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Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 1 de 99 AULA 02 - PODERES DA ADMINISTRAÇÃO Oi Pessoal, A vida não é mole, especialmente se você é concursando, não é verdade? E, nesse contexto de dificuldades, o Direito Administrativo tem sua contribuição. A disciplina contém vários pontos de divergência, de percalços. No entanto, para a tranquilidade de todos e felicidade da massa “concursística”, o tópico Poderes Administrativos não é um dos mais problemáticos. De fato, o assunto tem posições doutrinárias menos divergentes que em outras matérias (vocês perceberão isso em agentes públicos, por exemplo). É, ainda, de relativa facilidade de compreensão. No mais, o que vem abaixo será tratado na aula de hoje: 2.1 Definição: Deveres e Poderes Administrativos 2.2. Poderes vinculado e discricionário 2.3 Poder Regulamentar 2.4 Poder Hierárquico 2.5 Poder Disciplinar 2.6 Poder de Polícia 2.6.1 Considerações Gerais 2.6.2 Conceito 2.6.3 Meios de Atuação 2.6.4 Competência 2.6.5 Poder de Polícia Originário e Delegado 2.6.6 Fases ou Ciclo do Poder de Polícia 2.6.7 Sanções 2.6.8 Prescrição da Ação Punitiva 2.6.9 Atributos do Poder de Polícia 2.6.10 Polícia Administrativa e Judiciária 2.6.11 Limites ou Condições de Validade 2.6.12 Graus de Eficácia das Medidas de Polícia 2.7 Uso e Abuso de Poder Observação: foram intercaladas, ao longo da aula, questões das ilustres organizadoras Cespe e ESAF, e, ao fim, uma bateria com questões de FCC. Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 2 de 99 2. PODERES DA ADMINISTRAÇÃO 2.1. Definição: Deveres e Poderes Administrativos Como agrupamento de indivíduos politicamente organizado, o Estado é uma ficção jurídica, fruto da criação humana, de representação coletiva. Por ser uma abstração/ficção, o Estado não age por si mesmo. Verdade, o Estado “não tem braços e sequer pernas”. Precisa, bem por isso, dos braços e pernas motoras dos agentes públicos. Por sua vez, aos agentes públicos, dos mais variados níveis de atuação, a ordem jurídica confere prerrogativas diferenciadas, a serem utilizadas para a consecução dos interesses legítimos da sociedade. A esse conjunto de prerrogativas de Direito Público a que a ordem jurídica confere aos agentes públicos, no desempenho de tarefas de Administração Pública, para o fim de permitir que o Estado alcance seus fins, denomina-se Poderes da Administração. De regra, os Poderes Administrativos são concedidos por lei e destinam-se a instrumentalizar o administrador público para o atingimento do objetivo finalístico a que se presta o Estado: a satisfação dos interesses públicos. Para Dirley Cunha, os poderes são instrumentos de trabalho com os quais órgãos e entidades administrativas desenvolvem as suas tarefas e cumprem os seus deveres funcionais. Por isso mesmo, são chamados de poderes instrumentais, consentâneos e proporcionais aos encargos que são conferidos aos agentes públicos. Claro que nem tudo é ou são flores! Em contrapartida, por tutelarem interesses coletivos, impõe-se aos agentes públicos, de modo geral, uma série de deveres. Em determinadas hipóteses, pode-se afirmar que os Poderes Administrativos convertem-se em verdadeiros deveres administrativos. Sinteticamente: Enquanto o princípio da supremacia do interesse público sobre o privado remete-nos à ideia de poderes, o princípio da indisponibilidade, ao contexto dos deveres, formando o binômio poder-dever. Entendeu essa história de poder-dever ou dever-poder? Por exemplo: se determinado servidor comete corrupção passiva ou abandona o cargo (ausência acima de 30 dias consecutivos), tem a Administração a prerrogativa de apurar a infração e de aplicar a punição (poder disciplinar). Certo? Será, de fato, uma prerrogativa? Pode o administrador escolher entre punir ou não punir? Claro que não! Ou seja, o poder disciplinar é nitidamente um dever-poder de agir. Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 3 de 99 De fato, enquanto na esfera privada o poder é faculdade daquele que o detém, no setor público representa um dever do administrador para com a comunidade que representa. Hely Lopes fala, então, em poder- dever de agir: Enquanto para o particular, o poder de agir é uma faculdade, para o administrador público é uma obrigação de atuar, desde que se apresente a oportunidade de exercitá-lo em benefício da comunidade. Assim, se para os particulares o exercício do poder é uma faculdade, para os gestores públicos é uma obrigação. Dessa forma, em âmbito público, quem detém poder deve exercitá-lo, sob pena de a omissão acarretar responsabilidade para o Estado. Abre-se um parêntese para registrar que nem toda omissão é fonte de ilegalidade. Carvalho Filho faz menção à reserva do possível, para sustentar que nem todas as metas governamentais podem ser alcançadas, especialmente pela costumeira escassez de recursos financeiros. Essas omissões são genéricas, e, portanto, não acarretam a responsabilidade civil do Estado. Então, que tal renunciarmos aos deveres e aproveitarmos apenas das prerrogativas? O poder-dever de agir não pode ser renunciado, pois não são privilégios, são sim prerrogativas funcionais. Não pode o interesse público ficar ao sabor das vontades pessoais dos agentes públicos. E mais: não se tutela interesses privados no seio da Administração. Pode parecer estranho, mas acreditem, mesmo quando o Estado assina contratos privados (como é o exemplo do contrato de locação), o fim visado é o PÚBLICO; conquanto o Estado constitua uma Sociedade de Economia Mista (como o Banco do Brasil), o interesse é PÚBLICO (art. 173 da CF/1988 – pressupostos de segurança nacional ou relevante interesse público). Portanto, o exercício da função pública é verdadeiro encargo público (munus público). Afinal, por protegerem interesses de todos, os agentes públicos, de modo geral, encarregam-se de variados deveres, por exemplo: o de agir, o de obediência, o de prestar contas, o de lealdade, o de eficiência, o de fidelidade, e o de probidade (conduta ética). O dever de obediência, para Hely Lopes, impõe ao servidor o acatamento às ordens legais de seus superiores e sua fiel execução. Tal dever resulta da subordinação hierárquica e assenta no princípio disciplinar que informa toda organização administrativa. Por ordens legais entendem-se aquelas emanadas de autoridade competente, em forma adequada e com objetivos lícitos. Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 4 de 99 Todavia, o dever de obediência não é irrestrito! O cumprimento de ordem ilegal pode acarretar para o servidor, conforme o caso, responsabilidade disciplinar, civil e, quiçá, criminal. Por sua vez, o dever de prestar contas é um encargo, um munus público, imposto a todos aqueles que administram as coisas de terceiros. Na Administração Pública, referido dever ganha ainda mais destaque, afinal os agentes públicos são curadores dos escassos recursos públicos, pertencentes a toda a coletividade. A prestação de contas remete-nos à necessidadede transparência dos atos estatais (administrativos ou de governo), de visibilidade na aplicação dos dinheiros públicos. É um dever obrigatório para todos os agentes, tanto para os que atuam nas mais simples atribuições públicas, como para os agentes que ocupam a alta cúpula da Administração. Sobre o tema, no parágrafo único do art. 70 da CF, de 1988, encontramos a seguinte redação: Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária. Para Hely Lopes, o dever de prestar contas é decorrência natural da administração como encargo de gestão de bens e interesses alheios. Se o administrar corresponde ao desempenho de um mandato de zelo e conservação de bens e interesses de outrem, manifesto é que quem o exerce deverá contas ao proprietário. No caso do administrador público, esse dever ainda mais se alteia, porque a gestão se refere aos bens e interesses da coletividade e assume o caráter de um múnus público, isto é, de um encargo para com a comunidade. Daí o dever indeclinável de todo administrador público - agente político ou simples funcionário - de prestar contas de sua gestão administrativa, e nesse sentido é a orientação de nossos Tribunais. A prestação de contas não se refere apenas aos dinheiros públicos, à gestão financeira, mas a todos os atos de governo e de administração. Fixação (2010/FCC – TRE/AC – Técnico) O dever do Administrador Público de prestar contas: Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 5 de 99 (A) aplica-se a todos os órgãos e entidades públicas, exceto aos Tribunais de Contas por serem os órgãos encarregados da tomada de contas dos administradores. (B) aplica-se apenas aos agentes responsáveis por dinheiro público. (C) não alcança os particulares, mesmo que estes recebam subvenções estatais. (D) não se aplica aos