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AN02FREV001/REV 4.0 40 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE TOXICOLOGIA AMBIENTAL Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 41 CURSO DE TOXICOLOGIA AMBIENTAL MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 42 MÓDULO II 3 OS TÓXICOS E O MEIO AMBIENTE 3.1 MOVIMENTOS DOS TÓXICOS POR MEIO DO MEIO AMBIENTE Os agentes tóxicos alcançam o meio ambiente por meio de inúmeras atividades realizadas pelo homem como: a mineração, a energia nuclear, a agricultura, a eliminação de resíduos industriais e domésticos, dentre outras. O transporte e a persistência desses agentes no ambiente dependem de vários fatores, dentre eles: do tipo de compartimento ambiental, das características físico-químicas das substâncias em questão e da concentração dessas substâncias no compartimento. A eliminação de gases contaminantes pelas indústrias e automóveis, a deposição de resíduos industriais e domésticos em locais inadequados e várias outras atividades podem promover a poluição, acarretando em sérios danos ao ambiente e à saúde humana. Para entendermos como as substâncias tóxicas se movimentam no ambiente desde a fonte emissora até alcançarem ao homem, precisamos entender quais características dessas substâncias influenciam no movimento. As principais características são: a) Solubilidade em água A propriedade de solubilidade em água representa a capacidade de uma determinada substância misturar-se em água à temperatura ambiente. Essa propriedade é referente à máxima quantidade dessa substância que se dissolve em uma quantidade definida de água pura. AN02FREV001/REV 4.0 43 A solubilidade em água sofre a influência de vários fatores como, por exemplo, a temperatura. A solubilidade da maioria das substâncias sólidas e líquidas em água, geralmente, aumenta com o aumento da temperatura, já que há o aumento da energia cinética das suas moléculas. Já para as substâncias na forma gasosa o contrário é observado. b) Pressão de vapor A pressão de vapor é um parâmetro responsável por mensurar a volatilidade de um agente químico em estado puro. A volatilidade de determinada substância é a capacidade de evaporar-se e é influenciada por fatores como: Temperatura; A velocidade dos ventos no ambiente em questão; As condições ambientais gerais. Dessa forma, as substâncias químicas com pressão de vapor relativamente baixas e uma alta afinidade por solos ou água, têm menores probabilidades de volatilizarem-se, ou seja, evaporarem-se. c) Constante da Lei de Henry (H) A constante da Lei de Henry (H) é responsável pela indicação do grau de volatilidade de determinado agente químico em solução. Para isso, é necessário o conhecimento do peso molecular, da solubilidade e da pressão de vapor. Considerando uma solubilidade relativamente alta de um agente tóxico em água em relação à pressão de vapor, indica que este agente se dissolverá principalmente em água. Já uma pressão de vapor relativamente alta quando comparada à solubilidade em água, indica que o agente se evaporará preferencialmente em ar. Na tabela 5 estão disponíveis as faixas de volatilidade segundo a constante da Lei de Henry. AN02FREV001/REV 4.0 44 Tabela 5. Volatilidade segundo faixas da constante da Lei de Henry. FONTE: ATSDR (1992). d) Coeficiente de partição de carbono orgânico (KOC) O coeficiente de partição do carbono orgânico (KOC) também chamado de coeficiente de adsorção representa a medida da capacidade de um agente tóxico ser adsorvido por solos e sedimentos. O conceito de adsorção será abordado ainda neste capítulo Este coeficiente apresenta alta especificidade de acordo com cada substância e seus valores variam de 1 a 10.000.000. Determinado agente tóxico que possua KOC alto indica que este agente se fixa com firmeza ao solo e sedimentos, resultando em baixa mobilidade nas águas superficiais ou aquíferos (lençóis freáticos). Já um agente com baixo KOC sugere uma maior mobilidade nos corpos d’água (Tabela 6). TABELA 6. INTERVALOS DE VALORES DE KOC E ADSORÇÃO AO SOLO FONTE: ATSDR (1992). AN02FREV001/REV 4.0 45 e) Coeficiente de partição octanol/água (KOW) O octanol é um representante das gorduras. O coeficiente de partição octanol/água estima o potencial de determinado agente tóxico de acumular-se na gordura animal. Geralmente são acumulados compostos com altos valores de KOW. Portanto, o valor de KOW é usado para mensurar a tendência das substâncias químicas a bioconcentrar-se na biota, estando inversamente relacionado à solubilidade em água. Portanto, quanto maior os valores de KOW das substâncias tóxicas, maior a capacidade de acumularem-se nos solos, sedimentos e na biota e consequentemente serem transferidos ao homem pela cadeia alimentar. Já compostos químicos com baixos KOW tendem a distribuírem-se na água e no ar. f) Fator de bioconcentração (FBC) O conceito de bioconcentração será descrito no próximo item deste capítulo. Porém, o fator de bioconcentração (FBC) reflete a magnitude da distribuição química em relação ao equilíbrio entre o meio biológico e um meio externo, por exemplo, a água. Esse fator é determinado dividindo-se a concentração de equilíbrio de um determinado agente tóxico no meio biológico (tecido, organismo), pela concentração do agente tóxico no meio externo. Normalmente, compostos com valores altos de KOW apresentam um valor elevado do FBC. g) Velocidade de transformação e de degradação A velocidade de transformação