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A tese do impedimento do curso da prescrição durante o contrato de trabalho. A tese do impedimento do curso da prescrição durante o contrato de trabalho O texto abaixo, com pequenas modificações, foi retirado da sentença proferida pelo Juiz do Trabalho Almiro Eduardo de Almeida (TRT 4ª Região) A prescrição é instituto de direito material que visa, precipuamente, proteger a estabilidade das relações jurídico- sociais, em obediência ao princípio da segurança jurídica, não se admitindo que situações permaneçam passíveis de discussão de modo permanente ao longo do tempo. Ainda, a prescrição atinge aqueles sujeitos relapsos e inoperantes, os quais, por razões diversas, deixam de veicular suas pretensões no tempo oportuno. Desse modo, percebe-se que o instituto da prescrição pressupõe, para sua perfeita aplicação, a capacidade de ação do sujeito titular da pretensão contra a qual flui o prazo prescricional deletério. Tanto é que o Código Civil traz uma série de situações que impedem o decurso do prazo prescricional, as quais estão ligadas por uma base comum, qual seja, a impossibilidade de ação do titular do direito eventualmente violado. A relação de emprego é uma relação jurídica especial dentro do ordenamento jurídico, no qual o trabalhador fica subordinado aos interesses do empregador, o qual detém, conforme entendimento dominante, o poder de extinguir a relação de trabalho a qualquer tempo e sem a necessidade de motivação (denúncia vazia do contrato). Outra particularidade de extrema importância é a dependência do trabalhador em relação ao seu posto de trabalho, essencial para sua subsistência e de sua família. Nesse contexto, é evidente que no curso da relação de emprego o trabalhador tem a sua liberdade de ação reduzida, já que no Brasil não se acolhe o direito à indenidade. Tanto é que a Justiça do Trabalho é muitas vezes citada como a Justiça dos Desempregados, tamanha a impossibilidade prática de ajuizamento de ações contra os empregadores na vigência da relação de emprego. O medo (real e justificado) de perder o posto de trabalho impede que os trabalhadores demandem contra seus empregadores na constância da relação laboral, o que faz com que seus créditos trabalhistas sejam pouco a pouco, abarcados pela prescrição prevista pela CR/88. Ocorre que a Assembleia Constituinte, ciente das especificidades da relação de emprego, estabeleceu, ao lado da prescrição quinquenal, no mesmo art. 7º, como direito dos trabalhadores, urbanos e rurais, uma "relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos da lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos". A prescrição dos créditos trabalhistas tem razão de ser quando contrastada com uma relação de emprego protegida contra a despedida arbitrária ou sem justa causa, visto que, nessa hipótese, o trabalhador não estaria mais impedido de exercer seu direito de ação sob o argumento de que poderia perder o emprego. Logo, adotando-se uma interpretação sistemática que privilegia a unidade da Constituição e que promove a construção de uma sociedade livre, justa e solidária (art. 3º, CR/88), conclui-se que a regulamentação do inciso I do art. 7º da CR/88 ou, até mesmo a garantia de indenidade, é condição inicial de eficácia da prescrição quinquenal prevista no inciso XXIX do mesmo art. 7º. Observo que na Itália, a Corte Constitucional, desde 1966, reconhece a impossibilidade do fluxo do prazo prescricional na vigência dos contratos de trabalho que não possuem uma garantia real contra a despedida. Assim, considerando que a prescrição não é um "prêmio" para o mau empregador, enquanto não aplicado efetivamente o direito de proteção contra despedida arbitrária ou sem justa causa, que gera ao trabalhador a impossibilidade concreta de buscar os seus direitos pela via judicial, não se pode considerar eficaz a regra do inciso XXIX do art. 7º. Portanto, tendo em vista que até o presente momento não houve a edição da Lei Complementar prevendo as garantias do trabalhador contra despedida arbitrária ou sem justa causa, é inviável a aplicação da prescrição quinquenal no curso do contrato de trabalho, admitindo-se apenas a incidência do prazo de dois anos após o término do contrato para o ajuizamento da ação, salvo a existência de garantia real prevista em legislação específica ou em normas autônomas individuais ou coletivas. REFERÊNCIAS CARVALHO, Augusto César Leite de. Garantia de indenidade no Brasil: o livre exercício do direito fundamental de ação sem o temor de represália patronal. São Paulo: LTr, 2013. PORTO, Lorena Vasconcelos. O impedimento do curso da prescrição durante a relação de emprego: o exemplo italiano. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 14, n. 2099, 31 mar. 2009. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/12552>. Acesso em: 8 set. 2015. THOMÉ, Candy Florencio; SCHWARZ, Rodrigo Garcia (org.). Sentenças trabalhistas selecionadas: vínculo empregatício, relação de trabalho e relações de emprego. Volume I. São Paulo: LTr, 2014.
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