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Contribuição ao Estudo da Planície Litorânea do PR

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65
Brazilian Archives of Biology and Technology
Jubilee Volume (1946-2001) : pp. 65 - 110, December, 2001
ISSN 1516-8913 Printed in Brazil BRAZILIAN ARCHIVES OF
BIOLOGY AND TECHNOLOGY
A N I N T E R N A T I O N A L J O U R N A L
Contribuição ao Estudo da Planície Litorânea do Estado do
ParanáÃÃ
João José Bigarella
Instituto de Biologia e Pesquisas Tecnológicas
ABSTRACT
The present paper contains an approach to systematize the study of the State of Paraná coastal plains, in the
southern part of Brazil. It contains in general some geographical and geological data, documented by maps,
sketches and photographs. In the initial stage the coastal plain represents a marine ingression, caused by faulting.
This ingression penetrated the valleys of a not yet determinated geological landscape. Ended the movement of
deeping by faulting begins the epirogenic ascension and building of the barriers and beach ridges. An intensive
sedimentation caused the lagoons and bays obstruction. This work refers mainly to t33
he sedimentary formations and the coastal plains is classified in the following way for the study in consideration to
the morphology and origin: Marine sedimentation – shore, barrier and beach ridge; Intermediary sedimentation –
mangrove swamps, mud and sand banks and mangrovito; Continental sedimentation – dunes and terrestrial
alluvion. There are also presented some data about the rocky coast and vegetation.
Key Words: Costal plains; State of Paraná; Marine sedimentation; mangrove swamps; mangrovito; Continental
sedimentation; Eolic dunes
 
à Artigo publicado no Arquivos de Biologia e Tecnologia, v. 1, pp. 75-111, 1946.
1 Carta ao Dr. Loureiro Fernandes, julho de 1942. Arquivada no Museu Paranaense.
I. GENERALIDADES
O litoral paranaense apresenta, no seu estágio
inicial, uma ingressão marinha que penetrou
profundamente nos vales de uma paisagem de
época geológica ainda não bem determinada.
BACKHEUSER (1918, p. 3-4) refere-se a
movimentos de submersão “ocorrido
provavelmente até o decorrer do terciário”,
submersão esta que deu origem à Serra do Mar,
com o seu aspecto característico.
Na opinião de Maack1, durante o terciário, talvez
ainda no cretáceo, em conseqüência do tectonismo
dos Andes, produziu-se um desequilibro
continental que ocasionou grandes linhas de falha,
originando na parte oriental do continente a
elevação de blocos limitados regionalmente e
afundamento de uma faixa continental. Em
conseqüência desse afundamento, efetuou-se nos
vales de uma paisagem cretácica-terciária uma
ingressão marinha, que formou a maioria das baias
brasileiras; no Estado do Paraná as baias de
Paranaguá e Guaratuba. Uma vez terminado o
afundamento e os movimentos tectônicos, iniciou-
se novamente durante o quaternário, a ascensão
epirogênica dessa faixa, que continua nos nossos
dias (MAACK, 1946, p. 246).
Após o afundamento de parte do bloco continental,
originando a Serra do Mar, o litoral apresentava-se
como uma costa rica em enseadas, pontais e ilhas.
Bigarella, J. J.
Brazilian Archives of Biology and Technology
66
Essa costa, durante o quaternário, situar-se-ia
aproximadamente na linha de contato do complexo
cristalino com a planície litorânea quaternária
(fig. 1).
Após terminado o afundamento, iniciou-se a
retificação da linha da costa através de uma
sedimentação intensa. Formaram-se cordões
litorâneos, que cresceram em direção ao mar,
sobre a plataforma continental, na forma de
restingas (beach ridge). A formação dos cordões
litorâneos implicou no aparecimento de lagoas,
lagunas e baias. As primeiras desapareceram em
conseqüência de intensivo entulhamento.
Atualmente, o litoral do Estado do Paraná não
apresenta lagoas ou lagunas típicas.
O litoral paranaense desenvolve-se entre a vila de
Ararapira e a barra do rio Saí-Guaçú. Vila de
Ararapira: Lat. = 25º12’44”; L = 48º01’15” W.
Grw. Barra do rio Saí-Guaçú: Lat. = 25º58’38”; L
= 48º35’26” W. Grw.2
A planície litorânea é uma planície com cerca de
10 a 20 km de largura, e atinge o máximo de 50
km na baia de Paranaguá. É constituída de
formações arenosas, paludais terrestres,
manguezais (paludais marinhos) e nas
proximidades do complexo cristalino por terrenos
de aluviões terrestres. A altitude em sua maior
extensão varia de zero a 10 m sobre o nível do
mar. Nos pontos mais interiores atinge 20 m de
altitude. É bordada a este pelo oceano e ao oeste
pelo limite montanhoso do complexo cristalino,
constituído pela Serra do Mar e suas ramificações
(fig. 1).
Na planície, observam-se ilhas de complexo
cristalino (shantungs) que representam antigos
pontos de apoio para a sedimentação e bordados
atualmente por larga planície.
A retificação da linha de costa levou a formação
das baias de Paranaguá e Guaratuba, baias típicas
de ingressão marinha, que dividem a planície
litorânea em três partes, compreendidas: a este,
pelas praias do Superaguí, de Leste e do Sul (praia
Grande do Saí). A baia de Paranaguá estende-se
por cerca de 46 km terra a dentro, com largura
máxima de 10 km. Compreende diversos setores
com denominações próprias: Antonina, Laranjeiras
e Pinheiros. Nela se situam os portos principais do
Estado: Paranaguá e Antonina. A baia de
Guaratuba estende-se por 15 km terra a dentro e
possui a largura máxima de 5 km. Ambas as baias
 
2 Extraído do Mapa do Município de Paranaguá, organizado pelo
Departamento de Terras e Colonização do Estado do Paraná.
apresentam numerosas ilhas e extensos
manguezais. O entulhamento dessas baias
processa-se de maneira intensa tendendo para
colmatação completa das mesmas.
Os rios que cortam o litoral têm as nascentes na
parte montanhosa do complexo cristalino, ou nas
baixadas pantanosas. O curso superior,
encachoeirado, situa-se sobre o complexo
cristalino, e sua direção está subordinada à
estrutura geológica. As suas águas são límpidas,
em contraste com as do curso inferior.
Os riachos menores correm, por entre blocos e
matacões, e abaixo dos detritos que enchem os
vales3.
Os rios ao atingirem a planície tornam-se
meandrantes, com aspecto de senilidade. Através
das regiões pantanosas, sua água é escura, em
conseqüência da presença de matéria orgânica e
 
3 A análise química da água de um desses riachos, que abastece a vila
balneária de Matinhos, realizada por R. Spitzner e J. Ravaglio, nos
laboratórios do Instituto de Biologia e Pesquisas Tecnológicas de
Curitiba, revelou o seguinte resultado:
Aspecto ............................................................. límpida-incolor
Aspecto após fervura ........................................ límpida-incolor
Cheiro ............................................................... nenhum
Sabor ................................................................. agradável
Sólidos em suspensão ....................................... nenhum
pH ...................................................................................... 6,55
Densidade a 15º C ............................................................. 1.0036
Resíduo de evaporação a 100º C ....................................... 0,0520 g
%
Resíduo volátil .................................................................. 0,0184 g
%
Resíduo fixo ao rubro sombrio .......................................... 0,0336 g
%
Matéria orgânica em meio ácido ....................................... 0,0013 g
%
Oxigênio consumido em meio alcalino ............................. 0,0012 g
%
Nitrogênio amoniacal em NH3 .......................................... nenhum
Nitrogênio albuminoide em NH3 ....................................... nenhum
Nitrato em NO3 .................................................................. indícios
Nitritos em NO2 ................................................................. nenhum
Sílica – SiO2 ...................................................................... 0,0167 g
%
Óxidos de ferro e alumínio – Fe2O3 + Al2O 3 .................... 0,0017 g
%
Óxidode cálcio – CaO ...................................................... 0,0018 g
%
Óxido de magnésio – MgO ............................................... 0,0007 g
%
Potássio - K ....................................................................... indícios
Sódio - Na ........................................................................ 0,0068 g %
Cloro -Cl ......................................................................... 0,0068 g %
Gás sulfídrico - H3S ......................................................... nenhum
Sulfatos – SO4 .................................................................. 0,0023 g
%
Gás carbônico livre – CO2 ................................................ 0,0025 g
%
Bicarbonatos - HCO3 ........................................................ 0,0183 g
%
Carbonatos – CO3 ............................................................. nenhum
Dureza total em graus franceses ........................................ 1,1º
Contribuição ao estudo da planície litorânea
Brazilian Archives of Biology and Technology
67
tem sua velocidade muito reduzida. Os rios na
planície sofrem comumente a influência das marés
muitas vezes até algumas dezenas de quilômetros
acima da foz.
A planície litorânea é constituída de sedimentos de
origem marinha, intermediária e terrígena,
depositados diretamente sobre o embasamento
cristalino; morfologicamente a classificamos da
seguinte maneira:
Sedimentação marinha – Praias
Restingas
Sedimentação intermediária – Manguezais
Bancos de lodo e
areia (recentes e
antigos)
Mangrovitos
Sedimentação terrígena – Aluviões terrestres
Dunas eólicas.
Antes de iniciarmos o estudo das formações
sedimentares, apresentaremos algumas
observações sobre os pontos rochosos do litoral
paranaense.
II. PONTOS ROCHOSOS DO LITORAL
PARANAENSE
A ação constante das vagas sobre as costas
rochosas tem um efeito mecânico considerável,
efeito esse que muito bem podemos observar no
litoral paranaense, onde, além de causar a
destruição das rochas, abrindo falésias, cliffs e
grutas de vagas nos paredões rochosos, produz o
aplainamento das superfícies rochosas com a
formação de terraços ou planos de abrasão. Os
cliffs são abertos por uma gradual erosão e
apresentam um nível de base onde se inicia o
ataque e onde se produz o aplainamento (LAHEE,
1941).
Se a região sofre um levantamento ou ocorre um
abaixamento do nível no mar, a superfície em
aplainamento (terraço) é abandonada abrindo-se
novo cliff mais abaixo com a formação de novo
terraço e assim sucessivamente. Os terraços
representariam períodos de estacionamento do
movimento relativo do continente e oceano. Estas
formas escalonadas, que se observam no litoral do
Brasil Meridional são conseqüentes dos
movimentos epirogênicos, considerados por certos
autores como movimentos isostáticos e por outros
como movimentos eustáticos. Não sendo da alçada
desta contribuição, não trataremos de tal assunto,
reservando-nos somente a apresentação dos fatos.
