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408 Arthur Bragança Previdência Privada

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Arthur Bragança de Vasconcellos Weintrauh
Prev idênc ia Privada
Doutrina e Jurisprudência
Obras 
Quartier Latin
www.quartierlatin.art.br
Direito Previdenciário - 5“ Edição 
Miguel I lorvath Júnior
NoçAei Preliminares de 
Direito Previdenciário
Wagner Balem
Com entários à Lei de 
Previdência Privada
Coordenaçíio: Wagner Batera
Curso de Direito 
Tributário Brasileiro - vol. 1 
Coordenação:
Marcus Lívio Gomes 
l.eonanh Pietro Antonelli
Curso de Direito 
Tributário Brasileiro - vol. 2 
Coordenação:
Marcus Lívio Gomes 
Leonardo Pietro Antonelli
Curso de Direito 
Tributário Brasileiro - vol. 3 
Coordenação:
Marcus Lívio Gomes 
Leonardo Pietro Antonelli
U c N i n n o Jurídico de 
Direito Previdenciário 
Volume 17 - !•' Edição
/I liguei I lorvath Júnior 
Priscila 'Panaca
Teoria Geral da Previdência Social
habio Lopes Vilela Berbel
Mamnil de Previdência Social
. li tbur Bragança de Vasconcellos Weint
Previdência Privada
Doutrina e Jurisprudência
Quartier Latin
E dito ra Q u artie r L atin do Brasil
Rua Santo Amaro, 349 - C EP 01315-001 
Vendas: Fone (11) 3101-5780 
Email: vendas@quartierlatin.art.br 
Site: www.quartierlatin.art.br
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nemorização e/ou a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema 
Ir processamento de dados. Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e à sua editoração. A 
luhiçitn dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos do Código Penal), com pena de prisão e multa, 
mui ;i r apreensão e indenizações diversas (arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais).
AK I I IUR BRAGANÇA DE VASCONCELLOS 
WEINTRAUB
Bacharel, Mestre e Doutor em Direito Previdenciário pela Facul­
dade de Direito da USP 
Pesquisador Convidado pela Faculdade de Direito de Harvard 
Professor e Advogado em São Paulo
Previdência Privada
Doutrina e Jurisprudência
Editora Quartier Latin do Brasil 
São Paulo, primavera de 2005 
quartierlatin@quartierlatin.art.br 
www.quartierlatin.art.br
íd i to ra Q uart ie r La Fin do Bras i l
Kua Sanlo Amaro, :i49 - Centro - São Paulo
Editor: Vinícius Vieira
Formado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas — FGV-SP
Editora deTexto: PriscilaTanaca
Mestranda em Direito na PUC-SP
Produção Editorial: M ônica A. Guedes 
Formada em Letras pela FFLCH- USP 
Capa: Studio Quartier - Thiago Kazuo M u n iz de Souza
W eintrauh, A rthur Bragança de Vasconcellos - Previdência 
Privada- D o u trina e Jurisprudência da - São Paulo : 
Q uartier Latin, 2005.
1. Previdenciário 2. Previdência Privada
■
í n d i c e p a r a c a tá lo g o s i s t e m á t i c o :
1. Brasil: Direito Previdenciário
2. Brasil: Previdência Privada
Contato: editora@quartiertatin.art.br 
www. quartiertatin. art. br
S u m á r io
I n t r o d u ç ã o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ............................................................ 13
1. P r e v id ê n c ia c o m p l em e n t a r pr iv a d a e
A SEGURIDADE SOCIAL ............................. .......................... . 1 5
2. Â EVOLUÇÃO DA SEGURIDADE SOCIAL ............................ 15
2 .1 . R iscos s o c ia is ...................................................................... 17
2.2 . O CONTRATO SOCIAL ........ .................................................. 18
2 .3 . O SEGURO SOCIAL................................................................ 19
2 .4 ."CONSTITUCIONALISMO SOCIAL ............................................. 24
2 .5 . O IT E O RISCO SOCIAL .................. 25
2 .6 . SOCIAL SECURITY ACT ............................................................... 31
2 .7 . O PLANO BEVERIDGE................................. .......................... 32
3. O s e g u r o s o c ia l n o B r a s i l ............ ............... . 33
3 .1 . C o n s t it u iç ã o F ed eral de 1988 .................................... 37
3.2 . P r in c íp io s c o n s t it u c io n a is d a s e g u r id a d e s o c ia l .... 39
3.3 . P r in c íp io s d a P r e v id ê n c ia S o c i a l .................................. 43
3 .4 . C u s t e io d a P r e v id ê n c ia S o c ia i........................................... 44
3 .5 . S e g u r a d o s e c o n t r ib u in t e s d a p r e v id ê n c ia s o c ia l ... 45
4 . O REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, A
REPARTIÇÃO SIMPLES E A SOLIDARIEDADE INTERGERAÇÕES .. 48
4 .1 . D if er en ç a entre repart iç ão s im ples , repa rt iç ã o d e capital de
COBERTURA E CAPITALIZAÇÃO ..... ................................................. 50
4 .2 .R eg im e de c apita liza ção esc r itura l e r eg im e de ca pita liza ç ã o
f in a n c e ir a ............................................................... ...................... 52
4 .3 .0 MUTUALISMO E A PROTOCOOPERAÇÃO ........................... 53
4.4 . M ü iu a i is m o na p k iv i i>t n < ia p r iv a d a ............................ 56
1.5. ( ) 1)11 FMA DA Kl PARIIÇAo SIMIM I.S COMO MODF.I.C)
i'KI Vii )l N( IÁRIO E A CAPITALIZAÇÃO ............................................ 57
!>. SFGURIDADE SOCIAL E DIREITOS FUNDAMENTAIS........... 63
(». CONTEXTO HISTÓRICO DA PREVIDÊNCIA PRIVADA
NO BRASIL .................. .......................... ................................. 66
7. D ife re n ç a entre previdência p rivada, previdência 
OFICIAL E SEGURO PRIVADO.................................................. 71
7.1. T er m o s " c o m p lem en t a r " e " su plem en t a r " ................... 77
Jí. C o n t e x t o ju r íd ic o atu a l da p r e v id ê n c ia
COMPLEMENTAR PRIVADA NO BRASIL ................................. 78
d. I . P r ev id ên c ia pr iva d a e o s istem a f in a n c e ir o n a c io n a l 81
d .2. A u t o n o m ia da p r ev id ên c ia p r iv a d a .............................. 84
8 .3 . F ac u ltat iv id a d e d e in g r esso n a p r ev id ên c ia pr iv a d a 86
8 .4 . T r a n spa r ên c ia n a pr ev id ên c ia p r iv a d a .......................... 86
8 .5 . S e g u r a n ç a n a pr ev id ên c ia p r iv a d a ............................... 87
8 .6 . F lex ib il id a d e n a pr ev id ên c ia p r iv a d a ............................ 89
8.7 . P art ic ipa n te e a ss ist id o da pr ev id ên c ia p r iv a d a ........ 90
9. P r e v id ê n c ia P r iv a d a a berta e f e c h a d a .................. 91
9.1. R e s s e g u r o ............................................................................ 95
9 .2 . P la n o DE BENEFÍCIO DEFINIDO.......................................... 98
9.3. PLANO DE CONTRIBUIÇÃO DEFINIDA.................................. 98
9.4 . PLANO DE CONTRIBUIÇÃO VARIÁVEL.................................. 99
9.5. E n t id a d es a b e r t a s .............................................................. 99
9 .5 .1 . S u pe r in t e n d ên c ia de seg u r o s pr iv a d o s ( S U S E P ) .. 103
9.6. PLANOS DA PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA.......................... 1 04
9.6.1 P G B L .................................................................................. 104
PCiHI. c o m p o s io ................................................................ 108
9.6.3. P G B I OF KFNDA I IXA ........................................................ 108
9.6.4. G B L so b er a n o .................................................................. 108
9.6.5. V G B L .................................................................................108
9.6.6. D erivações do P G B L e do V G B L ................................. 110
9.6.7. P A G P - P lano com atualização garantida
E PERFORMANCE................................................................................ 110
9.6.8. P R G P - P lano com rem uneração garantida
E PERFORMANCE ............................................................................... 111
9.6.9. V A G P - V ida com atualização garantida
E performance ............................................................................... 111
9.6.10. V R G P - V ida com rem uneração garantida
e perfo rm a n c e ................................................... ...................... 111
9.6.11 . T ributação do V G B L e d er iv a d o s ............................... 112
9.6.12. F A P I ................................................................................. 112
9.6.13. P lanos de previdência privada aberta estrangeira co m
participantes b r a s il e ir o s .............................................................. 116
9.7 . E n t id a d es fec h a d a s : f u n d o s de p e n s ã o ....................... 11 6
9.7.1. Estrutura das entidades fechadas................................. 119
9.7.2. Fu n d o s de pensão instituídos, o u a sso c ia t iv o s ............ 120
9.7.3. Entidades m ultipatro c inadas.......................................... 124
9.7.4. P revidência P rivada fechada e im unidade tr ibu tá r ia ... 126
9.8 . In st it u t o s d o s pla n o s d e b e n e f íc io s ............................ 128
9.8.1. Institutos d o autopatrocínio e r esg a t e ....................... 130
9.8.2. VESTINC - BENEFÍCIO PROPORCIONAL DIFERIDO.................... 131
9.8.3. Po rtabilid ad e.................................................................... 133
9.8.3.1 D ireito ACUMULADO PARA FINS DE PORTABILIDADE.......... 135
9.8.4. R e s g a t e .............................................................................. 136
9.8.5. S ú m u la n ° 289 do S T J ................................................... 138
9.8.6. S úm ula n ° 290 do S T J ................................................... 140
9.8.7. Ó rgão regulador e fiscalizador da
PREVIDÊNCIA PRIVADA....................................................................... 1 41
