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lei 13146

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO PARÁ
ÁREA DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO
RAQUEL ALVES GOBBO
AS ALTERAÇÕES DO CÓDIGO CIVIL COM BASE NA LEI Nº 13.146/2015
 
BELÉM
2015
RAQUEL ALVES GOBBO
AS ALTERAÇÕES DO CÓDIGO CIVIL COM BASE NA LEI Nº 13.146/2015
Trabalho apresentado como requisito parcial para avaliação da disciplina de Teoria Geral do Direito Civil, do curso de Bacharelado em Direito do Centro Universitário do Pará (CESUPA). Ministrada pela Prof.ª Ms.ª Natalia Mascarenhas Simões Bentes. Turma: DI2MB.
BELÉM
2015
Introdução
Pessoas com deficiência, antes de qualquer coisa, são pessoas como quaisquer outras, com peculiaridades, sentimentos, necessidades, contradições e singularidades,
Pessoas que lutam por seus direitos, que valorizam o respeito pela dignidade, pela autonomia individual, pela plena e efetiva participação e inclusão na sociedade e igualdade de oportunidades. Pessoas que querem demonstrar que a deficiência de algum membro ou órgão, é apenas uma das condições da existência humana.
Em 2008, o Brasil ratificou a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, adotada pela ONU, bem como o seu Protocolo Facultativo. O documento obteve equivalência de emenda constitucional, valorizando a atuação conjunta entre sociedade civil e o governo, em um esforço democrático. 
Nesse sentido, buscando defender e garantir condições de vida com dignidade a todas as pessoas que apresentam alguma deficiência, a Convenção prevê monitoramento periódico e avança na consolidação diária dos direitos humanos ao permitir que o Brasil relate a sua situação e, com coragem, reconheça que, apesar do muito que já se fez, ainda há muito o que fazer.
E é por isso, depois de inúmeras medidas paliativas tomadas durante anos, enfim surge uma lei própria destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania.
No dia 6 de julho de 2015 foi sancionada a Lei 13.146/2015, que cria o Estatuto da Pessoa com Deficiência. A norma foi publicada no dia 07 de julho de 2015 e, após 180 dias de seu Vacatio Legis, entrará em vigor no dia 03 de janeiro de 2016. 
Há vários pontos altos que representam um notável avanço para a proteção da dignidade da pessoa com deficiência, a nova lei altera e revoga alguns artigos do Código Civil, trazendo grandes mudanças estruturais e funcionais na antiga teoria das incapacidades, o que repercute diretamente para institutos do Direito de Família, como o casamento, a interdição e a curatela. 
A norma também alterou alguns artigos do Código Civil que foram revogados expressamente pelo Novo Código de Processo Civil (art. 1.072). No entanto essas alterações terão curto prazo de vigência, que corresponde ao período em que a lei entra vigor e quando o NCPC também entrará em vigor no dia 18 de março de 2016. Isso parece não ter sido observado pelas autoridades competentes, quando da sua elaboração e promulgação, havendo um verdadeiro atropelamento legislativo.
Desenvolvimento 
Análise histórica das conquistas dos deficientes
Na Grécia Antiga, mais precisamente em Esparta, os bebês que nasciam com algum problema físico ou mental, eram mortos logo após o nascimento. Pois assim, queriam ter um exército de homens “perfeitos”. Na Idade Média, as pessoas que tinham qualquer tipo de deficiência eram vistas como monstros, concebidas como castigo de Deus, que não mereciam nenhum tipo de assistência. Do século XVI ao XIX, a sociedade passou a higienizar a cidade, colocando esses sujeitos em instituições fechadas, como hospitais psiquiátricos, locais que mais pareciam prisões ou formas sociais de isolamento, sem nenhum tratamento adequado a essas pessoas. 
Em 1960, as pessoas com deficiência eram denominadas como inválidas e totalmente incapazes, neste período, surgiu o modelo médico, caracterizado pela prestação de serviços de apoio ao deficiente, sendo necessário protegê-lo devido à sua incapacidade. No início de 1970, surgiu o paradigma da integração social, como forma de banir a exclusão social que o modelo médico criou. De acordo com esse novo paradigma para o cidadão deficiente é reconhecido o direito de estar na sociedade, por meio de implementação das políticas de integração escolar e laboral. Em 1978, através da emenda da Constituição Brasileira, garantiu-se aos deficientes a melhoria de sua condição social e econômica sob a educação especial e gratuita. No ano de 1982, foi lançado, pela Assembléia Geral das Nações Unidas, o programa de Ação Mundial para Pessoas com Deficiências, que tem como proposta promover medidas para prevenção e reabilitação da deficiência, e realização da igualdade e participação das pessoas com deficiência na vida social e no desenvolvimento (Programa de Ação Mundial para Pessoas com Deficiências).
