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Seleção de habitat

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Fatores que limitam a 
distribuição de uma espécie:
seleção de habitat.
Autora: Sofia Campiolo
I. Introdução
II. Habitat
III. Seleção de habitat e escala espacial
IV. Abordagens do estudo de seleção de habitat
V. Mecanismos comportamentais
VI. Evolução das preferências por habitat
VII. Uma teoria para a seleção de habitat
VIII. Referências
Unidade 1
140 Módulo VI - Mecanismos de ajustamento ambiental e colonização
#
M6U1
I. Introdução
Caro (a) Aluno (a). 
Você sabe por que os organismos de uma determinada espécie estão presen-
tes em alguns lugares e ausentes em outros? 
Esta é uma das questões ecológicas mais simples que podemos formular e ao 
mesmo tempo um bom ponto de partida para o estudo da ecologia.
 
O fato de espécies próximas ocuparem habitats diferentes já chamava a aten-
ção de Charles Darwin. Em sua visita as Ilhas de Falkland, durante sua expedição 
a bordo do Beagle, entre 1831 e 1836, ele registrou: 
“Dois tipos de gansos são frequentes em Falkland. A espécie de terras altas 
(Anas magellanica) é comum, aos pares ou em pequenos bandos, por meio de toda 
a ilha... O Ganso das rochas, assim chamado por viver exclusivamente nas praias 
(Anas antártica), é comum tanto aqui como na costa oeste da America, tão longe 
quanto no Chile”. 
Os nomes destas aves mudaram (Chloeophga picta e C. hybrida, respectiva-
mente), mas cada uma destas duas espécies próximas vive numa faixa de habitat 
diferente, como Darwin descreveu.
Dentre os fatores que limitam a distribuição das espécies, temos: a dispersão, 
a seleção de habitat, a inter-relação com outros organismos (competição, predação), 
temperatura, umidade e outros fatores físicos e químicos. Nesta unidade, vamos 
tratar da seleção de habitat. Logo, ao final deste estudo, você deverá ser capaz de:
• Definir habitat e seleção de habitat.
• Compreender fatores que limitam a distribuição de espécies.
• Diferenciar nicho ecológico de habitat.
• Identificar mecanismos que atuam na seleção de habitat.
• Compreender a seleção de habitat e escala espacial.
• Conhecer a abordagem comportamental e a evolutiva.
II. Habitat
O que é habitat?
O habitat é qualquer porção da superfície do planeta onde um organismo 
pode viver, mais precisamente é uma série de recursos e condições de uma área 
que leva uma espécie a ocupá-la. Então, o habitat de uma espécie é a composição 
e a configuração de uma área que fornece condições para manter suas necessida-
des vitais (alimento, cobertura, água, espaço, parceiros etc.), possuindo tamanho 
Charles Robert 
Darwin: foi um 
naturalista britânico 
que alcançou fama 
ao convencer 
a comunidade 
científica da 
ocorrência da 
evolução e propor 
uma teoria para 
explicar como ela 
se dá por meio da 
seleção natural e 
sexual. Esta teoria 
se desenvolveu 
no que é agora 
considerado o 
paradigma central 
para explicação de 
diversos fenômenos 
na Biologia. Foi 
laureado com a 
medalha Wollaston 
concedida pela 
S o c i e d a d e 
Geológica de 
Londres, em 1859.
Fonte: <http://
p t . w i k i p e d i a .
org/wik i /Char les_
Darwin>.
Consórcio Setentrional de Ensino a Distância 141141
Eixo Biológico
P
BSC
B
suficiente para manter a população viável da espécie em questão. Em síntese, o 
habitat é o local onde uma espécie em particular pode viver, seja temporariamente 
ou permanentemente. 
Alguns animais não ocupam toda sua faixa potencial no uso do habitat, em-
bora eles estejam aptos a dispersar para áreas desocupadas, por isso, os indivídu-
os “escolhem” não viver em certos habitats e a distribuição de espécies pode ser 
limitada pelo comportamento dos indivíduos na seleção de seu habitat. Seleção 
de habitat é um processo pelo qual os indivíduos usam ou ocupam conjuntos de 
habitat de modo não aleatório, cuja decisões repercutem desde o microhabitat, até 
uma escala espacial mais ampla o macrohabitat.