Os afloramentos rochosos diretamente na costa
paranaense são poucos, constituindo ilhas de
complexo cristalino, bordados de um lado pela
planície sedimentar e do outro pelo mar. A Serra
da Prata mergulha no oceano entre Caiobá e
Guaratuba (fig. 2 e 27). No oceano se observam
ilhas rochosas que são os picos mais elevados de
uma região submergida. Entre elas destacamos as
ilhas dos Currais e Itacolumi. A face marinha dos
afloramentos rochosos apresenta falésias e cliffs,
assim como terraços marinhos, demarcando certos
níveis de abrasão. Notamos em certos pontos a
presença de grutas de vagas e marcas de marés
(fig. 28).
Nos diversos pontos do litoral por nós examinados
encontramos alguns níveis de erosão
característicos; assim verificamos a presença de
terraços em altitudes compreendidas entre 3 m , 7
m e 10 m e muito característico entre 25 m e 32 m
(fig. 29 e 30).
Em excursão realizada a Itanhaen no litoral
paulista com o prof. Dr. K. E. Caster e os
assistentes do Departamento de Geologia da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da
Universidade de São Paulo, Drs. J. C. Mendes e R.
O. de Freitas, verificamos a presença de terraços
no litoral situados a 7 m e a cerca de 30 m sobre o
nível do mar.
Os afloramentos do complexo cristalino,
constituídos de gnaises, gnais-granitos e granitos,
são cortados por diques de diabásio de direção
NW-SE (N 320º E magn.), (fig. 31). Característica
é na zona litorânea, a presença de morros com a
forma de pão de açúcar. Segundo FREYBERG
(1930), os cones rochosos limitados por faces
planas, quase que verticais (pães de açúcar), são
originados pela decomposição e se aprofunda
rapidamente. Tal fenômeno se produz,
principalmente, em região de clima tropical, onde
a decomposição das massas graníticas não pode
acompanhar a dos pegmatitos e fendas. O material
decomposto é removido rapidamente, isolando
massas, que posteriormente são arredondadas por
decomposição lenta e sucessiva e tomam forma
tronco-cônica. As faces expostas diretamente à
insolação sofrem descamação.
Verificamos na Serra da Prata e em morros
isolados a presença de blocos e matacões,
desagregados principalmente pela ação contínua
do mar, que deixaram mais para o interior
vestígios de antigas falésias (fig. 3). A variação da
Bigarella, J. J.
Brazilian Archives of Biology and Technology
68
temperatura teve a sua influência sobre os
matacões semi-mergulhados, produzindo-lhes
dilatações e contrações irregulares, originando
rompimento de núcleos (Kernsprünge), (fig. 32),
conforme se verificou em diferentes alturas, sobre
o nível do mar.
A erosão diferencial, decompondo mais
rapidamente os diques de diabásios, produz vales
reentrantes na topografia do complexo cristalino.
As lavagens e os respingos salgados contribuem na
erosão diferencial das rochas, para a formação de
sulcos, buracos e outras escavações de diferentes
tamanhos e característica para cada tipo de rocha
(fig. 33).
Nas costas rochosas verificamos a presença de
pequenas cavidades arredondadas de diâmetros
vários e situadas abaixo e acima do nível do mar
(fig. 34). Na literatura geológica essas cavidades
são consideradas como produzidas por escavações
de ouriço do mar. RIOJA LO BIANCO, citado por
CABRERA (19--, p. 401 e seg.), descreve os
ouriços como animais que se alimentam de algas,
que atapetam as rochas. Afirma que algumas
espécies, como o ouriço comum, são sedentárias, e
voltam, sem engano, ao lugar onde vivem, após
deslocamentos em busca de alimentos. O hábito de
viver sempre no mesmo lugar se acentua nos
animais que povoam costas rochosas. Nelas, por
mais duras que sejam, escavam cavidades, nas
quais se alojam e de onde é difícil desalojá-los. O
mar, por mais açoito que seja, não lhes produz o
menor dano, sendo indispensável mesmo à vida
destes animais. O testemunho de muitos
observadores parece atribuir a ação de escavar
principalmente a um atritar contínuo dos espinhos
e dentes sobre a rocha desde a juventude do
ouriço, conseguindo, primeiramente, uma cavidade
na qual se aloja e que mais tarde vai aumentado
conforme requeira o crescimento. Os ouriços,
assim protegidos não se encontram isolados, mas
em agrupamentos numerosos, às vezes de centenas
de animais.
Este autor considera tais escavações como
produzidas por ouriços do mar, argumentando a
sua afirmação. Assim, as diferentes altitudes das
cavidades já abandonadas sobre o nível do mar
indicariam uma maior altura primitiva das águas
do mar. Em contrário, OLIVEIRA e
LEONARDOS (1943, p.766) afirmam poderem os
ouriços do mar viver nos rochedos fora da água até
alguns metros acima do nível do mar.
A bibliografia compulsada sobre a biologia destes
equinodermes não trás informações satisfatórias
sobre a possibilidade de eles viverem fora da água
durante certo tempo. No entanto tudo leva a
admitir que, sendo o ouriço do mar animal de
respiração essencialmente branquial
(MORTENSEN e LIEBERKIND, 1928, p. 96)
com um sistema de vasos aquosos auxiliares da
respiração (WINTERSTEIN, 1921, p. 56), a
permanência fora da água além dos limites das
marés sejaimpossível. Convém lembrar ainda a
esse propósito, que as experiências fundamentais
de VON UEXKÜLL (1897, p. 466) não só a
cavidade geral do corpo como o sistema de
vesículas de que o animal é provido intervém na
mecânica respiratória. O funcionamento destes
órgãos se não exige um fluxo contínuo de água
que se dá na preamar, todavia não despreza a
presença do líquido que se deposita nos nichos
durante o período da baixa-mar. Assim pois, pelo
que se conhece atualmente sobre a respiração
destes equinodermes, não se pode afirmar serem
capazes de resistir normalmente fora da água por
intervalos maiores do que o das marés. Devemos
acentuar que em casos excepcionais, ouriços
pescados, muitas vezes perdem o líquido da
cavidade do corpo, que é preenchida pelo ar
atmosférico. Nestas condições os animais flutuam
na água e podem resistir durante alguns dias.
PERRIER (1875, p. 633-634, 637) que fez estas
observações, admite a existência de respiração
intestinal. Aqui, porém, o veículo principal de
oxigênio é a água e não o ar.
Em palestra o prof. Dr. K. E. Caster levantou
dúvidas sobre a possibilidade dos ouriços
conseguirem construir semelhantes nichos nas
rochas. Percorremos, em sua companhia, trechos
dos costões de Itanhaen e da ilha de São Sebastião,
no litoral do Estado de São Paulo, verificando uma
diferença entre a erosão diferencial comum dos
gnaises e os chamados buracos de ouriço. Na
enseada do Sombrio, na ilha de São Sebastião, nas
rochas alcalinas verificamos grande número dessas
formas abaixo e a muitos metros acima do nível do
mar, cuja origem para nós é ainda incerta.
Segundo informações do prof. Dr. Paulo Sawaya,
os ouriços do mar encontrados nas costas rochosas
vivem geralmente nesses nichos abaixo do nível
do mar. Nichos desse tipo, quando encontrados
acima do nível do mar não constituem ainda uma
prova do movimento relativo do continente e
oceano.
Contribuição ao estudo da planície litorânea
Brazilian Archives of Biology and Technology
69
SEDIMENTAÇÃO MARINHA
III. PRAIAS
No litoral do Estado do Paraná, as praias se
estendem por cerca de 90 km. São interrompidas
por pontos de costa rochosa, formados por
afloramentos do complexo cristalino e também
pelas baias de Paranaguá e Guaratuba. Ao norte,
situa-se a praia de Superaguí com cerca de 36 km
de extensão, no centro a praia de Leste com cerca
de 30 km e ao sul a praia do Sul com 12 km e
outras praias como a praia de Guaratuba, Mel, etc.,
apresentam extensão menor e aqui não são
consideradas.
A largura da praia, tomada em relação à baixa-
mar, varia em regra de 50 a 80 m, podendo, em
certos lugares, como no Pontal do Sul, atingir 200
m. a sua inclinação é geralmente suave e variável.
Quando, porém, se acentua, acusa pouco além do
limite da baixa-mar, uma concavidade paralela à
costa. No bordo oriental dessa concavidade
(conhecida regionalmente por lagamar) tem
origem a primeira arrebentação; quando a
arrebentação transpõe esse bordo ela desaparece
transformando-se numa onda normal; nova
arrebentação produz-se nas proximidades da praia.
O bordo oriental dessa concavidade representaria a
fase inicial de um novo avanço da terra sobre a
plataforma continental na forma de beach ridge –
feixe de restinga (fig. 4). A largura dessa
concavidade é muito variável, geralmente superior
a 50 m.
A costa brasileira é bordejada pela corrente
equatorial brasileira, apresentando, junto ao litoral,
contra correntes e correntes secundárias, vindas do
sul, produzidas pelos ventos dominantes do
quadrante sul e sudeste. Em conseqüência dessas
correntes, as barras dos rios são dirigidas para o
norte, e migram constantemente nessa direção, até
um ponto, em que são entulhadas pelas areias.
Formam-se, entre a praia e a restinga, lagoas
estreitas e compridas. Essa situação não perdura: o
rio abre nova barra num ponto de menor
resistência, reiniciando nova migração para o
norte. Em diversos pontos, próximos aos rios,
encontram-se, na zona da praia, vestígios desse
fenômeno. Ocasionalmente, surgem ao longo das
praias, correntes secundárias vindas do norte. São
pouco freqüentes e sem grande importância. A
linha da costa, como se nos apresenta, tem, como
principal responsável pela sua formação as
correntes secundárias vindas do sul. Os taboleiros
arenosos do Cambará, Pereira, Guarani e
Taboleiro, antigas praias, pela sua situação e
morfologia, atestam que sua formação é devida às
correntes marinhas vindas do norte (fig. 1 e 7).
A ação das correntes marinhas e das ondas é
responsável pela construção e modificação das
linhas de praia. As correntes transportam o
material mecanicamente e as ondas selecionam-no.
