Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica - Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 1 1 Introdução e Conceitos Básicos A óptica é um ramo da Física que estuda a luz ou, mais amplamente, a radiação electromagnética, visível ou não. A óptica explica os fenômenos de reflexão, refracção e difracção, a interação entre a luz e o meio, entre outras coisas. Geralmente a disciplina estuda fenómenos envolvendo a luz visível, infravermelha, e ultravioleta; entretanto, uma vez que a luz é uma onda eletromagnética, fenômenos análogos acontecem com os raios X, microondas, ondas de rádio, e outras formas de radiação electromagnética. A óptica, nesse caso, pode se enquadrar como uma subdisciplina do eletromagnetismo. Algums fenômenos ópticos dependem da natureza da luz e, nesse caso, a óptica se relaciona com a mecânica quântica. Segundo o modelo para a luz utilizada, distingue-se entre os seguintes ramos, por ordem crescente de precisão (cada ramo utiliza um modelo simplificado do empregado pela seguinte): Óptica geométrica: Trata a luz como um conjunto de raios que cumprem o princípio de Fermat. O Princípio de Fermat é um princípio fundamental da óptica geométrica e diz que o caminho seguido por um raio luminoso de um ponto A para um ponto B é tal que o tempo decorrido entre a partida de A e a chegada a B é estacionário para pequenas variações do caminho. Utiliza-se no estudo da transmissão da luz por meios homogêneos (lentes, espelhos), a reflexão e a refração. Óptica ondulatória: Considera a luz como uma onda plana, tendo em conta sua freqüência e longitude de onda. Utiliza-se para o estudo da difração e interferência. Óptica eletromagnética: Considera a luz como uma onda eletromagnética, explicando assim a reflexão e transmissão, e os fenômenos de polarização e anisotrópicos. Óptica quântica ou óptica física: Estudo quântico da interação entre as ondas eletromagnéticas e a matéria, no que a dualidade onda-corpúsculo joga um papel crucial. Teorias sobre a luz Primeiras idéias dos gregos No século I a.C. Lucrécio, dando continuidade às ideias dos primeiros atomistas, escreveu que a luz e o calor do Sol eram compostos de pequenas partículas. Teoria corpuscular da luz O físico inglês Isaac Newton, em 1672, defendeu uma teoria onde se considerava a luz como um feixe de partículas que eram emitidas por uma fonte, e que estas atingiam o olho, e assim estimulavam a visão. A este modelo, se deu o nome de modelo corpuscular da luz. Teoria ondulatória da luz O físico francês Jean Bernard Léon Foucault, no século XIX, descobriu que a luz se deslocava mais rápido no ar do que na água. O efeito contrariava a teoria corpuscular de Newton, esta afirmava que a luz deveria ter uma velocidade maior na água do que no ar. James Clerk Maxwell, ainda no século XIX, provou que a velocidade de propagação de uma onda eletromagnética no espaço, equivalia à velocidade de propagação da luz de aproximadamente 300.000 km/s. Foi de Maxwell a afirmação: A luz é uma "modalidade de energia radiante" que se "propaga" através de ondas eletromagnéticas. Teoria da dualidade onda partícula No final do século XIX, a teoria que afirmava que a natureza da luz era puramente uma onda eletromagnética, (ou seja, a luz tinha um comportamento apenas ondulatório), começou a ser questionada. Ao se tentar teorizar a emissão fotoelétrica, ou a emissão de elétrons quando um condutor tem sobre si a incidência de luz, a teoria ondulatória simplesmente não conseguia explicar o fenômeno, pois entrava em franca contradição. Foi Albert Einstein, usando a idéia de Max Planck, que conseguiu demonstrar que um feixe de luz são pequenos pacotes de energia e estes são os fótons, logo, assim foi explicado o fenômeno da emissão fotoelétrica. A confirmação da descoberta de Einstein se deu no ano de 1911, quando Arthur Compton demonstrou que "quando um fóton colide com um elétron, ambos comportam-se como corpos materiais." Comprimentos de onda da luz visível A luz visível