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Direito Ambiental

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Direito Ambiental
	DIREITO AMBIENTAL
DIREITO AMBIENTAL INTERNACIONAL
Declaração de Estocolmo
	No plano internacional, o primeiro momento em que se discute o meio ambiente é na Conferência Mundial da ONU sobre meio ambiente humano de 1972, conhecida por Declaração de Estocolmo. Na verdade, nesta Declaração as preocupações centrais giravam em torno de poluição, explosão demográfica, bem como o esgotamento dos recursos naturais.
	A partir desta pauta, o mundo acabou se dividindo em dois grupos, duas leituras sobre as questões ambientais. Uma delas é uma corrente radical, chamada de preservacionista, segundo a qual era absolutamente necessário preservar e parar o desenvolvimento. De outro lado, há uma corrente desenvolvimentista, para a qual ainda seria possível que os países se desenvolvessem. 
	Estas duas correntes surgem durante as discussões da Declaração de Estocolmo. Os preservacionistas eram, basicamente, os países desenvolvidos; enquanto que os desenvolvimentistas eram os países em desenvolvimento. A divisão ocorre porque os países em desenvolvimento alegavam que os países desenvolvidos haviam poluído para crescer e que, portanto, igual direito era assegurado aos países em desenvolvimento.
	A Declaração de Estocolmo traz diversos princípios, mas a grande inovação foi incluir, pela primeira vez, o meio ambiente no rol dos direitos humanos. 
	A CF/88 foi diretamente inspirada pela Declaração de Estocolmo, tanto que o art. 225 enuncia que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.
	Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações
	Daí dizer-se que a CF/88 também considera o meio ambiente como direito fundamental.
Relatório Nosso Futuro Comum (1987)
	É o segundo momento internacional relevante para o meio ambiente. Este documento é também conhecido como Relatório Brundtland. Quem presidiu os trabalhos deste relatório foi a Sra. Gro Brundtland (norueguesa) e a sua atuação foi tão relevante que o relatório ganhou o nome dela.
	A importância deste relatório esta no fato de ser o responsável pelo conceito de desenvolvimento sustentável. De acordo com o relatório, desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades da presente geração, sem comprometer as necessidades das gerações futuras. Não é que esse conceito não existisse antes, mas o Relatório Brundtland teve a importância de sistematizar o entendimento.
	O Relatório Brundtland também influenciou o constituinte brasileiro de 1988, como se vê ao final da redação do caput do art. 225, ao referir-se a necessidade de preservação do meio ambiente para as presentes e futuras gerações.
Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e desenvolvimento
	Ocorreu no ano de 1992, no Rio de Janeiro, razão pela qual é conhecida também como Eco/92, Rio/92 ou ainda Cúpula da Terra. 
	Esta Conferência é o momento internacional mais importante na tutela ambiental internacional. Pela primeira vez associam-se as preocupações com a proteção do meio ambiente e com o desenvolvimento, de forma conjunta. Os principais documentos internacionais produzidos nesta Conferência são os seguintes: 
Declaração do Rio;
Agenda 21;
Declaração de Florestas.
Convenção-Quadro sobre Mudanças do Clima;
Convenção sobre Diversidade Biológica;
	A Declaração do Rio, a Agenda 21 e a Declaração de Florestas são documentos de soft law, enquanto que a Convenção-Quadro sobre Mudanças do Clima e a Convenção sobre Diversidade Biológica são documentos de hard law.
Declaração do Rio
	A Declaração do Rio é um documento de soft law, ou seja, não tem caráter vinculativo. A importância desta Declaração foi a de ter sistematizado os princípios de direito ambiental. O estudo dos princípios de meio ambiente passa, necessariamente, pela Declaração do Rio.
Agenda 21
	A Agenda 21 é um documento programático, um plano de ação para a construção de sociedades sustentáveis em âmbito global, regional e local. Desta forma, a Agenda 21 é também soft law, ou seja, não é um documento cogente, impositivo.
	A Agenda 21, em 1992, pensava em uma maneira de se estabelecer sociedades sustentáveis no século 21. Esta sustentabilidade era pensada em todas as esferas da vida, estabelecendo diretrizes para este desenvolvimento sustentável. Estas diretrizes são livremente adotadas pelos países.
Convenção-Quadro sobre Mudanças do Clima
	As discussões sobre as mudanças do clima são o ponto central da discussão ambiental. Na verdade esta Convenção foi assinada dois meses antes da Conferência Mundial no Rio em 1992. A preocupação central desta Convenção é com o aquecimento global. É a partir desta Convenção-Quadro que se elabora o Protocolo de Kyoto, de 1997.
	A partir da Convenção-Quadro, anualmente ou bianualmente, começaram a acontecer as Conferências das Partes – COP. O Protocolo de Kyoto foi aprovado na COP 3. Segundo o Protocolo de Kyoto, os países do anexo I devem reduzir as suas emissões de CO2 em 5,2% das que ocorreram no ano de 1990. Os países do Anexo I são os países desenvolvidos. Esta redução deveria ocorrer no período de 2008 a 2012.
→ O Brasil não esta no anexo I, não tendo obrigações em relação ao Protocolo de Kyoto. De qualquer forma, a Lei 12.187/09, que instituiu a Política Nacional sobre Mudança do Clima, estabeleceu voluntariamente um compromisso de redução da emissão de CO2. 
	Art. 12. Para alcançar os objetivos da PNMC, o País adotará, como compromisso nacional voluntário, ações de mitigação das emissões de gases de efeito estufa, com vistas em reduzir entre 36,1% (trinta e seis inteiros e um décimo por cento) e 38,9% (trinta e oito inteiros e nove décimos por cento) suas emissões projetadas até 2020.
Parágrafo único. A projeção das emissões para 2020 assim como o detalhamento das ações para alcançar o objetivo expresso no caput serão dispostos por decreto, tendo por base o segundo Inventário Brasileiro de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa não Controlados pelo Protocolo de Montreal, a ser concluído em 2010.
	Mesmo não tendo obrigações em relação ao Protocolo de Kyoto, o Brasil voluntariamente se comprometeu a reduzir os índices de emissão de gases de efeito estufa.
Convenção sobre Diversidade Biológica
	É o mais importante documento sobre a proteção da biodiversidade. É um documento de hard law, ou seja, possui caráter cogente, obrigando os países signatários. São três os objetivos desta Convenção:
Conservação da Diversidade biológica;
Uso sustentável dos recursos biológicos;
Distribuição justa e equitativa dos benefícios do uso dos recursos genéticos.
	Biodiversidade é a variedade de seres vivos do planeta, de origem animal ou vegetal, incluindo os microorganismos. Embora anterior à Convenção, a CF/88 já previu estes objetivos nos incisos do §1º do art. 225:
	Art. 225, § 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; 
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
	O Decreto 4339/2002 cuida da Política Nacional de Biodiversidade e foi editado a partir da Convenção sobre Biodiversidade. Neste Decreto são estabelecidos diversos princípios sobre a política nacional de biodiversidade.[1: Para concursos federais.]
Declaração de florestas
	É mera declaração de importância da proteção de florestas. Não assumiu caráter cogente porque os países não estão dispostos a abrir mão da exploração de suas florestas.
Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio +10
	Esta cúpula ocorreu em Joanesburgo, na África do Sul, em 2002. Foi a última grande conferência mundial sobre meio ambiente. 	Nesta cúpula mundial foram editados doisdocumentos:
Declaração Política;
Plano de implementação.
	A novidade desta cúpula mundial foi justamente o plano de implementação. Este plano tem três objetivos:
Erradicação da pobreza;
Mudança nos padrões de produção e consumo;
Proteção aos recursos naturais.
	A novidade foi a inclusão da pobreza como um problema ambiental. Como foi realizada na África, a preocupação com a pobreza fica evidenciada, na medida em que a pobreza esta associada à degradação ambiental.
PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL
Princípio do meio ambiente ecologicamente equilibrado como um Direito Fundamental
	Trata-se do princípio matriz do direito ambiental. É a partir dele que se irradia a tutela do meio ambiente no âmbito constitucional e infraconstitucional. Este princípio é o norteador para os operadores jurídicos, legisladores, administradores, etc.
	É possível dizer que este princípio se trata do principal direito fundamental. Sem o meio ambiente ecologicamente equilibrado não há como se efetivar plenamente os direitos civis, políticos e culturais; não há lazer, trabalho, vida sem um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Tanto é assim que o STJ considera imprescritível o dano ambiental. A imprescritibilidade decorre do reconhecimento de que o bem tutelado é indispensável para a vida.