9.8.8. A REPRESENTAÇÃO E A DENÚNCIA........................................ 146
9 . { ( . 9 . Il II ISAM >1 S I Pi I JA I I I )AI >1 S Al >MINISI UAI IVAS Al'I l( ÁVI ll ........... I 4 8
9 .8 .1 0 . S u m i ii a n ° 291 ....................................................................... 158
10. N a t u r ez a ju r íd ic a da P r e v id ên c ia P r iv a d a ...... 16 0
10 . 1. C o n t r a t o de a d e s ã o ...................................................... I 69
I 0. I . I . fUN ÇÃO SOCIAL DO CONTRATO PREVIDENCIÁRIO PRIVADO I 70
10. 1.2 . C a r á t e r m ist o d a p r e v id ê n c ia p r iv a d a :
INS1111JCIONAL E CONTRATUAL.............. ............................................ 1 74
11. C o m p e t ê n c ia da ju s t iç a d o t r a b a lh o n a p r e v id ê n c ia
l>RIVADA... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 80
I 1.1. E n t en d im en t o a tu a l d o t r ibu n a l su pe r io r
I X I I KABALHO ............... ....................................................... . 186
I 1.2 E n t en d im e n t o a tu a l d o s u pe r io r t r ib u n a l d e ju st iç a 193
12. D ir e it o d e p r o p r ie d a d e s o b r e o s r e c u r s o s d o s p l a n o s d e
PREVIDÊNCIA PR IV A D A .............................................. 1 93
13 . A LEI COMPLEMENTAR N ° 1 0 8 .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 0 0
14 . E m e n d a c o n s t it u c io n a l n ° 4 1 , d e 19 d e d e z e m b r o d e
2 0 0 3 ................................................................. 20 5
15. ExTRAFISCALIDADE NA PREVIDÊNCIA PRIVADA .... . . . .. . 2 0 9
I 5.1 .Im u n id a d e t r ib u t á r ia das en t id ad es fec h a d a s d e pr ev id ên c ia 
PRIVADA ........................ ................... ........ ........ ...... 21 8
I 5 .2 . T r ib u t a ç ã o r eg r ess iv a n a pr ev id ên c ia p r iv a d a . . ..... 2 1 9
16. M in is t é r io d a P r e v id ê n c ia S o c ia l . . .. . . . . . . . . . . . . . . . 2 2 8
I 6 .1 . S ecretaria de p r ev id ên c ia c o m plem en t a r . .. ........... 2 2 9
17 . P a r c e r ia p ú b l ic o -p r iv a d a e p r e v id ê n c ia p r iv a d a 2 3 2
18. A P revidência P rivada dos EU A -
INFLUÊNCIA NO BRASIL................................................... . 2 4 0
18.1 . 401 (k ) ................................................................. .............. 243
1 8 .2 . 4 0 3 (b ) ......................................................................... . . 2 4 4
1 8 . 3 . 4 5 7 ..................................................................................... 245
I fi. I . I ’l /\N( >S (,H IAl II l< A l) (>S (< HJALIFIED PFNSION PLANS) ..... 245
I 8 .5. I ’i a n ( >s n Ao -q u a i.if ic a d o s
(N( )N-(.)l IAI I! II.1) PENSION PLANS) ............... .......... ........... . 2 46
I 8 .6 . O c a so E n r o n .............................. ................................ . 2 47
18.7. A P B G C ................ ....... .......................................... ......... 2 5 0
1 9 . P r e v id ê n c ia P r iv a d a n o C h il e . . . . . . ......... 2 5 4
19 .1 . A d m in ist r a d o r a s c h ilen a s de F u n d o s de P en sã o .. 2 5 6
1 9 .2 . B e n e f íc io s ........................................................... .............. 2 6 0
19.2.1. M odalidades de apo sentad o ria ....... ............................ 260
19.2.2. H erança dos valores da capitalização in d iv id u a l .... 261
19.2.3. V alor dos benefícios .................................................... 262
19.3. O MODELO CHILENO COMO PARADIGMA ............................ 262
19.4 . O D ec reto -Lei n ° 3 .500/19 80 e as r espo n sa b il id a d es das
ADMINISTRADORAS DE FUNDOS DE PENSÃO ................................ 263
2 0 . A r g e n t in a ...................................................................... 2 6 5
2 1 . U r u g u a i ........ ........................ ................ ........ ............. 2 6 9
2 2 . P a r a g u a i ............. ........................................... 2 7 0
2 3 . A c o r d o M u l t il a t e r a l d e S e g u r id a d e S o c ia l d o
M e r c o s u l .......................................................................... . 2 7 1
2 4 . P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n t a r P r iv a d a e m p e r g u n t a s e
r e s p o s t a s ...................... ................................ 2 7 2
B i b l io g r a f ia . . . .................... ................ .............................. . 291
L e g is l a ç ã o C o m p l e m e n t a r ................................................... 3 0 5
9
Dedico esta obra ao professor Wagner Balera.
I n t r o d u ç ã o
() que diferencia um plano de Previdência Com plem entar 
Privada de um mero plano de seguro privado? Esta é uma per­
gunta freqüente entre leigos e até mesmo entre conhecedores do 
Direito. Por ser uma área pouco estudada (há poucos anos estava 
completamente fora do conteúdo programático das faculdades de 
direito), a Previdência Privada, apesar de seu crescimento fremente 
no Brasil e no mundo, continua uma matéria um tanto incógnita. 
Fm outros países, como EUA e Chile, a difusão da cultura previ­
denciária é abrangente.
Paulatinamente este quadro de desprezo pela Previdência Pri­
vada vai se desvanecendo, e a sociedade assimila conceitos técni­
cos e ingressa nosistema maciçamente. O crescimento do sistema 
privado de Previdência no Brasil é auspicioso e irreversível. Nossa 
participação da poupança previdenciária privada em relação ao 
PIB é ainda irrisória se comparada a uma miríade de países. C on­
tudo, esta proporção vem aumentando, e a Previdência Privada 
brasileira dá sinais de pujança.
A resposta à pergunta de diferenciação entre planos previ­
denciários privados e singelos planos de seguros está na vincula­
ção constitucional da Previdência Privada à Seguridade Social. 
Entender esta ligação e suas conseqüências é compreender com 
amplitude o porquê de um tratam ento legal diferenciado da Pre­
vidência Com plem entar Privada.
Esta obra tem o objetivo de expor de forma ampla e aprofun­
dada o contexto do Direito Previdenciário Privado, abordando de­
talhes até hoje sequer analisados em trabalhos jurídicos.
O escopo deste livro é didático e ao mesmo tempo pragm áti­
co. O trabalho científico permite que haja uma linha pedagógica 
visando difundir o conhecimento, quanto mais numa área pouco 
estudada, como a do Direito Previdenciário Privado. M as pontos
13
de discussão jurisprudencial e elementos do cotidiano dos prolissio 
dais do 1 Jireito permeiam a obra. Dúvidas triviais cie estudantes, ad­
vogados, juizes e p rom oto res são fac ilm en te respond idas 
tompulsando-a.
1. P r e v id ê n c ia c o m p l e m e n t a r p r iv a d a e a s e g u r id a d e 
s o c ia l
A compreensão da Previdência Complementar Privada depende 
de um estudo pelo gênero Seguridade Social. Nossa sistemática consti­
tucional é muito didática de forma a conceituar e caracterizar a Previ­
dência Complementar Privada. A Previdência Privada é espécie que 
acompanha a Previdência Social. O conceito “complementar” ou “suple­
mentar” não tem mais o sentido que tinha antes (não complementa nem 
suplementa necessariamente benefícios da Previdência Social). Dentro 
da divisão da Seguridade Social (Saúde e Assistência Social) a Previdên­
cia Social é acompanhada pela chamada Previdência Complementar.
Justamente por estar inserida na rede de proteção social da 
Seguridade Social é que há toda a diferenciação da Previdência Pri­
vada em relação ao simples seguro privado. Os riscos sociais envol­
vendo o âm bito previdenciário denotam a im portância deste 
tratamento complexo.
Logo, é importante entender o nascimento da Seguridade Social 
e da resposta do Estado aos riscos sociais.
2 . A e v o l u ç ã o d a s e g u r id a d e s o c ia l
A preocupação governamental com o bem-estar dos trabalha­
dores não chega a ter dois séculos de existência. Os chamados riscos 
sociais, criados pela própria vida em sociedade, merecem resposta do 
Estado, que depende dos impostos para existir e como contrapartida 
deve estruturar a rede de proteção dos trabalhadores aos riscos que 
só alguém que vive em sociedade tem.
A vida selvagem do ser humano possui um lado de insegurança 
(ataque das feras, primitivismo, ignorância, etc), mas apresenta uma 
liberdade absoluta. A vida organizada socialmente gera, além das se- 
guranças da vida civilizada, riscos inerentes à existência das pessoas 
em sociedade. Estes eventos, futuros e incertos, são contingências
15
sociais que só existem numa aglutinação humana organizada sob a 
Xnpremacia estatal. Tais respostas a estas contingências sociais têm 
reminiseências de base securitária.
A Segurança Social está fundada em diversos elementos básicos 
<lo seguro privado, que foi de decisiva influência sobre o seguro social. 
As raízes do seguro privado remontam à Babilônia, onde mercadores 
eram encorajados a assumirem os riscos do comércio rudimentar por 
caravanas, através de empréstimos.
1'cnícios e gregos aplicavam métodos similares de assunção de 
riscos no comércio marítimo. Romanos possuíam grupos que forma­
vam seguros para funerais de seus membros.
O crescimento das cidades na Europa medieval trouxe os segu­
ros marítimos (com cláusulas de proteção contra ataques de piratas) 
e os seguros contra incêndio (Londres teve o “Grande Incêndio” de 
setembro de 1666, que destruiu parte da cidade, incluindo a Cate­
dral de São Paulo, incidente incentivador da proliferação do seguro 
contra incêndio).
O Império Inglês dos séculos XVII eXVIII estruturou um cres­
cimento difuso pela Europa do uso dos seguros nos moldes ingleses. 
Ksta influência ocorreu sobremodo no campo atuarial, estatístico e 
tle pulverização dos riscos, princípios securitários essenciais que cons- 
t i tuem o cerne da base do seguro social.
