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Apostila de Direito Penal_leogalardo

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1 
 
Professor: Leonardo Galardo 
leogalardo@ymail.com 
 
 
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 
 
 Artigo 5º, inciso XXXIX, CF/88: 
“Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal” 
 
 Artigo 1º do Código Penal: 
“Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal” 
 
 O Princípio da Legalidade é aquele que vincula a existência de crimes e de penas à 
existência de uma lei. Sendo assim, não teremos crime e não teremos pena, salvo na 
hipótese de existência de lei. 
 
 Cabe ressaltar, que embora os dispositivos legais só mencionem crimes e penas, podemos 
perceber que todos os ilícitos penais dependem de lei. Nesse sentido, o Princípio da 
Legalidade se aplica a todas as questões penais, tais como as medidas de segurança e as 
contravenções penais. 
 
 Além disso, não é possível utilizar a analogia em matéria penal, salvo se for para beneficiar 
o agente. Note, que a analogia consiste na utilização de uma norma jurídica de um caso 
concreto diferenciado, de uma situação diferente, para uma que seja semelhante. Nesse 
caso, não poderei utilizar a analogia (método de integração do ordenamento jurídico). 
 
 Não posso confundir a analogia com a interpretação analógica (expressão genérica na lei): 
de outro modo, de qualquer forma,... 
 
 Somente a lei em sentido estrito (lei ordinária e lei complementar) pode tratar de direito 
penal. Sendo assim, não é possível a edição de medida provisória sobre direito penal. Este 
entendimento está, inclusive, previsto expressamente no artigo 62, parágrafo primeiro, I, 
“b”, da CF/88. 
 
 O Princípio da Legalidade se desdobra em outros dois: 
 
Princípio da Anterioridade: 
A lei penal tem que ser anterior à data do fato, não podendo retroagir para prejudicar o réu. 
Contudo, há uma exceção, no tocante às leis penais que beneficiam o réu, as quais deverão 
retroagir. 
 
Princípio da Reserva Legal: 
Não pode existir delito fora da definição da norma escrita. Sendo assim, a criação de 
condutas criminosas está reservada à lei. 
 
 
 
2 
 
Professor: Leonardo Galardo 
leogalardo@ymail.com 
 
 
PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA 
 
 É aquele que enxerga o Direito Penal como a última ratio (última opção), o que significa 
que o Direito Penal só deve ser utilizado pelo Estado, quando os outros ramos do direito 
se mostrarem insuficientes e não servirem para tutelar aquela situação e para proteger 
aquele bem jurídico. 
 
 Devo associá-lo a dois elementos imediatos: 
 
A) Direito Penal como Última Ratio: 
O Direito Penal é a última alternativa, a última arma, a última saída que o Estado deve 
utilizar para proteger um bem jurídico tutelado. 
 
B) Direito Penal como protetor dos Bens Jurídicos Mais Importantes: 
Cabe ressaltar, que nem todos os bens jurídicos tutelados normativamente devem ser 
protegidos pelo Direito Penal. Somente os bens jurídicos mais relevantes é que devem 
ser tutelados pelo Direito Penal. 
 
 Isso gera duas consequências: 
- A primeira é o Princípio da Fragmentariedade. 
- A segunda é o Princípio da Subsidiariedade. 
PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE 
 
 Se o Direito Penal deve proteger os bens jurídicos mais relevantes em todas as áreas de 
conhecimento, em todas as relações jurídicas, podemos perceber que ele possui um caráter 
fragmentário. 
 
 O Direito Penal está todo fragmentado, tendo em vista que não tem um objeto único de 
proteção, tutelando diversos bens jurídicos espalhados pelos ramos do direito. 
 
PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE 
 
 O Direito Penal é subsidiário. Sendo assim, se os outros ramos do direito forem suficientes 
para tutelar aquele bem, não precisaremos do direito penal. Dessa forma, o Direito Penal 
só deverá agir quando os outros ramos do direito forem insuficientes. 
 
PRINCÍPIO DA LESIVIDADE 
 
 O Direito Penal só se justifica para proteger os bens jurídicos tutelados de condutas que 
representem uma lesão ou, pelo menos, um perigo real de lesão. 
 
3 
 
Professor: Leonardo Galardo 
leogalardo@ymail.com 
 
 
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA OU BAGATELA 
 
 O Princípio da Insignificância surgiu na década de 1970 através de Claus Roxin. 
 
 Só pode ser tutelada pela direito penal a conduta que causa uma lesão ou ameaça de lesão 
relevante/significativa a um bem jurídico protegido. Se aquela conduta for irrelevante, não 
poderá ser considerada criminosa. 
 
DOUTRINA BRASILEIRA + ZAFFARONI 
 
TIPICIDADE = TIPICIDADE + TIPICIDADE 
 FORMAL CONGLOBANTE 
 
 
 TIPICIDADE ANTINORMATIVIDADE 
 MATERIAL 
 
STJ E STF 
 
TIPICIDADE = TIPICIDADE + TIPICIDADE 
 FORMAL MATERIAL 
 
 No ano de 2004 (HC 84.412), o Ministro Celso de Mello estabeleceu 04 (quatro) vetores de 
aplicação do Princípio da Insignificância, com a finalidade de criar uma ordem científica 
para a sua aplicação: 
 
A) ÍNFIMO POTENCIAL LESIVO DA CONDUTA: 
Não vou analisar a lesão em si... 
Eu vou analisar o potencial lesivo daquela conduta... 
 
Exemplo: Um disparo de PAF, que atinge a orelha da vítima de raspão e causa um 
mero arranhão, pode ser considerado como algo irrelevante (no tocante à lesão). 
Porém, o potencial lesivo daquela conduta era absurdo! Poderia gerar a morte da 
vítima. Sendo assim, não atenderia ao vetor do “ínfimo potencial lesivo da conduta”. 
 
B) NENHUMA PERICULOSIDADE SOCIAL DA AÇÃO: 
A conduta não pode colocar a sociedade em risco. 
 
C) REDUZIDÍSSIMO GRAU DE REPROVABILIDADE DA CONDUTA: 
 
D) IRRELEVÂNCIA DA LESÃO PROVOCADA: 
Depende do caso concreto... Não existe uma tabela, um parâmetro fixo... 
4 
 
Professor: Leonardo Galardo 
leogalardo@ymail.com 
 
 
ATENÇÃO: As condições pessoais negativas do agente (reincidência) não são 
consideradas vedações à aplicação do princípio da insignificância. Sendo assim, 
podemos aplicar normalmente, desde que não viole um dos quatro requisitos acima. 
 
ATENÇÃO: Crimes contra o patrimônio em que haja violência (roubo) não admitem 
o princípio da insignificância! 
 
Isto ocorre, uma vez que o roubo é um crime complexo, que atinge dois bens jurídicos 
(patrimônio + incolumidade individual ou sentimento de liberdade). 
 
Nesse sentido, a lesão à incolumidade individual ou sentimento de liberdade jamais 
poderá ser insignificante, sendo considerada reprovável. 
 
ATENÇÃO: Crimes ambientais admitem o princípio da insignificância! 
 
ATENÇÃO: Crimes de improbidade administrativa não admitem (majoritário)! 
 
ATENÇÃO: Crimes contra a administração pública: 
 
O STJ não admite a aplicação do princípio da insignificância! 
 
O STF é contraditório: 
 
- Tem uma decisão de 2006, que admite a aplicação do princípio da insignificância, em 
um crime de peculato praticado no âmbito militar. 
 
- Tem uma decisão mais recente, que dispõe que o referido princípio não pode ser 
aplicado, quando o bem atingido for o patrimônio nacional (patrimônio público). 
 
ATENÇÃO: Crimes Tributários + Previdenciários + Descaminho: 
 
A 5º Turma do STJ pacificou que os crimes tributários + previdenciários + 
descaminho podem ser fruto de aplicação do princípio da insignificância, com base no 
valor utilizado pela receita federal, que pode arquivar as execuções fiscais com valores 
de até R$ 10.000,00 (artigo 20 da Lei n.º 10.522/2002). 
 
Precedente: RESP 1.171.199/RS 
 
ATENÇÃO: O Delegado precisa instaurar inquérito policial nesses casos que 
envolvem o princípio da insignificância? 
 
Sim! Pois a insignificânciasó pode ser analisada no âmbito do judiciário. Sendo assim, 
o Delegado somente pode analisara tipicidade formal. 
 
 
 
5 
 
Professor: Leonardo Galardo 
leogalardo@ymail.com 
 
 
CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS PENAIS 
 Há dois grupos de normas penais: 
A) NORMAS PENAIS INCRIMINADORAS: 
 
- Possuem a função de definir as infrações penais, proibindo ou impondo condutas, 
sob a ameaça de aplicação de uma sanção penal. É a norma penal por excelência. 
 
- As normas penais incriminadoras possuem dois preceitos: 
 
PRECEITO PRIMÁRIO (preceptum iuris): 
 
Possui a função de fazer a descrição detalhada e perfeita da conduta que se procura 
proibir (proibitiva) ou impor (mandamental). 
 
PRECEITO SECUNDÁRIO (sanctio iuris): 
 
Possui a tarefa de individualizar a pena, cominando em abstrato. 
 