é a parte do espectro com comprimentos de onda entre cerca de 400 nanómetros (abreviando nm) e 800 nm (no ar). A luz pode também ser caracterizada pela sua frequência. Figura 1 - Espectro eletromagnético A velocidade da luz De acordo com a moderna física teórica, toda radiação eletromagnética, incluindo a luz visivel, se propaga no vácuo numa velocidade constante, comumente chamada de velocidade Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica - Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 2 2 da luz, que é uma constante da Física, representada por c. No vácuo: c f Alterações na velocidade da luz Toda luz propaga-se a uma velocidade finita. Até mesmo observadores em movimento medem sempre o mesmo valor de c, para a velocidade da luz no vácuo, com c = 299.792.458 metros por segundo (186.282,397 milhas por segundo); contudo, quando a luz atravessa alguma substância transparente tal com o ar, água ou vidro, sofre refracção e sua velocidade é reduzida. Assim sendo, n=1 no vácuo e n>1 na matéria. Medição da luz As seguintes quantidades e unidades são utilizadas para medir luz. brilho, medida em watts/cm2 iluminância ou iluminação (Unidade SI: lux) fluxo luminoso (Unidade SI: lumen) intensidade luminosa (Unidade SI: candela) Ondas, Raio e frente de Onda Uma onda em física é uma perturbação oscilante de alguma grandeza física no espaço e periódica no tempo. A oscilação espacial é caracterizada pelo comprimento de onda e a periodicidade no tempo é medida pela freqüência da onda, que é o inverso do seu período. Estas duas grandezas estão relacionadas pela velocidade de propagação da onda. Fisicamente uma onda é um pulso energético que se propaga através do espaço ou através de um meio (líquido, sólido ou gasoso). Segundo alguns estudiosos e até agora observado, nada impede que uma onda magnética se propague no vácuo ou através da matéria, como é o caso das ondas ondas eletromagnéticas no vácuo ou dos neutrinos através da matéria onde as partículas do meio oscilam à volta de um ponto médio, mas não se deslocam. Exceto pela radiação eletromagnética, e provavelmente as ondas gravitacionais, que podem se propagar através do vácuo, as ondas existem em um meio cuja deformação é capaz de produzir forças de restauração através das quais elas viajam e podem transferir energia de um lugar para outro sem que qualquer das particulas do meio seja deslocada permanentemente como acontece num imã; isto é, nenhuma massa transportada associada pode anular o efeito magnético. Em lugar disso, qualquer ponto particular oscila em volta de um ponto fixo. Uma onda pode ser longitudinal quando a oscilação ocorre na direcção da propagação, ou tranversal quando a oscilação ocorre na direcção perpendicular à direcção de propagação da onda. Pelo princípio de Huygens (físico holandês, 1629-1695), cada ponto de uma frente de onda, num dado instante, pode ser considerado uma fonte de ondas secundárias, produzidas no sentido de propagação e com a mesma velocidade do meio. Podemos dizer que a frente de onda anterior é considerada como um gerador de uma nova frente de onda, ou ainda que a frente de onda separa a região "pertubada" da região não pertubada. Um exemplo básico é o som onde até o instante em que as partículas de ar estão em repouso não se ouve nada, e só no momento que estas partículas são vibradas (uma frente de onda empurrando e gerando uma nova frente de onda) é que haverá a propagação do som (neste caso haverá propagação da energia e não da matéria). No caso das ondas eletromagnéticas, com sua energia irradiada igualmente emtodas as direções (circular), haverá um determinado instante onde a fase da onda irradiada começará a se repetir em todos os pontos, começando uma nova frente de onda A frente de onda é o lugar geométrico de todos os pontos adjacentes que possuem a mesma fase de vibração de uma grandeza física associada com a onda. Figura 2.1 - Figura 2.2 - Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica - Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 3 3 Um raio é uma linha reta imaginária na direção de propagação de uma onda. São linhas retas, perpendiculares às frentes de onda. Reflexão e Refração Reflexão: Em física o fenômeno da reflexão consiste na mudança da direção de propagação da energia, no retorno da energia incidente em direção à região de onde ela é oriunda, após entrar em contato com uma superfície refletora. A energia pode tanto estar manifestada na forma de ondas como transmitida através de partículas. Por isso, a reflexão é um fenômeno que pode se dar por um caráter eletromagnético, óptico ou sonoro. A reflexão difere da refração porque nesta segunda, há desvio da energia para meio diverso do meio de onde se originou. A reflexão pode ser explicada totalmente com base em apenas duas leis, de cunho geral. Para enuncia-las, é preciso antes definir alguns conceitos. A normal é a semi-reta que se origina a partir da superfície refletora, situando-se perpendicularmente a esta Ângulo de incidência é o ângulo que a direção de deslocamento da energia faz com a normal Ângulo de reflexão é o ângulo que a direção que a energia que é refletida faz com a normal Assim, as duas leis da reflexão podem ser expressas da seguinte maneira: 1. A direção do raio incidente, a normal e a direção do raio emergente pertencem a um único plano. 2. O ângulo de incidência tem valor igual ao valor do ângulo de reflexão. Explanação teórica Sendo um fenômeno que encontra exemplos em física ondulatória como na física de corpos materiais, é natural desconfiar-se que tem uma explicação comum aos dois tipos de comportamento. Historicamente, o primeiro a formular uma explicaçao para a reflexão (especificamente, a da luz) foi Heron de Alexandria. Utilizando-se do princípio aristotélico que diz que a natureza nada faz de modo mais difícil, argumentou que a luz percorre o menor caminho entre dois pontos quaisquer. Como a luz é obrigada a se desviar durante o percurso, ainda assim percorre o menor caminho entre a fonte e o alvo. A esse princípio de óptica geométrica damos o nome de princípio de Heron. Muito mais tarde Fermat enunciou princípio semelhante. Porém assinalava que o tempo era mínimo e não a distância percorrida. Esse princípio é conhecido como princípio de Fermat. Ainda mais tarde, Maupertuis formulou pela primeira vez o princípio da menor ação, onde então surge a noção de ação. Entretanto, dentro do ponto de vista do cálculo das variações, melhor seria chamar esse princípio de princípio da ação estacionária, já que na verdade a condição é de se achar um extremante para a funcional ação. Mais tarde, sir Hamilton enunciou a forma moderna do princípio variacional. A reflexão luminosa é a base da construção e utilização dos espelhos. Os espelhos, tanto planos quanto os esféricos, tem larguíssima utlização, e são a base dos telescópios refletores, que sofrem de menos restrições que os telescópios refratores. Figura 3 - Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica - Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 4 4 Figura 4 - Tipos de reflexão. Figura 5 - Refração: ÍNDICE DE REFRAÇÃO Índice de refração é uma relação entre a velocidade da luz em um determinado meio e a velocidade da luz no vácuo (c). Em meios com índices de refração mais baixos (próximos a 1) a luz tem velocidade maior (ou seja, próximo a velocidade da luz no vácuo). A relação pode ser descrita pela fórmula: c n v Onde: c é a velocidade da luz no vácuo (c = 3.10 8 m/s); v é a velocidade da luz no meio; De modo geral, a velocidade da luz nos meios materiais é menor que c; e assim, em geral, teremos n > 1. Por extensão, definimos o índice de refração do vácuo, que obviamente é igual a 1. Portanto, sendo n o índice de refração de um meio qualquer, temos: 1n A velocidade de propagação da luz no ar depende da frequência da luz, já que o ar é um meio material. Porém essa velocidade é quase igual a 1 para todasas cores. Ex: índice de refração da luz violeta no ar = 1,0002957 