A atuaria vota-se para o fator contábil e de equilíbrio econômi- 
co financeiro, visando garantir as indenizações pelos sinistros medi­
ante o pagamento dos prêmios.
O prêmio é o desembolso do segurado, que pode ou não sofrer 
um sinistro, ou álea. Àlea em latim é literalmente “dado de jogar”. A 
situação pode ou não vir a ocorrer, e as chances de ocorrer são meno­
res estatisticamente do que seu acontecimento. A estatística serve 
para sistematizar o estudo atuarial em torno de situações arriscadas 
(.‘in que maior o risco, maior o prêmio pago.
16
A pulverização dos riscos é isto: vários indivíduos pagam o prê­
mio (mutualisino securitário) para que alguns poucos que venham a 
sofrer os sinistros possam ser indenizados. Se a maioria sofrer o si­
nistro o pagamento das indenizações pode ficar comprometido.
Feita a apresentação sumária do seguro privado, fica claro o en­
tendimento do caráter securitário do seguro social. Quem vive sobre 
a égide do Estado, pessoas “seguradas” socialmente, não possuem ele­
mentos volitivos sobre os eventos chamados de “riscos sociais” (aná­
logos ao sinistro securitário).
No estado natural, o ser humano não corre riscos sociais, como
o desemprego ou o acidente do trabalho. Perder o dedo numa prensa 
industrial não é um risco natural. É um risco que surge com a socie­
dade e seu desenvolvimento.
2 .1 . RlSCOS SOCIAIS
Segundo Paul D urand1, os riscos sociais podem ser dividi­
dos em:
- infortunísticos: surgem com um revés da sorte,,um infortúnio, 
uma desgraça, como a morte ou a invalidez;
- venturosos: manifestam-se por fatos ditosos, afortunados, fe­
lizes, como a sobrevivência da pessoa (a aposentadoria por idade é 
uma contrapartida ao fato da sobrevivência do segurado).
As contingências intrínsecas a estes eventos protegidos pelo Es­
tado são intrínsecas à vida social; sendo tarefa estatal (decisão políti­
ca) defini-las.
O homem é um ser gregário, com ímpeto genético de viver em 
sociedade, força genésica que traz então a necessidade desta organi­
zação coletiva.
1 DURAND, Paul. La política contemporânea de seguridad social. Madrid: Edita: Minis­
tério de Trabajo y Seguridad Social, 1991, p. 55.
17
() listado só existe mediante a aceitação das pessoas em acolhei' 
ííua supremacia em relação a elas. Mas o Estado deve arear com a 
responsabilidade de proteger seus cidadãos perante os riscos inerente 
ao estilo de vida que ele mesmo é responsável.
2 .2 . O CONTRATO SOCIAL
Rousseau, suíço e não francês como pensam alguns, não criou a 
idéia de contrato social, que faz parte do pensamento iluminista, sendo 
abordado nas obras de Montesquieu e Hobbes e Locke (a formação 
da sociedade depende da instituição de um governo para garantir 
alguns “direitos naturais”, como o direito à vida, à busca pela felicida­
de, a propriedade). Rousseau, porém, teve o mérito de condensar o 
pensamento sobre o assunto numa obra genial.
A visão de contrato social, para Jean-Jacques Rousseau2, mani- 
festa-se quando o ser humano, ao viver numa sociedade civilizada, 
abdica de sua liberdade natural.
No mundo selvagem, o ser humano pode matar ou agredir seus 
desafetos sem que haja retaliações estatais (mas o desafeto também 
poderá barbarizá-lo da mesma forma). Num mundo civilizado, o ser
1 ii 1 mano, ao aceitaro “contrato social”, mesmo que tacitamente, per­
de sua liberdade natural (não pode mais fazer tudo ao seu bel prazer), 
porém ganha a proteção do Estado.
Ao perder a liberdade natural, a pessoa passa a ter uma “liberda­
de civil”, ou civilizada. Ou seja, o ser civilizado possui a liberdade 
civilizada ou civil. Civilitate em latim é a formalidade de vida do ser 
urbano, que vive na cidade com urbanidade, que não é um animal.
A teoria do contrato social é esta: as pessoas têm um contrato tácito 
com o Estado abdicando da liberdade natural e ganhando a liberdade 
civil. Ambas as partes têm direitos e obrigações (sinalagmática).
The Social Contract, p. 27.
18
I Jentro dessa ótica contratual do Estado-cidadão, em que o ci­
dadão deve respeitar as leis e os desígnios estatais, e principalmente 
pagar impostos. Cabe, em contrapartida (ou contraprestação contra­
tual), ao Estado proporcionar uma existência civilizada às pessoas, 
com proteção dos riscos sociais.
Diante dos riscos sociais nascidos com a própria sociedade, o 
Estado deve ser capaz de oferecer resposta proporcional de proteção, 
i.e., a contrapartida do contrato social.
2 .3 . O SEGURO SOCIAL
O conceito de Seguridade Social se condensa na função e nas 
providências do Estado no sentido de proteger a população em de­
terminadas contingências adversas.
Esta conceituação se funda claramente em três alicerces:
- seguro social,
- proteção social e
- justiça social.
A concepção de seguro social, proteção social e de justiça social 
não eram contemporâneas a Rousseau e sua obra sobre o contrato 
social, mas os ideais iluministas cunharam as revoluções (americana 
e francesa) que mudariam o cenário mundial.
A proteção sobre determinadas contingências na vida dos tra­
balhadores (tais como acidentes do trabalho e velhice) foi se alicer­
çando a partir da Revolução Francesa, processo social e político 
(ocorrido entre 1789 e 1799) que ocasionou a queda de Luís XVI, a 
abolição da monarquia e a proclamação da República, pondo fim ao 
Antigo Regime.
A insurreição dos colonos norte-americanos contra os desman­
dos da Coroa inglesa também serviu de base para uma obrigatorie­
dade do Estado em explorar menos e proteger mais sua população.
19
jííaçíio dos EUA. Este cientista e político que participou intensa­
mente da independência americana contra a Inglaterra lembrava em 
suas obras que o país deve primar pela vida, liberdade e proteção do
I >( >v< >, e o povo tem direito constitucional à busca pela felicidade (pursue 
ofha/r/nness). A busca pela felicidade é um princípio da Declaração
i le I ndependência norte-americana. Ninguém, por este princípio, tem 
direito à felicidade. O princípio giza sim que todos têm o direito de 
buscá-la.
Noutro prisma, os abusos dos extratos sociais dominantes do 
Kstado francês (nobreza, clero e burguesia) sobre os camponeses e 
demais trabalhadores das classes populares, conjuntamente com a 
agitação intelectual estimulada pelo Iluminismo, e o exemplo da 
( bierra da Independência norte-americana, foram definitivos para a 
mudança do status quo.
A justiça social e a proteção social depende dessa quebra de blo­
queios de estamentos sociais. Se a pessoa não pode ascender social­
mente, e é tratada de forma diferente pelo Estado de acordo com seu 
extrato social, não há possibilidade de justiça nessa sociedade, tam­
pouco de proteção geral dos cidadãos.
Houve uma Assembléia Nacional Constituinte francesa e pos­
terior elaboração de uma Constituição. Na sua introdução, que foi 
denominada Declaração dos Direitos do Hom em e do Cidadão, os 
delegados formularam os ideais da Revolução, sintetizados em três 
princípios: Liberte, Egalité, Fraternité.
A partir deste movimento revolucionário que derrubou a no­
breza francesa, começaram existir lutas sociais inéditas, atinentes tam­
bém à Revolução Industrial, que culminaram na assunção pelo Estado 
de proteção de direitos conhecidos como sociais.
São direitos sociais, pois dependem da existência de uma socieda­
de organizada para existirem. São direitos dos integrantes da socieda­
de; direitos a serem garantidos pelo Estado, pelos Poderes Executivo,
I ,egislativo e. Judiciário.
A Revolução Industrial foi tão importante quanto a Revolução 
f rancesa neste aspecto, pois propiciou a aglomeração das camadas 
populares nas cidades, ensejando a mobilização destas classes. Se as 
pessoas continuassem num estilo de vida rural, as idéias de direitos 
sociais não teriam terreno fértil para medrar.
A expressão “Revolução Industrial” se refere a todas às mudan­
ças no modo de trabalho industrial ocorridas a partir dos meados do 
século XVIII, sendo a mais importante dessas alterações, ocorridas 
em primeiro lugar na Grã-Bretanha, a invenção de máquinas de pro­
dutividade superior ao trabalho manual (primeiramente máquinas 
de fiação e tecelagem).
Em situações degradantes, homens, mulheres e crianças traba­
lhavam nas novas fábricas. Haviam máquinas, mas mãos humanas 
eram necessárias para reger o maquinário.
De início, as máquinas funcionavam pela força hidráulica, pas­
sando depois a serem movidas a vapor. Newcomen inventou um mo­
delo rudimentar de máquina a vapor, mais tarde aperfeiçoada por 
James W att. Surgiram então, no séc. XIX, as estradas de ferro que 
permitiam o transporte relativamente mais rápido e econômico dos 
produtos, barateando-os.
As ferrovias possibilitaram não só o transporte de produtos, mas 
de pessoas, que mudavam de regiões como nunca na História. Era 
possível sair da zona rural e migrar para as cidades, mudando até o 
trato familiar, pois as pessoas não eram mais obrigadas a permanecer 
na mesma região a vida inteira e formar suas famílias nos microcos­
mos rurais. A população rural encolheu e, conseqüentemente, a das 
cidades aumentou de maneira volumosa.
Inovações tecnológicas, indústria predominante e ferrovia muda­
ram o padrão de sobrevivência. O fenômeno se alastrou pela Europa.
21
Concorrência industrial entre as potências emopeias (Inglaterra, 
Prússia e frança), acompanhada de uma política social que para os 
padrões da época eram os mais evoluídos, deram ensejo ao nascimento 
de uma cobertura de proteção e justiça que não tinha precedentes no 
planeta.
A Prússia foi inovadora na percepção da premência de proteção 
social. Nesta vertente industrial incipiente, a Alemanha do Chance­
lei ( Jtto von Bismarck foi o primeiro país a possuir legislação especí­
fica de proteção aos operários (iniciativa reconhecida mundialmente).