B) NORMAS PENAIS NÃO INCRIMINADORAS: 
 
- Possuem algumas funções específicas, tais como: 
 
- Tornar lícitas determinadas condutas... 
- Afastar a culpabilidade do agente, estabelecendo causas de isenção de pena... 
- Esclarecer determinados conceitos... 
- Fornecer princípios gerais para a aplicação da lei penal... 
 
- Dessa forma, há três tipos de normas penais não incriminadoras: 
 
B1) PERMISSIVAS: 
 
 B1.1) PERMISSIVAS JUSTIFICANTES: 
 
 - Possuem a finalidade de afastar a ilicitude/antijuridicidade da conduta. 
 
 - Exemplo: artigos 23, 24 e 25 do Código Penal. 
 
 B1.2) PERMISSIVAS EXCULPANTES: 
 
 - Possuem a finalidade de afastar a culpabilidade da conduta. 
 
 - Exemplo: artigo 26, caput, do Código Penal. 
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Professor: Leonardo Galardo 
leogalardo@ymail.com 
 
 
B2) EXPLICATIVAS: 
 
- Visam esclarecer ou explicitar conceitos. 
 
- Exemplo: artigo 150, parágrafo quarto, do Código Penal: 
“Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade 
expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências: 
§ 4º - A expressão "casa" compreende: 
I - qualquer compartimento habitado; 
II - aposento ocupado de habitação coletiva; 
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou 
atividade”. 
B3) COMPLEMENTARES: 
 
- Fornecem princípios gerais para a aplicação da lei penal. 
 
- Exemplo: artigo 59 do Código Penal: 
Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à 
personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, 
bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e 
suficiente para reprovação e prevenção do crime: 
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas; 
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos; 
III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade; 
IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de 
pena, se cabível. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Professor: Leonardo Galardo 
leogalardo@ymail.com 
 
 
NORMAS PENAIS EM BRANCO 
(PRIMARIAMENTE REMETIDAS) 
 
- As normas penais em branco (primariamente remetidas) são aquelas em que: 
 
HÁ A NECESSIDADE DE COMPLEMENTAÇÃO 
PARA QUE SE POSSA COMPREENDER 
O ÂMBITO DE APLICAÇÃO 
DE SEU PRECEITO PRIMÁRIO 
 
- É necessário extrair um complemento de outra norma, para que seja possível 
compreender o seu efetivo âmbito de incidência. 
 
- Pode ser de dois tipos: 
 
A) NORMAS PENAIS EM BRANCO HOMOGÊNEAS: 
(EM SENTIDO AMPLO) 
 
- O seu complemento é oriundo da mesma fonte legislativa! 
 
- Artigo 237 do Código Penal E Artigo 1.521, incisos I a VII do CC/2002: 
(Ambas são provenientes do Congresso Nacional) 
Art. 237 do Código Penal - Contrair casamento, conhecendo a existência 
de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta: 
Pena - detenção, de três meses a um ano. 
Art. 1.521 do CC/2002 – Não podem casar: 
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; 
II - os afins em linha reta; 
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi 
do adotante; 
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau 
inclusive; 
V - o adotado com o filho do adotante; 
VI - as pessoas casadas; 
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de 
homicídio contra o seu consorte. 
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Professor: Leonardo Galardo 
leogalardo@ymail.com 
 
 
B) NORMAS PENAIS EM BANCO HETEROGÊNEAS: 
(EM SENTIDO ESTRITO) 
 
- O seu complemento é oriundo de fonte legislativa diversa! 
 
- Artigo 28 da Lei n.º 11.343/2006 E Portaria 344/98 da ANVISA: 
(A Lei n.º 11.343/2006 é oriunda do Congresso Nacional) 
(A Portaria 344/98 da ANVISA é oriunda de uma Autarquia) 
Art. 28 da Lei n.º 11.343/2006 – Quem adquirir, guardar, tiver em 
depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas 
sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou 
regulamentar será submetido às seguintes penas: 
I - advertência sobre os efeitos das drogas; 
II - prestação de serviços à comunidade; 
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. 
§ 1o Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, 
cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de 
substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica. 
§ 2o Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá 
à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em 
que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à 
conduta e aos antecedentes do agente. 
§ 3o As penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas 
pelo prazo máximo de 5 (cinco) meses. 
§ 4o Em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput 
deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez) meses. 
§ 5o A prestação de serviços à comunidade será cumprida em programas 
comunitários, entidades educacionais ou assistenciais, hospitais, 
estabelecimentos congêneres, públicos ou privados sem fins lucrativos, que se 
ocupem, preferencialmente, da prevenção do consumo ou da recuperação de 
usuários e dependentes de drogas. 
§ 6o Para garantia do cumprimento das medidas educativas a que se refere o 
caput, nos incisos I, II e III, a que injustificadamente se recuse o agente, poderá 
o juiz submetê-lo, sucessivamente a: 
I - admoestação verbal; 
II - multa. 
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Professor: Leonardo Galardo 
leogalardo@ymail.com 
 
 
Ofensa ao Princípio da Legalidade por Normas Penais em Branco Heterogêneas 
- Tendo em vista que o complemento da norma penal em branco heterogênea pode ser 
oriundo de outra fonte que não a lei em sentido estrito, esta espécie de de norma penal 
ofenderia o princípio da legalidade? 
 Artigo 5º, inciso XXXIX, CF/88: 
“Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação 
legal” 
 
 Artigo 1º do Código Penal: 
“Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação 
legal” 
 
 O Princípio da Legalidade é aquele que vincula a existência de crimes e de penas à 
existência de uma lei. Sendo assim, não teremos crime e não teremos pena, salvo na 
hipótese de existência de lei. 
 
 Cabe ressaltar, que embora os dispositivos legais só mencionem crimes e penas, 
podemos perceber que todos os ilícitos penais dependem de lei. Nesse sentido, o 
Princípio da Legalidade se aplica a todas as questões penais, tais como as medidas 
de segurança e as contravenções penais. 
 
CRIMES 
CONTRAVENÇÕES PENAIS 
PENAS 
MEDIDAS DE SEGURANÇA 
 
 
 
LEI 
 
 Além disso,não é possível utilizar a analogia em matéria penal, salvo se for para 
beneficiar o agente. Note, que a analogia consiste na utilização de uma norma 
jurídica de um caso concreto diferenciado, de uma situação diferente, para uma que 
seja semelhante. Nesse caso, não poderei utilizar a analogia (método de integração 
do ordenamento jurídico). 
 
 Não posso confundir a analogia com a interpretação analógica (expressão genérica 
na lei): de outro modo, de qualquer forma,... 
 
 
 
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Professor: Leonardo Galardo 
leogalardo@ymail.com 
 
 
 Somente a lei em sentido estrito (lei ordinária e lei complementar) pode 
tratar de direito penal. Sendo assim, não é possível a edição de medida provisória 
sobre direito penal. Este entendimento está, inclusive, previsto expressamente no 
artigo 62, parágrafo primeiro, I, “b”, da CF/88. 
 O Princípio da Legalidade se desdobra em outros dois: 
 
Princípio da Anterioridade: 
A lei penal tem que ser anterior à data do fato, não podendo retroagir para 
prejudicar o réu. Contudo, há uma exceção, no tocante às leis penais que 
beneficiam o réu, as quais deverão retroagir. 
 
Princípio da Reserva Legal: 
Não pode existir delito fora da definição da norma escrita. Sendo assim, a criação 
de condutas criminosas está reservada à lei. 
 1º CORRENTE: 
Rogério Greco 
Nilo Batista 
Eugenio Raúl Zaffaroni 
Alejando Alagia 
Alejandro Slokar 
 
Há inconstitucionalidade quando a norma penal em branco heterogênea busca a sua 
complementação em outro diploma sem capacidade constitucional para tratar da 
matéria. É o exemplo clássico do artigo 28 da Lei n.º 11.343/2006. 
 
 2º CORRENTE: 
Majoritária 
 
Não há ofensa ao princípio da legalidade, quando a norma penal em branco 
heterogênea prevê aquilo que se denomina “núcleo essencial da conduta”. 
 
NORMAS PENAIS INCOMPLETAS OU IMPERFEITAS 
(SECUNDARIAMENTE REMETIDAS) 
 
- As normas penais incompletas ou imperfeitas (secundariamente remetidas) são: 
 
HÁ A NECESSIDADE DE SER REMETIDO 
PARA OUTRO TEXTO DE LEI 
PARA SABER A CONSEQUÊNCIA JURÍDICA DA CONDUTA 
(PENA) 
 
- É necessário extrair a pena de outro dispositivo legal. 
11 
 
Professor: Leonardo Galardo 
leogalardo@ymail.com 
 
 
- Podemos citar o artigo 1º da Lei n.º 2.889/56 (crime de genocídio): 
Art. 1º – Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, 
étnico, racial ou religioso, como tal: 
a) matar membros do grupo; 
b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo; 
c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de 
ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial; 
d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; 
e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo; 
Será punido: 
Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso da letra a; 
Com as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra b; 
Com as penas do art. 270, no caso da letra c; 
Com as penas do art. 125, no caso da letra d; 
Com as penas do art. 148, no caso da letra e; 
 
ANOMIA 
 
Não há Normas... 
OU 
Há Normas, mas a Sociedade não as Respeita... 
 
