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Gentil Lopes - EXUMAÇÃO E JUGAMENTO DE DEUS

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Exumação e
Julgamento de
DEUS
Gentil, o iconoclasta
EXUMAC¸A˜O E JULGAMENTO DE DEUS
Gentil, o iconoclasta
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Prefa´cio
Na˜o sabeis vo´s que havemos de julgar
os anjos? (1 Co 6 : 3)
Nietzsche (1844 — 1900) decretou a morte de Deus. A histo´ria registra
pelo ao menos um julgamento de um cada´ver. Com efeito, o Papa Es-
teva˜o VI mandou exumar o corpo do seu antecessor o Papa Formoso (morto
nove meses antes) para um julgamento que se deu na bas´ılica de Sa˜o Joa˜o
de Latra˜o em janeiro de 897; o julgamento do cada´ver tambe´m ficou con-
hecido como S´ınodo do cada´ver, que e´ lembrado como um dos episo´dios mais
bizarros da histo´ria do papado medieval.
Um outro exemplo de condenac¸a˜o po´stuma temos em Or´ıgenes, profundo
conhecedor da tradic¸a˜o crista˜, que foi excomungado quase treˆs se´culos apo´s
sua morte, dentre outras razo˜es por ter criticado va´rias alterac¸o˜es efetuadas
na B´ıblia.
E´ noto´ria a evoluc¸a˜o de uma parte significativa da humanidade em ter-
mos de n´ıvel de conscieˆncia. E´ suficiente lembrarmos, numa ligeira retros-
pectiva, dos esportes sanguina´rios da Roma Antiga, passando pelas crue´is
torturas e fogueiras da Idade Me´dia ate´ nossos dias onde um deputado do
Rio Grande do Sul aprovou uma lei permitindo o “Sacrif´ıcio de Animais”
em rituais religiosos; essa lei recebeu − por parte daqueles que ascenderam
em conscieˆncia e sensibilidade − uma enxurrada de cr´ıticas concernentes a
abusos praticados contra animais em rituais primitivos.
E´ que aquela frac¸a˜o da humanidade que ascendeu em conscieˆncia e sen-
sibilidade ja´ na˜o tolera mais certos atos de crueldade que outrora passavam
despecebidos, por assim dizer.
O apo´stolo Paulo certa feita afirmou em uma de suas ep´ıstolas que os
homens haveriam de julgar os pro´prios anjos, neste livro vamos um pouco
ale´m do apo´stolo e defendemos a tese de que ja´ chegou a hora do homem
julgar o pro´prio Deus! . . . Pasme´m!
Com efeito, se em nossos dias algue´m pode ser condenado por maus
tratos a animais, o que dizer de um Deus que promove o sacrif´ıcio de animais
em rituais religiosos?
O que dizer de um Deus cuja sanha assassina chega a exterminar “idosos,
mulheres, crianc¸as e animais”? E, finalmente, o que dizer de um Deus que
aceita sacrif´ıcio humano?
Estamos falando de um Deus?. . . Sim senhor! estamos falando do
temı´vel Deus de judeus e crista˜os, o guerreiro Jeova´.
Se e´ verdade que cada povo tem o governo que merece na˜o e´ menos
verdade que cada povo tem o Deus que merece.
Se nos ‘demonstrassem’ esse Deus dos crista˜os, ainda acreditar´ıamos
menos nele. (Nietzsche)
Gentil, o iconoclasta
3
Os tre^s luminares a seguir ser~ao citados em nossa obra.
− Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844 — 1900) foi um filo´logo e influente
filo´sofo alema˜o do se´culo XIX.
Nasceu numa famı´lia luterana em 1844, filho de Karl Ludwig, seus dois
avo´s eram pastores protestantes; o pro´prio Nietzsche pensou em seguir a
carreira de pastor. Entretanto, Nietzsche rejeita a “fe´” ainda durante sua
adolesceˆncia, e os seus estudos de filosofia contribuiram para que ele desis-
tisse da carreira teolo´gica.
Em Para ale´m do bem e do mal, de 1886, denuncia que “a crenc¸a da ver-
dade percorreu o mundo moderno, que se denomina senhor dessa verdade ”,
na˜o haviam entendido que Deus e o diabo eram uma coisa so´.
− Baruch Spinoza (1632 — 1677) considerado um dos maiores filo´sofos e
metaf´ısicos de todos os tempos − E´ o eleito de Einstein.
Nasceu em Amsterda˜, numa famı´lia de negociantes judeus de origem
portuguesa. E´ considerado o fundador do criticismo b´ıblico moderno.
Receando comprometer a lisura de seus trabalhos filoso´ficos recusou um
convite para ensinar na Universidade de Heidelberg.
Temendo suas teses “comprometedoras” os sacerdotes ofereceram uma
pensa˜o a` Espinosa para ele manter fidelidade a` sinagoga, ele recusou. Optou
por viver como um humilde polidor e cortador de lentes o´pticas. Foi enta˜o
excomungado em 1656, amaldic¸oaram-no em ritual.
Lu´ıs XIV lhe ofereceu uma vultosa pensa˜o para que Spinoza lhe dedicasse
um livro. O filo´sofo recusou polidamente.
O monumento feito em homenagem a Spinoza, em Haia foi assim comen-
tado por Renan em 1882:
“Maldic¸a˜o sobre o passante que insultar essa suave cabec¸a pensativa.
Sera´ punido como todas as almas vulgares sa˜o punidas — pela sua pro´pria
vulgaridade e pela incapacidade de conceber o que e´ divino. Este homem, do
seu pedestal de granito, apontara´ a todos o caminho da bem-aventuranc¸a
por ele encontrado; e por todos os tempos o homem culto que por aqui
passar dira´ em seu corac¸a˜o: Foi quem teve a mais profunda visa˜o de Deus.”
− Bertrand Arthur William Russell (1872 — 1970), nascido no Pa´ıs de
Gales foi um dos mais proeminentes matema´ticos, filo´sofos e lo´gicos que
viveram no se´culo XX.
Recebeu o Nobel de Literatura de 1950, “em reconhecimento dos seus
variados e significativos escritos, nos quais ele lutou por ideais humanita´rios
e pela liberdade do pensamento”.
Russell estudou Filosofia na Universidade de Cambridge, tendo inicia-
do os estudos em 1890. Tornou-se membro do Trinity College em 1908.
Pacifista, recusou alistar-se durante a Primeira Guerra Mundial, perdeu a
ca´tedra do Trinity College e esteve preso durante seis meses. Nesse per´ıodo,
escreveu sua magn´ıfica obra “Introduc¸a˜o a` Filosofia da Matema´tica”.
4
Suma´rio
1 O QUE E´ DEUS ? 7
1.1 Introduc¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.2 Deus Pode Mentir, Pode ser Desonesto . . . . . . . . . . . . . 9
1.3 Deus e o Mal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.3.1 “Deus” e o demoˆnio podem ser uma mesma entidade 15
2 O ACARAJE´ DE JESUS 23
2.1 Introduc¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.2 Jesus na˜o liberta, Jesus Aprisiona . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.3 A imitac¸a˜o e´ um atentado contra a Natureza . . . . . . . . . 28
2.3.1 Na˜o e´ certo querer ser igual a Jesus . . . . . . . . . . 31
2.4 Desconstruindo o ı´dolo Jesus . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.4.1 Jesus, um mestre iluminado? . . . . . . . . . . . . . . 51
2.4.2 Entendo que ningue´m e´ “especial” aos olhos de Deus . 56
2.5 Engenharia Teolo´gica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
2.5.1 Astutos ate´ a` santidade . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
3 O CAXIRI DO PADRE 65
3.1 Introduc¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
3.2 Uma proposta de ecumenismo universal . . . . . . . . . . . . 67
3.3 A mente e´ a verdadeira natureza das coisas . . . . . . . . . . 73
3.3.1 A visa˜o dos animais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
3.3.2 A visa˜o dos microsco´pios . . . . . . . . . . . . . . . . 74
3.3.3 Deus visto sob as lentes de um potente “microsco´pio” 75
3.3.4 A diversidade de Deuses . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
3.3.5 Dia´logo entre Einstein e Tagore . . . . . . . . . . . . . 81
3.4 A equac¸a˜o divina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
3.5 Deus e o homem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
3.6 O Universo esta´ em expansa˜o exceto . . . . . . . . . . . . . . . 92
3.6.1 Fo´sseis vivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
5
6
4 O TEOREMA DE RUSSEL 115
4.1 Introduc¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
4.2 O Teorema de Russel visto da perspectiva b´ıblica . . . . . 120
4.3 Limpando Deus das incrustac¸o˜es parasita´rias . . . . . . . . . 123
4.3.1 Ana´lise do teorema de Russel . . . . . . . . . . . . . . 124
4.3.2 Uno, o Deus de Plotino . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
4.4 Uma Concepc¸a˜o Cient´ıfica de Deus . . . . . . . . . . . . . . . 127
4.5 Conclusa˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
4.5.1 A concepc¸a˜odivina de Jesus e o Vazio . . . . . . . . . 133
4.5.2 Deus, um decalque no Absoluto . . . . . . . . . . . . . 135
4.5.3 Deuses piratas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140
4.6 Da Unicidade do Vazio-Absoluto . . . . . . . . . . . . . . . . 141
4.6.1 Identificando o Vazio com o Absoluto . . . . . . . . . 143
� Apeˆndice: Jose´ Saramago . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146
� Apeˆndice: Identificando o Vazio com o Absoluto . . . . . . . . . . 150
5 IMPOSTURAS ESPIRITUAIS 155
5.1 Imposturas Intelectuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155
5.2 Imposturas Espirituais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 156
5.3 Uma Exegese de Nossa Odisse´ia Gno´stica . . . . . . . . . . . 164
5.4 O Alquimista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 180
Capı´tulo 1
O QUE E´ DEUS ?
Convicc¸o˜es sa˜o priso˜es, um esp´ırito
que queira realizar belas obras, que
tambe´m queira os meios necessa´rios, tem
de ser ce´tico. Estar livre de toda forma
de crenc¸a pertence a` forc¸a, ao poder de
ver sem algemas. (Nietzsche)
1.1 Introduc¸a˜o
Julgo na˜o haver pergunta mais importante para a humanidade hodierna
que esta:
O QUE E´ DEUS ?
A importaˆncia desta pergunta∗ − mais do que qualquer outra − se da´
pelo fato de que diz respeito diretamente a` vida de bilho˜es de seres humanos
na face do planeta.
Uma outra questa˜o relacionada a esta que eu gostaria de levantar: se
acaso algue´m − ou alguma religia˜o − adotar uma forma equivocada, pos-
sivelmente ate´ perniciosa, de se relacionar com Deus o leitor acha que Deus
estara´ preocupado em desfazer o equ´ıvoco?
Na A´frica existe uma tribo que adora a divindade na figura de um
crocodilo, chegam ate´ a mutilar o pro´prio corpo para parecerem com o seu
Deus, o crocodilo. Na I´ndia um grupo tambe´m mutila o corpo como uma
forma de adorac¸a˜o a` divindade.
Daqui − e de inu´meros outros poss´ıveis exemplos − concluimos que
se pode adorar a Deus de uma forma extremamente nociva sem que Ele
esteja preocupado em desfazer o equ´ıvoco. Por oportuno, a Igreja Cato´lica
em nome de Deus exterminou milhares de seres humanos utilizando-se das
torturas, fogueiras e Cruzadas − Deus na˜o impediu nada disto.
∗Doravante a chamaremos de “a quest~ao fundamental”: O QUE E´ DEUS?
7
8
E´ Neste contexto que vejo a importaˆncia de se tentar responder a quest~ao
fundamental. Existem, como se sabe, centenas − possivelmente milhares
− de respostas a esta pergunta, numa ra´pida pesquisa constatei as seguintes:
Deus
Bahai
Hindu´ısmo
Budismo
Jainismo
Confucionismo
Sufismo
Tao´ısmo
Xinto´ısmo
Tenrikyo
Juda´ısmo
Islamismo
Cristianismo
Hare Krishna
...