A partir de 1883, a Alemanha passou a criar formas de seguro 
estatal que protegiam os trabalhadores (seguro-doença, seguro con-
11 a acidente do trabalho, seguro em caso de invalidez e velhice).
A Inglaterra acompanhou a tendência prussiana com a criação 
de uma legislação de seguro obrigatório contra acidentes do trabalho 
cm 1897 ( Workmerís Compensation Act). Havia uma indenização do 
! i abalhador acidentado a ser paga pelo empregador mediante o prin- 
ci pio da responsabilidade objetiva.
Para chegar a este ponto, houve insurreição dos trabalhadores 
ingleses, que antes das revoltas chegavam a trabalhar 16 horas ou 
mais por dia, em locais abjetamente insalubres. Desta revolta surgiu 
o singelo estribilho:
“eight hours to work
cight hours to play
eight hours to sleep
eight shi/lings a day”
A luta era por oito horas diárias de trabalho, oito de recreação e 
afazeres pessoais, oito de sono e oito shillings (moeda antiga inglesa 
que eqüivalia a 1/20 de libra).
É importante possuirmos uma acepção precisa do que se enten­
de por trabalho após a criação de concepção de direitos sociais:
22
“No sentido econômico c jurídico, porém, trabalho não é 
simplesmente tomado nesta acepção física: é toda ação, ou 
todo esforço, ou todo desenvolvimento ordenado de ener­
gias do homem, sejam psíquicas, ou sejam corporais,dirigidas com um fim econômico, isto é, para produzir uma 
riqueza, ou uma utilidade, suscetível de uma avaliação, ou 
apreciação monetária. Assim, qualquer que seja a sua natu­
reza, e qualquer que seja o esforço que o produz, o trabalho 
se reputa sempre um bem de ordem econômica, juridica­
mente protegido.
Por esta razão, indicando o trabalho uma atividade produ­
tiva, qualquer fato capaz de injustamente impedi-lo, ou que 
seja causa de uma inatividade, de que resulte prejuízo, ou 
perda, para o trabalhador, dá motivo à justa indenização.
No cômputo dessa indenização, pois, o trabalho é compre­
endido como qualquer espécie de atividade, de que se possa 
gerar um utilidade, ou um bem econômico”3.
Esta definição do Direito Laborai nos mostra o trabalho como 
elemento social a ser protegido.
Mas não só o trabalho, como as contingências que impossibi- 
litem -no devem ser objeto de seguro social. Em 1908, o chamado 
OldAge Pension A c t possibilitou a criação de pensões para os maio­
res de 70 anos na Inglaterra. Finalmente, em 1911 o National Insu­
rance Act determ inou a aplicação de um sistema de cobertura de 
invalidez, doença e velhice.
Legislação semelhante surgiu em 1898, na França, com a cria­
ção da assistência à velhice e aos acidentes do trabalho; mudança que 
envolvia os mesmos aspectos protetivos dos direitos dos trabalhado­
res da Alemanha e Inglaterra.
3 MARANHÃO, Délio, et al. Direito do trabalho. 17a edição, São Paulo: Editora FGV, 
1993, p 16.
23
2 .4 . CONSTITUCIONALISMO SOCIAL
A tendência de idéias de proteção social se alastrou pela Europa 
e pelo mundo, causando o chamado constitucionalismo social, pois 
ias inovações em prol dos cidadãos começaram a serem inseridas nos 
corpos das Constituições, ao invés de somente em leis esparsas. Es­
tas Constituições determinavam a garantia pelo Estado de proteção 
das pessoas diante de riscos sociais característicos.
F um erro pensar que o fenômeno do constitucionalismo social 
se limitou à Europa. A primeira Constituição que conteve normas a 
respeito de um seguro social foi a mexicana (de 31 de janeiro de 
1 91 7 ).
A previsão da Constituição mexicana sobre seguridade social, 
inciso XXIX, a, do art. 1234, foi direta:
“Considera-se de utilidade piiblica a expedição da lei do seguro 
social, que com preenderá seguros de invalidez, de vida, de cessa­
ção involuntária do trabalho, de doença e acidentes e outros segu­
ros com fins análogos”.
Em seguida temos a Constituição de Weimar (de 11 de agosto 
de 1919).
A seguridade também permeou a Constituição de Weimar, no 
art. 1615:
“A U nião criará, com o concurso adequado dos segurados, um 
sistem a global de seguros para a conservação da saúde e da capa­
cidade de trabalho, a proteção da m aternidade e a previdência 
contra faltas econôm icas na velhice, na enferm idade e nas vicis- 
situdes da vida”.
I BUDIB, Alexandre Carlos. Benefícios de assistência social. Dissertaçao de mestrado da
PUC, defendida em 20 de dezembro de 2004, p, 20.
'> BUDIB, Alexandre Carlos. Benefícios de assistência social. Dissertação de mestrado da
PUC, defendida em 20 de dezembro de 2004, p. 21.
24
2.5. OIT E O RISCO SOCIAL
O Tratado de Versailles, de 1919, ensejou a criação da Organi­
zação Internacional do Trabalho, entidade de foro internacional (vin­
culada à O N U) de discussão de temas de proteção social, seguridade 
social e, principalmente, de emprego e de trabalho humano.
O surgimento da O IT se deu em razão das manifestações dos 
operários e das reivindicações feitas em diversos congressos de la- 
voratores que pleiteavam melhores níveis de qualidade de vida e de 
saúde.
Todo o contexto que originou a O IT pode ser resumido nas pala­
vras de Amauri Mascaro Nascimento: “a Primeira Guerra Mundial 
produziu profundas modificações na posição e no peso da classe traba­
lhadora das potências aliadas. A trégua social e cooperação que se esta­
beleceu na Europa ocidental entre os dirigentes sindicais e os 
governantes, os grandes sacrifícios suportados especialmente pelos tra­
balhadores e o papel que desempenharam no desenlace do conflito, as 
promessas dos homens políticos de criarem um mundo novo, a pressão 
das organizações obreiras para fazer com que o Tratado de Versalhes 
consagrasse as suas aspirações de uma vida melhor, as preocupações 
suscitadas pela agitação social e as situações revolucionárias existentes 
em vários países, a influência exercida pela Revolução Russa de 1917, 
foram fatores que deram peso especial às reivindicações do mundo do 
trabalho no momento das negociações do tratado de paz. Estas reivin­
dicações expressaram-se, tanto em ambos os lados do Atlântico como 
em ambos os lados da linha de combate, inclusive durante os anos de 
conflito mundial. Ao final da guerra, os governos aliados, e principal­
mente os governos francês e britânico, elaboraram projetos destinados 
a estabelecer, mediante o tratado de paz uma regulamentação interna­
cional do trabalho”6.
6 NASCIMENTO. Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 25a Edição, São 
Paulo, Editora LTr. 1999. Pág. 133.
25
A Organização Internacional do Trabalho congrega, em estru­
tura t ripartite, governos, empregadores e trabalhadores, sendo a mais 
antiga entidade especializada da ONU.
0 Brasil é membro fundador e um dos dez membros perma­
nentes do Conselho de Administração da Organização Internacio­
nal do Trabalho, além de ser o País com a décima maior contribuição 
orçamentária da Organização (mais alta entre os países em desen­
volvimento). A O IT é uma instituição de caráter universal, contan­
do, até 1998, com 174 Estados-Membros.
Na sedimentação da proteção do emprego e dos trabalhadores 
em geral (segurança social) a Organização Internacional do Traba­
lh o vem atuando desde 1919 intensamente, por meio de suas Con­
venções, Recomendações e outras diretrizes.
Dentre as diretrizes da O IT que influenciam no campo da Pre­
vidência como um todo está o norteamento do meio ambiente do
i rabalho. O direito ambiental do trabalho apesar de ser um direito 
novo, já ocupa um espaço de relevância quando trata da qualidade de 
vida no ambiente de trabalho, hoje, buscada por muitos.
A tutela jurídica do direito ambiental vai desde a qualidade do 
ambiente físico interno e externo do local de trabalho, até as relações 
1111 erpessoais e a saúde física e mental do trabalhador.
Tudo isto influencia no risco social, sobre a insalubridade, pe- 
nosidade e periculosidade no ambiente laborai.
A conceituação de meio ambiente se torna dificultosa ante a sua 
extensão, já que envolve a vida em todas as suas formas, conforme a 
definição do Professor José Afonso da Silva, in verbis:“(...) interação do 
conjunto de elementos naturais, artificiais, e culturais que propiciem o 
desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas.”7
SILVA. José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 2a Edição., São Paulo. Editora 
Malheiros. 1997. Pág. 02.
26
Observemos que se trata de “um conceito jurídico indetermina­
do, que, propositalmente colocado pelo legislador, visa criar um es­
paço positivo de incidência da norma, ou seja, ao revés, se houvesse 
uma definição precisa do que seja meio ambiente, numerosas situa­
ções, que normalmente seriam inseridas na órbita do conceito de 
meio ambiente, poderiam deixar de sê-lo, pela eventual criação de 
um espaço negativo inerente a qualquer definição.”8
Em nossa Constituição o meio ambiente foi tratado por meio 
do art. 225 que assim dispõe, in verbis'. “Todos têm direito ao meio 
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e 
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à 
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e 
futuras gerações."(destaque nosso)
Quando o art. 225 estipula o meio ambiente como “essencialà 
sadia qualidade de vida”, eleva, conseqüentemente, um dos pilares da 
Constituição da República estatuído no artigo I o, III, ou seja, a Digni­
dade da Pessoa Humana (vida).
E importante destacar que o direito ao meio ambiente equili­
brado constitui um direito fundamental da pessoa humana, mesmo 
que o legislador não o tenha configurado de forma expressa entre os 
referidos no artigo 5o da Constituição da República, uma vez que 
objetiva à sadia qualidade devida, e em suma, visa assegurar o direito 
fundamental que é a vida.9
A preocupação e a relação da O IT com M eio Ambiente do Tra­
balho e riscos sociais vem desde o próprio nascedouro da Organiza­
ção, ou seja, em 06 de maio de 1919, Pacto da Sociedade das Nações, 
parte XIII, artigos 387 a 487 do Tratado de Versailles.