ANTINOMIA 
 
É o conflito aparente de normas... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
Professor: Leonardo Galardo 
leogalardo@ymail.com 
 
 
INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DA LEI PENAL 
 
 Muito se discutia a respeito da necessidade de interpretação quando a norma 
apresentava-se com suficiente clareza em seu texto, sem obscuridades ou contradições. 
Nesses casos, entendia-se como desnecessária a interpretação, com base na expressão 
“in claris non fit interpretativo”. 
 Atualmente, contudo, esse entendimento não prevalece. A doutrina moderna é pacífica 
no sentido de que a interpretação é indispensável mesmo quanto às normas claríssimas, que 
não apresentam qualquer obscuridade. 
 A orientação atual dispõe que qualquer norma penal, por mais clara que seja a sua letra, 
exige interpretação, que lhe explicite o verdadeiro significado. 
 Podemos subdividir a interpretação em objetiva e subjetiva: 
 OBJETIVA (Voluntas Legis): 
 
- É a suposta vontade da lei. 
 
 SUBJETIVA (Voluntas Legislatoris): 
 
- É a suposta vontade do legislador. 
 
- É altamente criticada pela doutrina, uma vez que o “legislador” não é uma única 
pessoa e sim um cúmulo de vontades. 
 Podemos estudar a interpretação sob três vertentes: 
 QUANTO ÀS FONTES: 
 
A) AUTÊNTICA OU LEGISLATIVA: 
 
- É a interpretação realizada pelo próprio texto legal (no corpo da lei editada). 
 
- A exposição de motivos não possui a natureza de interpretação autêntica, uma 
vez que a mesma não é votada pelo Congresso Nacional, nem sancionada pelo 
Presidente da República. 
 
- Nesse sentido, trata-se de mera justificativa feita pela comissão encarregada de 
elaborar o projeto. De todo modo, podemos considerar a exposição de motivos 
uma interpretação doutrinária. 
 
- Pode ser contextual ou posterior: 
13 
 
Professor: Leonardo Galardo 
leogalardo@ymail.com 
 
 
CONTEXTUAL: 
- É realizada no mesmo momento em que é editado o diploma legal. 
 
- Podemos citar o exemplo do artigo 327 do Código Penal, que definiu o 
conceito de funcionário público, no mesmo instante em que previu, no corpo 
do código, os crimes que exigiam esta especial qualidade do sujeito ativo. 
 
- Podemos citar, ainda, os parágrafos quarto e quinto, do artigo 150 do Código 
Penal, que especifica o alcance da expressão “casa”, no crime de violação de 
domicílio. 
 
POSTERIOR: 
- É realizada em momento posterior ao da edição do diploma legal. 
 
B) DOUTRINÁRIA: 
 
- É a interpretação realizada pelos estudiosos do direito, os quais, comentando 
sobre a lei que se pretende interpretar, emitem opiniões pessoais. 
 
- É a chamada communis opinio doctorum. 
 
C) JUDICIAL: 
 
- É a interpretação realizada pelos aplicadores do direito (magistrados). 
 
- Ocorre através de suas decisões (deve ser realizada intra-autos). 
 
- Sendo assim, não devemos considerar como formas de interpretação judicial, 
as opiniões proferidas pelos magistrados em sede de palestras ou congressos. 
Isto ocorre, uma vez que tais interpretações extra-autos teriam o caráter de 
interpretações doutrinárias. 
 
- Podemos citar o exemplo das Súmulas, que traduzem as decisões reiteradas de 
um Tribunal, sobre um determinado assunto. 
 
- EMC 45/2004: criou a SÚMULA COM EFEITO VINCULANTE. 
- Sendo assim, temos agora súmulas não vinculantes E súmulas vinculantes: 
 
SÚMULAS NÃO VINCULANTES: 
- Podem ser editadas por todos os Tribunais (inclusive pelo próprio STF). 
- Representam as conclusões dos referidos Tribunais acerca de um tema. 
 
 
 
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Professor: Leonardo Galardo 
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SÚMULAS VINCULANTES (Artigo 103-A da CRFB/88): 
- Só podem ser editadas pelo STF. 
- Vinculam os demais Tribunais. 
Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, 
mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões 
sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na 
imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder 
Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, 
estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na 
forma estabelecida em lei. 
§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de 
normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãosjudiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave 
insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão 
idêntica. 
§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou 
cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a 
ação direta de inconstitucionalidade. 
§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável 
ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal 
Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a 
decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a 
aplicação da súmula, conforme o caso." 
 QUANTO AOS MEIOS: 
 
A) LITERAL OU GRAMATICAL: 
 
- É aquela em que o intérprete se preocupa em saber o real e efetivo significado 
das palavras. 
 
B) TELEOLÓGICA: 
 
- É aquela em que o intérprete busca alcançar a finalidade da lei, aquilo ao qual 
ela se destina regular (os fins propostos pela lei). 
 
- A interpretação teleológica deverá prevalecer sobre a literal. 
 
- Podemos citar a análise dos tipos penais previstos na Lei n.º 8.069/90 (ECA). 
Com base neste tipo de interpretação, o exegeta percebe que os referidos tipos 
penais foram editados para proteger as crianças e os adolescentes. Sendo assim, 
tais dispositivos passam a ser compreendidos com base em uma visão protetiva. 
 
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C) SISTÊMICA OU SISTEMÁTICA: 
 
- É aquela em que o intérprete analisa o dispositivo legal no sistema em que ele 
está contido e não de forma isolada. Interpreta-se com os olhos voltados para o 
todo e não somente para as partes. 
 
- Podemos citar o exemplo do artigo 5º, inciso XXXVIII, alínea “d” da 
CRFB/88, que dispõe que o Tribunal do Júri será responsável pelo julgamento 
dos crimes dolosos contra a vida. 
 
- Suponhamos que alguém, com a finalidade de subtrair coisa alheia móvel, 
cause dolosamente a morte da vítima. Nesse caso, teremos o crime de 
latrocínio. Porém, surgirá a seguinte dúvida: deverá o agente ser julgado pelo 
Tribunal do Júri? 
 
- A resposta é negativa! Isto ocorre, uma vez que a interpretação sistêmica ou 
sistemática do artigo 157, parágrafo terceiro, do Código Penal, que trata do 
latrocínio, demonstrará que o referido tipo penal está previsto no capítulo 
atinente aos crimes contra o patrimônio. Sendo assim, o crime foi praticado 
contra o patrimônio e não contra a vida, em um primeiro plano. 
 
D) HISTÓRICA: 
 
- É aquela em que o intérprete volta ao passado, ao tempo em que foi editado o 
diploma que se quer interpretar, buscando os fundamentos de sua criação, o 
momento pelo qual atravessava a sociedade, com vistas a entender o motivo 
pelo qual houve a necessidade de modificação do ordenamento jurídico. 
 
 QUANTO AOS RESULTADOS: 
 
A) DECLARATÓRIA: 
 
- É aquela em que o intérprete não amplia nem restringe o alcance da lei, mas 
apenas declara a sua vontade. 
 
- Podemos citar o exemplo do artigo 141, inciso III, do Código Penal, que 
dispõe que as penas cominadas para os crimes de calúnia, difamação e injúria 
serão aumentadas de um terço, se qualquer dos crimes for praticado na 
presença de “várias pessoas”. 
 
- Ao interpretarmos o termo “várias pessoas”, chegamos à conclusão que 
estamos diante de, pelo menos, três pessoas. 
 
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- Isso porque quando a lei se contenta com a presença de duas pessoas ela o diz 
expressamente (artigo 155, parágrafo quarto, inciso IV, do Código Penal). 
- Da mesma forma, quando exige um mínimo de quatro pessoas, ela utiliza a 
expressão “mais de três” (artigo 288 do Código Penal). 
 
- Sendo assim, podemos concluir que estamos diante de três pessoas. Não 
ampliamos nem restringimos o alcance da lei. Na verdade, apenas declaramos o 
seu significado. 
 
B) RESTRITIVA: 
 
- É aquela em que o intérprete diminui ou restringe o alcance da lei. 
 
- A lei disse mais do que deveria dizer: lex plus dixit quam voluit. 
 
- Podemos citar o exemplo do artigo 28 do Código Penal, que dispõe que a 
embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos 
análogos, não excluiu a imputabilidade penal. 
 
- Porém, a lei não atentou para o fato de que uma das espécies de embriaguez 
(patológica) pode vir a excluir a imputabilidade penal, quando interferir 
totalmente na capacidade do indivíduo. 
 
- Sendo assim, é necessário restringir o alcance do inciso II do artigo 28 do CP. 
 
C) EXTENSIVA: 
 
- É aquela em que o intérprete amplia ou alarga o alcance da lei. 
 
- A lei disse menos do que deveria dizer: lex minus dixit quam voluit. 
 