convênios celebrados entre a União e os Municípios, por se tratar de acordo entre entidades estatais. (E) é imposto a qualquer agente que seja responsável pela gestão e conservação de bens públicos.1 (2004/CESPE/PGE-CE) Os poderes administrativos são instrumentais, sendo utilizados pela administração pública para cumprir suas finalidades.2 Quanto ao dever de lealdade com as instituições, também denominado dever de fidelidade, segundo Hely Lopes, exige-se de todo servidor a maior dedicação ao serviço e o integral respeito às leis e às instituições constitucionais, identificando-o com os superiores interesses do Estado. Tal dever impede que o servidor atue contra os fins e os objetivos legítimos da Administração, pois que, se assim agisse, incorreria em infidelidade funcional, ensejadora da mais grave penalidade, que é a demissão, vale dizer, o desligamento compulsório, e com caráter punitivo, do serviço público. Entre esses, o dever de eficiência traduz a ideia da boa administração, de que o agente, além de agir com rapidez, deve ser perfeito e deter bom rendimento funcional. Tal dever foi, inclusive, elevado a princípio constitucional (art. 37, “caput”, da CF/1988), sendo detectado, entre outros momentos, na: avaliação periódica de desempenho dos servidores, avaliação positiva de desempenho como condição para a aquisição de estabilidade, instituição de Escolas de Governo, e faculdade de celebração de contratos de gestão, neste caso, para incremento da autonomia financeira, orçamentária e patrimonial dos órgãos e entidades do Estado. 1 Gabarito: alternativa E. 2 Gabarito: Correto. Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 6 de 99 Por fim, o dever de probidade, traduzido no princípio da probidade, tem previsão expressa no texto constitucional (art. 37, § 4.º, da CF), em que a prática de atos de improbidade pode acarretar, por exemplo, a perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos. O dever de probidade exige que os atos dos agentes públicos sejam legítimos, éticos, não sendo suficiente o atendimento da lei formal, mas, sobretudo, a observância da moralidade administrativa e da finalidade pública. Por sua importância, o dever de probidade mereceu, ainda, Lei própria, a Lei 8.429/1992, a qual trata dos atos que geram enriquecimento ilícito, dos que causam prejuízo ao erário, ou ainda daqueles que ferem princípios da Administração. Tais atos ímprobos podem ser invalidados pela própria Administração, com base no princípio da autotutela, como também pelo Poder Judiciário, se provocado. Professor, esses tais Poderes Administrativos identificam-se com aqueles enumerados no art. 2º da CF, de 1988? Nem pensar! Vejamos. As expressões se iniciam por “Poder”, porém os adjetivos são distintos: administrativos e da República. Os poderes administrativos são instrumentais da Administração, enfim, são mecanismos de trabalho para cumprimento de tarefas de natureza administrativa. Já os Poderes Políticos (da República) são aqueles listados no art. 2º da CF/1988, Executivo, Legislativo e Judiciário. São estruturais, independentes, e inerentes à organização do Estado, integrando a organização constitucional, sendo que a inter-relação entre estes é objeto de estudo de ramo próprio do Direito, o Direito Constitucional. Fixação Não se pode enumerar como poder da Administração: a) poder normativo. b) poder de polícia. c) poder hierárquico. d) poder independente. e) poder disciplinar.3 3 Se você marcou letra “A”, volta e releia a matéria. A resposta é letra “D”. Poder Independente é Poder Estrutural, é Poder da República, portanto, imanente do Estado. Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 7 de 99 Fixação (2010/FCC – TRT/8R – Técnico) O servidor público que deixa de acatar as ordens legais de seus superiores e a sua fiel execução, infringe o dever de: (A) conduta ética. (B) eficiência. (C) obediência. (D) lealdade. (E) fidelidade. (2010/FCC – TRE/AC – Analista Judiciário) Acerca dos poderes e deveres do administrador público, é correto afirmar que: (A) o dever de prestar contas aplica-se apenas aos ocupantes de cargos eletivos e aos agentes da administração direta que tenham sob sua guarda bens ou valores públicos. (B) o agente público, mesmo quando despido da função ou fora do exercício do cargo, pode usar da autoridade pública para sobrepor-se aos demais cidadãos. (C) o poder tem, para o agente público, o significado de dever para com a comunidade e para com os indivíduos, no sentido de que, quem o detém está sempre na obrigação de exercitá-lo. (D) o dever de eficiência exige que o administrador público, no desempenho de suas atividades, atue com ética, honestidade e boa-fé. (E) o dever de probidade traduz-se na exigência de elevado padrão de qualidade na atividade administrativa. (2012/FCC/TRE-SP/Analista Administrativo) - Os poderes administrativos de um agente público a) podem ser exercidos segundo a sua conveniência. b) podem ser aplicados sempre que os políticosassim determinarem. c) devem ser exercidos obrigatoriamente quando determinar a lei. d) constituem um direito de agir, condicionado ao princípio da impessoalidade. Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 8 de 99 e) configuram um imperativo moral a que todo cidadão está obrigado.4 2.2. PODERES VINCULADO E DISCRICIONÁRIO A lei não é capaz de traçar rigidamente todas as condutas de um agente administrativo. Ainda que procure definir alguns elementos que lhe restringem a atuação, o certo é que em várias situações a própria lei lhe oferece a possibilidade de valoração da conduta. Nesses casos, pode o agente avaliar a conveniência e oportunidade dos atos que vai praticar na qualidade de administrador dos interesses coletivos (por Carvalho Filho). Não é difícil perceber a impossibilidade de a Lei prever todas as condutas a serem adotadas pelos administradores públicos, em face das situações concretas que se apresentam e que exigem pronta solução. Dessa maneira, por vezes, a Lei faculta ao administrador a liberdade de adotar uma dentre duas ou mais condutas hábeis, a qual deverá estar alinhada ao melhor atendimento do interesse público, o que resulta num juízo discricionário por parte do responsável pelo ato. Mas, atenção: o juízo discricionário de forma alguma pode ser confundido com um “livre arbítrio”, ou, ainda, arbitrariedade. De fato, a Administração Pública, ao contrário dos particulares de modo geral, só pode fazer aquilo que a Lei lhe determina ou autoriza (princípio da legalidade administrativa – art. 37, caput, da CF/1988). E, ainda que haja margem de opção, de discricionariedade, a conduta do agente deve estar pautada na Lei, não se admitindo ações que desbordem os limites da Lei. Portanto, falta ao administrador público a ampla e irrestrita possibilidade de escolher livremente as ações, uma vez que limitado, sempre, pela Lei. Assim, pode-se afirmar que arbitrariedade é, para a Administração Pública, sinônimo de ilegalidade. Na visão da maior parte dos estudiosos, a discricionariedade é resumida em um binômio: CONVENIÊNCIA E OPORTUNIDADE. A primeira parte do binômio indica em que condições vai se conduzir o agente (o modo de agir deste); a segunda, ao momento em que a atividade deve ser produzida. Por exemplo: o Poder Legislativo do Município “X” autorizou despesas orçamentárias na ordem de 200 milhões de reais, verba distribuída pelas mais diversas rubricas, como, por exemplo, saúde, educação, saneamento. O Prefeito, portanto, durante o exercício financeiro, pode executar livremente o orçamento, ressalvadas as vinculações constitucionais. Então, em que momento o Prefeito 4 Gabarito: Letra C. Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 9 de 99 determinará a construção da creche? Será que o Prefeito precisa construir escolas? Ou lhe é preferível a pavimentação das vias públicas? Perceba que, no caso da creche, o Prefeito tem o mês de janeiro, fevereiro, março, (...).Ele é quem escolhe o momento, a oportunidade. Já, no caso das escolas e pavimentação, há dois objetos possíveis, cabendo ao Prefeito escolher se é mais conveniente a execução das escolas, da pavimentação, ou dos dois programas de trabalho, enfim, o que lhe é mais conveniente. Muito bem, a discricionariedade, portanto, diz respeito à margem de avaliação por parte do agente público quanto à conveniência e à oportunidade de agir. A discricionariedade refere-se, ainda, ao conteúdo dos atos administrativos, ou seja, dois de seus elementos, o objeto e o motivo. Os elementos ou requisitos do ato administrativo são cinco: competência, finalidade, forma, motivo e objeto. Os três primeiros são sempre vinculados, ou seja, sobre estes o agente não possui liberdade quanto à decisão e à forma de agir. Assim, a discricionariedade, quando existente, diz respeito aos dois últimos, Motivo e Objeto, que constituem, em essência, o mérito administrativo, existente nos atos discricionários (apenas para registro: não são os elementos, em si, que constituem o mérito, e sim a condução de tais elementos, o seu manejo). O entendimento, acima, é comandado por Hely Lopes. O autor apresenta como elementos sempre regrados (vinculados): a competência, a finalidade e a forma. É a posição majoritária, e, por isso, a linha seguida nos concursos públicos. Porém, em concursos, não existem verdades absolutas, de modo que devemos atentar, igualmente, para as posições divergentes, como, por exemplo, de Di Pietro, para quem são elementos sempre vinculados: a competência e a finalidade em sentido estrito. Professor, li, em algum lugar, que o Poder Judiciário não pode controlar os atos discricionários. Isso é verdade? É só meio verdade! Vejamos. A discricionariedade é a margem de conveniência e oportunidade na condução da coisa pública. Como sobredito, essa margem é denominada de mérito administrativo. E, classicamente, considera-se o Poder Judiciário não detém competência para o exame do mérito. Ocorre que a discricionariedade é parcial e relativa, portanto, nota-se tendência a atenuar-se o contraponto entre legalidade e mérito, admitindo-se a apreciação judicial sobre a legalidade da discricionariedade e dos limites Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 10 de 99 de opção do agente público, especialmente levando-se em consideração os princípios da razoabilidade e proporcionalidade. Discricionariedade Arbitrariedade Liberdade de ação administrativa, dentro dos limites estabelecidos pela Lei. Ação contrária ou excelente à lei. Ato legal e válido, quando autorizado pela Lei. Sempre ilegítimo e inválido. O Judiciário pode se manifestar sobre a legalidade, mas não acerca do mérito. Sempre sujeito ao controle judiciário, desde que provocado. Passemos a um exemplo, tendo em conta a premissa de que é impraticável a norma prever todas as condutas a serem adotadas pelo administrador público. Nos termos da Lei 8.112, de 1990, a licença capacitação poderá ser concedida, a critério da Administração, para que um servidor faça um curso ligado às atribuições de seu cargo. A expressão “a critério da Administração” faz com que esta possa decidir se numa circunstância fática qualquer dará ou não a licença pleiteada pelo servidor, ou seja, decidir o conteúdo ou objeto do ato: defere ou não o pedido de licença? Fica a critério da Administração. Contudo, apesar da liberdade dada ao administrador nos atos administrativos discricionários, não há uma liberdade sem limites. Podemos citar alguns limites quanto à concessão da licença capacitação: I) Apontados pela Lei, nos termos do art. 87: curso ligado às atribuições do cargo, com duração de até três meses, e II) No caso de indeferimento do pedido, a necessidade de se motivar o ato denegatório, em razão do princípio da motivação dos atos da Administração Pública5. Em suma, a discricionariedade não é liberdade ampla e irrestrita. Ao contrário disso, a Administração sempre contará com limites no seu agir, de modo explícito ou implícito. Em verdade, a discricionariedade nunca é pura, é sempre relativa e parcial, afinal parte do ato administrativo é sempre vinculada.Basicamente, seguindo a doutrina de Maria Sylvia, podemos apontar que há discricionariedade para a Administração Pública nas seguintes situações: 5 Caput do art. 2º da Lei 9.784/1999 combinado com o art. 50 da mesma Lei. Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 11 de 99 I) A própria lei concede a possibilidade à Administração de agir de forma discricionária, como no caso de remoção de ofício do servidor, para atender necessidade de serviço; II) A lei é omissa, dado que não há viabilidade de se prever por meio de normas de cunho geral e abstrato todas as hipóteses que surgirão para a decisão administrativa; III) A lei prevê certa competência, mas não a conduta a ser adotada, diante de determinada situação. Melhor exemplo a ser dado no que se a este caso é em matéria de poder de polícia, para o exercício do qual é impossível traçar todas as condutas possíveis diante de lesão ou ameaça de lesão à vida, à segurança pública. Muitos doutrinadores afirmam haver discricionariedade por parte da Administração quando esta faz interpretação de conceitos jurídicos indeterminados. Ótimo! Mas o que são conceitos jurídicos indeterminados? Os livros de Direito Administrativo costumam indicar a existência de três modalidades de conceitos jurídicos indeterminados: técnicos, empíricos ou de experiência e de valor. Tais conceitos são estabelecidos pelo legislador, porém, de forma imprecisa, incerta, fluida. Tais conceitos, então, são dotados de largueza e ambiguidade, garantindo-se, nesse contexto, ao lado de uma zona de certeza, uma zona cinzenta ou zona gris – de penumbra, com a existência de conceitos plurissignificativos, elásticos (leia-se: não exatos e não matemáticos), como, por exemplo, os requisitos de relevância e urgência presentes para a edição de medidas provisórias. O que seria isso (relevância e urgência)?Para trazer um pouco mais de luz sobre o assunto, vamos “passear”, de forma sintética, nos conceitos jurídicos indeterminados. Os técnicos, apesar de aparentemente fluidos, não garantem margem de manobra para os administradores. Por exemplo: o que é um prédio em ruínas? Caberia a contratação direta ou sem licitação para sua reforma, sob pena da ocorrência de uma calamidade pública? Perceba a existência de certa imprecisão. Contudo, depois da emissão do laudo técnico pelo setor de engenharia responsável, restará uma única solução por parte do agente público. Da mesma forma, os conceitos empíricos ou de experiência, por exemplo: bons antecedentes e força maior, não oferecem flexibilidade aos Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 12 de 99 gestores públicos. Diante do caso concreto, haverá uma única solução cabível. Por fim, os conceitos de valor, como, por exemplo, interesse público, moralidade administrativa, relevância e urgência. Esses conceitos possibilitam certa margem de discricionariedade, distintamente dos técnicos e dos empíricos. Por exemplo: a Lei 10.520/2002 determina que a modalidade de licitação pregão se destine à aquisição de bens e serviços “comuns”. Mas o que seria o “comum”, para a Lei? Assim, em casos como este, de conceitos imprecisos - indeterminados, caberia uma interpretação por parte da Administração com certa margem de liberdade, daí dizer, discricionária, para parte da doutrina. Referência doutrinária (Carvalho Filho) A finalidade do ato administrativo pode ser tomada em duas acepções, ampla e restrita. Em sentido amplo corresponde sempre ao interesse público; em sentido restrito, significa o resultado que decorre, explícita ou implicitamente da lei, para cada ato administrativo. No primeiro sentido, pode-se dizer que a finalidade seria discricionária, porque a lei se refere a ela usando noções vagas e imprecisas, como ordem pública, segurança, bem-estar. Desse modo, quando a lei não estabelece critérios objetivos que permitam inferir quando tais fins são alcançados, haverá discricionariedade administrativa. Por exemplo: a autorização para fazer reunião em praça pública será outorgada segundo a autoridade competente entenda que ela possa ou não ofender a ordem pública. Em palavras diversas, referidos conceitos são aqueles cujo âmbito se apresenta em medida apreciável incerto, encerrando apenas uma definição ambígua dos pressupostos a que o legislador conecta certo efeito direito. Levando-se em conta justamente a ausência de padrões objetivos, surgem como mecanismos de controle os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, pelos quais se poderá evitar excesso de poder e adequação da conduta ao fim a que a norma se destina, como já visto anteriormente. Fixação CESPE - AUFC/TCU /2011 Considerando que os atos administrativos têm por finalidade a produção de efeitos jurídicos determinados, condizentes com o interesse público, julgue o item a seguir. Incluem-se na classificação de atos administrativos discricionários os praticados em decorrência da aplicação de norma que contenha conceitos jurídicos indeterminados. (Certo/Errado)6 6 Item CERTO. Os conceitos jurídicos indeterminados são conceitos fluidos, os quais, portanto, admitem, quanto ao valor, margem de discricionariedade. Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 13 de 99 (2007/CESPE/PC-PA/TEC EM ADM) O poder discricionário do agente público pode decorrer de liberdade de decisão atribuída ao agente em decorrência de norma legal.7 Por fim, contraposto ao Poder Discricionário, há o Poder Vinculado ou Regrado, enfim, aquele conferido por Lei à Administração para a prática de atos nos quais a liberdade de atuação é mínima, ou mesmo inexiste. Na definição de Hely Lopes, poder regrado ou vinculado é aquele que o Direito Positivo confere à Administração Pública para a prática de ato de sua competência, determinando os elementos e requisitos necessários à sua formação. Por exemplo: A servidora pública do órgão “Y” teve seu primeiro filho. Qual é a margem de discricionariedade de a Administração indeferir a licença gestante, e indeferir a licença paternidade do pai, se igualmente servidor público? A resposta é ZERO! Inexiste opção! Agora, um servidor do órgão “W”, depois de doze meses de efetivo exercício (primeiro ano no órgão), requer férias. Então, tem direito a férias? Claro que sim! Pode o chefe indeferir? Claro que não! Porém, o chefe pode denegar o pleito para o mês de julho? Sim, se, por exemplo, houver um número insuficiente de servidores na repartição! Enfim, o ato é vinculado, mas há mínima margem de discricionariedade, de oportunidade. Nos atos vinculados, a doutrina majoritária informar que todos os elementos que o compõem encontram expressa previsão legal, sendo que o órgão/entidade responsável pela prática do ato não goza de liberdade para implementação dos atos vinculados, para os quais haveria uma única saída prevista na Lei, por esta determinada. Alguns outros autores consideram não existir “Poder Vinculado”, uma vez que este não encerra prerrogativa do Poder Público, mas mera restrição à atuação administrativa. E, ainda assim, para a doutrina poucas são as situações de vinculaçãopura, não sendo recomendável, por isso, a oposição rígida entre poder vinculado e discricionário, devendo ser considerado o aspecto dominante no exercício do poder. São exemplos clássicos de poder vinculado: a licença para construir e a aposentadoria compulsória. Por fim, para determinados autores, da mesma forma que a vinculação, a discricionariedade não seria propriamente um Poder, mas característica da atuação da Administração Pública no exercício dos seus reais Poderes Administrativos, o Disciplinar, o Normativo, o 7 Gabarito: CERTO. De fato, toda discricionariedade decorre da Lei. Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 14 de 99 Hierárquico e o de Polícia. Esse é o entendimento, por exemplo, da Profª. Maria Sylvia Di Pietro, para quem os poderes vinculado e discricionário não existem como poderes autônomos, sendo, em verdade, atributos de outros poderes ou de competências administrativas, não se tratando, pois, de prerrogativas do Poder Público. Fixação (2005/CESPE/ANCINE/ADVOGADO) Poder discricionário é o que o direito concede à administração, de modo explícito ou implícito, para a prática de atos administrativos com liberdade na escolha de sua conveniência, oportunidade e conteúdo. (Certo/Errado) Comentários: Como sobredito, a Administração Pública de quaisquer das entidades públicas políticas e administrativas é dotada de poderes administrativos, verdadeiras ferramentas de trabalho para a efetivação do interesse da coletividade. Entre tais prerrogativas, destacam-se os poderes: vinculado, regulamentar, hierárquico, disciplinar e discricionário. Relativamente à função discricionária, a doutrina conceitua-a como a prerrogativa concedida por lei aos administradores, de forma expressa ou implícita, para a prática de atos com maior liberdade de escolha de sua conveniência, oportunidade e justiça. Exatamente como apresentado no quesito ora em análise, daí sua correção. Fixação (2011/CESPE/TCU/AUFC/Auditoria) A razoabilidade funciona como limitador do poder discricionário do administrador. Comentários: O poder discricionário não é sinônimo de arbítrio. Por conta disso, conta com limites, impostos diretamente ou indiretamente pelo ordenamento jurídico. Dentre eles, a razoabilidade, a necessidade, a adequação e a proporcionalidade. Fixação Os poderes vinculado e discricionário, simultaneamente, podem ser exercidos pela autoridade administrativa, na prática de um determinado ato, ressalvado que esse último se restringe à conveniência e oportunidade, bem como quanto: a) ao conteúdo. b) à forma. c) à finalidade. d) à competência. Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 15 de 99 e) ao modo. Comentários: Para a resolução dos casos concretos, a lei deixa margem de valoração subjetiva quanto aos elementos de formação motivo e objeto/conteúdo, afinal ao legislador não é dado prever todas as hipóteses a exigir a atuação da Administração. O exercício da função administrativa, no entanto, é sempre relativo e parcial, isso porque atos discricionários praticados por agentes incompetentes e informados por finalidades estranhas ao interesse público, por arbitrários, são nulos e ilegítimos. Assim, a discricionariedade administrativa não é ilimitada, havendo restrições advindas dos princípios gerais do Direito e das regras de boa administração, as quais deságuam nos preceitos da moralidade administrativa. Nesse contexto, resta patente a relação entre a discricionariedade e a moralidade administrativa. De acordo com o princípio da moralidade, aos administradores não é dado só se certificarem dos critérios de conveniência e de oportunidade, mas também distinguir o honesto do desonesto, o justo do injusto. As soluções escolhidas pelos administradores devem ser realistas e razoáveis, concorrendo efetivamente para o alcance de resultados legítimos. Gabarito: alternativa A. Fixação O mérito administrativo, na atuação do administrador público, cujo controle jurisdicional sofre restrições, condiz em particular com o exercício regular do seu poder: a) disciplinar b) hierárquico c) de polícia d) discricionário e) vinculado Comentários: O mérito administrativo é a margem de conveniência e oportunidade garantida por lei aos administradores, presente nos atos discricionários (alternativa D). E, a fim de não ficar comprometido o princípio da Separação dos Poderes, fica vedado ao Poder Judiciário imiscuir-se no mérito. Agora, se os administradores se desviarem desse roteiro, executando atos que, apesar de discricionários, visem a objetivos diversos do interesse público, incidirão em imoralidade por desvio de finalidade/poder, vício que tanto Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 16 de 99 pode ser reconhecido pela própria Administração, como pelo Poder Judiciário. Gabarito: alternativa D. Fixação Com referência à discricionariedade, assinale a afirmativa verdadeira. a) A discricionariedade manifesta-se, exclusivamente, quando a lei expressamente confere à administração competência para decidir em face de uma situação concreta. b) O poder discricionário pode ocorrer em qualquer elemento do ato administrativo. c) É possível o controle judicial da discricionariedade administrativa, respeitados os limites que são assegurados pela lei à atuação da administração. d) O princípio da razoabilidade é o único meio para se verificar a extensão da discricionariedade no caso concreto. e) Pela moderna doutrina de direito administrativo, afirma-se que, no âmbito dos denominados conceitos jurídicos indeterminados, sempre ocorre a discricionariedade administrativa. Comentários: Vamos direto às análises. A resposta é letra C. O controle judicial incide sobre os atos vinculados e discricionários da Administração Pública. Quanto à incidência sobre os atos discricionários, o controle deve ser limitado, afinal há uma região que é intocável, o tal mérito administrativo, uma reserva da Administração. Vejamos, abaixo, os erros nos demais quesitos. a) A discricionariedade manifesta-se, exclusivamente, quando a lei expressamente OU IMPLICITAMENTE confere à administração competência para decidir em face de uma situação concreta. b) O poder discricionário NÃO pode ocorrer em qualquer elemento do ato administrativo. d) O princípio da razoabilidade é o único meio para se verificar a extensão da discricionariedade no caso concreto, MAS NÃO É O ÚNICO MEIO, HÁ OUTROS PRINCÍPIOS, COMO LEGALIDADE, PROPORCIONALIDADE, POR EXEMPLO. e) Pela moderna doutrina de direito administrativo, afirma-se que, no âmbito dos denominados conceitos jurídicos indeterminados, sempre NEM ocorre a discricionariedade administrativa, ISSO PORQUE, NOS CONCEITOS TÉCNICOS E EMPÍRICOS, NÃO HÁ DISCRICIONARIEDADE. ESTA RESIDE APENAS NOS Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 17 de 99 CONCEITOS DE VALOR. Gabarito: alternativa C. 2.3. PODERREGULAMENTAR Regulamentação não é sinônimo de regulação, porque esta última expressão abrange não apenas a edição de atos normativos, mas a fiscalização de seu cumprimento, a imposição de sanções e a mediação de conflitos (por Odete Medauar). Como enfatizado, não há como o legislador prever todas as soluções a serem adotadas, em face das situações reais enfrentadas pela Administração Pública. Ao legislador não cabe tornar exequível todas as normas que edite. A