8 FIORILLO. Celso Antonio Pacheco, ABELHA RODRIGUES. Marcelo e ANDRADE NERY. 
Rosa Maria. Direito Processual Ambiental B rasile iro^ 3 Edição., Belo Horizonte. Edi­
tora Del Rey, 1996. Pág. 31.
9 ROSSIT. Liliana Allodi. O Meio Ambiente De Trabalho No Direito Ambiental Brasileiro. 
01a Edição., São Paulo. Editora LTr. 2001. Pág. 55.
27
Km 1944, a Organização Internacional do Trabalho em sua 26;l 
Sessão de Conferência aprovou a “Declaração Referente aos Fins e 
( Jbjetiyos da O IT ”, sendo mais conhecida como a “Declaração da 
Kiladçlfia”, nome dado em razão do local da conferência que ocorreu 
na cidade americana de Filadélfia.
A “Declaração da Filadélfia” ratificou e ampliou os preceitos 
constantes no Tratado de Versalhes, aglutinando novos objetivos da 
“segurança social e das quatro liberdades de Roosevelt, que todos os 
seres humanos, sem distinção de raça, crença ou sexo, têm direito de 
procurar seu bem-estar material e seu desenvolvimento espiritual em 
condições de liberdade, de segurança econômica e em igualdade de 
oportunidades.”10
Estabelece o art. 3o da Declaração da Filadélfia preceitos ati- 
ncntes à dignidade humana e sua proteção social, reconhecendo a 
obrigação da O IT em fomentar programas que alcancem:
“i) plenitude do em prego e a elevação dos níveis de vida.
ii) o em prego de trab a lhado res nas ocupações em que p o s­
sam te r a satisfação de dar a m ais am pla m ed ida de duas h a ­
b ilidades e de oferecer sua m aior con tribu ição ao b e m -e s ta r 
com um .
iii) oferecimento, como meio para lograr esse fim de garantias ade­
quadas para todos os interessados, de possibilidades de formação 
profissional e a transferência de trabalhadores, incluindo as m i­
grações de m ão-de-obra e de colonos.
iv) a adoção, em m atéria de salários e rendim entos, duração do 
trabalho e outras condições de trabalho, de medidas destinadas a 
garantir, a todos, um a justa participação nos frutos do progresso e 
um salário m ínim o vital para todos os que tenham um emprego e 
necessitem de tal proteção.
Iii SUSSEKIND. Arnaldo. MARANHÃO. Délio. VIANNA. Segadas. TEIXEIRA. Lima. Insti­
tuições de Direito do Trabalho. 19a Edição. São Paulo. Editora. LTr. 2000. Pág. 1465.
28
v) o reconhecimento efetivo do direito à negociações coletivas; a 
cooperação de empresas e de trabalhadores para m elhorar conti­
nuam ente a eficiência da produção; e a colaboração de trabalha­
dores e empregadores na preparação e aplicação de medidas soci­
ais e econômicas.
vi) a extensão das medidas de seguridade social para prover um 
rendim ento básico aos que necessitem de tal proteção e assistên­
cia médica completa.
vii) a proteção adequada à vida e à saúde dos trabalhadores, em 
todas as ocupações.
viii) a proteção à infância e à m aternidade.
ix) a facilidade de alimentos, habitação, recreio e cultura adequados.
x) a garantia de iguais oportunidades educativas e profissionais.”
A O IT enfoca de forma basilar a proteção da saúde e da vida 
dos trabalhadores, proteção contra os acidentes do trabalho e doen­
ças profissionais, melhoria das condições do meio ambiente do tra­
balho de forma a elevar o bem-estar social segundo o princípio da 
dignidade humana.
Conforme estabelece o artigo 19 da Constituição da OIT, as 
Convenções e Recomendações adotadas serão transmitidas aos Es- 
tados-Membros, devendo estes examiná-las e verificar a possibilida­
de de ratificação das Convenções e a instrumentalização de meios 
efetivos, seja legislação ordinária ou outra forma de efetivar os pre­
ceitos que constam nas Recomendações.
As Convenções da O IT são leis internacionais, obrigando somente 
os Estados-Membros a se sujeitarem às normas após a ratificação. As 
Recomendações são sugestões de normas que eventualmente podem 
ser adotadas.
No Brasil, compete ao Congresso Nacional (competência exclu­
siva) resolver definitivamente sobre as Convenções Internacionais (art. 
49 ,1, da Constituição Federal de 1988). Aprovada a Convenção, há a
29
expedição pelo Congresso Nacional de um Decreto Legislativo, para 
qúe o Presidente da República promova a sua ratificação, entrando em 
vigor internamente um ano após a data de sua ratificação formal perante 
a Repartição Internacional do Trabalho da O IT Para Sussekind, existe 
"interdependência entre a ordem jurídica internacional e a nacional, de 
modo que a ratificação do tratado importa na incorporação automática 
de suas normas à respectiva legislação interna.”11
Eis as principais Convenções da O IT que tratam sobre o tema 
saúde e meio ambiente do trabalho, in verbis:
a) Convenção n° 103. Amparo à Maternidade. Vigência no Brasil 
desde 18/06/1966. Promulgada pelo Decreto n° 58.820/66.
b) Convenção n° 115. Proteção Contra as Radiações Ionizantes. 
Vigência no Brasil desde 05/09/1967. Promulgada pelo Decreto n° 
62.151/68.
c) Convenção n° 136. Proteção Contra os Riscos de Intoxicação 
provocadas pelo Benzeno. Vigência no Brasil desde 24/03/1994. Pro­
mulgada pelo Decreto n° 1.253/94.
d) Convenção n° 139. Prevenção e Controle de Riscos Profissio­
nais Causadas pelas Substâncias ou Agentes Cancerígenos. Vigência 
no Brasil desde 27/06/1991. Promulgada pelo Decreto n° 157/91.
e) Convenção n° 152. Segurança e Higiene nos Trabalhos Por­
tuários. Vigência no Brasil desde 17/05/1991. Promulgada pelo De­
creto n° 99.534/90.
f) Convenção n° 159. Reabilitação Profissional e Emprego de 
Pessoas Deficientes. Vigência no Brasil desde 18/05/1961. Promul­
gada pelo Decreto n° 129/91.
g) Convenção n° 162. Utilização do Asbesto com Segurança. Vigên­
cia no Brasil desde 18/05/1991. Promulgada pelo Decreto n° 126/91.
SUSSEKIND. Arnaldo. Convenções da OIT.02a Edição. São Paulo. Editora Ltr, 1998.
Pág. 35.
30
h) Convenção n° 167. Segurança e Saúde na Construção. Ainda 
não ratificada pelo Brasil.
i) Convenção n° 171. Trabalho Noturno. Ainda não ratificada 
pelo Brasil.
j) Convenção n° 174. Prevenção dos Grandes Acidentes Indus­
triais. Ainda não ratificada pelo Brasil.
k) Convenção n° 176. Segurança e Saúde nas Minas. Ainda não 
ratificada pelo Brasil.
2 .6 . SOCIAL SECURITY ACT
Dentro do processo de aprimoramento dos instrumentos de pro­
teção social temos uma pedra angular: o Social Security Act.
Depois da Primeira Guerra Mundial, a noção de seguro social 
passou a se definir mais robustamente também num âmbito previ­
denciário (onde a contingência ou risco social era a impossibilidade 
de trabalhar por fatores como a velhice ou a invalidez).
O divisor de águas do surgimento da idéia de Previdência Social 
foi o programa político do New Deal, criado pelo presidente norte- 
americano Franklin Delano Roosevelt, que fundamentou a idéia de 
Estado do Bem-Estar Social ( Welfare State), com o escopo de miti­
gar as agruras que o povo americano vinha sofrendo desde a crise da 
quebra da Bolsa de Valores de 1929.
Na retomada econômica do Estado norte-americano, houve a iniciati­
va governamental de intervir em prol da população. Em 14 de agosto de 
1935 foi criado o Social Security Act (que está em vigoraté hoje), que tem 
seu escopo sintetizado em seu preâmbulo (numa tradução livre)72:
12 Preâmbulo: "An act to provide for the general welfare by establishing a system of Federal 
old-age benefits, and by enabling the several States to make more adequate provision for 
aged persons, blind persons, dependent and crippled children, maternal and child welfare, 
public health, and the administration of their unemployment compensation laws; to 
establish a Social Security Board; to raise revenue; and for other purposes''.
31
“Um ato para prover o bem-estar geral, estabelecendo um 
sistema de benefícios federais para pessoas idosas, e permi­
tindo aos vários Estados fazerem a provisão mais adequada 
para pessoas de idade, pessoas cegas, crianças necessitadas ou 
aleijadas, bem-estar maternal e da criança, saúde pública, e a 
administração das leis de compensação de desemprego; para 
estabelecer uma Tábua de Seguridade Social; elevar renda; e 
para outros propósitos”.
A Seção 210 do Social Security Act delimita a idade de sessenta e 
cinco anos para qualificação como idoso.
O objetivo de distribuir riqueza entre os velhos (sofriam mais 
que a maioria com a Grande Depressão) era tam bém perm itir que 
a distribuição de renda gerasse fluxo de mercado, reativando a 
economia.
Não havia inicialmente a preocupação de equilíbrio financeiro 
ou atuarial do regime de repartição do Social Security. Epítome dis- 
lo é o primeiro benefício mensal de aposentadoria concedido pelo 
Social Security, em 1940, para Ida May Fuller, do Estado de Ver- 
mont. Ida Fuller contribuiu para o sistema por três anos, totalizan­
do USS 24,75 em tributos pagos. Sua renda inicial mensal era de
l ISS 22,54, e ao tempo de sua morte, em 1975, com a idade de 100 
anos ela havia recebido quase US$ 23.000 em benefícios, segundo 
dados do Congresso dos EUA13.
2 .7 . O PLANO BEVERIDGE
Qualquer estudo sobre a história da Seguridade Social passa pela 
análise do Plano Beveridge, de 1941.