e de degradação sofrem influências de diversas variáveis, como por exemplo, variáveis químicas, físicas e biológicas. Portanto, é difícil prever e mensurar tais velocidades com precisão. Para um entendimento preciso a respeito do transporte dos agentes tóxicos no ambiente, é necessário avaliar também algumas características do ambiente em questão, como: AN02FREV001/REV 4.0 46 a) Taxa de precipitação A taxa de precipitação refere-se à quantidade de chuva que normalmente acomete o local. Essa taxa interfere, pois a precipitação leva ao arraste do solo pelo escoamento. b) As condições de temperatura do local As condições de temperatura são responsáveis por alterarem os níveis de volatilidade dos compostos químicos. c) Velocidade e direção dos ventos. d) Características geológicas e geomorfológicas. e) Características do solo. f) Cobertura do solo. g) Flora e a Fauna. h) Obras públicas, etc. Diante das características físico-químicas dos agentes tóxicos e das características externas, para determinar a movimentação desses agentes devemos identificar os cinco elementos constituintes da rota de exposição. São eles: A fonte de contaminação; O compartimento ambiental; O ponto de exposição; As vias de exposição de acordo comas substâncias tóxicas; A população receptora. Diante do exposto, o transporte das substâncias tóxicas é controlado pelos seguintes processos: AN02FREV001/REV 4.0 47 a) Processos físicos Advecção No processo por advecção o transporte da substância tóxica ocorre pelo fluxo de água no solo. Difusão Molecular Este tipo de transporte ocorre devido a ocorrência de um gradiente de concentração em um fluido. A substância tóxica em questão está dissolvida em água e desloca-se de uma área de maior concentração para uma de menor. Devido à tortuosidade existente nas trajetórias que o fluido percorre no solo, é calculada a difusão efetiva, dada pela fórmula abaixo: Em que: D* = difusão efetiva ω = coeficiente de tortuosidade D0 = coeficiente de difusão. Dispersão O transporte por dispersão pode também ser chamado de mistura mecânica. Como o próprio nome indica, a dispersão retrata o espalhamento da substância tóxica no fluido (Figura 3). A dispersão pode ser: dispersão longitudinal, quando o espalhamento da substância ocorre na mesma direção do fluxo; e dispersão transversal, quando o espalhamento da substância ocorre na direção transversal do fluxo. FIGURA 3 Dispersão. (a) Dispersão normal ou mistura mecânica, (b) dispersão em canais individuais e (c) tortuosidades, reentrâncias e interligações. AN02FREV001/REV 4.0 48 Dispersão hidrodinâmica É a soma de Difusão Molecular e Dispersão Mecânica. É utilizada quando o fluido percorre meios porosos. b) Processos Químicos e Biológicos Efeitos de retardamento ou aceleração Adsorção/ Dessorção O processo de adsorção consiste na adesão do soluto às superfícies dos sólidos. Esse processo representa o mecanismo de maior importância de retenção de moléculas polares, íons e metais. Pode ocorrer a reversibilidade do processo, ou seja, a dessorção. Sorção hidrofóbica A sorção hidrofóbica é um processo típico de retenção de substâncias orgânicas, especialmente orgânicas apolares, pelo processo de partição. Precipitação/dissolução A precipitação é o processo pelo qual há o desprendimento das substâncias, inicialmente em solução por exceder o seu grau de solubilidade. É um processo reversível e contrário ao processo de dissolução. Cossolvência O processo de cossolvência consiste na dissolução do soluto em mais de um solvente. A mistura de determinado solvente com a água aumenta a mobilidade das substâncias. Complexação O processo de complexação consiste na formação de complexos, devido à ligação formada, que pode ser covalente ou eletrostática. De acordo com vários estudos, os complexos formados com ligantes inorgânicos são mais fracos que os formados com ligantes orgânicos. Ionização Os ácidos orgânicos são capazes de doar elétrons em solução aquosa, aumentando assim a solubilidade, já que se transformam em ânions. Efeitos de degradação Oxidorredução AN02FREV001/REV 4.0 49 Reações de oxidação: perda de elétrons. Reações de redução: ganho de elétrons. Toda oxidação é acompanhada de uma redução e vice-versa. Esses tipos de reações ocorrem no ambiente e podem ser catalizadas por microrganismos. Volatilização Volatilização é um processo de difusão pelo qual há uma mudança do estado de uma substância, que passa de seu estado sólido ou líquido para o estado gasoso. Metabolização Metabolização é a transformação de moléculas orgânicas em moléculas menores, decorrente da atividade metabólica dos microrganismos presentes no solo. Pode ser também chamada de biodegradação, conceito que será abordado ainda neste capítulo. Sorção Sorção é o processo de retenção de substâncias no solo pela transferência do fluido para a parte sólida, causando o chamado efeito de retardamento da frente de contaminação. Esse efeito se dá pela redução da velocidade de contaminação quando comparada à velocidade do fluido. 