Se nós refletirmos que um animal não pode viver em todos os lugares, va-
mos perceber que a seleção natural irá favorecer o desenvolvimento de sistemas 
sensores que possam reconhecer um habitat adequado. Devemos ter cuidado para 
definir a percepção do mundo pelo animal em questão, antes de definir os meca-
nismos de seleção de habitat. Locais que podem parecer similares para um ob-
servador humano podem ser muito diferentes para um mosquito ou um peixe. 
Por outro lado, habitats que nós consideramos muito diferentes podem parecer 
idênticos para um pássaro.
Aqui devemos atentar para uma questão importante relacionada à seleção 
de habitat: os habitats são heterogêneos e complexos. 
Habitat “ricos” permitem um fitness maior (ou uma maior adaptação) para 
os organismos que vivem lá, enquanto habitats “pobres” permitem um fitness infe-
rior (ou uma menor adaptação). 
 
Agora reflita: como habitats pobres e ricos são definidos?
A qualidade do habitat é definida por variáveis como a disponibilidade de 
alimento, a ocorrência de predadores, disponibilidade de abrigo e locais de nidifi-
cação, variações microclimáticas e muitas outras. 
Continuando nossos estudos sobre habitat, você sabe diferenciá-lo de ni-
cho? 
O termo nicho ecológico é algumas vezes mal entendido e mal utilizado. Ele 
é frequentemente usado erroneamente para descrever o lugar onde um organismo 
vive. Entretanto, onde um organismo vive é seu habitat. 
Um nicho não é um lugar, mas uma ideia: um conjunto de necessidades e 
tolerâncias de uma espécie. O habitat de um peixe pode ser um lago. Cada habitat 
fornece muitos nichos diferentes. Além do peixe, muitas outras espécies podem vi-
ver no lago, mas com estilos de vida diferentes. A palavra nicho começou a ganhar 
presença cientifica quando Charles Sutherland Elton escreveu, em 1933 que o ni-
cho de uma espécie é seu modo de vida “no sentido que nós falamos de empregos 
ou profissões para os humanos”. O termo nicho de uma espécie começou então a 
ser utilizada para descrever como e não onde uma espécie vive.
Agora que conseguimos diferenciar habitat e nicho, faça a Atividade Com-
plementar 1.
O macrohabitat é 
o habitat na escala 
geográfica, sendo 
constituído por uma 
combinação de fa-
tores climáticos e 
geológicos próprios 
(Biomas podem ser 
considerados ma-
crohabitats); Meso-
habitat é o habitat 
estudado numa es-
cala regional, sen-
do formado por um 
conjunto de fatores 
climáticos, topográ-
ficos, edáficos e hi-
drológicos próprios 
(quando se carac-
teriza o macroha-
bitat em categorias 
menores, como, por 
exemplo, corredei-
ras, cachoeiras ou 
remansos nos rios; 
mata de galeria, 
cerradão ou campo 
limpo no Cerrado). 
Microhabitat é o 
habitat imediato ao 
animal, estrutura 
é determinada por 
microclima, solos, 
hidrologia e outros 
fatores microam-
bientais próprios.
A heterogeneidade 
(patchiness) re-
presenta a variação 
horizontal na fisio-
nomia do habitat, 
enquanto comple-
xidade descreve a 
variação do estrato 
vertical dentro do 
habitat. 
Para ampliar seus 
c o n h e c i m e n t o s 
faça uma pesquisa 
no site do Google 
(www.google.com.
br) e saiba mais so-
bre Charles Suther-
land Elton.