Com certeza essa lista ainda poderia ser ampliada significativamente, por
exemplo, deixamos de fora dezenas de religio˜es africanas. Sem mencionar as
centenas de Deuses que hoje encontram-se soterrados nas ruinas do tempo.
O leitor, em algum momento de sua vida, ja´ parou para se perguntar
se na˜o estaria sendo v´ıtima de uma ilusa˜o, de um embuste, dentro de sua
pro´pria religia˜o?
Um fenoˆmeno religioso interessante e´ que cada um acredita estar com a
verdade e “o outro” com o erro. Dentre estas dezenas, centenas, de con-
cepc¸o˜es de Deus existem muitas que se contradizem entre si, enta˜o e´ o´bvio
que nem todas podem estar corretas, ou ainda, que muitos vivem numa
ilusa˜o, cultuam uma quimera − uma fantasia construida pela mente dos
sacerdotes.
A quest~ao fundamental esteve presente em minha mente durante muito
tempo, tornou-se quase uma obsessa˜o para mim a investigac¸a˜o do que possa
vir a ser isto que chamam de Deus.
E por que esta questa˜o tornou-se fundamental para mim? Dentre muitas
razo˜es uma delas e´ que eu poderia passar toda a minha vida no papel de tolo,
Gentil 9
adorando um falso Deus, que a tradic¸a˜o me ensinou como sendo o verdadeiro,
e se na˜o fosse? Eu estaria certamente correndo o risco de desperdic¸ar grande
parte da minha vida adorando uma ilusa˜o, adorando um ı´dolo fabricado
“pelos meus antepassados ”. Uma outra raza˜o, talvez a mais importante, e´
que me causa do´ ver milhares de seres humanos, cegos, v´ıtimas dos embustes
religiosos de pastores e sacerdotes.
Entre um primitivo que traja uma pele de crocodilo para cultuar sua
divindade e um cardeal que veste-se com uma batina de cor pu´rpura e de
seda − ou um pastor que traja paleto´ e gravata − para cultuar a sua que
garantias podemos ter de que o relacionamento (concepc¸a˜o) do padre seja
superior ao do ı´ndio?
A batina de pu´rpura deles deveria
designar o amor ardente a Deus, mas
agora, significa a cupidez do d´ızimo.
(Erasmo de Rotterdam (1466-1536))
Haveria alguma prova irrefuta´vel a este respeito? Creio que na˜o, tudo
trata-se de crenc¸as − como estaremos argumentando ao longo deste livro.
Entre qualquer finito e o infinito (Absoluto) a distaˆncia e´ sempre infinita,
e´ precisamente nesse contexto que a liturgia do padre e do pastor se igualam
a` do primitivo.
Talvez na˜o constitua exagero afirmar que seja mais fa´cil apontar incon-
grueˆncias na concepc¸a˜o do padre que na do primitivo − como estaremos
mostrando em momento oportuno.
Claro, poderia-se refutar: Deus na˜o e´ uma questa˜o de provas mas de fe´,
de sentimento. Respondo que todos os selvagens teˆm fe´ e sentimento no que
acreditam ser Deus.
Em minhas pesquisas sobre a quest~ao fundamental descobri alguns
fatos, como poderia dizer, bizarros, extravagantes, como por exemplo
1.2 Deus Pode Mentir, Pode ser Desonesto
Estas duas afirmac¸o˜es o´bviamente se referem ao que muitos entendem e
cultuam como Deus, na˜o excetuando o Deus crista˜o. Estarei me esforc¸ando
para provar minha tese, para comec¸ar farei uma “acareac¸a˜o” entre dois
Deuses e provarei que um dos dois esta´ mentindo.
Inicialmente vou apresentar-lhes uma religia˜o japonesa e monote´ısta,
surgida em 26 de Outubro de 1838 por nome Tenrikyo. Essa religia˜o hoje
esta´ difundida por todo o Japa˜o e por diversos outros pa´ıses, e possui um
nu´mero de seguidores estimado em 2 milho˜es. No Brasil iniciou-se em 1929,
a sede desta Igreja encontra-se na cidade de Bauru, no interior de Sa˜o Paulo.
O Deus adorado pelos seguidores da Tenrikyo chama-se Deus-Parens.†
†Comparando-se com o amor entre pais e filhos dos seres humanos − Parens do latim,
que significa tanto pai como ma˜e.
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Foi em minhas pesquisas que me deparei com o Deus-Parens da Tenrikyo.
Os bio´logos, em pesquisas gene´ticas, se utilizam da mosca-das-frutas como
modelo, dentre outras razo˜es por seu reduzido nu´mero de genes (15 mil).
De modo ana´logo, achei Deus-Parens um excelente modelo para o estudo do
fenoˆmeno religioso, inclusive como contribuic¸a˜o para a pesquisa do que seja
isto que todos chamam de Deus − por ser um Deus (fenoˆmeno) relativamente
novo comparado a outros.
A religia˜o Tenrikyo revelou-se um excelente modelo para o estudo do
fenoˆmeno religioso. E´, como o cristianismo, uma religia˜o revelada. As-
sim como Jesus recebeu o “Esp´ırito de Deus-Pai ”, a senhora Miki Naka-
iama recebeu o “Esp´ırito de Deus-Parens”; assim como o cristianismo conta
com uma B´ıblia a Tenrikyo conta com uma B´ıblia (Escritura) por nome
Ofudessaki †, assim como Jesus realizou milagres a Sra Miki tambe´m:
[. . .] E comec¸ou a aparecer nas vizinhanc¸as, quem se aproximasse
adorando-a como uma deusa viva. Ensinou-lhes, enta˜o, que a origem
das doenc¸as esta´ no pro´prio esp´ırito e realizou inu´meras curas ex-
traordina´rias. Mesmo as doenc¸as tidas como incura´veis na˜o eram diante
dela. Os cegos adquiriram prontamente a visa˜o e os loucos, a clara lu-
cidez. (Doutrina de Tenrikyo, p. 49)
De sorte que esta religia˜o me foi como um achado primoroso para o
estudo do fenoˆmeno religioso e para minha pesquisa sobre O QUE E´ DEUS.
Voltando a` minha tese de que Deus pode mentir e, por conseguinte serdesonesto, vou cotejar dois Deuses. O Deus de judeus e crista˜os diz:
“Porventura na˜o sou eu, o Senhor? E na˜o ha´ outro Deus sena˜o eu ”
(Is 45:21)
Por outro lado, o Deus da Tenrikyo retruca:
Eu sou o Deus original, o Deus verdadeiro. Nesta casa ha´ uma predes-
tinac¸a˜o. Desta vez, revelei-me neste mundo para salvar a humanidade,
Desejo ter Miki como meu Sacra´rio. (Doutrina de Tenrikyo, p. 3)
Do exposto, minha conclusa˜o e´ a de que ou o Deus dos crista˜os esta´
mentindo ou o Deus dos “parentes ” esta´ mentindo − ou ambos −, e, por
conseguinte, ou os crista˜os esta˜o sendo enganados ou os parentes esta˜o sendo
enganados, na˜o vejo outra alternativa.
Nota: Na˜o sei como sa˜o chamados os adoradores do Deus-Parens, para fa-
cilitar a comunicac¸a˜o decidi chama´-los por esse nome.
Aqui existem duas alternativas que podem ser seguidas pelos membros
destas religio˜es: Ou tentara˜o conciliar (harmonizar) os dois Deuses − por
exemplo dizendo-nos que o mesmo Deus manifestou-se em e´pocas distintas
†Ponta do Pincel ou Escritura Divina.
Gentil 11
− ou cada um considerara´ o seu pro´prio Deus como sendo o verdadeiro e o
da outra o falso.
Quanto a` tentiva de conciliac¸a˜o, o Deus-Parens mante´m-se irredut´ıvel,
revelou-se a este mundo pela primeira vez atrave´s da senhora Miki Naka-
iama. (Vida de Oyassama, p. 130)
No ma´ximo Deus-Parens considera os Deuses anteriores como seus subal-
ternos, veja∗:
O Deus real e verdadeiro deste mundo sou Eu, Tsukihi. Todos os
demais sa˜o meus instrumentos. (Ofudessaki, VI-50)
Deus-Parens faz questa˜o de enfatizar que embora Ele seja o Deus ver-
dadeiro, que criou o homem e o mundo e por quem todos sa˜o vivificados,
na˜o e´ nenhum dos deuses tradicionais das preces, exorcismos e evocac¸o˜es.
(Doutrina de Tenrikyo, p. 11)
Sendo assim fica excluida a possibilidade de que o Deus de judeus e
crista˜os (Jeova´) e o Deus dos parentes (Parens) seja o mesmo Deus. Con-
clusa˜o: um dos dois esta´ mentindo − Ou ambos.
Resta a outra alternativa: Os crista˜os diriam que o seu Deus e´ o ver-
dadeiro e os parentes diriam que o seu e´ que e´ o verdadeiro Deus.
Antes de mais nada no momento na˜o estou propriamente interessado
em discutir qual o verdadeiro Deus − esta questa˜o nos levaria muito longe
e nos desviaria do principal − estou interessado em estudar o fenoˆmeno
religioso em si, isto e´, como surge e se propaga uma religia˜o, e´ isto o que
me interessa. Observe-se que existem milho˜es de seguidores em ambas as
religio˜es, e, de mais a mais, e´ o´bvio que as concluso˜es a respeito destes
dois microuniversos podem ser estendidas a outras religio˜es, isso e´ o que me
interessa de momento.
Por outro lado, e na˜o menos importante, como Deus-Parens veio para
“salvar a humanidade” e como ele se auto proclama o u´nico Deus verdadeiro,
sua religia˜o ja´ nasce com o estigma da intoleraˆncia, do fanatismo, uma vez
que eles se acham na obrigac¸a˜o de converter toda a humanidade. O que foi
dito desta religia˜o se aplica igualmente a todas as outras.
Resumindo: Um dos primeiros resultados de minha pesquisa sobre a
quest~ao fundamental e´ este: Que Deus pode ser mentiroso, que uma re-
ligia˜o pode ser fundada sobre uma mentira.
Insistindo, para os que porventura ainda na˜o compreenderam: assim
como a religia˜o Tenrikyo foi fundada por um esp´ırito suspeito, desejoso de
ser adorado como um Deus (como de fato aconteceu), de igual modo a
religia˜o judia − e por extensa˜o a crista˜ − foi fundada por um outro esp´ırito,
tambe´m suspeito, na˜o confia´vel, proclamando-se Deus, neste caso Jeova´.
∗Tsukihi, e´ uma outra denominac¸a˜o do Deus-Parens. Significa Lua-Sol.
12
Ou enta˜o, deveremos concluir que podem existir tantos deuses quantos
forem os tolos dispostos a acreditar em suas promessas de salvac¸a˜o e bem-
aventuranc¸as. Igualzinho ao que ocorre com respeito a`s inu´meras igrejas
evange´licas; digo, qualquer um pode tornar-se um “pastor ”, desde que exis-
tam tolos em nu´mero suficiente para da´r-lhes cre´dito. Como diz o ditado:
Assim como embaixo, tambe´m encima.