3.2 OS EFEITOS GLOBAIS DOS TÓXICOS 3.2.1 O efeito estufa A atmosfera é uma camada gasosa que envolve a Terra, com aproximadamente 600 Km de altitude, que se mantém junto à Terra devido à força da gravidade. Ela é constituída de vários gases, que são divididos em permanentes e variáveis. Nas tabelas 7 e 8, estão descritos os gases constituintes da atmosfera. AN02FREV001/REV 4.0 50 TABELA 7. COMPONENTES PERMANENTES DA ATMOSFERA Gases Símbolo Porcentagem (por volume) ar seco Nitrogênio N2 78,08 Oxigênio O2 20,95 Argônio Ar 0,93 Neônio Ne 0,0018 Hélio He 0,0005 Hidrogênio H2 0,00005 Xenônio Xe 0,000009 TABELA 8. COMPONENTES VARIÁVEIS DA ATMOSFERA Gases e partículas Símbolo Porcentagem (por volume) Partes por milhão (ppm) Vapor d’água H2O 0 a 4 - Dióxido de carbono CO2 0,384 384 Metano CH4 0,00017 1,7 Óxido nitroso N2O 0,00003 0,3 Ozônio O3 0,000004 0,04 Partículas 0,000001 0,01 Clorofluorcarbonos (CFCs) 0,00000001 0,0001 Como pode ser observado na tabela 7, o nitrogênio (N2) e o oxigênio (O2) compõem aproximadamente 99% da atmosfera, sendo considerados os seus principais gases. As porcentagens desses gases mantêm suas porcentagens constantes, pois há um balanço entre a produção e a destruição desses. Veja abaixo como ocorre esse balanço: Oxigênio (O2) AN02FREV001/REV 4.0 51 Removido: pela decomposição de matéria orgânica ou quando se combina na formação de óxidos. Retorno à atmosfera: por meio do processo de fotossíntese. LUZ + CO2 H2O + O2 Nitrogênio (N2) Removido: pelos processos biológicos no solo (bactérias). Retorno à atmosfera: decomposição de material vegetal e animal. O vapor d’água juntamente com o CO2 promove o chamado efeito estufa. O efeito estufa é um fenômeno natural, ou seja, esses gases formam uma camada protetora que possui a propriedade de permitir que as ondas eletromagnéticas que chegam do Sol atravessem a atmosfera e aqueçam a superfície da Terra. Essa mesma camada dificulta a saída da radiação infravermelha emitida pela Terra. Esse fato impede que ocorra a perda demasiada de calor irradiado para o espaço, especialmente à noite, mantendo assim, a Terra aquecida. Esse fenômeno é de extrema importância, pois sem ele a Terra estaria a uma temperatura de 33º C mais baixa e a vida na Terra não seria possível. Vários outros gases encontrados em menores quantidades também contribuem para o efeito estufa (Figura 4). FIGURA 4. GASES DA ATMOSFERA QUE MAIS CONTRIBUEM PARA O EFEITO ESTUFA, ALÉM DO VAPOR D’ÁGUA FONTE: Arquivo pessoal do autor AN02FREV001/REV 4.0 52 As atividades antrópicas têm contribuído com emissões adicionais desses gases de efeito estufa, ocasionando em um incremento da capacidade da atmosfera em reter calor, originando o que chamamos de Aquecimento Global. O aquecimento global poderá ter consequências sérias para a vida na Terra em um futuro próximo. O esquema do efeito estufa pode ser visto na figura 5. FIGURA 5. ESQUEMA DO EFEITO ESTUFA FONTE: Arquivo pessoal do autor O aquecimento global terá várias consequências, dentre elas, as mais importantes serão: Aumento da temperatura da superfície da Terra; Derretimento das calotas polares e das camadas de gelo existentes nas montanhas; Aumento do nível médio da água do mar; Desaparecimento de territórios pelo avanço das águas; O aumento da temperatura da Terraacarretará no aumento da evaporação e consequentemente no aumento da pluviosidade que favorecerá o aumento da erosão dos solos; AN02FREV001/REV 4.0 53 Aumento da desertificação, ocasionando o empobrecimento dos solos, tornando assim impossível a prática da agricultura; Desaparecimento de espécies; Várias medidas têm sido adotadas para amenizar este fenômeno. As principais são: Diminuição da liberação de gases pelas indústrias e automóveis; Utilização de energias renováveis; Proteção das florestas; Reformulação das redes de transportes. 3.2.2 A destruição da camada de ozônio A atmosfera terrestre é constituída de diversas camadas (Figura 6). São elas: Troposfera: é a camada em que vivemos. Possui uma altura de 0 Km a 12 Km. Nesta camada é que ocorrem os fenômenos climáticos e a poluição. Estratosfera: é a camada que vai de 12 Km a 50 Km de altura. Nesta camada localiza-se a Camada de Ozônio. Mesosfera: é a camada que vai de 50 Km até 80 Km. Termosfera: é a camada que vai de 80 Km até 600 Km. Exosfera: é a camada que vai de 600 Km até o espaço. AN02FREV001/REV 4.0 54 FIGURA 6. CAMADAS DA ATMOSFERA TERRESTRE FONTE: Arquivo pessoal do autor Como pôde ser observado, a Camada de Ozônio (região onde há maior concentração de Ozônio) se encontra na estratosfera terrestre. A camada de Ozônio corresponde a um filtro natural da Terra. O ozônio estratosférico é um gás, formado por três átomos de oxigênio (Figura 7). FIGURA 7. FORMAÇÃO DO OZÔNIO ESTRATOSFÉRICO FONTE: Arquivo pessoal do autor AN02FREV001/REV 4.0 55 O ozônio estratosférico é formado pela ação fotoquímica dos raios ultravioletas sobre as moléculas de oxigênio. A camada de Ozônio tem a capacidade de absorver as radiações ultravioletas do Sol, graças ao formato e tamanho das moléculas de ozônio que a constitui. Portanto, o ozônio estratosférico é considerado como “bom ozônio”. Já o ozônio troposférico é um gás tóxico aos seres vivos. Dessa maneira, a sua presença na Troposfera, onde vivemos, é muito perigosa. As principais fontes de ozônio estratosférico são as atividades humanas, nas quais ocorre emissão de gases contendo Cloro e Bromo. Esses elementos não são reativos e são lentamente removidos da atmosfera, havendo uma alta concentração destes na troposfera. Quando esses elementos atingem a estratosfera, sofrem rapidamente a ação fotoquímica da radiação ultravioleta, liberando radicais livres que reagem com o ozônio, formando além das moléculas normais, o óxido de cloro (ClO), acarretando na destruição da Camada de Ozônio. O ClO apresenta vida curta e reage rapidamente com um átomo