Realizamos diversas análises mecânicas dessa
formação (fig. 6), verificando a porcentagem
máxima dos grãos de areia, situada entre os
diâmetros 0,125 mm e 0,5 mm. Um depósito praial
sempre é estratificado (fig. 35). As linhas claras
observadas na figura 35 são constituídas quase que
exclusivamente por grãos de quartzo e as linhas
escuras principalmente por ilmenita.
Durante as análises mecânicas dos sedimentos
observamos maior porcentagem de ilmenita à
medida que os furos dos tamises diminuem, abaixo
de 0,062 mm a porcentagem de ilmenita é
dominante.
A linha de praia tende a atingir o seu perfil de
equilíbrio. Conseqüentemente, transformações
mais ou menos importantes são realizadas. Pontos
há, onde o mar penetrou terra a dentro algumas
centenas de metros. É bem de ver, porém, que não
se trata de afundamento, mas de modificações nas
correntes marinhas que bordeiam o litoral.
MARTYN (1934, p. 293) refere-se à mudança
freqüente da linha da costa na Guiana Inglesa
como conseqüência da variação das correntes. Na
Ilha do Mel, o cliff atual da linha de praia está
aberto em mangrovitos (bancos antigos de
manguezal solevados ao nível do mar,
vulgarmente conhecidos por piçarra), essa
ocorrência só seria explicada admitindo-se uma
linha de praia situada no mínimo a algumas
centenas de metros mais à frente (fig. 5 e 36).
Antigos moradores da praia de Leste afirmam que
o mar avançou cerca de 150m na região do Pontal
do Sul. No Rio Guarituba, na praia de Matinhos, o
mar operou ligeiro avanço, abrindo cliff em
mangrovitos ou depósitos paludais aterrados com
areias eólicas. Ocorrências semelhantes tivemos
ocasião de observar n ilha de Santo Amaro, no
litoral paulista.
Os ripple-marks, alongados e alinhados
paralelamente à praia, onde se encontram
freqüentemente, são considerados por
FREYBERG (1930) como ripples de movimentos
de marés. Na praia verifica-se uma pavimentação
(Pflasterstellung), com valvas e restos de
Bigarella, J. J.
Brazilian Archives of Biology and Technology
70
moluscos, cerca de 90% das valvas acham-se com
a concavidade voltada para baixo (fig. 37). Esse
fato segundo FREYBERG (1930) indica um lugar
onde predomina a sedimentação. Os lugares onde
se encontra irregularidade na disposição das valvas
indicaria um lugar onde predomina o transporte, e
as areias acham-se em movimento.
A praia é despida de vegetação até o limite
máximo das marés. Segue-se a zona das ante-
dunas e a zona das pequenas dunas eólicas
(RAWITSCHER, 1944, p. 21), nesta região pouco
desenvolvida, devido a falta de ventos fortes (fig.
8). O vento predominante é o SSE e SE. A
umidade do clima, contribui para a menor
mobilidade das areias da praia em direção à terra,
principalmente à noite quando sopram ventos
contrários que fazem voltar atrás partes das areias
transportadas durante o dia (RAWITSCHER,
1944, p. 21). Estabelece-se assim, um movimento
de areias, terra a dentro, que vai originar as
pequenas dunas eólicas, sobre as restingas.
Caracterizamos as ante-dunas pela associação dos
vegetais de fixação das areias: Ipomoea pes
caprae, Remirea marítima, etc. (fig. 38, 39 e 40).
IV. RESTINGAS
O termo restinga é usado no Brasil significando
um membro da formação litorânea. As restingas
são formações arenosas constituídas por cordões
litorâneos (barrier em inglês, Nehrung em alemão)
e pelos feixes de restingas propriamente ditos
(beach ridge em inglês). O feixe de restingas
representa umagrupamento paralelo de cordões
litorâneos. O estudo da formação e evolução das
restingas na costa brasileira foi de uma maneira
clara e precisa tratado por LAMEGO (1940).
O ambiente no qual tem origem a formação da
restinga são as enseadas e ângulos mortos
ocasionados por ilhas ou pontais rochosos, sendo
de importância uma fonte constante de sedimentos
e sua distribuição pelas correntes marinhas.
Segundo LAMEGO (1940, p. 16), a origem da
restinga é de um modo geral condicionada à
existência de correntes costeiras secundárias
transportando areias. A abundância do material
arenoso arrastado pela corrente e o seu perene
abastecimento são causas decisivas na sua
formação. O seu processo de formação consiste
numa corrente tangenciando a massa de água que a
separa da praia, perdendo velocidade no contato e
depositando os sedimentos numa faixa paralela à
linha costeira. É também função da profundidade
das marés costeiras.
Os sedimentos transportados pelas correntes são
depositados nos já mencionados ângulos mortos
provocados pelas ilhas ou pontais rochosos de
onde avançam na forma de esporões (spit em
inglês), constituindo línguas de areias; são
orientados pelas correntes. Terminada a
construção do esporão temos um cordão litorâneo
(restinga), que se nos apresenta como uma faixa
longa e estreita, medindo muitas vezes, várias
dezenas de quilômetros. Como exemplo clássico
de restinga temos no Brasil a restinga de
Marambaia, no Estado do Rio. No litoral
paranaense, principalmente nas barras das baias
temos a forma de esporões. Formam bancos de
sedimentos arenosos, ainda submersos, orientados
pelas correntes, e constituem núcleos de outras
futuras restingas. Na enseada de Caiobá, entre o
morro das Caieiras e a ponta de Caiobá, estende-se
um banco de sedimentos submersos, o “Banco
Grande”, orientado na tangência das correntes
secundárias, vindas do sul, com as correntes de
marés da barra da baia de Guaratuba. Sobre este
banco produz-se a arrebentação das vagas
oceânicas (fig. 41). O cordão litorâneo isola
geralmente do mar lagoas ou lagunas que
posteriormente são entulhadas e transformadas em
regiões pantanosas (fig. 9). Temos aí sempre um
limite nítido entre a restinga e tais regiões
pantanosas. O litoral paranaense apresentou, no
seu estado inicial de formação, este tipo de
restinga, porém, atualmente não temos um tipo
simples de cordão litorâneo, visto não termos
lagoas isoladas do mar por restinga.
A forma que se encontra, comumente, é de beach
ridge, que designamos por feixe de restingas, isto
é, uma sucessão de cordões litorâneos intercalados
com partes baixas brejosas, cobertas de vegetação
típica; segundo LAMEGO (1940) – vales de
restingas (fig. 10).
O aspecto das restingas é modificado
secundariamente pela ação dos ventos, com a
formação de dunas eólicas. O desenvolvimento
dos feixes de restingas no litoral paranaense é
relativamente pequeno, e constituído em regra de 2
ou 3 indivíduos. A distância entre as restingas é
variável e indica o valor do avanço terrestre sobre
a plataforma continental. Lugares há, como na vila
Balneária, em que apreciável é a distância entre as
restingas, aí notamos a presença de riachos,
alagadiços e brejos nos vales de restingas. Ao
norte de Matinhos entre duas restingas próximas
Contribuição ao estudo da planície litorânea
Brazilian Archives of Biology and Technology
71
observa-se um riacho com mangue, e mais acima,
além do limite da ação da maré, há uma vegetação
de brejo típica, com perí-perí (Ciperus princeps).
Análise mecânica dos sedimentos de um antigo
cordão litorâneo, em Sertãozinho a cerca de 2 km
ao oeste da vila balneária de Matinhos, revelou
tratarem-se os mesmos, de sedimentos menos
selecionados do que os sedimentos de praia e do
interior das baias. Sedimentos de restingas mais
recentes revelaram um grau de seleção maior que
o antigo cordão litorâneo de Sertãozinho (fig. 25).
A restinga apresenta-se com a forma de faixas
longas, estreitas e abauladas, de altitude variável
de 3 m a 7 m. Na região da praia de Leste as
restingas do interior são designadas vulgarmente
por taboleiros. As formações arenosas junto ao
mar são designadas também por campinas e
cômoros. São cobertas de vegetação halo-
psamófila nas regiões mais próximas ao mar onde
as areias conservam ainda uma certa salinidade.
Mais para o interior é constituída por matas. Os
vales de restingas mais antigos, ainda pantanosos,
são cobertos com matas de aspecto diferente da
mata pluvial tropical da região serrana. Nas matas
da planície litorânea ocorrem, de uma maneira
notável, as palmáceas, observadas principalmente
na estrada do Mar.
Estudamos mais detalhadamente a região
Matinhos-Caiobá, onde realizamos levantamentos
para a construção de uma pequena planta
topográfica-geológica (fig. 7) e de um perfil
geológico (fig. 3)4. Nessa região, a planície
sedimentar quaternária (holocênica), estende-se
desde o limite do complexo cristalino até a orla do
mar, com a largura máxima de 2 km e o
comprimento de 3,5 km (fig. 42).
Morfologicamente, apresenta as formações
arenosas de restinga. A mais antiga mede de 5 m a
7 m de altitude: Taboleiro e Sertãozinho (fig. 43) e
a mais recente formando os tômbolos de Caiobá e
Matinhos e a faixa arenosa entre essas localidades
com 2 m a 3 m de altitude sobre o nível do mar.
Entre essas formações, situa-se uma zona
relativamente plana, em sua maior parte,
pantanosa, com altitude de 1 m a 2 m sobre o nível
do mar (fig. 2). Nesta zona surgem
esporadicamente pequenas ilhas arenosas. A
planície sedimentar, na orla do mar, apresenta
vegetação halo-psamófila de fixação das areias,
 
4 Palestra realizada pelo autor na associação dos Geógrafos
Brasileiros – Núcleo de Curitiba, em outubro de 1945, sob o título:
Algumas notas sobre a Geologia da Região Matinhos-Caiobá.
constituída principalmente por gramíneas e
ciperáceas. Na restinga próxima ao mar ocorre
uma flora psamófila parcialmente halófila
passando a xeromorfa mais para o interior. A zona
pantanosa é coberta de mata em sua maior parte.
No Herbário do Museu Paranaense, encontra-se o
seguinte material coletado nas praias e ante-dunas
do litoral paranaense, sendo que as poucas
espécies determinadas são as que seguem:
Salicornia gaudichaudiana MAQ.
Remirea maritima AUBL.
Sporobolus virginicus KUNTH.
Panicum racemosum SPRENG.
Hydrocotyle umbellate L.
Ipomoea pes caprae SWEET.