1.3 Deus e o Mal
Eu formo a luz e crio as trevas; eu
fac¸o a paz e crio o mal; eu, o Senhor, fac¸o
todas estas coisas. (Is 45 : 7)
Outro resultado surpreendente de minha pesquisa e´ a proximidade (conu´bio)
entre Deus e o mal. No que concerne ao mal descobri que Deus e´ capaz de
certas pra´ticas que nem todo ser humano o seria, ou ainda, que muitos seres
humanos reprovariam. Na˜o creio que todo ser humano seja capaz de matar
seu animal de estimac¸a˜o caso este lhe desobedec¸a, Deus fez bem mais e pior
que isto:
Enta˜o certamente ferira´s ao fio da espada os moradores daquela
cidade, destruindo ao fio da espada a ela e a tudo que nela houver, ate´
os animais. (Dt 13 : 6− 10, 15)
O livro “Vida de Oyassama”∗ relata como a Sra Miki Nakaiama veio a
tornar-se Sacra´rio (“hospedeira” ) de Deus-Parens; dadas as circunstaˆncias
da ocasia˜o, inclusive casa, marido e filhos pequenos para cuidar, a proposta
de Deus-Parens foi inicialmente rejeitada por todos os familiares. Deus-
Parens negou-se terminantemente a aceitar a recusa, tentou impor a sua
vontade de diversos modos, inclusive adoecendo membros da famı´lia da Sra
Miki e ameac¸ando destruir a resideˆncia da famı´lia:
Deveis agir de acordo com a intenc¸a˜o de Deus original. Aceitai o
que Eu, Deus, vos digo. Se ouvirdes, Eu a farei salvar todos os povos do
mundo. Se recusardes, farei com que na˜o sobre nem o po´ desta casa.
(Vida de Oyassama, p. 6)
Diante de uma proposta ta˜o “sol´ıcita” destas a famı´lia na˜o teve outra
alternativa que na˜o render-se aos apelos de Deus-Parens.
Independente de qualquer outra coisa observe em que bases uma religia˜o
− que esta´ difundida por todo o Japa˜o e por diversos outros pa´ıses, inclusive
o Brasil, enfatizo − pode ser fundada.
∗Que significa Nossa Ma˜e. Oya e´ um prefixo que designa pai e ma˜e, indistintamente;
Sama e´ um sufixo honor´ıfico.
Gentil 13
Minha ana´lise da conjuntura
Tocar-se-a´ a buzina na cidade, e o
povo na˜o estremecera´? Sucedera´ qual-
quer mal a` cidade, e o Senhor na˜o tera´
feito? (Am 3 : 6)
O que e´ Deus? Segundo a concepc¸a˜o vigente do que seja Deus, a lo´gica
nos permite concluir que das duas uma: Ou Deus e´ responsa´vel diretamente
pelos males do mundo ou indiretamente, ja´ que nada acontece sem o seu
consentimento, ou concurso.
Disse anteriormente − pelas razo˜es apresentadas − que ou o Deus Jeova´
ou o Deus Parens, ou ambos, sa˜o mentirosos. A minha tese e´ que ambos sa˜o
mentirosos. Ou devemos refinar nosso conceito de Deus.
Deus-Parens afirma: “Eu a farei salvar todos os povos do mundo”. Sin-
ceramente na˜o creio que a humanidade sera´ salva por esse Deus − o leitor
acredita? − e, por conseguinte, o tenho na conta de um megaloman´ıaco
mentiroso.
Estive refletindo sobre a questa˜o da “salvac¸a˜o da humanidade ”, da pers-
pectiva colocada pelas religio˜es, e a minha conclusa˜o e´ a de que trata-se de
um engodo, farsa, fala´cia, embuste, sofisma. Esse, a salvac¸a˜o, e´ o principal
instrumento de dominac¸a˜o das religio˜es.
A esse respeito a estrate´gia das religio˜es e´ muito simples: Tu esta´s con-
denado e eu te oferec¸o a salvac¸a˜o!
Espera a´ı ! quem disse que eu estou condenado? quem determinou que
assim seja?
No que me diz respeito, na˜o me sinto condenado e, portanto, na˜o pre-
ciso de nenhuma religia˜o para me “salvar”. Creio que o homem precisa se
salvar de uma u´nica coisa: da ignoraˆncia e, por conseguinte, de todas as
superstic¸o˜es, inclusive religiosas; isto e´, precisa urgentemente se salvar das
religio˜es e dos sacerdotes (padres e pastores, notadamente). Essa e´ a u´nica
salvac¸a˜o necessa´ria em que creio.
Vejamos uma analogia para que eu me fac¸a melhor entender: Tudo se
passa como se o esp´ırito de um “deus-cirurgia˜o-pla´stico” baixasse em uma
cidade e proferisse:tem muita gente feia nesta cidade, vou tratar de “salva´-
los”, se seguirem meus preceito$.
Espera a´ı, um momento! quem disse que feiu´ra e´ pecado? E´ ele, o
cirurgia˜o, quem esta´ afirmando, e´ razoa´vel eu acreditar nisto?
Ocorre algo similar pelo lado das religio˜es. Ningue´m esta´ condenado por
viver em um dado n´ıvel de conscieˆncia. Uma crianc¸a na˜o precisa ser “salva”
por viver em seu pro´prio n´ıvel. Um escolar na˜o precisa ser “salvo” por estar
no ensino prima´rio. Um canibal na˜o precisa ser “salvo” por refestelar-se
com a carne do inimigo.
14
Enfatizo: na˜o creio que Deus fara´ com que um canibal queime eterna-
mente no fogo do inferno, mesmo se ele devorar o padre (ou o pastor) que
tentar “salva´-lo” propondo-lhe aceitar “o sangue de Jesus”.
Em todos os casos trata-se de n´ıveis de conscieˆncia, ningue´m esta´ con-
denado ao inferno por isto. O que e´ necessa´rio e´ um caˆmbio de conscieˆncia.
Precisam ser “salvos” da ignoraˆncia e na˜o do inferno. Neste contexto, muitos
religiosos ainda precisam ser salvos uma vez que o fato de aceitar uma re-
ligia˜o na˜o torna ningue´m sa´bio, muito pelo contra´rio.
Que o estado de pecado no homem na˜o e´ um facto, sena˜o apenas a
interpretac¸a˜o de um fato, a saber: de um mal-estar fisiolo´gico, conside-
rado sob o ponto de vista moral e religioso. O sentir-se algue´m “culpado”
e “pecador”, na˜o prova que na realidade o esteja, como sentir-se algue´m
bem na˜o prova que na realidade esteja bem. Recordem-se os famosos pro-
cessos de bruxaria; naquela e´poca os ju´ızes mais humanos acreditavam
que havia culpabilidade; as bruxas tambe´m acreditavam; contudo, a cul-
pabilidade na˜o existia. (Nietzsche/A Genealogia da Moral)
Eu creio em mestres, na˜o em salvadores. Jesus morreu ha´ dois mil anos
para “salvar” a humanidade, dizem-nos padres e pastores; acontece que ob-
servando a` minha volta na˜o vejo que os homens tenham melhorado por causa
disto, inclusive ovelhas e pastores; acompanho pela televisa˜o, revistas e in-
ternet e tenho constatado com sobejos exemplos que o sangue de Jesus na˜o
contribuiu com a salvac¸a˜o nem dos pro´prios padres e pastores; minto, con-
tribuiu com a “salvac¸a˜o material” uma vez que eles sustentam a si pro´prios
− e a toda uma hierarquia parasita − vendendo o sangue de Jesus, isto e´,
“a salvac¸a˜o”.
Perceberam a fala´cia, o embuste das Religio˜es? Com a proposta da
“Salvac¸a˜o” e a ameac¸a do inferno elas mante´m milho˜es de almas prisioneiras
dos seus ardis. Esta e´ precisamente a raza˜o de suas existeˆncias.
Na˜o existem messias (. . .) Se esperarmos um messias, ficaremos es-
perando; se reagirmos aos desafios do presente e do futuro como agentes
morais responsa´veis, como aspirantes a cidada˜os peregrinos, estaremos
agindo. Quando agimos, um processo cumulativo se desdobra, l´ıderes
emergem e novos horizontes de aspirac¸a˜o realista se apresentam.
(Richard Falk, Explorations at the Edge of time/“Explorac¸o˜es a` Margem do Tempo”)
Ha´ muito tempo a pedagogia aboliu a palmato´ria nas escolas como um
me´todo contraproducente, a ameac¸a de castigos e torturas psicolo´gicas na˜o
entraria em nenhum manual moderno de psicopedagogia . . . e´ assaz impres-
sionante como todos veˆm isto com a maior naturalidade quando praticado
pelas igrejas. Muitos pais na˜o aceitariam que seus filhos fossem torturados
nas escolas, mas aceitam de bom grado que o sejam nas igrejas − isto me
parece um comportamento incongruente, irracional.
Gentil 15
Encontrei em um pequeno livro∗ cato´lico um bom exemplo para ilustrar
a que me refiro, o comentarista afirma:
Noutro dia, fui dar uma aulinha de catequese a`s crianc¸as da primeira
Eucaristia. Num dado momento eu falei sobre o pecado e de como Deus
filma cada ato, cada pensamento, cada mentira que se da´ para a mama˜e.
Neste momento um menino me interrompeu e, dando um profundo
suspiro disse com os olhinhos arregalados, como pego em falta: Meu
Deus! Enta˜o e´ assim!. . . E realmente e´ assim!
[. . .] E vai para la´ expiar suas faltas, na˜o forc¸ada, mesmo que as dores
do Purgato´rio sejam equivalentes a`s do inferno, com a diferenc¸a que este
e´ eterno e aquele um dia acaba. (p. 47)
Veja que a pedagogia deste “instrutor”, deste asno de catequese, e´ a
do terror − se confirma isto em va´rias outras passagens do livro −, desde
cedo as crianc¸as sa˜o ensinadas a verem Deus como um carrasco, como um
demoˆnio. Depois ainda se pergunta por que existem ateus. Ja´ disse em
outras ocasio˜es e volto a repetir: tenho quatro filhos nunca os levei a uma
religia˜o. Na˜o os quero antolhados como cavalos.
Retomando, ainda com respeito a` analogia do “deus-cirurgia˜o-pla´stico”
podemos lograr mais um precioso aprendizado. De fato, o “deus-mı´dia”
levanta, dentre estrelas e celebridades, alguns padro˜es de beleza e muitos
su´ditos se esforc¸am por ating´ı-los movimentando assim toda uma roda fi-
nanceira arquimiliona´ria; de igual modo se da´ pelo lado das religio˜es, elas
levantam ı´dolos − tais como, Jesus, Virgem Maria, Santo este, Santo aquele
− e as coitadas das cegas ovelhas movimentam quantias biliona´rias e da˜o
sustentac¸a˜o a todas estas instituic¸o˜es parasita´rias, vampiras.
Ainda tem mais, assim como vez ou outra vemos muitos mutilados (de-
formados) f´ısicamente, v´ıtimas de cirurgio˜es incompetentes, de modo per-
feitamente similar se da´ pelo lado das religio˜es: muitos sa˜o mutilados na
alma e no esp´ırito, v´ıtimas de lobos sanguina´rios − Como exemplo de mu-
tilac¸a˜o da alma citamos a cegueira, a alienac¸a˜o e o fanatismo que sa˜o os
frutos das religio˜es atuais.
1.3.1 “Deus” e o demoˆnio podem ser uma mesma entidade
Eu formo a luz e crio as trevas; eu
fac¸o a paz e crio o mal; eu, o Senhor,
fac¸o todas estas coisas. (Is 45 : 7)
Assim eu pec¸o a` Deus que me livre
de Deus. (Mestre Eckhart)
Martinho Lutero ao defrontar-se com a corrupc¸a˜o do Clero de sua e´poca
e apo´s va´rias experieˆncias com o demo chegou a cogitar de que este e Deus
poderiam tratar-se de uma mesma entidade. A frase em ep´ıgrafe, de mestre
∗O livro da vida, Glo´ria Polo com comenta´rios de Arnaldo Haas.
16
Eckhart, pode apontar nesta direc¸a˜o: Eu pec¸o a Deus (o verdadeiro) que
me livre de Deus (da Igreja), o demo.