de oxigênio livre, liberando novamente o radical livre que volta a destruir uma molécula de ozônio. Um único radical livre de cloro é capaz de destruir 100 mil moléculas de ozônio (Figura 8). FIGURA 8. MECANISMO DE DESTRUIÇÃO DO OZÔNIO FONTE: Arquivo pessoal do autor AN02FREV001/REV 4.0 56 Exemplos de fontes de Cloro e Bromo: CFC’s: triclorofluorcarbono, usados em refrigeradores, aerossóis, ar-condicionado, solventes de limpeza, etc. Brometo de Metila, Halons. Principais consequências da destruição da Camada de Ozônio para a saúde humana e para o meio ambiente: Câncer de pele; Envelhecimento precoce; Queimaduras na pele; Inflamação aguda da córnea, podendo levar à cegueira; Desenvolvimento de catarata; Extinção das respostas imunológicas; Alergias; Alterações nas relações entre plantas, entre animais e entre plantas e animais; Aumento de pragas e doenças de plantas; Destruição do plâncton (fitoplâncton e zooplâncton). Elevada mortalidade de peixes. Há a previsão de que haja a recuperação da Camada de Ozônio caso as ações propostas pelo Protocolo de Montreal sejam cumpridas. O Protocolo de Montreal é um tratado internacional no qual vários países propuseram a adoção de medidas que reduzissem ou eliminassem a emissão de substâncias que destroem a Camada de Ozônio. 3.2.3 A chuva ácida A chuva ácida é um fenômeno natural. Normalmente, a água que evapora do meio ambiente possui o pH neutro (pH=7). Porém, pode ocorrer do vapor d’água reagir com gases atmosféricos, como por exemplo, o CO2. Dessa forma, a chuva se AN02FREV001/REV 4.0 57 torna ligeiramente ácida pela formação do ácido carbônico, podendo atingir valores de pH em torno de 5,2 e 5,4. Porém, normalmente este fenômeno tem origem em ácidos orgânicos, que são ácidos fracos e, portanto, não geram danos ao meio ambiente. Porém, com o aumento da poluição atmosférica, esse fenômeno passa a ser perigoso, pois o pH das chuvas podem atingir valores em torno de 4,9 a 1,9. A chuva ácida, então, torna-se um fenômeno extremamente perigoso, já que a emissão de gases como dióxido de enxofre (SO2) e os óxidos de nitrogênio (NOx), ao reagirem com os vapores d’água gerarão ácidos extremamente fortes. As reações que normalmente ocorrem podem ser vistas abaixo: SO2 + ½ O2 + H2O H2SO4 (Dióxido de Enxofre) (ácido sulfúrico) NO + NO2 + O2 + H2O 2(HNO3) (Óxidos de nitrogênio) (Ácido nítrico) Porém, pode haver a formação desses dois ácidos a partir de outras reações como: Radical hidroxila (OH) SO2 + (OH) HSO3 - (Radical bissulfito – instável) Com a luz solar, o HSO3 - é oxidado a bissulfato = HSO4 - NO2 + (OH) HNO3 AN02FREV001/REV 4.0 58 As consequências da chuva ácida são: Contaminações com metais tóxicos que estavam presentes no solo; Corrosão de estruturas prediais, de casas, de usinas, etc. Acidificação dos corpos aquáticos; Desmatamentos; Destruição de plantações. 3.3 INTERAÇÃO DE POLUENTES OU BIOTOXINAS COM A BIOTA 3.3.1 Bioconcentração O processo de bioconcentração representa o aumento da concentração de determinada substância tóxica nos organismos, comparado ao meio abiótico. Ou seja, é quando a velocidade de absorção da substância tóxica por meio da água excede a velocidade de eliminação do mesmo, gerando dessa forma, um acúmulo nos tecidos dos organismos. Portanto, a bioconcentração depende da concentração da substância tóxica no ambiente e do tempo de exposição do organismo ao agente tóxico. 3.3.2 Bioacumulação A bioacumulação é um processo ativo, portanto, mediado metabolicamente. É o processo no qual os seres vivos absorvem e acumulam as substâncias tóxicas. A bioacumulação pode ser direta, por meio do ambiente que envolve os organismos (bioconcentração) ou de forma indireta, por meio da cadeia alimentar. AN02FREV001/REV 4.0 59 Portanto, a bioacumulação exige atividade metabólica das células e é influenciada por diversos fatores como: pH; Temperatura; Aeração; Presença de outros poluentes, etc. A absorção no caso da bioacumulação inclui todas as vias de exposição e todos os compartimentos em que os contaminantes estejam no meio aquático (sedimentos, água ou outros organismos) (Figura 9). FIGURA 9. PROCESSO DE BIOACUMULAÇÃO FONTE: Arquivo pessoal do autor 3.3.3 Biomagnificação No processo de biomagnificação ocorrem as transferências dos contaminantes de umnível trófico a outro, de forma que as concentrações são geralmente crescentes à medida que passam para níveis mais elevados da cadeia alimentar (Figura 10). AN02FREV001/REV 4.0 60 FIGURA 10. ESQUEMA DA BIOMAGNIFICAÇÃO FONTE: LINHARES & GEWANDSZNAJDER, 2003. 3.3.4 Biotransformação O processo de biotransformação é a transformação química (reações químicas) das substâncias tóxicas dentro dos seres vivos. Esse processo geralmente é catalisado pela ação de enzimas. O objetivo principal da biotransformação é transformar a substância tóxica em um metabólito mais hidrossolúvel, para facilitar a sua excreção. O processo de biotransformação é constituído de quatro etapas, que serão descritas abaixo: a) Absorção A absorção é a etapa em que as substâncias tóxicas (xenobióticos) rompem as barreiras do corpo e as membranas celulares e atingem a corrente sanguínea. b) Distribuição A distribuição é a etapa em que os xenobióticos, já na corrente sanguínea, atingem seus órgãos-alvo. c) Biotransformação O processo de biotransformação ocorre por meio de reações químicas nos organismos. Os principais locais onde ocorrem essas reações são: fígado, pele, rins, AN02FREV001/REV 