Abaixo vão ser listadas algumas conquistas desde o ano de 1970.
2015- Acessibilidade a edificações mobiliário, espaços e equipamentos urbanos.
2011- Plataforma elevatória veicular e rampa de acesso veicular para acessibilidade em veículos com características urbanas para o transporte coletivo de passageiros.
 2011- Aeroportos: veículo auto-propelido para embarque/desembarque de pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. 
2009- Transporte - especificações técnicas para fabricação de veículos de características urbanas para transporte coletivo de passageiros.
2007- Elevadores de passageiros - requisitos de segurança para construção e instalação / requisitos particulares para a acessibilidade das pessoas, incluindo pessoas com deficiência.
2006- Acessibilidade de passageiro no sistema de transporte aquaviário.
2006- Acessibilidade à pessoa com deficiência no transporte rodoviário.
2005- Acessibilidade em comunicação na televisão.
2005- Acessibilidade em caixa de auto-atendimento bancário.
2005- Acessibilidade no sistema de trem urbano ou metropolitano.
2003- Acessibilidade em veículos automotores / requisitos de dirigibilidade.
1999- Acessibilidade a pessoa portadora de deficiência no transporte aéreo comercial.
1970- Acessibilidade a pessoa portadora de deficiência trem de Longo percurso.
Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência (Nova York/2007)
Analisando o artigo primeiro da convenção, pode-se observar que o legislador internacional preocupou-se mais com a garantia de que, pessoas com deficiência possam gozar dos direitos humanos e de sua liberdade fundamental, do que propriamente em instituir novos direitos. A técnica empregada foi adotar como parâmetro as condições de igualdade, tanto que ao desdobrar o artigo, reforça a idéia de que barreiras sociais podem impedir a participação do segmento em condições de igualdade. Portanto, podemos concluir que a conduta adotada pelo legislador internacional, para que as pessoas com deficiência usufruam dos seus direitos e liberdades, é justamente a maior condição de igualdade.
Igualdade é um composto que pressupõe o respeito às diferenças pessoais, não significando o nivelamento de personalidades individuais. Pelo contrário, não se ganha uma efetiva e substancial igualdade sem que se tenha em conta as distintas condições das pessoas. 
Abaixo estão enumerados os princípios gerais da convenção, e os comentários sobre as mesmas:
a) O respeito pela dignidade inerente, independência da pessoa, inclusive a liberdade de fazer as próprias escolhas, e autonomia individual.
 O conceito de dignidade humana implica no respeito e reconhecimento de nobreza a toda e qualquer pessoa, simplesmente por existir. O reconhecimento da dignidade da pessoa com deficiência é fundamental, por opor-se à idéia de que a deficiência rebaixa esse ser a uma condição sub-humana ou a uma anomalia que “danifica” a sua condição de pertencer à humanidade. É importante ressaltar que o processo de construção da independência e da autonomia inicia-se desdea mais tenra infância, quando a mãe respeita as primeiras manifestações da vontade do bebê. 
b) A não-discriminação. 
Apesar da palavra discriminação ter adquirido o sentido negativo, ou seja, da retirada de direitos a determinados grupos sociais, a idéia de discriminar, desta vez positivamente, está na base das ações afirmativas, onde pode ser identificado determinados grupos para oferecer possibilidades de resgatar a dívida social para com estes. 
c) A plena e efetiva participação e inclusão na sociedade. 
O princípio da busca da participação plena é particularmente importante e deve se iniciar também na família e difundir-se para todos os outros espaços sócio-culturais e políticos, inclusive nas instituições e serviços de atendimento à população. 
d) O respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas com deficiência como parte da diversidade humana e da humanidade. 
É fundamental estabelecer as origens das diferenças humanas porque há aquelas inerentes à natureza do ser humano, as diferenças ecológicas e as diferenças criadas pelo homem, a saber, as diferenças sócio-culturais e as de natureza política. 
e) A igualdade de oportunidades. 
O conceito de igualdade de oportunidades é contemporâneo ao Plano da Ação Mundial e está intimamente relacionado à questão das diferenças. É necessário eliminar os mecanismos de produção da desigualdade e os meios mais eficazes para fazê-lo são a politização da discussão e a busca da igualdade de oportunidades. Tornar as oportunidades iguais significa criar condições diversificadas, respeitando-se as necessidades de cada pessoa. 
f) A acessibilidade.