De fato, em muitas manifestac¸o˜es creio que o demo e “Deus” podem
tratar-se de uma mesma entidade. Por oportuno, na˜o foi Jesus que nos
alertou de que esta entidade male´vola pode se transvestir de um Anjo de
Luz? Essa minha conclusa˜o veio a ser reforc¸ada quando tomei conhecimento
pela internet de uma outra religia˜o japonesa por nome Sukyo Mahikari. A
sede mundial desta entidade localiza-se em Takayama, no Japa˜o. Existem
sedes regionais na Ame´rica Latina, Ame´rica do Norte, Austra´lia, Singapura,
Europa e A´frica. Existem centros da Sukyo Mahikari em mais de 75 pa´ıses.
Esta organizac¸a˜o foi fundada por Kotama Okada a 28 de Agosto de 1959,
apo´s ter recebido uma revelac¸a˜o de Deus Criador − Segundo ele pro´prio.
Pois bem, li as denu´ncias de dois ex-membros desta instituic¸a˜o e fiquei
pasmo, estupefato; por um lado de como existem pessoas diabo´licas a` frente
das religio˜es − nas igrejas evange´licas vemos muito disto − e por outro lado
pessoas obtusas ao ponto de se deixarem enganar, o que me fez recordar de
uma sutil observac¸a˜o de um eminente filo´sofo, diz ele:
Pois o mundo constitui o inferno, e os
homens formam em parte os atormenta-
dos, e noutra, os demoˆnios.
(Schopenhauer/Parerga e Paraliponema)
Schopenhauer dividiu o mundo nestas duas classes, eu poderia divid´ı-lo
em outras duas:
Pois o mundo constitui um aprisco, e os homens formam em parte
as ovelhas, e noutra, os lobos tosquiadores. (Para´frase)
De meus estudos e reflexo˜es na˜o tenho du´vidas de que uma grande
parcela da humanidade precisa ser salva: precisamente a que se encontra
dentro das religio˜es; esta sim precisa urgentementeser liberta − na˜o os que
esta˜o fora.
Porque surgira˜o falsos cristos e fal-
sos profetas, e fara˜o ta˜o grandes sinais
e prod´ıgios que, se poss´ıvel fora, enga-
nariam ate´ os escolhidos.
Mais ai de vo´s, padres, pastores e
“mestres”, hipo´critas! Pois que fechais
aos homens o reino dos ce´us; e nem vo´s
entrais, nem deixais entrar aos que esta˜o
entrando. (Mt 23 : 13/Para´frase)
Existe uma passagem no livro do Apocalipse que desde ha´ muito tem me
despertado algumas reflexo˜es, julgo que esta passagem esconde ensinamentos
jamais suspeitos pelo homem, ei-la:
Gentil 17
Aconteceu enta˜o uma batalha no ce´u: Miguel e seus Anjos guer-
rearam contra o Draga˜o. O Draga˜o batalhou juntamente com os seus
Anjos, mas foi derrotado, e no ce´u na˜o houve mais lugar para eles. Esse
grande Draga˜o e´ a antiga serpente, e´ o chamado Diabo ou Satana´s. E´
aquele que seduz todos os habitantes da terra. O Draga˜o foi expulso para
a terra, e os Anjos do Draga˜o foram expulsos com ele. (Ap 12 : 7− 9)
Pelo ao menos a mim aqui esta´ claro que “O Draga˜o foi expulso para a
terra, e os Anjos do Draga˜o foram expulsos com ele.”
A minha tese e´ a de que chegando aqui os demoˆnios utilizaram as religio˜es
para exercerem domı´nio sobre os homens. Todavia, devo admitir que esta
tese na˜o chega a ser ta˜o original quanto poderia parecer a` primeira vista,
observe:
Uma histo´ria antiga. . .Um jovem diabo vem correndo ate´ seu chefe.
Ele esta´ tremendo e diz ao velho diabo: “Algo deve ser feito imediata-
mente, porque na Terra um homem encontrou a verdade! E uma vez que
as pessoas conhec¸am a verdade, o que vai ser de nossa profissa˜o?”
O velho diabo riu e disse: “Sente-se, descanse e na˜o se preocupe.
Tudo esta´ sob controle. Nossa gente ja´ esta´ la´”.
Mas o jovem disse: “Estou voltando de la´ e na˜o vi nenhum diabo”.
O velho respondeu: “Os sacerdotes sa˜o minha gente. Eles ja´ cercaram
o homem que encontrou a verdade. Agora se tornara˜o os intermedia´rios
entre o homem da verdade e as massas. Va˜o erguer templos, va˜o escrever
escrituras, va˜o interpretar e distorcer tudo. Pedira˜o ao povo que adorem
e rezem. E em toda essa confusa˜o a verdade sera´ perdida. Esse e´ meu
velho me´todo, sempre deu certo”. ([3], p. 71)
Em minhas pesquisas sobre a quest~ao fundamental (O que e´ Deus?) o
Deus-Parens foi um primoroso achado, me trouxe uma nova luz sobre essa
questa˜o, me abriu uma nova dimensa˜o. Pelo que pude inferir trata-se de
uma entidade, digo, de um demoˆnio, fazendo-se passar por Deus, fundou
uma religia˜o e e´ adorado por milho˜es de pessoas como um Deus verdadeiro:
Eu sou o Deus original, o Deus verdadeiro. [. . .] revelei-me neste
mundo para salvar a humanidade.
Explico melhor: Ja´ disse em outra ocasia˜o que a realidade na˜o e´ un´ıvoca,
sempre pode ser interpretada de va´rias perspectivas, tudo se passa como na
seguinte ilusa˜o de o´tica:
18
Na figura da esquerda se olharmos de uma certa perspectiva veremos uma
bela jovem e de uma outra perspectiva veremos uma velha bruxa. Por opor-
tuno, as religio˜es sa˜o especialistas nestas “iluso˜es de o´tica”, elas fazem com
que as pessoas enxerguem apenas a “bela jovem” e, pela lavagem cerebral,
impedem que as pessoas detectem a “velha bruxa”. Vejamos o caso da
Tenrikyo, ela faz com que as pessoas vejam apenas o “lado belo” do Deus-
Parens: “salvac¸a˜o da humanidade ”, “revelac¸a˜o de miste´rios ”, “amar a hu-
manidade ”, “todos os seres humanos sa˜o irma˜os, criac¸a˜o do nosso Deus ”,
etc., e, ademais, toda uma sorte de rituais. Escondem a “velha bruxa” em
seu Deus, que e´ o engodo, a farsa, o embuste, etc. Lembrem-se de como o
culto a este Deus surgiu − pela forc¸a, pela imposic¸a˜o.
Em va´rias passagens de suas Escrituras Deus-Parens promete cumu-
lar seus filhos de bem-aventuranc¸a e sabedoria, revelando-lhes “grandes
miste´rios”, por exemplo:
Mostrarei uma realizac¸a˜o ta˜o extraordina´ria quanto ao princ´ıpio da
criac¸a˜o deste mundo. (Of. VI −7)
Ou ainda:
Originalmente, este mundo foi um mar de lama. Tsukihi ou Deus-
Parens, julgando ins´ıpida essa condic¸a˜o cao´tica, teve a ide´ia de criar os
homens e compartilhar da sua alegria, vendo-os viverem felizes, plenos
de ju´bilo. (Doutrina de Tenrikyo, p. 26)
Pergunto: se esse e´ o desejo de Deus, e ele sendo de fato Deus, o que o
impede de conseguir seu objetivo maior, relativamente ao homem?
Se Deus quer de fato “salvar a humanidade” o que o impede? Claro,
todas as religio˜es jogam a culpa no pro´prio homem. Ora, se o homem tem
a capacidade de frustrar Deus em seus planos enta˜o teremos que convir que
Deus na˜o e´ “Todo-Poderoso”, na˜o neste aspecto, pelo ao menos.
Em va´rias partes, como ja´ disse, Deus-Parens revelara´ “miste´rios e sabedo-
ria” extraordina´rios aos parentes. Perdoem-me a franqueza, muita ver-
borre´ia, muita bravata; dificilmente a cieˆncia poderia esperar beneficiar-se
com a revelac¸a˜o destes “extraordina´rios miste´rios”, observe como deu-se a
criac¸a˜o dos homens:
Gentil 19
[. . .] Em seguida, chamou um golfinho do noroeste e uma tartaruga
do sudeste. Obtendo consentimento, tomou-os tambe´m para si, comeu-os
para provar os seus sabores espirituais e, discernindo as suas respectivas
qualidades, decidiu fazer uso do primeiro como o o´rga˜o genital masculino
e a estrutura o´ssea com a func¸a˜o de suportar o corpo, e da segunda como
o o´rga˜o genital feminino e a pele com a func¸a˜o conexadora. Colocou-os
respectivamente no corpo do sireˆnio e da cobra branca, os quais foram,
enta˜o, determinados como os proto´tipos de homem e mulher.
(Doutrina de Tenrikyo, p. 27)
E´ a isso a que me refiro (e muito mais): embuste e alienac¸a˜o, e´ esta a
face da “velha bruxa” que os mı´opes na˜o enxergam − porque seus l´ıderes
volvem suas cabec¸as na outra direc¸a˜o. Sa˜o antolhados como cavalos.
O que me fez propriamente desconfiar deste Deus foi sua eˆnfase excessiva
na “salvac¸a˜o da humanidade”. Se ele fosse Deus mesmo teria lembrado de
que ja´ enviou seu Filho com este mesmo propo´sito . . . ou na˜o?
Independente de quem seja o verdadeiro salvador, acontece que dois mil
anos depois, meus olhos na˜o veˆm que a humanidade tenha sido salva, pelo
contra´rio, em muitos aspectos, cada vez pior. O outro “salvador”, pelo
que me consta, na˜o salvou nem os do seu pro´prio redil; e´ suficiente olhar a
histo´ria pregressa do cristianismo, e´ suficiente passar uma ligeira vista nos
crista˜os hodiernos.
Na˜o creio na “salvac¸a˜o da humanidade”, meu racioc´ınio, secundado pelo
que meus olhos me mostram, me diz que a “salvac¸a˜o” e´ individual e trata-se
de salvar-se da ignoraˆncia, esta e´ a verdadeira trevas.
A propo´sito, um dos me´todos de ensino do zen budismo e´ a “terapia de
choque” ilustrada no seguinte dia´logo:
Disc´ıpulo: Qual e´ o caminho para a libertac¸a˜o?
Mestre: Quem esta´ te acorrentando?
Disc´ıpulo: Ningue´m esta´ me acorrentando.
Mestre: Enta˜o, por que queres ser libertado?
Adaptando essa iluminada para´bola para o nosso contexto crista˜o, temos:
Disc´ıpulo: Qual e´ o caminho para a salvac¸a˜o?
Mestre: Quem te disse que esta´s condenado?
Disc´ıpulo: Os padres, os pastores, as igrejas.
Mestre: Enta˜o, te livra dos padres dos pastores e das igrejas.
Resumindo e´ isto: pela mente nos tornamos prisioneiros e pela mente
tambe´m podemos nos tornar livres, simples na˜o?
20
Quanto a` minha tese − a de que um demoˆnio pode muito bem fundar
uma religia˜o − pode-se levantar algumas questo˜es:
1a ) E Deus mesmo (o verdadeiro) como pode permitir isto? Como pode per-
mitir que milho˜es de pessoas sejam enganadas a vida inteira por demoˆnios?
2a ) Como estas entidades poderiam estar por tra´s das religio˜es manipulando
as pessoas se, na˜o raro, as igrejas so´ falam de amor ao pro´ximo, de salvac¸a˜o,
de caridade, de felicidade, de paz, etc., etc.?
Para responder a estas perguntasbasta volvermos, ao menos por um ins-
tante, o olhar “dos ce´us” (do para´ıso) de volta a` terra. Com efeito, aqui
mesmo na terra existem homens que se dizem Deus e sa˜o adorados por
milho˜es como se de fato o fossem − Deus permite isto.
