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Electricidade e Magnetismo – notas do Prof. Mikhail Vasilevskiy – 3aParte 16 VII. Indução magnética. Equações de Maxwell 7.1 Indução magnética A lei de Faraday Em 1831, Michael Faraday realizou uma experiência notável, em que observou uma corrente numa espira, que não era ligada a bateria nenhuma mas estava em movimento na vizinhança de um íman permanente. A conclusão que foi tirada por Faraday é que há uma corrente no circuito desde que exista uma variação do campo magnético que atravessa a espira. A corrente é induzida, ou gerada por uma FEM induzida, pela variação do campo magnético. Numa segunda experiência, ele usou uma bobina em vez do íman permanente. A bobina e a espira estavam em repouso, mas a corrente na bobina variou. Em resultado, o galvanómetro detectou uma corrente na espira. Assim foi estabelecida a lei de Faraday, que pode ser enunciada em palavras seguintes: A força electromotriz induzida numa espira é proporcional a taxa temporal de variação do fluxo magnético através da espira. Essa lei pode ser escrita como tc m ∂ Φ∂ −=Ε 1 (148) onde o fluxo magnético ∫=Φ SdBm rr (149) através duma superfície delimitada pela espira Na Eq.(148), o factor c 1 só aparece no sistema CGS (no S.I. não existe). Mencionemos que a unidade do fluxo magnético no SI chama-se 1 Weber (Wb) enquanto no CGS não tem nome especial. Para uma bobina constituída por N espiras, a força electromotriz é N vezes maior: tc N m∂ Φ∂ −=Ε 1 Exemplos 1) A barra condutora mostrada na figura está em movimento com uma velocidade de constante (ν ), deslizando sobre dois tolhas condutores. O campo magnético é uniforme e estacionário (B). O fluxo através do circuito aumenta, se escolhermos a normal ao plano do circuito para cima: νBL t m =∂ Φ∂ (150) onde L é o comprimento da barra. Electricidade e Magnetismo – notas do Prof. Mikhail Vasilevskiy – 3aParte 17 Então, a FEM induzida é dada pela Eq.(150) (no S.I.). Qual é o sentido da corrente induzida? Com a normal para cima e o fluxo a aumentar, o sentido é o dos ponteiros de relógio (o sinal “-“ na Eq.(148)). Provavelmente é mais fácil determinar o sentido da corrente induzida pela lei de Lenz: A polaridade da FEM induzida é tal que ela tende a provocar uma corrente que vai produzir um fluxo magnético que se opõe à variação do fluxo magnético do campo externo através do circuito fechado. Então, no exemplo que estamos a considerar, o fluxo do campo produzido pela corrente induzida tem que ser negativo, ou seja, o campo secundário tem de ter direcção para baixo (dentro do circuito). Para isso, o sentido da corrente tem que ser tal como foi indicado. 2) Uma espira a rodar num campo magnético uniforme O fluxo através da espira varia em função do ângulo que a normal à espira faz com o vector de campo magnético. φcosBSm =Φ (151) onde S é área da espira. O ângulo ot φωφ += , ( oφ é um constante), então, das Eqs.(143) e (151) temos: )sin( otBS φωω +=Ε (S.I.) (152) Então, a espira funciona como a gerador de corrente sinusoidal. A energia do campo magnético Conhecendo o fenómeno de indução magnética, podemos considerar a questão de energia associada a um campo magnético. A primeira coisa que deve ser notada é que o campo magnético não é potencial, ou seja, não realiza trabalho sobre partículas carregadas. Por isso, a sua energia não pode ser associada ao trabalho realizado. No entanto, quando o campo magnético varia com tempo, cria um campo eléctrico. De acordo com a Eq.(148) e a definição da FEM, podemos escrever: tc ldE m∂ Φ∂ −=∫ 1rr (148a) (Esta é a forma da lei de Faraday proposta por Maxwell). Utilizando o teorema de Stokes temos: t B c E ∂ ∂−= rr 1rot (153) A Eq.