- Podemos citar o exemplo da proibição legal da bigamia, prevista no artigo 235 
do Código Penal. Naquela ocasião, a lei também quis, de maneira implícita, 
proibir a poligamia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA 
 O legislador não foi capaz de prever todas as situações que poderiam ocorrer na vida 
em sociedade. Sendo assim, ele permitiu a utilização de um recurso, que também amplia o 
alcance da norma penal, conhecido como Interpretação Analógica. 
- O código detalha todas as situações que quer regular, com base no princípio da legalidade. 
+ 
- O código permite que tudo aquilo que for semelhante seja abrangido no mesmo artigo. 
 Podemos citar o exemplo do artigo 121, parágrafo segundo, inciso III, do Código Penal: 
“§ 2° Se o homicídio é cometido: 
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso 
ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum”. 
 Interpretação Extensiva x Interpretação Analógica: 
- As duas modalidades de interpretação são muito parecidas, uma vez que o intérprete 
amplia o conteúdo da lei penal, com a finalidade de abranger hipóteses não previstas 
expressamente pelo legislador, mas que por ele foram também desejadas. 
- Contudo, a interpretação extensiva é um gênero, que comporta duas espécies: 
INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA EM 
SENTIDO ESTRITO 
INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA 
 INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA 
 INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA EM SENTIDO ESTRITO: 
- O legislador não nos fornece um padrão a ser seguido. 
- Exemplo: bigamia (artigo 235 do código penal). 
 INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA: 
- O legislador fornece um padrão a ser seguido, com uma fórmula casuísta e outra genérica. 
- Exemplo: homicídio qualificado (artigo 121, parágrafo segundo, inciso III, código penal. 
- Exemplo: crime continuado (artigo 71 do código penal). 
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“Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da 
mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras 
semelhantes (...)”. 
INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA x ANALOGIA 
 A interpretação analógica não pode se confundir com a analogia: 
 INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA: 
- É um processo interpretativo. 
- A própria lei determina que se amplie o seu conteúdo ou alcance (artigo 121 do CP): 
“§ 2° Se o homicídio é cometido: 
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso 
ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum”. 
 ANALOGIA: 
- É um processo integrativo. 
- O intérprete decide aplicar aquela norma a um caso semelhante. 
- Tal atitude gera violação ao princípio da legalidade (se for para prejudicar o réu). 
- Nesse sentido, somente será permitida a analogia para beneficiar o réu (in bonam partem) 
ejamais para prejudicá-lo (in malam partem). 
- Exemplo de analogia in bonam partem (permitida): 
Aplicar as medidas protetivas da Lei n.º 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) para proteger o 
homem vítima de agressão. 
- Exemplo de analogia in malam partem (proibida): 
Considerar o desvio de sinal de tv a cabo como furto de energia (artigo 155, parágrafo 
terceiro, do código penal), já que “sinal” e “energia” são conceitos diferentes. 
INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO 
 É uma forma de interpretação garantista, através da qual o intérprete procura verificar a 
validade das normas, por intermédio do seu confronto com a constituição. 
 É uma forma de reconhecimento da supremacia da constituição sobre todo o 
ordenamento jurídico, não só estabelecendo uma hierarquia de uma lei superior sobre outra 
de nível inferior, como, também, exercendo uma vigilância da constitucionalidade das leis. 
 
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DÚVIDAS EM MATÉRIA DE INTERPRETAÇÃO 
 Na hipótese de dúvida insanável acerca do significado de uma determinada lei, surge o 
questionamento relacionado à providência a ser adotada pelo julgador: 
 São três correntes: 
1º Corrente (in dubio pro societate): 
- A dúvida de interpretação deve pesar em prejuízo do agente. 
2º Corrente (solução pelo julgador): 
- A dúvida de interpretação deve ser solucionada pelo julgador, podendo ser: 
- Contrária aos interesses do réu. 
OU 
- Favorável aos interesses do réu. 
3º Corrente (in dubio pro reo): 
- A dúvida de interpretação deve pesar em prejuízo do Estado, no sentido de que sempre 
que tal fato ocorrer, o réu deverá ser beneficiado, com base no princípio da presunção de 
inocência ou presunção de não culpabilidade. 
- O referido princípio foi primeiramente positivado pela Declaração dos Direitos do 
Homem e do Cidadão (França/1789), precisamente em seu artigo 9º: 
“Artigo 9º. Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e, se julgar 
indispensável prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda da sua pessoa deverá ser 
severamente reprimido pela lei”. 
- Embora a sua consagração tenha ocorrido na França, a efetiva discussão do referido 
princípio se deu na Itália, local em que foi analisado sob a dogmática das diversas escolas 
penais (Escola Clássica, Escola Positivista, Escola Técnico-Jurídica,...). 
- As referidas discussões trouxeram um debate relacionado à nomenclatura do sobredito 
princípio: presunção de inocência x presunção de não culpabilidade? 
- Cabe ressaltar, que a doutrina contemporânea não faz distinção entre estas 
nomenclaturas, o que significa que ambos os entendimentos coexistem na vida prática, 
tendo a mesma interpretação jurídica. 
- De acordo com Ferrajoli, “esse princípio fundamental de civilidade representa o fruto de 
uma opção garantista a favor da tutela da imunidade dos inocentes, ainda que ao custo da 
impunidade de algum culpado”. 
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- Nesse sentido, o fator mais importante a ser estudado no princípio da presunção de 
inocência é a sua divisão em três vertentes clássicas: 
a) Regra de Tratamento: 
 
- deve ser tratado como inocente 
- limitação das prisões processuais 
 
Embora recaiam sobre o imputado suspeitas de prática criminosa, no curso do 
processo deve ele ser tratado como inocente, não podendo ver-se diminuído 
social, moral ou fisicamente, diante de outros cidadãos não sujeitos a um 
processo. 
 
Esta dimensão do princípio em tela atua sobre a exposição pública do 
imputado, sobre a sua liberdade individual, funcionando como limitador das 
prisões processuais. 
 
b) Regra de Julgamento: 
 
- distribuição do ônus da prova (que deve ser todo da acusação) 
- in dubio pro reo 
 
O princípio em tela também possui aplicação na distribuição do ônus da prova, 
o que significa que a acusação terá o dever de provar a imputação. De acordo 
com Afrânio Silva Jardim, “o ônus da prova, na ação penal condenatória, é todo 
da acusação e relaciona-se com todos os fatos constitutivos do poder-dever de 
punir do Estado”. 
 
Além disso, podemos dizer que o princípio em tela também possui aplicação na 
orientação da conduta do juiz, no momento do julgamento. Sendo assim, caso 
persista qualquer dúvida, o juiz deverá absolver o acusado. 
 
c) Regra de Garantia: 
 
- inadmissibilidade das provas ilícitas 
 
Podemos dizer que o princípio em tela possui aplicação na inadmissibilidade 
das provas ilícitas, uma vez que o Ministério Público e a Autoridade Policial 
deverão atuar em estrita observância ao ordenamento jurídico pátrio. 
 
 
 
 
 
 
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LEI PENAL NO TEMPO 
 
 Várias teorias tentam explicar o Tempo do Crime: 
(É o momento em que foi praticado o crime). 
 
TEORIA TEMPO DO CRIME 
Teoria da Atividade Momento da ação ou da omissão (conduta) 
Teoria do Resultado Momento do resultado 
Teoria Mista 
Ou 
Teoria da Ubiquidade 
Momento da ação ou omissão (conduta) 
+ 
Momento do resultado 
 
 O artigo 4º do Código Penal adotou a Teoria da Atividade, o que significa que o 
crime será considerado praticado no momento da ação ou da omissão (conduta), não 
importando o momento do resultado. 
 
Vejamos o que dispõe o artigo 4º do Código Penal: 
"Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro 
seja o momento do resultado”. 
 
 Sendo assim, se eu quiser causar a morte de alguém e atirar na direção dessa pessoa, o 
crime será considerado praticado no momento da minha conduta (ação de atirar), 
mesmo que a pessoa venha a morrer daqui a uma ou duas semanas. 
 
Dessa forma, o momento do resultado (morte) será totalmente irrelevante para o 
Direito Penal, que somente vai se preocupar com o momento da minha conduta 
comissiva ou omissiva (ação de atirar). 
 
 Vamos estudar a Extra-Atividade da Lei Penal: 
(É a movimentação da lei penal no tempo). 
 
RETROATIVIDADE 
EXTRA-ATIVIDADE Sempre em benefício do réu 
 ULTRA-ATIVIDADE 
 Retroatividade: 
Consiste na possibilidade de uma lei se aplicar a um fato passado, cometido antes de sua 
vigência. 
 Ultra-Atividade: 
Consiste na possibilidade de uma lei se aplicar a um fato cometido durante a sua vigência, 
mesmo após a sua revogação. 
 
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O artigo 5º, inciso XL, CF/88 dispõe que: 
“A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. 
 
O artigo 2º do Código Penal dispõe que: 
“Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, 
cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória”. 
 
O artigo 2º, parágrafo segundo, do Código Penal dispõe que: 
“A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos 
anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado”. 
 
A) NOVATIO LEGIS INCRIMINADORA: 
É a lei que cria uma nova figura penal. Vale ressaltar, que esta lei não poderá retroagir, 
em virtude do Princípio da Anterioridade. (Não há crime sem lei anterior que o defina, 
nem pena sem prévia cominação legal). 
 
NÃO RETROAGE! 
 
B) LEX GRAVIOR: 
É a lei que aumenta as sanções para um determinado crime. Podemos chamar, 
claramente, de lei penal mais gravosa. 
 
NÃO RETROAGE! 
 
C) ABOLITIO CRIMINIS: 
É a lei posterior que deixa de considerar crime uma determinada conduta. Sendo 
assim, ela é mais benéfica para o agente. De fato, é tão benéfica que chegou a abolir o 
crime. 
 