	Note-se que o constituinte de 1988 associa o direito ao meio ambiente à proteção à vida, à saúde:
	Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
	Cumpre lembrar que o fundamento axiológico do texto constitucional é a dignidade da pessoa humana. Quanto mais um direito fundamental se aproxima da dignidade da pessoa humana, mais essencial ele se torna. Sem um meio ambiente ecologicamente equilibrado não há como se cogitar de dignidade da pessoa humana.
	Meio ambiente ecologicamente equilibrado é um meio ambiente não poluído, com higidez e salubridade. Nesse sentido, o princípio 1 da Declaração do Rio enuncia que: 
Os seres humanos constituem o centro das preocupações relacionadas com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza.
	Também a jurisprudência já reconheceu a existência e importância do princípio. Nesse sentido:
STF, MS 22164 – (...) A questão do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado - Direito de terceira geração - Princípio da solidariedade. - O direito a integridade do meio ambiente - típico direito de terceira geração - constitui prerrogativa jurídica de titularidade coletiva, refletindo, dentro do processo de afirmação dos direitos humanos, a expressão significativa de um poder atribuído, não ao indivíduo identificado em sua singularidade, mas, num sentido verdadeiramente mais abrangente, à própria coletividade social. Enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) - que compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais - realçam o princípio da liberdade e os direitos de segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais) - que se identifica com as liberdades positivas, reais ou concretas - acentuam o princípio da igualdade, os direitos de terceira geração, que materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade e constituem um momento importante no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados, enquanto valores fundamentais indisponíveis, pela nota de uma essencial inexauribilidade.
 
ADI 3540 – (...)Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Trata-se de um típico direito de terceira geração (ou de novíssima dimensão), que assiste a todo o gênero humano (RTJ 158/205-206). Incumbe, ao Estado e à própria coletividade, a especial obrigação de defender e preservar, em benefício das presentes e futuras gerações, esse direito de titularidade coletiva e de caráter transindividual (RTJ 164/158-161). O adimplemento desse encargo, que é irrenunciável, representa a garantia de que não se instaurarão, no seio da coletividade, os graves conflitos intergeneracionais marcados pelo desrespeito ao dever de solidariedade, que a todos se impõe, na proteção desse bem essencial de uso comum das pessoas em geral. Doutrina.
→ Princípio da proibição do retrocesso ecológico
	Este princípio impede que o legislador infraconstitucional elabore normas mais permissivas do que aquelas consagradas constitucionalmente. Os direitos ambientais previstos na Constituição não podem ser flexibilizados, não se pode admitir uma tutela infraconstitucional que seja mais permissiva do que a tutela atual.
	O fundamento para o princípio da proibição do retrocesso ecológico é tanto a dignidade da pessoa humana quanto o art. 225 da CF.
Princípio do desenvolvimento sustentável
	Importa lembrar que o Relatório Brundtland foi o responsável pela sistematização do desenvolvimento sustentável. Em síntese, o desenvolvimento sustentável pode ser entendido como uma missão de compatibilizar as atividades econômicas com a proteção ao meio ambiente. No plano Constitucional, cumpre combinar os arts. 170 e 225. Note-se que o constituinte já teve essa preocupação, determinando, no art. 170, VI, que a ordem econômica deve se preocupar com a proteção do meio ambiente.
	Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação;
	Essa compatibilização é absolutamente necessária quando se considera que o desenvolvimento nacional é um dos objetivos da República, ao passo que o meio ambiente equilibrado é um direito fundamental.
Atenção: Há parcela da doutrina que começa a se referir ao desenvolvimento sustentável como desenvolvimento durável.
	De maneira ampla, o desenvolvimento sustentável é aquele economicamente factível, ecologicamente adequado, socialmente justo e culturalmente equitativo, sem discriminações. Em outras palavras, quando se fala em desenvolvimento sustentável, é preciso ter em mente um tripé, três planos indissociáveis: econômico, social e ecológico.
	Essa compatibilização não é fácil. Prova disso é a situação da Usina de Belo Monte. São dois valores constitucionais – desenvolvimento econômico e meio ambiente – que poderão estar em constante conflito. Na ADI 3540, o STF decidiu a favor do meio ambiente:
ADI 3540 – A ATIVIDADE ECONÔMICA NÃO PODE SER EXERCIDA EM DESARMONIA COM OS PRINCÍPIOS DESTINADOS A TORNAR EFETIVA A PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE. - A incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de motivações de índole meramente econômica, ainda mais se se tiver presente que a atividade econômica, considerada a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros princípios gerais, àquele que privilegia a "defesa do meio ambiente" (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noções de meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral. Doutrina. Os instrumentos jurídicos de caráter legal e de natureza constitucional objetivam viabilizar a tutela efetiva do meio ambiente, para que não se alterem as propriedades e os atributos que lhe são inerentes, o que provocaria inaceitável comprometimento da saúde, segurança, cultura, trabalho e bem-estar da população, além de causar graves danos ecológicos ao patrimônio ambiental, considerado este em seu aspecto físico ou natural. A QUESTÃO DO DESENVOLVIMENTO NACIONAL (CF, ART. 3º, II) E A NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO DA INTEGRIDADE DO MEIOAMBIENTE (CF, ART. 225): O PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COMO FATOR DE OBTENÇÃO DO JUSTO EQUILÍBRIO ENTRE AS EXIGÊNCIAS DA ECONOMIA E AS DA ECOLOGIA. - O princípio do desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocação desse postulado, quando ocorrente situação de conflito entre valores constitucionais relevantes, a uma condição inafastável, cuja observância não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais significativos direitos fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, que traduz bem de uso comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações.
	Na Declaração do Rio, o desenvolvimento sustentável é enunciado da seguinte maneira:
Princípio 4 : A fim de alcançar o estágio do desenvolvimento sustentável, a proteção do meio ambiente deve constituir parte integrante do processo de desenvolvimento e não poderá ser considerada de forma isolada.
Princípio da solidariedade intergeracional
	Este princípio tem previsão no caput do art. 225, em sua parte final ao afirmar o dever de preservar e proteger o meio ambiente para as presentes e futuras gerações.
Atenção: Este dever de preservação do meio ambiente para as presentes e futuras gerações, no âmbito internacional, é considerado como princípio do desenvolvimento sustentável, na forma prevista no Relatório Brundtland. Entretanto, o mesmo dever – preservação do meio ambiente para as presentes e futuras gerações – configura, no âmbito constitucional, o princípio da solidariedade intergeracional.
	Esta previsão é revolucionária. Isso porque o constituinte consagrou um sujeito de direito futuro indeterminado. Não se sabe quem é a futura geração. As futuras gerações ainda não nasceram, mas já estão sujeitas à proteção jurídica.
	Alguns autores, ao invés de falar em solidariedade, preferem falar de ética geracional.
	Outra terminologia importante é a que se refere à solidariedade sincrônica e diacrônica. A solidariedade sincrônica nada mais é do que a solidariedade entre a presente geração; enquanto que a solidariedade diacrônica se refere às futuras gerações.
	Não se trata de princípio programático. Tem aplicação efetiva. É este princípio que justifica a exigência de medidas de prevenção ambiental, que orienta as ações de reparação do dano ambiental, entre outros.
	Na Declaração do Rio também há previsão deste princípio:
Princípio 3: O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de tal forma que responda eqüitativamente às necessidades de desenvolvimento e ambientais das gerações presentes e futuras.
Princípio da função socioambiental da propriedade
	No ordenamento brasileiro, a propriedade só se legitima quando cumpre a sua função social e atende à coletividade. A CF/88 teve o nítido efeito de publicizar a propriedade. O discurso de que a função social limita o direito de propriedade não tem mais cabimento. A função social não limita o direito de propriedade; a função social é elemento essencial, interno da propriedade, um conteúdo do direito de propriedade. Não há que se falar em limitação, mas sim no uso da propriedade conforme o direito. A função social não é externa, mas um elemento interno, integrante do conceito de propriedade.
	A ideia de função se opõe à autonomia de vontade. Cumpre lembrar que a autonomia de vontade é princípio do direito privado, que tem por limite o ilícito. Já no direito público, não há autonomia de vontade, ma sim função. Nesse sentido, a função é o poder de agir que se traduz em verdadeiro dever jurídico e que só se legitima quando atinge a finalidade específica. Nas palavras de Celso Antonio Bandeira de Mello, onde há função, não há autonomia da vontade.
