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DIREITO PENAL II (PARTE GERAL) - RESUMO ESQUEMÁTICO - Prof. PEDRO VIEIRA Material sujeito a alterações/correções em sala de aula 1 TEORIA DA PENA (CP, ARTS. 32 e ss.) Pena x Sanção Criminal Sanção Criminal Pena Medida de Segurança PENA: “É a sanção imposta pelo Estado, por meio da ação penal, ao criminoso como retribuição ao delito perpetrado e prevenção de novos crimes” (NUCCI) MEDIDA DE SEGURANÇA: “É providência ditada pela defesa do bem jurídico comum e baseada no juízo de periculosidade que, no tocante aos inimputáveis, substitui o juízo de reprovação consubstanciado na culpabilidade” (FREDERICO MARQUES) FUNDAMENTO DA PENA Teorias Absolutas - Retribuição (Kant, Hegel) Teorias Relativas - Prevenção - Geral (Von Feurrbach): negativa e positiva - Especial (Von Liszt): negativa e positiva Teoria adotada pelo CP CP: Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984): Teoria Mista ou Unificadora da Pena. PRINCÍPIOS 1) Legalidade: “nulla poena sine lege”; CF, art. 5º, XXXIX; CP, art. 1º 2) Pessoalidade/Intranscendência: CF, art. 5º, XLV 3) Jurisdicionalização: CF, art. 5º, LIII, LIV e LVII 4) Humanização: CF, art. 5º, XLVII e XLIX; CP, art. 38. 5) Culpabilidade: CP, art. 59 6) Individualização: CF, art. 5º, XLVI FASES: a) cominação: interferência legislativa (CP, art. 53) b) aplicação: interferência legislativa (CP, art. 68) e judicial c) execução: interferência legislativa (arts. 5º e 6º, Lei n. 7.210/84 – LEP) e judicial ESPÉCIES DE PENAS CF, art. 5º, XLVI DIREITO PENAL II (PARTE GERAL) - RESUMO ESQUEMÁTICO - Prof. PEDRO VIEIRA Material sujeito a alterações/correções em sala de aula 2 “a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos” CP, art. 32: “As penas são: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - privativas de liberdade; II - restritivas de direitos; III - de multa.” CÓDIGO PENAL Art. 43. As penas restritivas de direitos são I - prestação pecuniária; II - perda de bens e valores; III - (VETADO) IV - prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas; V - interdição temporária de direitos; VI - limitação de fim de semana. LEI N. 9.605/98 Art. 8º As penas restritivas de direito são: I - prestação de serviços à comunidade; II - interdição temporária de direitos; III - suspensão parcial ou total de atividades; IV - prestação pecuniária; V - recolhimento domiciliar. Questão: art. 28, I, II e II e § 6º, Lei n. 11.343/2006. Art. 1º, LICP STF – RE 430105 DIREITO PENAL II (PARTE GERAL) - RESUMO ESQUEMÁTICO - Prof. PEDRO VIEIRA Material sujeito a alterações/correções em sala de aula 3 REGIMES PRISIONAIS PENSILVÂNICO: Filadélfia (1790) Completo isolamento (sem trabalho e sem visitas) AUBURNIANO: Auburn – Nova York (1818) Sem visitas Era permitido trabalho ao preso (inicialmente na própria cela, depois em grupo) Imposição de silêncio absoluto ao preso (“Silent System”) PROGRESSIVO: Origem na Inglaterra (séc. XIX) A pena era cumprida de forma progressiva em três estágios: • Período de Prova: completo isolamento • Primeiro Estágio: trabalho em comum, observado silêncio absoluto • Terceiro Período: era permitido o livramento condicional REGIMES DE CUMPRIMENTO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE (CÓDIGO PENAL BRASILEIRO) REGIMES: Fechado, Semiaberto e Aberto (CP, art. 33) SISTEMA PROGRESSIVO (ART. 112, LEP): “A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão” REGRESSÃO (ART. 118, LEP): “A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma regressiva, com a transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o condenado:” REMIÇÃO (ART. 126, LEP): “O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011).” REGIME FECHADO Legislação: CP - art. 33, § 1º, “a”, art. 34; LEP: arts. 8º, 36, 87, 120, 126 Jurisprudência: STJ - súmula 341 (Lei n. 12.433/2011) REGIME SEMIABERTO Legislação: CP - art. 33, § 1º, “b”, art. 35; LEP: arts. 8º (p. único), 91, 120, 122, 126, 146-B DIREITO PENAL II (PARTE GERAL) - RESUMO ESQUEMÁTICO - Prof. PEDRO VIEIRA Material sujeito a alterações/correções em sala de aula 4 Jurisprudência: STJ - súmula 341 (Lei n. 