142 Módulo VI - Mecanismos de ajustamento ambiental e colonização
#
M6U1
Fatores que limitam a distribuição de uma espécie: seleção de habitat
III. Seleção de habitat e escala espacial
A seleção de habitat é um processo usado pelos indivíduos quando estão 
escolhendo recursos e habitats. Essas escolhas ocorrem numa variedade de escalas 
espaciais e temporais que vão de encontrar o recurso alimentar numa determinada 
estação do ano, passam por definir sua área de vida durante a vida toda, chegando 
a expansão das faixas de distribuição entre as gerações. A motivação para seleção 
de habitat é presumivelmente maximizar o fitness individual com consequências 
na distribuição e densidade entre os diferentes habitats. 
Os mecanismosque atuam na seleção de habitat para residência, também 
se aplicam para a seleção de habitats para movimentação dos animais. Mesmo 
durante os movimentos de dispersão, os animais devem forragear, dormir, evitar 
predadores e ainda procurar ou evitar coespecificos. Eles precisam continuamente 
acessar os habitats para avaliar se é adequado. 
Seleção de habitat é um processo que opera no nível do indivíduo. As toma-
das de decisão ou escolhas feitas por animais móveis, como pássaros migratórios, 
podem ocorrer numa maneira hierárquica, de uma escala espacial grande (macro-
habitat) para uma escala espacial pequena, selecionando o microhabitat. A maior 
parte dos estudos de seleção de habitat é feita em pequena escala de microhabitat. 
Observe as figuras a seguir e determine o habitat e o nicho de cada 
animal. Lembre-se de que você pode pesquisar na internet.
Atividade Complementar
01
Fig. 01 - Macaco da Noite.
Nome científico: Aotus lemurinu.
Fig. 02 - Sapo Cururu
Nome científico: Bufo marinus.
Fig. 03 - Macaco Guariba.
Nome científico: Aloatta guariba.
Fig. 04 - Harpia.
Nome científico: Harpia harpyja.
Consórcio Setentrional de Ensino a Distância 143143
Eixo Biológico
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A tabela a seguir relaciona a escala e estruturas espaciais em que os proces-
sos acontecem. 
Tabela 1 - Processos de seleção de habitat e movimento em relação às estruturas e 
escalas espaciais 
ESCALA ESPACIAL SELECAO DE HABITAT TIPO DE MOVIMENTO
Região Faixa geográfica Migração
Mosaico de manchas Seleção da faixa de vida Dispersão
Mancha de habitat Manchas dentro da faixa de vida Busca de manchas de habitat; pa-
trulha de território
Mancha de recurso Itens alimentares dentro da mancha Busca de itens alimentares (forra-
geamento)
 Amplie seus conhecimentos realizando a Atividade Complementar 2.
Fonte: adaptado de IMS, 1995; Johnson,1980. 
O sentido de macrohabitat, mesohabitat e microhabitat é melhor definido, 
mediante a observação do fenômeno estudado. Com os conhecimentos 
adquiridos, observe as figuras a seguir e discuta como enquadraria os habitats 
em uma escala espacial. 
Reúna com os seus colegas, pesquise, apresente e discuta outros 
exemplos de habitat em escala espacial. 
Atividade Complementar
02
Fig. 05 - Floresta amazônica com seus diversos tipos de habitat (floresta de várzea, floresta de terra-firme, Floresta de 
igapó, lago de várzea, bromélias terrestres).
144 Módulo VI - Mecanismos de ajustamento ambiental e colonização
#
M6U1
Fatores que limitam a distribuição de uma espécie: seleção de habitat
IV. Abordagens do estudo de seleção de 
habitat
Os ecólogos estão interessados em responder duas perguntas principais so-
bre seleção de habitat: 
1. O que determina a faixa de habitat, onde a espécie ocorre?
2. Como cada indivíduo determina onde é um habitat apropriado? 
A primeira pergunta é evolutiva: como a seleção natural moldou as escolhas 
de habitat? A segunda pergunta é comportamental: que pistas um animal usa na 
“escolha” de sua casa? A palavra escolha está entre aspas para mostrar que não há 
escolha consciente, propriamente dita. De fato, alguns ecólogos preferem o termo 
“uso de habitat” ao invés de “seleção de habitat” para evitar a conotação de que os 
organismos tomam decisões deliberadas entre habitats alternativos. 