e índice de refração da luz vermelha no ar = 1,0002914. Portanto, nas aplicações, desde que não queiramos uma precisão muito grande, adotaremos o índice de refração do ar como aproximadamente igual a 1: 1n Como vimos, as cores, por ordem crescente de freqüências, são: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta. A experiência mostra que, em cada meio material, a velocidade diminui com a frequência, isto é, quanto maior a frequência, menor a velocidade. vermelho laranja amarelov v v Portanto como c n v , concluímos que o índice de refração aumenta com a frequência. Quanto maior a frequência, maior o índice de refração. Em geral, quando a densidade de um meio aumenta, seu índice de refração também aumenta. Como variações de temperatura e pressão alteram a densidade, concluímos que essas alterações também alteram o índice de refração. No caso dos sólidos, essa alteração é pequena, mas para os líquidos, as variações de temperatura são importantes, e no caso dos gases tanto as variações de temperatura como as de pressão devem ser consideradas. A maioria dos índices de refração é menor que 2; uma exceção é o diamante, cujo índice é aproximadamente 2,4. Para a luz amarela emitida pelo sódio, sua frequência é f = Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica - Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 5 5 5090.10 14 Hz e cujo comprimento de onda no vácuo é λ = 589nm. Essa é a luz padrão para apresentar os índices de refração. Consideremos dois meios A e B, de índices de refração nA e nB; se nA > nB, dizemos que A é mais refringente que B. Continuidade Óptica Consideremos dois meios transparentes A e B e um feixe de luz dirigindo-se de A para B. Para que haja feixe refletido é necessário que A Bn n . Quando nA = nB, não há luz refletida e também não há mudança na direção da luz ao mudar de meio; dizemos que há continuidade óptica. Quando temos um bastão de vidro dentro de um recipiente contendo um líquido com o mesmo índice de refração do vidro, a parte do bastão que está submersa, não refletindo a luz, fica "invisível". Índice de refração relativo Se o índice de refração de um meio A é nA e o índice de um meio B é nB, definimos: nAB: índice de refração do meio A em relação ao meio B: A AB B n n n nBA: índice de refração do meio B em relação ao meio A: B BA A n n n Sendo vA e vB as velocidades da luz nos meios A e B, temos: A B AB B A n v n n v B A BA A B n v n n v LEIS DA REFRAÇÃO Consideremos dois meios transparentes A e B e um feixe estreito de luz monocromática, que se propaga inicialmente no meio A, dirigindo-se para o meio B. Suponhamos, ainda, que uma parte da luz consiga penetrar no meio B e que a luz tenha velocidades diferentes no dois meios. Nesse caso, diremos quehouve Refração. O raio que apresenta o feixe incidente é o raio incidente (i), e o raio que apresenta o feixe refratado é o raio refratado (r). A primeira lei da Refração O raio incidente, o raio refratado e a normal, no ponto de incidência, estão contidos num mesmo plano. A normal é uma reta prependicular à superfície no ponto de incidência, θA é denominado ângulo de incidência e θB, ângulo de refração. A segunda lei da Refração A A B Bn sen n sen Dessa igualdade tiramos: A BA B sen n sen A Segunda Lei da Refração foi descoberta esperimentalmente pelo holandês Willebrord Snell (1591-1626) e mais tarde deduzida por Descartes, a partir de sua teoria corpuscular da luz. Nos Estados Unidos, ela é chamada de Lei de Snell e na França, de Lei de Descartes; no Brasil é costume chamá-la de Lei de Snell-Descartes. Inicialmente a Segunda Lei foi apresentada na forma da equação II; no entanto, ela e mais fácil de ser aplicada na forma da equação I. Observando a equação I, concluímos que, onde o ângulo for menor, o índice de refração será maior. Explicando melhor: Se: A B , o mesmo ocorre com seus senos: A Bsen sen ; logo, para manter a igualdade da equação: B An n Ou seja, o menor ângulo θB ocorre no meio mais refringente, nB. Pelo princípio