Este plano serviu de inspiração para que o governo inglês criasse 
em 1946 um sistema abrangente de proteção social.
I I Disponível em http:llwww.conginst.orglsocialsecuritylq&al. Acesso em 17 de novem­
bro de 2004.
32
Confúcio, que viveu de 551 a 479 A.C., já dizia que o Império 
Chinês fornecia pensões a órfãos, viúvos, viúvas e “velhos sem filhos”14.
O conceito de dar guarida aos necessitados é antigo.
A inovação de Sir W illian Beveridge (advogado e economis­
ta, filho de juiz, nascido em Bengala, na índia, em 1879) que o fez 
adquirir notoriedade no campo previdenciário foi o fato de ter 
propugnado um sistema de Seguridade Social provedor de um 
padrão mínimo de sobrevivência, abaixo do qual ninguém (uni­
versalidade) deveria ser submetido (below which no one should be 
allowed lo fa ll)15.
O padrão mínimo proposto por Beveridge tinha o mote from the 
cradle to the grave (do berço ao túmulo). Posteriormente, com a cober­
tura securitária das gestantes, este mote transformou-se na rima from 
womb to tomb (do útero ao túmulo).
3 . O SEGURO SOCIAL NO BRASIL
O arquétipo de contrapartida do Estado em referência ao 
risco social e ao seguro social pende para a figura da aposenta­
doria (o indivíduo se aposentando após anos de trabalho), mas 
temos que lembrar que há elementos conexos, como benefícios 
por morte, prisão, desemprego ou maternidade, que suplantam a idéia 
de aposentação.
Como o próprio artigo XXII da Declaração dos Direitos H u ­
manos (1948) estipula, “toda pessoa, como membro da sociedade, 
tem direito à segurança social”. O cerne desta segurança é a dignida­
de da pessoa humana, dignidade a persistir em eventos de morte, 
invalidez, velhice e gestação.
14 GRAHAM, Brash. The sayings of confudus. Singapura: Heian International, 1983, p. 
28.
15 ALTMEYER, Arthur J.. The formative years of social security. Madison: University of 
Wisconsin Press, 1966, p. 56.
33
No Brasil, a primeira linha de proteção tia legislação ligada a 
rudimentos de Seguridade Social ocorreu na Constituição de 1824, 
quo no art. 179 dispunha dos “socorros públicos”.
A Constituição de 1891, no art. 75, determinava que a aposen­
tadoria dos funcionários públicos era dada em casos de invalidez no 
serviço da Nação. Ao próprio Imperador D. Pedro II era prevista, no 
art. 7 das Disposições Transitórias, a percepção de uma pensão, con­
tada a partir da proclamação da República.
I n formação bem difundida na doutrina previdenciária, a norma 
que primeiro implementou no Brasil os primeiros rudimentos de Pre­
vidência Social foi a Lei Eloy Chaves (Decreto n° 4.682/23).
Nesta época foram criadas as Caixas de Aposentadorias e Pen­
sões para os ferroviários, de alcance nacional.
Eloy de M iranda Chaves, deputado paulista do PRP, sob gran­
de influência daquilo que vislumbrou do aparato ferroviário argenti­
no (a Argentina desta época era um dos países mais desenvolvidos 
do mundo, a despeito do que se tornou) e das vicissitudes dos traba­
lhadores envolvidos, apresentou projeto de lei que resultou no D e­
creto n° 4.682/23.
Contudo, a fonte inspiradora não foi somente o arcabouço fer­
roviário argentino, mas sim um modelo de proteção inglesa aos pro­
fissionais do transporte (Eloy de Miranda Chaves viajou muito por 
estes países observando modelos a serem seguidos).
Posteriormente, ficou estabelecido, por meio da Emenda Cons- 
titucional de 3 de setembro de 1926, no § 29 do art. 54, que o Con­
gresso Nacional poderia:
“legislar sobre licença, aposentadoria e reformas, não se podendo 
conceder, nem alterar, por Leis especiais”.
O Decreto Legislativo n° 5.109/26 estendeu benefícios da Lei 
Kloy Chaves aos empregados portuários e marítimos.
34
Nesses tempos o Brasil era eminentemente agrário, havendo pou-
i as categorias profissionais que tivessem uma coalizão suficiente para 
se amoldar a alguma previsão de aposentadoria.
As categorias amparadas pelos benefícios previdenciários eram 
típicas do escoamento da produção agrícola (café): trabalhadores 
ferroviários, portuários e marítimos, e estes trabalhadores eram, na 
maioria, italianos imigrantes ou descendentes, mais politizados que 
seus pares brasileiros nativos.
A Lei Eloy Chaves criava caixas de aposentadorias e pensões 
para empregados daqueles grupos mencionados. A expressão “caixa” 
é emblemática, pois cria a idéia de um cofre acumulativo para pagar 
as aposentadorias e pensões.
Países da América Latina utilizaram e alguns (como o Para­
guai) utilizam ainda hoje o termo cajas no contexto previdenciário de 
divisão por grupos de trabalhadores.
Em 1928, a Lei n° 5.485 enquadrou no regime da Lei Eloy Cha­
ves os trabalhadores dos serviços telegráficos e radiotelegráficos.
Dos anos de 1930 e até o início dos anos 40, o sistema previden­
ciário passou a ser pautado por regimes de categorias profissionais, 
não havendo mais uma estruturação por empresa, acabando com o 
ideário das caixas. Os IAPs (Institutos de Aposentadorias e Pensões) 
substituíram as caixas de pensões, e eram constituídos por autarquias 
federais. Tais institutos aglutinavam os trabalhadores por categorias 
profissionais, sendo que os principais IAPs a serem citados foram:
- dos marítimos (IAPM), referente ao Decreto n° 22.827/1933;
- dos comerciários (IAPC), referente ao Decreto n° 24.273/1934;
- dos bancários (IAPB), referente ao Decreto n° 24.615/1934;
- dos industriários (IAPI), referente à Lei n° 367/1936;
- dos servidores do Estado (União) (IPASE), referente ao Decre- 
to-Lei n° 288/1938;
35
dos empregados em transportes e cargas (1APKTC), referente 
ao I Jecreto-Lei n° 651/1938.
O texto da Constituição de 1934 passou a estabelecer (art. 121, §
I °, “h”) a forma tríplice de custeio previdenciário (ente público, empre­
gado e empregador, mediante contribuição obrigatória).
A primeira utilização constitucional do termo“Previdência” ocor­
reu no texto desta Constituição de 1934, apesar de não vir associada à 
palavra “Social”.
Na Constituição de 1937 houve uma regressão terminológica, onde 
a expressão “Previdência” foi suprimida pela expressão “seguro social”. 
( 'omo a participação do Estado no custeio do sistema não foi definida 
constitucionalmente, houve óbice na efetivação dos direitos sociais que 
estavam previstos.
A Constituição de 1946 trouxe elementos evidentes de uma sis­
tematização constitucional da matéria previdenciária, apesar de inclu­
ída no mesmo art. 157 que versava sobre o Direito do Trabalho; ou 
seja, havia um amálgama obscuro entre o contexto do trabalho e o 
previdenciário.
Apesar da falta de autonomia sistemática, foi justamente na Cons-
I ituição de 1946 onde pela primeira vez se utilizou constitucionalmente 
no Brasil a expressão “Previdência Social” (com a supressão da expres­
são “seguro social”). A forma tripartite de custeio e a criação do seguro 
contra acidente do trabalho são marcas desta Constituição.
Não houve alterações relevantes em relação à matéria de Segu­
ridade Social ou previdenciária na Constituição de 1967, assim como 
na Emenda Constitucional n° 1, de 1969/ onde se fez praticamente 
uma reiteração do texto constitucional de 1946.
Infraconstitucionalmente, o marco legislativo no direito previ­
denciário consiste na Lei Orgânica da Previdência Social - LOPS -
I e i n° 3.807/60 - que unificou, consolidou e modificou a legislação 
previdenciária, padronizado os procedimentos administrativos.
A I e i Orgânica da Previdência Social - LOPS - Lei Comple­
mentar n° 3.807/60 se caracterizou pela natureza orgânica geral, que 
historicamente dividiu o modelo normativo brasileiro, até aquele 
momento regrado pelas leis particulares dos institutos de aposenta­
dorias e pensões das diferentes categorias profissionais. A unificação 
dos benefícios adveio com a LOPS, elidindo desigualdades entre os 
segurados.
Ocorreu então a consolidação das leis da Previdência Social, com 
a reunião das normas extravagantes no corpo da Lei Orgânica da 
Previdência Social.
Logo após foi criado o INPS - Instituto Nacional de Previ­
dência Social, unificando quase todos os institutos previdenciários 
na administração do Estado (com exceção dos institutos dos ferro­
viários e servidores públicos, dos economiários das caixas econô­
micas federais, e dos servidores públicos federais).
3 .1 . C o n s t it u iç ã o F ed er a l d e 1 9 8 8
A inclusão da Previdência Social no quadro da Seguridade So­
cial brasileira aconteceu com a promulgação da Carta Magna de 1988, 
sendo feita a divisão dos subsistemas de Assistência Social, Saúde e 
Previdência Social.
Atualmente, a Previdência Social está regrada nos art.s 201 e 
202 (Previdência Privada) da Constituição Federal.
No campo infraconstitucional, vigoram as Leis n° 8.212/91 
(ligada ao custeio da Seguridade Social) e n° 8.213/91 (que trata 
dos benefícios), e o Decreto n° 3.048/99 (regulamento da Previ­
dência Social).
A principal alteração constitucional ligada à Previdência Social 
consistiu na Emenda Constitucional n° 20, de 15 de dezembro de 
1998, que modificou o sistema previdenciário: o tempo de serviço 
deixou de existir, suprimido pelo tempo de contribuição, pondo fim
37
I
ao modo desequilibrado de financiamento das aposentadorias pelo 
sistema de repartição.
O art. 194 da Constituição de 1988 enquadra a Previdência Social 
dentro do Capítulo da Seguridade Social. Assim, Previdência Social, 
Assistência Social e Saúde formam a Seguridade Social brasileira.
