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INTRODUÇÃO
Fato típico é todo fato humano que se enquadra com perfeição aos elementos descritos no tipo penal. A contrario senso, fato atípico é a conduta que não encontra correspondência alguma no tipo penal.
O fato típico possui quatro elementos: conduta, resultado naturalístico, relação de causalidade (nexo causal) e tipicidade. Esses quatro elementos acham-se presentes nos crimes materiais consumados. Nos crimes formais de e mera conduta, prescinde-se do resultado naturalístico e do nexo causal.
Em suma, a conduta produz o resultado naturalístico, ligados entre si pela relação de causalidade. E, para ter relevância penal, opera-se o juízo de tipicidade, ou seja, análise da ação ou omissão praticada e o modelo previsto no Código Penal.
1. CONDUTA
Nesse tema reside uma das maiores discussões do Direito Penal. A forma como se encontra a teoria geral do crime, atualmente, se deve à evolução do conceito doutrinário de conduta. Várias teorias buscam defini-la:
a) Teoria Clássica, Naturalística, Mecanicista ou Causal.
Conduta é o comportamento humano voluntário que produz modificação no mundo exterior.
Essa teoria, idealizada por List, Beling e Radbruch no séc. XIX, e recepcionada no Brasil por Aníbal Bruno, Magalhães Noronha, José Frederico Marques, Basileu Garcia, Nelson Hungria, entre outros, submete o Direito Penal às regras inerentes às ciências naturais, orientadas pelas leis de causalidade.
Assim, para a caracterização da conduta, basta uma fotografia do resultado, pois depende somente de o agente produzir fisicamente um resultado previsto em lei, realizado por sua própria vontade, independentemente de dolo ou culpa quanto ao resultado atingido.
     Diante disso, questiona-se: a teoria clássica consagra a responsabilidade penal objetiva? Não. Os elementos dolo e culpa, nessa teoria, se alojam no interior da culpabilidade, momento em que se analisa o "querer" do agente. Por essa razão, os adeptos dessa teoria entendem que o conceito de crime é fato típico, ilícito e culpável, sob pena de restar caracterizada a responsabilidade penal objetiva.
Essa teoria tem sido cada vez mais abandonada uma vez que separa a conduta praticada e a relação psíquica do agente. Assim, não se distingue a forma dolosa da culposa, não se convence quanto aos crimes omissivos, tentados, de mera conduta, pois em todos estes não há resultado naturalístico.
b) Teoria Finalista ou Final.
Criada por Hans Welzel, na década de 30 do século XX, acolhida nacionalmente por Heleno Cláudio Fragoso, Damásio de Jesus, Julio F. Mirabete e Miguel Reale Junior.
Parte de uma concepção onde o homem é um ser livre, responsável por seus atos. Portanto, o Direito deve se preocupar somente com os atos ou omissões dirigidos a um fim.
Essa teoria preservou os postulados da teoria clássica, acrescentando-lhes a finalidade. Contudo, dentro do mesmo conceito de crime como fato típico, ilícito e culpável, deslocou a análise de dolo e culpa para o interior da conduta, diante do necessário aferimento do objetivo do comportamento do agente.
Desta forma, o partidário da teoria finalista pode adotar um conceito tripartido (fato típico + ilicitude + culpabilidade) ou bipartido (fato típico + ilicitude), conforme repute a culpabilidade como elemento do crime ou mero pressuposto de aplicação da pena.
O Código Penal em vigor, conforme ser art. 20, caput, parece ter manifestado sua preferência pelo finalismo penal. Ora, se a ausência de dolo acarreta a exclusão do fato típico, é porque o dolo acha-se na conduta, que deixa de ser dolosa para culposa.
Essa teoria resta bastante criticada por não satisfazer quanto aos crimes culposos. Alega que no crime culposo também há vontade dirigida a um fim, embora esse fim pode ou não ser conforme o Direito. Mas a finalidade reside na conduta do agente, escolhida para atingir a finalidade desejada, com imprudência, negligencia ou imperícia.
Por isso, nas ultimas etapas de seus estudos, Welzel vislumbrou uma possível substituição da teoria finalista pela teoria cibernética, visando sanar essa necessidade.
c) Teoria Cibernética.