Os pastores e padres das igrejas na˜o falam de outra coisa que na˜o salvac¸a˜o,
amor, paz, bem-aventurac¸a, etc. Prestem atenc¸a˜o na vida de muitos deles.
Veja a histo´ria pregressa da Igreja: Cruzadas, torturas, fogueiras, Santa In-
quisic¸a˜o, etc. Numa ma˜o a B´ıblia e na outra a espada.
Outro dia assisti pela televisa˜o um documenta´rio de um destes l´ıderes que
na˜o apenas dizia-se Deus como era adorado como tal. Um mı´stico argentino
que vivia em uma grande comunidade (Arsham) com seus seguidores. O
fato de ele ter sido envolvido em um escaˆndalo de pedofilia, ter passado um
ano atra´s das grades, na˜o mudou em nada a venerac¸a˜o por parte de seus
su´ditos. Eles justificavam-se dizendo que seu Deus fora v´ıtima de calu´nias,
era o demoˆnio tentando desestabilizar a obra deles.
Ja´ se disse que a inteligeˆncia humana tem limites, a estupidez na˜o.
Ademais, se Deus na˜o impediu que surgisse um Hitler, e muitos outros
ditadores sanguina´rios (demoˆnios), o que mais na˜o se poderia esperar?
Talvez na˜o tenha sido sem raza˜o que Confu´cio, dirigindo-se a seus disc´ıpu-
los, disse-lhes: “Mostrem respeito pelos deuses, mas mantenha-os a` distaˆncia.”
O que foi dito do Deus-Parens e a sua face oculta de velha bruxa aplica-se
igualmente a outros Deuses, como o de judeus e crista˜os, o Deus Jeova´. E´
que as religio˜es nos antolham como a cavalos e so´ nos fazem ver o lado da
bela “jovem” e “esquecem” de nos mostrar a face da velha bruxa:
Porque Deus amou o mundo
de tal maneira que deu o seu
Filho unigeˆnito, para que todo
aquele que nele creˆ na˜o perec¸a,
mas tenha a vida eterna.
E com pedras o apedrejara´s,
ate´ que morra, pois te procurou
apartar do Senhor, teu Deus.
Eu formo a luz e crio as
trevas; eu fac¸o a paz e crio o
mal; eu, o Senhor, fac¸o todas es-
tas coisas. (Dt 13 : 10, Is 45 : 7)
Gentil 21
Por exemplo: crianc¸as esqua´lidas e moribundas morrendo de fome e
peste em va´rias partes do mundo, dois mil anos de crimes em nome de
Deus∗, Hitler, a escravida˜o, torturas e fogueiras, tsunamis, terremotos, um
lea˜o trucidando uma gazelinha, etc. etc.
Pergunto ao distinto leitor: Se lhe fosse dado projetar um mundo (“Ar-
quiteto do Universo”, “Designer Inteligente ”), voceˆ o projetaria de tal modo
que seu ca˜o de estimac¸a˜o se alimentasse do seu gato de estimac¸a˜o?
Sabedoria e loucura sa˜o qualidades baseadas em nosso julgamento. O
mundo na˜o esta´ cheio de mil coisas que nos parecem loucas? As pessoas,
em func¸a˜o das quais adoramos pensar que o mundo tenha sido criado,
na˜o sa˜o frequ¨eˆntemente insensatas e irracionais? Os maravilhosos ani-
mais, exaltados como obras de um Deus imuta´vel, na˜o se alteram con-
tinuamente e na˜o terminam por destruir-se? (Paolo Rossi)
Semideuses
Ainda a respeito dos esp´ıritos Jeova´ e Parens. Volvendo os olhos ao nosso
pequeno planeta terra podemos aprender muito a respeito da “outra di-
mensa˜o”, a espiritual. Alguns esp´ıritos tanto encarnados (homens) quanto
desencarnados teˆm o poder de criar “universos”, isto e´ fa´cil de constatar
se nos voltarmos para as criac¸o˜es da cieˆncia. Na matema´tica em particu-
lar seria muito fa´cil enumerar diversos universos (e teorias) criados pelos
esp´ıritos deste campo particular. Embora muitos destes universos criados
sejam no campo puramente abstrato da matema´tica na˜o e´ dif´ıcil constatar
que existe uma simbiose (ama´lgama) entre abstrac¸a˜o e realidade concreta.
Por exemplo, toda a paraferna´lia tecnolo´gica atual, de que somos teste-
munhas, assenta-se em descobertas da f´ısica quaˆntica e esta fundamenta-se
na matema´tica abstrata.
De repente, a efica´cia do esforc¸o matematizante e´ tal que o real
se cristaliza nos eixos oferecidos pelo pensamento humano: novos
fenoˆmenos se produzem. Pois e´ poss´ıvel falar sem hesitac¸a˜o de uma
criac¸a˜o dos fenoˆmenos pelo homem. O ele´tron existia antes do homem
do se´culo XX. Mas, antes do homem do se´culo XX, o ele´tron na˜o can-
tava. Ora, ele canta nos computadores, televisores e celulares.
(Gaston Bachelard/A formac¸a˜o do esp´ırito cient´ıfico, p. 305/Para´frase)
Os Esp´ıritos, tanto dos homens quanto dos desencarnados, teˆm o poder
de criar em todas as a´reas: cieˆncias, artes, literatura, religia˜o, etc.
Assim como o matema´tico, reitero, tem o poder de criar diversos uni-
versos (Geometrias, por exemplo) outros esp´ıritos teˆm a capacidade de criar
diversos universos religiosos − Religio˜es diversas.
∗O livro negro do cristianismo: dois mil anos de crimes em nome de Deus.
Fo Jacopo, 1955 - Rio de janeiro: Ediouro, 2007.
Esse e´ o livro que sugiro ao leitor, uma das faces da “velha bruxa”.
22
Algumas caracter´ısticas ocorrem no que diz respeito a`s construc¸o˜es da
cieˆncia:
1a ) Podem servir tambe´m para escravizar e ate´ para matar − O arsenal de
armamentos, inclusive a bomba atoˆmica, e´ um flagrante exemplo;
2a ) Muitas ao longo dos se´culos sa˜o revistas ou caem no esquecimento por
mostrarem-se inadequadas “aos novos tempos” − isto acontece ate´ mesmo
com teorias matema´ticas;
3a ) Muitas destas construc¸o˜es posteriormente revelaram-se falsas, ou inade-
quadas.
O que estou defendendo e´ que todas estas caracter´ısticas aplicam-se lite-
ralmente ao universo das construc¸o˜es espirituais.
Agora vejam so´, nas cieˆncias existem crite´rios objetivos para se validar
uma dada construc¸a˜o (criac¸a˜o) e, mesmo assim, em algumas a´reas teˆm ocor-
rido fraudes, imposturas. Ja´ pelo lado da espiritualidade a possibilidade de
fraude e´ cem vezes maior ja´ que na˜o existem controles “externos”, qual-
quer um pode criar uma se´rie de regras, “rituais”, e se habilitar a “salvar a
humanidade”.
Pelo lado da espiritulidade ainda tem um outro se´rio agravante: “A
liberdade de expressa˜o religiosa esta´ protegida por lei ”.
Tudo bem, acontece que os bandidos teˆm se valido desta prerrogativa
para assaltar os pobres dos seres humanos ainda na˜o chegados a` idade da
raza˜o. E a´ı na˜o deu outra: Muitos bandidos trocaram o revo´lver pela Bı´blia
e assaltam tranquilamente sob a protec¸a˜o da lei.
A mais antiga escritura dos hindus, Os Vedas, estabelece rituais nos
quais na˜o somente animais devem ser sacrificados para satisfazer os
deuses, mas ate´ mesmo seres humanos devem ser sacrificados − para
satisfazer um deus que ningue´m jamais viu. Mas nenhum sa´bio daque-
les dias levantou sua voz para dizer que isso e´ absolutamente rid´ıculo,
completamente irreligioso, na˜o espiritual. Todos eles seguiram de ma˜os
dadas com a sociedade, apoiando com seus escritos ou com sua pro´pria
forma de viver tudo aquilo que a sociedade acreditava.
A sua u´nica satisfac¸a˜o era a de ser cultuado − mas ser cultuado e´ um
tremendo alimento para o ego. Se a sociedade queria que eles vivessem
nus, eles viviam nus; se a sociedade queria que eles vivessem em com-
pleta pobreza, eles viviam em completa pobreza. Em suma, o velho sa´bio
era exatamente o oposto do novo rebelde. O velho sa´bio era o ser obedi-
ente e reprimido, com o ego satisfeito. De acordo comigo, ele era doente
− espiritualmente doente. (Osho/O Rebelde, p. 15)
Nota: Apenas sugiro ao leitor trocar “velho sa´bio” por “velho santo”.
Refiro-me aos santos obedientes e submissos a` “Igreja de Deus”, Cato´lica.
Nota: Nos cap´ıtulos 3 e 4 estaremos retornando a` ana´lise da quest~ao
fundamental: O que e´ Deus?
Capı´tulo 2
O ACARAJE´ DE JESUS
Se se torna motivo de alienac¸a˜o, na˜o
necessitamos dela, pois a religia˜o e´ como
um reme´dio: se agrava o mal, torna-se
desnecessa´ria. ( Baha´’ u’ lla´h)
2.1 Introduc¸a˜o
A motivac¸a˜o (start) para eu redigir o presente cap´ıtulo foium programa
de televisa˜o que assisti ha´ poucos dias. Versava este programa sobre o sin-
cretismo religioso na Bahia.
Exibia a diversidade de manifestac¸o˜es religiosas encontradas somente na
capital, Salvador. A cena que na˜o consegui mais esquecer: Existiam muitas
bancas de baianas vendendo acaraje´ em uma das prac¸as de Salvador, uma
delas, que ficava bem em frente a uma igreja evange´lica, teve a “brilhante”
ide´ia de encimar sua banca com uma faixa na qual se lia:
“ACARAJE´ DE JESUS”
O mais incr´ıvel e´ que surtiu o efeito desejado, numa longa fila os crentes
se acotovelavam para comprar o acaraje´ de Jesus. O repo´rter perguntou a
uma irma˜ que se encontrava na fila por que ela na˜o comprava o acaraje´ em
uma outra banca ja´ que tratava-se do mesmo bolinho, feito com os mesmos
ingredientes. A irma˜, exibindo uma certa empa´fia, respondeu que a raza˜o e´
que somente o “acaraje´ de Jesus ” era abenc¸oado, ungido por Deus.
Esta cena grotesca me desencadeou uma se´rie de reflexo˜es que resultaram
no presente cap´ıtulo. Inicialmente concluimos que tudo o que leva o “ro´tulo”
de Jesus serve como motivo de discriminac¸a˜o. Da mesma forma como eles
discriminam um acaraje´, por na˜o ser de Jesus, discriminam um ser humano
que na˜o partilhe de suas crenc¸as. Segundo, reflita caro leitor no que as
igrejas sa˜o capazes de transformar um ser humano: em um perfeito idiota!
Ja´ foi enfatizado que a inteligeˆncia humana e´ limitada, a estupidez, pelo
contra´rio, na˜o tem limites, a´ı esta´ a prova: limp´ıda, cristalina e irrefuta´vel!
23
24
2.2 Jesus na˜o liberta, Jesus Aprisiona
Na˜o apenas pela pungente cena descrita anteriormente, mas tambe´m por
outras observac¸o˜es e reflexo˜es, fui levado a` indubita´vel conclusa˜o de que
Jesus na˜o liberta, Jesus Aprisiona!
Jesus na˜o liberta, Jesus Aprisiona!
Jesus na˜o liberta, Jesus Aprisiona!