Há, portanto, duas abordagens para estudar a seleção de habitat:
• A abordagem comportamental que vê a seleção de habitat como resultado 
dos mecanismos comportamentais e busca entender como o animal escolhe seu 
habitat num sentido fisiológico. 
• A abordagem evolutiva enfoca as razões adaptativas para a escolha de 
habitat e o significado evolutivo do comportamento envolvido. 
A seleção de habitat em pássaros tem sido mais estudada que em outros 
grupos biológicos. As aves são objetos quase ideais para os estudos de seleção de 
habitat porque são altamente móveis, pois frequentemente migram milhares de 
quilômetros passando por uma enorme variedade de ambientes e mesmo assim 
normalmente forrageam e reproduzem em habitats muito específicos. 
De fato, a vida de pequenos pássaros migratórios é repleta de escolhas de 
habitat: onde se alimentar, onde procurar um parceiro, onde construir um ninho, 
onde parar para recuperar as reservas de gordura quando em migração. Essas es-
colhas podem ser tão finamente ajustadas que frequentemente os dois sexos de 
uma mesma espécie usam habitat diferentemente. Em algumas aves, os machos 
forrageam mais longe dos ninhos que as fêmeas. Em outras, fêmeas e machos uti-
lizam extratos diferentes, enquanto as fêmeas buscam o alimento mais próximo da 
altura do ninho, os machos forrageiam em extratos superiores, mais próximos de 
seus poleiros de vocalização. 
Em especial, nas pesquisas sobre seleção de habitat em aves, os dois tipos de 
fatores têm que ser mantidos separados na discussão de seleção de habitat: 1. Fato-
res evolutivos, conferindo valor de sobrevivência à seleção de habitat; e 2. Fatores 
comportamentais, dando os mecanismos pelos quais as aves selecionam as áreas. 
A seleção de habitat é o resultado de estímulo proveniente de: paisagem; locais 
para nidificação, canto e observação; alimento e outros animais. 
As plantas apresentam preferências de habitat de uma forma distinta dos 
animais, pois elas não podem ativamente se mover de um habitat para outro, se-
mentes e esporos chegam num diferente por meio da dispersão. A partir daí so-
brevivem e crescem ou morrem devido a fatores biológicos ou físicos. Os animais 
usam os mecanismos comportamentais para escolher seus habitats, e os movimen-
tos individuais são componentes essenciais da seleção de habitat. 
Na próxima seção vamos discutir os mecanismos comportamentais.
Consórcio Setentrional de Ensino a Distância 145145
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V. Mecanismos comportamentais
A seleção de habitats em animais envolve considerações sobre a estrutura 
física do habitat, a fisiologia do animal, a disponibilidade de recursos e a proteção 
contra predadores. 
O padrão de distribuição local dos animais pode significar adaptações indi-
viduais ao ambiente físico. Uma distribuição espacial não aleatória dos organis-
mos pode fornecer informações sobre seu sucesso relativo em diferentes habitats, 
sugerindo quais as características dos habitats contribuem para o sucesso dos in-
divíduos. 
Geralmente, assume-se que os animais verificam as manchas de habitats du-
rante sua fase dispersiva e então selecionam entre as manchas disponíveis, basea-
dos em pistas que indicam a qualidade do habitat. Uma forma mais complexa de 
comportamento, envolvendo seleção de habitat é a escolha de locais de oviposição 
por insetos. Algumas pragas de milho podem se alimentar de uma ampla varie-
dade de plantas. No entanto, ocorrem principalmente no milho porque as fêmeas 
no período de oviposição são atraídas por odores voláteis produzidos pela planta 
(KREBS, 2009).