Essa teoria leva em conta o controle da vontade, presente tanto nos crimes dolosos quanto culposos. Buscava compatibilizar o finalismo penal com os crimes culposos.
Apenas intentava, com a nova denominação, abranger o conceito de direção, posto que a ação cibernética compreenderia, claramente, o dolo e a culpa, e suas finalidades juridicamente relevantes.
Destarte, por ter sido consagrada no âmbito jurídico e mostrar-se mais pertinente ao estudo do Direito Penal, manteve-se a denominação finalismo penal.
d) Teoria Social.
Para essa teoria, os ideais clássico e finalista são insuficientes para disciplinar a conduta, pois desconsideram uma nota essencial do comportamento humano: o aspecto social.
Johannes Wessels, criador dessa teoria, entende que o comportamento humano é a resposta do homem a exigências em certas situações, posto que lhe é dada a liberdade. Assim, a conduta somente seria socialmente relevante quando capaz de afetar o relacionamento do agente com o meio social em que se insere. Utiliza-se os conceitos causal e final da ação, acrescendo-lhes a relevância social da conduta.
Em suma, para que o agente pratique uma infração penal, é necessário que, além de realizar todos os elementos previstos no tipo, tenha a intenção de produzir resultado socialmente relevante, objetivando uma mudança no meio social.
A principal crítica dessa teoria reside no fato de que a transcendência ou relevância social também está associada a qualquer fato jurídico, inclusive fenômenos naturais.
e) Teoria Jurídico-penal.
É a teoria sustentada por Francisco de Assis Toledo, visando superar os entraves travados entre as vertentes clássica, finalista e social. Busca conciliar todos os pontos positivos de cada uma.
Assim, a ação é o comportamento humano, dominado ou dominável pela vontade, dirigido para a lesão ou a exposição de um bem jurídico a perigo, ou ainda, para causar uma previsível lesão. Emprega-se o termo ação em sentido genérico, como sinônimo de conduta, englobando ação e omissão.
f) Apontamentos gerais.
A posição mais utilizada em provas e concursos é a teoria finalista, ou finalismo penal, que define a conduta como toda ação ou omissão humana, consciente e voluntária, dirigida a um fim, consistente em produzir um resultado tipificado em lei como crime ou contravenção.
Não há crime sem conduta. Quando o agente pratica uma infração penal, viola o preceito proibitivo (crimes comissivos) ou preceptivo (crimes omissivos) contido na lei.
1.1. Formas de Conduta.
A conduta pode se exteriorizar através da ação ou da omissão.
A ação consiste num movimento corporal exterior, uma postura positiva do ser humano. Relaciona-se com a infração penal por meio de uma norma proibitiva, na maioria dos delitos.
A omissão, por outro lado, não se trata de um mero comportamento estático. É a conduta de não fazer aquilo que podia e devia ser feito, referindo-se às normas preceptivas. Pode ocorrer tanto quando o agente nada faz, bem como quando faz algo diferente do que lhe impunha o dever jurídico de agir. Duas teorias analisam a omissão.
A teoria naturalística sustenta ser a omissão um fenômeno causal que pode ser constatado no mundo fático, pois se trata de uma espécie de ação.
Para a teoria normativa, a omissão é um indiferente penal, pois não produz efeitos jurídicos. O omitente não pode ser responsabilizado pelo resultado, pois não o causou. Contudo, se há o dever jurídico de agir, o omitente deverá ser responsabilizado. É a teoria adotada pelo Código Penal.
Nos chamados crimes omissivos próprios (ou puros) a norma impõe o dever de não agir no próprio tipo penal (preceito preceptivo). Nos crimes omissivos impróprios (ou impuros) ou comissivos por omissão, o tipo penal descreve uma ação (preceito proibitivo), mas a omissão descumpre o dever jurídico de agir (CP, art. 13, §2º).