	Desta forma, atribuindo-se função social à propriedade, o proprietário primeiro deverá atender à sua finalidade legal, para só então poder cogitar do exercício de sua autonomia da vontade. Nesse sentido, a função socioambiental não limita a propriedade, vez que é parte integrante desta, é finalidade da propriedade cumprir a sua função socioambiental. O proprietário, em primeiro lugar, deverá cumprir com os seus deveres jurídicos, para só então poder exercer a sua autonomia.
	A função social da propriedade rural é prevista no art. 186, II da Constituição, enquanto que a propriedade urbana tem a sua função social prevista no art. 182, §2º da CF.
	Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
Art. 182, § 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.
	Note-se que o cumprimento da função social pela propriedade urbana é atrelado ao plano diretor. Este plano diretor é obrigatório para cidades com mais de 20 mil habitantes. Para aquelas cidades que não o possuam, as leis sobre o uso e ocupação do solo cumprem esse papel e podem ser utilizadas para a verificação do atendimento da função social da propriedade urbana. Quando nem lei de uso e ocupação do solo houver, será o juiz, no caso concreto, que deverá verificar o cumprimento ou não da função social da propriedade urbana.
	Cumpre lembrar que toda propriedade tem uma função negativa (uma obrigação de não-fazer) e uma função positiva (uma obrigação de fazer). São espécies desta função negativa o dever de não poluir, não desmatar, não emitir ruídos. Já a função social positiva impõe obrigação de fazer: de recompor, de regenerar, etc.
	Não se pode esquecer que o passivo ambiental é uma obrigação propter rem, ou seja, o adquirente de uma propriedade com passivo ambiental será responsável pela reparação do dano ambiental. São diversos os julgados do STJ nesse sentido. Note-se que a jurisprudência rompe o nexo de causalidade e dispensa que haja conduta do adquirente causador de dano ambiental. A obrigação de reparação subsistirá em razão da natureza propter rem da obrigação ambiental.
Princípio da prevenção
	Prevenir é agir antecipadamente. A essência do direito ambiental é uma essência preventiva, na medida em que, uma vez ocorrido o dano ambiental, não é possível o retorno ao status quo anterior. 
	O princípio da prevenção trabalha com o risco conhecido: há dados, pesquisas e informações ambientais que apontam os riscos ambientais. Os riscos do empreendimento são conhecidos.
	A aplicação do princípio da prevenção é justificada pela impossibilidade de retorno ao status quo anterior, bem como pela preocupação com a eliminação de uma espécie da flora e fauna.
Ex: atividade mineraria – conhecidamente causa degradação ambiental. Há estudos científicos que indicam quais os danos que ocorrem e que indicam, de igual maneira, quais as medidas necessárias para a prevenção dos danos ambientais.
	O princípio da prevenção tem especial aplicação no licenciamento ambiental, na realização do EIA/RIMA, no exercício do poder de polícia ambiental.[2: Exigido para toda obra potencialmente causadora de degradação ambiental.]
Atenção: Embora sejam sinônimos na língua portuguesa, para o Direito Ambiental, prevenção e precaução possuem sentidos distintos.
Princípio da Precaução
	No princípio da precaução trabalha-se com o dano desconhecido, o perigo em abstrato. Na verdade, a precaução se traduz como o princípio da incerteza científica, vez que não há pesquisas científicas conclusivas, o que conduz à aplicação do brocado in dubio pro ambiente.
Ex: organismos geneticamentemodificados, alimentos transgênicos – a ciência não tem pesquisas conclusivas sobre as consequências dos transgênicos para a saúde humana. Diante da dúvida, o princípio a ser aplicado é o da precaução.
	O princípio 15 da Declaração do Rio foi o responsável por sua previsão:
Princípio 15: Com a finalidade de proteger o meio ambiente, os Estados deverão aplicar amplamente o critério de precaução conforme suas capacidades. Quando houver perigo de dano grave ou irreversível, a falta de certeza científica absoluta não deverá ser utilizada como razão para que seja adiada a adoção de medidas eficazes em função dos custos para impedir a degradação ambiental.
	Se não há certeza, a decisão deve ser tomada a favor do meio ambiente. O subprincípio do in dubio pro ambiente, entretanto, não é absoluto, mas serve de norte para as decisões ambientais.
	A aplicação do princípio conduz também a uma inversão do ônus da prova em matéria ambiental: é o empreendedor que deverá provar que não há perigo de dano. Nesse sentido é pacífico o entendimento da jurisprudência:
AgRg no REsp 1192569/RJ - PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. VIOLAÇÃO DO ART. 333, I, DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA. 1. Na ação civil pública ambiental em que o Ministério Público Federal seja o autor, a competência é da Justiça Federal (art. 109, I, e § 3º, da CF). 2. "Aquele que cria ou assume o risco de danos ambientais tem o dever de reparar os danos causados e, em tal contexto, transfere-se a ele todo o encargo de provar que sua conduta não foi lesiva." (REsp 1.049.822/RS, Rel. Min. Francisco Falcão, Primeira Turma, julgado em 23.4.2009, DJe 18.5.2009.) Agravo regimental improvido.
	O princípio da precaução tem ainda expressa previsão na lei 11.105/2005 (Lei de Biossegurança):
	Art. 1º Esta Lei estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização sobre a construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o transporte, a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento, a pesquisa, a comercialização, o consumo, a liberação no meio ambiente e o descarte de organismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados, tendo como diretrizes o estímulo ao avanço científico na área de biossegurança e biotecnologia, a proteção à vida e à saúde humana, animal e vegetal, e a observância do princípio da precaução para a proteção do meio ambiente.
→ Prognose negativa
	Gnose significa conhecimento. Assim, prognose é conhecimento antecipado. 
	Num processo em que se discutam questões ambientais, o magistrado poderá decidir com fundamento num exercício de probabilidade. A prova não é capaz de produzir certeza científica, como nos processos comuns. Desta forma, o juiz poderá fazer um exercício de probabilidade (prognose) negativa e, desta forma, não autorizar a atividade.
Princípio da informação
	Só há estado democrático de direito quando se assegura o acesso a informação. O art. 5º, XXXIII da CF que traz o princípio da informação foi regulamentado pela Lei nº. 11.111/05. O art. 40 da Lei 11.105/05 é um exemplo de aplicação do princípio da informação:
	Lei 11.105/05, Art. 40. Os alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo humano ou animal que contenham ou sejam produzidos a partir de OGM ou derivados deverão conter informação nesse sentido em seus rótulos, conforme regulamento.
	Consoante o regulamento, todo alimento que contenha mais de 1% de alimento transgênico em sua composição deverá trazer esta informação no rótulo.
	O princípio da informação também tem influência no EIA/RIMA vez que se exige a publicidade deste estudo.
	Outra manifestação do princípio da informação é a lei 10.650/03. Trata-se de diploma legal que garante o acesso aos bancos públicos ambientais, criando o SISNIMA (Sistema Nacional de Informação do Meio Ambiente). No que se refere à informação ambiental, há uma ressalva ao direito de informação feita na lei 10.650: o sigilo industrial.
Princípio da participação comunitária
	A participação popular pode ocorrer na esfera administrativa, legislativa e judicial. Na esfera administrativa, pode-se reconhecer a participação popular nas audiências públicas, em consultas públicas, direito de petição, participação em conselhos de meio ambiente. A participação na esfera legislativa ocorre na forma do art. 14 da CF, ou seja, por meio da iniciativa popular de lei. Por fim, na esfera judicial, a participação comunitária ocorre por meio da ação popular ambiental.
	A participação comunitária na esfera administrativa permite a participação popular na formulação das políticas públicas ambientais. A audiência pública é o momento em que a informação é levada para a população e em que são colhidos os comentários, opiniões, documentos que o cidadão apresente. A audiência pública é muito comum durante o licenciamento ambiental das obras que causem significativo impacto ambiental.
	A consulta pública tem sentido mais amplo do que a audiência pública, pode-se falar que a consulta pública é gênero do qual a audiência pública é espécie. A consulta pública é menos formal e pode ocorrer por qualquer meio. Atualmente tem sido comum a consulta pública por meio de questionários na internet.