12.433/2011) REGIME ABERTO Legislação: CP - art. 33, § 1º, “c”, art. 36; LEP: arts. 93, 113, 114, 115, 117 Critérios objetivos: CP, art. 33, caput, e § 2º (espécie e quantidade de pena) Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado. (TIPO DE PENA) § 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso: (QUANTIDADE DE PENA) a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado; aplicável apenas à RECLUSÃO (art, 33, caput) b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semi-aberto; c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto. Critério subjetivo: CP, art. 33, § 3º § 3º - A determinação do regime inicial de cumprimento da pena far-se-á com observância dos critérios previstos no art. 59 deste Código. (CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS) (RESUMO C.R. BITTENCOURT) PENA DE DETENÇÃO: deve ser iniciado o cumprimento no regime semi-aberto ou aberto superior a 4 anos, reincidente ou não: semi-aberto reincidente, qualquer quantidade de pena: semi-aberto até 4 anos, não reincidente: aberto ou semi-aberto PENA DE RECLUSÃO: superior a 8 anos: regime fechado superior a 4 anos, reincidente: regime fechado superior a 4 anos até 8, não reincidente: fechado ou semi-aberto até 4 anos, reincidente: fechado ou semi-aberto até 4 anos, não reincidente: aberto, semi-aberto ou fechado JURISPRUDÊNCIA DIREITO PENAL II (PARTE GERAL) - RESUMO ESQUEMÁTICO - Prof. PEDRO VIEIRA Material sujeito a alterações/correções em sala de aula 5 STF – Súmula 718: “A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada.” STF – Súmula 719: “A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea.” STJ – Súmula 269: “É admissível a adoção do regime prisional semi-aberto aos reincidentes condenados a pena igual ou inferior a quatro anos se favoráveis as circunstâncias judiciais.” STJ – Súmula 440:“Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito.” PROGRESSÃO DE REGIME E CRIMES HEDIONDOS Lei n. 8.072/90: Art. 2º, § 1º (redação original): “A pena por crime previsto neste artigo será cumprida integralmente em regime fechado” STF – HC 82959 (fev/2006): “(...) Conflita com a garantia da individualização da pena - artigo 5º, inciso XLVI, da Constituição Federal - a imposição, mediante norma, do cumprimento da pena em regime integralmente fechado. Nova inteligência do princípio da individualização da pena, em evolução jurisprudencial, assentada a inconstitucionalidade do artigo 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90” Art. 2º, (Lei n. 11.464/2007): “§ 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado” “§ 2º A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente” Questão: como proceder nos crimes hediondos cometidos antes da vigência da Lei n. 11.464/2007? PENA DE MULTA CP, “Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa.” Art. 51, antes da Lei n. 9,268/96: “Art. 51 - A multa converte-se em pena de detenção, quando o condenado solvente deixa de paga-lá ou frustra a sua execução.” Após Lei n. 9.268/96: “Art. 51 - Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se-lhes as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição.” Competência para execução da multa: Fazenda Pública (STJ RESP 832267) STJ – RESP 832267: DIREITO PENAL II (PARTE GERAL) - RESUMO ESQUEMÁTICO - Prof. PEDRO VIEIRA Material sujeito a alterações/correções em sala de aula 6 RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO PENAL. ART. 51 DO CÓDIGO PENAL. CUMPRIMENTO INTEGRAL DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE. SANÇÃO PECUNIÁRIA PENDENTE DE PAGAMENTO. DÍVIDA DE VALOR. LEGITIMIDADE DA FAZENDA PÚBLICA. ARQUIVAMENTO DA EXECUÇÃO CRIMINAL. 1. Embora a multa ainda possua natureza de sanção penal, a nova redação do art. 51, do Código Penal, trazida pela Lei n.º 9.268/96, determina que após o transito em julgado da sentença condenatória, a pena pecuniária deve ser considerada dívida de valor, saindo da esfera de atuação do Juízo da Execução Penal, e se tornando responsabilidade da Fazenda Pública, que poderá ou não executá-la, de acordo com os patamares que considere relevante. 