Wagner Balera16 ensina que “a tríplice finalidade do sistema de 
seguridade social brasileiro se configura em diversas vertentes”. Uma 
destas vertentes (acompanhada pelo Regime Geral da Previdência 
Soeial-INSS e pelo Regime Jurídico Único-regime próprio dos fun­
cionários públicos) é o regime privado complementar. Para o Profes­
sor Wagner Balera, todas estas vertentes estão subordinadas aos 
princípios da Seguridade Social (art. 194 da Constituição).
W ladimir Novaes M artinez17 também aponta esta relação en­
tre o Regime Geral da Previdência Social (Previdência básica gerida 
pelo INSS - Instituto Nacional do Seguro Social) e a Previdência 
Complementar Privada, confirmando o que foi dito.
Com referência à Previdência Social, que não se confunde com 
a privada, dispõe o art. 201 da Constituição (caput com redação dada 
pela Emenda Constitucional n° 20, de 15.12.1998):
“a previdência social será organizada sob a forma de regim e geral, 
de caráter con tributivo e de filiação obrigatória, observados cri­
térios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atende­
rá, nos term os da lei, a:
I- cobertura dos eventos de doença, invalidez, m orte e de idade 
avançada;
I I - proteção à m aternidade, especialmente à gestante;
I I I - p ro te ção ao trab a lh a d o r em situação de desem prego 
involuntário;
16 BALERA, Wagner. Sistema de seguridade social. 2a ed., São Paulo: LTr, 2002, p.13.
!7 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de Direito Previdenciário: Previdência Comple­
mentar. 2a edição. São Paulo: Editora LTr, 2002, p. 175.
38
IV salário-íam ília e auxílio-reclusão para os dependentes dos se­
gurados de baixa renda;
V - pensão por m orte do segurado, hom em ou mulher, ao cônjuge 
ou com panheiro e dependentes” (destaques nossos).
Devemos observar a ligação inerente entre a Previdência Social 
e o Regime Geral da Previdência Social. O RGPS - Regime Geral 
da Previdência Social - é a forma de organização da Previdência So­
cial. Quando falamos de Previdência Social brasileira, em termos 
constitucionais, estamos tratando do RGPS.
O caráter contributivo e o equilíbrio financeiro e atuarial im­
postos pela Emenda Constitucional n° 20 findaram a mixórdia fi­
nanceira de concessão de benefícios a esmo sem fonte prévia de custeio 
(a famosa “cortesia com chapéu alheio”).
No Brasil se criavam benefícios sem fonte prévia de custeio, 
muitas vezes para fins de dividendos políticos.
Diante de um desequilíbrio brutal das contas do INSS, houve a 
reforma previdenciária com a previsão de equilíbrio financeiro e atu­
arial obrigatório. A mudança do regime de aposentadoria brasileira 
aflui para este equilíbrio, pois passou, com a Emenda Constitucional 
n° 20, a depender do tempo de contribuição e não de serviço.
3 .2 . PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE SOCIAL
Como a Previdência Privada está constitucionalmente vincula­
da ao gênero Seguridade Social (art. 194 da Carta Magna), cabe aqui 
apontar um princípios securitários gerais. Tais princípios, na falta de 
previsão contratual específica, podem ser evocados.
Para Sergio Pinto M artins18, “Direito da Seguridade Social é 
um conjunto de princípios, de regras e de instituições destinado a 
estabelecer um sistema de proteção social aos indivíduos contra
18 MARTINS, Sergio Pinto. Direito da seguridade social. 17a ed, São Paulo: Atlas, 2002, p.44.
39
contingências que os impeça de prover as suas necessidades pessoais 
básicas e de suas famílias, integrado por ações de iniciativa do Pode­
res Públicos e da sociedade, visando assegurar os direitos relativos à 
saúde, à previdência e à assistência social”.
O art. 194 da Constituição Federal de 1988 indica os escopos 
de organização da Seguridade Social:
I-universalidade da cobertura e do atendim ento
O entendimento da universalidade em relação à Assistência 
Social e à Saúde é simples. Entretanto, temos que subdividir a uni­
versalidade para aplicá-la à Previdência Social. Desdobra-se, portan­
to, a universalidade em subjetiva (referente a toda população), e 
objetiva (pautada nas contingências legais). Assim, existe universali­
dade objetiva de cobertura e atendimento previdenciários dos segu­
rados e seus dependentes.
II-uniform idade e de equivalênciados benefícios e serviços às 
populações urbanas e rurais
Esse princípio decorre da própria isonomia. Não deve haver di­
ferenciação imotivada entre os trabalhadores urbanos e rurais.
III-seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e 
serviços
Nenhum recurso financeiro é ilimitado. Em verdade, os recur­
sos no contexto previdenciário estão escassos e deficitários. Dessa 
maneira, os gastos deveriam ser baseados num regime de prioridades 
na sua distribuição. Quem precisa mais, recebe mais.
IV -irredutibilidade do valor dos benefícios
O inciso XV do art. 37, e o inciso VI do art. 7 , ambos da Cons- 
tituição Federal, asseguram, respectivamente, a irredutibilidade de 
subsídios aos funcionários públicos, e de vencimentos dos emprega­
dos. Na Seguridade social aplica-se o mesmo fator de proteção aos 
valores dos benefícios. Nossa atual Constituição foi erigida durante
40
o período onde a inflação era estratosférica. Destarte, o constituinte 
visou a proteção do poder aquisitivo das pessoas (havendo uma reite­
ração, inclusive a do no § 4o do art. 201 da CF, onde é assegurado “o 
reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter perma­
nente, o valor real”).
V-eqüidade na form a de participação no custeio
Notamos aqui outro princípio decorrente da isonomia prevista 
no art. 5o, caput, da CF/88. Cada um deve contribuir de acordo com 
suas possibilidades, mediante proporcionalidade, ou até mesmo, pro­
gressividade de alíquotas das contribuições de custeio.
VI-diversidade da base de financiamento;
Segundo o art. 195 da Carta Magna, a seguridade social será 
financiada por toda a sociedade. Como, notoriamente, o Tesouro Na­
cional acaba sempre arcando com eventuais déficits da Previdência 
Social, de forma indireta, nesse aspecto, há um financiamento geral 
da sociedade.
No que tange à diversidade da base de custeio das contribuições 
sociais, temos a divisão entre:
1- o empregador, a empresa e identidade a ela equiparada na 
forma da Lei, incidentes sobre:
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagas ou 
creditadas, a qualquer título, a pessoa física que lhe prestem serviços, 
mesmo sem vínculo empregatício;
b) a receita e o faturamento;
c) o lucro;
2- o trabalhador e dos demais segurados da Previdência Social, 
não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas 
pelo Regime Geral da Previdência Social;
3- a receita dos concursos de prognósticos;
41
4 do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a 
lei a ele equiparar.
V ll-caráter democrático e descentralizado da administração, m e­
diante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, 
dos em pregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos 
colegiados.
Essa previsão legal acima referida é fruto das alterações abarca­
das pela Emenda Constitucional n° 20. A redação anterior previa 
apenas “o caráter democrático e descentralizado da gestão adminis-
l rat iva, com a participação da comunidade, em especial de trabalha­
dores, empresários e aposentados”.
Com o exemplos práticos da gestão quadripartite podemos 
citar o Conselho Nacional de Previdência Social (previsto no 
art. 3 da Lei n° 8.213/91, e que possuem representantes do go­
verno federal, dos aposentados e dos pensionistas, dos trabalha­
dores em a tiv idade e dos em pregadores); e os C onse lhos 
listaduais e M unicipais de Previdência Social (subordinados ao 
Conselho Nacional).
O utros exemplos im portantes consistem nas Juntas de Re­
cursos da Previdência Social e no Conselho de Recursos da Pre­
vidência Social. Em ambos existe a participação de representantes 
da União, dos trabalhadores e das empresas, form ando um cole- 
giado. Esse colegiado é responsável pelo julgam ento de ques­
tões p rev iden c iá ria s (custe io e benefíc io s) nas in s tân c ias 
adm inistrativas, sendo o Conselho de Recursos instância adm i­
nistrativa final.
Cabe ressaltar aqui a previsão do art. 10 da Constituição Fede­
ral de 1988, anterior à Emenda Constitucional n° 20:
“E assegurada a partic ipação dos trabalhadores e em pregado­
res nos colegiados dos órgãos públicos em que seus in teresses 
profissionais ou previdenciários sejam objeto de d iscussão e 
deliberação .”
42
A preexistência do custeio em relação ao benefício ou serviço 
também deve ser apontada como um princípio norteador da Previ­
dência Social. De acordo com o § 5o do art. 195 da CF/88:
“Nenhum benefício ou serviço da Seguridade social poderá 
ser criado, majorado o estendido sem a correspondente fonte 
de custeio total.” (destaques nossos)
Durante muitos anos os governantes brasileiros não respeita­
ram esse princípio elementar que proporciona higidez financeira. 
Até mesmo pessoas de poucas letras compreendem que a existência 
de um gasto sem uma respectiva fonte prévia de renda resulta num 
déficit.
A Lei n° 9.876/99 alterou o art. 71 da Lei n° 8.213/91, esten­
dendo o direito do salário-maternidade para a trabalhadora autôno­
ma, eventual, empresária e facultativa, sem que houvesse fonte de 
custeio total e especifica para essa finalidade.
Essa extensão do direito ao salário-maternidade poderia, em pri­
meiro plano, ser considerada inconstitucional, diante da violação ao 
§ 5o do art. 195 da Constituição. Não obstante, se nos voltarmos ao 
princípio da igualdade, podemos concluir que a Lei n° 9.876 apenas 
tratou os iguais igualmente.