(153) determina o campo eléctrico induzido. Este campo, durante um intervalo de tempo ,t∆ realiza um trabalho sobre a corrente jr (que é responsável pela existência do campo magnético). O trabalho é igual à energia dissipada na passagem da corrente, dada pela lei de Joule-Lenz (Eq.(122), ∫∆=∆ dVEjtR )( rr . Da Eq.(143), B K j m rr rot 4 1 π= Assim, podemos escrever: ∫ ⋅=∆∆ dVEBKtR m rr rot 4 1 π . Electricidade e Magnetismo – notas do Prof. Mikhail Vasilevskiy – 3aParte 18 Notemos que ≡⋅∫ dVEB rrrot ∫ ×∇⋅ dVBE )( rrr ∫∫ ×∇⋅−×= ↓ dVEBdVBE )()(div rrr 4434421 rr . ∫ =⋅ 0)( SdBE rrr na superfície remota Então, ∫ ⋅ dVEB rrrot ∫ ⋅−= dVEB rr rot ∫∫ ∂∂=∂ ∂ = dVB tc dV t BB c 21 2 11 rr onde usamos a Eq.(153). O trabalho realizado por unidade do tempo é: ∫∂ ∂=∂ ∂=∆ ∆ dVB Kctt R t R m 2 8 11lim π . Este trabalho só pode ser realizado a custa da energia do campo magnético, que é a fonte do campo eléctrico e é relacionado com a corrente. Assim, podemos associar ao campo magnético uma energia (por unidade de volume), mK B c U π8 1 2 =Μ = )SI( 2 )CGS( 8 0 2 2 µ π B B (154) Apesar do facto que a fórmula para a densidade de energia do campo magnético tem muita semelhança com a respectiva fórmula para o campo eléctrico (74), o significado físico destas energias é diferente. 7.2 Auto-indutância e indutância mútua Consideremos uma espira que pode estar ligada a bateria. Não há campo magnético externo. No instante em que a chave for fechada vai surgir corrente no circuito. Essa corrente vai produzir um campo magnético, enfim, um fluxo magnético, que varia. (antes de fechar a chave, foi igual a zero!) De acordo com a lei de Faraday, a variação de fluxo vai provocar uma FEM induzida, que vai se opor à FEM da bateria (de acordo com a lei de Lenz). Este fenómeno é conhecido como auto-indutância. Devido à auto-indutância, a espira oferece alguma inércia à variação da corrente. A FEM auto-induzida é proporcional à taxa temporal de variação de corrente: dt dIL dt d c m ua −=Φ −=Ε 1.. (155) onde L é uma constante de proporcionalidade, chamada indutância. A unidade S.I. da indutância é 1 Henry: s A sVH ⋅Ω=⋅= 111 . Por exemplo, para um solenóide comprido com n espiras circulares de raio r por unidade de comprimento, não é difícil achar que a sua indutância é dada por Electricidade e Magnetismo – notas do Prof. Mikhail Vasilevskiy – 3aParte 19 = (SI) (CGS)14 0 2 2 22 nNr nN c rL µπ π (156) onde N é o número total de espiras. Basta substituir na Eq.(155) BSNm =Φ em que 2rS π= e nIKB m π4⋅= é o campo magnético no interior do solenóide. Um circuito que contém uma indutância (ou seja, uma espira ou normalmente uma bobina) chama-se circuito RL. Podemos calcular a variação temporal da intensidade de corrente neste circuito. Pela segunda lei de Kirchoff, RIua =Ε+Ε .. ou seja, RI dt dIL +=Ε (157) Resolvendo esta equação, temos −Ε= − RL t e R I τ1 onde R L RL =τ (158) é constante de tempo do circuito RL. Então, como esperamos, a corrente aumenta gradualmente, devido ao fenómeno de auto-indutância. Indução mútua. Dois circuitos com correntes variáveis induzem correntes mutuamente, alem da auto- indução. A FEM induzida pelo circuito 1 sobre o circuito 2 é directamente proporcional à variação da corrente 1, e vice-versa. As FEM’s totais induzidas em cada circuito, são: dt dIL dt dIM 112121 −−=Ε dt dIL dt dIM 221212 −−=Ε . (159) Pode-se mostrar que 2112 MM =. Este parâmetro é chamado de indutância mútua. O fenómeno de indutância mútua está na base de funcionamento do transformador. O transformador é formado por duas bobinas acopladas (ver figura na página 14), conhecidas como primária e secundária. Quando se aplica ao circuito primário uma FEM variável, produz-se uma FEM, também variável, no secundário. Normalmente, a bobina primária e a secundária estão enroladas em torno de um núcleo de ferro, com o