Acicarpha spathulata R. BR.
Cenchrus echinatus L.
RAWITSCHER (1944, p. 21-22), cita, além dessas
espécies as seguintes para o litoral paulista, as
quais muito provavelmente devem também ocorrer
nesta zona, porém ainda não foram determinadas
na coleção do Museu Paranaense:
Sesuvium portulacastrum L.
Statice brasiliensis BOISS.
Spergularia marina GRIESB.
Conocarpus erecta L.
Iresine portulacoides MOQ.
Telanthera maritima MOQ.
Ipomoea acetosaefolia ROEM. et SCHULT.
Canavalia obtusifolia DC.
Polygala cyparissias ST. HIL.
Scaevola plumierii VAHL.
As camadas superficiais dos sedimentos arenosos
das restingas possuem uma coloração claro-
cinzenta que vai progressivamente passando a
amarela até castanho nas camadas inferiores. A
coloração claro-cinzenta da superfície é
proveniente da lavagem por águas pluviais e pelo
descoramento por ácido húmico. À maior
profundidade foi verificada um aumento na
porcentagem de ferro sob a forma de óxido de
ferro hidratado e de matéria orgânica. A coloração
amarelo até castanho é conseqüente à matéria
orgânica, óxido de ferro hidratado e às argilas
provenientes do transporte marinho ou da
decomposição dos feldspatos sedimentados,
juntamente com os grãos de quartzo e outros
minerais.
A altitude das restingas decresce do interior para a
praia o que indica, segundo JOHNSON (1938, p. 439),
Bigarella, J. J.
Brazilian Archives of Biology and Technology
72
um movimento positivo da região. As formações
arenosas, antigos cordões litorâneos, situadas no
interior da planície, são conhecidas regionalmente
por taboleiros: Cambará, Guarani, Taboleiro, etc.
Nesta denominação tambémsão incluídos os
antigos bancos de lodo e areia, da sedimentação
intermediária solevados sobre o nível do mar, e os
mangrovitos. Junto ao mar, como já vimos, a
restinga é denominada regionalmente por campina.
Os tômbolos ocorrem também na região. Entre
eles salientamos o de Matinhos, Caiobá,
Guaratuba, Ilha do Mel, etc., sobre os quais se
situam as vilas balneárias mais importantes.
A restinga é formação muito pobre do ponto de
vista agrícola. Análises realizadas no Instituto de
Biologia e Pesquisas Tecnológicas de Curitiba
revelaram o seguinte resultado sumário:
Amostra nº 1Amostra nº 2
Perda ao rubro ...............2,26% 0,36%
Nitrogênio total .............0,064% 0,064%
Óxido de cálcio .............0,003% 0,003%
Óxido de potássio .........0,007% 0,008%
Anidrido fosfórico ........0,002% 0,002%
Argila ............................2,4% -
Conclusões:
Perda ao rubro ............................muito pobre a pobre
Nitrogênio total ..........................regular
Óxido de cálcio ..........................muito pobre
Óxido de potássio .......................muito pobre
Anidrido fosfórico ......................muito pobre
As amostras 1 e 2 foram coletadas na restinga da
praia de Leste, próximo ao Pontal do Sul, a
primeira na profundidade de 20 cm e a segunda a 1
m de profundidade. A porcentagem da perda ao
rubro, na amostra 1, significa um maior teor em
matéria orgânica junto à superfície, teor este
insignificante.
SEDIMENTAÇÃO INTERMEDIÁRIA
V. MANGUEZAL
Por manguezal (mangrove swamp em inglês,
Mangrove Sumpf em alemão) significamos o
aspecto geográfico-geológico da formação em si;
isto é, a associação vegetal caracterizada por certo
número de halófilas, que são designadas
indistintamente por mangue, vicejando sobre
bancos de lodo nas águas tranqüilas dos rios e
baias.
Os manguezais estendem-se por largas áreas, nas
baias de Paranaguá e Guaratuba, penetrando mais
ou menos profundamente, nos rios que nelas
deságuam e nos rios que vão ter diretamente ao
oceano. Constituem ilhas rasas e planas,
inundáveis na preamar e emersas na baixa-mar.
Bordeiam, em grande extensão, as margens das
baias ou dos rios. As ilhas nestas condições
possuem, freqüentemente, um centro arenoso com
mato ou vegetação de restinga, onde, viceja o
Hibiscus tiliaceus L. na zona de transição, e os
Cocos romanzofiana nas partes mais centrais. Esta
formação arenosa representa muitas vezes um
antigo manguezal entulhado por areias e sua flora
substituída pela flora de restinga ou mato. Para as
formações de manguezal antigo solevado ao nível
do mar, seria de conveniência, a introdução de um
termo que caracterizasse essa formação. O termo
mangrovito passamos a usar nesta contribuição
significando os antigos bancos de manguezal,
salvo denominação em contrário.
Entre as espécies constituintes do manguezal
paranaense identificamos:
Rhizophora mangle L.
Laguncularia racemosa GAERTN.
Avicennia tomentosa JACQ.
E como elemento de transição para a restinga ou
mato:
Hibiscus tiliaceus L.
A verificação e a distribuição destas espécies
vegetais foram executadas com a colaboração de
R. Hertel da Secção de Botânica do Museu
Paranaense. RAWITSCHER (1944, p. 25)
verificou estas mesmas espécies para os
manguezais do Estado de São Paulo. STELLFELD
(1945, p. 247).
Característica torna-se a presença em frente aos
bosques de mangue de uma gramínea, conhecida
regionalmente por “praturá”. Segundo fomos
informados pelo prof. Dr. F. K. Rawitscher trata-se
provavelmente de Spartina brasiliensis RADDI ou
S. ciliata KUNTH., que são indicadas para tais
“habitats”; a falta de flores não possibilitou
classificação exata (fig. 46).
FREYBERG (1930), assinala para o norte do
Brasil a presença da S. brasiliensis. MARTYN
(1934) também refere-se à presença dessa
gramínea nos manguezais da Guiana Inglesa. À
certa distância da barra dos rios vicejam
juntamente com o manguezal liliáceas e
Contribuição ao estudo da planície litorânea
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73
ciperáceas, ocupando a mesma posição do
“praturá” (fig. 44).
Nas baias, o manguezal desenvolve-se com maior
exuberância nos lugares mais tranqüilos e nas
barras dos rios. Não existe ou é escasso nos
lugares de correnteza mais forte, onde se
encontram praias arenosas, com pequenos
barrancos. Observamos maior desenvolvimento do
mangue nas regiões lodosas, onde seu
desenvolvimento diminui com o aumento do teor
de areia, e parece, mesmo, receber decisiva
influência da salinidade. Não encontramos
mangue, onde é mínimo o teor em sal.
Nos bancos areno-argilosos de sedimentação
intermediária tem início o desenvolvimento da
flora de manguezal. O banco é primeiramente
ocupado por uma gramínea o “praturá” (fig. 45 e
46). Entre as hastes dessa gramínea acumula-se
uma pequena quantidade de lodo que favorece a
ocupação por mangue. O mangue edifica-se
rapidamente num pequeno bosque, tendendo a um
desenvolvimento cada vez maior.
O mangue que aí cresce não é um formador de
terra, como pareceria à primeira vista, mas sim um
fixador, auxiliando a fixação dos sedimentos,
através do seu emaranhado de raízes, podendo
contribuir como um acelerador da última fase da
sedimentação, necessitando espaços com
deposição positiva de sedimentos (FREYBERG,
1930). Esta fixação é débil, sendo que, a ilha ou
margem da baia podem ser facilmente destruídas
pela erosão motivada pelas ondas ou correntes,
sem, contudo, opor grande resistência. O
manguezal cede, pouco a pouco, terreno e
destruído na sua base de sustentação o mangue
acaba por tombar. Nos pontos em que a ação
erosiva se fez sentir encontramos diversos
espécimes de mangue tombados.
Como já vimos, o mangue não é um formador de
terra, porém, acompanha o progresso da deposição
do lodo, que se faz no sentido da corrente, na
proteção de um ângulo morto ou em direção da
água mais salgada.
Nos rios, o manguezal tem seu maior
desenvolvimento junto às barras nas baias.
Diminui sucessivamente à medida que a salinidade
diminui e a correnteza aumenta. É de notar que o
mangue se desenvolve ali, de preferência, nas
margens convexas, onde a sedimentação se
processa, e é mínimo ou nulo nas margens
côncavas, onde a correnteza atua mais fortemente.
Estas margens apresentam geralmente pequenos
barrancos.
Juntamos aqui alguns levantamentos efetuados
pelo autor, os quais dão uma idéia da distribuição
do manguezal nos rios e baias do litoral
paranaense (fig. 11, 12, 13 e 14).
As argilas transportadas pelos rios são floculadas
quando em contato com a água salobra, no próprio
rio mesmo a algumas dezenas de quilômetros
distantes do mar, iniciando ai a sedimentação. A
sedimentação entulharia completamente o leito do
rio se não fosse a dupla corrente ocasionada pelas
marés, que produz a drenagem dos canais dos rios
e baias.
Nos rios que deságuam diretamente no oceano, o
manguezal tem menor desenvolvimento, porém,
apresenta as mesmas características dos rios que
deságuam nas baias. Estes últimos, são designados
regionalmente por rios de marés.
De maneira geral e esquemática, num manguezal
temos em frente bancos de lodo, seguindo-se uma
estreita faixa com praturá e imediatamente os
bosques de mangue cuja disposição de fora para
dentro é aproximadamente a seguinte: Rhizophora,
Laguncularia e Avicennia; atrás desta formação,
bem delimitada, temos a vegetação de restinga ou
mato, com Hibiscus tiliaceus como elemento de
transição (fig. 15).
Os nomes vulgares das espécies do manguezal são,
na região em estudo, bem definidos e, não
encontramos confusão entre as denominações
populares:
Rhizophora Mangle = Candapuva ou canapuva
(fig. 47).
Laguncularia racemosa = Mangue (fig. 48).
Avicennia tomentosa = Siriuba (fig. 49 e 50).
A denominação popular dos elementos do
manguezal já difere no Estado de São Paulo onde
encontramos as seguintes denominações:
Rhizophora = Mangue bravo.
Laguncularia = Mangue manso ou mangue
roxo.
Avicennia = Siriuba.