2. O Juízo da Execução, portanto, após o cumprimento integral da pena privativa de liberdade, ainda que pendente o pagamento da pena de multa, deve extinguir o processo de execução criminal que, por óbvio, não pode subsistir indefinidamente em razão da falta de interesse da Fazenda Pública em executar a sanção pecuniária de valor irrisório. 3. Recurso desprovido. PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS Constatação: “quanto mais graves são as penas impostas aos delinquentes, maior é a probabilidade de reincidência” Política criminal: evitar penas privativas da liberdade nos crimes menos graves nos crimes mais graves, evitar o encarceiramento demasiadamente longo Nesse contexto, no Brasil: Lei n. 9.714/98 - ampliação do rol e aplicação das penas restritivas de direitos Espécies (art. 43, CP, após Lei n. 9.714/98 ): I. Prestação pecuniária II. Perda de bens e valores III. Prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas IV. Interdição temporária de direitos V. Limitação de fim de semana REQUISITOS PARA SUBSTITUIÇÃO Objetivos: incisos I e II, art. 44, CP Subjetivos: inciso III, art. 44, CP SUBSTITUIÇÃO E CRIMES HEDIONDOS (STF) Antes HC 82959: “A pena privativa de liberdade por crime previsto na lei de tóxicos, equiparável a crime hediondo, tem que ser cumprida integralmente no regime fechado em face da Lei nº 8.072/90, impossibilitando assim a sua conversão em pena restritiva de direitos” (STF – HC 79567) Após HC 82959: “O fundamento que vedava a aplicação de pena alternativa aos condenados por crime hediondo era o art. 2º, § 1º, da Lei n. 8.072/90, a impedir a progressão do regime de cumprimento de DIREITO PENAL II (PARTE GERAL) - RESUMO ESQUEMÁTICO - Prof. PEDRO VIEIRA Material sujeito a alterações/correções em sala de aula 7 pena. O Supremo Tribunal Federal declarou inconstitucional esse dispositivo, o que faz não possibilitar a adoção daquele entendimento proibitivo da progressão” (STF – HC 90871) SUBSTITUIÇÃO E TRÁFICO DE ENTORPECENTES (APÓS LEI N. 11.343/2006) LEI n. 11.343/2006 “Art. 33. (...) § 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos.” Após HC 82959: “O fundamento que vedava a aplicação de pena alternativa aos condenados por crime hediondo era o art. 2º, § 1º, da Lei n. 8.072/90, a impedir a progressão do regime de cumprimento de pena. O Supremo Tribunal Federal declarou inconstitucional esse dispositivo, o que faz não possibilitar a adoção daquele entendimento proibitivo da progressão” (STF – HC 90871) SUBSTITUIÇÃO E TRÁFICO DE ENTORPECENTES (APÓS LEI N. 11.343/2006) Possibilidade (STF HC 97256): “5. Ordem parcialmente concedida tão-somente para remover o óbice da parte final do art. 44 da Lei 11.343/2006, assim como da expressão análoga “vedada a conversão em penas restritivas de direitos”, constante do § 4º do art. 33 do mesmo diploma legal. Declaração incidental de inconstitucionalidade, com efeito ex nunc, da proibição de substituição da pena privativa de liberdade pela pena restritiva de direitos(...)” Substituição: escolha da(s) pena(s) - restrições Art. 17, Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha): “É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa.” STJ – HC 25838: “HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA O SISTEMA PREVIDENCIÁRIO. ARTIGO 95, ALÍNEA “D”, DA LEI Nº 8.212/91. PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS. ROL DO ARTIGO 43 DO CÓDIGO PENAL. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO DA FIXAÇÃO. OCORRÊNCIA.1. A imposição da pena restritiva de direito, como induvidosa expressão da individualização da resposta penal, reclama devida fundamentação, sendo defeso ao magistrado escolher a limitação de fim de semana em detrimento de espécie menos grave prevista no rol do artigo 43 do Código Penal, sem declinar, ainda que sucintamente, os motivos ensejadores de sua indicação. 