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Anatomia Humana A Página 1 Capítulo I - Instrumentação Cirúrgica 1. Definição A Instrumentação Cirúrgica é, no Brasil, uma profissão de nível técnico e hoje, imprescindível ao nosso país. O instrumentador cirúrgico tem a função de ajudar a equipe cirúrgica no ato cirúrgico, o qual abrange desde a preparação dos instrumentos até o término da cirurgia com a retirada dos pérfuro-cortantes. Para tal ofício exige-se não apenas uma formação adequada e rigorosa, como também uma prática segura, ágil e hábil, em apoio à equipe cirúrgica, de tal forma que a prática da cirurgia não prescinde de sua participação. 2. História A instrumentação cirúrgica nasce no Século XIX com forte influência de Jean Henry Dunant, considerado o pai histórico da Instrumentação Cirúrgica em razão de sua atuação como auxiliar instrumentador dos cirurgiões militares durante a Batalha de Solferino (1859), ainda que não se reconhecesse tal atividade como uma profissão. Henry Dunant - um cidadão suíço - assistiu à sangrenta Batalha de Solferino, travada no norte de Itália, entre o exército imperial austríaco e as forças aliadas da França e da Sardenha e da qual resultaram 40 mil vítimas fatais. Dunant rapidamente reuniu mulheres das aldeias mais próximas para que prestassem auxílio humanitário às vítimas da guerra. Em 1862, Dunant publicou "Recordação de Solferino", no qual, além de escrever as suas memórias da batalha, propôs algumas soluções políticas e lançou o desafio para a criação de sociedades nacionais de auxílio humanitário e de regras mínimas a serem respeitadas em tempos de guerra. Assim, ficaria traçado o caminho para as futuras Convenções de Genebra. Em Fevereiro de 1863, quatro cidadãos juntaram-se a Dunant para levar a cabo um projeto de constituição do "Comitê Internacional de Socorro a Feridos", que, mais tarde viria a ser designado "Comitê Internacional da Cruz Vermelha". Em resposta ao convite do Comitê, especialistas de 16 países reuniram-se em Genebra, em Outubro de 1863, para adotar as 10 Resoluções que formaram a Carta da Cruz Vermelha. Estavam, pois, definidas as funções e os métodos de trabalho para socorro a feridos. A partir desse momento, a Cruz Vermelha tornou-se uma realidade. Anatomia Humana A Página 2 Foi nesse contexto que se escolheu o dia e mês de nascimento de Jean Henry Dunant - 06 de maio de cada ano – para a comemoração do dia do Instrumentador Cirúrgico em demonstração do reconhecimento, pelo Estado Brasileiro, da importância do desse profissional para o desenvolvimento da Cirurgia e a melhoria da saúde do nosso povo. No Século XX aconteceu o período de maior desenvolvimento das cirurgias e conseqüentemente crescimento do papel do instrumentador cirúrgico. Sendo assim, tornaram-se necessários profissionais mais qualificados o que impulsionou o surgimento de escolas formadoras desses profissionais. As primeiras instituições de ensino para Técnicos em Instrumentais Cirúrgicos surgiram em Nice na França, datado em 1954 com o objetivo de preparar os profissionais para a evolução cirúrgica, isto é, tempos cirúrgicos, materiais para cada especialidade entre outras atividades cirúrgicas. O profissional em Instrumentação Cirúrgica tem uma função de extrema importância para o bom desempenho do ato cirúrgico. Fica sobre os seus cuidados todo o instrumental utilizado antes, durante e após a cirurgia. Ele é responsável por facilitar a cirurgia ordenando, controlando e fornecendo o instrumental e material cirúrgicos ao cirurgião e aos seus auxiliares. Dessa forma ele auxilia o trabalho do cirurgião e beneficia o paciente ao reduzir o tempo cirúrgico, diminuindo assim, os índices de contaminação e de infecção pós- operatórias. Com a evolução das intervenções cirúrgicas, exige-se concomitantemente o aumento também do conhecimento de aparelhos e instrumentos modernos, além do conhecimento básico das técnicas usualmente empregadas em atos operatórios, noções de anatomia, assepsia, biossegurança, células e tecidos, ética profissional, fisiologia, higiene e microbiologia. O profissional de Instrumentação Cirúrgica é peça fundamental no bom transcorrer do ato operatório. Sua função primordial é fornecer o instrumental cirúrgico adequado ao cirurgião e ao auxiliar, sendo possível realizar as funções de segundo auxiliar quando o primeiro estiver ocupado, resguardando-se às atividades regidas pela legislação vigente à sua categoria. Ele deverá conhecer a técnica empregada no ato operatório e estar atento à manutenção da antissepsia e assepsia de toda a equipe cirúrgica e tudo que envolve a sala cirúrgica. Conhecer os instrumentos por seus nomes, apelidos e gestos, entregar o instrumento com presteza ao sinal ou pedido verbal do cirurgião, colocando-o em sua mão de forma precisa e exata para uso imediato, não se distrair em nenhum momento do decorrer da cirurgia, pois a antecipação às requisições do cirurgião depende disso, e sempre antes da cirurgia certificar-se que tudo está em ordem, desde os fios e agulhas, até os instrumentos especiais, também são funções importantes de um instrumentador. Anatomia Humana A Página 3 Portanto, dentre as inerentes funções do Instrumentador Cirúrgico a sua maior responsabilidade é com os instrumentais cirúrgicos. Seu objetivo maior, assim como de toda a equipe cirúrgica, é a qualidade e segurança do procedimento cirúrgico, atendendo ao cliente com maior eficácia e eficiência. Observação: O acréscimo no material didático ficará a critério do professor. Capítulo II: A História da Anatomia Humana 1. Conceito A Anatomia (anã = em partes + tomein = cortar) estuda macroscopicamente a constituição dos seres, identificando órgãos e sistemas. Por ser antiga, é considerada uma ciência-mãe, uma vez que dá suporte para as demais ciências biológicas, o que permite a identificação e o estabelecimento conceitual dos sistemas orgânicos. Vários anos foram necessários para que uma linguagem padrão fosse estabelecida pelos anatomistas. A nomenclatura anatômica, como foi chamada essa linguagem universal, tornou possível a padronização nominal das estruturas do corpo, diminuindo o vasto dicionário de termos anatômicos existentes, além de constituir um avanço no campo conciliatório entre os anatomistas do mundo inteiro. 2. Breve Histórico da Anatomia Humana O conhecimento anatômico do corpo humano data de quinhentos anos antes de Cristo no sul da Itália com Alcméon de Crotona, que realizou dissecações em animais. Pouco tempo depois, um texto clínico da escola hipocrática descobriu a anatomia do ombro conforme havia sido estudada com a dissecação. Aristóteles mencionou as ilustrações anatômicas quando se referiu aos paradigmata, que provavelmente eram figuras baseadas na dissecação animal. No século III A.C., o estudo da anatomia avançou consideravelmente na Alexandria. Muitas descobertas lá realizadas podem ser atribuídas a Herófilo e Erasístrato, os primeiros que realizaram dissecações humanas de modo sistemático. A partir do ano 150 A.C. a dissecação humana foi de novo proibida por razões éticas e religiosas. O conhecimento anatômico sobre o corpo humano continuou no mundo helenístico, porém só se conhecia através das dissecações em animais. Parece que o estudo da anatomia humana recomeçou mais por razões práticas que intelectuais.A guerra não era um assunto local e se fez necessário dispor de Anatomia Humana A Página 4 meios para repatriar os corpos dos mortos em combate. O embalsamento era suficiente para trajetos curtos, mas as distâncias maiores como as Cruzadas introduziram a prática de “cocção dos ossos”. O motivo mais importante para a dissecação humana, foi o desejo de saber a causa da morte por razões essencialmente médico-legais, de averiguar o que havia matado uma pessoa importante ou elucidar a natureza da peste ou outra enfermidade infecciosa. O verbo “dissecar” era usado também para descrever a operação cesariana cada vez mais freqüente. A tradição manuscrita do período medieval não se baseou no mundo natural. As ilustrações anteriores eram aceitas e copiadas. Em geral, a capacidade dos escritores era limitada e ao examinar a realidade natural, introduziram pelo menos alguns erros tanto de conceito como de técnica. As coisas “eram vistas” tal qual os antigos e as ilustrações realistas eram consideradas como um curto-circuito do próprio método de estudo. A anatomia não era uma disciplina independente, mas um auxiliar da cirurgia, que nessa época era relativamente grosseira e reunia sobre todo conhecer os pontos apropriados para a sangria. Durante todo o tempo que a anatomia ostentou essa qualidade oposta à prática, as figuras não-realistas e esquemáticas foram suficientes. Uma das primeiras e mais acertada solução para uma reprodução perfeita das representações gráficas foi encontrada nas ilustrações publicadas nos tratados anatômicos