No Estado do Rio de Janeiro, segundo SAMPAIO
(19--, p. 107) a denominação corrente dos
elementos do manguezal é bastante complicada,
existindo grande confusãoem torno da
denominação vulgar:
Rhizophora = Mangue vermelho ou verdadeiro,
guapariba, sapateiro, guaparaiba, mangue de
Bigarella, J. J.
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74
pendão, ratimbó, mangarabeira, maparaíga
ou canaponga.
Laguncularia = Mangue branco ou cereíba,
mangue bravo.
Avicennia = Mangue amarelo, cereibuna ou
cereitinga.
A figura 15 mostra a disposição das espécies de
mangue no manguezal, onde se pode observar o
banco de lodo, o praturá, e os pequenos
exemplares de mangue seguidos de maiores e
finalmente um verdadeiro mato de mangue (fig.
46). Geralmente o maior porte é alcançado pela
Avicennia que se sobressai das demais espécies,
podendo ser identificada à distância. A Avicennia
é utilizada como combustível; a Rhizophora e a
Laguncularia são usadas na preparação do tanino.
A grande exploração da Rhizophora, nas baias está
modificando o aspecto do manguezal local. Em
análises procedidas no Instituto de Biologia e
Pesquisas Tecnológicas em Curitiba verificou-se a
seguinte porcentagem em tanino:
a) Cascas de Rhizophora Mangle do rio
Emboguaçú na baia de Paranaguá:
Umidade (100-105º C) .....................52,10%
Tanino curtiente ...............................6,58%
Tanino não curtiente ........................2,94%
b) Folhas de Laguncularia racemosa da baia de
Guaratuba:
Umidade (100-105º C) .....................65,40%
Tanino curtiente ...............................7,36%
Tanino não curtiente ........................1,84%
Em frente aos manguezais há um banco de lodo
fofo de coloração variável, que vai do cinzento
claro ao castanho escuro, que é ocasionada
principalmente pelo teor de matéria orgânica
(fig. 46). No interior do manguezal encontram-se
freqüentemente, poças de água salobra, que, nos
dias muito secos e quentes, podem depositar
finíssima camada de sais. Para o interior do
manguezal o solo torna-se mais firme e
sucessivamente mais arenoso, possibilitando o
fácil deslocamento de uma pessoa, isto facilitado
em grande parte pelo emaranhado de raízes e
pneumatóforos.
Em conseqüência da ação das correntes,
freqüentemente o manguezal apresenta uma
margem bastante inclinada; nesse caso não temos
um banco de lodo que emerge na baixa-mar assim
como não temos a Spartina situada em frente às
espécies de mangue, salvo casos em que é
escassamente representada por alguns indivíduos.
A espessura de um banco de manguezal está
estreitamente ligada à diferença das marés, não
ultrapassando 2 m. esta espessura é modificada
durante os movimentos epirogênicos, na ascensão
sua possança é diminuída e aumentada em caso de
afundamento.
A paisagem de uma região de manguezal não é
perene, mas sim em constante modificação.
Durante as enchentes da preamar são depositadas
sobre os manguezais, areias finíssimas com uma
porcentagem máxima de grãos compreendidos
entre 0,062 e 0,125 mm, conforme tivemos
ocasião de observar na ilha do Boleado na baia de
Guaratuba (fig. 18). Tais areias, assim depositadas,
tornam o banco de manguezal cada vez mais
arenoso, provocando a morte do mangue. Esse
processo de entulhamento avança juntamente com
o progresso do manguezal. Nessa zona tem início
o desenvolvimento do Hibiscus tiliaceus, que se
comporta como elemento de transição para a flora
de restinga ou mato. Também areias eólicas são
depositadas sobre o manguezal, sendo aqui a sua
importância secundária.
Pelos movimentos epirogênicos, bancos de
manguezal foram alçados sobre o nível do mar,
deixando de receber água salobra, e, em
conseqüência, causando a morte das espécies de
mangue. Estes bancos já arenosos pelo processo de
entulhamento com areias marinhas no interior das
baias, formam taboleiros com diferentes altitudes
sobre o nível atual do mar, constituindo o
mangrovito. Muitas vezes regiões de manguezal
são transformadas em pantanais terrestres, hoje
não mais sofrendo a ação das marés. Muitas
regiões pantanosas desse tipo são encontradas no
litoral do Estado do Paraná, entre elas citamos
trechos da praia de Leste.
A distribuição das diferentes espécies de mangue
parece não obedecer regra geral. Referente à
Rhizophora, a sua distribuição atual foi muito
modificada pela intervenção humana. Segundo
informações e verificações próprias pudemos
estabelecer os seguintes pontos mais
característicos onde esta espécie vegetal é ou foi
dominante: região do rio Itiberê até o rio
Guaraguaçú, em diferentes lugares da baia de
Antonina e Laranjeiras; no rio Fundo e regiões
adjacentes (hoje quase totalmente explorado), na
baia de Guaratuba. E segundo nossas verificações,
concluímos ser na baia de Paranaguá o seu
Contribuição ao estudo da planície litorânea
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75
desenvolvimento maior. A Avicennia encontramos
com seu maior desenvolvimento, na ilha da
Sepultura e num trecho do rio Fundo, na baia de
Guaratuba; é muito difundida nos manguezais,
juntamente com a Laguncularia. A Laguncularia é
a espécie de mangue mais desenvolvida pelo
número de indivíduos no litoral paranaense.
Lugares há onde encontramos as três espécies
igualmente distribuídas, geralmente com a
Rhizophora em frente seguida da Laguncularia e
Avicennia; esta última se destaca pelo seu porte.
No rio Saí-Guaçú temos a predominância da
Laguncularia, seguida da Avicennia com número
bem menor de indivíduos e finalmente a
Rhizophora com número restrito de exemplares:
Laguncularia –- Dominante
Avicennia – Média
Rhizophora – Mínima
No rio Perequê, no Pontal do Sul, verificamos a
seguinte disposição da flora de manguezal: nas
imediações da barra e curso mais inferior
verificamos a presença de muitos indivíduos de
Rhizophora juntamente com Laguncularia e
Avicennia, mais para cima até 2 km a 3 km da foz,
encontramos a Laguncularia com número bem
menor de exemplares de Rhizophora. A Avicennia
limitou-se às partes médias e inferior do curso do
rio com manguezal e situa-se sempre atrás das
outras espécies. Em vista do número relativamente
pequeno de observações, não consideramos esta
distribuição como regra bem definida.
No litoral do Paraná verificamos, de maneira ainda
muito generalizada a seguinte distribuição das
espécies do manguezal:
Laguncularia–- Dominante
Avicennia – Média
Rhizophora – Pequena
Na excursão realizada em setembro de 1946 ao
Estado de Santa Catarina, tivemos ocasião de
percorrer os manguezais da ilha de Santa Catarina,
onde verificamos a dominância absoluta da
Avicennia sobre as demais espécies na paisagem
do manguezal. Poucos foram os exemplares de
Rhizophora observados. Esquematicamente
tivemos na ilha de Santa Catarina a seguinte
distribuição:
Avicennia–- Dominante
Laguncularia – Média
Rhizophora – Mínima
O manguezal diminui rapidamente para o sul deste
Estado. Não podemos precisar o limite sul dessa
associação vegetal. Segundo informação verbal do
Dr. R. Maack ainda existe mangue na foz do rio
Araranguá, ponto mais ao sul do litoral catarinense
por nós percorrido. STEELFIED (1945, p. 246),
baseado em MOLDENKE, cita a seguinte
distribuição geográfica para a Avicennia
Schaueriana ou A. tomentosa, desde a Martinica e
Granada até o Brasil Meridional e Uruguai.
VI. BANCOS ARENO-ARGILOSOS,
SAMBAQUIS E MANGROVITOS
O interior da lagoas ou baias apresenta o
desenvolvimento de bancos de sedimentos areno-
argilosos, de granulação fina, depositados em
águas tranqüilas (fig. 19). São em geral sedimentos
com maior porcentagem de grãos finos do que os
sedimentos de restinga. Possuem coloração
variável, amarelo, cinzento, castanho claro e às
vezes castanho escuro devido a maior
porcentagem de matéria orgânica.
Nos bancos areno-argilosos do ambiente de
sedimentação em águas tranqüilas do interior das
baias ou lagoas desenvolve-se uma associação de
moluscos característica, constituída de diversas
espécies entre as quais destacamos a
Anomalocardia brasiliana GML. Tivemos
oportunidade de observar em alguns baixios que
emergem durante a baixa-mar, a existência de
agrupamentos desses moluscos mergulhados na
areia ou lodo.
Esses baixios formados por bancos de sedimentos
areno-argilosos, quando alçadossobre o nível do
mar, apresentam-se primeiramente como terrenos
úmidos, passando posteriormente a formar
taboleiros arenosos através de uma maior
concentração de grãos de areia junto à superfície.
Os agrupamentos de moluscos elevados sobre o
nível do mar nessas condições são rapidamente
destruídos pela ação química do meio, produzindo-
se a dissolução e livigação do carbonato de cálcio
constituinte das valvas animais. Os antigos bancos
de lodo e areia apresentam um teor de cálcio
pouco maior do que o apresentado pelas formações
arenosas de restinga:
Bancos arenosos do interior das baias......0,010% de CaO
Formações arenosas de restinga ..............0,003% de CaO
A análise sumária dos solos dessa formação,
realizada no Instituto de Biologia e Pesquisas
Bigarella, J. J.
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76
Tecnológicas de Curitiba revelou o seguinte
resultado:
Perda ao rubro 1,76%
Nitrogênio total 0,064%
Óxido de cálcio 0,010%
Óxido de potássio 0,007%
Anidrido fosfórico 0,002%
Conclusões:
Perda ao rubro Pobre
Nitrogênio total Regular
Óxido de cálcio Pobre
Óxido de potássio Muito pobre
Anidrido fosfórico Muito pobre
Trata-se de terrenos agricolamente muito pobres,
semelhantes aos de restinga.
Nos rios Boguaçú e Praia (fig. 11) encontramos
nas margens côncavas, bancos areno-argilosos
situados a cerca de 1 m a 1,3 m sobre o nível
médio do rio (aproximadamente igual ao nível
médio do mar), contendo intercalada uma camada
de 0,3 m a 0,4 m de espessura de pelecípodos e
gasterópodos, na forma de valvas inteiras e
fragmentadas (fig. 17 e 51). O material
malacológico por nós coletado e gentilmente
determinado pelo prof. Barão Otorino de Fiori, é
constituído pelas seguintes espécies, ainda hoje
viventes no interior de nossas baias:
Anomalocardia brasiliana GML.