2. Ordem concedida.” Prestação pecuniária §§ 1º e 2º, art. 45, CP: § 1º A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima, a seus dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação social, de importância fixada pelo juiz, não inferior a 1 (um) salário mínimo nem superior a 360 (trezentos e sessenta) salários mínimos. O valor pago será DIREITO PENAL II (PARTE GERAL) - RESUMO ESQUEMÁTICO - Prof. PEDRO VIEIRAMaterial sujeito a alterações/correções em sala de aula 8 deduzido do montante de eventual condenação em ação de reparação civil, se coincidentes os beneficiários. § 2º No caso do parágrafo anterior, se houver aceitação do beneficiário, a prestação pecuniária pode consistir em prestação de outra natureza. (cestas básicas, mão-de-obra etc) Diferença para pena de multa: multa é considerada dívida de valor Questão: art. 44, § 2º e art. 60, § 2º, CP, são compatíveis? STF - HC 83092 - SIM STF – HC 83092: HABEAS CORPUS. CONDENAÇÃO À PENA DE TRÊS MESES DE DETENÇÃO (ART. 129 DO CÓDIGO PENAL). SUBSTITUIÇÃO POR PENA RESTRITIVA DE DIREITOS (ART. 44 E SEGUINTES DO CÓDIGO PENAL). SENTENÇA E ACÓRDÃO QUE NÃO SE MANIFESTARAM QUANTO À SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR MULTA (ART. 60, § 2º, DO CÓDIGO PENAL). 1. A pena privativa de liberdade, com a duração não superior seis meses, é substituível, em tese, tanto pela aplicação de multa, como pela restrição de direitos (artigos 44 e 60, § 2º, do Código Penal). 2. A opção pela aplicação da pena restritiva de direitos há que ser fundamentada, pois expõe o condenado à situação mais gravosa, tendo em vista que o não cumprimento desta, mesmo que consubstanciada em prestação pecuniária, ao contrário do que ocorre com a pena de multa, poderá resultar na sua conversão em pena privativa de liberdade. Ordem concedida em parte para anular a imposição da pena restritiva de direitos e determinar ao juízo de origem que se manifeste sobre a substituição da pena privativa de liberdade por pena de multa. APLICAÇÃO DA PENA Cálculo da pena Art. 68 - A pena-base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59 deste Código; em seguida serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes; por último, as causas de diminuição e de aumento. Critério trifásico 1ª Fase: circunstâncias judiciais (art. 59, CP) 2ª Fase: atenuantes e agravantes (arts. 61, 62, 65 e 66) 3ª Fase: causas de diminuição e de aumento Atende ao princípio da individualização da pena Facilita o contraditório e ampla defesa 1ª Fase: Fixação da pena-base: circunstâncias judiciais (art. 59, CP) “Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime.” DIREITO PENAL II (PARTE GERAL) - RESUMO ESQUEMÁTICO - Prof. PEDRO VIEIRA Material sujeito a alterações/correções em sala de aula 9 Então, as seguintes circunstâncias devem ser consideradas para fixação da pena-base: culpabilidade motivos do crime antecedentes circunstâncias do crime conduta social conseqüências do crime personalidade do agente comportamento da vítima Direito Penal do Autor x Direito Penal do Fato (antecedentes, conduta social, personalidade do agente – dizem respeito ao modo de ser do autor e não se relacionam, diretamente, ao fato) ZAFFARONI-PIERANGELI: “um Direito que reconheça, mas que também respeite, a autonomia moral da pessoa jamais pode penalizar o ser de uma pessoa, mas somente o seu agir, já que o direito é uma ordem reguladora de conduta humana. Não se pode penalizar um homem por ser como escolheu ser, sem que isso violente a sua esfera de autodeterminação”. 1) culpabilidade: posição do agente frente ao bem jurídico violado; grau de censura ou de reprovação da conduta 2) antecedentes: vida pregressa do agente (ocorrências criminais anteriores ao crime em julgamento) Questão: inquéritos policiais e ações penais em curso ou arquivados configuram maus antecedentes? STF - HC 106157 (2011): “(...) O princípio constitucional da não culpabilidade, inscrito no art. 5º, LVII, da Carta Política, não permite que se formule, contra o réu, juízo negativo de maus antecedentes fundado na mera instauração de inquéritos policiais em andamento, ou na existência de processos penais em curso, ou, até mesmo, na ocorrência de condenações criminais ainda sujeitas a recurso, revelando-se arbitrária a exacerbação da pena quando apoiada em situações processuais indefinidas, pois somente títulos penais condenatórios, revestidos da autoridade da