De fato, qualquer um que pare para observar e refletir sobre o compor-
tamento fana´tico e alienado de crentes − e boa parte de cato´licos − chegara´
a` conclusa˜o de que sa˜o roboˆs ambulantes, hipnotizados pelos seus l´ıderes.
Ja´ pesquisei na internet sobre o fenoˆmeno do sonambulismo, existem
os que, enquanto dormem, falam ao celular, sobem escadas, digitam no
computador e ate´ dirigem carros. Esse e´ o n´ıvel de conscieˆncia da maioria
dos religiosos, perderam a capacidade de discernimento e reflexa˜o.
Eu poderia arrolar uma se´rie de argumentos para provar que o Jesus de
hoje∗ na˜o liberta, ao contra´rio, aprisiona.
Observe que essa na˜o e´ uma hipo´tese, conjectura minha, mas sim a
realidade que se encontra escancarada frente aos olhos de todo aquele que
tem capacidade para enxergar.
Reflita, mais uma vez, sobre a cena do acaraje´ de Jesus. As igrejas, ao
venderem toda sorte de bugigangas em nome de Jesus: o´leo ungido, pa˜o
ungido, d´ızimo, etc., etc. se constituiram em um covil de salteadores.
Os bandidos trocaram o revo´lver pela B´ıblia
Padres e pastores evange´licos deveriam montar uma faculdade de po´s-
graduc¸a˜o para (po´s)graduar os bandidos pe´s-de-chinelo, como o Fernandinho
Beira-mar, por exemplo.
De fato, vejam como os bandidos que trajam paleto´ e gravata (ou vestem
batina) sa˜o muito mais inteligentes que aqueles que vendem os outros tipos
de entorpecentes: assaltando com a B´ıblia, no lugar do antiquado revo´lver,
eles na˜o apenas esta˜o a salvo de um par de algemas como ainda gozam da
protec¸a˜o das autoridades (in)competentes − ou coniventes.
Se observarmos atentamente o comportamento de muitos crentes a con-
clusa˜o e´ a de que eles foram drogados (hipnotizados). Eu mesmo ja´ presenciei
um culto no qual tive a oportunidade de constatar (“in loco”) que na˜o e´ pre-
ciso ingerir nada para se ficar drogado. Por oportuno, esse fenoˆmeno na˜o e´
novo, a pro´pria B´ıblia assinala esta possibilidade, vejam:
∗Isto e´, do que as igrejas fizeram com as “boas novas ” de Jesus.
Gentil 25
Pasmai, e maravilhai-vos; cegai-vos e ficai cegos; beˆbedos esta˜o, mas
na˜o de vinho, andam cambaleando, mas na˜o de bebida forte.
Porque o Senhor derramou sobre vo´s um esp´ırito de profundo sono,
e fechou os vossos olhos, os pastores; e vendou as vossas cabec¸as, os
padres.
Pelo que toda visa˜o vos e´ como as palavras dum livro selado que se
da´ ao que sabe ler, dizendo: Ora leˆ isto; e ele dira´: Na˜o posso, porque
esta´ selado.
Ou da´-se o livro ao que na˜o sabe ler, dizendo: Ora leˆ isto; e ele
responde: Na˜o sei ler.
Por isso o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e
com a sua boca e com os seus la´bios me honra, mas tem afastado para
longe de mim o seu corac¸a˜o, e o seu temor para comigo consiste em man-
damentos de homens, aprendidos de cor; portanto eis que continuarei a
fazer uma obra maravilhosa com este povo, sim uma obra maravilhosa e
um assombro; porque a sabedoria dos seus padres perecera´, e o entendi-
mento dos seus pastores se escondera´.
Ai dos que querem esconder profundamente o seu propo´sito do Sen-
hor, e fazem as suas obras a`s escuras, e dizem: Quem nos veˆ? E quem
nos conhece? (Is 29 : 9− 15/Para´frase)
Essa cena de Isa´ıas descreve com impressionante fidelidade as pra´ticas
religiosas das igrejas atuais.
Por sinal, um outro pensador tambe´m atinou com uma relac¸a˜o existente
entre estas pra´ticas e as drogas, vejam:
Na˜o sa˜o so´ as drogas e o a´lcool − a chamada religia˜o tambe´m tem
servido como um o´pio. Ela dopa as pessoas. E e´ claro que todas as re-
ligio˜es sa˜o contra as drogas, afinal elas atuam no mesmo mercado; lutam
contra a concorreˆncia. Se as pessoas usam o´pio, elas podem na˜o ser re-
ligiosas; podem na˜o precisar ser religiosas. Ja´ encontraram o o´pio para
que se incomodar com a religia˜o? E o o´pio e´ mais barato, exige menos
envolvimento. Se as pessoas esta˜o consumindo maconha, LSD e outras
drogas mais sofisticadas, elas naturalmente na˜o va˜o ser religiosas, pois
a religia˜o e´ uma droga muito primitiva. Por isso todas as religio˜es sa˜o
contra as drogas.
Na˜o que elas sejam realmente contra as drogas. E´ que as drogas sa˜o
concorrentes e, evidentemente, se as pessoas na˜o tiverem acesso a`s dro-
gas, elas fatalmente caira˜o nas armadilhas dos padres; na˜o lhes restara´
outra sa´ıda. Essa e´ uma forma de monopo´lio, pois so´ havera´ esse tipo
de o´pio no mercado e tudo o mais sera´ considerado ilegal. [. . .]
E existem diferentes combinac¸o˜es de o´pio − Cristianismo,
Hindu´ısmo, Maometismo, Jainismo, Budismo −, que na˜o passam de
combinac¸o˜es diferentes. (Osho/Conscieˆncia, p. 27)
26
Certa feita eu lia um artigo da internet no qual o autor argumentava
− dentro de determinado contexto − que de uma coisa ele tinha certeza:
“nenhum cientista pode refutar uma experieˆncia religiosa”. “Uma ex-
perieˆncia que se tem com Deus, na˜o pode ser contestada pela cieˆncia”, ar-
gumentava ele.
Apo´s refletir um pouco, cheguei a` conclusa˜o de que na˜o e´ bem assim.
Veja bem, a experieˆncia em si na˜o pode ser negada, nisto estou de acordo;
entretanto, a interpretac¸a˜o que se da´ a ela esta sim pode ser contestada. E´ o
que acontece em um sonho, por exemplo. Qualquer que seja a interpretac¸a˜o
que se deˆ a um sonho, mesmo por quem sonhou, pode ser contestada.
Reitero: uma coisa e´ uma experieˆncia, outra bem distinta e´ a inter-
pretac¸a˜o que se decida dar. Um contra-exemplo mais contundente: supon-
hamos, para efeitos dida´ticos, que um adolescente se masturbe pensando na
atriz ou modelo de sua predilec¸a˜o; certamente ele chegara´ ao orgasmo, mas
isto na˜o significa que a musa inspiradora tenha alguma coisa a ver com sua
experieˆncia − a na˜o ser o ter servido de inspirac¸a˜o.
De igual modo podemos conjecturar que possa da´r-se com muitas das
pra´ticas religiosas contemporaˆneas. A experieˆncia (“orgasmo”) existe, na˜o
pode ser negada, agora que Deus tenha algo a ver com isso − a na˜o ser o
ter servido de inspirac¸a˜o−, isto podemos discutir.
Quando assisto pela televisa˜o certas experieˆncias religiosas − frenesis,
gritos e lamu´rias − me pergunto se Deus tem algo a ver com tudo aquilo. A
impressa˜o que tenho e´ que os pastores se utilizam de determinados artif´ıcios
para anestesiar as incautas ovelhas da´ı que resulta no que a B´ıblia assinala:
“Pasmai, e maravilhai-vos; cegai-vos e ficai cegos; beˆbedos esta˜o, mas na˜o
de vinho, andam cambaleando, mas na˜o de bebida forte.”
Quando leio alguma frase ou pensamento ou argumentac¸a˜o que me toca
(sensibiliza) tenho a mania de divulga´-la em meus escritos; a pe´rola a seguir
se aplica tambe´m aos pastores o´bviamente:
Enganar-se-ia uma pessoa meio a meio, se se presumisse uma falta
de inteligeˆncia nos chefes do movimento crista˜o: − Ah! sa˜o astutos ate´
a` santidade os senhores padres da Igreja! o que lhes falta e´ outra coisa
muito distinta. A natureza descuidou-se, esqueceu-se de os dotar, ao
menos modestamente, de instintos convenientes e “limpos. . . ”
Seja dito entre no´s, na˜o sa˜o nem sequer homens. . . se o islamismo
despreza o cristianismo, tem mil razo˜es para isso; o islamismo tem
“homens” por condic¸a˜o prima´ria. (Nietzsche)
O filo´sofo Nietzsche (1844 - 1900) viveu no se´culo XIX, ha´ poucos dias
assisti a uma missa pela televisa˜o (Canc¸a˜o Nova) e tive a oportunidade de
ver materializado frente a meus olhos o que foi dito acima: “sa˜o astutos ate´
a` santidade os senhores padres e pastores das igrejas!”
Gentil 27
A t´ıtulo de exemplo, deixa eu ralatar-lhes uma santa astu´cia, uma ver-
dadeira obra de “engenharia teolo´gica”. Na missa o padre afirmava que as
ovelhas na˜o deveriam dar tanta importaˆncia aos pecados dos padres, o im-
portante e´ que eles foram ungidos por Deus para zelarem pelo rebanho, que
as ovelhas deviam obedieˆncia aos padres, na˜o importando a conduta destes,
por que assim o quiz Jesus.
Quer dizer que um padre pode ser um beberra˜o, um fumante, um men-
tiroso, um molestador de crianc¸as (pedo´filo), etc. etc., . . . tudo bem. Ao
que parece, os santos padres astutos fazem questa˜o de que esta lorota seja
assimilada pelas tolas ovelhas; com efeito, no pequeno livro cato´lico men-
cionado no cap´ıtulo anterior (p. 15) lemos:
Um apelo a todos, que vale tambe´m para mim, e vale para voceˆ leitor:
tomemos o propo´sito de nunca mais criticar a qualquer padre! Eles
sa˜o escolhidos por Deus, e claramente todo sacerdote e´ o espelho do povo,
da comunidade. [. . .]
Dos nossos pecados, o sacerdote cuida! Dos defeitos e pecados dos
padres cuida Deus! (p. 30)
Por “coincideˆncia” foi isto o que o padre afirmou na missa: “Dos nos-
sos pecados cuida Deus, dos pecados de voceˆs cuidamos no´s, que somos as
autoridades instituidas por Deus para perdoar pecados.”
Neste pequeno discurso (existe muito mais) posso detectar va´rias “santas
astu´cias”; primeira, se um padre na˜o presta a culpa e´ da comunidade, ja´
que o sacerdote e´ um espelho desta; segunda, ao mesmo tempo que eles jus-
tificam suas fraquezas (sem-vergonhices) ainda reforc¸am a autoridade sobre
as cegas ovelhas. Eles so´ esqueceram de uma coisa, de seguir o exemplo do
apo´stolo:
E todo aquele que luta de tudo se abste´m; eles o fazem para alcanc¸ar
uma coroa corrupt´ıvel, no´s, pore´m, uma incorrupt´ıvel. Pois eu assim
corro, na˜o como a coisa incerta; assim combato, na˜o como batendo no
ar. Antes, subjugo o meu corpo e o reduzo a` servida˜o, para que, pregando
aos outros, eu mesmo na˜o venha de alguma maneira ficar reprovado.
(1 Co: 9 : 25− 27)
Por oportuno, no programa que assisti∗ presenciei uma outra destas “san-
tas astu´cias”. A repo´rter perguntou a um padre (ou bispo, ou monsenhor,
na˜o lembro o posto) o que ele achava de toda aquela diversidade cultural e
religiosa. Ele respondeu que devemos ser tolerantes com as demais mani-
festac¸o˜es − vivemos em tempos de toleraˆncia − e que aceitar ou na˜o Jesus
e´ uma escolha pessoal. Eu percebi astu´cia na forma como ele se manifestou.