Dosinia concentrica BORN
Cerithium striatissimun SOWASKY
Massa poligonata STR.
Thais cornuta ? Menke
Laevicardium renatum L.
Semele reticulata L.
Macoma constricta BRUES.
Chicoreus senegalensis GM.
Plicatula sp.
Arca incongrua SAY.
Cyclinella tenuis RECLUS.
Bullaria striata BRUS.
O material coletado rapidamente, não representa o
total das espécies aí existentes, entretanto dá uma
idéia sobre a fauna desse ambiente. Esse material
sub-fossil apresenta-se muito corroído pela ação
do ácido húmico. Essa camada de restos de
moluscos pertenceu sem dúvida a um velho
agrupamento de moluscos, hoje solevado sobre o
nível do mar.
Relacionamos a ocorrência desses agrupamentos
de moluscos com a situação dos sambaquis, que se
acham atualmente em diferentes altitudes sobre o
nível do mar, representando essas alturas diversas
idades da construção dos mesmos pela atividade
humana. Os sambaquis até agora visitados são de
origem artificial e constituídos de elementos da
fauna do interior das baias ou lagoas, com exceção
dos construídos sobre afloramentos rochosos do
complexo cristalino, como tivemos ocasião de
verificar no rio Nhundiaquara entre Morretes e
Antonina, os quais são constituídos por outras
espécies de ostreas5 e, contendo também muitas
vezes espinhos de peixe e esqueletos humanos. A
construção dos sambaquis (aqui referimo-nos
principalmente aos construídos por elementos da
fauna do interior das baias) foi condicionada a um
agrupamento de moluscos. Sua idade relativa
deveria ser estabelecida em relação à sua
localização nos diferentes bancos de sedimentos.
A distância que os separa do mar nem sempre
estabelece uma relação de idade. No rio Boguaçú
(fig. 11), considerando a posição estratigráfica dos
sambaquis da Barra Velha e do Boguaçú (margem
direita), verificamos que o último é mais antigo
que o primeiro, embora este esteja situado mais
para o interior.
KRONE (1908, p. 23 e segs.), estudando os
sambaquis do curso inferior do rio Ribeira,
distinguiu sambaquis antiqüíssimos e modernos, e
recomenda para sua distinção a maior observância
possível à sua posição topográfica. O mesmo autor
(p. 31) verificou que a base do sambaqui sempre
assenta em chão firme e nunca abaixo do nível do
mar, alguns são atingidos pelas águas na preamar;
outros se situam a maiores altitudes. Nossas
verificações estão em acordo com as verificações
de KRONE no que diz respeito, principalmente, à
relação da base do sambaqui com o nível do mar.
Os sambaquis distribuem-se em estreita ligação
com os antigos agrupamentos de moluscos
existentes nos baixios e bancos areno-argilosos. A
construção dos sambaquis sem dúvida foi efetuada
sobre um desses agrupamentos ou nas suas
vizinhanças imediatas. A forma destes, bem
delimitada e alta, deve-se provavelmente a uma
precaução do homem malacófago, construtor do
sambaqui, em ajuntar as cascas em montes, afim
de evitar a inutilização do agrupamento de
moluscos deixando as cascas abandonadas alhures,
 
5 Nos sambaquis com base arenosa, na planície, é encontrada
principalmente a Ostrea brasiliana, em contraste com os
sambaquis construídos sobre rochas onde se encontra em
geral a Ostrea virginica.
Contribuição ao estudo da planície litorânea
Brazilian Archives of Biology and Technology
77
o que não só dificultaria de grande modo a coleta
de moluscos como também perturbaria o
desenvolvimento do agrupamento (fig. 52).
As diferentes situações de sambaquis requerem
estudos mais minuciosos da sua posição em
relação aos bancos de sedimentos e também da sua
constituição faunística e arqueológica, estudos
que, sistematizados, trarão mais luz sobre a pré-
história brasileira. Seria de grande interesse
histórico que o governo fizesse executar a
legislação em vigor, de modo a assegurar a
conservação de alguns desses típicos monumentos
arqueológicos construídos pelo homem pré-
histórico do Brasil.
Em conseqüência do movimento positivo da
região, os bancos areno-argilosos, formados no
interior das baias e lagoas, foram solevados sobre
o nível atual do mar, apresentando-se como
taboleiros arenosos de altura mais ou menos
uniforme, marcando certos níveis na região, entre
os quais salientamos os de 10 m, 7 m, 3,5 m e
1,3 m. Distingue-se da restinga,
morfologicamente, pela largura e irregularidade de
contorno. Nesses taboleiros, como nos encontrado
no rio Saí-Guaçú, em Boa Vista, Soares e
Boguaçú, observam-se vales de aspecto
semelhante aos vales de restinga.
Freqüentemente, os bancos claros de sedimentos
areno-argilosos são capeados por uma camada de
cerca de 2 m de espessura de areias escuras,
compactas, representando um antigo manguezal.
Essa camada é conhecida regionalmente pelo
nome de “piçarra”. Registramos para essa camada
característica a denominação de mangrovito, em
virtude da sua correlação com os manguezais
antigos. Justificamos o nome de mangrovito para
este tipo de sedimentos em virtude dos mesmos
constituírem um depósito típico e característico,
embora ainda não tenham sofrido a diagênese, e
considerando que em geologia, qualquer depósito
clástico, ainda que, não consolidado seja
considerado uma rocha.
Os bancos de lodo podem ou não ser colonizados
pelo mangue; em caso positivo temos o manguezal
no sentido geológico-geográfico da palavra.
Biologicamente como já vimos, a existência e a
espessura do banco de manguezal são
condicionadas aos níveis da baixa-mar e preamar;
sendo que a espessura do banco de manguezal não
é superior à diferença entre esses níveis. O
manguezal migra sempre em direção à água mais
salobra, e vai perecendo do lado oposto em
conseqüência do entulhamento por sedimentos
arenosos, que transforma o banco de lodo
primitivo, tornando-o cada vez mais arenoso,
assim como pela falta de água salgada. Esses
bancos, quando alçados sobre o nível do mar, após
o desaparecimento do manguezal, tem o aspecto
de um “arenito” escuro estratificado e friável –
mangrovito –, não se desfazendo em contato com a
água. Verificamos esta propriedade em diversos
pontos nas baias de Paranaguá e Guaratuba, onde
encontramos blocos mergulhados na água das
baias, sofrendo a influência das ondas e das marés
(fig. 53 e 54). Contém escassos restos de moluscos
e restos de vegetais semi-carbonizados.Apresentam-se com espessura não muito superior
à diferença entre os níveis da baixa-mar e preamar.
Representam, pois, o nível do mar em que foram
formados.
TWENHOFEL (1939, p. 76-77), referindo-se ao
ambiente de sedimentação paludal-marinha, em
condições estacionárias do nível do mar indica
para essas condições um depósito com o máximo
de 6 m de espessura; notando ainda que, camadas
escuras seriam comuns no primeiro estágio dos
pantanais marinhos – no presente caso os
manguezais.
Em Piçarras, localidade típica situada a cerca de 2
km a oeste da vila de Guaratuba (fig. 11), ocorre
um banco de sedimentos arenosos marrons escuros
constituído de um “arenito friável” que não se
desfaz, todavia, ao contato da água. Contém raros
restos de moluscos e raízes vegetais parcialmente
carbonizadas. Situa-se a uma altitude de 3,5 m. É
indiscutivelmente, um antigo banco de manguezal,
hoje solevado a 3,5 m sobre o nível do mar. A
superfície é formada por uma camada de cerca de
0,2 m de areias claro-cinzentas, descoradas pela
ação de ácido húmico e águas pluviais. Segue-se
outra camada, com 2 m de possança, de areias
escuras e compactas – mangrovito –. Abaixo dessa
camada ocorrem areias amarelas de espessura
desconhecida (fig. 53).
Bancos semelhantes em Cananéia, Estado de São
Paulo, são descritos por LEONARDOS (1938, p.
24), que os tem, como depósitos eólicos.
OLIVEIRA e LEONARDOS (1943, p. 764-765)
consideram tais bancos como produtos da
sedimentação eólica ou sedimentação de vazante.
A sua formação não nos parece eólica, mas,
representaria antigos bancos de manguezal,
cobertos primeiramente pelas areias marinhas e
posteriormente pelas areias eólicas. Apresenta
composição granulométrica diferente da do
depósito eólico (fig. 20 e 21). No manguezal da
Bigarella, J. J.
Brazilian Archives of Biology and Technology
78
ilha do Boleado, na baia de Guaratuba, ocorre, em
muitos lugares, fina camada de areias brancas cuja
composição granulométrica é semelhante aos
antigos bancos de manguezal, solevados sobre o
nível do mar.
A análise química dos bancos de manguezal antigo
– mangrovito –, realizada nos Laboratórios do
Instituto de Biologia e Pesquisas Tecnológicas de
Curitiba por L. J. Weber e A. Leprevost revelou o
seguinte resultado:
A análise refere-se a material seco a 110º C
Sílica - Sio2 91,46%
Óxido de titânio - TiO2 traços
Óxido de alumínio - Al2O3 2,13%
Óxido férrico - Fe2O3 0,11%
Óxido ferroso - FeO 0,26%
Óxido de manganês - MnO 0,04%
Óxido de magnésio - MgO 0,25%
Óxido de cálcio - CaO 0,75%
Óxido de sódio - Na2O 0,27%
Óxido de potássio - K2O 0,55%
Água combinada - + H2O 0,92%
Anidrido fosfórico - P2O5 0,02%
Anidrido sulfúrico – SO3 negativo
Enxofre - S negativo
Anidrido carbônico - CO2 negativo
Perda ao fogo 2,88%
Óxido de bário - BaO negativo
Óxido de níquel - NiO negativo
Cloro - Cl 0,62%
A análise química do mangrovito revela uma rocha
rica em sílica e pobre em argila e outros elementos
químicos.
Uma amostra de água coletada num pequeno poço,
no Pontal do Sul, aberto em sedimentos escuros de
mangrovito, revelou em análise procedida nos
laboratórios do Instituto de Biologia e Pesquisas
Tecnológicas em Curitiba, por R. Spitzner e J.