de Andrés Vesálio (1514-1564), que culminou com seu De humanis corpori fabrica em 1453, um dos livros mais importantes da história do homem. Vesálio nasceu em Bruxelas em 1514, no seio de uma família muito relacionada com a casa de Borgonha e a corte do Imperador da Alemanha. Sua primeira formação médica foi na Universidade de Paris (onde esteve com mestres como Jacques du Bois e Guinter de Andernach), e foi interrompida pela guerra entre França e o Sacro Império Romano. Vesálio completou seus estudos na renomada escola médica de Pádua, no norte da Itália. Após seu término começou a estudar cirurgia e anatomia. Após alguns trabalhos preliminares, em 1543, com a idade de 28 anos, publicou seu opus magnun, que revolucionou não só a anatomia como também o ensino científico em geral. As ilustrações da Fabrica destacam-se precisamente pela sua estreita relação com o texto, já que ajudam no entendimento do que este expressa com dificuldade. Supera a pauta expositiva usada por Mondino, e cada um dos sistemas principais (ossos, músculos, vasos sangüíneos, nervos e órgãos internos) é representado e estudado separadamente. As partes de cada sistema orgânico são expostas tanto em conjunto como individualmente e mesmo assim são consideradas todas as relações entre essas estruturas. Vesálio comprovou também que não são iguais em todos os indivíduos Anatomia Humana A Página 5 No século XVII foram efetuadas notáveis descobertas no campo da anatomia e da fisiologia humana. Francis Glisson (1597-1677) descreveu em detalhes o fígado, o estômago e o intestino. Apesar de seus pontos de vista sobre a biologia serem basicamente aristotélicos, teve também concepções modernas, como a que se refere aos impulsos nervosos responsáveis pelo esvaziamento da vesícula biliar. Thomas Wharton (1614-1673) deu um grande passo ao ultrapassar a velha e comum idéia de que o cérebro era uma glândula que secretava muco (sem dúvida, continuou acreditando que as lágrimas se originavam ali). Wharton descreveu as características diferenciais das glândulas digestivas, linfáticas e sexuais. O conduto de evacuação da glândula salivar submandibular conhece-se como conduto de Wharton. Uma importante contribuição foi distinguir entre glândulas de secreção interna (chamadas hoje endócrinas), cujo produto cai no sangue, e as glândulas de secreção externa (exócrinas), que descarregam nas cavidades. Niels Steenson em 1611 estabeleceu a diferença entre esse tipo de glândula e os nódulos linfáticos ( que recebiam o nome de glândula apesar de não formar parte do sistema). Considerava que as lágrimas provinham do cérebro. A nova concepção dos sistemas de transporte do organismo que se obteve graças às contribuições de muitos investigadores ajudou a resolver os erros da fisiologia galênica referentes à produção de sangue. Gasparo Aselli (1581-1626) descobriu que após a ingestão abundante de comida o peritônio e o intestino de um cachorro se cobriam de umas fibras brancas que, ao serem seccionadas, extravasavam um líquido esbranquiçado. Tratava-se dos capilares quilíferos. Até a época de Harvey se pensava que a respiração estimulava o coração para produzir espíritos vitais no ventrículo direito. Harvey, porém, demonstrou que o sangue nos pulmões mudava de venoso para arterial, mas desconhecia as bases desta transformação. A explicação da função respiratória levou muitos anos, mas durante o século XVII foram dados passos importantes para seu esclarecimento. Robert Hook (1635-1703) demonstrou que um animal podia sobreviver também sem movimento pulmonar se inflássemos ar nos pulmões. Richard Lower (1631-1691) foi o primeiro a realizar transfusão direta de sangue, demonstrando a diferença de cor entre o sangue arterial e o venoso, a qual se devia ao contato com o ar dos pulmões. John Mayow (1640-1679) afirmou que a vermelhidão do sangue venoso se devia à extração de alguma substância do ar. Chegou à conclusão de que o processo respiratório não era Anatomia Humana A Página 6 mais que um intercâmbio de gases do ar e do sangue; este cedia o espírito nitroaéreo e ganhava os vapores produzidos pelo sangue. Em 1664 Thomas Willis (1621-1675) publicou De Anatomi Cerebri (ilustrado por Christopher Wren e Richard Lower), sem dúvida o compêndio mais detalhado sobre o sistema nervoso. Seus estudos anatômicos ligaram seu nome ao círculo das artérias da base do cérebro, ao décimo primeiro par craniano e também a um determinado tipo de surdez. Contudo, sua obsessão em localizar no nível anatômico os processos mentais o fez chegar a conclusões equívocas; entre elas, que o cérebro controlava os movimentos do coração, pulmões, estômago e intestinos e que o corpo caloso era assunto da imaginação. 2. Episódio Macabro no Ensino da Anatomia No século XVIII, Edinburgh, na Grã-Bretanha, era um grande centro de estudos anatômicos. Na Universidade, a cátedra de Anatomia foi ocupada pela dinastia dos Monro por três gerações. O primeiro deles, Alexander Monro primus lecionou de 1720 a 1758, tendo sido substituído por seu filho Alexander Monro secundus, que se destacou como autor de quatro importantes obras de Anatomia, numa das quais, publicada em 1797, descreveu o chamado "buraco de Monro". Sucedeu-lhe seu filho, Alexander Monro tertius, que não possuía as qualidades do pai, e o ensino de Anatomia na Universidade entrou em declínio. Na época, era permitido o ensino paralelo em escolas e cursos privados. Para o ensino de anatomia destacava-se o curso extracurricular dirigido por John Barclay, anatomista de grande renome e prestígio internacional. Barclay convidou para ser seu assistente ao Dr. Robert Knox, que se tornou um dos personagens do episódio que vamos narrar. Antes, precisamos saber quemera Robert Knox. Robert Knox (1791-1862) era natural de Edinburgh, onde foi educado. No colégio fora um aluno brilhante, tendo sido premiado por seu desempenho nos estudos e conduta exemplar. Graduou-se em medicina em 1814, ingressando no ano seguinte no Exército como cirurgião- auxiliar. Uma de suas primeiras atuações foi a de atender feridos da batalha de Waterloo. Em 1815 foi promovido a Anatomia Humana A Página 7 cirurgião-assistente, indo servir na África do Sul, onde permaneceu durante três anos. Durante sua estada na África do Sul interessou-se por estudos de anatomia comparada, antropologia e características étnicas dos povos africanos. Retornando a Edinburgh em 1821 licenciou-se do Exército e foi estagiar em Paris com Cuvier, um dos grandes anatomistas da época. De volta a Edinburgh aceitou o convite de Barclay para ser seu assistente no curso de anatomia. Entre 1821 e 1823 Knox publicou vários trabalhos científicos no Edinburgh Medical Journal e em dezembro de 1823 foi eleito membro da Royal Society. Barclay possuía uma grande coleção de peças anatômicas, que ele doou ao Royal College of Surgeons de Edinburgh para instalação de um museu de anatomia e, em 1825, Knox foi indicado para Conservador do museu. Este museu foi enriquecido com outra grande coleção de anatomia e anatomia patológica adquirida pelo Colégio, em Londres, de Charles Bell. Knox encarregou-se de organizar o museu, catalogando todas as peças. Paralelamente a essas atividades, Knox firmou-se como professor de anatomia na escola de Barclay. Suas aulas eram muito apreciadas pelos alunos por seu conteúdo, exposição didática e, sobretudo, pelas demonstrações práticas em dissecções de cadáveres. Em agosto de 1826 Barclay faleceu e Knox assumiu a direção da escola, que contava, naquele ano, com 300 alunos matriculados. Na ocasião, o ensino prático de anatomia era dificultado pela falta de cadáveres para dissecção. A dissecção só era legalmente permitida em corpos dos criminosos condenados ao patíbulo, pois fazia parte da pena de morte negar ao criminoso sepultamento digno em terreno santificado pela Igreja. O número de criminosos condenados à morte era insuficiente para prover as necessidades do ensino de anatomia. Em conseqüência, surgiu o mercado negro de cadáveres, os quais eram exumados por ladrões no cemitério, logo após o sepultamento, e vendidos às escolas médicas. Os cadáveres deviam ser recentes, pois não havia os métodos de conservação atuais. Os ladrões de cadáveres passaram a ser chamados de ressurreccionistas. As famílias dos mortos, para se defenderem dos ressurreccionistas, costumavam proteger o túmulo com grades ou pagar vigias noturnos. Alguns cemitérios foram cercados de muros ou dispunham de torres de observação e policiamento contínuo. Mesmo assim, os ladrões de cadáveres conseguiam ludibriar toda a vigilância. Anatomia Humana A Página 8 Curiosamente, os ressurreccionistas, quando acusados, não eram condenados, por falta de amparo legal, pois não havia lei prevendo este tipo de crime e a violação da sepultura não se enquadrava como roubo, já que o cadáver não é propriedade de ninguém. Foi nesse ambiente