A acessibilidade precisa ser compreendida em seu sentido amplo, como ingresso e permanência aos meios físicos e aos de comunicação e aos sistemas, políticas, serviços e programas implementados pela comunidade. 
g) A igualdade entre o homem e a mulher.
Apesar de haver um princípio de não discriminação é interessante explicitar a necessidade de igualdade de gêneros, uma vez que na área das deficiências a condição feminina torna a mulher com deficiência particularmente vulnerável e em condições de desvantagem social, havendo uma sobre-marginalização. 
h) O respeito pelas capacidades de desenvolvimento de crianças com deficiência e respeito pelo seu direito a preservar sua identidade.
Outra condição de vulnerabilidade que é oportunamente destacada é o respeito que todas as crianças com deficiência possuem de ter as suas capacidades desenvolvidas. Um exemplo de desrespeito é quando, nas avaliações clínicas e pedagógicas, enfatiza-se os déficits e não as potencialidades. Apesar de existirem grupos que tendem a considerar que a deficiência constitui-se em uma identidade própria, como por exemplo, a comunidade surda, a influência da presença de uma deficiência não pode determinar uma classe específica de pessoas.
Pontos principais da lei 13.146/15
Um dos principais artigos da nova lei que foi sancionada são os artigos 6º e 8º, descritos abaixo:
Art. 6o - A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para: 
I - casar-se e constituir união estável; 
II - exercer direitos sexuais e reprodutivos; 
III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações adequadas sobre reprodução e planejamento familiar; 
IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória; 
V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e 
VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.
Art. 8o - É dever do Estado, da sociedade e da família assegurar à pessoa com deficiência, com prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à sexualidade, à paternidade e à maternidade, à alimentação, à habitação, à educação, à profissionalização, ao trabalho, à previdência social, à habilitação e à reabilitação, ao transporte, à acessibilidade, à cultura, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à informação, à comunicação, aos avanços científicos e tecnológicos, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária, entre outros decorrentes da Constituição Federal, da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo e das leis e de outras normas que garantam seu bem-estar pessoal, social e econômico. 
Conforme citados acima, esses artigos têm relação direta com os direitos da família e com os direitos fundamentais, principalmente no sentido em que eles podem constituir família por livre e espontânea vontade, não podem sofrer esterilização compulsória, inclusive de poder adotar ou ser adotado e obter a guarda de seus descendentes. Em síntese, os portadores de deficiência vão levar uma vida normal como qualquer outra pessoa. 
Porém, em casos extraordinários a pessoa poderá ser submetida a curatela, mas por tempo bem mais curto que o de costume e sempre proporcional ao grau de doença do curatelado. 
Outros artigos importantes são o 11, 12 e 13, citados abaixo.
Art. 11 - A pessoa com deficiência não poderá ser obrigada a se submeter a intervenção clínica ou cirúrgica, a tratamento ou a institucionalização forçada.
Parágrafo único.  O consentimento da pessoa com deficiência em situação de curatela poderá ser suprido, na forma da lei. 
Art. 12 - O consentimento prévio, livre e esclarecido da pessoa com deficiência é indispensável para a realização de tratamento, procedimento, hospitalização e pesquisa científica. 
§ 1o - Em caso de pessoa com deficiência em situação de curatela, deve ser assegurada sua participação, no maior grau possível, para a obtenção de consentimento. 
§ 2o - A pesquisa científica envolvendo pessoa com deficiência em situação de tutela ou de curatela deve ser realizada, em caráter excepcional, apenas quando houver indícios de benefício direto para sua saúde ou para a saúde de outras pessoas com deficiência e desde que não haja outra opção de pesquisa de eficácia comparável com participantes não tutelados ou curatelados. 
Art. 13 - A pessoa com deficiência somente será atendida sem seu consentimento prévio, livre e esclarecido em casos de risco de morte e de emergência em saúde, resguardado seu superior interesse e adotadas as salvaguardas legais cabíveis.  
Esses artigos tratam sobre a integridade física do deficiente, indicando principalmente que antes a pessoa com deficiência não poderia ter opinião alguma acerca de seus tratamentos médicos e cirúrgicos, mas com a lei o consentimento dessas pessoas é válido. E vale ressaltar que o médico deve tentar extrair ao máximo sua vontade. 
Também vale ressaltar a importância no direito do trabalho, com a nova lei, a partir do Livro I, Título II, Capítulo VI. A pessoa com deficiência tem livre escolha, com relação a seu emprego e ao ambiente acessível. Com igualdade de oportunidades e mesmo salário dos demais funcionários. Além de incentivar uma forma de competição saudável entre os todos do local de trabalho. 