4.0 61 pulmões e epitélio gastrintestinal; sendo o fígado o principal órgão envolvido no processo. A biotransformação no fígado ocorre por meio de duas fases: Reações de fase I ou metabolismo de fase I Oxidação Redução Hidrólise Diversas enzimas do fígado participam dessa fase. Uma delas é o sistema citocromo P-450. Esse sistema é constituído de um grupo de isoenzimas que apresentam em suas estruturas átomos de ferro (Fe). Esse elemento é responsável por ativar o oxigênio molecular, deixando-o na forma ideal para interagir com substratos orgânicos. Dessa forma, realiza a catálise de diversas reações oxidativas envolvidas na biotransformação da substância. Após a realização dessas reações que constituem a fase I, ou o metabólito está pronto para ser excretado ou será necessária à ocorrência da fase II. Reações de fase II ou metabolismo de fase II As reações que ocorrem na fase II envolvem a conjugação. A conjugação resulta em metabólitos facilmente excretáveis. As principais reações de conjugação são: Acetilação; Sulfatação; Amidação; Glicuronidação ou glicuronização: é a mais comum e a mais importante. Vários fatores influenciam a biotransformação. Dentre eles, os mais importantes são: Idade Os fetos, animais recém-nascidos e idosos apresentam uma menor capacidade de metabolização. Sexo Este parâmetro é conhecido apenas na espécie de ratos. AN02FREV001/REV 4.0 62 A capacidade de biotransformação é maior nos ratos que em ratas. Indução Fenômeno que aumenta a velocidade da biotransformação; Doenças Patologias ou disfunções hepáticas que alteram a biotransformação. 3.3.5 Biodegradação A biodegradação é o processo pelo qual os xenobióticos são degradados pela ação de organismos vivos, principalmente microrganismos heterotróficos, por meio de suas enzimas. A biodegradabilidade é a suscetibilidade do xenobiótico em sofrer ação dos microrganismos. Ela depende de vários fatores como: a composição química e física do agente tóxico e da disponibilidade de microrganismos degradadores. 3.3.6 Detoxificação A detoxificação é um tipo de biotransformação pelo qual uma determinada substância tem seu efeito tóxico inativado pelo metabolismo por enzimas. Esse processo resulta em uma hipertrofia do retículo endoplasmático das células do fígado, rins, pulmões, etc. 3.3.7 Eliminação A eliminação é o processo pelo qual um agente tóxico ou seu metabólito é eliminado do organismo. Esse processo é realizado pelas seguintes vias: AN02FREV001/REV 4.0 63 Rins; Sistema hepatobiliar; Pulmões; Glândulas sudoríparas, salivares e mamárias; Intestino. 3.4 ORGANISMOS COMO INDICADORES DE QUALIDADE AMBIENTAL Avaliar a qualidade do meio ambiente não é uma tarefa simples, exige bastante conhecimento prático e teórico, além de muita sensibilidade por parte dos profissionais da área. O aumento da população, o desenvolvimento tecnológico e o crescimento da produção industrial, principalmente a produção relacionada a fertilizantes, inseticidas e herbicidas, tem acarretado um aumento no nível de substâncias tóxicas lançadas nos ecossistemas, contribuindo assim, para a diminuição da qualidade dos diversos compartimentos do ambiente e consequentemente influenciando na saúde dos seres vivos que habitam esses ecossistemas. Portanto, o processo de avaliação ambiental é de fundamental importância para garantir um ambiente saudável, ou seja, livre de todos os tipos de contaminação. Porém, o tempo excessivo gasto e o alto custo são entraves para a realização desse processo de inventário ambiental. Para facilitar, são utilizadas estratégias de previsão, ou seja, estratégias visando à análise precoce da integridade ambiental, utilizando organismos vivos como bioindicadores, biomarcadores e biomonitores. Dessa forma, a biota representa uma forte aliada do homem e da natureza, mostrando quando o ambiente está sendo contaminado e/ou destruído, ou seja, o diagnóstico ambiental. AN02FREV001/REV 4.0 64 3.4.1 Bioindicadores De acordo com diversos autores, o termo bioindicador representa qualquer forma de vida capaz de quantificar e monitorar propriedades dos ecossistemas. Ou seja, são espécies que, precocemente, indicam alterações ambientais; possibilitando a intervenção antes que essas se agravem. FIGURA 11. AS FUNÇÕES DOS BIOINDICADORES EM CADA CATEGORIA FONTE: McGeoch (1998). Como pode ser observado na figura 11, os bioindicadores são divididos de acordo com os objetivos de cada projeto em: a) Indicadores ou bioindicadores ambientais; São considerados indicadores ou bioindicadores ambientais espécies ou conjunto delas com capacidade de reagirem aos distúrbios ambientais, incluindo as alterações no ambiente. Esse tipo de bioindicador é utilizado na mensuração de fatores abióticos, como por exemplo, a mensuração da poluição nos diversos compartimentos ambientais. AN02FREV001/REV 4.0 65 b) Indicadores ou bioindicadores ecológicos; Um indicador ou bioindicador ecológico pode ser representado por uma espécie, um conjunto de espécies ou determinado táxon que se mostra sensível aos processos ocorridos no ambiente. Servem de sinal de alerta precoce de mudanças ambientais, além de poderem ser usados no diagnóstico de problemas no ambiente. c) Indicadores ou bioindicadores de biodiversidade. São considerados indicadores ou bioindicadores de biodiversidade um grupo de taxa, representado por gênero, tribo, família ou ordem; ou mesmo um grupo de espécies considerado medida da diversidade de um grupo mais