De fato, eles sa˜o tolerantes “a contragosto”, fazer o queˆ? − Na˜o podem
mais torturar e queimar os “hereges” como em tempos idos . . . o jeito e´
tolerar!
∗SBT Repo´rter, se na˜o me falha a memo´ria; o apresentador era o Ce´sar Filho.
28
E´ de surpreender que tenha havido ta˜o pouca oposic¸a˜o contra os abu-
sos praticados a favor de interesses eclesia´sticos. Uma das razo˜es para
isso parece ser a crenc¸a generalizada de que a religia˜o, hoje em dia,
e´ suave e tolerante e que as perseguic¸o˜es sa˜o coisas do passado. Esta
e´ uma ilusa˜o perigosa. Embora muitos lideres religiosos sejam, indu-
bitavelmente, amigos verdadeiros da liberdade e da toleraˆncia e, ainda,
partida´rios comprovados da separac¸a˜o entre Igreja e o Estado, ha´, infe-
lizmente, muitos outros que, se pudessem, se entregariam a perseguic¸o˜es
e que, de fato, o fazem, quando podem. (Bertrand Russel/[1], p. 4)
Nota: No pro´ximo cap´ıtulo estaremos denunciando uma destas intoleraˆncias
ainda em nossos dias. O fanatismo religioso esta´ longe de ter sido extinto.
Ademais, no momento em que ele afirmou que Jesus e´ uma escolha pes-
soal li nas entrelinhas que ele insinuava que apenas a igreja dele possuia o
monopo´lio sobre Jesus. Jesus e´ exclusividade dos cato´licos, a igreja entende
assim, embora eles astutamente procurem disfarc¸ar o fanatismo.
E´ por isso que tenho dito: voceˆ pode ate´ encontrar pessoas cultas e
inteligentes sentadas num banco de igreja “aprendendo” da boca de um
padre ou pastor, entretanto, jamais se encontrara´ um sa´bio nestas condic¸o˜es.
Inteligeˆncia e cultura e´ uma coisa, outra bem distinta e´ sabedoria. Nem
sempre estas convergem em um mesmo sujeito, alia´s raramente convergem.
Eu considero um computador culto e inteligente, ha´ os que derrotam ate´
campeo˜es mundiais de xadrez; por sinal os cientistas da computac¸a˜o criaram
ate´ a disciplina inteligeˆncia artificial, nunca ouvi falar que sequer tenham
cogitado de criar a disciplina “sabedoria artificial ”. Parafraseando Nietzsche
Enganar-se-ia uma pessoa meio a meio, se se presumisse uma falta
de inteligeˆncia nos chefes do movimento crista˜o: − Ah! sa˜o astutos ate´
a` santidade os senhores padres e pastores das Igrejas! o que lhes falta e´
outra coisa muito distinta. A natureza descuidou-se, esqueceu-se de os
dotar, ao menos modestamente, de sabedoria, de sensibilidade . . .
2.3 A imitac¸a˜o e´ um atentado contra a Natureza
Anteriormente afirmei que Jesus na˜o liberta, mas sim aprisiona. Claro,
alguns poderiam argumentar que as igrejas distorceram os ensinamentos de
Jesus e essa forma distorcida e´ que aprisiona os seres humanos.
Na˜o desconhec¸o essa perspectiva. Mesmo assim invoco em apoio a` minha
tese um eminente pensador:
Todos os redentores criaram tipos diferentes de escravido˜es. Na ver-
dade, ningue´m pode redimir outra pessoa. A pessoa pode redimir a si
mesma, mas fingir que “Sou o redentor, simplesmente acredite em mim
e o salvarei; sou o salvador, o u´nico verdadeiro salvador”, tem criado
aprisionamento.
Gentil 29
Essas priso˜es sa˜o espirituais e psicolo´gicas, por isso voceˆ na˜o as veˆ.
Sena˜o o que voceˆ quer dizer quando afirma: “Sou crista˜o”, ou “Sou
hindu”, ou “Sou budista”? Isso significa que “Acredito que Gautama
Buda sera´ meu redentor”, “Estou simplesmente esperando que Jesus
Cristo venha e me salve”.
Voceˆ abandonou todo esforc¸o para transformar a si mesmo − e esse
e´ o u´nico caminho que existe para qualquer tipo de transformac¸a˜o. Todos
esses redentores criaram apenas priso˜es para as pessoas. E os sacerdotes
continuam representando esses redentores mortos.
Esses sacerdotes tambe´m esta˜o aprisionados, mas pelo ao menos suas
priso˜es sa˜o lucrativas. Os outros que esta˜o aprisionados esta˜o simples-
mente desperdic¸ando seu tempo na espera. Todo o esperar e´ um esperar
por Godot, que nunca vem.
Toda religia˜o destro´i a dignidadedo homem, chama-o de pecador. Em
vez de dotar o homem de dignidade, tornando-o mais belo e mais ver-
dadeiro, tornando-o um deus sobre a terra, transformaram a humanidade
inteira numa multida˜o de pecadores. E tudo que voceˆs devem fazer e´:
“Subam as escadas de joelhos, seus pecadores!”
Eles chamam isso de adorac¸a˜o, de prece. Isso nada mais e´ que
suic´ıdio. Isso e´ destruir a si mesmo, sua auto-estima, seu respeito
pro´prio, sua dignidade. (Osho)
Observe a harmonia entre o pensamento do mı´stico e o do filo´sofo:
Toda concepc¸a˜o de Deus e´ uma concepc¸a˜o derivada dos antigos despo-
tismos orientais. E´ uma concepc¸a˜o inteiramente indigna de homens
livres. Quando vemos na igreja pessoas a menosprezar a si pro´prias e
a dizer que sa˜o misera´veis pecadores e tudo o mais, tal coisa nos parece
deprez´ıvel e indigna de criaturas humanas que se respeitem.
(Bertrand Russel/[1], p. 19)
Tributo
Por oportuno, vou me permiti abrir aqui um pareˆntesis para prestar um
tributo ao eminente lo´gico, filo´sofo e matema´tico Bertrand Russel − e a ou-
tros tantos eminentes ateus e agno´sticos∗ − que por ter sido um esp´ırito de
elevada estirpe aqui neste planeta, mesmo diante do vazio da morte mante´m
sua integridade intelectual e moral e na˜o dobra seus joelhos em busca de
consolo em poss´ıveis fantasias religiosas, como amiu´de ocorre com mir´ıades
de pobres esp´ıritos que na˜o teriam tanto a perder e a lamentar diante da
morte. De fato, sa˜o dignos de toda a minha admirac¸a˜o e respeito esp´ıritos
como estes, a exemplo do pro´prio Einstein, que tanto contribuiram com a
evoluc¸a˜o da humanidade e que, na˜o obstante, se despedem do nosso plano
sem mendigar − a`s religio˜es − nenhuma recompensa futura.
∗Bertrand Russel, ele mesmo na˜o se considera ateu mas sim agno´stico no sentido de que
na˜o consegue aceitar pela raza˜o a existeˆncia de Deus, todavia na˜o nega esta possibilidade.
30
Adendo: Um evange´lico que leu uma versa˜o anterior deste cap´ıtulo me
escreveu discordando da afirmativa anterior: “. . . e os sacerdotes continuam
representando esses redentores mortos ” − no que toca a Jesus − uma vez
que Buda, Maome´ e outros, argumenta ele, esta˜o no tu´mulo enquanto Jesus
na˜o, ressuscitou.
Respondi-lhe que entendo esta afirmativa algo diferente. O autor afirma
antes “Na verdade, ningue´m pode redimir outra pessoa”, e´ neste sentido que
entendo que todos os redentores esta˜o mortos: na˜o existem redentores! A
liberdade − da ignoraˆncia, de um n´ıvel inferior de conscieˆncia, etc. − e´
uma conquista pessoal, e´ isto o que a vida me mostra, na˜o e´ um simples
batismo e a recitac¸a˜o de fo´rmulas exote´ricas que vai tornar algue´m sa´bio
de um momento a outro. Reitero: nunca ouvi dizer de algue´m que tenha
mergulhado em um tanque batismal e, ao retornar, estivesse se iluminado.
Salvac¸a˜o, libertac¸a˜o, e´ isto: Iluminac¸a˜o.
Na˜o adianta um aluno relapso e negligente ter um excelente mestre, se ele
na˜o se esforc¸ar nunca saira´ do seu estado de ignoraˆncia, nunca sera´ “salvo”.
Retomando, poderiam argumentar, existem inu´meros exemplos de beˆba-
dos e drogados que abandonaram seus v´ıcios e hoje encontram-se dentro de
uma igreja louvando e adorando a Deus, isto na˜o e´ libertac¸a˜o?
Respondo: trocaram uma prisa˜o por outra, uma droga por outra. Se
houve progresso, em muitos casos isto na˜o e´ ta˜o evidente assim. Releia
Isa´ıas a` pa´gina 25. Reflitam sobre as seguintes passagens b´ıblicas:
Mas ai de vo´s, pastores e padres,
hipo´critas! Pois que fechais aos homens
o reino dos ce´us; e nem vo´s entrais, nem
deixais entrar aos que esta˜o entrando.
(Mt 23 : 13/Para´frase)
Ai de vo´s pastores e padres,
hipo´critas! porque percorreis o mar e a
terra para fazer um prose´lito; e, depois de
o terdes feito, o tornais duas vezes mais
digno do inferno do que vo´s.
(Mt 23 : 15/Para´frase)
Daqui minha lo´gica de matema´tico me permite deduzir que dentro de
uma igreja a chance de que um indiv´ıduo va´ para o inferno e´ duas vezes
maior do que a de algue´m que esteja fora dela. Ou existiria um erro em
minha infereˆncia?
Existe um pensamento relativo a` pol´ıtica que acho extremamente idiota:
“O pol´ıtico fulano de tal rouba mas faz ”. Um argumento imbecil destes
estaria justificado para qualquer profissa˜o: Um me´dico rouba mas faz, um
advogado rouba mas faz, um engenheiro rouba mas faz, um professor rouba
mas faz, etc.
Reitero: se este mote imbecil, idiota, vale para o pol´ıtico na˜o vejo raza˜o
pela qual na˜o deveria valer para as outras profisso˜es.
Um pol´ıtico deve fazer, sem roubar, porque esta e´ sua obrigac¸a˜o, ele
ganha no mı´nimo dez vezes mais que muitos trabalhadores honestos, por
que ele ainda teria o direito de roubar?
Gentil 31
Mas na˜o estamos tratando de pol´ıtica e sim de religia˜o. E´ que pelo lado
da religia˜o existe um pensamento ta˜o imbecil quanto este − ou mais − o
de que uma igreja encontra-se justificada apenas por “retirar muitos das
drogas”, “transformar vidas”, “realizar milagres”, etc; na˜o importando se
o seu l´ıder e´ um bandido, se o pastor distorce um vers´ıculo para roubar.
Uma igreja deve transformar vidas porque esta e´ sua obrigac¸a˜o, foi isto o
que eles escolheram fazer e ganham para isto. Um psico´logo, um psiquiatra
tambe´m salvam vidas, entretanto isto na˜o lhes confere o direito de serem
desonestos como uma maioria na˜o desprez´ıvel de l´ıderes religiosos.
E as ovelhas cegas sa˜o ta˜o cegas que ainda defendem seus pro´prios
tosquiadores. Muitas vezes me vejo pasmo, estupefato, por ver que o poc¸o
na˜o tem fundo no que diz respeito a` estupidez humana.