3 .3 . P r in c íp io s da P r e v id ê n c ia S o c ia l
D a mesma m aneira que expusemos os princípios que re­
gem a Seguridade Social, os princípios da Previdência Social 
tam bém são subsidiários ou residuais na falta de previsão con­
tra tua l na Previdência Privada. Com previsão do parágrafo 
único do art. 3o da Lei n° 8.212/91 (referente à organização da 
Seguridade Social) e do art. 2o da Lei n° 8.213/91, tem os os se­
guintes princípios:
- universalidade de participação nos planos previdenciários, me­
diante contribuição;
43
- valor da renda mensal dos benefícios, substitutos do salário- 
de contribuição ou de rendimento do trabalho dos segurados, não 
inferior ao do salário mínimo;
- cálculo dos benefícios, considerando-se os salários-de-contri- 
buição, corrigidos monetariamente;
- preservação do valor real dos benefícios;
- previdência complementar facultativa, custeada por contribui­
ção adicional;
- uniformidade e de equivalência dos benefícios e serviços às 
populações urbanas e rurais;
- seletividade e distributividade na prestação dos benefícios;
- irredutibilidade do valor dos benefícios de forma preservar- 
lhes o poder aquisitivo;
- caráter dem ocrático e descentralizado da administração, 
mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalha­
dores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos ór­
gãos colegiados.
3 .4 . C u s t e io d a P r e v id ê n c ia S o c ia l
Diferentemente do que ocorre na Previdência Privada, o art. 195 
da Carta Magna, estabelece que a Seguridade Social será financiada 
por toda a sociedade.
Existe, entretanto, uma diversidade na base de custeio das con- 
t ribuições sociais à Seguridade Social. Portanto, a subvenção dos cus­
tos da Seguridade Social advém das seguintes fontes:
1- do empregador, a empresa e identidade a ela equiparada na 
forma da Lei, incidentes sobre:
a) da folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagas 
ou creditadas, a qualquer título, a pessoa física que lhe prestem servi­
ços, mesmo sem vínculo empregatício;
44
b) da receita e o faturamento;
c) do lucro;
2 - do trabalhador e dos demais segurados da Previdência Soci­
al, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão conce­
didas pelo Regime Geral da Previdência Social;
3 - da receita dos concursos de prognósticos (loteria federal, por 
exemplo).
4 - do importador de bens ou serviços doexterior, ou de quem a 
lei a ele equiparar.
As contribuições feitas para a Previdência Social têm o caráter 
de tributo. Logo, para financiar a Previdência Social existem contri­
buições sociais com a natureza jurídica de tributo.
3 .5 . S e g u r a d o s e c o n t r ib u in t e s d a p r e v id ê n c ia s o c ia l
Segurada é a pessoa física que possui vínculo jurídico com a Pre­
vidência Social. Pessoa jurídica jamais é segurada da Previdência 
Social. Não obstante, tanto as pessoas físicas quanto as pessoas jurí­
dicas poderão ser contribuintes previdenciários.
Note-se que não existe a necessidade de vínculo empregatício 
da pessoa física para que haja vínculo com o INSS. Trabalhadores 
autônomos e mesmo desempregados podem ser segurados.
O aprendiz, a partir dos 14 anos e os trabalhadores em geral, a 
partir dos 16 anos, poderão ser segurados da Previdência Social.
Para o ingresso no sistema, existem as figuras da filiação, inscri­
ção e matrícula.
Filiação não se confunde com inscrição. A filiação é uma vincu­
lação jurídica imediata e concomitante ao início da atividade prevista 
como obrigatória no RGPS, em relação ao segurado. A inscrição é 
apenas o ato administrativo de formalização do vínçulo entre o segu­
rado e o INSS (registro do segurado).
///
45 / I
As pessoas jurídicas são automaticamente matriculadas (regis­
tradas, e não inscritas) junto ao INSS nas seguintes situações:
-simultaneamente com a inscrição no CNPJ (Cadastro Nacio­
nal da Pessoa Jurídica), ou
-perante o INSS, no prazo de 30 dias contados do início de suas 
atividades, quando não sujeita a inscrição no CNPJ (inclusive a obra
de construção civil).
A unidade matriculada será identificada pelo CNPJ ou certifi­
cado de matrícula com número cadastral básico de caráter perma­
nente (CEI - Cadastro Específico do INSS).
O ingresso em atividade abrangida pelo RGPS determina a 
filiação automática do trabalhador ao regime. Pelo art. 12 da Lei 
S.212/91, parágrafo 2o, o segurado que exercer mais de uma ativi­
dade está obrigado a contribuir em relação a cada uma delas.
Apesar da previsão constitucional da existência de filiação obri­
gatória, a própria Constituição, no art. 201, parágrafo 5o, admite a
I tossibilidade de filiação facultativa. Dessa maneira, no âmbito da 
Previdência Social não há somente segurados obrigatórios, mas ou- 
t n «sim, segurados que aderem facultativamente ao sistema, tais como 
a dona de casa, o estudante e o desempregado. O síndico de condo­
mínio poderá aderir facultativamente ao sistema, desde que não re­
ceba remuneração, devido à disposição da Lei n° 9.876, de 26 de 
novembro de 1999.
A Lei n° 9.876 alterou o art. 12, V, “f ”, da Lei n° 8.212, de 24 de 
julho de 1991, que passou a tratar como contribuinte individual obri­
gatório o síndico ou o administrador eleito para exercer atividade de 
direção condominial, desde que haja o recebimento de remuneração.
Filiação é, portanto, a vinculação do trabalhador protegido ao 
sistema, causando um estado jurídico próprio do segurado. Essa re­
lação jurídica de filiação promove uma condição vinculatória do di­
reito subjetivo às prestações previdenciárias.
46
A filiação pode ser obrigatória ou facultativa.
A filiação obrigatória é a mais comum, dem onstrando a im - 
positividade do sistema. Em sendo impositivo, o sistema garan­
te o seu alicerce principal sob a forma de contribuições. Já a 
filiação facultativa constitui uma liberalidade de proteção ind i­
vidual dos cidadãos. Com o faculdade, a filiação só ocorre m edi­
ante livre arbítrio da pessoa. C ontudo, esta facultatividade só 
existe no ato de admissão ao sistema, pois para fruir dos benefí­
cios é preciso que a pessoa vá preenchendo determ inados requi­
sitos ao longo do tempo.
A autarquia federal responsável pelâ concessão de benefícios e 
recebimento de contribuições no campo previdenciário é o INSS- 
Instituto Nacional do Seguro Social.
Para que haja direito aos benefícios previdenciários desse siste­
ma, é necessário, em princípio, que o segurado contribua.
O INSS, dentro do contexto da organização administrativa da 
Previdência Social, foi criado pelo Decreto n° 99.350/90, e é, dessa 
forma, uma autarquia federal destinada a gerir os créditos de obriga­
ções fiscais previdenciárias, além das prestações dos benefícios e ser­
viços previdenciários. O Decreto n° 569/92 especifica quais são as 
atribuições do INSS.
Sobre o atual sistema de repartição em vigor no RGPS, Sergio 
P into M artins19 o define como sendo mutualista (havendo uma 
solidariedade entre as pessoas na cotização do sistema para a con­
cessão do futuro benefício), e afirma que “H á necessidade de se 
ampliar o número de anos de contribuição do segurado para a pre­
vidência social, pois este vive mais tempo e se utiliza do benefício 
por longo período”.
19 MARTINS, Sergio Pinto. Direito da seguridade social. 15a ed, São Paulo: Atlas, 2000, 
p.294.
47
C om o o tempo de contribuição mínimo não pode ser alterado 
pela le g is la ç ã o infraconstitucional, foi instituída uma forma de in 
centivar a postergação da aposentadoria: o fator previdenciário.
A idéia do regim e de repartição (contribuição dos trabalhadores 
da ativa para financiar a aposentadoria dos inativos) que existe no 
Hrasil atual surgiu a p a rtir do contexto acima exposto, marcado pela 
solidariedade entre gerações e pela proteção do trabalhador em face 
ilos chamados riscos sociais.
4 . O REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, A REPARTIÇÃO 
SIMPLES E A SOLIDARIEDADE INTERGERAÇÕES
O Regime G eral da Previdência Social tem por base um plano 
de benefício definido, regrado pela repartição simples.
No regime de repartição simples, quem trabalha paga pelos be­
nefícios de quem já está aposentado. Está é a chamada solidariedade 
intergerações.
A premissa da solidariedade social intergerações pressupõe que
o esforço geral beneficie os mais necessitados.
No plano de benefício definido do regime de repartição, o prin­
cípio do solidarismo é mais patente.
O princípio do solidarismo ou da solidariedade em vigor quanto 
à Previdência Social, tam bém é aplicado entre os segurados ou partici­
pantes de regime de capitalização previdenciária complementar.
A solidariedade é um princípio jurídico essencial da Previdên­
cia, seja ela básica ou complementar. A noção de proteção social ine- 
xiste sem o solidarismo. Assim, o excesso atuarial advindo da não 
fruição por parte de alguns segurados permite a outros até mesmo 
uma utilização precoce. Para isso existem as chamadas “reservas de 
contingência” pregadas pela doutrina. A premissa da solidariedade 
pressupõe que o esforço geral beneficie os mais necessitados.
48
I Vrsiani M attia20 exprime o fulcro da solidariedade na Previ- 
dencia Social da seguinte maneira (tradução livre):
“Kssa c a solidariedade entre quem trabalha e quem, não 
podendo mais trabalhar, encontra-se em condição de ne­
cessidade; entre quem produz e quem contribui com o seu 
trabalho àquela produção”21.
O Regime Geral da Previdência Social tem por base preponde-
i ante um plano de benefício definido, pois não há conta individual 
de acumulação e capitalização pessoal, além do que (geralmente) já 
se sabe o valor do benefício de antemão.
No plano de contribuição definida, existe um individualis­
mo característico, onde o titular acumula um capital próprio do 
qual, dependendo da rentabilidade do sistema, auferirá sua apo­
sentadoria.
A Previdência Social - Regime Geral da Previdência Social - 
assegura aos seus beneficiários (segurados ou dependentes) meios 
indispensáveis de manutenção própria, por motivo de incapacidade, 
idade avançada, tempo de serviço, desemprego involuntário, encargos 
de família e reclusão ou morte daqueles de quem dependiam econo­
micamente.
A composição do Regime Geral da Previdência

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