Ela não tem como voltar atrás para eliminar a conduta ou o crime. Sendo assim, ela 
possuia natureza jurídica de causa extintiva da punibilidade. Com isso, a pena não 
poderá mais ser executada: 
 
Se estava executando a pena privativa de liberdade: para de executar imediatamente 
Se ia começar a executar a pena privativa de liberdade: não executa 
 
Além de conduzir à extinção da punibilidade, a abolitio criminis faz cessar todos os 
efeitos penais da sentença condenatória, permanecendo, contudo, os seus efeitos civis. 
 
Tem-se entendido por “abolitio criminis temporalis” ou suspensão da tipicidade, a 
situação na qual a aplicação de um determinado tipo penal encontra-se 
temporariamente suspensa, não permitindo, por sua vez, a punição do agente que 
pratica o comportamento típico durante o prazo da suspensão. 
Exemplo: artigo 12 da Lei n.º 10.826/2003 c/c artigo 30 da Lei n.º 10.826/2003. 
 
RETROAGE! 
 
 
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D) NOVATIO LEGIS IN MELLIUS = LEX MITIOR: 
É a nova lei mais benéfica para o agente. Podemos citar a lei que diminui a pena para 
um determinado crime. 
 
Se esta lei entrar em vigor durante a execução, será aplicada pelo juiz da execução, na 
forma da Súmula 611 do STF (sempre que for necessário um mero cálculo 
matemático). Não precisará devolver o processo para a primeira ou para a segunda 
instância. 
 
RETROAGE! 
 
 OBSERVAÇÃO: Súmula 711 do STF (situação particular): 
 
Súmula 711 do STF (24/11/2003): “A lei penal mais grave aplica-se ao crime 
continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da 
continuidade ou da permanência”. 
 
De acordo com esta Súmula, a lei penal mais grave será aplicada aos crimes 
continuados ou crimes permanentes, se a mesma entrar em vigor, durante a 
continuidade ou permanência do crime. 
 
ESPÉCIE CONSEQUÊNCIA 
 
 
Crime Continuado 
(Artigo 71 do CP) 
Súmula 711 do STF 
A lei penal mais grave aplica-se ao crime 
continuado ou ao crime permanente, se a 
sua vigência é anterior à cessação da 
continuidade ou da permanência 
 
 
Crime Permanente 
(Exemplo: Artigo 159 do CP) 
Súmula 711 do STF 
A lei penal mais grave aplica-se ao crime 
continuado ou ao crime permanente, se a 
sua vigência é anterior à cessação da 
continuidade ou da permanência 
 
 
 OBSERVAÇÃO: Leis Excepcionais ou Temporárias (situação particular): 
 
As Leis Excepcionais ou Temporárias são ultra-ativas e auto-revogáveis. Sendo assim, 
as mesmas atingirão fatos praticados durante a sua vigência e deixarão de vigorar 
automaticamente, tão logo cesse a circunstância (leis excepcionais) ou passe o tempo 
(lei temporária). 
 
- LEI EXCEPCIONAL: Tem uma circunstância de duração 
São aquelas que têm a sua eficácia vinculada a um acontecimento do mundo fático 
Exemplo: guerras, calamidades,... 
 
- LEI TEMPORÁRIA: Tem um tempo de duração 
São aquelas que trazem em seu texto um tempo determinado de validade 
Exemplo: lei seca em tempo de eleição 
 
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ESPÉCIE CONSEQUÊNCIA 
 
 
Leis Excepcionais 
(Circunstância) 
Artigo 3º do Código Penal 
A lei excepcional ou temporária, embora 
decorrido o período de sua duração ou 
cessadas as circunstâncias que a 
determinaram, aplica-se ao fato praticado 
durante a sua vigência 
 
 
Leis Temporárias 
(Tempo) 
Artigo 3º do Código Penal 
A lei excepcional ou temporária, embora 
decorrido o período de sua duração ou 
cessadas as circunstâncias que a 
determinaram, aplica-se ao fato praticado 
durante a sua vigência 
 
Artigo 3º do Código Penal: “A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o 
período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao 
fato praticado durante a sua vigência”. 
 
Dessa forma, podemos concluir que as condutas praticadas durante a vigência da lei 
excepcional ou da lei temporária serão processadas e julgadas normalmente, ainda que 
depois de cessada a circunstância ou passado o tempo. 
 
Isto ocorre, uma vez que as leis excepcionais ou temporárias são: 
 Ultra-Ativas: 
 
Consiste na possibilidade de uma lei se aplicar a um fato cometido durante a sua 
vigência, mesmo após a sua revogação. 
 
 Auto-Revogáveis: 
 
A temporária se auto-revoga na data fixada em seu próprio texto. A excepcional, 
quando se encerra o período especial ou anormal. 
 
 E a competência para a aplicação da lei mais benéfica durante a execução? 
 
Se a aplicação importar em um cálculo meramente matemático, será do juízo de 
execuções (Súmula 611 do STF). Por outro lado, se for necessário adentrar no mérito 
da causa, terá que ser ouvido o Tribunal, através de Revisão Criminal. 
 
 E a dúvida acerca da lei mais benéfica? 
 
De acordo com a doutrina majoritária, se houver dúvida acerca da lei penal mais 
benéfica, deverá ser ouvido o réu, que é a melhor pessoa para decidir o que é mais 
vantajoso. 
 
 
 
 
 
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LEI PENAL NO ESPAÇO 
 
 A REGRA é a Territorialidade: 
(Artigo 5º do Código Penal) 
 
“Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito 
internacional, ao crime cometido no território nacional. 
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as 
embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo 
brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações 
brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no 
espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. 
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou 
embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no 
território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou 
mar territorial do Brasil. 
 Território Nacional (Artigo 5º, Caput, CP): 
É o território geográfico brasileiro: 
- Terra 
- Mar 
- Ar 
 Território por Extensão (Artigo 5º, Parágrafo Primeiro e Parágrafo Segundo, CP) 
- Embarcação Brasileira Pública em qualquer lugar 
- Embarcação Brasileira Privada no alto mar 
- Embarcação Estrangeira Privada no território geográfico nacional 
- Aeronave Brasileira Pública em qualquer lugar 
- Aeronave Brasileira Privada no espaço aéreo internacional 
- Aeronave Estrangeira Privada no território geográfico nacional 
 
 
 
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 A EXCEÇÃO é a Extraterritorialidade: 
(Artigo 7º do Código Penal) 
 
“Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: 
 
I - os crimes: 
 
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República. 
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de 
Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, 
autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público. 
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço. 
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil. 
II - os crimes: 
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir. 
b) praticados por brasileiro. 
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade 
privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. 
§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que 
absolvido ou condenado no estrangeiro. 
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das 
seguintes condições: 
a) entrar o agente no território nacional.b) ser o fato punível também no país em que foi praticado. 
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição. 
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena. 
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar 
extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. 
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra 
brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: 
a) não foi pedida ou foi negada a extradição. 
b) houve requisição do Ministro da Justiça. 
OBSERVAÇÃO: Cabe ressaltar, que: 
 
O inciso I – Incondicionado por força do paragrafo primeiro 
O inciso II – Condicionado por força do parágrafo segundo 
O Parágrafo Terceiro – Condicionado pelos parágrafos segundo e terceiro 
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CONCEITO DE CRIME 
 
 A doutrina discute muito sobre o conceito de crime: 
 
FORMAL 
 
CONCEITO DE CRIME MATERIAL 
 
 FORMAL-MATERIAL 
 
 
 ANALÍTICO 
 
 Conceito Formal (visão do legislador): 
Crime é toda conduta humana prevista em lei como crime. 
- Princípio da Legalidade. 
 
 Conceito Material (visão da sociedade): 
Crime é toda conduta humana causadora de lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico. 
- Princípio da Lesividade. 
- Princípio da Intervenção Mínima. 
 
 Conceito Formal-Material (fusão dos conceitos): 
Crime é toda conduta humana prevista em lei como crime 
+ 
Capaz de gerar lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico. 
- Princípio da Legalidade 
- Princípio da Lesividade 
- Princípio da Intervenção Mínima 
 
Vale ressaltar, que os conceitos MATERIAL, FORMAL e MATERIAL-FORMAL 
são maleáveis, mudando de acordo com o desenvolvimento da sociedade. 
 
Além disso, podemos perceber que todos estes conceitos possuem o defeito de 
não considerarem outros elementos da estrutura do crime, como a 
antijuridicidade. Sendo assim, podemos perceber que tais conceitos estão 
ultrapassados pela doutrina moderna. 
 
 Conceito Analítico (conceito da ciência do direito): 
Crime é todo fato típico + antijurídico + culpável. 
 
 TÍPICO 
 + 
CONCEITO ANALÍTICO DE CRIME FATO ANTIJURÍDICO 
 + 
 CULPÁVEL 
 
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 Cabe ressaltar, que o Brasil teve um conceito dissidente na década de 90, que retirou a 
culpabilidade dos elementos do crime. Para esta corrente, o crime seria um fato TÍPICO e 
ANTIJURÍDICO, o que significa que a culpabilidade seria mero pressuposto da pena. 
 
Esta corrente foi defendida por Dotti, Mirabette, Damásio e Capez. 
 
De toda sorte, o entendimento que se solidificou, foi no sentido de o crime ter que possuir 
todos os três elementos, para que possamos considerá-lo completo. 
 