1.2. Caracteres da Conduta.
A conduta se reveste das seguintes características:
a)somente o ser humano pode praticar condutas penalmente relevantes. Os atos de seres irracionais e os acontecimentos naturais não tem importância para o Direito Penal.
b) somente a conduta voluntária interessa ao Direito Penal.
c) apenas os atos lançados no mundo exterior ingressam no conceito de conduta. A cogitação e preparo são desprezados pelo Direito Penal.
d) a conduta é composta de dois elementos: um ato de vontade dirigido a um fim; e a manifestação dessa vontade no mundo exterior, por uma ação ou omissão dominável pela vontade.
1.3. Exclusão da Conduta.
Apresentam-se, no Direito Penal, quatro causas de exclusão da conduta:
a) Caso fortuito e força maior: são os acontecimentos imprevisíveis e inevitáveis, que fogem do domínio da vontade do ser humano. E, se não há vontade, não há dolo ou culpa. Como dolo e culpa integram a conduta, não se configura a conduta do fato típico.
Caso fortuito é o acontecimento imprevisível e inevitável provocado pelo homem; e força maior o evento, com iguais predicados, provocado pela natureza.
b) Atos ou movimentos reflexos: consistem na reação motora ou secretora do corpo humano em consequência de uma excitação dos sentidos. O movimento corpóreo se dá não pelo elemento volitivo, mas pelo fisiológico. Ausente a vontade, ausente a conduta.
Não se confundem com as ações em curto circuito, atos impulsivos fundamentados em emoções ou paixões violentas. Também se diferenciam dos atos habituais, mecânicos ou automáticos, que consistem na reiteração de um comportamento. Nos dois casos há elementos volitivos e, consequentemente, responsabilização pela conduta.
c) Coação física irresistível: também chamada de vis absoluta, ocorre quando o coagido não tem liberdade para agir. Não lhe resta alternativa senão praticar o ato de acordo com a vontade do autor. Não há vontade, portanto, não há conduta.
Diverge da coação moral irresistível (vis compulsiva), pois esta o coagido pode escolher o caminho a ser seguido, contudo, de forma viciada, pois está moralmente coagido a agir conforme o autor do ilícito. Há vontade e há conduta, porém exclui-se a culpabilidade.
d) Sonambulismo e hipnose: nesses casos também não há conduta, pois o comportamento foi praticado em pleno estado de inconsciência.
2. RESULTADO
É a consequência provocada pela conduta do agente. Nada obstante algumas divergências, também pode ser encontrada na doutrina a utilização da palavra "divergência", contudo, o uso mais comum no Brasil é o "resultado".
2.1. Espécies.
Em Direito Penal, o resultado pode ser naturalístico ou jurídico.
Resultado Jurídico (ou normativo) é a lesão ou exposição a perigo de lesão do bem jurídico tutelado pela lei penal. É a agressão do valor ou interesse protegido pela norma.
Resultado naturalístico (ou material) é a modificação no mundo exterior provocada pela conduta do agente.
     Existe Crime sem resultado?
R: Depende. Não há crime sem resultado jurídico, pois toda infração penal deve agredir bem jurídico tutelado. Contudo, pode haver crime sem resultado naturalístico, a exemplo dos crimes formais ou de mera conduta.
3. RELAÇÃO DE CAUSALIDADE.
Emprega-se, comumente, o termo "nexo causal" para referir-se a essa ligação entre a conduta e o resultado. O Código Penal, em seu art. 13, preferiu a expressão "relação de causalidade" para definir o vínculo formando entre a conduta praticada pelo autor e o resultado por ele produzido.
A utilização da relação de causalidade (nexo causal) se faz presente nos crimes de resultado naturalístico, onde é preciso verificar a relação de causa entre a conduta e o resultado para a responsabilização do agente, dispensável esse estudo nos crimes formais ou de mera conduta, que não possuem resultado naturalístico, mas apenas o resultado jurídico (ou normativo).
3.1. Teorias.
São três as teorias desenvolvidas pela doutrina que buscam definir a relação de causalidade:
a) Teoria da Equivalência dos antecedentes[4]: também chamada de teoria daconditio sine qua non, foi idealizada por Glaser e desenvolvida por Von Buri e Stuart Mill, em 1873.