tarefa tornar-se-ia onerosa demais, desvirtuando do sentido de abstração e de generalidade inerente das Leis. Logo, incumbe à Administração complementar as leis, criando os mecanismos para o efetivo alcance dos objetivos do Estado (ligados ao interesse público, lembre-se!). Essa é a principal característica do Poder Regulamentar, o qual pode ser entendido como a prerrogativa dada à Administração Pública, mais precisamente chefe do Executivo, de editar atos gerais para detalhar, esmiuçar as leis, e, por conseguinte, permitir sua efetiva concretização. Antes de prosseguirmos, é oportuno distinguir que nem todos os Decretos expedidos pelos chefes do Executivo são atos administrativos em termos materiais. O art. 84 da CF, de 1988, por exemplo, atribui ao presidente da República a competência privativa para decretar a intervenção, estado de sítio e estado de defesa. Nessas situações, está-se diante da função política, de atos tipicamente de governo. Para Celso Antônio, o exercício do Poder Regulamentar pode ensejar abusos por parte da Administração, ao eventualmente inovar no ordenamento jurídico e, portanto, descumprir o basilar princípio da legalidade. Para o autor, a norma regulamentar se propõe a: >> Dispor sobre o procedimento de operação da Administração nas relações que decorrerão com os administrados quando da execução da lei. >> Limitar a discricionariedade administrativa. >> Caracterizar fatos, situações ou comportamentos enunciados na lei mediante conceitos vagos. >> Decompor analiticamente o conteúdo de conceitos sintéticos, mediante discriminação integral do que neles se contém. Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 18 de 99 Mas, Professor, no Brasil, a tripartição de Poderes não é flexível? Ao lado da função primordial, o Poder não pode exercer uma atividade atípica? Verdade. Tanto que o Direito Administrativo espalha-se por todos os Poderes. É inimaginável pensarmos em Poder Legislativo sem departamentos administrativos, ou Poder Judiciário sem serviços de protocolo. Por isso, alguns autores preferem falar em Poder Normativo em vez de Poder Regulamentar, uma vez que este representa, para estes autores, apenas uma das formas pelas quais se expressa aquele (normativo), coexistindo com outras. Nesse contexto, o Poder Normativo é gênero, no qual se encontra a espécie Poder Regulamentar. “No essencial”, o Poder Regulamentar é o exercido pelos chefes do Executivo. Com efeito, a CF/1988 dispõe no inc. IV do art. 84 que compete ao presidente da República privativamente, dentre outras atribuições: sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução. Professor, por que no “essencial”? O Poder Regulamentar não é o privativo do chefe do Executivo, apenas? É que a produção de atos administrativos normativos também pode ser feita por outras autoridades, órgãos ou entidades. Os Ministros de Estado, por exemplo, podem editar atos normativos, exemplo das instruções e portarias (inc. II do art. 87 da CF/1988). E, nesse contexto, há quem denomine tal atividade exercida por outras autoridades, que não o chefe do Poder Executivo, de Poder Regulamentar de 2º Grau. Referência doutrinária (Carvalho Filho) Considerando nosso sistema de hierarquia normativa, podemos dizer que existem graus diversos de regulamentação conforme o patamar em que se aloje o ato regulamentador. Os decretos e regulamentos podem ser considerados como atos de regulamentação de primeiro grau; outros atos que a eles se subordinem e que, por sua vez, os regulamentem, evidentemente, com maior detalhamento, podem ser qualificados como atos de regulamentação de segundo grau, e assim por diante. Como exemplo de atos de regulamentação de segundo grau, podemos citar as instruções expedidas pelos Ministros de Estado, que têm por objetivo regulamentar as leis, decretos e regulamentos, possibilitando sua execução. Até aqui, falou-se de presidência e ministérios, porém não há motivo de serem excluídas as entidades administrativas (as pessoas jurídicas integrantes da Administração Indireta). As Agências Reguladoras (autarquias em regime especial), por exemplo, podem editar normativos em suas áreas de atuação (Poder Normativo Técnico). Os atos normativos expedidos pelos chefes dos Executivos e seus auxiliares (ministros e secretários, conforme o caso) não se confundem, contudo, com as leis, apesar da proximidade quanto ao conteúdo abstrato Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 19 de 99 e geral. No que consistiria, então, a diferença dos normativos administrativos, para as Leis? Para resolver isso, de início, que tal lembrarmos a semelhança entre ambos? São normas, não é verdade? Todavia, as Leis são normas originárias, criando, de regra, o direito novo. Isso se dá com as Leis, sobretudo no que diz respeito à criação de novas obrigações, em razão de disposição constitucional expressa, o inc. II do art. 5º da CF/88, que dispõe: ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de LEI. De sua parte, os atos normativos administrativos possuem natureza derivada, são atos secundários, uma vez que deverão estar adstritos aos limites que lhes impõem as Leis. Como exemplo do que se afirma, releiam o inc. IV do art. 84 da CF/1988: os decretos editados pelo Presidente da República serão expedidos para fiel cumprimento das Leis, as quais lhe constituem limite, portanto. Inclusive, à vista da natureza secundária, o STF não admite o controle de constitucionalidade dos Decretos Regulamentares. Vejamos: ADI 2387 / DF - DISTRITO FEDERAL É firme a jurisprudência deste Supremo Tribunal no sentido de que a questão relativa ao decreto que, a pretexto de regulamentar determinada lei, extrapola o seu âmbito de incidência, é tema que se situa no plano da legalidade, e não no da constitucionalidade. ADI 1435 MC / DF – DISTRITO FEDERAL Decretos existem para assegurar a fiel execução das leis (artigo 84- IV da CF/88). A Emenda Constitucional n. 8, de 1995 - que alterou o inciso XI e alínea a do inciso XII do artigo 21 da CF - é expressa ao dizer que compete à União explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei. Não havendo lei anterior que possa ser regulamentada, qualquer disposição sobre o assunto tende a ser adotada em lei formal. O decreto seria nulo, não por ilegalidade, mas por inconstitucionalidade, já que supriu a lei onde a Constituição a exige. Enfim, o Poder Regulamentar não pode inovar ou extrapolar o que dispõe a norma primária (ROMS/STJ 22828): 1. O decreto, como norma secundária - que tem função eminentemente regulamentar, conforme o art. 84, inc. IV, da Constituição Federal -, não pode contrariar ou extrapolar a lei, norma primária. Não pode restringir os direitos nela preconizados.Isso porque tão-somente a lei, em caráter inicial, tem o poder de inovar no ordenamento jurídico. Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 20 de 99 2. Os Decretos Estaduais 2.697/04 e 2.815/04 modificaram substancialmente a forma de cálculo da Indenização de Estímulo Operacional, parcela destinada ao pagamento de serviço extraordinário e noturno, consoante estabelecido nas Leis Complementares Estaduais 137/95 e 254/03. Em consequência, quanto a esse aspecto, mostram-se ilegais, porquanto contrariam a lei. 3. Os decretos em referência foram além das leis que regulamentaram, ao autorizarem que o administrador não mais pagasse ao servidor público o valor correspondente às horas extras efetivamente trabalhadas, de acordo com a forma de cálculo fixada pela lei, permitindo, assim, o enriquecimento sem causa do Estado. Além disso, permitiram que o servidor público percebesse menos pela mesma quantidade de horas extras prestadas. Assim, violaram o princípio da irredutibilidade de vencimentos, preconizado pelo art. 37, inc. XV, da Constituição Federal. HC/STF 85060 9. Não há delegação de competência legislativa na hipótese e, pois, inconstitucionalidade. Quando o Executivo e o Judiciário expedem atos normativos de caráter não legislativo - regulamentos e regimentos, respectivamente - não o fazem no exercício da função legislativa, mas no desenvolvimento de função normativa. O exercício da função regulamentar e da função regimental não decorrem de delegação de função legislativa; não envolvem, portanto, derrogação do princípio da divisão dos poderes. Ainda sobre o tema, transcreve-se trecho do Recurso Especial 584798, em que o STJ fixa as balizas dos Decretos tipicamente Regulamentares: ADMINISTRATIVO. IMPORTAÇÃO DE BEBIDAS ALCÓOLICAS. PORTARIA Nº 113/99, DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO. IMPOSIÇÃO DE OBRIGAÇÃO NÃO PREVISTA EM LEI. AFRONTA AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. 