amplo no ambiente. Assim, os dados obtidos por esse grupo são extrapolados a toda diversidade da espécie avaliada. Os bioindicadores também podem ser divididos em bioindicadores de acumulação e de reação. De acordo com a literatura, um bioindicador de acumulação, também chamado de organismo resistente, é aquele que reage ao estresse pela acumulação de substâncias tóxicas nos tecidos; já um bioindicador de reação é considerado um organismo sensível, pois reage ao estresse por alterações morfológicas, fisiológicas, genéticas eetológicas. A utilização de organismos vivos, ou seja, bioindicadores permite que sejam verificadas: A atividade fisiológica de substâncias nocivas; A ocorrência de intoxicações crônicas de exposições prolongadas; Pesquisa de áreas extensas e em períodos prolongados. Muitos estudos utilizando bioindicadores estão sendo conduzidos no Brasil, utilizando pelo menos um dos três tipos de bioindicadores descritos anteriormente – ambiental, de biodiversidade e ecológico. Desses estudos, 73% utilizaram invertebrados como bioindicadores, 18% utilizaram plantas e 15% utilizaram vertebrados. Em alguns estudos houve a associação de dois ou mais bioindicadores (Tabela 9) AN02FREV001/REV 4.0 66 Tabela 9. Análise percentual de trabalhos científicos utilizando as categorias de bioindicadores FONTE: Portal Scielo. De acordo com o exposto, os invertebrados foram os menos utilizados nos estudos de bioindicação e as plantas as mais utilizadas. Uma explicação possível para isso, de acordo com os autores, é que as plantas apresentam respostas mais rápidas e eficientes quando comparadas aos invertebrados. Abaixo serão mostrados alguns exemplos de estudos utilizando bioindicadores. Mais informações poderão ser encontradas nos respectivos artigos citados nas referências bibliográficas. Aqui serão abordadas apenas questões relativas às conclusões dos estudos. Em primeiro lugar, serão mostrados trabalhos em que foram utilizados vegetais como bioindicadores. Esses são utilizados por meio de dois métodos: Método passivo, quando são utilizados vegetais que já fazem parte do local do estudo; Método ativo, quando os vegetais são introduzidos de forma controlada no local a ser avaliado. De acordo com relatos na literatura, os contaminantes químicos são assimilados pelas plantas por meio de três vias: por translocação, a partir do solo, pela ação das raízes; por assimilação de substâncias presentes na fase gasosa e; por assimilação de deposições atmosféricas. A resposta das plantas à exposição de poluentes tóxicos pode ser usada como método de verificação da toxicidade ambiental. As plantas podem apresentar sinais em curto prazo como: injúrias nas folhas, perda de folhas, redução do AN02FREV001/REV 4.0 67 crescimento e/ou alterações nos padrões de floração; bem como alterações a médio e longo prazo, como: composição química, modificações nos processos fisiológicos e alterações genéticas. Portanto, as alterações podem ser visíveis ou necessitarem de análises laboratoriais que comprovem a presença desses poluentes em seus tecidos. Alguns exemplos de utilização de plantas como bioindicadores de contaminação ambiental: Neste trabalho, as espécies de bromeliáceas Tillandsia pohliana Mez. e Tillandsia streptocarpa Baker foram testadas como bioindicadoras da qualidade do ar. Verificaram então que essas espécies são boas bioindicadoras por serem capazes de absorverem metais pesados. Portanto, foram indicadas para estudos de biomonitoramento da poluição atmosférica em regiões de atividades industriais intensas e/ou com grande circulação de veículos automotores. Neste trabalho foram utilizadas algas como bioindicadoras da qualidade das águas de uma represa, já que, segundo encontra-se na literatura, as algas apresentam grande capacidade de tolerar a poluição orgânica. Atualmente, as algas também estão sendo utilizadas como bioindicadoras de poluição por pesticidas e metais pesados. Os resultados obtidos permitiram comprovar a hipótese inicial de que as algas permitem realizar previsões sobre efeitos de alterações ambientais. Outros bioindicadores utilizados são os invertebrados: AN02FREV001/REV 4.0 68 Neste estudo foram testados como bioindicadores os macroinvertebrados bentônicos para mensurarem a qualidade da água. Com base nos resultados obtidos, verificaram que os macroinvertebrados bentônicos são bons bioindicadores da qualidade de água porque são geralmente mais permanentes no ambiente, já vivem de semanas a alguns meses no sedimento. Por esse motivo, o seu monitoramento torna-se mais eficiente que o monitoramento baseado apenas na mensuração de parâmetros físicos e químicos. Neste estudo, foram testadas como bioindicadoras as moscas. De acordo com os resultados, verificaram a grande eficiência no processo da bioindicação, pois, por se criarem no esterco, em carcaças e no lixo que apodrece, grandes populações de moscas são os indicadores biológicos de que esses resíduos estão sendo deixados no ambiente sem cuidados adequados. Outros bioindicadores bastante utilizados são os peixes como ferramenta para a mensuração da qualidade das águas. Neste estudo, verificaram que os peixes são bons indicadores da qualidade da água por serem capazes de acumular metais pesados em seus tecidos. Os microrganismos também são considerados bioindicadores da qualidade das águas, como pode ser comprovado no artigo abaixo: AN02FREV001/REV 4.0 69 Neste artigo foram utilizadas comunidades