da reversibilidade, se a luz faz determinado percurso, ela pode fazer o percurso inverso. Assim, se ela faz o percurso XPY, ela pode fazer o percurso YPX. Mas, tanto num caso como no outro, teremos: A A B Bn sen n sen Quando a incidência for normal, não haverá desvio e teremos 0A B , e, portanto, 0A Bsen sen , de modo que a Segunda Lei também é válida nesse caso, na forma da equação I: B An n Caso de ângulos pequenos Na tabela seguinte, apresentamos alguns ângulos "pequenos" expressos em graus e radianos, com o respectivo valor do seno e da tangente: Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica - Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 6 6 Observando esta tabela, percebemos que, para um ângulo θ, até aproximadamente 10° temos: sen tg quando θ está expresso em radianos. Assim, para ângulos pequenos, a Segunda Lei da Refração pode ser escrita: A A B Bn n para ângulos em radianos. Figura 6 - Figura 7 - Índice de refração e aspectos ondulatórios da luz. A freqüência da onda não varia quando ela passa de um meio para outro. O comprimento de onda da luz geralmente é diferente quando a onda passa de um material a outro. Ele é menor num material do que no vácuo. Assim: 0 n Quando a luz passa de um material a a outro b de índice de refração maior, de modo que nb > na, a velocidade da onda diminui. O comprimento de onda no segundo material 0b bn no segundo material é então menor que o comprimento de onda no primeiro material 0a an no primeiro material. Já quando o segundo material possui índice de refração inferior, de modo que nb < na, a velocidade aumenta. Então o comprimento de onda b no segundo material é maior do que o comprimento de onda a no primeiro material. Intuitivamente: quando a velocidade da onda diminui, ela é ―comprimida‖ (o comprimento de onda torna-se menor); quando a velocidade aumente ela se ―dilata‖ (o comprimento de onda torna-se menor). Reflexão Interna Total Existem certas circunstâncias em que a luz pode ser totalmente refletida de uma interface e nenhuma luz ser transmitida, mesmo quando o segundo material é transparente, como mostra a figura a seguir: Figura 8 - Ângulo° Ângulo rad Seno Tangente 0 0 0 0 2 0,035 0,035 0,035 4 0,070 0,070 0,070 6 0,105 0,104 0,105 8 0,140 0,139 0,140 10 0,174 0,174 0,176 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica - Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 7 7 Os raios mostram como isso pode ocorrer; a figura contém diversos raios que emanam de uma fonte puntiforme dentro de um material a com índice de refração na. Os raios incidem sobre a superfície de outro material b com índice de refração nb, sendo na > nb (Por exemplo, o material a é água e o b é o ar). De acordo com a Lei de Snell: a b a b n sen sen n Como 1a b a b n sen sen n ; o raio é desviado e se afasta para fora da normal. Deve portanto existir um valor de a < 90° para o qual a Lei de Snell fornece 1bsen e 90b . Isto ocorre com o raio 3 indicado no diagrama, ele emerge tangenciando a superfície, com um ângulo de refração igual a 90°. Assim, o ângulo crítico para reflexão interna total é dado por: b crít a n sen n Por exemplo, na interface vidro-ar, sabendo que o índice de refração do vidro é 1,52: 1 0.658 41.1 1.52 crít crítsen A luz que se propaga no interior será totalmente refletida quando ela incidir na interface vidro-ar, formando umângulo igual ou superior a 41.1°. Como refletores, os prismas que usam a reflexão interna total apresentam algumas vantagens em relação a superfícies refletoras metálicas, como, por exemplo, espelhos comuns, que possuem uma película metálica depositada sobre o vidro. Se, por um lado, nenhuma superfície metálica pode refletir 100% da luz que sobre ela incide, por outro lado, umprisma pode refletir totalmente a lus queincide sobre ele. Além disso, as qualidades refletoras de um prisma possuem a propriedade adicional de não perderem o brilho, com o envelhecimento. Figura 9 - Um prisma com ângulos 45°-45°-90°, como indicado na figura