 Muito embora o crime seja um todo indivisível, não sendo passível de divisão, o seu estudo 
demanda uma análise compartimentada, ocasião em que dividiremos o todo nos três 
elementos já citados (tipicidade + antijuridicidade + culpabilidade). 
 
Por este motivo, o conceito analítico do crime também recebe o nome de conceito 
estratificado do crime, tendo em vista que dividimos o estudo do crime em extratos, como 
se fosse uma rocha, cortada em camadas (conceito importado da geologia). 
 
TIPICIDADE 
 
 
 CONDUTA 
 
 RESULTADO 
TIPICIDADE 
 NEXO DE CAUSALIDADE 
 
 TIPICIDADE 
 
 CONDUTA) 
 
Conduta é todo comportamento humano, comissivo ou omissivo, voluntário e consciente, 
doloso ou culposo, dirigido a uma finalidade. 
 
 Comportamento Humano: 
- Para que possamos falar em crime, é necessário que estejamos diante de um 
comportamento humano, uma vez que somente as pessoas físicas podem praticar 
condutas. Dessa forma, só o homem tem consciência, age voluntariamente, tem o 
dolo, enfim: somente o homem pode praticar condutas. 
 
- E as Pessoas Jurídicas? Podemos dizer que elas praticam crimes? 
 
Tecnicamente, as pessoas jurídicas não praticam crime, uma vez que elas não têm 
vontade própria, representando a vontade de seus sócios, diretores, gestores, dentre 
outros profissionais 
 
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Contudo, é importante perceber que a Constituição Federal e a Lei de Crimes 
Ambientais trouxeram a possibilidade de prática de crimes, por parte de pessoas 
jurídicas. Vejamos os artigos abaixo: 
 
Artigo 225, parágrafo terceiro, CF/88: 
“As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os 
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, 
independentemente de reparar os danos causados”. 
 
Artigo 3º da Lei n.º 9.605/98: 
“As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente 
conforme o disposto nesta lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão 
de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou 
benefício da sua entidade”. 
 
- O STJ já decidiu que a responsabilidade penal da pessoa jurídica depende da 
descrição da conduta desta pessoa física (representante legal ou representante 
contratual ou representante do órgão colegiado), ainda que, pericialmente, reste 
comprovado que a referida empresa pratica alguma conduta criminosa (exemplo: jogar 
lixo no rio atrás da fábrica). 
 
A base legal está no artigo 41 do Código de Processo Penal, que dispõe: 
“A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas 
circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa 
identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol de testemunhas”. 
 
Nesse diapasão, o “fato criminoso” pressupõe a existência de um fato típico, que 
pressupõe a existência de uma conduta humana. Dessa forma, o STJ entende que a 
denúncia tem que demonstrar a vontade de responsabilizar a pessoa jurídica, bem 
como demonstrar a conduta humana, demonstrando este vínculo de interesse ou 
benefício com a pessoa jurídica. Caso contrário, será considerada inepta. 
 
Vale ressaltar, que a pessoa física não precisa ser denunciada! O que o STJ exige é que 
a conduta desta pessoa seja pormenorizada, para que se possa chegar à conduta da 
pessoa jurídica. 
 
 Comissivo ou Omissivo: 
- O tipo penal incriminador descreve a conduta através de um verbo. 
 
- Esse verbo pode ser uma ação ou uma omissão: 
 
 AÇÃO Crime Comissivo 
VERBO DO TIPO 
 OMISSÃO Crime Omissivo Próprio 
 
 
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- Os tipos penais mistos são aqueles que possuem verbos relacionados a uma ação e a 
uma omissão. Nesses casos, não teremos nenhum problema, uma vez que o crime será 
considerado comissivo (no tocante aos verbos de ação) e omissivo próprio (no tocante 
aos verbos de omissão). 
 
Exemplo: Artigo 299 do Código Penal (Falsidade Ideológica): 
“Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou 
nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o 
fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente 
relevante”. 
 
Exemplo: Artigo 330 do Código Penal (Desobediência): 
“Desobedecer a ordem legal de funcionário público”. 
 
Um único verbo e pode ser comissivo ou omissivo próprio! 
 
- Porém, o legislador percebeu que em algumas situações particulares, seria possível 
que o agentepraticasse uma omissão e com isso tivesse um crime comissivo. Sendo 
assim, o legislador foi obrigado a dar um tratamento diferenciado para estes crimes, 
fazendo com que tais condutas omissivas fossem tratadas como comissivas. 
 
São os crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão! 
 
Artigo 13, parágrafo segundo, do Código Penal: 
 
“A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o 
resultado. O dever de agir incumbe a quem: 
 
a) Tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; 
b) De outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; 
c) Com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.” 
Devemos interpretar este artigo, como o crime praticado pelo AGENTE 
GARANTIDOR, que é aquele agente que tem o dever de evitar o resultado. Sendo 
assim, quando ele se omite (omissão), é como se ele tivesse praticado uma conduta 
comissiva (ação). 
- Quem é que DEVE agir? 
a) Tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: 
 
É o caso do agente que tem, por lei, o dever legal de evitar o resultado indesejado. 
 
Exemplo: policial, bombeiro, pais em relação aos filhos menores... 
 
 
 
 
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b) De outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado: 
 
A doutrina mais antiga falava em contrato. Porém, o entendimento atual é no 
sentido de que não se precisa de um contrato e sim de qualquer ato (formal ou 
informal) tendente a criar a responsabilidade de evitar a superveniência do 
resultado. 
 
Exemplo: babá, pessoa que toma conta do meu filho na praia enquanto vou até o 
mar, pai do amigo do meu filho que se compromete a levar o meu filho e o amigo 
dele no parque de diversões,... 
 
c) Com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado: 
 
É o caso daquele que, com a sua conduta anterior, cria uma situação de risco para 
o bem jurídico. Caso isso aconteça, ele deverá fazer algo, para evitar que o 
resultado ocorra. Se nada for feito, ele será responsabilizado pelo resultado. 
 
A professora Sheila Bierrenbach dispõe que essa conduta anterior tem que ser 
ilícita, porém este entendimento é minoritário. Sendo assim, podemos considerar 
tal conduta como lícita ou ilícita. 
 
Exemplo: jogar alguém bêbado na piscina (se a pessoa começar a se afogar, tenho 
que pular na água e salvá-la, sob pena de responder por homicídio culposo). 
 
Exemplo: quebrei a janela da loja do meu patrão, porque fiquei com raiva, pelo 
fato de ele ter me demitido. Sendo assim, vou ficar escondido atrás da árvore, para 
que ele chegue de manhã e fiquei irritado, ao ver a vidraça quebrada (se surgirem 
meliantes e começarem a subtrair itens de dentro da loja, me transformei em 
agente garantidor e passo a ficar obrigado a impedir que o resultado ocorra, sob 
pena de responder por ele). 
 
Exemplo: O policial vê um meliante roubando uma determinada pessoa. Porém, 
este policial percebe que tal pessoa é o seu desafeto e decide não tomar nenhuma 
atitude, para que seu inimigo possa ser roubado (se o roubo ocorrer, o policial 
responderá pelo crime de roubo, na qualidade de agente garantidor). 
 
Exemplo: chamar uma pessoa, que eu sei que nada muito mal, para atravessar 
comigo a nado a baía de Guanabara (se a pessoa começar a se afogar, tenho que 
salvá-la, sob pena de responder por homicídio culposo). Note, que neste último 
exemplo, eu não posso ter dito que “se algo der errado eu te ajudo”, porque se tal 
conduta fosse efetuada, não estaríamos na alínea “c” (ingerência) e sim na alínea 
“b” (assunção voluntária da obrigação). 
- Quem é que PODE agir? 
Poder agir é a possibilidade real de fazer algo, para impedir que o resultado ocorra. 
Lembrem do exemplo de sala de aula... “Eu não tenho vida de vídeo-game”. 
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- Devemos atentar para o fato de que se o agente DEVE e PODE agir, porém nada 
faz, temos o crime comissivo por omissão. Daí, o agente garantidor responderá pelo 
resultado, a título de dolo ou de culpa: 
Se o crime foi CULPOSO, ele responderá por CULPA! 
Se o crime for DOLOSO, ele responderá por DOLO! 
- Posso ter um crime omissivo próprio praticado por comissão? 
 
Vamos recapitular: 
 
Tenho o crime COMISSIVO: 
- Praticado por ação 
 
Tenho o crime OMISSIVO PRÓPRIO: 
- Praticado por omissão 
 
Tenho o crime OMISSIVO IMPRÓPRIO OU COMISSIVO POR OMISSÃO: 
- Agente Garantidor 
 
Posso ter o crime OMISSIVO PRÓPRIO POR COMISSÃO? 
 
Sim! São as hipóteses de AUTORIA MEDIATA! Vamos estudar mais a frente! 
 
 Voluntário e Consciente: 
A conduta precisa ser voluntária e consciente, o que significa que deve ser praticada de 
forma dolosa ou culposa. A exceção (que excluirá a conduta) será analisada nas 
assertivas abaixo: 
 
A) CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR: 
 
Força natural 
 
B) ESTADOS DE INCONSCIÊNCIA: 
 
I) HIPNOSE: 
 
Existe um entendimento super minoritário, que só vale a pena ser falado 
para quem está fazendo concurso para a magistratura (não sei se alguém 
aqui está nessa preparação). 
 