	A participação comunitária é também assegurada nos conselhos de meio ambiente. Os conselhos de meio ambiente assumem também papel fundamental na Política Nacional de meio ambiente. Cumpre lembrar que só pode efetuar o licenciamento ambiental o estado da federação que possuir conselho de meio ambiente com caráter deliberativo, ou seja, o conselho tem que poder decidir. Da mesma forma, só pode autorizar a supressão de vegetação em APP urbana o Município que tenha conselho de meio ambiente com caráter deliberativo.
	A participação popular na esfera legislativa é possível com o uso dos instrumentos previstos no art. 14 da CF, ou seja, plebiscito, referendo e iniciativa popular.
	No plano judicial, não só a ação popular, mas também as ações coletivas promovidas por associações e até mesmo os mandados de segurança coletivos podem ser utilizados para a tutela ambiental.
Princípio da educação ambiental
	A educação ambiental é uma imposição constitucional:
	CF, Art. 225, §1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
	Este inciso foi regulamentado pela lei 9795/2000 (Lei da Política Nacional de Educação Ambiental). A educação ambiental permite a formação de uma consciência crítica e possibilita uma melhor participação da população.
	Lei 9795/00, Art. 1º Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.
Princípio do poluidor-pagador
	A base legal deste princípio é a primeira parte do art. 4º, VII da Lei 6938/81. Este princípio tem um aspecto preventivo e um aspecto reparador.
	Art. 4º. A Política Nacional do Meio Ambiente visará:
VII – à imposição, ao poluidor e ao predador da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos.
	Trata-se de princípio econômico de proteção ambiental. É este princípio que explica porque alguns produtos importados chegam mais baratos no Brasil em comparação à indústria nacional. O princípio do poluidor-pagador é de essência preventiva e cautelar e determina, basicamente, a internalização das externalidades negativas. Internalizar refere-se ao processo produtivo. As externalidades negativas, por sua vez, referem-se a situações fora do processo produtivo (poluição).
	O empreendedor deve internalizar os custos de prevenção, monitoramento e reparação dos impactos causados ao meio ambiente.
	De ordinário, o processo produtivo utiliza-sede um recurso natural que será submetido ao processo produtivo para que ao final se obtenha um produto. Deste processo produtivo podem resultar também gases, poluentes, resíduos, chamados de externalidades negativas. Estas externalidades negativas não podem ser lançadas no meio ambiente, devem ser tratadas, destinadas corretamente. Internalizar as externalidades negativas significa que nos custos da produção devem ser considerados também os custos com o tratamento das externalidades negativas.
	Consequentemente, o preço do produto final será maior: o custo das externalidades negativas estará incluído no preço. É por isso que alguns produtos chegam mais baratos ao Brasil, porque a legislação do país de origem não exige a internalização dos custos das externalidades negativas.
	O princípio do poluidor-pagador também se justifica pelo fato de que não se pode privatizar os lucros e socializar os prejuízos.
	Este princípio é previsto também no princípio 16 da Declaração do Rio:
Princípio 16 - As autoridades nacionais deveriam procurar fomentar a internalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, tendo em conta o critério de que o causador da contaminação deveria, por princípio, arcar com os seus respectivos custos de reabilitação, considerando o interesse público, e sem distorcer o comércio e as inversões internacionais.
	O aspecto reparador do princípio do poluidor-pagador é associado ao princípio da reparação. Ainda que o empreendedor adote todas as medidas preventivas, ocorrendo o dano ambiental, o empreendedor será responsável pelo dano ambiental. Cumpre verificar que mesmo antes da CF/88, desde 1981, com a edição da Lei 6938/81, a responsabilidade pelos danos ambientais é objetiva, independente da investigação de culpa.
Princípio do usuário-pagador
	Este princípio tem por base legal a segunda parte do art. 4º, VII da Lei 6938/81. 
	Art. 4º. A Política Nacional do Meio Ambiente visará:
VII – à imposição, ao poluidor e ao predador da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos.
	De acordo com este princípio, entende-se que devem ser quantificados os recursos naturais para evitar a hiperexploração que conduz, inexoravelmente, à escassez. Caso não sejam quantificados os recursos naturais, o que se terá será o custo zero e a consequente hiperexploração. 
	Exemplo de aplicação deste princípio esta previsão do art. 19 da Lei 9433/97 que trata dos recursos hídricos:
	Lei 9433, Art. 19. A cobrança pelo uso de recursos hídricos objetiva:
I – reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor;
II – incentivar a racionalização do uso da água;
III – obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos.
	Embora a doutrina não se refira com muita freqüência, pode-se considerar que o solo também é um exemplo de recurso natural quantificado. O uso do solo também é um recurso natural e é quantificado, vez que pelo seu uso se paga o ITR e o IPTU.
	Na ADI 3378 também há referência ao princípio do usuário pagador.
ADI 3378 – AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 36 E SEUS §§ 1º, 2º E 3º DA LEI Nº 9.985, DE 18 DE JULHO DE 2000. CONSTITUCIONALIDADE DA COMPENSAÇÃO DEVIDA PELA IMPLANTAÇÃO DE EMPREENDIMENTOS DE SIGNIFICATIVO IMPACTO AMBIENTAL. INCONSTITUCIONALIDADE PARCIAL DO § 1º DO ART. 36. 1. O compartilhamento-compensação ambiental de que trata o art. 36 da Lei nº 9.985/2000 não ofende o princípio da legalidade, dado haver sido a própria lei que previu o modo de financiamento dos gastos com as unidades de conservação da natureza. De igual forma, não há violação ao princípio da separação dos Poderes, por não se tratar de delegação do Poder Legislativo para o Executivo impor deveres aos administrados. 2. Compete ao órgão licenciador fixar o quantum da compensação, de acordo com a compostura do impacto ambiental a ser dimensionado no relatório - EIA/RIMA. 3. O art. 36 da Lei nº 9.985/2000 densifica o princípio usuário-pagador, este a significar um mecanismo de assunção partilhada da responsabilidade social pelos custos ambientais derivados da atividade econômica. 4. Inexistente desrespeito ao postulado da razoabilidade. Compensação ambiental que se revela como instrumento adequado à defesa e preservação do meio ambiente para as presentes e futuras gerações, não havendo outro meio eficaz para atingir essa finalidade constitucional. Medida amplamente compensada pelos benefícios que sempre resultam de um meio ambiente ecologicamente garantido em sua higidez. 5. Inconstitucionalidade da expressão "não pode ser inferior a meio por cento dos custos totais previstos para a implantação do empreendimento", no § 1º do art. 36 da Lei nº 9.985/2000. O valor da compensação-compartilhamento é de ser fixado proporcionalmente ao impacto ambiental, após estudo em que se assegurem o contraditório e a ampla defesa. Prescindibilidade da fixação de percentual sobre os custos do empreendimento. 6. Ação parcialmente procedente.
Princípio da Ubiquidade
	Este princípio é também chamado de princípio da variável ambiental no processo decisório das políticas de desenvolvimento.
	Ubiquidade é colocar o meio ambiente no epicentro dos direitos humanos. Todas as decisões, projetos e políticas públicas devem contemplar a questão ambiental. Antes de se avaliar economicamente uma decisão, deve-se fazer uma avaliação ambiental. 
	Um exemplo da aplicação deste princípio é a exigência dos estudos ambientais, do qual o EIA/RIMA é um exemplo. Antes de se autorizar ou não o empreendimento, exige-se o estudo ambiental.
	Na Declaração do Rio, é o princípio 17 que enuncia a ubiqüidade:
Princípio 17: Deverá ser empreendida a avaliação de impacto ambiental, em termos de instrumento nacional, a despeito de qualquer atividade proposta que provavelmente produza impacto negativo considerável no meio ambiente e que esteja sujeita à decisão de uma autoridade nacional competente.
Princípio do controle do poluidor pelo Poder Público
	O Poder Público deve controlar o poluidor. Esta imposição é feita ao Poder Público pelo art. 225, §1º, V da CF:
	Art. 225, §1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
V – controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida e o meio ambiente;
	Atualmente, verifica-se que este controle tem sido feito sobre os agrotóxicos, organismos geneticamente modificados, entre outros. 
	Uma das formas de exercício deste controle é a exigência do EIA/RIMA. O Poder Público só autorizará o empreendimento se tiver dados que comprovem a inocorrência de danos ambientais. É também forma de exercício deste controle a atuação do poder de polícia ambiental.