1. O ato administrativo, no Estado Democrático de Direito, está subordinado ao princípio da legalidade (CF/88, arts. 5º, II, 37, caput, 84, IV), o que equivale assentar que a Administração só pode atuar de acordo com o que a lei determina. Desta sorte, ao expedir um ato que tem por finalidade regulamentar a lei (decreto, regulamento, instrução, portaria, etc.), não pode a Administração inovar na ordem jurídica, impondo obrigações ou limitações a direitos de terceiros. 2. Consoante a melhor doutrina, "é livre de qualquer dúvida ou entredúvida que, entre nós, por força dos arts. 5, II, 84, IV, e 37 da Constituição, só por lei se regula liberdade e propriedade; só por lei se impõem obrigações de fazer ou não fazer. Vale dizer: restrição alguma se impõem à liberdade ou à propriedade pode ser imposta se não estiver previamente delineada, configurada e estabelecida em alguma lei, e só para cumprir dispositivos legais é que o Executivo pode expedir decretos e regulamentos." (Celso Antônio Bandeira de Mello. Curso de Direito Administrativo. São Paulo, Malheiros Editores, 2002, págs. 306/331) Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 21 de 99 3. A Portaria nº 113/99, do Ministério da Agricultura e do Abastecimento, a pretexto de regulamentar o cumprimento do disposto na Lei 8.918/94 e no Decreto nº 2.314/97, sobre os requisitos para a importação de bebidas alcóolicas, inovou na ordem jurídica, impondo obrigação não prevista em lei, in casu, a apresentação, para o desembaraço aduaneiro das mercadorias, da declaração consular da habilitação do importador pelo estabelecimento produtor, em afronta ao princípio da legalidade. 4. Deveras, a imposição de requisito para importação de bebidas alcóolicas não pode ser inaugurada por Portaria, por isso que, muito embora seja ato administrativo de caráter normativo, subordina-se ao ordenamento jurídico hierarquicamente superior, in casu, à lei e à Constituição Federal, não sendo admissível que o poder regulamentar extrapole seus limites, ensejando a edição dos chamados "regulamentos autônomos", vedados em nosso ordenamento jurídico, a não ser pela exceção do art. 84, VI, da Constituição Federal. 5. Recurso especial a que se nega provimento Professor, e se, apesar da diretriz constitucional, o Decreto Regulamentar extrapolar o conteúdo da Lei? Nesse caso, teremos, como sobredito, o controle de legalidade a cargo do Poder Judiciário (acaso provocado), e o controle político, exercido, na esfera federal, exclusivamente pelo Congresso Nacional, ao qual caberá SUSTAR os efeitos do Decreto do Executivo que exorbite dos limites do Poder Regulamentar. Cuidado para não confundir “sustar” com “revogar” ou “anular”. A anulação e revogação são formas de desfazimento dos atos administrativos, ou seja, há a retirada do mundo jurídico; ao passo que, na sustação, o ato não é cancelado, retira-se apenas a sua eficácia, para, portanto, de produzir efeitos. ADI 1553 REGULAMENTO - BALIZAS - SUSTAÇÃO - EXECUTIVO VERSUS LEGISLATIVO. Mostra-se constitucional decreto legislativo que implique sustar ato normativo do Poder Executivo exorbitante do poder regulamentar. TETO - APLICAÇÃO - LEI E REGULAMENTO. O regulamento pressupõe a observância do objeto da lei. Extravasa- a quando, prevista a aplicação do teto de remuneração de servidores considerada a administração direta, autárquica e fundacional, viabiliza a extensão às sociedades de economia mista e empresas públicas. Por todo o exposto, não há dúvida de que os decretos constituem uma das formas de expressão do Poder Normativo da Administração Pública, assim como o são as Resoluções, as Instruções, Portarias e Deliberações, desde que dotadas de caráter normativo, ou seja, genéricas e abstratas. Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 22 de 99 Professor, é verdade que os Decretos do Executivo não podem inovar? Sim, é verdade! Mais não é uma verdade absoluta, há exceção: a figura dos Decretos Autônomos. Então, a Administração Pública pode adotar atos administrativos autônomos com relação às Leis? O certo é que os decretos/regulamentos de execução são regras jurídicas gerais, abstratas e impessoais, concebidas em função de uma lei, para lhe dar fiel execução e referentes à atuação da Administração. No âmbito federal, a competência para expedição desses decretos é do Presidente da República (art. 84, inc. IV), sendo tal competência indelegável (parágrafo único do art. 84). Fundamento básico para a edição de decretos de execução é que estes devem ser editados em função de uma Lei que futuramente exigirá a participação da Administração na sua efetivação. Assim, não seria razoável, ou mesmo legal, a Administração, sob a argumentação de estar no exercício do Poder Regulamentar, expedir decretos de execução em razão de normas que nada tem a ver com o exercício de suas atribuições, tais como alguns dispositivos de Direito Comercial, por exemplo. Já os Decretos Autônomos foram reintroduzidos em nossa ordem jurídica por intermédio da Emenda Constitucional 32/2001. A partir da promulgação desta, compete ao Presidente da República dispor, mediante decreto, sobre: a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicaraumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 23 de 99 b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos. Ressalta-se que, a despeito do que estabelece a alínea “a”, a criação e extinção de Ministérios e órgãos da Administração Pública continua a depender de Lei (art. 88 da CF – reserva legal). São duas situações distintas, então: tratando-se de organização/funcionamento da administração federal (alínea “a”), competência do Presidente da República, por meio de decreto autônomo, competência que é delegável, nos termos do art. 84, parágrafo único da CF/1988; já a criação/extinção de Ministérios é matéria a ser tratada em LEI. Hoje, para fins de concurso público, deve ser aceita a existência de Decretos Autônomos tão só nas hipóteses listadas acima. E, no caso, em regulamentos de organização. Mas, Professor, em que residiria a autonomia desses atos administrativos? E os que são regulamentos de organização? Vejamos. Na doutrina, Maria Sylvia Di Pietro nos sintetiza a distinção entre regulamentos jurídicos ou normativos e regulamentos administrativos ou de organização. Enquanto os regulamentos jurídicos fixam diretrizes sobre relações de supremacia geral, quer dizer, que se ligam todos os particulares ao Estado (p. ex., o uso do poder de polícia), voltando-se para fora da Administração Pública; os regulamentos administrativos ou de organização contêm normas sobre a organização administrativa ou sobre as relações entre os particulares que estejam em situação de submissão especial ao Estado, decorrente de um título jurídico especial (a exemplo da concessão de serviço público, da outorga de auxílios ou subvenções, a nomeação de servidor público, a convocação para o serviço militar a internação em hospital público). Quanto à discricionariedade, nos casos de regulamentos jurídicos, em que o poder regulamentar é menor, HÁ MENOS DISCRICIONARIEDADE. A lógica é bem simples. Os particulares só podem ser obrigados a fazer ou deixar de fazer o que está na lei, e, bem por isso, o regulamento tem pequena margem de discricionariedade. Por sua vez, nos casos de regulamentos administrativos ou de organização, a discricionariedade administrativa no estabelecimento de normas é maior porque a situação de sujeição do cidadão é especial, presa a um título jurídico emitido pela própria Administração, podendo, por isso, ser baixados com maior liberdade. Perceba que, em todo caso, em menor ou maior medida, o ato administrativo normativo será sempre discricionário. Fixação Assinale a afirmativa falsa quanto à discricionariedade do ato administrativo. Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 24 de 99 a) O exercício do poder de polícia pode ser enquadrado no âmbito dos conceitos legais indeterminados. b) O controle jurisdicional dos atos discricionários limita-se aos seus aspectos de legalidade. c) Os atos administrativos normativos nem sempre são discricionários. d) O princípio da razoabilidade pode ser utilizado para o controle do mérito do ato discricionário. e) Tratando-se de conceitos ditos empíricos ou de experiência, fica afastado o exercício do poder discricionário.8 Já a “autonomia” vem do Decreto dessa natureza não se ater aos limites postos por uma Lei, como no caso dos regulamentares, mas de se arvorar diretamente no texto constitucional, ou seja, de irem além da lei (praeter legem) e não só até os limites desta (secundum legem). Fixação (2010/FCC – TCE/RO – Procurador) O poder normativo conferido à Administração Pública compreende a (A) edição de decretos autônomos para criação e extinção de órgãos públicos, na medida em que são tradução de seu poder de auto- organização. (B) edição de atos normativos de competência exclusiva do Chefe do Executivo, tais como, decretos regulamentares, resoluções, portarias, deliberações e instruções. (C) promulgação de atos normativos originários e derivados, sendo os primeiros os regulamentos executivos e os segundos, os regulamentos autônomos. (D) promulgação de atos legislativos de efeitos concretos, desde que se refiram a objeto passível de ser disposto por meio de decreto regulamentar. (E) edição de decretos autônomos, restringindo-se estes às hipóteses decorrentes de exercício de competência própria, outorgada diretamente pela Constituição. 