2.3.1 Na˜o e´ certo querer ser igual a Jesus
Se observarmos a Natureza veremos que a mesma prima (“zela”) pela
diversidade, pela singularidade; nada se repete na Natureza, na˜o existem
sequer duas folhas de uma mesma a´rvore que sejam iguais; se ha´ algo que
me fascina e´ a diversidade da vida marinha, a diversidade de fauna e flora.
Duas coisas absolutamente iguais seria um atentado contra a Natureza.
Certa feita, uma amiga minha me confidenciou que sentia-se culpada
por ter dificuldade em imitar o que ela achava bonito nas pessoas virtuosas.
Respondi que ela na˜o era obrigada a imitar ningue´m. Ela me respondeu:
“aquilo que se acha bonito deve-se imitar sim”.
Na˜o concordo, por exemplo, quando Sa˜o Francisco tirou a roupa, ficou
nu, e a entregou a seu pai; achei este um gesto de sua parte relativamente
bonito, no entanto, na˜o pretendo imita´-lo.
Jesus se deslocava, em sua e´poca, no lombo de um jumentinho, achei
bonito esse seu gesto, no entanto prefiro (e necessito) me deslocar em minha
motocicleta.
Jesus, segundo os relatos b´ıblicos, foi surpreendido va´rias vezes em orac¸a˜o
ao Pai. Achei isso bonito, mas na˜o sinto a necessidade de imitar Jesus. A
conjuntura na qual ele vivia foi uma, a minha e´ outra bem distinta.
Se eu tivesse como objetivo “seguir os passos de Jesus”, por exemplo na˜o
teria estudado matema´tica, foi com o pouco que aprendi desta disciplina que
consegui criar meus filhos.
Jesus nunca teve mulher e filhos, eu tenho quatro filhos que, por sinal,
estudam na mesma universidade em que eu leciono, isto me deixa contente.
Em suma, Jesus e´ Jesus e eu sou eu. Por que devo imita´-lo?
O que estou tentando dizer e´ que todo ser humano deve esforc¸ar-se em
construir sua pro´pria individualidade. Ja´ foi observado que as religio˜es sa˜o
os celeiros dos maiores hipo´critas do mundo. Eles esta˜o sempre tentando
“imitar” seus ı´dolos, delegando a outrem a responsabilidade da autocons-
truc¸a˜o.
32
O homem e´ o art´ıfice do seu destino:
tem que arrostar o esforc¸o de criar a si
mesmo. (Pietro Ubaldi)
Na˜o trata-se de ser igual ou melhor que ningue´m mas sim de ser dife-
rente − digo, de preservar sua individualidade, ou constru´ı-la. Eu na˜o quero
ser igual a nenhum dos grandes homens da histo´ria,aqui incluindo-se todos
os santos e “redentores da humanidade”, posto que isto, segundo entendo,
seria um atentado contra a pro´pria Natureza.
Lembro que ha´ muitos anos, quando eu ainda era crente, me queixei
a uma irma˜ da igreja: sinto que estou perdendo a minha individualidade
(personalidade), os pastores nos dizem que devemos nos esforc¸ar para sermos
iguais a Jesus. Eles te exibem um “manequim de gesso” como modelo, se
voceˆ e´ magro tem que engordar para caber ali dentro e se e´ gordo tem de
emagrecer.
Ela me respondeu: tu tens mais e´ que perder a tua individualidade mesmo
e ser igual a Jesus.
Ainda aos 26 anos me retirei da igreja sem ter conseguido ser igual a
Jesus. Hoje, aos 51 anos, na˜o tenho mais isto como uma das prioridades da
minha vida.
Por oportuno, esta e´ precisamente uma das razo˜es pelas quais muitos
casamentos desmoronam: Um dos conjuges “vampiriza” − tenta anular −
a individualidade do outro.
Na˜o sei se esta˜o me entendendo . . . reflita sobre o seguinte:
Todos os redentores criaram tipos diferentes de escravido˜es. Na ver-
dade, ningue´m pode redimir outra pessoa [. . .]
Voceˆ abandonou todo esforc¸o para transformar a si mesmo − e esse
e´ o u´nico caminho que existe para qualquer tipo de transformac¸a˜o. Todos
esses redentores criaram apenas priso˜es para as pessoas. E os sacerdotes
continuam representando esses redentores mortos. (Osho)
Os doutores teo´logos poderiam tecer mil e um argumentos contra o que
esta´ dito acima, acontece que a realidade − isto e´, o que nossos olhos nos
fazem ver − desmontaria fa´cilmente seus sofismas.
Pelo que percebo, as pessoas perdem bastante tempo na vida mendigando
isto ou aquilo dos santos, esquecem de partir para a conquista. E a Igreja
e´ ce´lere em manter esse estado afinal de contas e´ desta mendicaˆncia que ela
perpetua seu poderio sobre as massas, sobre os cegos.
E´ uma das leis da Natureza, ao que me parece, que tudo o que tem
Gentil 33
valor deve ser conquistado com esforc¸o pro´prio. Na˜o se transfere sabedoria
numa simples “transfusa˜o de sangue ”. Nunca vi um crente que tenha ficado
mais sa´bio ou mais inteligente pelo simples ato de “aceitar Jesus”. Pelo
contra´rio, tenho visto muitos diminuirem em sabedoria e discernimento, por
ficarem cegos e alienados. Vejam, por exemplo, a irma˜ do acaraje´. Se ela
na˜o tivesse aceitado Jesus compraria seu acaraje´ em uma banca que na˜o
tivesse fila; aceitando Jesus, no meu entendimento, ela ficou mais burra em
enfrentar uma longa fila, sendo que na banca ao lado, em frente, na˜o existia
fila nenhuma.
Ademais, doar dinheiro a bandidos − abutres parasitas − e´ cegueira e
burrice.
Este foi um mero exemplo colhido aleato´riamente, poderiamos arrolar
inu´meros outros nos quais os religiosos teˆm se revelados acanhados (tacan-
hos) em inteligeˆncia.
E´ por falta de inteligeˆncia que escu-
tamos os sacerdotes, que acreditamos em
suas ficc¸o˜es. (Osho)
Se formos contabilizar desde os primo´rdios ate´ nossos dias, na˜o tenho
du´vidas de que Jesus fez muito mais prisioneiros que “ex-escravos”. E´ sufi-
ciente observarmos os milhares e milho˜es de cegos enclausurados dentro das
igrejas hodiernas . . . e´ este o saldo de Jesus− e de outros supostos redentores.
Se hoje ainda na˜o faltam aqueles que
na˜o sabem em que medida e´ indecente
ser crente − ou um sinal de de´cadence,
de uma vontade de vida alquebrada −,
amanha˜ ja´ o sabera˜o. (Nietzsche)
Entendo perfeitamente que Jesus na˜o e´ culpado pelo que as aves de
rapina fizeram com os seus despojos, no entanto sua mensagem serviu para
o estrago que a´ı se veˆ.
Jesus afirmou − creio que um tanto quanto intempestivamente:
Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ningue´m vem ao Pai, sena˜o
por mim. (Jo 14 : 6)
Discordo de treˆs das quatro afirmativas acima: “Eu sou o caminho”,
“Eu sou a verdade”, “Ningue´m vem ao Pai, sena˜o por mim.”
Quanto a` quarta, eu na˜o sei o que e´ a vida. Veja, minha convicc¸a˜o
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em discordar destas assertivas, se fundamenta na realidade que meus olhos
testemunham. Leio em um livro espiritual, referindo-se a Deus: “Ele da´-me
uma extensa variedade de me´todos para usar para o progresso espiritual ”.
Qualquer pessoa, em sa˜ conscieˆncia, na˜o teria dificuldade em concordar
com esta afirmativa, qual seja, a de que Deus nos disponibiliza va´rios ca-
minhos para o progresso espiritual − porque e´ isto o que a realidade nos
mostra. Ou sera´ que todos os povos de todas as outras religio˜es do mundo
esta˜o no caminho errado? E somente os crista˜os esta˜o no caminho certo!?
Sinceramente na˜o creio nesta possibilidade. Mais a` frente estarei jus-
tificando por que na˜o creio que Jesus seja a verdade. Quanto a u´ltima
afirmativa de Jesus; ora, se Deus disponibiliza va´rios caminhos para o pro-
gresso espiritual e´ l´ıcito concluirmos que podemos chegar a Deus por um
caminho distinto de Jesus, na˜o e´ verdade?
Desta, e de outras passagens, podemos discernir claramente a geˆnese da
intoleraˆncia e fanatismo pro´prios dos crista˜os, neste sentido Jesus e´ culpado
sim. E na˜o e´ apenas eu que consegue enxergar isto:
A intoleraˆncia que se estendeu pelo mundo com o advento do cris-
tianismo constitui um de seus trac¸os mais curiosos, devido, penso eu, a`
crenc¸a judaica na justic¸a e na realidade exclusiva do Deus judeu. Por
que raza˜o os judeus deviam possuir tais peculiaridades, e´ coisa que ig-
noro. [. . .] Seja como for, os judeus, e mais especialmente os profetas
inventaram a ide´ia de que e´ pecado tolerar-se qualquer religia˜o, exceto
uma. Essas duas ide´ias tiveram efeitos extraordinariamente desastrosos
sobre a histo´ria ocidental. (Bertrand Russel/[1], p. 26)
Os crentes − toda a conjuntura religiosa atual − me obrigam a voltar-me
para os ensinamentos de Jesus, a refletir sobre o que ele disse. Nestas minhas
buscas cheguei a` conclusa˜o de que na˜o existem mestres “perfeitos”; tenho
tido contato com outras “verdades” mais adequadas aos “tempos moder-
nos”, mais eficazes, por assim dizer, para libertar os homens do atoleiro em
que eles se encontram patinando ha´ se´culos − mileˆnios.
O que me da´ convicc¸a˜o para uma afirmativa de tamanha envergadura e´
que, quase diria, na˜o conhec¸o um u´nico crista˜o que seja livre. Todos os que
se encontram dentro de uma igreja rezando, na˜o os considero livres − caso
contra´rio, na˜o estariam ajoelhados. Falo no seguinte sentido:
Quando sei de pessoas que se cur-
vam nas igrejas confessando-se misera´veis
pecadoras, e tudo o mais, tenho isso como
desprez´ıvel, incompat´ıvel com o respeito
que devemos a no´s pro´prios.
(Bertrand Russell)
Gentil 35
Por outro lado, na˜o creio que Jesus gozava de tanta intimidade com o
Pai, pelo ao menos na˜o tanto quanto padres e pastores querem nos fazer
crer. Na˜o apenas por ele ter sido “abandonado pelo Pai” na cruz, ou ter se
equivocado quanto a data do seu segundo advento
Em verdade vos digo que alguns ha´,
dos que aqui esta˜o, que na˜o provara˜o
a morte ate´ que vejam vir o Filho do
homem no seu reino. (Mt 16 : 28)
E, a` hora nona, Jesus exclamou com
grande voz, dizendo: Deus meu, Deus
meu, por que me desamparaste?
(Mc 15 : 34)
como tambe´m por ele na˜o ter sido ouvido em pelo ao menos uma de suas
orac¸o˜es, qual seja:
Para que todos sejam um, como tu, o´ Pai, o e´s mim, e eu, em ti;
que tambe´m eles sejam um em no´s, para que o mundo creia que tu me
enviaste. (Jo 17 : 21)
Veja, aqui Jesus esta´ orando pela unidade dos crista˜os. Eu na˜o sei
daqui para a frente mas ate´ hoje − isto e´, 2000 anos depois − Deus ainda
na˜o atendeu seu pedido. Pelo contra´rio os crista˜os esta˜o mais desunidos
do que nunca, e´ suficiente ver que as igrejas se multiplicam com a mesma
rapidez com que o fazem ce´lulas cancerosas em um tumor.
Os crista˜os andaram ate´ se matando em “guerras santas” entre cato´licos
e protestantes

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