que ocorreu o episódio macabro que abalou a opinião pública, não somente na Inglaterra, como em todo o mundo. Dois irlandeses, William Hare e William Burke, que residiam em Edinburgh, cometeram uma série de assassinatos com o fim de vender os corpos das vítimas para dissecção nas aulas de anatomia. William Hare residia em uma pensão, cujo proprietário, Mr. Log, veio a falecer. Hare casou-se com a viúva, Margaret, passando da condição de hóspede a dono da pensão. William Burke e sua amante, Helen Mc Douglas, foram residir na referida pensão como inquilinos. Hare e Burke costumavam beber juntos e tornaram-se amigos. Em 29 de novembro de 1827, um dos pensionistas, de nome Donald, aposentado que vivia só, morreu subitamente, deixando uma dívida para com a pensão. Hare teve a idéia de vender o cadáver para dissecção, com o fim de se ressarcir do prejuízo. Com a ajuda de Burke simulou o sepultamento, colocando no caixão um peso equivalente ao de uma pessoa. Hare tencionava vender o corpo para Alexander Monro, na Universidade, porém foi informado por um estudante que a escola de anatomia do Dr. Knox pagaria um preço melhor. O corpo foi vendido para o Dr. Knox por 7.1 libras. Encorajados com o sucesso da operação, perceberam ambos que a venda de cadáveres era um negócio muito lucrativo. Em lugar de violar sepulturas no cemitério, o que era trabalhoso e arriscado, idealizaram um processo mais fácil de obter o cadáver, que puseram em prática. A estratégia consistia em atrair para a pensão pessoas desamparadas, pedintes de rua, cuja morte não seria notada pela comunidade, passando despercebida. A vítima era embriagada com whisky e, a seguir, morta por asfixia, comprimindo-se com um travesseiro ou almofada seu rosto, impedindo-a de respirar. Esse método não deixava vestígio da causa da morte. Burke se encarregava da execução e Hare de negociar a venda do corpo. Os estudantes do curso de Anatomia do Dr. Knox passaram a desconfiar de que algo estranho estaria ocorrendo, dada a quantidade de corpos disponíveis para dissecção, todos em bom estado, ao contrário da escassez habitual. Dois corpos chegaram a ser identificados por alguns estudantes: o de uma prostituta, de nome Mary Paterson, e de um homem popular conhecido por Daft Jamie. Anatomia Humana A Página 9 Comunicaram o fato ao Dr. Knox, que não o levou em consideração, e os corpos foram imediatamente dissecados. Durante o ano de 1828 pelo menos 16 corpos foram vendidos à escola de anatomia do Dr. Knox. A última vítima foi de uma irlandesa de nome Mary Docherty, que desapareceu da pensão de um dia para outro, levantando suspeitas entre os demais hóspedes, especialmente do casal Gray, que encontrou o corpo debaixo de uma cama. A polícia foi avisada, porém quando chegou à pensão já o corpo não se encontrava no local. Alguns vizinhos, contudo, relataram ter visto dois homens carregando uma grande caixa de madeira. A polícia, já ciente da suspeita que pairava na escola de anatomia do Dr. Knox, para lá se dirigiu, onde encontrou e identificou o corpo da vítima. Em 24 de dezembro de 1828 foram presos Hare e sua mulher e Burke com sua amante. Na impossibilidade de obter uma prova concreta de que se tratava de assassinato, visto que não havia ferimentos ou sinais de violência no corpo da vítima, a polícia propôs a Hare que, se ele confessasse, somente Burke seria julgado pelo assassinato de Mary Docherty. Hare contou toda a verdade e foi posto em liberdade juntamente com sua mulher. Burke foi julgado e condenado à forca. Sua amante, Helen Mc Donald, acusada de cumplicidade, foi absolvida por falta de provas. Antes de sua morte, Burke confirmou que havia matado, ao todo, 16 pessoas, porém negou que jamais houvesse violado uma sepultura para roubo de cadáver. Sua execução, na forca, ocorreu no dia 28 de janeiro de 1829 e foi assistida por uma multidão de milhares de pessoas, de todas as classes sociais, que se acotovelavam para ver de perto o criminoso. Fazia parte da sentença que o seu corpo fosse publicamente dissecado pelo Prof. Alexander Monro tertius, o que foi feito. Durante a dissecção, em presença de estudantes ede curiosos, houve um tumulto e a maior parte da pele do criminoso, que já havia sido retirada, desapareceu. Tempos depois apareceram à venda, livros encadernados com a pele curtida de Burke. Um de tais livros pode ser visto no museu da Universidade, assim como o esqueleto de Burke. Dr. Knox foi apontado como receptador dos corpos das vítimas assassinadas e levantou-se contra ele a suspeita de que teria conhecimento da procedência dos cadáveres. Como não se comprovou sua culpabilidade, ele não foi processado, porém caiu em desgraça perante a opinião pública. O seu curso de anatomia, que chegou a ter 504 alunos matriculados nos anos de 1827 e 1828, esvaziou-se progressivamente. Em 1831, sentindo-se constrangido e alvo de desconfiança e de ataques, Knox deixou o cargo de Conservador do museu e em 1842 mudou-se definitivamente para Londres, onde viveu os últimos anos de sua vida. Hare fugiu para Londres, onde terminou seus dias como indigente. Ignora-se o destino de Margaret Hare e Helen McDouglas. Anatomia Humana A Página 10 Os fatos ocorridos em Edinburgh repercutiram intensamente no Parlamento britânico, que promulgou, em 1832, o Anatomy Act, segundo o qual passou a ser permitido o uso de cadáveres não reclamados por familiares para o ensino de anatomia. Com isto extinguiu-se na Grã Bretanha o mercado negro de cadáveres e a prática de roubo de corpos nos cemitérios. Este macabro episódio ficou marcado na história da língua inglesa pela criação do neologismo burkism e do verbo to burk, com o sentido de sufocar, matar alguém para venda do cadáver, assassinar sem deixar vestígio. "Ao te curvares com a rígida lâmina de teu bisturi sobre o cadáver desconhecido, lembra-te que este corpo nasceu do amor de duas almas, cresceu embalado pela fé e pela esperança daquela que em seu seio o agasalhou. Sorriu e sonhou os mesmos sonhos das crianças e dos jovens. Por certo amou e foi amado, esperou e acalentou um amanhã feliz e sentiu saudades dos outros que partiram. Agora jaz na fria lousa, sem que por ele se tivesse derramado uma lágrima sequer, sem que tivesse uma só prece. Seu nome, só Deus sabe. Mas o destino inexorável deu-lhe o poder e a grandeza de servir à humanidade. A humanidade que por ele passou indiferente"(Rokitansky, 1876) Observação: O acréscimo no material didático ficará a critério do professor. Capítulo III - Introdução ao Estudo da Anatomia 1. Conceito de anatomia Anatomia Humana A Página 11 Anatomia é a ciência que estuda, macro e microscopicamente, a constituição e o desenvolvimento dos seres organizados. Um excelente e amplo conceito de anatomia foi proposto em 1981 pela american association of anatomists: anatomia é a análise da estrutura biológica, sua correlação com a função e com as modulações de estrutura em resposta a fatores temporais, genéticos e ambientais. Tem como metas principais a compreensão dos princípios arquitetônicos da construção dos organismos vivos, a descoberta da base estrutural do funcionamento das várias partes e a compreensão dos mecanismos formativos envolvidos no desenvolvimento destas. A amplitude da anatomia compreende, em termos temporais, desde o estudo das mudanças a longo prazo da estrutura, no curso de evolução, passando pelas das mudanças de duração intermediária em desenvolvimento, crescimento e envelhecimento; até as mudanças de curto prazo, associadas com fases diferentes de atividade funcional normal. Em termos do tamanho da estrutura estudada vai desde todo um sistema biológico, passando por organismos inteiros e/ou seus órgãos até as organelas celulares e macromoléculas. A palavra Anatomia é derivada do grego anatome (ana = através de; tome = corte). Dissecação deriva do latim (dis = separar; secare = cortar) e é equivalente etimologicamente a anatomia. Contudo, atualmente, Anatomia é a ciência, enquanto dissecar é um dos métodos desta ciência. Seu estudo tem uma longa e interessante história, desde os primórdios da civilização humana. Inicialmente limitada ao observável a olho nu e pela manipulação dos corpos, expandiu-se, ao longo do tempo, graças a aquisição de tecnologias inovadoras. Atualmente, a Anatomia pode ser subdividida em três grandes grupos: Anatomia macroscópica Anatomia microscópica e Anatomia do desenvolvimento. A Anatomia Macroscópica é o estudo das estruturas observáveis a olho nu, utilizando ou não recursos tecnológicos os mais variáveis possíveis, enquanto a Anatomia Microscópica é aquela relacionada com as estruturas corporais invisíveis a olho nu e requer o uso de instrumental para ampliação, como lupas, microscópios ópticos e eletrônicos. Este grupo é dividido em Citologia (estudo da célula) e Histologia (estudo dos tecidos e de como estes se organizam para a formação de órgãos). Anatomia Humana A Página 12 A Anatomia do desenvolvimento estuda o desenvolvimento do indivíduo a partir do ovo fertilizado até a forma adulta. Ela engloba a Embriologia que é o estudo do desenvolvimento até o nascimento. Embora não sejam estanques, a complexidade destes grupos torna necessária a existência de estudos específicos. 