecanismo de rejeição dos aloenxertos valeu a Medawar, juntamente com Burnet em cujas idéias se inspirou, o Prêmio Nobel em 1960. Havemos ainda de citar também o grande desenvolvimento da Imunopatologia, com o estudo das doenças auto-imunes, iniciado pelas verificações fundamentais de Witebsky e seus colaboradores sobre a tireoidite experimental, bem como os grandes progressos realizados com relação à estrutura dos anticorpos, à regulação da resposta imune, à ativação do sistema complemento, à interpretação dos fenômenos de hipersensibilidade e ao mecanismo da imunidade celular.
	Nos últimos 25 anos, tem havido notável transformação em nossos conhecimentos sobre o sistema imune e suas funções. Avanços nas técnicas de cultura celular, na metodologia do DNA recombinante e na bioquímica das proteínas transformaram a imunologia, de uma ciência em grande parte descritiva a uma em que fenômenos imunes diversos podem ser unidos coerentemente e explicados em termos estruturais e bioquímicos precisos.
Fonte:
- Abbas, A. K.; Lichtman, A. H.; Pober, J. S.; Calich, V.; Imunologia Celular e Molecular, Revinter, Rio de Janeiro, 470p, 1998.
- Bier, O. Microbiologia e Imunologia, Melhoramentos, São Paulo, 23ed, 1234p, 1984.
- Braz m. B. Semiologia Médica Animal, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1v, 2ed, 644p.
- Pelczar, M. J.; Chan, E. C. S.; Krieg, N. R. Microbiologia conceitos e aplicações, Makron, São Paulo, 1vol, 2ed, 524p,m 1996. 
- Tzard, I. R.; Imunologia Veterinária, Roca, São Paulo, 6ed, 546p., 2002.

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