 No caso dos besouros minadores de plantas, estes usam compostos secun-
dários das Curcubitáceas (família das abóboras, abobrinhas e melancias) como pis-
tas para a seleção de hospedeiro. Essa associação está presente em cerca de 1500 
espécies de besouros que se alimentam em plantas da família Curcubitaceae. Algu-
mas espécies podem minar outras espécies de plantas, mas são mais comumente 
encontradas em Curcubitaceas (KREBS, 2009).
Os mosquitos Anopheles são importantes vetores de doenças e sua ecologia 
tem sido muito estudada, em grande parte, devido o problema prático de erradica-
ção da malária. Cada espécie de mosquito é normalmente associada com um tipo 
particular de local de reprodução. No entanto, é comum observar que em algumas 
áreas que são aparentemente apropriadas para a reprodução do mosquito, não são 
encontradas larvas. Isto nos leva a perguntar: por que alguns habitats são ocupa-
dos por larvas e outros não?(KREBS, 2009).
As primeiras pesquisas assumiram que alguma característica da água estaria 
evitando que as larvas destes mosquitos sobrevivessem, entretanto, não conside-
raram que o comportamento da fêmea em escolher onde colocar os seus ovos po-
deria estar levando a isto. 
Por exemplo, algumas espécies de mosquito do gênero Anopheles não ovi-
põem em lavouras de arroz quando estas têm mais de 30 cm de altura. Alguns 
experimentos mostraram que estes locais, onde não eram encontrados ovos, pos-
suíam as condições adequadas para crescimento e desenvolvimento que outros 
locais onde os ovos eram encontrados. Isto foi testado colocando ovos no local 
e observando taxas de sobrevivência. Essas taxas foram compatíveis com locais 
onde a oviposição ocorreu naturalmente. (KREBS, 2009). 
Outros experimentos provaram que, na verdade, o impedimento da ovipo-
sição era mecânico. Obstáculos colocados em poças de água evitaram a oviposi-
ção pelas fêmeas, pois estas ovipõe durante o vôo, nunca tocando a água, mas se 
mantendo de 5 a 10 cm da superfície da água. Essas obstruções mecânicas parecem 
evitar que as fêmeas do mosquito desenvolvam livremente sua dança da oviposi-
ção e com isto restringir para esta espécie a faixa de habitat que ela pode ocupar 
(KREBS, 2009).
146 Módulo VI - Mecanismos de ajustamento ambiental e colonização
#
M6U1
Fatores que limitam a distribuição de uma espécie: seleção de habitat
Como já foi dito, um dos grupos biológicos mais estudados em relação a 
seleção de habitat é o das aves. Uma das pistas ambientais que pode ser utilizada 
pelas aves para seleção de habitat é a presença de poleiro. Nesse caso, podemos 
usar como exemplo, três espécies de falcões que reproduzem em áreas de campo 
e arbustos na América do Norte. O falcão de cauda vermelha prefere áreas com 
muitos arbustos para servirem como poleiros enquanto o falcão de Swainson e o 
ferruginoso preferem áreas mais abertas e com poucos arbustos. 
Estas três espécies se alimentam, de forma geral, do mesmo tipo de presa e 
sua escolha de habitat está relacionada com a sua forma de forrageamento. Uma 
das espécies, o falcão de cauda vermelha, fica sentada em poleiros procurando 
suas presas, esta espécie possui asas menos adequadas a soaring (planar, vôo de 
reconhecimento nos quais os falcões procuram suas presas). O falcão de Swainson 
é melhor em soaring e caça muito mais durante o vôo que de poleiros. Já o falcão 
ferruginoso é intermediário. Voo flapping (voo com manobras) são incomuns em 
todos estes falcões e a seleção de habitat está profundamente ligada ao seu método 
de caça (KREBS 2009). 
A seleção de habitat em pássaros é parcialmente uma característica genéti-
ca, embora possa ser modificada de alguma forma pelo aprendizado e pela expe-
riência. A base genética da seleção de habitat é provavelmente responsável pela 
resposta lenta de alguns pássaros as mudanças ambientais causadas pelo homem. 