Para essa teoria, causa é todo fato humano sem o qual o resultado não teria ocorrido, quando ocorreu e como ocorreu.
b) Teoria da causalidade adequada[5]: originou-se dos estudos de Von Kries, filósofo. Para ele, causa é o antecedente necessário e adequado para a produção do resultado.
A conduta praticada deve ser idônea a gerar o efeito, baseando-se na regularidade estatística. Portanto, a causa adequada é aferida de acordo com o juízo do homem médio e com a experiência comum. A contribuição para o resultado deve ser eficaz.
c) Teoria da Imputação Objetiva: desenvolvida por Claus Roxin, em 1970, enuncia um conjunto de pressupostos genéricos que tornam a causa do delito uma causa objetivamente típica.
 Introdução: numa visão clássica, o tipo penal apresentava alguns aspectos objetivos na relação de causalidade. Assim, de acordo com a teoria da equivalência dos antecedentes, considerava-se realizado o tipo toda vez que alguém causava o resultado nele previsto.
Essa causalidade gerava o problema do regressus ad infinitum, cuja responsabilidade do agente era restrita somente no âmbito da ilicitude ou da culpabilidade. O sistema finalista, para resolver esse problema, conferiu ao tipo penal uma feição subjetiva, incluindo o dolo e a culpa na conduta.
Contudo, outros problemas surgem sem solução pelo sistema finalista. Assim, a teoria da imputação objetiva acrescenta duas novas elementares no tipo objetivo, além da causalidade. Assim, a relação de causalidade estaria caracterizada em três etapas: teoria da equivalência dos antecedentes, imputação objetiva e dolo e culpa.
 Conceito: a teoria da imputação objetiva é o conjunto de pressupostos genéricos (criação de um risco proibido e a realização desse risco no resultado) que fazem da relação de causalidade uma causa objetivamente típica.
 Pressupostos: o primeiro pressuposto é a criação ou o aumento de um risco, onde o Direito Penal objetiva proibir ações perigosas, que coloquem em risco os bens juridicamente tutelados pela sociedade; o risco criado deve ser proibido pelo Direito, ou seja, o Direito deve proibir certos riscos, somente permitindo algumas condutas através do princípio da confiança; risco realizado no resultado, onde a lesão de determinado bem jurídico ocorra ferindo a norma que proíbe a conduta perigosa.
 Claus Roxin: na linha de pensamento do alemão (Escola de Munique), a teoria visa determinar um critério de imputação capaz de concretizar a finalidade da norma penal. Assim, o resultado somente seria imputado ao agente quando (1) o comportamento do autor cria um risco não permitido para o objeto da ação; (2) o risco se realiza no resultado concreto; e (3) este resultado se encontra dentro do alcance do tipo penal.
 Günther Jakobs: esse alemão (Escola de Bonn) acrescenta ao conceito de imputação objetiva o elemento da imputação objetiva do comportamento. Assim, entende pela ausência de imputação em quatro hipóteses: (1) risco permitido; (2) princípio da confiança; (3) proibição do regresso; e (4) competência ou capacidade da vítima.
 Conclusões: percebe-se que a proposta dos defensores dessa teoria é a inclusão de novas elementares no tipo objetivo, criando-se o conceito da causalidade normativa, em oposição à causalidade natural da teoria finalista. A inclusão de tais elementos resolveria os problemas no âmbito do fato típico, sendo que as outras teorias o fariam no âmbito da ilicitude ou da culpabilidade. Rogério Grecco compila com maestria as conclusões:
 A imputação objetiva é uma análise que antecede à imputação subjetiva;
 A imputação objetiva pode dizer respeito ao resultado ou ao comportamento do agente;
 A expressão apropriada seria "teoria da não-imputação", pois visa evitar a imputação objetiva do  tipo penal a alguém;
 Foi criada, inicialmente, para se contrapor aos dogmas da teoria da equivalência dos antecedentes, erigindo uma relação de causalidade jurídica ou normativa;e
 Uma vez concluída pela não-imputação objetiva, afasta-se o fato típico.
d) Teoria adotada pelo Código Penal: como regra, nos termos do CP, art. 13, caput, o Direito Penal acolheu a teoria da equivalência dos antecedentes, sendo causa todo comportamento humano, comissivo ou omissivo, que de qualquer modo concorrer para a produção do resultado naturalístico.