coisa julgada, podem legitimar tratamento jurídico desfavorável ao sentenciado. Doutrina. Precedentes. (...)” STJ - HC 172250 (2011): “(...) Conforme o entendimento do Superior Tribunal, não constituem maus antecedentes processos penais em curso, sentenças penais condenatórias ainda não transitadas em julgado e indiciamento em inquéritos policiais.. (...)” (Súmula 444) DOUTRINA – não é pacífica 3) conduta social: a vida do agente no seio da sua família, no trabalho, na sociedade. Nucci: “é o papel do réu na comunidade, inserido no contexto da família, do trabalho, da escola, da vizinhança” 4) personalidade: conjunto de dados que formam o modo de agir do réu (retrato psíquico). Nucci: “agressividade, a preguiça, a frieza emocional, a bondade e a passionalidade”. 5) motivos do crime: fonte propulsora da vontade criminosa: ciúme, amor, ódio, vingança. Roberto Lyra: “o homicídio pode ser praticado por motivos opostos, como a perversidade e a piedade (eutanásia), porém a todo homicídio corresponde o mesmo dolo (consciência e vontade de produzir morte)”. 6) circunstâncias do crime: maior/menor gravidade do “modus operandi” 7) consequências do crime: Nucci: “o mal causado pelo crime, que transcende ao resultado típico” (principalmente para vítima e familiares). DIREITO PENAL II (PARTE GERAL) - RESUMO ESQUEMÁTICO - Prof. PEDRO VIEIRA Material sujeito a alterações/correções em sala de aula 10 8) comportamento da vítima: modo que a vítima concorreu para o crime. A pena-base deve ser fixada observando os limites fixados no preceito secundário da norma penal incriminadora 2ª Fase - Agravantes: Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: I - a reincidência; Art. 63 - Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior. (LCP: Art. 7º Verifica-se a reincidência quando o agente pratica uma contravenção depois de passar em julgado a sentença que o tenha condenado, no Brasil ou no estrangeiro, por qualquer crime, ou, no Brasil, por motivo de contravenção.) Art. 64 - Para efeito de reincidência: I - não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação; II - não se consideram os crimes militares próprios e políticos. II - ter o agente cometido o crime: a) por motivo fútil ou torpe; b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime; c) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido; d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que podia resultar perigo comum; e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge; f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da lei específica; g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou profissão; h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida; i) quando o ofendido estava sob a imediata proteçãoda autoridade; j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade pública, ou de desgraça particular do ofendido; l) em estado de embriaguez preordenada. DIREITO PENAL II (PARTE GERAL) - RESUMO ESQUEMÁTICO - Prof. PEDRO VIEIRA Material sujeito a alterações/correções em sala de aula 11 Questão: é possível a aplicação de agravante do inciso II a delitos culposos? Doutrina majoritária: não. STF – HC 70362 E M E N T A: 1. Exposição culposa a perigo de embarcação marítima, de cujo naufrágio resultaram dezenas de mortes (Caso Bateau Mouche): compatibilidade do delito com a agravante do motivo torpe; questões relativas a fundamentação, na decisão condenatória, da modalidade e da quantificação da pena e do regime inicial de seu cumprimento. 1.1 (...) . 2. Não obstante a corrente afirmação apodítica em contrário, além da reincidência, outras circunstancias agravantes podem incidir na hipótese de crime culposo: assim, as atinentes ao motivo, quando referidas a valoração da conduta, a qual, também nos delitos culposos, é voluntária, independentemente da não voluntariedade do resultado: admissibilidade, no caso, da afirmação do motivo torpe - a obtenção de lucro fácil -, que, segundo o acórdão condenatório, teria induzido os agentes ao comportamento imprudente e negligente de que resultou o sinistro. 2.1 (...). 2.2 (...). 