O habitat original, selecionado por um pássaro, é frequentemente reforçado pelo 
apego dos indivíduos aos seus locais de origem. Muitos pássaros, mais velhos, 
retornam ano após ano para o mesmo local de nidificação mesmo se o habitat no 
local esteja se deteriorando. Infelizmente, ainda não há muitas análises experimen-
tais sobre a seleção de habitat por pássaros. 
VI. Evolução das preferências por habitat
Na seção anterior nós discutimos como alguns organismos selecionam seus 
habitats, agora colocaremos outra questão: por que os indivíduos preferem alguns 
habitat e evitam outros? 
A seleção natural favorecerá os indivíduos que usam os habitats, onde a 
maior parte de sua progênie pode crescer com sucesso. Indivíduos que escolhem 
os habitats mais pobres não vão conseguir ter uma prole numerosa e bem sucedi-
da e consequentemente serão selecionados negativamente. Populações de habitats 
marginais podem então ser sustentadas apenas pelo fluxo de indivíduos vindos de 
um habitat preferencial. Isto significa que a população nesses habitats marginais 
será mantida, principalmente pela entrada de indivíduos provenientes de outros 
habitats mais adequados e não pelo crescimento da população, mediante uma taxa 
de natalidade superior a de mortalidade.
Uma grande variedade de pistas físicas pode ser adotada pelos organismos 
como um estímulo na escolha de um tipo particular de habitat. A seleção natural 
pode agir diretamente sobre os comportamentos que resultam na escolha de ha-
bitat, ou pode selecionar indivíduos que têm uma capacidade de aprender qual é 
o habitat adequado. Os estoques de salmão, por exemplo, se adaptam a condições 
peculiares de fluxo de água, temperatura e sazonalidade. Esta adaptação precisa e 
pode ser preservada apenas se um excelente senso de homing (ato de voltar para 
casa), for desenvolvido.
Homing palavra de 
origem inglesa que 
significa ato de vol-
tar para casa, assim 
como os pombos, 
tartarugas e sal-
mões que sempre 
conseguem voltar 
para o local onde 
nasceram.
Consórcio Setentrional de Ensino a Distância 147147
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P
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B
No outro extremo, estão animais como os afídeos (pulgões) que enfrentam 
habitats que podem ser favoráveis em um mês e não no outro. Organismos que 
enfrentam a imprevisibilidade dos habitats devem adotar um comportamento de 
seleção de habitat mais flexível. 
Como podemos explicar a idiossincrasia (temperamento peculiar) de ani-
mais como o pipit tree (Anthus trivialis), pássaro comum no continente Europeu, 
que rejeita habitats perfeitamente bons? 
É importante termos em mente que a evolução não produz indivíduos per-
feitos. Nem todos os comportamentos são adaptativos, e as condições ambientais 
podem mudar de tal forma que um comportamento, anteriormente bem adaptado, 
pode se torna mal adaptado. O reconhecimento do habitat pode ser muito impreci-
so ou muito exato. Logo, isso pode ser extremamente específico, caso seja benéfico 
aos indivíduos que agem desta forma. 
Os mecanismos pelos quais os habitats são selecionados sustentam-se pelas 
necessidades do fitness definidos evolutivamente. Nós não sabemos com que ve-
locidade o “maquinário” genético e comportamental pode mudar com relação à 
seleção de habitat. 
Problemas podem aparecer se o habitat muda, e isto tem sido uma fonte 
de dificuldades para muitos organismos, desde que os humanos têm modificado 
a face da terra. As pessoas fornecem novos habitat e destroem outros. Algumas 
espécies de organismos, mas não todas, têm respondido a colonização de habitat 
pelo Homo sapiens. Outros eventos naturais, como as eras do gelo, causam mudan-
ças nos habitats, mas de forma lenta. Os organismos com seleção de habitat, ge-
neticamente programada, cuidadosamente ao longo do tempo evolutivo, podem 
necessitar de um tempo considerável para evoluir o maquinário necessário para 
selecionar um novo habitat que seja adequado para eles. 