bacterianas na avaliação da qualidade da água. De acordo com o exposto, um bioindicador ideal deve apresentar as seguintes características: Ter reconhecimento fácil por não especialistas; Distribuição na maior parte do globo, para ser facilmente comparado regional e internacionalmente; Possuir indivíduos de diversos grupos taxonômicos, com diferentes reações de sensibilidade a mudanças ambientais; Possuir grande quantidade de organismos e ter grandes dimensões; Ser facilmente amostrável com técnicas diversas; Baixo custo de amostragem; Pequena mobilidade para representar condições locais; Ciclo de vida longo constituindo-se um testemunho da qualidade ambiental no passado e no presente; Ser conhecido ecologicamente e utilizável em experimentos laboratoriais; Não ser muito sensível ou resistente a mudanças ambientais; Ser de fácil manipulação e tratamento; Ter condições de padronização de metodologias, para que haja conhecimento das condições que provocam respostas, sendo possível identificar e quantificar os efeitos da alteração e avaliação das respostas; Ter possibilidade de uniformidade genética e possibilidade de avaliar as respostas. AN02FREV001/REV 4.0 70 3.4.2 Biomonitores Os biomonitores são organismos que respondem às modificações ocorridas no meio ambiente, devido a sua alta capacidade de acúmulo de substâncias tóxicas. São organismos mais qualificados como biomonitores aqueles que possuem seu metabolismo associado à atmosfera, não necessitando de substrato para nutrição. Por exemplo, considerando a poluição atmosférica, há uma grande diferença entre os bioindicadores e biomonitores. Os bioindicadores fornecem informações sobre a qualidade do ar e os biomonitores quantificam as respostas do ambiente. Portanto, todos os biomonitores são bioindicadores, porém nem todos os bioindicadores têm a capacidade de serem biomonitores. Os biomonitores podem ser classificados em: Passivos: são aqueles que já habitam a área de estudo e refletirão a exposição em longo prazo; Ativos: são aqueles incorporados no local de estudo. Exemplos de biomonitores: os líquens 3.4.3 Biomarcadores Os biomarcadores são considerados modificações biológicas que expressam a exposição e/ou o efeito tóxico de poluentes presentes no ambiente. Várias são essas alterações como consequência da interação entre o agente tóxico e seusprodutos juntamente com os organismos vivos. Porém, a determinação dessas alterações só será possível caso exista correlação entre a intensidade da exposição e/ou efeito biológico do agente. Um biomarcador eficiente deve apresentar as seguintes características: Baixo custo de análise; Relativa especificidade; AN02FREV001/REV 4.0 71 Boa sensibilidade; Suscetibilidade. Os objetivos da utilização de biomarcadores dependem da finalidade do estudo e do tipo da exposição química. São eles: Avaliar a exposição (quantidade absorvida ou dose interna); Avaliar os efeitos das substâncias químicas; Avaliar a suscetibilidade individual; Elucidar a relação de causa-efeito e dose-efeito na avaliação de risco à saúde; para fins de diagnóstico clínico; para fins de monitorização biológica; Fornece uma ligação crítica entre a exposição e à substância química, entre a dose interna e prejuízo à saúde. Os biomarcadores são utilizados como ferramentas do Monitoramento Ambiental, juntamente com os bioindicadores. Podem ser classificados em três categorias: a) Biomarcadores de Exposição Os biomarcadores de exposição são utilizados para confirmar e avaliar a exposição individual ou de um grupo, para determinada substância, estabelecendo uma ligação entre a exposição externa e a quantificação da exposição interna. Exemplos: benzeno no sangue; ácido hipúrico, cádmio e 2,5-hexanodiona na urina. b) Biomarcadores de efeito Os biormarcadores de efeito são utilizados com o objetivo de relatar as alterações pré-clínicas ou efeitos adversos à saúde, decorrentes da exposição e absorção do agente químico. Exemplos: A carboxiemoglobina (COHb): e reflete a dose interna do monóxido de carbono ligado ao tecido alvo; Colinesterases: a determinação da atividade das enzimas colinesterase eritrocitária e colinesterase plasmática em indivíduos expostos aos inseticidas organofosforados e/ou carbamatos é utilizada também para o diagnóstico e o tratamento das intoxicações; AN02FREV001/REV 4.0 72 Enzima ácido delta amino-levulínico (ALA-D) nos eritrócitos: esta enzima é altamente sensível à inibição pelo chumbo. Por isso, representa um adequado indicador de efeito para exposição ambiental ao chumbo. Ácido delta amino-levulínico (ALA) na urina: devido à inibição da ALA-D pelo chumbo, o ALA se acumula nos tecidos e é excretado em grande quantidade na urina. Por isso, é considerado mais adequado para avaliar a exposição ocupacional a este metal. c) Biomarcadores de suscetibilidade Os biomarcadores de suscetibilidade são utilizados, pois permitem elucidar o grau de resposta da exposição provocada nos indivíduos. Exemplos podem ser vistos na tabela 10. TABELA 10. EXEMPLOS DE BIOMARCADORES DE SUSCETIBILIDADE 3.5 MONITORAMENTO ECOLÓGICO O monitoramento ecológico ou monitoramento ambiental é uma ferramenta utilizada para mensurar de forma contínua determinada variável em um determinado período de tempo. O monitoramento ecológico ou ambiental pode ser dividido em quatro tipos: Monitoramento químico O monitoramento químico avalia a exposição, mensurando os níveis de contaminantes bem conhecidos nos compartimentos ambientais. AN02FREV001/REV 4.0 73 Monitoramento por bioacumulação O monitoramento por bioacumulação avalia a exposição, levando em consideração os níveis de contaminantes na biota no local de interesse (bioacumulação). Monitoramento do efeito biológico O monitoramento do efeito biológico avalia a exposição e o efeito determinando as primeiras alterações adversas que são parcial ou totalmente reversíveis (biomarcadores). Monitoramento dos ecossistemas O monitoramento de ecossistemas avalia a integridade de um ecossistema, por meio de um inventário ecológico. 