É o entendimento de Sheila Bierrenbach e Klaus Roxin, que utilizaram 
alguns conceitos da psiquiatria alemã e concluíram que a hipnose não é 
capaz de afastar a consciência, pela seguinte explicação: 
 
 
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Durante a hipnose, a pessoa mantém uma “reserva de consciência”, 
também chamada de “barreira de caráter”, que impede o agente, embora 
hipnotizado, de fazer aquilo que ele não faria se não estivesse hipnotizado. 
Sendo assim, tal hipótese não excluiria a consciência. Mas não temos 
quaisquer precedentes por enquanto no Brasil. Nem a doutrina caminhou 
nesse sentido ainda. 
 
II) SONAMBULISMO: 
 
C) MOVIMENTOS INVOLUNTÁRIOS: 
 
I) ATO REFLEXO: 
 
É o movimento involuntário realizado pelo corpo humano, em 
decorrência de um impulso nervoso. Exemplo: martelo do médico no 
joelho. 
 
ATENÇÃO: não podemos confundir o ato reflexo com o automatismo e 
com o curto-circuito, tendo em vista que estes últimos são controlados 
voluntariamente, não tendo o condão de excluir a conduta: 
 
- O automatismo são os movimentos corporais que fazemos naturalmente. 
 
Exemplo: andar, gesticular enquanto falamos, dirigir,... 
- O curto-circuito são as reações que fazemos dentro da nossa cabeça, de 
maneira muito rápida. 
 
Exemplo: o ciclista joga a bicicleta para cima de mim e eu jogo o carro no 
sentido oposto, para evitar de atropelá-lo. 
 
II) COAÇAO FÍSICA IRRESISTÍVEL: 
 
Exclui o controle do agente sobre o movimento corporal praticado por 
ele. Podemos citar o exemplo do agente que me empurra na direção de 
uma terceira pessoa, com a finalidade de utilizar a minha massa corpórea 
para lesionar este terceiro. 
 
Não podemos confundir a coação física irresistível com a coação moral 
irresistível, que será estudada mais a frente, em sede de culpabilidade e é 
causa de inexigibilidade de conduta diversa. 
 
A análise não deve recair sobre a atuação efetiva da coação (fisicamente ou 
moralmente). O que precisamos questionar é o seguinte: 
 
O agente controlava a ação do próprio corpo? 
 
NÃO! Coação Física... 
SIM! Coação Moral... 
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Além disso, a coação terá que ser irresistível, sob pena de gerar a 
responsabilização do agente, muito embora a lei preveja uma atenuante 
genérica do artigo 65, III, “C” do Código Penal. 
 
- Caso a condutanão seja excluída da forma acima, vamos dar início ao estudo do dolo 
e da culpa! 
 
 Doloso ou Culposo (dirigido a uma finalidade): 
 
O Finalismo de Welzel tirou o dolo e a culpa da culpabilidade, onde estes elementos 
eram estudados anteriormente, trazendo-os para a tipicidade, mais especificamente no 
estudo da conduta. 
 
Vejamos o artigo 18 do Código Penal: 
 
“Diz-se o crime: 
 
I – doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. 
 
II – culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou 
imperícia. 
 
Parágrafo Único: Salvo os casos expressos em lei, ninguém poderá ser punido por fato 
previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente”. 
 1º GRAU 
 
 DIRETO 
 
 2º GRAU 
 
Artigo 18, I, CP: DOLO 
 
 ALTERNATIVO 
 
 INDIRETO 
 
 EVENTUAL 
 
“(...) quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo”. 
 
QUIS O RESULTADO Teoria da Vontade Dolo Direto 
 
ASSUMIU O RISCO DE PRODUZI-LO 
 
Teoria do Assentimento 
Teoria do Consentimento 
Assunção do Resultado 
 
Dolo Eventual 
 
 
 
 
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- DOLO: 
Vontade livre e consciente dirigida a realizar ou a aceitar realizar a conduta prevista no 
tipo penal incriminador. O dolo não é a vontade de praticar um crime e sim a vontade 
de realizar uma conduta. 
 
- DOLO DIRETO: 
Vontade livre e consciente dirigida a realizar a conduta prevista no tipo penal 
incriminador. 
 
- 1º GRAU: 
Vontade de realizar o objetivo principal daquela conduta. 
 
Exemplo: Eu quero matar fulano e dou um tiro nele. 
 
- 2º GRAU: 
Vontade de realizar qualquer outro resultado necessário para alcançar o objetivo 
principal. A doutrina fala que são as consequências necessárias do crime. 
 
Exemplo: Eu quero matar fulano e ele está entrando no avião. Eu coloco uma bomba 
no avião e consigo matar ele. Porém, a bomba no avião vai gerar outras consequências 
necessárias para esse crime, que é a morte de todos os outros passageiros. Note, que eu 
queria a morte de fulano (dolo direto de 1º grau). Contudo, eu já sabia que a bomba no 
avião também geraria a morte de todas as outras pessoas que estavam no mesmo 
ambiente que ele (dolo direto de 2º grau). 
 
O Dolo Direto de 2º Grau se diferencia do Dolo Eventual, pelo fato de que no dolo 
direto de 2º grau os resultados são CERTOS. Por sua vez, no dolo eventual, os 
resultados possíveis e assumidos pelo agente NÃO SÃO CERTOS. 
 
- DOLO INDIRETO: 
Pode ser alternativo ou eventual. 
 
- DOLO ALTERNATIVO: 
O agente prevê uma pluralidade de resultados possíveis para a conduta que vai praticar 
e a dirige à realização de qualquer um destes resultados. Para o agente, qualquer 
resultado possível é válido, sendo indiferente para ele. 
 
Exemplo: o agente bate muito na vítima e tanto faz se vai matá-la ou gerar lesões 
corporais. É o dolo objetivamente alternativo. 
 
A doutrina moderna afirma que o dolo alternativo também pode ocorrer sob o aspecto 
subjetivo, na ocasião em que o agente prevê uma pluralidade de vítimas e dirige a 
conduta a atingir qualquer uma delas. Nesse caso, estaríamos diante do dolo 
subjetivamente alternativo. 
 
 
 
 
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 DOLO OBJETIVAMENTE ALTERNATIVO 
 (Doutrina Clássica) 
 A escolha é sobre o crime 
DOLO ALTERNATIVO 
 
 DOLO SUBJETIVAMENTE ALTERNATIVO 
 (Doutrina Moderna) 
 A escolha é sobre a vítima 
 
 
O agente prevê uma pluralidade de resultados possíveis para a sua conduta. 
O agente dirige a sua ação ou omissão para a realização de qualquer uma delas. 
 
DOLO ALTERNATIVO ≠ DOLO CUMULATIVO 
 
No dolo alternativo, o agente prevê vários resultados e quer qualquer um deles. 
 
No dolo cumulativo, o agente prevê vários resultados e quer todos eles. 
 
- DOLO EVENTUAL: 
O agente prevê uma pluralidade de resultados, dirigindo a sua conduta à realização de 
um dele, mas aceitando a realização de um outro resultado por ele não desejado. 
 
Temos um binômio essencial: 
 
1º Elemento Necessário: Previsão efetiva de que o outro resultado pode ocorrer 
 
2º Elemento Necessário: Aceitar ou se conformar com a realização deste resultado 
 (Teoria do Assentimento ou Consentimento) 
 
DOLO ALTERNATIVO ≠ DOLO EVENTUAL 
 
No dolo alternativo, o agente prevê vários resultados e quer qualquer um deles. 
 
No dolo eventual, o agente prevê vários resultados e quer apenas um deles. 
Porém, ele aceita ou se conforma com o risco de superveniência do outro resultado. 
 
- Apenas a título de doutrina, podemos discorrer acerca de outros tipos de dolo: 
 
DOLO DE ÍMPETO ≠ DOLO DE PROPÓSITO ≠ DOLO GERAL 
 
Dolo de Ímpeto: 
É aquele que surge no momento da realização da conduta, o que significa que não foi 
planejado ou refletido pelo agente. O íter criminis é reduzido, tendo em vista que o 
agente já parte da fase da execução, não existindo cogitação ou atos preparatórios. 
 
Dolo de Propósito: 
É o dolo refletido ou pensado pelo agente. É premeditado. 
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Dolo Geral: 
Ocorre quando o agente supõe já ter realizado dolosamente o seu objetivo, porém 
pratica uma nova conduta sem dolo e, somente naquele momento, consegue 
concretizar a sua finalidade. 
 
O agente está agindo em erro (aberratio causae), pois na sua cabeça, o resultado já foi 
atingido com a sua conduta anterior. 
 
A doutrina dispõe que o dolo da primeira conduta vai se estender para a segunda 
conduta, para que ele possa responder integralmente pelo resultado. 
 
Exemplo: o agente tem o dolo de matar a vítima e dá um tiro nela. Achando que ela 
morreu, ele decide jogá-la no rio, para esconder o corpo. Porém, a vítima ainda estava 
viva (sem que ele soubesse) e acabou morrendo de afogamento. Nesse caso, para que o 
agente não responda por um homicídio doloso tentado e um homicídio culposo, a 
doutrina utiliza o dolo geral, para que o agente responda, apenas, por um homicídio 
doloso consumado. 
 