O art. 74 diz respeito a tecnologia assistiva, que deve ser garantida a pessoa com deficiência, principalmente no momento em que algum deficiente poderá dar testemunho em julgamentos. 
O art. 76 trata sobre os direitos eleitorais do deficiente, uma vez que este pode votar e ser votado. Porém não deverá existir nenhum tipo de secção eleitoral exclusivas, pois só aumentaria a exclusão. 
Revogações e alterações no Código Civil
Os artigos 123 e 114 da lei 13.146:
Revogam-se os incisos I, II e II do art. 3º da lei 10.406/2002 (Código Civil). E, somente, os menores de 16 (dezesseis) anos, serão considerados absolutamente incapazes de exercer os atos da vida civil, cabendo como direito a estes o recebimento da tutela ou dos responsáveis legais.
No art. 4º/CC os indivíduos com idade entre 16 (dezesseis) e 18 (dezoito) anos, e os pródigos, continuam sendo relativamente incapazes. A alteração está no inciso II e III, que retiraram de seu texto os deficientes mentais, com discernimento reduzido e os excepcionais.Passando estes a serem capazes de exercer atos da vida civil normalmente.
No art. 228/CC foram revogados os incisos II e III, e foi adicionado o §2º com o seguinte texto: “A pessoa com deficiência poderá testemunhar em igualdade de condições com as demais pessoas, sendo-lhe assegurados todos os recursos com tecnologia assitiva.” Esta alteração é um grande avanço para a justiça brasileira, pois apesar de muitos não puderem ver ou ouvir, mas podem dar seu testemunho com os órgãos que tem total capacidade. 
No art. 1.518/CC é retirada do texto a palavra “curador”, já que este não interfere mais no casamento do deficiente, apenas os pais ou tutores legais.
No art. 1.548/CC, é revogado o seu inciso I, ou seja, o casamento do enfermo mental não é mais nulo.
Ao art. 1.550/CC é acrescentado o §2º: “A pessoa com deficiência mental ou intelectual com idade núbia poderá contrair matrimônio, expressando sua vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou curador.”
No art. 1.557/CC é revogado seu inciso IV, e acrescenta-se um termo no inciso III dizendo que “a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável que não caracterize deficiência [...]”
No art. 1.767/CC foram revogados os incisos II e IV, no inciso II foi retirado o termo “deficientes mentais”, e houve uma modificação no texto do inciso I, que ficou “Aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade.”
No art. 1.768 o caput foi alterado para “O processo que define os termos da curatela deve ser promovido:”. E acrescentado o inciso IV: “pela própria pessoa”. Porém as alterações desse artigo (e do subseqüente 1.769) só irão durar aproximadamente dois meses, pois com a entrada em vigor do Novo CPC, estes e outros artigos serão expressamente revogados Havendo uma grande falta de atenção por parte dos legisladores responsáveis.
 Há alteração no caput do art. 1.771, que ficará com o seguinte texto: “Antes de se pronunciar acerca dos termos da curatela, o juiz, que deverá ser assistido por equipe multidisciplinar, entrevistará pessoalmente o interditando.”. E também no caput do art. 1.772: “O juiz determinará, segundo as potencialidades da pessoa, os limites da curatela, circunscritos às restrições constantes do art. 1.782, e indicará curador.”. Contudo, esses dois artigos também serão revogados pelo Novo CPC.
Os artigos 1.1776 e 1.780 do Código Civil, são completamente revogados.
No art. 1.777/CC, o que mudou foi o caput: “As pessoas referidas no inciso I do art. 1.767 receberão todo o apoio necessário para ter preservado o direito a convivência familiar e comunitária, sendo evitado o seu recolhimento em estabelecimento que os afaste desse convívio.”.
Foi instalado o art. 1.775-A: “Na nomeação de curador para a pessoa com deficiência, o juiz poderá estabelecer curatela compartilhada a mais de uma pessoa.”.
A partir do art. 115 da lei 13.146 o Título IV do Livro IV da Parte Especial da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), passa a vigorar com a seguinte redação: 
“TÍTULO IV
Da Tutela, da Curatela e da Tomada de Decisão Apoiada”
E sob a luz do art. 116 o Título IV do Livro IV da Parte Especial da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), passa a vigorar acrescido do seguinte Capítulo III: 
“CAPÍTULO III
Da Tomada de Decisão Apoiada
Art. 1.783-A.  A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e informações necessários para que possa exercer sua capacidade. 
§ 1o - Para formular pedido de tomada de decisão apoiada, a pessoa com deficiência e os apoiadores devem apresentar termo em que constem os limites do apoio a ser oferecido e os compromissos dos apoiadores, inclusive o prazo de vigência do acordo e o respeito à vontade, aos direitos e aos interesses da pessoa que devem apoiar. 