é denominado prisma de Porro. No prisma, a luz entra e sai, formando um ângulo de 90° com a hipotenusa, sendo totalmente refletida nas faces menores. O ângulo de desvio total entre o raio incidente e o raio emergente é 180°. Os binóculos geralmente usam uma associação com dois prismas de Porro, como indicado na figura. (b) Quando um fexe de luz penetra a extremidade de uma barra transparente, como mostra a figura acima, a luz pode sofrer reflexão interna total se o índice de refração da barra for maior que o índice de refração do material existente em seu exterior. O raio de luz fica confinado no interior da barra, mesmo quando a barra é curva, desde que a curvatura não seja muito acentuada. Essa barra muitas vezes é chamada de tubo de luz. Feixes de fibra de vidro ou fibras de plásticos podem se comportar de modo semelhante, com a vantagem de serem flexíveis. Tal feixe pode ser constituído por milhares de fibras individuais, cada uma com diâmetros da ordem de 0.002 a 0.01 mm. Quando as fibras são agrupadas em um feixe, de tal modo que uma das extremidades possua a mesma geometria da outra, formando imagens especulares, o feixe pode transmitir umaimagem, como mostra a figura 10: Figura 10 - Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica - Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 8 8 Dispositivos feitos com fibras óticas são largamente aplicados na medicina, em instrumentos chamados de endoscópios, que podem ser introduzidos em tubos no organismo e são usados para examinar diretamente os brônquios, a bexiga, o cólon e outros órgãos. Um feixe de fibras pode ser encerrado em uma agulha hipodérmica para estudar tecidos e vasos sanguíneos muito afastados da pele. As fibras óticas também são aplicadas em sistemas de comunicação, nos quais ela pode ser usada para transmititr um feixe de laser modulado. A taxa com a qual a informação pode ser usada para transmitir uma onda (de luz, de rádio ou qualquer outrotipo) é proporcional à freqüência. Para entender qualitativamente a razão disso, imagine que você module, ou seja, modifique a onda cortando algumas cristas de onda. Suponha que a crista representa dígitos binários, sendo que a crista cortada represente o 0 e a crista não modificada o algarismo 1. O número de algarismos binários que podemos transmitir por unidade de tempo é proporcional à freqüência da onda. A luz infravermelha e a luz visível possuem freqüências muito maiores que a das ondas de rádio, de modo que um feixe de laser modulado pode transmitir uma quantidade muito grande de informações através de um único cabo de fibras óticas. Outra vantagem dos sistemas que usam cabos de fibras óticas é que eles são isoladamente elétricos, não sofrem interferências produzidas por relâmpagos e outras fontes, e não permitem que correntes indesejadas surjam entre a fonte e o receptor. Elas são muito seguras e dificilmene apresentam falhas, mas também implicam dificuldades para montagem e para fazer junções. Em 1952, o físico Narinder Singh Kapany, com base nos estudos efetuados pelo físico inglês John Tyndall de que a luz poderia descrever um trajetória curva dentro de um material (no experimento de Tyndall esse material era água), pode concluir suas experiências que o levaram à invenção da fibra óptica. A fibra óptica é um excelente meio de transmissão utilizado em sistemas que exigem alta largura de banda, tais como: o sistema telefônico, videoconferência, redes locais (LANs), etc. Como mencionamos, há basicamente duas vantagens das fibras ópticas em relação aos cabos metálicos: A fibra óptica é totalmente imune a interferências eletromagnéticas, o que significa que os dados não serão corrompidos durante a transmissão. Outra vantagem é que a fibra óptica não conduz corrente elétrica, logo não haverá problemas com eletricidade, como problemas de diferença de potencial elétrico ou problemas com raios. O princípio fundamental que rege o funcionamento das fibras ópticas é o fenômeno físico denominado reflexão