objectivo de concentrar o fluxo magnético. Quando se aplica uma FEM variável 1Ε à primária, com 1N espiras, produz-se uma corrente neste circuito, que cria um campo magnético localizado dentro do núcleo de ferro. Se mΦ for o fluxo magnético através de uma espira da bobina primária, o fluxo total através dela é mN Φ1 e podemos escrever dt d c N m Φ ⋅−=Ε 111 . Electricidade e Magnetismo – notas do Prof. Mikhail Vasilevskiy – 3aParte 20 Aproximadamente o mesmo fluxo passa pelas 2N espiras da bobina secundária. Por isso, a FEM que aparece nela é dt d c N m Φ ⋅−=Ε 122 . O quociente das duas FEMs é: 1 2 1 2 N N=Ε Ε , o que significa que a FEM que aparece no circuito secundário é maior ou menor do que a FEM aplicada à bobina primária dependendo do número de espiras. Quando 12 NN > fala-se de transformador de aumento de tensão, caso contrário é um transformador de diminuição de tensão. O resultado acima apresentado é simplificado e não leva em consideração vários factores, como as perdas de fluxo e o efeito do circuito externo ligado à bobina secundária. De facto, nos temos desprezado o efeito da corrente no circuito secundário (I2), ou seja, os dois termos com dt dI 2 nas equações (159). A relação obtida implica que 1 1 2 21 LN NM = , o que é válido apenas na ausência de quaisquer perdas de fluxo entre as bobinas. 7.3 Corrente de deslocamento e as equações de Maxwell Nos já consideramos um circuito RC (ver Sec.5.5). Se o condensador foi inicialmente carregado, neste circuito existiria alguma corrente, que diminuiria de maneira exponencial com uma constante de tempo .RCRC =τ Consideremos esta situação do ponto de vista de campo magnético criado por essa corrente. A corrente é nula dentro do condensador. Apliquemos o teorema de circulação (141) para o contorno L. ∫ ∫= SdjKldB m rrrr π4 no contorno L na superfície A superfície pode ser escolhida de maneira arbitrária. A maneira mais simples é a superfície .1S Obviamente, ISdj S =∫ 1 rr . No entanto, podemos escolher também superfície ,2S que inclui a placa do condensador (ver a figura). Para esta superfície, aparentemente ,0 2 =∫ S Sdj rr porque as cargas não passam entre as placas do condensador. Este paradoxo foi eliminado por J.C. Maxwell, que introduziu o conceito de corrente de deslocamento. Segundo Maxwell, não é só a transferência física das cargas (corrente de condução) cria Electricidade e Magnetismo – notas do Prof. Mikhail Vasilevskiy – 3aParte 21 campo magnético. Quando há carregamento por indução, o que é o caso das duas placas de um condensador, também surge um campo magnético. A carga numa das placas pode ser expressa como KK SEdECQ eππ 44 Φ=== em que C é a capacidade do condensador, S a área e d a distância entre as placas. Formalmente, a taxa da variação desta carga, dt dQ , representa a intensidade de uma corrente, que é a corrente de deslocamento. A sua intensidade é dada por Φ Φ = )CGS( )S.I( 4 1 0 dt d dt d I e e d π ε (160) onde dt d eΦ é a variação do fluxo eléctrico através da superfície da placa. A Eq.(160) tem carácter geral e implica que qualquer variação do fluxo eléctrico através duma superfície é equivalente a uma corrente eléctrica (de deslocamento). Então, para a superfície 2S da figura da página anterior não há corrente de condução, mas há corrente de deslocamento. A corrente de deslocamento através da superfície 1S também existe mas é pequena por causa da pequena secção do fio (o campo eléctrico só existe no interior do fio!) e, por isso, é desprezável comparando com a corrente de condução no fio. De acordo com essa conjectura de Maxwell, a forma correcta e geral do teorema de circulação é: + + = ∫ ∫∫ Sd dt Edj Sd dt Edj c ldB rrr rrr rr 00 41 εµ π (161) Então, além das correntes “normais” (ou seja, as de condução), existem