Para constatar se o acontecimento insere-se ou não no conceito de causa, emprega-se o "processo hipotético de eliminação", desenvolvido pelo sueco Thyrén, em 1894. Assim, suprime-se mentalmente determinado fato que compõe o histórico do crime; se desaparecer o resultado naturalístico, é causa. Se o resultado material permanecer íntegro, o acontecimento é irrelevante para o Direito Penal.
Parte da doutrina critica essa teoria baseando-se no fato de que seria uma teoria cega, pois permitiria o regresso ao infinito. Contudo, essa crítica é despropositada, pois não basta a mera dependência física do acontecimento para que ingresse na relação de causalidade, mas se faz necessária a causalidade psíquica, ou seja, reclama-se do agente da conduta, o dolo ou culpa em relação ao resultado.
Excepcionalmente, o Código Penal adota, em seu art. 13, §1º, a teoria da causalidade adequada, o que nos remete ao estudo das concausas.
3.2. Concausas.
Concausa é a convergência de uma causa externa à vontade do autor da conduta, influindo na produção do resultado naturalístico por ele desejado e posicionando-se paralelamente ao seu comportamento, comissivo ou omissivo.
a) Causa dependente: é a causa que emana da conduta do agente, razão pela qual se insere no curso normal do desenvolvimento causal. Não exclui a relação de causalidade, pois há relação de dependência entre os fatos, cujo acontecimento posterior não ocorreria sem o anterior.
b) Causa independente: é o acontecimento que foge da linha normal de desdobramento da conduta. Seu aparecimento é inesperado e imprevisível, capaz de produzir, por si só, o resultado. Pode ser absoluta ou relativa.
 Causa absolutamente independente: são aquelas que não se originam da conduta do agente, isto é, são absolutamente desvinculadas da sua ação ou omissão ilícita, rompendo o nexo causal. Dividem-se em preexistente[6] (já existe anteriormente à prática da conduta), concomitante[7] (ocorre simultaneamente à prática da conduta) esuperveniente[8] (concretiza-se posteriormente à conduta do agente).
Em todas as modalidades, o resultado naturalístico ocorre independentemente da conduta do agente, produzindo, por si só, a ocorrência do resultado. Assim, diante da quebra de relação de causalidade entre a conduta do agente e o resultado, que ocorreria de qualquer forma, devem ser imputados ao agente somente os atos praticados.
 Causa relativamente independente: origina-se da própria conduta praticada pelo agente, contudo, não se situa no trâmite normal do desenvolvimento causal, podendo, por si só, produzir o resultado. Pode ser preexistente[9] (existe previamente à prática da conduta), concomitante[10] (ocorre simultaneamente à conduta do agente) ou superveniente(ocorrem depois da conduta do agente).
Com relação às causas relativamente independentes preexistentes e supervenientes, em obediência à teoria das equivalências dos antecedentes adotada pelo Código Penal, o agente responde pelo resultado naturalístico, pois o resultado material não teria ocorrido sem o seu comportamento.
No que tange às causas relativamente independentes supervenientes, duas situações podem ocorrer: incide a teoria da conditio sine qua non nas causas relativamente independentes supervenientes que não produzem, por si só, o resultado. Assim, suprimindo mentalmente a conduta, o resultado naturalístico não teria ocorrido sem o comportamento do agente e seu animus necandi[11]. Nas causas relativamente independentes supervenientes que produzem, por si só, o resultado, adota-se a teoria da causalidade adequada, imputando ao agente somente os atos anteriormente praticados[12].
Apesar de muitas críticas da doutrina, o CP entende que a causa relativamente independente superveniente capaz de produzir, por si só, o resultado, rompe a relação de causalidade entre a conduta e o resultado naturalístico, em razão de um acontecimento inesperado e imprevisível que produz o resultado, tornando ineficaz a conduta do agente.
3.3. Omissão.
É a conduta de não agir. É a inércia do agente diante de um fato que lei determina que se faça alguma coisa.