A adaptação nunca pode ser exata e instantânea e nós devemos ter cuidado 
para não esperarmos perfeição dos organismos. 
Algumas espécies evoluíram sob um determinado conjunto de condições 
ambientais e as populações se adaptam ao seu próprio ambiente particular. Ne-
nhuma espécie pode funcionar como um coringa. A adaptação a um determinado 
tipo de habitat pode tornar impossível viver em outro. 
VII. Uma teoria para a seleção de habitat
Uma teoria simples pode ser usada para ilustrar como a seleção de habitat 
pode operar numa população natural. Vamos considerar que três habitats estão 
disponíveis para uma espécie. 
Para qualquer espécie em particular, nós definimos habitat como qualquer 
parte do planeta, onde aquelas espécies podem viver, seja temporária ou perma-
nentemente. Cada habitat é assumido por que tem “adequação” aquela espécie 
(adequação seria a adaptação no tempo evolutivo), por exemplo, consideramos 
que as fêmeas produzem mais indivíduos jovens em ambientes mais adequados 
do que em ambientemenos adequados. 
Adequação não é constante, mas será afetada por muitos fatores no habitat, 
tais como: suprimento de alimento, disponibilidade de abrigo e presença de pre-
dadores. Além disso, o quanto um habitat é adequado é normalmente uma função 
da densidade de outros indivíduos, de forma que uma superpopulação reduz a 
adequação.
Idiossincrasia:
Disposição do tem-
peramento do in-
dividuo, que o faz 
reagir, de maneira 
muito pessoal, à 
ação dos agentes 
externos / Maneira 
de ver, sentir, rea-
gir, própria de cada 
pessoa. 
Fonte:Dicionário 
Aurélio
148 Módulo VI - Mecanismos de ajustamento ambiental e colonização
#
M6U1
Fatores que limitam a distribuição de uma espécie: seleção de habitat
Quando uma população preenche seu melhor habitat (A), chega a um ponto 
em que a adequação de um habitat intermediário (B) é igual a do habitat A, des-
de que este habitat intermediário apresente uma densidade menor. Quando esses 
dois habitats ficam ainda mais povoados, o mais pobre (C) finalmente tem uma 
adequação igual a dos habitats A e B. Nós assumimos com esse modelo simples 
que todos os indivíduos são livres para se mover para qualquer habitat sem impe-
dimentos. 
A predição que emerge desses modelos simples de seleção de habitat é in-
teressante porque é intuitiva – nós podemos prever a partir deste modelo que, 
quando a densidade é alta, habitats bons e ruins podem ser igualmente adequa-
dos, desde que com densidades diferentes. A adequação de um habitat bom com 
alta densidade de indivíduos pode ser igual à adequação de um habitat ruim com 
baixa densidade de indivíduos. E então, será que existem evidências de que isso 
realmente ocorre em populações naturais?
Estudos mais recentes indicam que diferentes preferências de habitat em 
animais têm sido até agora interpretadas como o resultado de diferentes designer 
adaptativos das espécies e/ou como resultado de competição interespecífica. No 
entanto, alguns autores mais recentemente propuseram uma visão alternativa da 
evolução da preferência de habitat. 
Esse novo modelo é baseado na aquisição progressiva aleatórias de pistas 
cognitivas (de corrente de aprendizado) que discriminam as características do ha-
bitat que se correlacionam com um fitness esperado. Esses autores assumem que 
cada pista cognitiva permite a distinção entre habitats melhores e piores (de acor-
do com o fitness de cada habitat), limitando a evolução posterior porque cada pista 
adicional vai discriminar o habitat apenas dentro das preferências previamente 
adquiridas.
Modelos simples de simulação mostram que, nesse caso, mesmo as espécies 
com iguais diferenças de fitness, relacionadas ao habitat, irão diversificar rapida-
mente em suas preferências de habitat. 
Assim, de forma similar a evolução de outras características espécie-específi-
cas, a evolução da relação animal e habitat pode ser fortemente afetada por eventos 
estocásticos e contingências históricas. 