2. Normal e Variação Anatômica Normal, para o anatomista, é o estatisticamente mais comum, ou seja, o que é encontrado na maioria dos casos. Variação anatômica é qualquer fuga do padrão sem prejuízo da função. Assim, a artéria braquial mais comumente divide-se na fossa cubital. Este é o padrão. Entretanto, em alguns indivíduos esta divisão ocorre ao nível da axila. Como não existe perda funcional esta é uma variação. Quando ocorre prejuízo funcional trata-se de uma anomalia e não de uma variação. Se a anomalia for tão acentuada que deforme profundamente a construção do corpo, sendo, em geral, incompatível com a vida, é uma monstruosidade. 3. Nomenclatura Anatômica Como toda ciência, a Anatomia tem Anatomia Humana A Página 13 sua linguagem própria. Ao conjunto de termos empregados para designar e descrever o organismo ou suas partes dá-se o nome de Nomenclatura Anatômica. Com o extraordinário acúmulo de conhecimentos no final do século passado, graças aos trabalhos de importantes “escolas anatômicas” (sobretudo na Itália, França, Inglaterra e Alemanha), as mesmas estruturas do corpo humano recebiam denominações diferentes nestes centros de estudos e pesquisas. Em razão desta falta de metodologia e de inevitáveis arbitrariedades, mais de 20 000 termos anatômicos chegaram a ser consignados (hoje reduzidos a poucos mais de 5 000). A primeira tentativa de uniformizar e criar uma nomenclatura anatômica internacional ocorreu em 1895. Em sucessivos congressos de Anatomia em 1933, 1936 e 1950 foram feitas revisões e finalmente em 1955, em Paris, foi aprovada oficialmente a Nomenclatura Anatômica, conhecida sob a sigla de P.N.A. (Paris Nomina Anatomica). Revisões subseqüentes foram feitas em 1960, 1965 e 1970, visto que a nomenclatura anatômica tem caráter dinâmico, podendo ser sempre criticada e modificada, desde que haja razões suficientes para as modificações e que estas sejam aprovadas em Congressos Internacionais de Anatomia . A língua oficialmente adotada é o latim (por ser “língua morta”), porém cada país pode traduzi-la paraseu próprio vernáculo. Ao designar uma estrutura do organismo, a nomenclatura procura utilizar termos que não sejam apenas sinais para a memória, mas traga também alguma informação ou descrição sobre a referida estrutura. Dentro deste princípio, foram abolidos os epônimos (nome de pessoas para designar coisas) e os termos indicam: a forma (músculo trapézio); a sua posição ou situação (nervo mediano); o seu trajeto (artéria circunflexa da escápula); as suas conexões ou inter-relações (ligamento sacroilíaco); a sua relação com o esqueleto (artéria radial); sua função (m. levantador da escápula); critério misto (m. flexor superficial dos dedos – função e situação). Entretanto, há nomes impróprios ou não muito lógicos que foram conservados, porque estão consagrados pelo uso. 4. Posição Anatômica Para evitar o uso de termos diferentes nas descrições anatômicas, considerando-se que a posição pode ser variável, optou-se por uma posição padrão, denominada posição de descrição anatômica (posição anatômica). Deste modo, os anatomistas, quando escrevem seus textos, referem-se ao objeto de descrição considerando o indivíduo como se estivesse sempre na posição padronizada. Nela o indivíduo está em posição ereta (em pé, posição ortostática ou bípede), com a face voltada para a frente, o olhar Anatomia Humana A Página 14 dirigido para o horizonte, membros superiores estendidos, aplicados ao tronco e com as palmas voltadas para frente, membros inferiores unidos, com as pontas dos pés dirigidas para frente. 5. Divisão do Corpo Humano O corpo humano divide-se em cabeça, pescoço, tronco e membros. A cabeça corresponde à extremidade superior do corpo estando unida ao tronco por uma porção estreitada, o pescoço. O tronco compreende o tórax e o abdome com as respectivas cavidades torácica e abdominal; a cavidade abdominal prolonga-se inferiormente na cavidade pélvica. Dos membros, dois são superiores ou torácicos e dois inferiores ou pélvicos. Cada membro apresenta uma raiz, pela qual está ligada ao tronco, e uma parte livre. 6. Planos de Delimitação e Secção do Corpo Humano CORPO HUMANO TRONCO PESCOÇO CABEÇA MEMBROS TÓRAX ABDOME SUPERIORES INFERIORE S COXA PERNA PÉ BRAÇO ANTEBRAÇO MÃO Anatomia Humana A Página 15 A. Plano Sagital Mediano (ou, simplesmente, mediano): plano vertical que passa longitudinalmente através do corpo, dividindo-o em dois antímeros direito e esquerdo. Nota 1: chama-se, genericamente, de planos sagitais aos planos verticais que passam através do corpo, paralelos ao plano mediano. Qualquer plano paralelo ao plano mediano é sagital, por definição. Nota 2: os planos tangentes ao corpo e paralelo aos sagitais são denominados laterais direito e esquerdo. B. Plano Frontal Médio: plano vertical, que passa através do corpo em ângulo reto com o plano mediano, dividindo-o em dois paquímeros ventral e dorsal. Nota 1: denomina-se planos frontais (ou coronais) à quaisquer planos paralelos ao frontal mediano e que dividem o corpo em partes anterior (frente) e posterior (de trás). Nota 2: os planos tangentes ao corpo e paralelos aos frontais são denominados ventral (ou anterior) e dorsal (ou posterior). C. Planos Transversais (transversos): são planos horizontais, perpendiculares aos planos sagitais e frontais, que dividem o corpo em metâmeros. Nota 1: Ao plano paralelo aos transversais que tangencia a cabeça denomina-se cranial ou superior; e ao que tangencia os pés é chamado de inferior ou podálico. Nota 2: O tronco isolado é limitado, inferiormente, pelo plano que passa pelo vértice do cóccix, o plano caudal. 7. Termos de Posição e Direção A situação e a posição das estruturas anatômicas são indicadas em função dos planos de delimitação e secção. Assim, duas estruturas dispostas em um plano frontal serão chamadas de medial e lateral conforme estejam, respectivamente, mais próxima ou mais distante do plano mediano do corpo. Duas estruturas localizadas em um plano sagital serão chamadas de anterior (ou ventral) e posterior (ou dorsal) conforme estejam, respectivamente, mais próxima ou mais distante do plano anterior. Para estruturas dispostas longitudinalmente, os termos são superior (ou cranial) para a mais próxima ao plano cranial e inferior (ou caudal) para a mais distante deste plano. Para estruturas dispostas longitudinalmente nos membros emprega-se, comumente, os termos proximal e distal referindo-se às estruturas respectivamente mais próxima e mais distante da raiz do membro. Para o tubo digestivo emprega-se os termos oral e aboral, referindo-se às estruturas respectivamente mais próxima e mais distante da boca. Uma terceira estrutura situada entre uma lateral e outra medial é chamada de intermédia. Nos outros casos (terceira estrutura situada entre uma anterior e outra posterior, ou entre uma superior e outra inferior, ou entre uma proximal e outra distal ou ainda uma oral e outra aboral) é denominada de média. Estruturas situadas ao longo do plano mediano são denominadas de medianas, sendo este um conceito absoluto, ou seja, uma estrutura mediana será sempre Anatomia Humana A Página 16 mediana, enquanto os outros termos de posição e direção são relativos, pois baseiam-se na comparação do seu posicionamento. Anatomia Humana A Página 17 8. Termos De Movimento Na análise de movimento realizado, a determinação do eixo de movimento realizado é feita obedecendo a regra, segundo a qual, a direção do eixo de movimento é sempre perpendicular ao plano no qual se realiza o movimento. Assim, todo movimento é realizado em um plano determinado e o seu eixo de movimento é perpendicular àquele plano. MOVIMENTOS ANGULARES Nestes movimentos há uma diminuição ou aumento do ângulo existente entre o segmento que se desloca e aquele que permanece fixo. Flexão e Extensão Flexão: É a diminuição do ângulo de uma articulação ou aproximação de duas estrutura ósseas. Extensão: É o aumento do ângulo de uma articulação ou afastar duas estruturas ósseas. Adução e Abdução São movimentos nos quais o segmento é deslocado, respectivamente, em direção ao plano mediano (adução) ou em direção oposta, isto é, afastando-se dele (abdução). Circundação Em alguns segmentos do corpo, especialmente nos membros, o movimento combinatório que inclui adução, extensão, abdução e flexão resulta na circundação. Neste tipo de movimento, a extremidade distal do segmento descreve Anatomia Humana A Página 18 um círculo e o corpo do segmento, um cone, cujo vértice é representado pela articulação que se