Ravaglio o seguinte resultado:
Sólidos em suspensão ..................nenhum
pH ................................................6,3
Densidade a 15º C ........................1,0023
Resultado por litro de água não filtrada:
Resíduo de evaporação a 110º C0,0660 g %º
Resíduo volátil 0,0412 g %º
Resíduo fixo 0,0248 g %º
Matéria orgânica (meio ácido)0,0114 g %º
Oxigênio consumido (meio
alcalino)
0,0137 g %º
Nitrogênio amoniacal em NH5 nenhum
Nitrogênio albuminóide em NH5 nenhum
Nitritos em NO2 nenhum
Nitratos em NO5 nenhum
Sílica - SiO2 0,0058 g %º
Óxidos de ferro e alumínio -
Fe2O5 e Al2O3
0,0001 g %º
Óxido de calico - CaO 0,0028 g %º
Óxido de magnésio - MgO 0,0028 g %º
Potássio - K 0,0007 g %º
Sódio - Na 0,0065 g %º
Cloro - Cl 0,0106 g %º
Gás sulfídrico - H2S nenhum
Sulfatos – SO4 0,0041 g %º
Gás carbônico – CO2 0,0250 g %º
Bicarbonatos – HCO3 0,0183 g %º
Carbonatos – CO3 nenhum
Dureza total em graus franceses0,5º
Composição provável:
Sulfato de cálcio – CaSO4 0,0058 g %º
Bicarbonato de cálcio – Ca (HCO3)2 0,0012 g %º
Bicarbonato de magnésio - Mg (HCO3)2 0,0096 g %º
Bicarbonato de sódio - NaHCO3 0,0132 g %º
Cloreto de sódio – NaCl 0,0073 g %º
Cloreto de potássio - KCl 0,0070 g %º
Trata-se de água potável, recomendando-se o
controle bacteriológico em virtude do alto teor em
matéria orgânica.
SEDIMENTAÇÃO TERRÍGENA
VII. ALUVIÃO TERRESTRE
Nas proximidades e nas encostas do complexo
cristalino, observam-se depósitos de piemonte. O
clima tropical, favorecendo, de maneira notável, a
decomposição das rochas, ocasiona a formação de
camadas de decomposição relativamente grandes.
Em conseqüência da forte inclinação da topografia
do complexo cristalino ocorre, muitas vezes, por
ocasião de grandes chuvas, o desmoronamento de
uma dessas camadas de decomposição, originando
cores de detritos – piemonte. Os habitantes do
litoral denominam de “rolados” tais
desmoronamentos, ocorridos na zona do desmonte.
Os depósitos de aluvião terrestre de origem fluvial,
apresentam-se como taboleiros, ocorrendo mais
para o interior da planície litorânea. Como
exemplo notável dessa formação citamos a
planície aluvial de Morretes (fig. 55). Os
taboleiros apresentam-se planos, constituídos de
sedimentos em sua maioria de granulação fina com
Contribuição ao estudo da planície litorânea
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79
grande porcentagem de argila (fig. 24). Situam-se
a uma certa altura sobre o nível do rio, e são
sujeitos a inundações periódicas. O seu
desenvolvimento mais importante situa-se mais
para o interior da planície, junto aos rios maiores.
A planície aluvial de Morretes acha-se a 10 m de
altitude sobre o nível do mar, é cortada pelo rio
Nhundiaquara e seus afluentes. Os rios que cortam
a planície de aluviões terrestres tem o seu curso
meandrante, o leito freqüentemente com seixos em
contraste com o curso mais inferior também
meandrante, porém, com leito arenoso. Entre os
taboleiros de aluvião terrestre ocorrem pântanos e
brejos. Representam juntamente com a zona da
encosta e os solos do complexo cristalino os
terrenos mais ricos para a agricultura regional. O
homem do litoral, habitante da restinga geralmente
tem sua roça nos terrenos de aluvião terrestre, nos
taboleiros mais interiores ou na zona das encostas
do complexo cristalino.
As baixadas situadas entre as formações arenosas
apresentam-se geralmente pantanosas e
inabitáveis. São cobertas com mata muitas vezes
rica em palmáceas. O solo escuro é bastante
turfoso e ainda não consolidado, apresentando-se
como um atoleiro muitas vezes intransitável. Os
habitantes da região estivam com troncos de
árvores os pântanos, e ao caminho, assim obtido,
denominam “caminho de estiva”, utilizam também
as pinguelas. Sondagens realizadas com trado
revelaram profundidades superiores a 10 m. Essas
baixadas pantanosas são constituídas quase que
exclusivamente de argilas cinzentas; são
representantes de antigas lagoas atualmente quase
completamente entulhadas ou em processo
avançado de entulhamento.
Análises de argilas de Alexandra, no município de
Paranaguá realizadas no Instituto de Biologia e
Pesquisas Tecnológicas de Curitiba, revelaram a
seguinte composição química:
Análise nº 1Análise nº 2
Perda ao rubro 10,30% 10,97%
Sílica – SiO2 56,88% 53,76%
Óxido de férrico - Fe2O3 6,72% 4,14%
Óxido de alumínio – Al2O3 25,28% 30,84%
Óxido de cálcio – CaO 1,00% 0,10%
Óxido de magnésio – MgO 1,66% 0,28%
Óxido de manganês – MnO negativo negativo
Os pantanais antigos apresentam superfície escura,
e são muitas vezes constituídos de material
turfoso. Têm na base sedimentos marinhos de
coloração clara. Esporadicamente encontramos na
região pantanosa, rios ou riachos de águas escuras
e de pouca velocidade. Essas regiões não sofrem
mais a ação das marés. As vezes observam-se
pequenas lagoas marginais aos rios e
completamente cobertas com vegetaçãotípica de
brejo; perí-perí (Cíperus princeps), etc. ao oeste do
Taboleiro, na região Matinhos-Caiobá, temos um
exemplo do entulhamento de uma lagoa pelo
aluvião terrestre proveniente das encostas do
complexo cristalino (fig. 7). Sucessivamente,
todos os depósitos marinhos são, cobertos pelos
depósitos continentais.
Os vales de restinga apresentam-se úmidos ou
pantanosos, de modo a permitir o desenvolvimento
de uma flora distinta da flora de restinga. Muitas
vezes apresentam-se largos e tem no seu interior
um riacho ou pequenas lagoas estreitas de água
doce. Quando o riacho sofre a ação das marés
temos o desenvolvimento do mangue. A ação dos
ventos contribui para o nivelamento das restingas,
preenchendo os vales com sedimentos eólicos,
entulhando esses pequenos pântanos.
VIII. DUNAS EÓLICAS
A ação dos ventos no litoral paranaense faz-se
sentir de maneira menos intensa que em outros
pontos do litoral brasileiro, quer do norte ou do
sul, onde ocorre um maior desenvolvimento das
dunas. Em excursão realizada ao Estado de Santa
Catarina, verificamos na foz do rio Araranguá, um
campo de dunas bem desenvolvidas, no qual as
dunas chegam a atingir cerca de 30 m de altura
(MAACK, 1937, p. 72-74 e mapa anexo). Dunas
menores notamos na ilha de Santa Catarina,
verificando um decréscimo de altura à medida que
avançamos para o norte onde o seu
desenvolvimento é relativamente pequeno. No
litoral paranaense e paulista, as dunas, geralmente,
não ultrapassam 7 m de altura (fig. 58).
A granulação das areias eólicas das dunas é
bastante fina e uniforme. Em diferentes análises
granulométricas, realizadas em sedimentos eólicos
de dunas, entre o Estado de São Paulo (Itanhaen) e
o Estado de Santa Catarina (Araranguá),
verificamos que a porcentagem dominante se situa
entre os diâmetros 0,125 e 0,250 mm. A
granulação mais fina é representada por maior
porcentagem de ilmenita. Notamos porcentagem
maior de grãos mais grossos nas dunas eólicas do
que nas areias das praias que lhes ficam em frente,
indicando esse fato que os grãos mais finos são
transportados a maior distância fora do campo das
Bigarella, J. J.
Brazilian Archives of Biology and Technology
80
dunas, passando os mais grossos a constituir as
dunas (fig. 21, 22 e 23).
A seguinte tabela organizada com dados de
CARVALHO (1930, p. 88) dá uma idéia da
freqüência dos ventos em Paranaguá no litoral
paranaense:
Meses Freqüência
Janeiro SSE
Fevereiro SSE
Março SE
Abril SE
Maio NNW
Junho SSE
Setembro SSE
Outubro SE
Novembro NE
Dezembro NE
Faltam dados sobre os meses de julho e agosto.
As pequenas dunas junto à praia tem a forma de
pequenos montículos que adquirem maior
desenvolvimento mais para o interior, podendo
atingir 3 ou 4 m de altura. São móveis e não
apresentam a forma característica das dunas.
Avançam sobre a restinga em forma de cunhas
(fig. 57) soterrando e asfixiando a vegetação baixa
de restinga. Geralmente são cobertas com a
vegetação das ante-dunas: Ipomoea pés caprae,
Remirea maritima, Salicornea, gramíneas,
ciperáceas, etc. (fig. 40).
Paralelamente à praia nota-se um cordão de dunas
já fixas, cuja altitude não ultrapassa de 7 m. Esta
forma ondulada na topografia da restinga é
denominada regionalmente de cômoros. Os
cômoros têm estrutura eólica típica, ainda que
muito perturbada pela inconstância dos ventos. A
figura 56 mostra a estrutura de uma duna no Pontal
do Sul. A ação dos ventos tende ao nivelamento da
planície de restinga, entulhando os vales e
desgastando os cômoros. Transforma-lhes assim, o
aspecto original.
IX. COEFICIENTE DE SELEÇÃO DOS
SEDIMENTOS DO LITORAL
PARANAENSE
Nas análises mecânicas realizadas pelo autor nos
laboratórios do Instituto de Biologia e Pesquisas
Tecnológicas de Curitiba, os diferentes tamanhos
dos grãos foram separados por um jogo de
peneiras automáticas, segundo a classificação de
Wentworth. Com os dados assim obtidos
construímos os histogramas que ilustram o
presente trabalho. Para o cálculo de Fi adotamos o
diâmetro médio das peneiras. Na transformação da
escala em milímetros para a escala Fi de Krumbein
aplicamos a seguinte fórmula:
 
2log 
Ecolg 
 Fi = ou Fi = 3.32 x colg E;
sendo E o diâmetro médio da classificação de
Wentworth.
Obtivemos aplicando esta fórmula o seguinte
resultado, dado pela tabela abaixo.