Princípio da cooperação entre os povos
	Este princípio esta na Declaração do Rio:
Princípio 2 : Os Estados, em conformidade com a Carta das Nações Unidas e os princípios da lei internacional, têm o direito soberano de explorar seus próprios recursos segundo suas próprias políticas ambientais e de desenvolvimento, e a responsabilidade de velar para que as atividades realizadas sob sua jurisdição ou sob seu controle não causem danos ao meio ambiente de outros Estados ou de zonas que estejam fora dos limites da jurisdição nacional.
	Aqui se trata do princípio da cooperação na esfera internacional. É bom lembrar que os impactos ambientais são transfronteiriços, transnacionais.
	A lei 9605/98, art. 77, traz exemplo também de aplicação deste princípio:
	L9605/98, Art. 77. Resguardados a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes, o Governo brasileiro prestará, no que concerne ao meio ambiente, a necessária cooperação a outro país, sem qualquer ônus, quando solicitado para:
I – produção de prova;
II – exame de objetos e lugares;
III – informações sobre pessoas e coisas;
IV – presença temporária da pessoa presa,cujas declarações tenham relevância para a decisão de uma causa;
V – outras formas de assistência permitidas pela legislação em vigor ou pelos tratados de que o Brasil seja parte.
	Além do caráter transnacional dos danos ambientais, a globalização impõe que se observe o princípio da cooperação.
CONSTITUIÇÃO E MEIO AMBIENTE
?	Existe conceito jurídico de meio ambiente?
	Sim, o conceito jurídico de meio ambiente esta previsto na Lei 6938/81, art. 3º, I:
	Art. 3º Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I – meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em toas as suas formas; 
	Trata-se de conceito amplo, composto, essencialmente de dois elementos: bióticos e abióticos. Os elementos bióticos são aqueles que possuem vida: fauna e flora. Já os elementos abióticos são aqueles que não possuem vida, mas afetam a vida: ar, água, atmosfera. Assim, diz-se que o conceito de meio ambiente é muito amplo na medida em que abrange tanto os elementos bióticos como os abióticos.
*Biótopo – é o lugar físico onde esta a fauna, a flora.
*Biocenose – é o agrupamento de seres vivos.
*Biota – é o conjunto de seres vivos em um determinado local.
Classificação do meio ambiente
	Segundo José Afonso da Silva, é possível classificar o meio ambiente em:
Meio ambiente natural (art. 225, CF);
Meio ambiente cultural (art. 216, CF);
Meio ambiente artificial (art. 182, CF);
Meio ambiente do trabalho (art. 200, VIII, CF).
	O STJ, no julgamento do REsp 725.257/MG, adotou expressamente esta classificação, entendendo ser legítima a atuação do Ministério Público para a defesa do meio ambiente artificial.[3: “(...) Não constando expressamente na lei de regência, como proteção ao meio ambiente artificial, a adoção de medidas protetivas e de segurança ao tráfego ou trânsito de composições ferroviárias, em passagens de níveis existentes pela zona urbana, o órgão ministerial é parte ilegítima para a proposição da ação civil pública. (...)”]
	O meio ambiente natural existe independentemente da vontade do homem, é composto pelos elementos bióticos e abióticos.
	O meio ambiente cultural, previsto no art. 216 da CF, abrange o patrimônio cultural brasileiro que é composto por bens materiais e imateriais. Para a tutela do patrimônio cultural existem as seguintes formas de preservação e acautelamento: tombamento, registro, inventário, vigilância, desapropriação, etc. (art. 216, §1º, CF). A proteção dos bens de natureza imaterial não é feita por meio de tombamento. A proteção dos bens de natureza imaterial é feita por meio do registro. Registro é a forma de proteção do patrimônio cultural imaterial. O Decreto 3351/2000 regulamenta o registro. O inventário pode ser utilizado para a tutela tanto do patrimônio material como do imaterial. Inventariar é relacionar os bens que guarnecem um determinado local. A vigilância é poder de polícia, equivale à fiscalização. O Poder Público tem o dever-poder de fiscalizar os bens tombados, por exemplo, a fim de verificar o atendimento da tutela concedida ao bem.
	Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
§ 1º - O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.
§ 5º - Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos.
	O meio ambiente artificial, também chamado por alguns doutrinadores de meio ambiente construído, é o oposto do meio ambiente natural. No meio ambiente artificial há uma ação antrópica, ou seja, uma ação humana. É composto por espaços abertos e fechados. Os espaços abertos são ruas, parques, praças. Os espaços fechados são museus, teatro, escola, etc. O meio ambiente artificial é estudado com mais cuidado pelo Direito Urbanístico.
	O meio ambiente laboral preocupa-se, essencialmente, com a saúde e segurança do trabalhador. A preocupação é com as condições internas da empresa. Também este meio ambiente tem previsão constitucional:
	Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:
VIII – colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.
	José Afonso da Silva considera que o meio ambiente do trabalho é parte do meio ambiente artificial. Entretanto, atualmente já há doutrina específica sobre o meio ambiente do trabalho.
Meio ambiente no art. 225 da CF
	O art. 225 traz uma norma matriz e instrumentos de efetividade desta norma. A norma matriz é o caput, que traz o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado; enquanto que o §1º traz instrumentos de efetividade deste direito. Além destas, os demais parágrafos do art. 225 trazem determinações particulares. Essa leitura do art. 225 é feita por José Afonso da Silva.
	CF, Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
	O pronome “todos” refere-se a todos os brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil. Há, porém, alguns doutrinadores que fazem uma leitura mais ampla e incluem dentro do “todos”, as futuras gerações.
?	É possível a tutela do meio ambiente para os outros seres vivos (ex: animais)?
	Trata-se de questão de ética ambiental. Dentro da ética ambiental considera-se que existem duas visões opostas de mundo: antropocentrismo e biocentrismo. O antropocentrismo é o que se vive hoje, o homem é colocado no centro de todas as relações. A leitura antropocêntrica coloca no centro e acima de tudo o homem. Reflete o provérbio grego de que o homem é a medida de todas as coisas. 
	Nesta visão antropocêntrica a tutela do meio ambiente só se justifica em função do homem. Esta leitura antropocêntrica utilitarista foi a que conduziu o mundo à situação atual.
	De outro lado, há uma leitura biocêntrica, em que todas as formas de vida são igualmente importantes e não apenas a vida humana. Há aqui preocupação com a vida animal, vegetal. A tutela, aqui, se faz em atenção aos interesses de todos os seres vivos.
	No art. 225 da CF a leitura feita é antropocêntrica. Contudo, esse antropocentrismo passa por algumas variações. Por isso, fala-se num antropocentrismo alargado ou mitigado. O antropocentrismo atual não é mais utilitarista, na medida em que considera os outros seres vivos.
Obs: além das visões antropocentristas e biocentristas, existe uma visão ainda mais radical, chamada de ecocentrista.
	Um exemplo de passagem biocêntrica na CF é a previsão do §1º, VII do art. 225 da CF:
	Art. 225, §1º, VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.
	O dispositivo deixa clara a necessidade de proteção da fauna e da flora a fim de se impedir o sofrimento e a extinção de animais.
	A locução “todos têm direito” cria um direito público subjetivo, oponível erga omnes. O direito é oponível em face do Estado e também de outros particulares. As ações de tutela do meio ambiente não têm como único réu o Estado, mas também quaisquer particulares que ofendam ao meioambiente.
	Quando se fala em “meio ambiente ecologicamente equilibrado”, trata-se de direito fundamental de terceira geração. O meio ambiente ecologicamente equilibrado pode ser definido como aquele não poluído, com higidez e salubridade.
	A discussão sobre “bem de uso comum do povo” esta no art. 99, I, CC que define os bens públicos. Assim, na leitura civilista, atribui-se a titularidade desses bens às pessoas jurídicas de direito público; considera que podem ser desafetados. O meio ambiente, contudo, não se encaixa nesse parâmetro civilista.
	O meio ambiente é um bem jurídico autônomo, de interesse público. Isso significa que o meio ambiente nem se enquadra na leitura civilista de bens particulares e nem se adequa aos bens públicos do direito administrativo.
	Quando se fala do meio ambiente, pode-se entendê-lo como macrobem ou como microbem jurídico. Os microbens são as florestas, as águas, flora, etc. Os microbens são a parte corpórea, física do meio ambiente, objeto de tutela específica. É possível a tutela do meio ambiente a partir da tutela dos microbens. O macrobem, por sua vez, é incorpóreo, imaterial, indivisível e inapropriável. É a essência do meio ambiente. As ações civis públicas propostas pelo MP, via de regra, tutelam o meio ambiente como macrobem. 