movimenta. Rotação É o movimento em que o segmento gira em torno de um eixo longitudinal (vertical). Assim, nos membros, pode-se reconhecer uma rotação medial, quando a face anterior do membro gira em direção ao plano mediano do corpo, e uma rotação lateral, no movimento oposto. Mão: Rotação medial do antebraço = pronação. Rotação lateral do antebraço = supinação. Pé: Adução + Supinação (rotação medial) = inversão (do calcâneo) Abdução + Pronação (rotação lateral)= eversão (do calcâneo) 9. Divisão do Estudo da Anatomia Osteologia: parte da anatomia que estuda os ossos. Miologia: parte da anatomia que estuda os músculos. Sindesmologia ou Artrologia: parte da anatomia que estuda as articulações. Angiologia: parte da anatomia que estuda o coração e os grande vasos. Anatomia Humana A Página 19 Neuroanatomia: parte da anatomia que estuda o sistema nervoso central e o periférico. Estesiologia: parte da anatomia que estuda os órgãos que se destinam à captação das sensações. Esplancnologia: parte da anatomia que estuda as vísceras que se agrupam para o desempenho de uma determinada função como: fonação, digestão, respiração, reprodução e urinária. Endocrinologia: parte da anatomia que estuda as glândulas sem ducto, que segregam hormônios, os quais são drenados diretamente na corrente sanguínea. Tegumento comum: parte da anatomia que estuda a pele e os seus anexos. Nos próximos capítulos iremos estudar a Anatomia Humana dividida em sistemas seguindo a seguinte ordem: Sistema Esquelético, Sistema Articular, Sistema Muscular, Sistema Nervoso, Sistema Circulatório, Sistema Respiratório, Sistema Digestório, Sistema Urinário, Sistema Reprodutor, Sistema Endócrino, Sistema Sensorial e Sistema Tegumentar. Observação: O acréscimo no material didático ficará a critério do professor. Capítulo IV – Sistema Esquelético 1. Considerações Gerais Sistema esquelético (ou esqueleto) humano consiste em um conjunto de ossos, cartilagens e ligamentos que se interligam para formar o arcabouço do corpo e desempenhar várias funções, tais como: proteção (para órgãos como o coração, pulmões e sistema nervoso central); sustentação e conformação do corpo; local de armazenamento de cálcio e fósforo (durante a gravidez a calcificação fetal se faz, em grande parte, pela reabsorção destes elementos armazenados no organismo materno); sistema de alavancas que movimentadas pelos músculos permitem os deslocamentos do corpo, no todo ou em parte e, finalmente, local de produção de várias células do sangue. O sistema esquelético pode ser dividido porções: Uma mediana, formando o eixo do corpo, composta pelos ossos da cabeça, pescoço e tronco, O esqueleto axial formado pelo trono e cinturas, O esqueleto apendicular. A união entre estas duas porções se faz por meio de cinturas: escapular (ou torácica), constituída pela escápula e clavícula e pélvica constituída pelos ossos do quadril. No adulto existem 206 ossos, distribuídos ao longo do corpo. Este número varia de acordo com a idade (do nascimento a senilidade há uma redução do número de ossos), fatores individuais e critérios de contagem. Anatomia Humana A Página 20 2. Coluna Vertebral No tronco destaca-se a coluna vertebral que é uma haste forte e flexível, didaticamente dividida em duas porções: anterior, constituída pelo ligamento longitudinal anterior, corpo vertebral, disco intervertebral e ligamento longitudinal posterior, e outra, posterior, constituída pelo canal vertebral, ligamento amarelo, articulações inter-apofisárias, ligamentos interespinhais e supra-espinhais, pedículos, lâminas, processos transversos e espinhosos. A flexibilidade é sua principal característica, pois as vértebras apresentam mobilidade entre si. A estabilidade é fornecida por sua estrutura ligamentar e osteomuscular. Entre suas funções, temos: proteção da medula espinhal, movimentação e marcha, manutenção da posição ereta, suporte do peso corporal e ligação de todas as suas regiões desde a occipital até o sacro. Os 33 corpos vertebrais constituem os principais pilares da coluna, todos eles com características próprias, sendo: • 7 cervicais • 12 torácicos • 5 lombares • 5 sacrais • 4 coccígeos As vértebras são conectadas entre si pelas articulações posteriores entre os corpos vertebrais e os arcos neurais. Elas se articulam de modo a conferir estabilidade e flexibilidade à coluna, atributos necessários para a mobilidade do tronco, postura, equilíbrio e suporte de peso, e em seu interior o canal vertebral, eixo central que contém a medula espinhal. Anatomia Humana A Página 21 3. Classificação dos Ossos Há várias maneiras de classificar os ossos. Uma delas é classificá-los por sua posição topográfica, reconhecendo-se ossos axiais (que pertencem ao esqueleto axial) e apendiculares (que fazem parte do esqueleto apendicular). Entretanto, a classificação mais difundida é aquela que leva em consideração a forma dos ossos, classificando-os segundo a relação entre suas dimensões lineares (comprimento, largura ou espessura), em ossos longos, curtos, laminares e irregulares. Osso longo Seu comprimento é consideravelmente maior que a largura e a espessura. Consiste em um corpo ou diáfise e duas extremidades ou epífises. A diáfise apresenta, em seu interior, uma cavidade, o canal medular, que aloja a medula óssea. Exemplos típicos são os ossos do esqueleto apendicular: fêmur, úmero, rádio, ulna, tíbia, fíbula, falanges. Osso laminar Seu comprimento e sua largura são equivalentes, predominando sobre a espessura. Ossos do crânio, como o parietal, frontal, occipital e outros como a escápula e o osso do quadril, são exemplos bem demonstrativos. São também chamados (impropriamente) de ossos planos. Osso curto Apresenta equivalência das três dimensões. Os ossos do carpo e do tarso são excelentes exemplos. Osso irregular Apresenta uma morfologia complexa não encontrando correspondência em formas geométricas conhecidas. As vértebras e osso temporal são exemplos marcantes. Anatomia Humana A Página 22 Osso pneumático Apresenta uma ou mais cavidades, de volume variável, revestidas de mucosa e contendo ar. Estas cavidades recebem o nome de sinus ou seio. Os ossos pneumáticos estão situados no crânio: frontal, maxilar, temporal, etmóide e esfenóide. Osso sesamóide Que se desenvolve na substância de certos tendões ou da cápsula fibrosa que envolve certas articulações. os primeiros são chamados intratendíneos e os segundos periarticulares. A patela é um exemplo típico de osso sesamóide intratendíneo. 4. Configuração Interna do Osso A análise do osso por microscopia revela duas regiões que divergem entre si pelo número de espaços livres entre as trabéculas ósseas, denominadas substância óssea compacta e substância esponjosa. Embora os elementos constituintes sejam os mesmo nos dois tipos de substâncias ósseas, eles dispõem-se diferentemente conforme o tipo considerado, e, seu aspecto macroscópico também se difere. Na substância óssea compacta as lamínulas de tecido ósseo encontram-se fortemente unidas umas às outras pelas suas faces, sem que haja espaço livre interposto. Por esta razão, esse tipo é mais denso e rígido. Na substância óssea esponjosa as lamínulas ósseas, mais irregulares em forma e tamanho, se arranja de forma a deixar entre si espaços ou lacunasque se comunicam umas com as outras. Anatomia Humana A Página 23 5. Características Gerais Ósseas No vivente e no cadáver o osso se encontra sempre revestido por delicada membrana conjuntiva, com exceção das superfícies articulares. Esta membrana é denominada periósteo e apresenta dois folhetos: um superficial e outro profundo, este em contato direto com a superfície óssea. A camada profunda é chamada osteogênica pelo fato de suas células se transformarem em células ósseas, que são incorporadas à superfície do osso, promovendo assim o seu espessamento. Os ossos são altamente vascularizados. As artérias do periósteo penetram no osso, irrigando-o e distribuindo-se na medula óssea. Por esta razão, desprovido do seu periósteo o osso deixa de ser nutrido e morre. Observação: O acréscimo no material didático ficará a critério do professor. Capítulo V - Sistema Articular 1. Definição Os ossos unem-se uns aos outros para constituir o esqueleto. Esta união não tem a finalidade exclusiva de colocar os ossos em contato, mas também de permitir mobilidade e elasticidade ao esqueleto. Esta união não se faz da mesma maneira entre todos os ossos, assim, uma maior ou uma menos possibilidade de movimento varia de acordo com o tipo de união. 2. Classificação das Junturas Anatomia Humana A Página 24 As junturas são classificadas em três grandes grupos: fibrosas, cartilaginosas e sinoviais, cuja definição é feita de acordo com o elemento estrutural encontrado em cada tipo de juntura. 