A omissão penalmente relevante acha-se disciplinada no CP, art. 13, §2º. Assim, aplica-se a lei penal aos crimes omissivos impróprios, espúrios, também chamados de comissivos por omissão, ou seja, aqueles em que o tipo penal descreve uma ação, mas a inércia do agente, que podia e devia agir para impedir o resultado naturalístico, conduz à sua produção.
Os crimes omissivos próprios, ou puros, não alojam em seu bojo um resultado material, mas apenas um resultado jurídico (ou normativo). A omissão é descrita pelo tipo penal e o crime se consuma com a simples inércia do agente.
Portanto, a omissão própria é sempre relevante penalmente, pois se acha descrita no tipo penal. A omissão imprópria, por seu turno, pode ser penalmente relevante, desde que haja o dever de agir por parte do agente omissivo.
Observa-se que o Código Penal adotou a teoria normativa, onde a omissão independente não é relevante para o Direito Penal, somente importante quando há o dever jurídico de agir, fazer algo, imposto pelo ordenamento jurídico (critério legal[13]).
A lei define o "devia e podia" agir para evitar o resultado como a possibilidade real e efetiva de ação. Não será punido o homem que tinha o dever de agir, mas achava-se impossibilitado de atuação no momento do acontecimento.
3.4. Dupla causalidade.
A questão da dupla causalidade é de difícil ocorrência prática. Trata-se de uma situação onde duas ou mais condutas, que não se encontram subjetivamente ligadas, produzem simultaneamente o resultado naturalístico por ela desejado.
A conduta unitária, por si só, produziria o resultado material objetivado. Contudo, há simultaneidade de ações, independentes, que dão causa ao resultado. Qual o crime deve ser imputado aos agentes?
No Brasil, atualmente, inclina-se pela punição de ambos os autores pelo delito praticado. Suprimindo a conduta de um dos agentes, restaria suficiente a outra para a consumação da infração penal.
4. TIPICIDADE.
Última etapa do fato típico, é o juízo de subsunção entre a conduta praticada pelo agente no mundo real e o modelo hipotético descrito pelo tipo penal.
4.1. Evolução doutrinária.
A atual definição de tipicidade deriva das ideias do alemão Ernst Von Beling, de 1906.
Antes de Beling, o crime se dividia em dois blocos: ilicitude, de ordem objetiva, e culpabilidade, de ordem subjetiva. Após seus estudos, o crime passou a ter três partes: tipicidade e ilicitude, de ordem objetiva, e a culpabilidade, de ordem subjetiva. Iniciava-se a fase da independência do tipo, desvinculando a tipicidade da ilicitude, com função meramente descritiva, sem conteúdo valorativo.
Essa teoria, intimamente ligada à teoria clássica, natural ou causal da conduta, perdeu espaço com o surgimento do finalismo ou teoria finalista da conduta e com o descobrimento dos elementos subjetivos do tipo.
Em 1915, Max Ernst Mayer, conferiu à teoria da tipicidade a função de indício de ilicitude, nascendo a fase da tipicidade como indício da ilicitude, consagrando um conceito tripartido de crime, com análise de três fases distintas: tipicidade, ilicitude e culpabilidade.
É, desde então, a teoria mais aceita em Direito Penal.
Em 1931, Edmund Mezger apresenta novos conceitos, introduzindo a faze da tipicidade como essência da ilicitude, onde o tipo penal passa a ser conceituado como a ilicitude tipificada. Foi alvo de imensas críticas, pois veda a correta separação dos juízos de tipicidade e ilicitude do delito.
4.2. Teoria dos elementos negativos do tipo.
Preconizada pelo alemão Hellmuth Von Weber, propõe o tipo totalde injusto, por meio do qual os pressupostos de causa de exclusão da ilicitude compõe o tipo penal como seus elementos negativos.
Tipicidade e ilicitude integram o tipo total, analisando o crime, não como fato típico e ilícito, mas como tipo completo conforme descrição do tipo total do injusto. Não foi acolhida pelo Direito Penal Pátrio, que explicitamente, distinguiu os tipos incriminadores dos tipos permissivos ou causas de exclusão da ilicitude.