	O meio ambiente é um patrimônio público. Mas isso não quer dizer que as pessoas jurídicas de direito público sejam as titulares do meio ambiente. A titularidade é, na verdade, transindividual, difusa. Assim, afirmar que o meio ambiente é um patrimônio público refere-se à presença de um interesse público relativo ao meio ambiente. O Estado não é o proprietário, mas sim um gestor do meio ambiente.
	“Essencial à sadia qualidade de vida”. A CF associa a necessidade de um meio ambiente equilibrado à manutenção de uma sadia qualidade de vida. 
	Ainda, quando fala em “Poder Público”, não se refere apenas ao Executivo, mas a todos os poderes. Cabe ao Poder Público manter a incolumidade do meio ambiente; uma obrigação de não degradar, de não poluir, de não ter intervenções que coloquem o meio ambiente em risco. Por outro lado, diante de um meio ambiente já degradado ou em situação periclitante, cabe ao Poder Público a sua recuperação.
	CF, Art. 225, § 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
	O §1º traz obrigações ao Poder Público relativamente à manutenção do meio ambiente.
	“Preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais” – Os processos ecológicos essenciais são aqueles que garantem o funcionamento dos ecossistemas e contribuem para a salubridade e higidez do meio ambiente. Podem ainda ser entendidos como aqueles processos governados, sustentados ou intensamente afetados pelos ecossistemas, sendo indispensáveis à produção de alimentos, à saúde e a outros aspectos da sobrevivência humana e do desenvolvimento sustentado. São esses processos que mantém os ecossistemas.
	Preservação e conservação para a CF, são sinônimos. Contudo é possível uma distinção. Preservar significa manter intocado, sem interferências humanas. Conservar significa compatibilizar a proteção ambiental com as atividades humanas, em especial as econômicas. A lógica do meio ambiente não é preservar, mas sim conservar. No nosso sistema jurídico temos as duas situações. Apesar de não haver distinção constitucional, a partir da Lei nº. 9.985/2000 os dois verbos passaram a ser usados com seus sentidos distintos.
	“Prover manejo ecológicos das espécies e ecossistemas” – Cuidar do equilíbrio das relações entre a comunidade biótica e seu habitat. Significa também lidar com as espécies de maneira a conservá-las e, se possível, recuperá-las. Quanto ao manejo dos ecossistemas, refere-se a realizar a gestão adequada dos ecossistemas, mantendo-os integralmente protegidos. Manejo é a intervenção do homem no meio ambiente.
	CF, Art. 225, §1º, II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
	O patrimônio genético é o conjunto de seres que habitam o planeta, incluindo os seres humanos, os animais, os vegetais e os microorganismos. No Brasil, a CTNBIO (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) é a responsável pela fiscalização. É um órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. O CTNBIO não integra o SISNAMA, embora suas decisões possam afetar o meio ambiente.
	CF, Art. 225, §1º, III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção.
	Os espaços especialmente protegidos são:
1. Unidades de conservação – lei nº. 9.985/2000;
2. Área de preservação permanente – art. 2º e 3º da lei nº. 4.771/65;
3. Reserva legal florestal – art. 16, lei nº. 4.771/65;
4. Servidão ambiental – art. 9º-A, lei nº. 6938/81
5. Bens tombados.
	Para a AGU, sempre se considerou que os espaços especialmente protegidos equivaliam às unidades de conservação ambiental. Acontece que, na ADI 3540, o STF ampliou o conceito de espaços ambientalmente protegido. Segundo o STF, os espaços especialmente protegidos incluem também as áreas de preservação permanente, tombamento ambiental, reserva legal, servidão ambiental. Depois dessa ADI, todos os espaços acima descritos passaram a ser especialmente tutelados.
	Assim, quando se fala em espaços especialmente protegidos em sentido estrito tem-se sinônimo de unidades de conservação; por outro lado, em sentido amplo, estes espaços referem-se a todos os espaços acima relacionados.
	O inciso III estabelece ainda que apenas por lei específica pode ser alterada a unidade de conservação. Uma unidade de conservação é criada por um ato do Poder Público (decreto), contudo, para desafetar, reduzir ou descontituir uma área de conservação, isso só poderá ser feito por lei específica.
ADI 3540 – (...) O ART. 4º DO CÓDIGO FLORESTAL E A MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.166-67/2001: UM AVANÇO EXPRESSIVO NA TUTELA DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. - A Medida Provisória nº 2.166-67, de 24/08/2001, na parte em que introduziu significativas alterações no art. 4º do Código Florestal, longe de comprometer os valores constitucionais consagrados no art. 225 da Lei Fundamental, estabeleceu, ao contrário, mecanismos que permitem um real controle, pelo Estado, das atividades desenvolvidas no âmbito das áreas de preservação permanente, em ordem a impedir ações predatórias e lesivas ao patrimônio ambiental, cuja situação de maior vulnerabilidade reclama proteção mais intensa, agora propiciada, de modo adequado e compatível com o texto constitucional, pelo diploma normativo em questão. - Somente a alteração e a supressão do regime jurídico pertinente aos espaços territoriais especialmente protegidos qualificam-se, por efeito da cláusula inscrita no art. 225, § 1º, III, da Constituição, como matérias sujeitas ao princípio da reserva legal. - É lícito ao Poder Público - qualquer que seja a dimensão institucional em que se posicione na estrutura federativa (União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios) - autorizar, licenciar ou permitir a execução de obras e/ou a realização de serviços no âmbito dos espaços territoriais especialmente protegidos, desde que, além de observadas as restrições, limitações e exigências abstratamente estabelecidas em lei, não resulte comprometida a integridade dos atributos que justificaram, quanto a tais territórios, a instituição de regime jurídico de proteção especial (CF, art. 225, § 1º, III).
	CF, Art. 225, §1º, IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
	Este dispositivotraz aplicação do princípio do controle do Poder Público sobre o poluidor.
	Na ADI 1505, decidiu o STF que este controle deve ser exercido pela Administração Pública, sem interferência do Legislativo, na medida em que configura exercício do poder de polícia.
ADI 1505 – AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 187 DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL. APROVAÇÃO PELA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA. VÍCIO MATERIAL. AFRONTA AOS ARTIGOS 58, § 2º, E 225, § 1º, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. 1. É inconstitucional preceito da Constituição do Estado do Espírito Santo que submete o Relatório de Impacto Ambiental - RIMA - ao crivo de comissão permanente e específica da Assembléia Legislativa. 2. A concessão de autorização para desenvolvimento de atividade potencialmente danosa ao meio ambiente consubstancia ato do Poder de Polícia --- ato da Administração Pública --- entenda-se ato do Poder Executivo. 3. Ação julgada procedente para declarar inconstitucional o trecho final do artigo § 3º do artigo 187 da Constituição do Estado do Espírito Santo.
	O EIA/RIMA é feito, portanto, pelos órgãos do Executivo. O Legislativo não se mete.
ADI 1086 – AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 182, § 3º, DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE SANTA CATARINA. ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL. CONTRARIEDADE AO ARTIGO 225, § 1º, IV, DA CARTA DA REPÚBLICA. A norma impugnada, ao dispensar a elaboração de estudo prévio de impacto ambiental no caso de áreas de florestamento ou reflorestamento para fins empresariais, cria exceção incompatível com o disposto no mencionado inciso IV do § 1º do artigo 225 da Constituição Federal. Ação julgada procedente, para declarar a inconstitucionalidade do dispositivo constitucional catarinense sob enfoque.
	CF, Art. 225, §1º, V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
	Estabelece o princípio do controle. Refere-se à produção de energia nuclear, a comercialização de agrotóxicos, e controle de técnicas, métodos e segurança de biossegurança.
	CF, Art. 225, §1º, VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.
	No inciso VI se tem a constitucionalização do princípio da educação ambiental.
	O inciso VII é dispositivo biocêntrico. As práticas vedadas são aquelas que gerem risco à função ecológica. Dentre elas, temos as práticas que provocam a extinção das espécies das quais são exemplos a caça profissional, a pesca clandestina com explosivos e introdução de espécies exóticas ou alienígenas.