1. ARTICULAÇÕES FIBROSAS: São formadas por tecido conjuntivo fibroso e conferem mais elasticidade do que mobilidade; são encontradas principalmente no crânio. É evidente que a mobilidade nestas junturas é extremamente reduzida, embora o tecido conjuntivo interposto confira uma certa elasticidade ao crânio. Dentro das articulações fibrosas, dois subtipos podem ser listados, a saber: suturas e sindesmoses. A) Articulações fibrosas suturas: apresentam forma variável e, por isso, podemos classificá-las em: planas (união linear, retilínea ou aproximadamente retilínea), escamosas (união em forma de bisel) e serreadas (união em “linha dentada”). Sutura Plana Sutura Escamosa Sutura Serreada Anatomia Humana A Página 25 E interessante comentar que, na vida pré e pós-natal, o tamanho das articulações que separam os ossos do crânio é maior em alguns pontos pela presença de maior quantidade de tecido conjuntivo fibroso. Essas regiões são chamadas de fontanelas (popularmente conhecidas por moleiras) e desaparecem após a ossificação completa do crânio. B) Articulações fibrosas sindesmoses: apresentam também como tecido interposto o conjuntivo fibroso, mas não ocorrem entre os ossos do crânio. Na verdade, só há dois registros desse tipo de juntura: sindesmose tíbio-fibular, isto é, a que se faz entre as extremidades distais da tíbia e da fíbula e rádio ulnar entre as extremidades do rádio e da ulna. 2. ARTICULAÇÕES CARTILAGINOSAS: Apresentam também pouca mobilidade, são constituídas por cartilagem que pode ser hialina (cartilagem articular que representa a porção do osso que não foi invadida pela ossificação) ou fibrosa. Se na articulação o elemento encontrado for cartilagem hialina, ela será classificada como articulação cartilaginosa sincondrose; se cartilagem fibrosa, articulação cartilaginosa sínfise. Anatomia Humana A Página 26 Sincondrose Esternais Cartilaginosa Sínfise 3. ARTICULAÇÕES SINOVIAIS: Apresentam como elemento estrutural a sinóvia, um líquido viscoso que permite a mobilidade da junção óssea com o mínimo de atrito entre as extremidades do osso. Essas extremidades ósseas são formadas por cartilagem hialina, desprovidas de suprimento sanguíneo e nervoso, o que torna lento e difícil a regeneração do tecido, em caso de lesões. Além disso, encontramos nesse tipo de articulação uma cápsula articular, que envolve a articulação, e uma cavidade articular onde se encontra o liquido sinovial. Dessa forma, a cápsula articular, a cavidade articular e o líquido sinovial são características das articulações sinoviais. Em várias junturas sinoviais, interpostas às superfícies articulares, encontram-se formações fibro-cartilagíneas, os discos e meniscos intra-articulares, de função discutida: serviriam à melhor adaptação das superfícies que se articulam ou seriam destinadas a receber violentas pressões, agindo como amortecedores. Meniscos, com sua forma de meia lua são encontrados na articulação do joelho e disco intra articular nas articulações esternoclavicular e têmporomandibular. Anatomia Humana A Página 27 Os critérios utilizados para classificar as articulações sinoviais são: a forma das superfícies ósseas que entram em contato e o movimento realizado por elas, de forma que as articulações sinoviais podem ser classificadas em: plana, gínglimo, trocóide, condilar, em sela e esferóide. Plana: As superfícies articulares são planas ou ligeiramente curvas, permitindo deslizamento de uma superfície sobre a outra em qualquer direção. Exemplo: articulação sacro-ilíaca. Gínglimo: Denominado também de dobradiça refere-se muito mais ao movimento do que à forma das superfícies articulares: realizam flexão e extensão. Exemplo: articulação do cotovelo. Trocóide: Permite rotação. Exemplo: articulação rádio-ulnar proximal responsável pelos movimentos de pronação e supinação do antebraço. Na pronação ocorre uma rotação medial do rádio e na supinação, rotação lateral. Condilar: As superfícies articulares são elípticas. Permitem flexão, extensão, abdução e adução, mas não permitem a rotação. Exemplo: articulação rádio-cárpica (ou do punho), articulação têmporomandibular. Em sela: A superfície articular de uma peça esquelética tem a forma de sela, apresentando concavidade num sentido e convexidade em outro, e se encaixa numa segunda peça onde convexidade e concavidade apresentam-se no sentido inverso da primeira. Permite flexão, extensão, abdução, adução e rotação (consequentemente circundação). Exemplo: articulação carpo-metacárpica do polegar. Esferóide: As superfícies articulares são segmentos de esferas e se encaixam em receptáculos ocos. Permitem movimentos de flexão, extensão, adução, abdução, rotação e circundação. Exemplo: articulação do ombro (entre úmero e escápula) e do quadril (entre o osso do quadril e o fêmur). Observação: O acréscimo no material didático ficará a critério do professor. Anatomia Humana A Página 28 Capítulo VI – Sistema Muscular 1. Conceito O músculo é a unidade contrátil do ser vivo, que obedece aos comandos do sistema nervoso central. São estruturas que movem os segmentos do corpo por encurtamento da distância que existe entre suas extremidades fixadas, ou seja,por contração, estes últimos são os elementos ativos do movimento. Além de tornar possível o movimento, a musculatura também mantém unidas – as A literatura relata que os músculos podem ser classificados em: Músculos estriado esquelético: músculos do esqueleto humano. Músculos estriado cardíaco: presente no coração. Músculo liso: presentes em órgãos viscerais. O ser vivo é disposto de uma variedade de músculos que estão fixados em regiões posterior, anterior, lateral e medial no corpo humano. 2. Funções Dos Músculos Entre ao vários tipos de musculos existentes ao longo de nosso corpo, tanato os músculos esqueléticos, quanto cardíaco e lisos realizam atividades específicas, tais como: Contração muscular Locomoção Sutentação Proteção Regulaçao de temperatura Respiração Elasticidade Flexibilidade Anatomia Humana A Página 29 3. Mecanismo de Contração Muscular A contração do ventre muscular vai produzir um trabalho mecânico, em geral representado pelo deslocamento de um segmento do corpo. Ao contrair- se o ventre muscular, há um encurtamento do comprimento do músculo e conseqüente deslocamento da peça esquelética. O trabalho realizado por um músculo depende da potência do músculo e da amplitude de contração do mesmo. A amplitude de contração depende do comprimento das fibras musculares. Assim, um músculo longo tem o mais alto grau de encurtamento. A potência (ou força) é função do número de fibras que se contraem e número de fibras contido em uma secção transversal do músculo, o que é medido em ângulo reto com o eixo maior dos fascículos musculares e não com o eixo maior do músculo como um todo. Desta forma, o que um músculo penado perde em amplitude de contração, ganha em força. Como foi anteriormente dito, o trabalho do músculo se manifesta pelo deslocamento de um (ou mais) osso(s). Os músculos agem sobre os ossos como potências sobre braços de alavancas. No caso da musculatura cardíaca e dos músculos lisos, geralmente situadas nas paredes de vísceras ocas ou tubulares, também se produz um trabalho: a contração da musculatura destes órgãos reduz seu volume ou seu diâmetro e desta forma vai expelir ou impulsionar seu conteúdo. A célula muscular obedece a chamada lei do tudo ou nada, ou seja, ou está completamente contraída ou está totalmente relaxada. Assim, a quantidade de fibras musculares que vai estar envolvida com o trabalho de um músculo, ao mesmo tempo, vai depender de quantas unidades motoras ele possua. Denomina-se unidade motora ao conjunto de fibras de um músculo supridas pelo mesmo neurônio. Desta forma um músculo com poucas unidades motoras é um músculo de movimentos mais grosseiros, enquanto aquele que possui muitas unidades motoras é capaz de movimentos de alta precisão e delicadeza. Outra forma de classificar os músculos é observando o trabalho que eles realizam, ou seja, sua função. Assim, quando o músculo executa um movimento, ele é denominado agonista; quando se opõe ao movimento do agonista, ele é denominado antagonista; ainda, quando potencializa a ação do agonista, ele é denominado sinergista. Observação: O acréscimo no material didático ficará a critério do professor. Anatomia Humana A Página 30 Capítulo VII - Sistema Nervoso 1. Considerações Gerais O sistema nervoso é dividido em duas partes principais: sistema nervoso central, composto de cérebro e medula espinhal sistema nervoso periférico, composto de nervos cranianos e espinhais e seus gânglios associados. O sistema nervoso central é composto de grande número de células nervosas e suas ramificações, mantidas por tecido especializado denominado neuróglia. Neurônio é o nome dado à célula nervosa e todas as suas ramificações. As ramificações longas de uma célula nervosa são denominadas axônios, ou fibras nervosas. O interior do sistema nervoso central é organizado em substância branca e cinzenta. A substância cinzenta consiste em células nervosas e das porções proximais; de suas ramificações, encerradas em neuróglia. A substância branca consiste em fibras nervosas encerradas em neuróglia. Na dissecção do sistema nervoso periférico, observa-se que os nervos cranianos e espinhais são cordões de coloração branco-acinzentada. São constituídos de feixes de fibras nervosas mantidos por fino tecido areolar. Existem 12 pares de nervos cranianos que partem do cérebro e passam através de forâmens do crânio. Existem 31 pares de nervos espinhais que partem da medula espinhal e passam através de forâmens intervertebrais na coluna vertebral. 