Fi
E mm Colg E Calculado Aprox.
1,5 – 0,176 – 0,390 – 0,4
0,75 0,125 0,415 0,5
0,375 0,426 1,404 1,5
0,187 0,728 2,417 2,5
0,093 1,032 3,426 3,5
0,031 1,509 5,009 5
Partindo destes dados construímos as curvas
cumulativas dos sedimentos litorâneos na escala
aritmética (fig. 26), utilizando-nos das freqüências
acumuladas da tabela seguinte:
Fi -0,4 0,5 1,5 2,5 3,5 5,0
Depósito praial A
B
0,0
0,0
0,0
0,05
0,25
24,55
67,75
96,05
99,25
99,55
100,0
100,0
Bancos de sed.
Intermediários D
0,0
0,0
0,0
4,0
2,0
11,50
57,50
38,00
95,50
82,00
100,0
100,0
Mangrovito E
F
0,0
0,0
0,0
0,0
0,05
4,00
42,75
78,00
96,00
97,00
100,0
100,0
Dunas eólicas G0,0 0,1 12,50 94,50 100,0 --
Aluvião terrestre H0,0 0,0 3,50 13,50 41,00 100,0
Antigo esporão
marinho I0,0 12,5 58,00 87,00 92,00 100,0
Do gráfico da fig. 26 extraímos os valores dos
desvios aritméticos dos quartéis na escala Fi, –
QDFi – segundo a fórmula:
2
 Q1 Q3
 DFi Q =
Para o cálculo do logaritmo da seleção (log So),
aplicamos a fórmula seguinte:
log So = log 2 x QDFi
Utilizando esta fórmula obtivemos o resultado
abaixo:
Contribuição ao estudo da planície litorânea
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81
Valores em escala Fi
Q3 Q1 Dif. Média
Log So So
A
B
2,650
2,2
1,775
1,525
0,875
0,6
0,437
0,337
0,1315
0,1014
1,354
1,263
C
D
2,95
3,25
1,92
2,02
1,03
1,23
0,515
0,615
0,1550
0,1851
1,429
1,532
E
F
3,1
2,45
2,08
1,8
1,02
0,67
0,510
0,325
0,1535
0,0978
1,424
1,253
G 2,27 1,55 0,72 0,36 0,1084 1,284
H 4,35 2,9 1,4 0,7 0,2107 1,622
I 2,07 0,8 1,27 0,63 0,1917 1,555
Sedimentação marinha:
Esporão marinho ¾ So : 1,555
Depósito praial ¾ So : 1,263 e 1,354
Sedimentação intermediária:
Bancos areno-argilosos¾ So : 1,429 e 1,532
Mangrovitos ¾ So : 1,253 e 1,424
Sedimentação terrígena:
Aluvião terrestre ¾ So : 1,662
Dunas eólicas ¾ So : 1,284
Deduzimos assim estatisticamente serem todos os
sedimentos de litoral paranaense bem
selecionados. Observa-se todavia, numa mesma
formação, seleções diferentes, naturalmente
denunciando modificações na deposição, variável
de local a local, não afetando os resultados médios
da região.
AGRADECIMENTO
Agradeço ao Dr. Marcos A. Enrietti, Diretor do
Instituto de Biologia e Pesquisas Tecnológicas de
Curitiba e ao Dr. Loureiro Fernandes, Diretor do
Museu Paranaense, as facilidades que me
concederam para viajar às regiões de interesse para
este trabalho e ao Dr. R. Maack, chefe do Serviço
de Geologia e Petrografia do I.B.P.T., a orientação
científica que deu aos estudos efetuados.
Agradeço aos profs. Dr. K. E. Caster, Dr. Paulo
Sawaya, Dr. F. K. Rawitscher e Dr. Ruy O. de
Freitas, da Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras da Universidade de São Paulo, a boa
vontade com que me auxiliaram na confecção
desta contribuição, fornecendo dados de real valor
para sua conclusão.
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Contribuição ao estudo da planície litorânea
Brazilian Archives of Biology and Technology
83
FIGURAS
1 a 58
Bigarella, J. J.
Brazilian Archives of Biology and Technology
84
Fig. 1 – Mapa geológico do litoral paranaense
Contribuição ao estudo da planície litorânea
Brazilian Archives of Biology and Technology
85
Fig. 2 – Bloco diagrama da Região Matinhos-Caiobá
fig. 3 – Perfis geológicos através da Região Matinhos-Caiobá
Bigarella, J. J.
Brazilian Archives of Biology and Technology
86
fig. 4, 5 e 6
Contribuição ao estudo da planície litorânea
Brazilian Archives of Biology and Technology
87
fig. 7 – Planta topográfica e geológica da Região Matinhos- Caiobá
Bigarella, J. J.
Brazilian Archives of Biology and Technology
88
fig. 8, 9 e 10
Contribuição ao estudo da planície litorânea
Brazilian Archives of Biology and Technology
89
fig. 11 – Levantamento topográfico-geológico da zona da praia Sul.
Bigarella, J. J.
Brazilian Archives of Biology and Technology
90
Fig. 12 – Esboço topográfico e perfil geológico da Região do Pontal do Sul – Paraná (Esc. aprox. 1 : 50.000)
Contribuição ao estudo da planície litorânea
Brazilian Archives of Biology and Technology
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Fig. 13 e 14
Bigarella, J. J.
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Fig. 15, 16 e 17
Contribuição ao estudo da planície litorânea
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Contribuição ao estudo da planície litorânea
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Fig. 27 – Vista tomada do morro de Caiobá em direção SW. Sobre a enseada de Caiobá
e baia de Guaratuba. À esquerda, o morro das Caieiras, à direita, a serra da
Prata mergulhando no oceano. Ao fundo, a Serra do Mar.
Fig. 28 – Gruta de vaga, aberta pela ação marinha em gnais atravessado por um
pequeno dique de diabásio. Encantadas, Ilha do Mel.
Bigarella, J. J.
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Fig. 29 – Sinais de ação marinha a 7 m de altitude nas rochas do Brejetuba. Na frente, à
esquerda, um grupo de medusas, atiradas à praia pelas ondas.
Fig. 30 – Sinais de ação marinha (terraço) na ponta das Caieiras, a cerca de 30 m de
altitude. Vista tomada da ilha da Pescaria, na baia de Guaratuba.
Contribuição ao estudo da planície litorânea
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Fig. 31 – Vista tomada da ilha do Farol, em direção NW. Ao fundo, o morro
Tabaraquarinha, 428 m de altitude, à direita o morro de Caiobá, 104 m. No
istmo de blocos, nota-se a presença de um dique de diabásio com a direção N
320º E magn. Adiante, matacões e trecho da Prainha.
Fig. 32 – Bloco rompido pelo contraste de temperatura – rompimento de núcleo.
Encostas do morro de Caiobá.
Bigarella, J. J.
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Fig. 33 – Erosão diferencial nas rochas da ilha do Farol, Caiobá.
Fig. 34 – Outra forma de erosão. Estas formas arredondadas, são tidas na literatura
geológica como buraco de ouriço. Estes buracos acham-se fora do alcance
das marés. Tem no seu interior restos de Balanus.
Contribuição ao estudo da planície litorânea
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Fig. 35 – Depósito praial – estratificação paralela discordante. As linhas escuras são
constituídas em sua maior parte por grãos de ilmenita, nas claras domina o
quartzo. Ilha do Mel.
Fig. 36 – Cliff aberto em sedimentos escuros de manguezal antigo (mangrovito),
atestando um avanço do mar na região da Ilha do Mel. Praia da ilha do Mel.
Bigarella, J. J.
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Fig. 37 – Pavimentação com valvas de moluscos na praia de Guaratuba. Cerca de 90%
das valvas acham-se com a concavidade voltada para baixo. Este fato indica
um lugar onde predomina a sedimentação.
Fig. 38 – Ipomoea pes caprae nas ante-dunas de Caiobá
Contribuição ao estudo da planície litorânea
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Fig. 39 – Vegetação das ante-dunas na praia do Sul. Vista tomada em direção norte. Ao
fundo, o extremo sul da Serra da Prata, à direita ainda no fundo, o morro de
Caiobá. Entre este e a serra da Prata, o terraço marinho do morro do
Brejetuba, a cerca de 30 m de altitude.
Fig. 40 – Vegetação de fixação das ante-dunas. As pequenas dunas eólicas estão sendo
fixadas por gramíneas e ciperáceas. Na parte plana domina a Remirea
maritima e a Hydrocotile umbellata. Zona do rio Barranco, Praia de Leste.
Bigarella, J. J.
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Fig. 41 – Arrebentação das vagas oceânicas sobre bancos de areia submersos. Ilha do
Mel.
Fig. 42 – Vista parcial da planície litorânea Matinhos-Caiobá, ao sul da praia de Leste.
Foto tomada do morro de Caiobá em direção NW. Ao fundo a serra da Prata,
à esquerda o morro Tabaraquarinha (428 m) e à direita o morro Escalvado
(220 m). Em primeiro plano vista parcial da praia de Caiobá.
Contribuição ao estudo da planície litorânea
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Fig. 43 – Taboleiro arenoso do Sertãozinho, Matinhos, representando um antigo esporão
marinho. Ao fundo a serra da Prata. Na frente a parte baixa pantanosa que se
estende entre os taboleiros.
Fig. 44 – Ciperáceas, liliáceas, Hibiscus tiliaceus e alguns exemplares de
Laguncularia na parte superior do curso do rio com mangue. Foto tomada
durante a baixa-mar. Rio Monte Alegre (afluente da margem esquerda do
Nhundiaquara), Antonina.
Bigarella, J. J.
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Fig. 45 – Banco areno-argiloso, emerso na baixa-mar. Ponta do Ribeiro, baia de
Guaratuba. Ao fundo, morro e ponta da Passagem.
Fig. 46 – Manguezal no rio Tabaraquara, baia de Guaratuba. Na frente bancos de lodo
seguidos de “praturá” – S. brasiliensis e do mangue propriamente dito. Entre
as espécies do mangue destacam-se pelo porte decrescente a Avicennia
tomentosa, Rhizofora Mangle, com suas raízes de sustentação e a
Laguncularia racemosa, dominante nos manguezais paranaenses.
Contribuição ao estudo da planície litorânea
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Fig. 47 – Rhizofora Mangle, com suas raízes de sustentação, sobresaindo-se da
Laguncularia racemosa,

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