	Este inciso também impede a realização das brigas de galho, as rinhas. O STF já decidiu que as leis estaduais que as regulamentem são inconstitucionais por ofenderem este inciso. Pelo mesmo motivo foi considerada inconstitucional a regulamentação da “farra do boi” em SC:
RE 153.531 – COSTUME - MANIFESTAÇÃO CULTURAL - ESTÍMULO - RAZOABILIDADE - PRESERVAÇÃO DA FAUNA E DA FLORA - ANIMAIS - CRUELDADE. A obrigação de o Estado garantir a todos o pleno exercício de direitos culturais, incentivando a valorização e a difusão das manifestações, não prescinde da observância da norma do inciso VII do artigo 225 da Constituição Federal, no que veda prática que acabe por submeter os animais à crueldade. Procedimento discrepante da norma constitucional denominado "farra do boi".
REsp 1115916 – (... ) 4. Em situações extremas, nas quais a medida se torne imprescindível para o resguardo da saúde humana, o extermínio dos animais deve ser permitido. No entanto, nesses casos, é defeso a utilização de métodos cruéis, sob pena de violação do art. 225 da CF, do art. 3º da Declaração Universal dos Direitos dos Animais, dos arts. 1º e 3º, I e VI do Decreto Federal n. 24.645 e do art. 32 da Lei n. 9.605/1998. 5. Não se pode aceitar que com base na discricionariedade o administrador realize práticas ilícitas. É possível até haver liberdade na escolha dos métodos a serem utilizados, caso existam meios que se equivalham dentre os menos cruéis, o que não há é a possibilidade do exercício do dever discricionário que implique em violação à finalidade legal. 6. In casu, a utilização de gás asfixiante no centro de controle de zoonose é medida de extrema crueldade, que implica em violação do sistema normativo de proteção dos animais, não podendo ser justificada como exercício do dever discricionário do administrador público.
	O STJ fala numa declaração universal dos direitos dos animais.
	CF, Art. 225, §2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.
	O §2º reconhece que a atividade de mineraria causa degradação e, por isso, deve ser associada à obrigação de reparar os danos ambientais.
	CF, Art. 225, §3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
	A responsabilidade, em matéria ambiental, é tríplice: penal, administrativa e civil. A responsabilidade tem três aspectos: preventivo, repressivo penal (administrativo – decreto 6514/08 e lei 9.605/98) e reparador (civil). O direito ambiental é preventivo em essência o que se exprime no licenciamento ambiental. A responsabilidade administrativa esta nos art. 70 a 76 da lei 9.605/98 (lei de crimes ambientais). A responsabilidade civil em direito ambiental é objetiva, nos termos do art. 14, §1º, lei 6938/81.
	Art.14, §1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.
	No Brasil adotamos a teoria do risco integral. Assim, não há que se falar em excludentes e atenuantes diante da responsabilidade por dano ambiental. Mesmo quando se fala em responsabilidade do Estado pelo dano ambiental, a responsabilidade é objetiva, mas o fundamento esta no art. 37, §6º, CF.
	 A única exceção à responsabilização objetiva do Estado esta na omissão do Poder Público no exercício do poder de polícia. Quando o Poder Público não fiscaliza, a sua responsabilidade será subjetiva. Deverá ser comprovada a culpa ou dolo da administração na fiscalização falha que leva ao dano ambiental.
REsp 647493/SC (...) 1. A responsabilidade civil do Estado por omissão é subjetiva, mesmo em se tratando de responsabilidade por dano ao meio ambiente, uma vez que a ilicitude no comportamento omissivo é aferida sob a perspectiva de que deveria o Estado ter agido conforme estabelece a lei. (...) 7. A ação de reparação/recuperação ambiental é imprescritível.[4: Não confundir as esferas administrativas e penal. Na esfera penal há prescrição. O que não prescreve é a ação de reparação/recuperação.]
	CF, art. 225, § 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
	O §4º, do art. 225 da CF reconhece os grandes biomas brasileiros. O fato de serem considerados patrimônio nacional não converteu as áreas de propriedade privada em áreas públicas. Não houve alteração da titularidade dos imóveis inseridos nestas áreas. A lei 11428/06 tutela especificamente a Mata Atlântica.
RE 134297 – (...) A norma inscritano Art.225, §4º., da Constituição deve ser interpretada de modo harmonioso com o sistema jurídico consagrado pelo ordenamento fundamental, notadamente com a cláusula que, proclamada pelo art. 5., XXII, da Carta Política, garante e assegura o direito de propriedade em todas as suas projeções, inclusive aquela concernente a compensação financeira devida pelo Poder Público ao proprietário atingido por atos imputáveis a atividade estatal. O preceito consubstanciado no Art.225, §4º, da Carta da República, além de não haver convertido em bens públicos os imóveis particulares abrangidos pelas florestas e pelas matas nele referidas (Mata Atlântica, Serra do Mar, Floresta Amazônica brasileira), também não impede a utilização, pelos próprios particulares, dos recursos naturais existentes naquelas áreas que estejam sujeitas ao domínio privado, desde que observadas as prescrições legais e respeitadas as condições necessárias a preservação ambiental. - A ordem constitucional dispensa tutela efetiva ao direito de propriedade (CF/88, art. 5., XXII). Essa proteção outorgada pela Lei Fundamental da República estende-se, na abrangência normativa de sua incidência tutelar, ao reconhecimento, em favor do dominus, da garantia de compensação financeira, sempre que o Estado, mediante atividade que lhe seja juridicamente imputável, atingir o direito de propriedade em seu conteúdo econômico, ainda que o imóvel particular afetado pela ação do Poder Público esteja localizado em qualquer das áreas referidas no art. 225, §4º da Constituição. - Direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado: a consagração constitucional de um típico direito de terceira geração (CF, art. 225, caput).
RE 300.244 – Competência. Crime previsto no artigo 46, parágrafo único, da Lei nº 9.605/98. Depósito de madeira nativa proveniente da Mata Atlântica. Artigo 225, § 4º, da Constituição Federal. - Não é a Mata Atlântica, que integra o patrimônio nacional a que alude o artigo 225, § 4º, da Constituição Federal, bem da União. - Por outro lado, o interesse da União para que ocorra a competência da Justiça Federal prevista no artigo 109, IV, da Carta Magna tem de ser direto e específico, e não, como ocorre no caso, interesse genérico da coletividade, embora aí também incluído genericamente o interesse da União. - Conseqüentemente, a competência, no caso, é da Justiça Comum estadual. Recurso extraordinário não conhecido.
	O legislador esqueceu a caatinga, o cerrado, os pampas. Cada estado da federação tem uma sistemática específica, mas estes biomas não estão abrangidos pela CF como patrimônio nacional.
	CF, Art. 225, §5º - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
§6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.
	O fato de haver lei federal não significa que a usina vai ser instalada. A lei é requisito para dizer onde a usina será instalada. Depois é necessário o licenciamento ambiental, em especial o Estudo Prévio de Impacto Ambiental.
	 No Brasil o órgão responsável pela fiscalização da energia nuclear é a CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear).
Competências constitucionais em matéria ambiental
	Em relação às competências em matéria ambiental, o art. 23 da CF trata da competência material também chamada de administrativa. É competência comum entre União, Estados, DF e Municípios. O art. 23 estabelece, em resumo, o poder de polícia, de fiscalização em matéria ambiental. O poder de polícia aqui é o mesmo estudado pelo direito administrativo, conceituado no art. 78 do CTN.[5: CTN, Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.]
	CF, Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; → meio ambiente cultural
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural; → meio ambiente cultural 
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios;
	Interessa notar que o art. 23 distribui competências não só referente ao meio ambiente natural como também ao meio ambiente cultural: os incisos VI, VII e XI tratam do meio ambiente natural, os incisos III e IV tratam do meio ambiente cultural.
	CF, Art. 23, Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.
	A cooperação relativas às competências estabelecidas nos incisos III, VI e VII do art. 23 da CF foi regulada pela LC 140/2011, publicada em 9/12/2011.
	Art. 1º Esta Lei Complementar fixa normas, nos termos dos incisos III, VI e VII do caput e do parágrafo único do art. 23 da Constituição Federal, para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora. 
?	Sendo comum a competência, será possível a atuação concomitante dos órgãos de 	diferentes esferas da federação?
	Antes da LC 140/2011, entendia-se ser perfeitamente possível a atuação concomitante dos órgãos ambientais. Uma mesma infração poderia ensejar a atuação de órgãos federais, estaduais e municipais. Sem a lei regulamentadora, considerava-se que todos os órgãos poderiam agir (ex: uma infração, com multas impostas pelo Município, Estado e União).