também correntes de deslocamento (correntes de indução eléctrica, sem transferência física de cargas). Em geral, sempre devem ser consideradas as duas componentes de corrente. Assim, por exemplo, a corrente total é contínua num circuito com condensador. O espaço entre as placas do condensador é atravessado pela corrente de deslocamento, enquanto que no resto do circuito existe praticamente apenas corrente de condução. Depois disso, podemos escrever no seu conjunto as quatro equações fundamentais de electricidade e magnetismo (que, de facto, já conhecemos, ver Eqs.(33), (148a), (141), (161) e (142)), ∫∫ = dVSdE ρπ4rr ; Sd t B ctc ldE m rrrr ∫∫ ∂∂−=∂Φ∂−= 11 ; 0∫ =SdB rr ; (162a) ∫ ∫∫ ∂∂+= SdtEcSdjcldB rrrrrr 14π , no sistema CGS e Electricidade e Magnetismo – notas do Prof. Mikhail Vasilevskiy – 3aParte 22 ∫∫ = dVSdE ρε0 1rr ; Sd t B c ldE rrrr ∫∫ ∂∂−= 1 ; (162b) 0∫ =SdB rr ; ∫ ∫∫ ∂∂+= SdtESdjldB rrrrrr 000 µεµ no sistema S.I. Estas equações são as famosas equações de Maxwell, que determinam o campo electromagnético a partir da distribuição de cargas )(ρ e correntes )( jr eléctricas. Também podem ser escritas na forma diferencial. Por exemplo, no CGS, πρ4div =Er ; t B c E ∂ ∂−= rr 1rot ; (163) 0div =Br ; t E c j c B ∂ ∂+= rrr 114rot π . As equações de Maxwell incluem a lei de Gauss, a lei de Ampère, a lei de Faraday e o conceito de corrente de deslocamento, ou seja, todas as leis fundamentais da electrodinâmica. Uma das suas consequências destas equações é a existência de ondas electromagnéticas, notada por Maxwell. No vazio e quando 0=ρ e 0=jr , podemos escrever a partir das Eqs.(163): 2 2 2 1rot1rotrot t E ct B c E ∂ ∂−=∂ ∂−= rrr . Da análise vectorial sabe-se que EEE rrr 2divgradrotrot ∇−= . Assim, obtemos: 2 2 2 2 1 t E c E ∂ ∂=∇ rr . (164) Pode-se mostrar facilmente que a parte magnética do campo electromagnético é descrita pela mesma equação (164). Então, as equações de Maxwell descrevem, entre outros, os campos electromagnéticos que oscilam no espaço e no tempo. Este movimento é uma onda electromagnética que se propaga com a velocidade da luz, c. Esta previsão teórica de Maxwell foi confirmada experimentalmente, pela primeira vez por H.Hertz em 1885. Electricidade e Magnetismo – notas do Prof. Mikhail Vasilevskiy – 3aParte 23 Resumo 1) Um campo magnético que varia com o tempo induz uma força electromotriz (FEM), que é determinada pela lei de Faraday (148). A polaridade dessa FEM defina-se pela lei de Lenz. 2) Existe também o fenómeno de auto-indutância, quando o campo magnético próprio duma corrente variável induz uma corrente secundária que se opõe à variação da corrente primária. Então, espiras e bobinas oferecem alguma inércia contra variações de corrente que as atravessa. A medida desta inércia chama-se indutância (L). 3) O campo magnético possui uma energia, cuja densidade é dada pela Eq.(154), e que se revela através da dissipação de energia numa corrente induzida pela variação do campo magnético. 4) Além de corrente de condução, existetambém corrente de deslocamento, que se deve a alguma variação de campo eléctrico (por exemplo, a corrente que atravessa o espaço entre as placas de um condensador). A corrente de deslocamento também participa na criação de campo magnético e tem que ser incluída no teorema de circulação (Eq.(161)). 5) As equações de Maxwell são quatro equações integrais-diferenciais que incluem a lei de Gauss (o fluxo), e o teorema de circulação (integral de linha de campo) para os campos eléctrico e magnético. Determinam inteiramente os campos E r e B r no vazio para qualquer distribuição de cargas e correntes eléctricas. 