2.3 (...). AGRAVANTES NO CASO DE CONCURSO DE PESSOAS Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que: I. promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais agentes; II. coage ou induz outrem à execução material do crime; III. instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não-punível em virtude de condição ou qualidade pessoal; IV. executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou promessa de recompensa. 2ª FASE - ATENUANTES: Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos, na data da sentença; II - o desconhecimento da lei; III - ter o agente: a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral; b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano; c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima; d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime; e) cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o provocou. DIREITO PENAL II (PARTE GERAL) - RESUMO ESQUEMÁTICO - Prof. PEDRO VIEIRA Material sujeito a alterações/correções em sala de aula 12 Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei. Concurso de circunstâncias agravantes e atenuantes Art. 67 - No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência. Critérios da doutrina/jurisprudência: 1. A menoridade é atenuante que prepondera sobre todas as agravantes 2. A reincidência pode ser compensada com a confissão espontânea (STJ) 3. Atenuantes e agravantes da mesma classe se anulam (Luiz Flávio Gomes) EXEMPLOS: 1) Agente de 20 anos pratica, por motivo fútil, à traição, crime de lesões corporais contra enfermo. A pena-base foi fixada acima do mínimo legal. Na segunda fase, a pena-base deve ser aumentada ou diminuída? 2) Reincidente efetua roubo, sob coação a que podia resistir, e confessa espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime. A pena-base foi fixada acima do mínimo legal. Na segunda fase, a pena-base deve ser aumentada ou diminuída? 3) Agente pratica crime de lesões corporais contra enfermo, por motivo de relevante valor moral. A pena-base foi fixada no mínimo legal. Na segunda fase, a pena-base deve ser aumentada ou diminuída? 4) Agente pratica crime de furto contra irmão, tendo reparado o dano antes do julgamento. A pena- base foi fixada acima do mínimo legal. Na segunda fase, a pena-base deve ser aumentada ou diminuída? STJ – Súmula 231: “A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal.” STJ – Súmula 241: “A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial.” 3ª FASE: CAUSAS DE DIMINUIÇÃO DE CAUSAS DE AUMENTO Nessa fase, a pena definitiva pode ser fixada acima do máximo ou aquém do mínimo legal Causa de aumento x Qualificadora Causa de aumento: o preceito secundário estabelece um fração de aumento (ex. art. 121, § 4º) Qualificadora: o preceito secundário estabelece novos limites para a pena (ex. art. 121, § 2º) DIREITO PENAL II (PARTE GERAL) - RESUMO ESQUEMÁTICO - Prof. PEDRO VIEIRA Material sujeito a alterações/correções em sala de aula 13 Concurso de causas de aumento/diminuição “Art. 68. (...) Parágrafo único - No concurso de causas de aumento ou de diminuição previstas na parte especial, pode o juiz limitar-se a um só aumento ou a uma só diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente ou diminua.” Concurso de causas de aumento/diminuição da parte especial: aplica-se um só aumento/diminuição Nos demais casos: aplicam-se todas as causas (de forma composta) EXEMPLOS: 1) Em concurso de 3 pessoas e com emprego de arma, agentes praticam roubo a vítima que transportava valores, sendo conhecida dos mesmos essa circunstância. Como deve proceder o juiz na 3ª fase de aplicação da pena? 2) Agente comete crime de incêndio (art. 250), com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio (art. 250, § 1º, I), causando lesão grave para a vítima (art. 258). Como deve proceder o juiz na 3ª fase de aplicação da pena? PENA DE MULTA Modelo Bifásico: 1ª Fase: quantidade de dias-multa, guardando certa proporcionalidade com a pena privativa de liberdade fixada (CP, art. 49). 2ª Fase: valor do dia-multa, atendendo à situação econômica do réu (CP. Art. 60)
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