4.3. Teoria da tipicidade conglobante.
Criada pelo argentino Eugenio Raúl Zaffaroni, sustenta que todo fato típico se reveste de antinormatividade, pois, embora o agente atue em consonância com o tipo incriminador, na verdade, contraria o tipo legal.
O termo "conglobante" deriva da necessidade de o tipo penal ser contrário a todo ordenamento jurídico, conglobado, e não somente ao Direito Penal. Assim, a tipicidade penal resulta da junção da tipicidade legal com a tipicidade conglobante.
Entende-se por tipicidade legal a adequação da conduta do indivíduo à descrição do tipo penal, com seus elementos objetivos e normativos.
Por tipicidade conglobante, comprova-se que a conduta praticada, tipicamente legal, também está proibida pela norma jurídica como um todo.
Verificada a tipicidade legal da conduta praticada e antinormatividade, ou seja, tipicidade conglobante, presente está a tipicidade penal, caracterizando a infração penal.
4.4. Adequação Típica.
É o procedimento pelo qual se enquadra uma conduta individual e concreta na descrição genérica e abstrata da lei penal. É o meio pelo qual se constata se existe ou não tipicidade entre a conduta praticada na vida real e o modelo definido pela lei penal.
Essa adequação típica pode se apresentar de duas maneiras: subordinação imediata e subordinação mediata.
Na adequação típica de subordinação imediata, a conduta humana se enquadra diretamente na lei penal incriminadora, sem necessidade de interposição de qualquer outro dispositivo legal.
Já na adequação típica de subordinação mediata, a conduta humana não se enquadra prontamente na lei penal incriminadora, reclamando-se, para completar a tipicidade, a interposição de um dispositivo contido na parte geral do Código Penal. Ocorre nos casos de tentativa, participação e nos crimes omissivos impróprios.
Esses dispositivos penais são chamados de normas integrativas, de extensão ou complementares da tipicidade.
[1] Ou também fato praticado por pessoa jurídica em crimes ambientais para os que se filiam a esse entendimento.
[2] Vicenzo Manzini supõe a existência dos crimes de mera suspeita, onde o agente não é punido pela conduta, mas pela suspeita despertada em seu modo de agir. De acordo com o Dec-Lei 3.688/91(Lei de Contravenções Penais), art. 25, há divergência doutrinária sobre essa contravenção penal, uma vez que o Direito Penal não consagra o "Direito Penal do Autor", não podendo ser punido sem a prática de um fato concreto capaz de lesar ou expor a perigo bem jurídico penalmente tutelado.
[3] Calha observar os que se filiam pela possibilidade de responsabilização penal da pessoa jurídica em crimes ambientais.
[4] Também chamada de teoria das equivalências da condições, teoria da condição simples, teoria da condição generalizadora ou, por fim, teoria da conditio sine qua non.
[5] Também chamada de teoria da condição qualificada ou teoria individualizadora.
[6] "A" efetua disparo de arma de fogo contra "B", que já estava envenenado por "C".
[7] "A" efetua disparo de arma de fogo contra "B", que é alvejado ao mesmo tempo por "C".
[8] "A" efetua disparo de arma de fogo contra "B", mas o teto da casa desaba sobre "B" antes do efeito morte intentado pelos disparos.
[9] "A" efetua disparo de arma de fogo contra "B", que é atingido de raspão, mas vem a falecer em virtude da diabetes que possuía agravada pelos disparos.
[10] "A" efetua disparo de arma de fogo contra "B", que para desviar dos tiros, corre assustado para a avenida, onde morre atropelado por um ônibus.
[11] "A" efetua disparo de arma de fogo contra "B", que não morre imediatamente, mas vem a falecer em cirurgia médica para a retirada da bala, por imperícia.
[12] "A" efetua disparo de arma de fogo contra "B", que não morre, mas vem a falecer em incêndio no hospital em que se encontrava internado.
[13] Alberto Silva Franco e Rui Stoco defendem a existência de um critério judicial para a aferição da relevância penal da conduta omissiva, devendo o magistrado analisar cada caso, decidindo pela presença ou não do dever de agir.

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