6) Uma das consequências das equações de Maxwell é a existência de ondas electromagnéticas, em que os campos E r e B r oscilam no espaço e no tempo de maneira correlacionada. Electricidade e Magnetismo – notas do Prof. Mikhail Vasilevskiy – 3aParte 24 VIII. Circuitos de corrente alternada. Oscilações eléctricas 8.1 Correntes alternadas quase estacionárias. Circuitos com FEMs sinusoidais. Impedância Em princípio, uma corrente que varia com tempo dá origem a um processo ondulatório que é descrito pelas equações de Maxwell. Assim acontece, por exemplo, em linhas compridas de telégrafo ou de alta tensão onde se propagam ondas electromagnéticas (chamadas ondas telegráficas). No entanto, nos circuitos laboratoriais em que circulam correntes varáveis normalmente a situação é mais simples, a intensidade de corrente varia com tempo mas o seu valor instantâneo é praticamente igual em qualquer ponto de qualquer malha do circuito. Diz-se que os efeitos de retardação são desprezáveis para estes circuitos e as respectivas correntes chamam-se quase estacionárias. Normalmente é possível definir um tempo típico de variação de correntes eléctricas. Por exemplo, no circuito RC este tempo é .RC=τ Para uma corrente alternada (sinusoidal), de frequência ω , )cos( 00 φω += tii , (165) o tempo típico é .1ωτ = Uma corrente é quase estacionária se os tamanhos típicos do circuito são pequenos comparando com o produto τ⋅c . Neste caso, os efeitos de retardação são desprezáveis. A variação temporal da FEM produz efeitos imediatos (sem atraso) nas correntes e tensões eléctricas em todo o circuito. Fala-se, também, dos circuitos quase estacionários. Para circuitos deste tipo, as leis de Kirchoff aplicam-se da mesma forma como para as correntes estacionárias (no entanto, trata-se dos valores instantâneos das correntes e tensões). Neste capítulo, falaremos apenas deste tipo de circuitos. Os circuitos normalmente são constituídos por resistências, bobinas (ou indutâncias), condensadores e fontes de alimentação (geradores). Correntes e tensões sinusoidais O caso mais importante é quando as correntes e as tensões variam de acordo com uma função harmónica do tipo (165), em que 0i é a amplitude e 0φ é a fase inicial da respectiva grandeza. Os valores instantâneos de corrente e de tensão são relacionados entre si de uma forma linear, RR iRV ⋅= - na resistência ∫== dtiCCQV CC 1 - no condensador dt diLV LuaL −=Ε−= .. - na indutância A lei das malhas (Eq.(130)) pode ser aplicada aos valores instantâneos das tensões apresentadas acima e, para o circuito mostrado na figura ao lado, toma a seguinte forma: Electricidade e Magnetismo – notas do Prof. Mikhail Vasilevskiy – 3aParte 25 ∫++=Ε idtCRidtdiLt 1)cos(0 ω (166) que é uma equação diferencial. A análise das equações das leis de Kirchoff para circuitos com correntes sinusoidais é facilitada pelo método de amplitudes complexas. Em vez dos senos ou cossenos é conveniente usar as funções complexas, )cos()( 00 φω += titi )Re( )(0 0φω += tjei )Re( 00 tjj eei ωφ321 ⇓ = (167) iˆ - a amplitude complexa onde 1−=j é a unidade imaginária. Se )(ti for a corrente que atravessa uma resistência, a tensão vai ser )Re(ˆ ˆ 0 0 tj V j R eeiRV R ωφ 321⋅= , ou seja, iRVR ˆˆ ⋅= . (168) Para o condensador, iZi Cj V CC ˆˆˆ 1ˆ ⋅≡= ω . (169) em que CZˆ chama-se impedância do condensador. Para uma indutância, iZiLjV LL ˆˆˆˆ ⋅≡⋅= ω . (170) Então, para cada um destes elementos existe uma espécie de lei de Ohm, que relaciona as amplitudes complexas, iZV ˆˆˆ ⋅= A impedância ( Zˆ ) é a resistência complexa que é atribuída a cada elemento e que depende da frequência do sinal alternado. Se tivermos dois elementos em série, os valores instantâneos de tensão nos elementos somam-se. Por isso, somam-se as amplitudes complexas. Por exemplo, para uma resistência e uma indutância em série a queda de potencial é dada por ( )iZZVVVZi LRLR ˆˆˆˆˆˆˆˆ +=+== . Então, LjRZZZ LR