§ 2o - O pedido de tomada de decisão apoiada será requerido pela pessoa a ser apoiada, com indicação expressa das pessoas aptas a prestarem o apoio previsto no caput deste artigo. 
§ 3o - Antes de se pronunciar sobre o pedido de tomada de decisão apoiada, o juiz, assistido por equipe multidisciplinar, após oitiva do Ministério Público, ouvirá pessoalmente o requerente e as pessoas que lhe prestarão apoio. 
§ 4o - A decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e efeitos sobre terceiros, sem restrições, desde que esteja inserida nos limites do apoio acordado. 
§ 5o - Terceiro com quem a pessoa apoiada mantenha relação negocial pode solicitar que os apoiadores contra-assinem o contrato ou acordo, especificando, por escrito, sua função em relação ao apoiado. 
§ 6o - Em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou prejuízo relevante, havendo divergência de opiniões entre a pessoa apoiada e um dos apoiadores, deverá o juiz, ouvido o Ministério Público, decidir sobre a questão. 
§ 7o - Se o apoiador agir com negligência, exercer pressão indevida ou não adimplir as obrigações assumidas, poderá a pessoa apoiada ou qualquer pessoa apresentar denúncia ao Ministério Público ou ao juiz. 
§ 8o - Se procedente a denúncia, o juiz destituirá o apoiador e nomeará, ouvida a pessoa apoiada e se for de seu interesse, outra pessoa para prestação de apoio. 
§ 9º - A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar o término de acordo firmado em processo de tomada de decisão apoiada. 
§ 10 - O apoiador pode solicitar ao juiz a exclusão de sua participação do processo de tomada de decisão apoiada, sendo seu desligamento condicionado à manifestação do juiz sobre a matéria. 
§ 11 - Aplicam-se à tomada de decisão apoiada, no que couber, as disposições referentes à prestação de contas na curatela.”
3. Conclusão
Este trabalho teve o objetivo de apresentar as principais características da lei 13.146/15 e suas influencias que resultaram em várias revogações e alterações do Código Civil de 2002. Buscando mostrar em que teor foi baseada essa lei, visto que foi a Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência. 
Apesar de a nova lei ter algumas contradições e equívocos, ela é a mudança que há tanto todos aguardavam. Não só para dar ordens e listar obrigações, como a maioria da legislação, mas rechear de direitos e cidadanias a pessoas que precisam ter tratamento diferenciado para que as diferenças deixem, pelo menos um pouco, de existir. 
Como dito na introdução deste trabalho, as pessoas com deficiência são, acima de tudo, pessoas como quaisquer outras, que precisam de muita atenção e de carinho. Pois, de nada adianta ser sancionada uma nova lei, se não há afeto e compaixão pelo deficiente que irá ser tratado por esta lei. 
A mudança começa dentro de cada umas das pessoas responsáveis por estas mudanças, e essas pessoas são a sociedade como um todo. A lei vem para atentar a essas atitudes que deveriam ser feitas desde sempre.
Com novos direitos, ou melhor dizendo, com seu direitos restituídos, os deficientes poderão ter uma vida muito mais saudável, do ponto de vista da saúde mental, e feliz. Estes, hoje possuidores da capacidade plena do exercício da vida civil, capazes de casar-se e constituir união estável, exercer direitos sexuais e reprodutivos, exercer o direito de constituir uma família, entre tantos outros, que representam uma vitória a este grupo de pessoas e seres humanos tanto quanto nós, indivíduos “normais”. 
“Pensamos que a nova Lei veio em boa hora, ao conferir um tratamento mais digno às pessoas com deficiência. Verdadeira reconstrução valorativa na tradicional tessitura do sistema jurídico brasileiro da incapacidade civil. Mas o grande desafio é a mudança de mentalidade, na perspectiva de respeito à dimensão existencial do outro. Mais do que leis, precisamos mudar mentes e corações.” (STOLZE, Pablo. Estatuto da Pessoa com Deficiência e Sistema de Incapacidade Civil).
Referências bibliográficas.STOLZE, Pablo. Estatuto da Pessoa com Deficiência e sistema de incapacidade civil. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 20, n. 4411, 30 jul. 2015. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/41381>. Acesso em: 19 nov. 2015.
Legislação — Palácio do Planalto: www2.planalto.gov.br
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência - Bengala Legal: www.bengalalegal.com
Iba Mendes: O DEFICIENTE FÍSICO ao longo da história: www.ibamendes.com
Pablo Stolze Gagliano: pablostolze.com.br

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