	Com a edição da lei, contudo, este cenário muda. O art. 17 da LC 140/2011 restringe as atuações de fiscalização, definindo que terá competência para fiscalizar aquele que tiver a competência para licenciar:
	Art. 17. Compete ao órgão responsável pelo licenciamento ou autorização, conforme o caso, de um empreendimento ou atividade, lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo para a apuração de infrações à legislação ambiental cometidas pelo empreendimento ou atividade licenciada ou autorizada. 
§2º Nos casos de iminência ou ocorrência de degradação da qualidade ambiental, o ente federativo que tiver conhecimento do fato deverá determinar medidas para evitá-la, fazer cessá-la ou mitigá-la, comunicando imediatamente ao órgão competente para as providências cabíveis. 
§3º O disposto no caput deste artigo não impede o exercício pelos entes federativos da atribuição comum de fiscalização da conformidade de empreendimentos e atividades efetiva ou potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais com a legislação ambiental em vigor, prevalecendo o auto de infração ambiental lavrado por órgão que detenha a atribuição de licenciamento ou autorização a que se refere o caput. 
	Importa perceber que, embora a competência para a fiscalização seja do órgão licenciador, os §§2º e 3º permitem a atuação de órgãos de outros entes federativos em casos de emergência (§2º) e para a verificação de conformidade.
	Além da previsão do §3º do art. 17 da LC 140/2011,que faz prevalecer o auto de infração do órgão licenciador, o art. 76 da Lei 9605/98 continua a prever que o pagamento da multa estadual ou municipal afasta a multa federal imposta:
	Lei 9605/98, Art. 76. O pagamento de multa imposta pelos Estados, Municípios, Distrito Federal ou Territórios substitui a multa federal na mesma hipótese de incidência.
Atenção: Apenas o pagamento da multa estadual ou municipal afasta a multa federal. Não tem este efeito a assinatura de termo de ajustamento de conduta com o órgão estadual, salvo se o órgão ambiental federal participar do TAC. Nesse sentido é expressa a previsão do art. 12 do Decreto 6514 (que regula as infrações administrativas):
	Decreto 6514, Art. 12. O pagamento de multa por infração ambiental imposta pelos Estados, Municípios, Distrito Federal ou Territórios substitui a aplicação de penalidade pecuniária pelo órgão federal, em decorrência do mesmo fato, respeitados os limites estabelecidos neste Decreto.
Parágrafo único. Somente o efetivo pagamento da multa será considerado para efeito da substituição de que trata o caput, não sendo admitida para esta finalidade a celebração de termo de compromisso de ajustamento de conduta ou outra forma de compromisso de regularização da infração ou composição de dano, salvo se deste também participar o órgão ambiental federal.
	Ainda em matéria ambiental, é importante lembrar a incidência dos seguintes princípios:
Princípio da subsidiariedade – na atuação do poder de polícia deve-se observar primordialmente a atuação municipal, depois a estadual e a união. Especificamente sobre a atuação subsidiária, diz o art. 16 da LC 140/2011:
	Art. 16. A ação administrativa subsidiária dos entes federativos dar-se-á por meio de apoio técnico, científico, administrativo ou financeiro, sem prejuízo de outras formas de cooperação. 
Parágrafo único. A ação subsidiária deve ser solicitada pelo ente originariamente detentor da atribuição nos termos desta Lei Complementar. 
Princípio do interesse – a atuação deve levar em conta o interesse envolvido.
	No Rio Grande do Sul, foi editada lei atribuindo, com exclusividade, aos Municípios a competência de fiscalização dos bens do patrimônio histórico. Em ADI esta lei foi julgada inconstitucional porque o que ocorria era que, por meio da lei, o Estado estava renunciando a uma competência que lhe é atribuída pelo art. 23 da CF. O STF, assim, entendeu pela inconstitucionalidade da lei porque não pode o estado-membro renunciar a competência que lhe é conferida pela CF.
	A competência legiferante, por sua vez, é definida no art. 24, CF. É competência concorrente, cabendo à União a edição de normas gerais que têm como função a uniformização e coordenação. É preciso ter atenção porque o art. 24, ao distribuir competência legislativa, não trata da competência dos Municípios, mas apenas de União, Estados-membros e DF.
	Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
§ 1º - No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.
§ 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.
§ 3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.
§ 4º - A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.
	Na competência legislativa, por ser concorrente, cabe à União editar as normas gerais. Estas normas gerais possuem a função de uniformização e coordenação da legislação em todo o país, são as diretrizes, um padrão mínimo. A norma geral não pode entrar em minúcias, em detalhes. Aos Estados e ao Distrito Federal compete a edição de normas suplementares, que detalham as diretrizes fixadas pela norma geral.
	Nada obstante a competência da União para a fixação da norma geral, caso esta norma não seja editada, o §3º do art. 24 permite que os Estados exerçam a competência legislativa plena. De toda forma, a superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual no que lhe for contrário.
→ Conflito entre normas ambientais
	O primeiro critério para se dirimir um conflito entre norma federal e estadual é o critério da prevalência da lei federal. O segundo é o critério da lei mais protetiva ao meio ambiente.
	O primeiro critério, o da prevalência da lei federal, é o mais adotado pelo STF. Foi este o critério utilizado para a declaração de inconstitucionalidade de lei paranaense que exigia a rotulagem de todos os produtos que contivessem elementos transgênicos, vez que contrariava a previsão da lei federal.
	Entretanto, esta em julgamento a ADI 3937, que pode ser a responsável pela alteração do entendimento do STF. Nessa ADI, há votos que adotam o critério da lei mais protetiva ao meio ambiente para a solução de conflito de normas ambientais. A ação envolve o julgamento de uma lei paulista que proibiu o uso do amianto no estado. Na ADI, ainda em julgamento, foi feito pedido de cautelar para a suspensão da lei paulista. O pedido de cautelar foi negado pelo STF, por 7 votos a 3 (Marco Aurélio, Ellen Gracie e Menezes Direito), sob o argumento de que a lei paulista, vez que mais protetiva ao meio ambiente, estava em melhor consonância com a CF, devendo prevalecer sobre a lei federal.
O Min. Joaquim Barbosa salientou, inicialmente, os graves danos à saúde provocados pelo amianto, citando doenças relacionadas ao seu uso, e o que disposto na Resolução CONAMA 348/2004, no sentido de reconhecer, de acordo com critérios adotados pela Organização Mundial da Saúde, a inexistência de limites seguros para a exposição humana ao referido mineral. Considerou que, à primeira vista, a lei impugnada não seria inconstitucional por duas razões. Afirmou, no ponto, que haveria uma norma a respaldar a postura legislativa adotada pelo Estado-membro, qual seja, a Convenção 162 da OIT, promulgada por meio do Decreto 126/91. Essa Convenção seria um compromisso assumido pelo Brasil de desenvolver e implementar medidas para proteger o trabalhador exposto ao amianto, uma norma protetiva de direitos fundamentais, em especial o direito à saúde e o direito ao meio-ambiente equilibrado. Tendo em conta a coincidência principiológica entre o texto constitucional e a Convenção, afirmou que esta deveria ser um critério para se avaliar as normas estaduais, e conferiu às normas da Convenção, no mínimo, o status supralegal e infraconstitucional. Ressaltou que, se a União, no plano internacional, assumiu o compromisso de adotar medidas no sentido de substituir a utilização do amianto crisotila, conforme os artigos 3º e 10 da Convenção 162, esse compromisso deveria ser utilizado também no plano interno em face das unidades federativas.	Além disso, o Min. Joaquim Barbosa se convenceu da legitimidade da lei estadual impugnada por reputar inadequado concluir que a lei federal excluiria a aplicação de qualquer outra norma ao caso. Esclareceu que a preexistência da Convenção impediria que se tentasse levar a lei ordinária federal ao status de norma geral. A Convenção é que possuiria tintas de generalidade nessa matéria, sendo a lei federal uma lei específica destinada, talvez, a permitir o crisotila no âmbito das relações federais. Acrescentou que essa distinção entre lei federal e lei específica seria inaplicável ao caso das leis sobre amianto, porque, em matéria de defesa da saúde, sobre a qual o Estado-membro tem competência, não seria razoável que a União exercesse uma opção permissiva no lugar do Estado,

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