2. Funções do Sistema Nervoso O sistema nervoso é um dos principais órgão do organismo vivo que desempenha as seguintes funções: Controlar Comandar Executar Produzir Conduzir Direcionar Ordenar Liberar Todos os tipos de comandos para que o seu vivo possa realizar as tarefas com todas as suas integridades 3. Subdivisões do Sistema Nervoso Anatomia Humana A Página 31 3.1 Sistema Nervoso Periférico O sistema nervoso periférico é composto por terminações nervosas, gânglios e nervos. Estes são cordões esbranquiçados formados por fibras nervosas unidas por tecido conjuntivo e que têm por função levar (ou trazer) impulsos ao (do) SNC. As fibras que levam impulsos ao SNC são chamadas de aferentes ou sensitivas, enquanto que as que trazem impulsos do SNC são as aferentes ou motoras. Os nervos são divididos em dois grupos: nervos cranianos e nervos espinhais. 3.2 Sistema Nervoso Autônomo Tanto o SN somático quanto o SN visceral possuem uma parte aferente e outra eferente. Denomina-se sistema nervoso autônomo (SNA) a parte eferente do SN visceral. O SNA por sua vez é dividido em duas partes: o sistema simpático e o sistema parassimpático. O simpático estimula as atividades que ocorrem em situações de emergência ou tensão, enquanto o parassimpático é mais ativo nas condições comuns da vida, estimulando atividades que restauram e conservam a energia corporal. O simpático tem origens nas regiões torácica e lombar da medula espinhal, enquanto o parassimpático as tem porções no tronco encefálico e nos segmentos sacrais da medula espinhal. Ambos possuem fibras pré-ganglionares que fazem conexões com gânglios (acúmulo de neurônios fora do SNC) e dos quais partem fibras pós-ganglionares que vão até os órgãos efetuadores; contudo as fibras pré- ganglionares simpáticas são curtas e as pós-ganglionares são longas, enquanto no parassimpático ocorre o contrário. Existem várias outras diferenças, como no tipo dos mediadores químicos, que fogem ao objetivo deste tópico. Anatomia Humana A Página 32 4. Condução de Informações nos Sistema Nervoso As informações que são transmitidas pelo sistema nervoso, são chamadas de impulsos elétricos ou potenciais de ação que trafegam por estruturas chamadas de nervos ou fibras, que na verdade é um conjunto de axônios unidos para realizar esta função. Podendo então classificar este nervos em: Fibras aferentes: levam todas as informações sensitivas ao sistema nervoso central. Fibras efetoras: trazem as informações do sistema nervoso central para a realizaçãodos movimentos. 5. Estruturas Gerais do Sistema Nervoso 5.1 Meninges A proteção ao SNC dada pelo crânio e pela coluna é acentuada reforçada pela presença de lâminas de tecido conjuntivo, as meninges, que são, de fora para dentro: dura-máter, aracnóide e pia-máter. A dura-máter é a mais espessa delas. No crânio está associada ao periósteo da face interna dos ossos, enquanto entre ela e a coluna vertebral existe um espaço, o espaço extradural (ou epidural). A pia-máter é a mais fina e está intimamente aplicada ao encéfalo e à medula espinhal. Entre a dura e a pia-máter está a aracnóide, da qual partem fibras delicadas que vão a pia-máter, formando uma rede semelhante a uma teia de aranha. A aracnóide é separada da dura-máter por um espaço virtual, o espaço subdural e da pia-máter pelo espaço subaracnóideo, real, onde circula o líquido cérebro-espinhal ou líquor, o qual funciona como absorvente de choques. O líquido cérebro-espinhal, incolor, é constantemente produzido nos ventrículos do encéfalo e constantemente deixa o espaço subaracnóideo para entrar no sistema venoso. Atua na nutrição do SNC e como amortecedor, protegendo o SNC de movimentos súbitos. O SNC é heterogêneo quanto à distribuição dos corpos dos neurônios e de seus prolongamentos. As regiões onde predominam os corpos neuronais são chamadas de substância cinzenta. Outras regiões contêm, predominantemente, prolongamentos neuronais (em especial seus axônios). Estes prolongamentos são, muitas vezes, revestidos por mielina, o que lhes dá coloração mais pálida, daí a denominação de substância branca. No cérebro e no cerebelo a estrutura geral é a mesma: uma massa de substância branca, revestida externamente por uma fina camada de substância cinzenta e tendo Anatomia Humana A Página 33 no centro massas de substância cinzenta constituindo os núcleos (acúmulos de corpos neuronais dentro do SNC). Na medula, a substância cinzenta forma um eixo central contínuo envolvido por substância branca, enquanto no tronco encefálico a substância cinzenta central não é contínua, apresentando-se fragmentada, formando núcleos. 5.2 Cérebro O cérebro responde pelas funções nervosas mais elevadas, contendo centros para interpretação de estímulos bem como centros que iniciam movimentos musculares. Ele armazena informações e é responsável também por processos psíquicos altamente elaborados, determinando a inteligência e a personalidade. Ele é constituído pelos hemisférios cerebrais e pelo diencéfalo. Os hemisférios cerebrais são duas massas unidas por uma ponte de fibras nervosas, o corpo caloso e separadas por uma lâmina de dura-máter, a foice do cérebro. Cada hemisfério é dividido em cinco lobos, quatro dos quais vistos na superfície do cérebro e correspondendo cada um aos ossos do crânio com que guardam relações, os lobos frontal, parietal, temporal e occipital. O quinto lobo, a insula, fica coberto por partes dos lobos temporal, frontal e parietal. Os hemisférios são formados por uma camada externa de substância cinzenta, o córtex cerebral - convoluto, formando giros e sulcos - e por uma massa interna de substância branca, na qual estão enterrados diversos grupos de núcleos, os núcleos da base, que fazem parte do sistema motor, participando do controle dos movimentos, facilitando e sustentando os movimentos em curso e inibindo movimentos indesejados. A cavidade dos hemisférios cerebrais forma os ventrículos laterais e a parte rostral do terceiro ventrículo O diencéfalo fica quase totalmente circundado pelos hemisférios cerebrais; sua cavidade forma a maior parte do terceiro ventrículo. Constituído pelo tálamo, pelo hipotálamo e pelo epitálamo. O tálamo é centro de retransmissão de todos os impulsos sensitivos (exceto olfato) para o córtex cerebral. O hipotálamo é local de regulação de atividades viscerais (cardiovascular, temperatura corporal, do equilíbrio hidro-eletrolítico, da atividade gastrintestinal e fome e das funções endócrinas), do sono e da vigília, da resposta sexual e das emoções. O epitálamo é formado principalmente pela glândula pineal, implicada no controle dos ritmos circadianos e na regulação do início da puberdade. É produtora do hormônio melatonina. Anatomia Humana A Página 34 5.3 Tronco encefálico e cerebelo O tronco encefálico apresenta é formado por substância branca contendo núcleos no seu interior. Divide-se em mesencéfalo, ponte e bulbo. O mesencéfalo é responsável pelos reflexos visuais e auditivos (colículos superior e inferior); seus núcleos e os pedúnculos cerebrais participam do controle da postura e dos movimentos. A ponte é centro de retransmissão de impulsos; contém núcleos de vários nervos cranianos (III – VII); e controla o ritmo e força da respiração. O bulbo é centro de retransmissão de impulsos; contém núcleos de vários nervos cranianos (VIII-XII); e é centro autônomo visceral (respiração, ritmo cardíaco, vasoconstrição). O cerebelo tem estrutura geral parecida com a do cérebro (substância cinzenta externa e substância branca interna) e atua na coordenação motora e no equilíbrio. 