 INCONSCIENTE – Não prevê o previsível 
 
Artigo 18, II, CP: CULPA 
 
 CONSCIENTE – Prevê o previsível 
 
“(...) o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia”. 
 
A Culpa consiste em uma conduta voluntária, que realiza um fato típico não querido 
pelo agente, mas que foi por ele previsto (culpa consciente) ou que não foi previsto 
mas era previsível (culpa inconsciente), caso o mesmo tivesse adotado os deveres 
objetivos de cuidado. Este conceito foi retirado do artigo 33 do Código Penal Militar. 
 
O crime culposo consiste, tradicionalmente, na inobservância de um dever objetivo de 
cuidado, em situações nas quais o resultado era previsível. Sendo assim, teremos os 
seguintes elementos: 
 
 IMPRUDÊNCIA 
 
NEGLIGÊNCIA Precisa de apenas um destes elementos 
 
IMPERÍCIA 
 
CULPA + 
 
 RESULTADO NATURALÍSTICO (Regra) 
 
 + 
 
 PREVISIBILIDADE OBJETIVA 
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- A lei exige a inobservância de um dever objetivo de cuidado, que pode ocorrer 
através da imprudência, da negligência ou da imperícia. 
 
Imprudência: 
Está relacionada a uma ação! 
Exemplo: correr com o carro. 
 
Negligência: 
Está relacionada a uma omissão! 
Exemplo: não trocar a pastilhade freio do carro. 
 
Imperícia: 
Está relacionada a um caráter técnico! 
Exemplo: inobservância de deveres técnicos no desenvolvimento de uma arte, um 
ofício, uma profissão. Esse crime só poderá ser praticado por aquele profissional, que 
tem o dever de dominar aquelas técnicas. 
 
- A nossa doutrina vai afirmar que o crime culposo tem que ser material, o que significa 
que precisamos da superveniência de um resultado, para que seja atingida a 
consumação. Nesse sentido, se a conduta imprudente, negligente ou imperita não gerar 
resultado naturalístico, não teremos condições de imputar a conduta culposa ao agente, 
pelo fato de a mesma não ter gerado lesão a um bem jurídico. 
 
Tem que ocorrer aquilo que Zaffaroni e Pierangeli chamam de “componente de azar”, 
que é justamente a ocorrência do resultado. 
 
Porém, há algumas exceções em que o crime culposo se consuma, mesmo sem a 
ocorrência de um resultado naturalístico: 
 
Exceção I: Artigo 13 da Lei n.º 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento): 
 
“Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de 18 (dezoito) 
anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja 
sob sua posse ou que seja de sua propriedade”. 
 
Exceção II: Artigo 38 da Lei n.º 11.343/2006 (Lei Anti-Drogas): 
 
“Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas necessite o paciente, ou 
fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou 
regulamentar”. 
 
- A doutrina também afirma que é necessária a previsibilidade objetiva, para que 
possamos falar em crime culposo. Ora, o que seria isso? A previsibilidade objetiva é a 
capacidade do homem médio de prever aquele resultado. 
 
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O homem médio é o homem de discernimento comum, que possui um padrão 
mediano de cuidado e atenção, sendo considerado o homem teoricamente comum da 
sociedade, que observa os deveres objetivos de cuidado na sua vida. 
 
Nesse sentido, para que o crime possa ser punido a título de culpa, é necessário que o 
agente tenha condições de prever que aquele resultado pode acontecer. 
 
Exemplo: eu estou treinando tiro ao alvo em uma ilha completamente deserta, sem 
nenhuma embarcação em volta e totalmente solitário. Porém, de repente, acerto um 
tiro na cabeça de um mergulhador, que se levanta na frente do meu alvo. 
 
Por mais absurdo que este exemplo vem a ser, ele demonstra a questão da 
previsibilidade objetiva. Seria possível, para mim, prever que surgiria um mergulhador 
em uma ilha deserta? A resposta só pode ser negativa! Sendo assim, não havia 
previsibilidade objetiva na minha conduta e a mesma deveria ser considerada atípica, já 
que eu não agi com imprudência, negligência ou imperícia. 
 
Note, que o agente não precisa prever o resultado! Ele precisa, apenas, ter a 
possibilidade de prever a ocorrência do resultado, para que possamos ter a culpa 
inconsciente (o agente não previu o resultado previsível). 
 
Resumidamente, podemos dizer que se o resultado era imprevisível, ele não poderia ser 
atribuído ao agente, nem a título de culpa, sendo o fato atípico. 
 
ATENÇÃO: A doutrina minoritária e garantista dispõe que a previsibilidade a ser 
estudada é a subjetiva, que não diz respeito ao homem médio e sim ao próprio agente. 
Aquele agente, naquelas circunstâncias, tinha condições de prever aquele resultado? 
Porém, esta corrente é minoritária, o que significa que a doutrina tradicional, clássica e 
majoritária, exige, apenas, a previsibilidade objetiva. 
 
ATENÇÃO: Não há participação em crime culposo! Vamos estudar isto mais a frente, 
quando analisarmos o concurso de agente. Por enquanto, o importante é sabermos, 
que o crime culposo só admite co-autoria e jamais a participação. Isto ocorre, uma vez 
que a conduta do agente tem que dar causa ao resultado e a conduta do partícipe não 
dá causa ao resultado. 
 
CULPA INCONSCIENTE ≠ CULPA CONSCIENTE 
 
CULPA INCONSCIENTE CULPA CONSCIENTE 
Não houve a previsão 
(daquele resultado previsível) 
Houve a previsão 
(daquele resultado previsível) 
 
 
 
 
 
 
 
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CULPA CONSCIENTE ≠ DOLO EVENTUAL 
 
CULPA CONSCIENTE DOLO EVENTUAL 
O agente prevê o resultado O agente prevê o resultado 
O agente não quer o resultado O agente não quer o resultado 
O agente acredita sinceramente e 
levianamente que resultado não vai 
acontecer 
O agente pouco se importa com a 
ocorrência do resultado, aceitando ou se 
conformando com o mesmo 
“Relaxa! Não vai acontecer nada!” “Que se dane... To nem aí” 
 
STF: O crime do artigo 308 da Lei n.º 9.503/97 (RACHA) é DOLO EVENTUAL de 
acordo com o entendimento majoritário do STF! 
 
STF: O crime do artigo 302 da Lei n.º 9.503/97 (HOMICÍDIO CULPOSO) estava 
bastante dividido na jurisprudência, nas hipóteses em que o agente estava 
EMBRIAGADO. 
 
Sendo assim, parte das decisões dizia que o agente agiu em DOLO EVENTUAL, o 
que levava o homicídio para o Tribunal do Júri (homicídio doloso). 
 
Por outro lado, parte das decisões dizia que houve CULPA CONSCIENTE, o 
que levava o homicídio para a vara criminal (homicídio culposo). 
 
Porém, tivemos uma decisão na semana passada (06/09/2011), ocasião em que a 
Primeira Turma desclassificou o crime de homicídio doloso para homicídio culposo, 
no caso de embriaguez (HC 107801): 
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu, na tarde de hoje (6), 
Habeas Corpus (HC 107801) a L.M.A., motorista que ao dirigir em estado de 
embriaguez, teria causado a morte de vítima em acidente de trânsito. A decisão da 
Turma desclassificou a conduta imputada ao acusado de homicídio doloso (com 
intenção de matar) para homicídio culposo (sem intenção de matar) na direção de 
veiculo, por entender que a responsabilização a título doloso pressupõe que a pessoa 
tenha se embriagado com o intuito de praticar o crime. 
O julgamento do HC, de relatoria da ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha, foi 
retomado hoje com o voto-vista do ministro Luiz Fux que, divergindo da relatora, foi 
acompanhado pelos demais ministros, no sentido de conceder a ordem. A Turma 
determinou a remessa dos autos à Vara Criminal da Comarca de Guariba (SP), uma vez 
que, devido à classificação original do crime [homicídio doloso], L.M.A havia sido 
pronunciado para julgamento pelo Tribunal do Júri daquela localidade. 
A defesa alegava ser inequívoco que o homicídio perpetrado na direção de veículo 
automotor, em decorrência unicamente da embriaguez, configura crime culposo. Para 
os advogados, o fato de o condutor estar sob o efeito de álcool ou de substância 
análoga não autoriza o reconhecimento do dolo, nem mesmo o eventual, mas, na 
verdade, a responsabilização deste se dará a título de culpa. 
Sustentava ainda a defesa que o acusado não anuiu com o risco de ocorrência do 
resultado morte e nem o aceitou, não havendo que se falar em dolo eventual, mas, em 
última análise, imprudência ao conduzir seu veículo em suposto estado de embriaguez, 
agindo, assim, com culpa consciente. 
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Ao expor seu voto-vista, o ministro Fux afirmou que o homicídio na forma culposa na 
direção de veículo automotor prevalece se a capitulação atribuída ao fato como 
homicídio doloso decorre de mera presunção perante a embriaguez alcoólica eventual. 
Conforme o entendimento do ministro, a embriaguez que conduz à responsabilização 
a título doloso refere-se àquela em que a pessoa tem como objetivo se encorajar e 
praticar o ilícito ou assumir o risco de produzi-lo. 
O ministro

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