3.6 AVALIAÇÃO DO RISCO ECOLÓGICO E PARA POPULAÇÕES HUMANAS Na atualidade, a avaliação dos riscos dos compostos químicos é de fundamental importância para a garantia da saúde ambiental. A avaliação de riscos é uma etapa intermediária entre a pesquisa e o gerenciamento de riscos (Figura 12). AN02FREV001/REV 4.0 74 FIGURA 12. ETAPAS DA AVALIAÇÃO E DO GERENCIAMENTO DE RISCOS FONTE: Arquivo pessoal do autor De acordo com o descrito na figura 12, “a avaliação de riscos é utilizada para sintetizar as informações disponíveis e os julgamentos sobre elas com o objetivo de estimar os riscos associados à exposição aos agentes perigosos”. São objetivos da avaliação de riscos: 1) Proporcionar completa informação aos responsáveis pelo controle dos riscos, principalmente aos que estabelecem políticas e normas. AN02FREV001/REV 4.0 75 2) Determinar a possibilidade de efeitos adversos em seres humanos, outras espécies e ecossistemas expostos aos agentes tóxicos. Serão detalhadas abaixo as etapas básicas do processo de avaliação de riscos: a) Identificação do perigo Nesta etapa do processo são avaliadas as propriedades tóxicas inerentes à substância e os possíveis danos causados por essa substância. Essas informações podem levar em consideração os efeitos nos organismos bem como as suas interações dentro do corpo. As informações nesta etapa são obtidas por meio de estudos em animais, estudos epidemiológicos controlados em populações humanas e estudos clínicos de seres humanos expostos. Podem também ser obtidas por meio de experimentos, envolvendo sistemas não completos (por exemplo: órgãos isolados, células, tecidos), além do estudo da estrutura molecular das substâncias. Portanto, as informações são obtidas a partir de quatro fontes: 1) Estudos epidemiológicos; 2) Estudos de correlação, em que as taxas de doença em populações humanas estão associadas a diferenças de condições ambientais; 3) Informes de casos preparados por equipes de saúde (estudos clínicos); 4) Resumo dos sintomas informados pelas próprias pessoas expostas; b) Avaliação da relação dose-resposta Nesta etapa são estabelecidas as relações existentes entre a dose e a resposta para as diversas formas de toxicidade mostradas pela substância em questão. As informações são obtidas por meio de estudos realizados em animais. Para a extrapolação das informações obtidas em animais para os seres humanos, deve-se levar em consideração que a população humana é bastante heterogênea, ou seja, alguns indivíduos são mais suscetíveis que a média e os animais se diferem dos humanos no tamanho e metabolismo. Esses fatos são considerados sérios problemas na condução desse tipo de estudo. AN02FREV001/REV 4.0 76 Nesta etapa, a premissa básica é de que a cada nível de dose corresponderá a uma determinada resposta ou efeito no organismo. Diante do exposto, torna-se necessário o estabelecimento dos níveis críticos para cada substância, a partir dos quais os danos são classificados em reversíveis ou irreversíveis, dependendo da suscetibilidade de cada organismo à substância. c) Avaliação da exposição Exposição é o contato de uma pessoa a determinado tipo de agente tóxico ao nível dos limites exteriores do seu organismo durante determinado período de tempo. A avaliação da exposição é caracterizada pela determinação ou estimativa da magnitude, da frequência, da duração, da quantidade de pessoas expostas e da identificação das vias de exposição. Por meio dessa etapa é garantida a saúde pública. A avaliação de exposição em seres humanos é orientada por váriasquestões, dentre as principais se encontram: 1) Onde se encontra a substância? 2) Como as pessoas se encontram expostas? 3) Quais são as vias de exposição? 4) Qual o grau de absorção pelas diversas vias de exposição? 5) Quem está exposto? 6) Há grupos de alto risco? 7) Qual a magnitude, a duração e a frequência da exposição? d) Caracterização dos riscos A caracterização dos riscos constitui a etapa mais importante, pois inclui a análise integrada de todo o processo, levando em consideração os resultados mais importantes. É a etapa responsável por integrar e reunir as informações das etapas anteriores detalhadamente e fazer estimativas do risco para os cenários de exposição de interesse. AN02FREV001/REV 4.0 77 Apresenta como objetivos principais: 1) Integrar e resumir a identificação do perigo, a avaliação da relação dose-resposta e a avaliação de exposição; 2) Desenvolver estimativas de riscos para a saúde pública; 3) Desenvolver um marco para definir o significado do risco; 4) Apresentar as suposições, incertezas e juízos científicos. Como resultado final da avaliação de riscos é gerado um relatório, apresentando o perfil qualitativo e quantitativo do excesso de risco em seres humanos provocados pela exposição a substâncias tóxicas. FIM DO MÓDULO II
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