5.4 Medula espinhal Situada no interior do canal vertebral, se continua rostralmente com o bulbo. Ela recebe informações do pescoço, do tronco e dos membros e os controla, por meio dos trinta e um nervos espinhais. A medula consiste em uma parte central de substância cinzenta e outra parte periférica, de substância branca. A substância cinzenta tem a forma aproximada da letra H. As projeções posteriores são os cornos dorsais, os quais tanto contêm neurônios aferentes, condutores de impulsos sensoriais periféricos, quanto dão origem às vias ascendentes, condutoras de impulsos sensoriais para o encéfalo. As projeções anteriores são os cornos ventrais, que contêm os neurônios motores da medula espinhal. Nas partes torácica e lombar existem projeções laterais, as colunas laterais, que contêm os neurônios pré-ganglionares simpáticos. Anatomia Humana A Página 35 A substância branca contém fibras nervosas de trajeto longitudinal (tratos ascendentes e tratos descendentes). Os principais tratos ascendentes são: colunas dorsais (fascículos grácil e cuneiforme): tato discriminativo e propriocepção trato espinotalâmico: dor, temperatura, pressão e tato grosseiro trato espinocerebelar: informação dos receptores musculares e articulares Os principais tratos descendentes são: trato corticoespinhal anterior: contêm as fibras nervosas dos neurônios motores corticais que não cruzaram de lado nas pirâmides do bulbo; termina na medula torácica. Suas fibras cruzam para o lado oposto pouco antes de fazerem sinapse com os neurônios motores medulares tratos corticoespinhal lateral: contêm as fibras nervosas dos neurônios motores corticais que cruzaram de lado (decussaram) nas pirâmides do bulbo. Mais importante por ter mais fibras está presente ao longo de toda medula tratos rubro-espinhal, vestíbulo-espinhal e retículo-espinhal: origem no tronco encefálico; participam do controle motor. 6. Tecido Nervoso O tecido nervoso compreende basicamente dois tipos de celulares: os neurônios e as células glias. Neurônio: é a unidade estrutural e funcional do sistema nervoso que é especializada para a comunicação rápida. Tem a função básicade receber, processar e enviar informações. Anatomia Humana A Página 36 São células altamente excitáveis que se comunicam entre si ou com outras células efetuadoras, usando basicamente uma linguagem elétrica. A maioria dos neurônios possui três regiões responsáveis por funções especializadas: corpo celular, dentritos e axônios. Corpo celular: é o centro metabólico do neurônio, responsável pela síntese de todas as proteínas neuronais. A forma e o tamanho do corpo celular são extremamente variáveis, conforme o tipo de neurônio. O corpo celular é também, junto com os dendritos, local de recepção de estímulos, através de contatos sinápticos. Dendritos: geralmente são curtos e ramificam-se profusamente, a maneira de galhos de árvore, em ângulos agudos, originando dendritos de menor diâmetro. São os processos ou projeções que transmitem impulsos para os corpos celulares dos neurônios ou para os axônios. Em geral os dendritos são não mielinizados. Um neurônio pode apresentar milhares de dendritos. Portanto, os dendritos são especializados em receber estímulos. Axônios: a grande maioria dos neurônios possui um axônio, prolongamento longo e fino que se origina do corpo celular ou de um dendrito principal. O axônio apresenta comprimento muito variável, podendo ser de alguns milímetros como mais de um metro. São os processos que transmitem impulsos que deixam os corpos celulares dos neurônios, ou dos dendritos. A porção terminal do axônio sofre várias ramificações para formar de centenas a milhares de terminais axônicos, no interior dos quais são armazenados os neurotransmissores químicos. Portanto, o axônio é especializado em gerar e conduzir o potencial de ação. Tipos de Neurônios: São três os tipos de neurônios: sensitivo, motor e interneurônio. Um neurônio sensitivo conduz a informação da periferia em direção ao SNC, sendo também chamado neurônio aferente. Um neurônio motor conduz informação do SNC em direção à periferia, sendo conhecido como neurônio eferente. Os neurônios sensitivos e motores são encontrados tanto no SNC quanto no SNP. Anatomia Humana A Página 37 Portanto, o sistema nervoso apresenta três funções básicas: Função Sensitiva: os nervos sensitivos captam informações do meio interno e externo do corpo e as conduzem ao SNC; Função Integradora: a informação sensitiva trazida ao SNC é processada ou interpretada; Função Motora: os nervos motores conduzem a informação do SNC em direção aos músculos e às glândulas do corpo, levando as informações do SNC. Sinapses: Os neurônios, principalmente através de suas terminações axônicas, entram em contato com outros neurônios, passando-lhes informações. Os locais de tais contatos são denominados sinapses. Ou seja, os neurônios comunicam-se uns aos outros nas sinapses – pontos de contato entre neurônios, no qual encontramos as vesículas sinápticas, onde estão armazenados os neurotransmissores. A comunicação ocorre por meio de neurotransmissores – agentes químicos liberados ou secretados por um neurônio. Os neurotransmissores mais comuns são a acetilcolina e a norepinefrina. Outros neurotransmissores do SNC incluem a epinefrina, a serotonina, o GABA e as endorfinas. Fibras nervosas: Uma fibra nervosa compreende um axônio e, quando presente, seu envoltório de origem glial. O principal envoltório das fibras nervosas é a bainha de mielina (camadas de substâncias de lipídeos e proteína), que funciona como isolamento elétrico. Quando envolvidos por bainha de mielina, os axônios são denominados fibras nervosas mielínicas. Na ausência de mielina as fibras são denominadas de fibras nervosas amielínicas. Ambos os tipos ocorrem no sistema nervoso central e no sistema nervoso periférico, sendo a bainha de mielina formada por células de Schwann, no periférico e no central por oligodendrócitos. A bainha de mielina permite uma condução mais rápida do impulso nervoso e, ao longo dos axônios, a condução é do tipo saltatória, ou seja, o potencial de ação só ocorre em estruturas chamadas de nódulos de Ranvier. Células Glias: compreende as células que ocupam os espaços entre os neurônios e tem como função sustentação, revestimento ou isolamento e modulação da atividade neural. 7. Divisão Funcional do Sistema Nervoso Do ponto de vista funcional, o sistema nervoso (SN) pode ser dividido em SN somático e SN visceral. O SN somático é responsável por integrar o indivíduo ao meio externo, uma vez que inerva estruturas periféricas, enquanto que o SN visceral regula a atividade das vísceras, de forma a controlar a homeostase, ou seja, a constância do meio interno. A parte aferente do SN somático conduz aos centros nervosos impulsos originados em receptores periféricos, informando a estes centros o que se passa no ambiente. Por outro lado, a parte eferente do SN somático leva aos músculos esqueléticos o comando dos centros nervosos, resultando movimentos que levam a um maior relacionamento ou integração com o meio externo. Anatomia Humana A Página 38 O SN visceral é muito importante para a integração da atividade das vísceras no sentido da manutenção da constância do meio interno (homeostase). A parte aferente conduz impulsos nervosos originados em receptores das vísceras a áreas específicas do SNC. A parte eferente traz impulsos de certos centros nervosos até as estruturas viscerais terminando pois em glândulas, músculo liso, músculo cardíaco. Por definição, denomina-se SN autônomo apenas a parte eferente (componente eferente) do SN visceral, que por sua vez divide-se em simpático e parassimpático. FIGURA 7: DIVISÃO FUNCIONAL DO SN VISCERAL DIFERENÇAS ENTRE SN SOMÁTICO EFERENTE E SN VISCERAL EFERENTE OU SN AUTÔNOMO Os sistemas nervosos visceral e o somático apresentam algumas diferenças anatômicas e funcionais, as quais podem ser listadas: a natureza dos órgãos inervados (somático inerva músculo estriado esquelético, enquanto visceral inerva músculo estriado cardíaco, músculo liso ou glândulas), número de neurônios que inervam o órgão efetor (somático tem um neurônio e visceral tem dois neurônios) – no SN visceral dois neurônios ligam o SNC ao órgão efetor, sendo que um desses neurônios tem seu corpo localizado dentro do SNC e o outro fora do SNC. O neurônio cujo corpo está localizado dentro do SNC é denominado neurônio pré-glanglionar e o que está localizado fora do SNC, de neurônio pós-glanglionar. Esse agregado de corpos neuronais fora do SNC recebe o nome de glânglio. Já no SNC esse mesmo agregado de corpos celulares recebe o nome de núcleo. Diferentemente, o somático apresenta somente um neurônio que liga o SNC ao órgão efetor, ou seja, ao músculo esquelético, terminando em uma estrutura chamada de placa motora. Para fins didáticos, podemos dizer que o SN somático está envolvido com ações voluntárias, e o visceral com ações involuntárias. DIFERENÇAS ENTRE SN AUTÔNOMO SIMPÁTICO E PARASSIMPÁTICO O SN autônomo é dividido em dois ramos, simpático e parassimpático. Esses dois ramos apresentam diferenças anatômicas, farmacológicas e fisiológicas. a) DIFERENÇAS ANATÔMICAS: Posição dos neurônios pré-ganglionares: Como se sabe, os neurônios pré- glanglionares têm seus corpos localizados dentro do SNC na medula e tronco encefálico. No tronco encefálico, eles se agrupam formando os núcleos de origem de alguns nervos cranianos. Na medula eles ocorrem do 1º ao 12º segmentos
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