8 A resposta é letra C. Apesar de este ser o gabarito oficial, e respeitado o posicionamento da ESAF, no caso, alicerçado no livro de Hely Lopes Meirelles, considera-se falsa a alternativa “B”, isso porque o controle judicial pode recair, por exemplo, sobre os aspectos de moralidade administrativa. Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 25 de 99 Comentários: Questão bem interessante! Como sobredito, os Decretos editados pelo Presidente da República constituem apenas um dos meios mediante o qual se expressa o Poder Normativo da Administração Pública, o qual também se manifesta mediante Resoluções, as Instruções, Portarias e Deliberações, desde que dotadas de caráter normativo. Veja o exemplo do Conselho Nacional de Justiça. A respeito, segue o entendimento do STF, na ADC 12: São exemplos de atos normativos primários, estruturados a partir da linguagem do Texto Constitucional: resoluções do Senado Federal (art. 52, VII, VIII e IX e art. 155, § 2º, V, alíneas a e b, todos da Constituição Federal); medidas provisórias (art. 62 da Constituição Federal); decreto - regulamento autônomo – (art. 84, VI, a da Constituição Federal); resolução do Conselho Nacional de Justiça (art. 103-B, II da Constituição Federal); regimento internos dos tribunais (art. 96, I, alínea a da Constituição Federal). Para o ministro Carlos Ayres Britto os regimentos internos dos Tribunais possuem natureza dúbia, porquanto podem ter natureza de atos primários, quando dispõem sobre competência e funcionamento dos órgãos jurisdicionais e administrativos de cada qual deles (tribunais); e de atos secundários, quando dispuserem sobre o dever de observância das normas de processo e das garantias processuais das partes. Em sendo assim, os órgãos constitucionais que foram aquinhoados com a possibilidade de editar estes instrumentos jurídicos são detentores da chamada competência para expedir atos normativos primários, atos que podem inovar no ordenamento jurídico independentemente da existência de interposto texto legal, uma vez que o fundamento de validade para edição de tais atos primários advém da própria Carta Republicana. Além dos decretos regulamentares ou executivos, expedidos nos termos do inc. IV do art. 84 da CF, de 1988, revimos que o chefe do Executivo é, hoje, competente para a edição de Decretos Autônomos ou independentes. Tais decretos não são simplesmente regulamentares, ao revés, inovam no ordenamento jurídico. Obviamente, o campo de atuação do Executivo foi delimitado pela CF, de 1988 (art. 84, VI, da CF, de 1988), só podendo ser expedido em duas situações bem nítidas. A primeira delas é para a extinção de cargos ou funções, desde que vagos. A segunda é para a organização e funcionamento da Administração, desdeque não implique aumento de gastos ou criação/extinção de órgãos e entidades. A partir destas considerações preambulares, chegamos, facilmente, à alternativa E. A seguir, vejamos os erros nos demais quesitos. (A) edição de decretos autônomos para criação e extinção de órgãos públicos PARA A ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, na medida em que são tradução de seu poder de auto-organização. (B) edição de atos normativos de competência exclusiva do Chefe do Executivo, tais como, decretos regulamentares, resoluções, portarias, deliberações e instruções, AFINAL RESOLUÇÕES, PORTARIAS E INSTRUÇÕES SÃO ATOS PRIVATIVOS DE AUTORIDADES AUXILIARES DO EXECUTIVO OU DE AUTORIDADES DOS DEMAIS PODERES DA REPÚBLICA, COMO, POR EXEMPLO, AS Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 26 de 99 RESOLUÇÕES DO SENADO FEDERAL PARA A ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS INTERNOS E O REGIMENTO INTERNO DOS TRIBUNAIS SUPERIORES. (C) promulgação de atos normativos originários e derivados, sendo os primeiros os regulamentos executivos AUTÔNOMOS e os segundos, os regulamentos autônomos EXECUTIVOS. (D) promulgação de atos legislativos de efeitos concretos, desde AINDA que NÃO SE refiram a objeto passível de ser disposto por meio de decreto regulamentar. Gabarito: alternativa E. Fixação FDC - ATTM BH/Pref BH/2012 Segundo comando constitucional, o Conselho Nacional de Justiça, no âmbito de sua competência, pode expedir atos regulamentares. Tais atos têm a seguinte natureza: a) potestativa b) secundária c) delegada d) derivada e) primária Comentários: Podem ser aproveitados os esclarecimentos da questão imediatamente anterior. Na visão do STF, os atos regulamentares expedidos pelo CNJ são primários, e, bem por isso, suscetíveis de controle pelo Poder Judiciário em sede de controle de constitucionalidade. Gabarito: alternativa E. Fixação (2005/CESPE/MA-MT/PROMOTOR) Para alguns estudiosos, a Emenda Constitucional n.º 32/2001 deu ao presidente da República o poder de baixar os chamados decretos autônomos, dentro de certos limites. Independentemente dessa discussão, é certo que o chefe do Poder Executivo, ao baixar decretos para dispor acerca da organização e do funcionamento da administração federal, continua submetido ao princípio da legalidade e não pode, por exemplo, criar nem extinguir órgãos públicos. (Certo/Errado) Comentários: Então, entendeu bem a história dos decretos autônomos? Espero, sinceramente, que sim, pois costuma ser item certo de prova. Em todo caso, trouxe “pra” vocês uma questão estilo “tiro-rápido”. Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 27 de 99 Em capítulo reservado à Administração Pública, a Constituição Federal de 1988 (CF/1988) registra expressamente alguns princípios, entre os quais: a moralidade, a publicidade, a eficiência e a legalidade. Entre esses fundamentos, a legalidade administrativa determina que a atuação dos administradores seja pautada em lei formal, isto é, só podem agir ou deixar de agir se houver autorização ou permissão em lei. No entanto, essa não é uma regra sem exceções. Entre as atenuações ao princípio da legalidade formal, a Emenda Constitucional 32/2001 reintroduziu a figura do Decreto Autônomo ou Independente, reservando ao Chefe do Executivo Federal o tratamento de determinadas matérias via decreto. A chamada Reserva da Administração exercida pelo Chefe do Executivo Federal, nos termos do art. 84, VI, da CF/1988, por excepcional, deverá se adstringir à organização e funcionamento da Administração Pública e à extinção de cargos e de funções. Todavia, a expedição do decreto, nesses casos, sofre restrições. Em nome do princípio da reserva legal, não é cabível sua edição para o aumento de despesas e para a criação/extinção de órgãos/entidades, bem como para a extinção de funções ou de cargos ocupados. Daí a correção do quesito. Gabarito: CERTO Fixação (2007/CESPE/PGE/TÉC. EM ADM) Os atos normativos editados com base no poder regulamentar ou de regulação da administração são primários. (Certo/Errado) Comentários: É uma questão muito interessante! Perceba, de pronto, que a ilustre organizadora diferenciou os atos decorrentes do poder regulamentar e os da regulação. É que alguns autores têm entendido que a regulação, por seu relevo, deve ser tratada como uma atividade à parte das tradicionais atividades de Administração Pública (serviços públicos, fomento, polícia administrativa e intervenção). Para outros, porém, o exercício do Poder Regulamentar seria exclusivo dos Chefes do Executivo, enquanto o Poder Normativo seria difundido por toda a Administração Pública. Para não deixar margem para recursos, o examinador optou pela distinção. Bom, superada essa ligeira “preliminar”, passemos ao conteúdo do item em si. Como já falado, não é qualquer ato administrativo normativo que inova na ordem jurídica. A originariedade costuma ser atributo próprio das Leis. A Administração não pode a pretexto de regulamentar norma, criar direito novo, introduzindo novidade no mundo jurídico, dado que este papel cabe ao Legislativo, este sim, possuidor da prerrogativa de produzir novidades jurídicas, em razão do que dispõe o inc. II do art. 5º da CF/1988. Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 28 de 99 Inclusive, nos termos do art. 49, V, da CF/1988, em caso de o Decreto exorbitar o conteúdo da Lei, caberá exclusivamente ao Congresso Nacional sua sustação. Dessa forma, os atos normativos administrativos são atos derivados, que deverão estar adstritos aos limites que lhe estabelecem as Leis. Por isso, o erro da questão. Quanto aos atos de regulação, há muita discussão na doutrina sobre a natureza primária ou derivada. Porém, para o STF, o poder normativo técnico das agências reguladoras, por exemplo, apesar de maior discricionariedade comparativamente aos decretos regulamentares, o entendimento é de que não inovam! Gabarito: ERRADO Fixação (2010/FCC - ALESP/SP - Técnico Especializado/Direito) O poder regulamentar atribuído pela Constituição Federal ao Chefe do Executivo o autoriza a editar normas (A) complementares à lei, para sua fiel execução, não se admitindo a figura do regulamento autônomo, exceto para matéria de organização administrativa, incluindo a criação de órgãos e de cargos públicos. (B) autônomas em relação a toda e qualquer matéria de organização administrativa e complementares à lei em relação às demais matérias. (C) complementares à lei, para sua fiel execução, não sendo admitida a figura do regulamento autônomo, exceto no que diz respeito à matéria de organização administrativa, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgão público, bem como para extinção de cargos ou funções, quando vagos. (D) complementares à lei, para sua fiel execução, não se admitindo a figura do regulamento autônomo, exceto para matérias relativas a organização administrativa e procedimento disciplinar de seus servidores. (E) complementares à lei, para sua fiel execução, não se admitindo, em nenhuma hipótese, o poder normativo autônomo, ainda que em matéria afeta à organização administrativa. Comentários:Nem sempre os Decretos dos chefes dos Executivos são atos normativos, portanto, dotados de generalidade e abstração. Segundo Hely Lopes, os decretos individuais ou especiais são todos aqueles que se dirigem a destinatários certos, criando-lhes situação jurídica particular. O mesmo ato pode abranger um ou vários sujeitos, desde que sejam individualizados, sendo classificados, nessa ordem, em individual singular e individual plúrimo. São atos individuais os decretos de desapropriação, de nomeação, de exoneração, Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 29 de 99 assim como as outorgas de licença, permissão e autorização, e outros mais que conferem um direito ou impõem um encargo a determinado administrado ou servidor. Outra espécie de decretos é os regulamentares ou gerais. Para Hely Lopes, os atos gerais são aqueles expedidos sem destinatários determinados, com finalidade normativa, alcançando todos os sujeitos que se encontrem na mesma situação de fato abrangida por seus preceitos. São atos de comando abstrato e impessoal, semelhantes aos da lei, e, por isso mesmo, revogáveis a qualquer tempo pela Administração, mas inatacáveis por via judicial, a não ser pela representação de inconstitucionalidade. Para o autor, os atos gerais, quando de efeitos externos, dependem de publicação no órgão oficial para entrar em vigor e produzir seus resultados jurídicos, pois os destinatários só ficam sujeitos às suas imposições após essa divulgação. Nos Municípios que não tenham órgão para suas publicações oficiais os atos gerais devem ser afixados na Prefeitura, em local acessível ao público, para que possam produzir seus regulares efeitos. Para Diógenes Gasparini, os regulamentos autônomos ou independentes são aqueles editados pelo chefe do Executivo para dispor sobre matérias constitucionalmente reservadas ao Executivo. Os regulamentos autorizados, também chamados de delegados ou habilitados, são editados pelas autoridades competentes para o provimento de matéria reservada à lei. Segundo Gasparini, não se podem delegar atribuições delegadas. O Legislativo, que recebeu sua atribuição por delegação do povo, não a pode delegar. A Constituição, quando permite a delegação, o faz expressamente, como acontece no art. 68 (delegação para elaborar leis). Prontos? Vamos aos quesitos. (A) complementares à lei, para sua fiel execução, não se admitindo a figura do regulamento autônomo, exceto INCLUSIVE para matéria de organização administrativa, incluindo EXCETO a criação de órgãos e de cargos públicos. (B) autônomas em relação a toda e qualquer À matéria de organização administrativa, COM RESTRIÇÕES CONSTITUCIONAIS, e complementares à lei em relação às demais matérias. (C) complementares à lei, para sua fiel execução, não sendo admitida a figura do regulamento autônomo, exceto no que diz respeito à matéria de organização administrativa, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgão público, bem como para extinção de cargos ou funções, quando vagos. (D) complementares à lei, para sua fiel execução, não se admitindo a figura do regulamento autônomo, exceto para matérias relativas a organização administrativa e procedimento disciplinar de seus servidores EXTINÇÃO DE CARGOS OU FUNÇÕES, QUANDO VAGOS. (E) complementares à lei, para sua fiel execução, não se admitindo, em nenhuma hipótese, o poder normativo autônomo, ainda que EXCETO em matéria afeta à organização administrativa E EXTINÇÃO DE CARGOS OU FUNÇÕES, QUANDO VAGOS. Gabarito: alternativa C. Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 30 de 99 Fixação (2010/FCC – TRT/8R – Analista/Administrativa) O Poder Legislativo aprova lei que proíbe fumar em lugares fechados, cujo texto prevê o seu detalhamento por ato do Poder Executivo. Sancionando a Lei, o Chefe do Poder Executivo edita, imediatamente, decreto detalhando a aplicação da norma, conforme previsto. Ao fazê-lo o Chefe do Poder Executivo exerce o poder (A) disciplinar. (B) regulamentar. (C) discricionário. (D) de polícia. (E) hierárquico. Comentários: Isso aí. Mais uma questão versando sobre o poder regulamentar. O poder regulamentar possui, ao lado de seu fundamento jurídico, um fundamento político, consistente na conveniência e oportunidade que se reconhece ao Poder Executivo para orientar a administração pública em relação a pormenores inerentes à execução da lei. De fato, é uma opção política do Legislador “abrir mão” de parte de sua competência de elaborar Leis gerais e abstratas, deixando a cargo do administrador que desça aos detalhes necessários à aplicação destas. Aliás, é assim em razão da própria separação de funções, consagrada no texto da CF/1988 (art. 2º: Poderes Independentes e harmônicos entre si, o Executivo, Legislativo e o Judiciário). O administrador público e não o Legislador é quem conhece melhor os problemas práticos do dia a dia da Administração, e, por isso, em alguns casos, melhor deixar ao seu encargo o detalhamento quanto a melhor aplicação das Leis. Ilustre-se a situação, com um exemplo que se encaixa em nosso curso: a tal modalidade de licitação Pregão. O Pregão é uma modalidade de licitação que se destina à AQUISIÇÃO (alienação NUNCA) de bens e serviços comuns (Lei 10.520/2002). Mas, o que seriam bens e serviços COMUNS? A Lei não os define com precisão cirúrgica, restando ao administrador público fazê-lo. Em âmbito federal, o maior desses administradores, o Presidente da República, editou o Decreto 3.555/2000, o qual traz uma lista exemplificativa (não taxativa, não fechada) de bens e serviços comuns, facilitando o entendimento dos conceitos indeterminados contidos na Lei (a execução dos pormenores). Mas por que a Lei não poderia descer a esses pormenores? Em síntese, por duas razões: Curso Teórico de Direito Administrativo para TRT GO Profº. Cyonil Borges – Aula 02 Prof. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 31 de 99 I) o administrador é quem tem conhecimento dos detalhes do funcionamento administrativo de rotina. Ele, portanto, quem conhece o que merece ser esclarecido de forma mais pormenorizada; II) se a Lei for por demais detalhada, rapidamente cairá em desuso. Se a Lei fixa o que é comum, por exemplo, o que ficasse de fora seria “incomum”. Só que o que não é comum hoje, pode ser amanhã. Exemplo disso: alguns bens de informática, como teclado, monitor, CPU, etc. há vinte anos, absolutamente não comuns. Não caberia, por conseguinte, pregão para estes (até mesmo por que esta modalidade foi criada bastante depois...). Hoje, bastante comuns, cabendo, portanto, o pregão. Se a Lei tivesse definido o que deveria ser entendido por comum e tivesse deixado de fora bens de informática, não poderíamos ter pregão para os ditos bens. Todas as vezes que fosse alterado o entendimento quanto ao que é comum, teríamos de ter uma alteração na Lei que trata da matéria, com todo o rito formal previsto na CF. Imagina a confusão... É por uma questão prática que se deixam alguns detalhes para regulamentação pela Administração Pública, a “Lei em seus pormenores necessários à execução”. Ressalte-se, todavia, que o Legislador não pode, sob pena de ofensa ao princípio de separação dos poderes, atribuir in
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