ω+=+= ˆˆˆ . Para dois elementos (por exemplo, uma resistência e um condensador) em paralelo somam-se as correntes, V ZZ ZZ Z V Z Vi RC RC RC ˆ ˆ ˆˆ ˆ ˆ ˆ ˆ ˆ ⋅ +=+= 1ˆ ˆˆ ˆ +=⋅ += CRj CRj ZZ ZZ Z RC RC ω ω Então, a impedância equivalente num circuito calcula-se da mesma maneira como se fosse a resistência usual, aplicando as leis de associação em série e em paralelo. Também são válidas as leis de Kirchoff, quando aplicadas a um circuito de corrente alternada, e podem ser escritas Electricidade e Magnetismo – notas do Prof. Mikhail Vasilevskiy – 3aParte 26 1) para valores instantâneos das correntes e das tensões, ou 2) para amplitudes complexas das mesmas. A equação diferencial (166), em termos de amplitudes complexas, toma a forma iLj Cj iRi ˆˆ0 ⋅++⋅=Ε ωω (171) que é muito mais simples de resolver. ;ˆ ˆ 0 Z i Ε= Lj Cj iRZ ωω ++=ˆ . (172) Depois de acharmos a amplitude complexa ,iˆ podemos voltar para a forma “normal” de apresentar esta corrente, ( )tjeii ωˆReˆ = Ε= Z e tj ˆRe0 ω (173) Quando se trabalha com os números complexos, é conveniente utilizar a forma gráfica da sua apresentação. A cada número complexo associa-se um vector no plano complexo, por exemplo, )sin(cosˆ 11111 1 φφφ jVeVV j +== , )sin(cosˆ 22222 φφφ jVeVV j +== . Assim, os dois números complexos podem ser somados graficamente como dois vectores. Estes vectores chamam-se fasores. Por exemplo, o fasor da tensão no condensador, 2ˆ1ˆ1ˆ π ωω j C eiC i Cj V −== , faz um ângulo de 90o com o fasor do RVˆ (o que corresponde a um desfasamento de 90 o entre estas duas tensões). 8.2 Trabalho e potência de uma corrente alternada Para uma corrente sinusoidal, os valores médios da corrente e da d.d.p. são nulos. No entanto, a potência média dissipada na passagem desta corrente não é nula. A potência instantânea é )()()( tVtitP ⋅= . A potência média: ∫ ⋅= T dttVti T P 0 )()(1 onde ωπ /2=T é o período. A potência média dissipada numa resistência atravessada pela corrente (165) é: ( ) Ridtt T i RP T 2 0 0 0 2 2 0 2 1cos =+= ∫ φω (174) No entanto, num condensador ou numa indutância Electricidade e Magnetismo – notas do Prof. Mikhail Vasilevskiy – 3aParte 27 0=P , ou seja, a energia é dissipada apenas na resistência (qual, por isso, as vezes é chamada activa). Num condensador ou numa indutância, a energia da corrente que passa não é dissipada, apenas transforma-se, de uma maneira reversível, noutra forma (magnética no caso da bobina e electrostática no caso do condensador) . De acordo com o resultado (174), faz sentido introduzir o valor eficaz de corrente (a intensidade de corrente contínua que produz a mesma energia dissipada numa resistência), que é igual a 2 0i . Também se pode falar dos valores eficazes das tensões. Note-se que os multímetros, no caso das correntes ou tensões alternadas, medem precisamenteos valores eficazes das respectivas grandezas. 8.3 Oscilações num circuito RLC em série. Ressonância Consideremos um circuito constituído por três elementos R, L e C ligados em série. Apesar de não ter nenhuma FEM externa incluída, neste circuito pode surgir uma corrente flutuante. Qual seria a variação desta corrente com tempo? A resposta é dada pela equação diferencial (166) com a parte esquerda nula, 01 =++ ∫ idtCRidtdiL , (166a) ou, derivando em ordem ao tempo, 012 2 =++ i Cdt diR dt idL (175) Suponhamos primeiro que a resistência R é desprezável. Assim, a Eq.