Para colocar em prática o que aprendemos nesta unidade, faça a Atividade 
Complementar 3.
 
Para saber mais sobre seleção de habitat você pode acessar os seguintes links:
 
<http://www.biotaneotropica.org.br/v8n3/pt/fullpaper?bn02008032008+pt>
<http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/12022>
<http://www.ib.usp.br/~rbrandt/EL/habitat.htm>
<http://bolt.lakeheadu.ca/~dmorriswww/htmldocs/56.pdf> 
<http://www.cnrhome.uidaho.edu/documents/krausman.pdf?pid=74882&doc=1> 
Consórcio Setentrional de Ensino a Distância 149149
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Faça uma releitura do texto e atente se você conseguiu perceber os 
mecanismos que atuam na seleção de habitat? ...Ótimo, agora se reúna em 
grupos e tente reproduzir essa atividade copilada do Jornal da Ciência de 30 de 
agosto de 2005 (<http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=31019>). 
“No experimento a seguir, vamos investigar se determinados animais 
são ou não são capazes de selecionar o lugar onde vivem. Em termos mais 
técnicos, esse assunto é rotulado pelos especialistas como um caso de seleção 
de habitat? [Nota 3].
Para conduzir o experimento, vamos precisar de um par de recipientes 
para abrigar os animais sob estudo. Se os animais forem diminutos, podemos 
empregar recipientes igualmente pequenos.
Um animal pequeno que se presta muito bem a esse tipo de experimento 
é o tatuzinho de jardim, também denominado de paquinha.
Nesse caso, precisaríamos então dos seguintes materiais (para cada 
grupo de alunos): duas garrafas de plástico transparente (2 litros), sem tampa; 
barbante ou fita adesiva; dois sacos plásticos (um transparente e o outro, 
preto); um pouco de terra, gravetos e folhas secas; tatuzinhos de jardim (6-8 
tatuzinhos para cada par de garrafas).
Procedimentos. Colocar um pouco de terra dentro das garrafas, de modo 
que, fixando-as depois em posição horizontal, a terra seja suficiente para cobrir 
o fundo das garrafas.
Em seguida, acrescentar alguns gravetos, pedaços de folhas e metade do 
número de tatuzinhos em cada uma das garrafas.
Unir as duas garrafas pelo bico, mantendo-as presas com o barbante. 
Cobrir uma das garrafas com o saco plástico transparente e a outra, com o saco 
preto; amarrar os sacos no bico das garrafas, reforçando a ponte entre as duas 
[Nota 4].
Ao final da montagem, verificar que cada garrafa tenha ficado exatamente 
com a metade do número de tatuzinhos e que a passagem pelo bico entre 
as duas esteja desimpedida. Manter as garrafas em um lugar claro, mas sem 
receber insolação direta.
No dia seguinte, cada grupo deve reexaminar o conteúdo de suas 
respectivas garrafas (para isso, claro, será necessário remover os sacos plásticos 
que recobrem as garrafas). Registrar as observações, respondendo as seguintes 
perguntas:
1) Os tatuzinhos continuam vivos e ativos?
2) As duas garrafas continuam abrigando o mesmo número de tatuzinhos 
ou um delas tem mais tatuzinhos do que a outra?
3) Neste último caso, o que será que ocorreu para que uma das garrafas 
ganhasse tatuzinhos?”
Atividade Complementar
03
150 Módulo VI - Mecanismos de ajustamento ambiental e colonização
#
M6U1
Fatores que limitam a distribuição de uma espécie: seleção de habitat
VIII. Referências
IMS, R. A. Movement patterns related to spacial structure. In: HANSSON, L.; 
FAHRIG, L.; MERIAM, G. Mosaic landscape and ecological processes. New 
York: Chapman and Hall, 1995.
JOHNSON, D.H. The comparison of usage and availability measurements for 
evaluating resource preference. Ecology, 1980.
 
KREBS, Charles J. Ecology. The Experimental Analysis of Distribution and 
Abundance. Addison Wesley Longman (Pearson Education), 2009.

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