(179) é a equação de oscilador harmónico com um grau de liberdade conhecida da mecânica. A sua solução é )cos()sin()( 00 tBtAti ωω += (176) em que A e B são algumas constantes que dependem das condições iniciais e LC 1 0 =ω (177) é a frequência natural (ou a frequência das vibrações livres) do circuito. No entanto, na realidade a resistência activa é inevitável. Na mecânica, o termo com a primeira derivada na equação diferencial do oscilador representa atrito, que faz com que as vibrações livres decaiam com o tempo. Este oscilador chama-se amortecido. A solução da equação (175) com 0≠R é: Electricidade e Magnetismo – notas do Prof. Mikhail Vasilevskiy – 3aParte 28 ( ) −+= tLRtBtAti 2exp)cos()sin()( '0'0 ωω em que 2 2 ' 0 4 1 L R LC −=ω . A intensidade de corrente varia como mostra a figura acima. O amortecimento das vibrações livres da corrente resulta da dissipação da energia na resistência. Admitamos agora que no circuito considerado está incluída uma FEM sinusoidal (ou seja, voltemos a considerar o circuito apresentado na página 24). A variação da corrente neste circuito é descrita pela equação diferencial não homogénea ( ))cos(1 02 2 t dt di Cdt diR dt idL ωΕ=++ . (178) Como sabemos da teoria de equações diferenciais, a solução geral da Eq.(178) pode ser apresentada como uma soma da solução geral da equação homogénea (175) (que representa as vibrações livres) e uma solução particular da Eq.(178). Esta última que representa as vibrações forçadas pode ser achada utilizando o método de amplitudes complexas. A impedância do circuito é dada pela Eq.(172) e depende da frequência. Por isso, a amplitude da corrente também depende de ω , ; ˆ 1ˆ 0Ε= Z i onde o módulo da impedância é C RC C LRZ ω ω ωω ωω 2 2 0 2 2 2 2 1)( 1ˆ −+ = −+= . Assim, a amplitude da corrente em função da frequência é dada por 02 2 0 2 2 0 1)( ˆ Ε −+ == ω ωωτ ωCii (179) onde RC=τ . Esta função é mostrada na figura ao lado. Quando a resistência é pequena, a função (179) tem um máximo pronunciado a 0ωω = . Este efeito é chamado de ressonância. No entanto, quando R aumenta, a ressonância é cada vez menos notável. A largura do pico é determinada pelo parâmetro, ( ) RLQ 010 ωτω == − , Electricidade e Magnetismo – notas do Prof. Mikhail Vasilevskiy – 3aParte 29 conhecido como factor de qualidade. Quando maior for o factor de qualidade, mais nítida é a ressonância porque o pico na variação da amplitude da corrente com a frequência é mais alto e mais estreito. Para ter uma boa ressonância, é preciso que a resistência activa do circuito ( R ) seja baixa. Notemos também que nas condições de ressonância ( 0ωω = ) o desfasamento entre a intensidade de corrente e a FEM externa é nulo. Nesta situação tem-se R i 00 Ε= . Electricidade e Magnetismo – notas do Prof. Mikhail Vasilevskiy – 3aParte 30 Resumo 1) Correntes alternadas quase estacionárias podem ser descritas pelas mesmas regras e leis que as correntes contínuas. Por exemplo, as duas leis de Kirchoff aplicam-se aos valores instantâneos das correntes e das tensões quase estacionárias. 2) A resolução das equações diferenciais da segunda lei de Kirchoff (ou seja, a análise dos circuitos com correntes alternadas quase estacionárias) é facilitada pelo método de amplitudes complexas. A amplitude complexa de uma corrente ou uma tensão contém informação sobre a amplitude e a fase da respectiva grandeza num determinado elemento do circuito. A resistência complexa chama- se impedância. Para calcula-la, aplicam-se os métodos conhecidos da análise de circuitos com correntes estacionárias. 3) Num circuito constituído por uma resistência, uma indutância e um condensador, ligados em série, ocorrem oscilações livres da corrente. O amortecimento destas oscilações deve-se à dissipação da energia que tem lugar na resistência. Se ligarmos a este circuito um gerador de tensão sinusoidal, surgem vibrações forçadas com a frequência do gerador. Se esta coincidir com a frequência das vibrações livres, acontece a ressonância, que se manifesta na maior amplitude das vibrações forçadas e no desfasamento nulo entre a corrente e a FEM do gerador.
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