total da luz. Para que haja a reflexão total a luz deve sair de um meio mais para um meio menos refringente, e o ângulo de incidência deve ser igual ou maior do que o ângulo limite (também chamado ângulo de Brewster) As fibras ópticas são constituídas basicamente de materiais dielétricos (isolantes) que, como já dissemos, permitem total imunidade a interferências eletromagnética; uma região cilíndrica composta de uma região central, denominada núcleo, por onde passa a luz; e uma região periférica denominada casca que envolve o núcleo. O índice de refração do material que compõe o núcleo é maior do que o índice de refração do material que compõe a casca. Núcleo: O núcleo é um fino filamento de vidro ou plástico, medido em micra (1 mm = 0,000001m), por onde passa a luz. Quanto maior o diâmetro do núcleo mais luz ele pode conduzir. Casca: Camada que reveste o núcleo. Por possuir índice de refração menor que o núcleo ela impede que a luz seja refratada, permitindo assim que a luz chegue ao dispositivo receptor. Capa: Camada de plástico que envolve o núcleo e a casca, protegendo-os contra choques mecânicos e excesso de curvatura. Fibras de resistência mecânica: São fibras que ajudam a proteger o núcleo contra impactos e tensões excessivas durante a instalação. Geralmente são feitas de um material chamado kevlar, o mesmo utilizado em coletes a prova de bala. Revestimento externo: É uma capa que recobre o cabo de fibra óptica. Existem duas categorias de fibras ópticas: Multimodais e Monomodais. Essas categorias definem a forma como a luz se propaga no interior do núcleo. Multimodais: As fibras multimodais possuem o diâmetro do núcleo maior do que as fibras monomodais, de modo que a luz tenha vários modos de propagação, ou seja, a luz percorre o interior da fibra óptica por diversos caminhos. As dimensões são 62,5 mm para o núcleo e 125 mm para a casca. Dependendo da variação de índice de refração entre o núcleo e a casca, as fibras multimodais podem ser classificadas em : Índice Gradual e Índice Degrau. Monomodais: As fibras monomodais são adequadas para aplicações que envolvam grandes distâncias, embora requeiram conectores de maior precisão e dispositivos de alto custo. Nas fibras monomodais, a luz possui apenas um modo de propagação, ou seja, a luz percorre interior do núcleo por apenas um caminho. As dimensões do núcleo variam entre 8 mm a 10 mm, e a casca em torno de 125 mm. As fibras monomodais também se diferenciam pela variação do índice de refração do núcleo Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica - Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 9 9 em relação à casca; classificam-se em Índice Degrau Standard, Dispersão Deslocada (Dispersion Shifed) ou Non-Zero Dispersion. Obs: As fibras ópticas transmitem luz com um comprimento de onda invisível ao olho humano. Portanto, nunca devemos olhar diretamente para uma fibra óptica enquanto ela estiver transmitindo, pois corremos o sério risco de ficarmos cego. Figura 11 - Fibras óticas (a) Estrutura (b) Fribra óptica monomodal. (c) Fibra óptica multimodal Dispersão A luz branca comum é uma superposição de cores cujos comprimentos de onda abrangem todo o espectro visível. A velocidade da luz no vácuo é a mesma para todos os comprimentos de onda, porém, no interior de um material, ela varia com o comprimento de onda Portanto, o índice de refração de um material depende do comprimento de onda. A dispersão indica como a velocidade da onda e o índice de refração dependem de seu comprimento de onda. A figura a seguir ilustra como varia o índice de refração n() para alguns materiais comumente usados em ótica. Figura 12 - Para quase todos os materiais, n aumenta quando o comprimento de onda diminui, ou a freqüência f aumenta. Para esses materiais, a luz que possui o comprimento de onda maior se desloca com velocidade superior àquela que possui comprimento de onda menor. A figura a seguir mostra um feixe de luz branca incidindo em um prisma. O desvio produzido pelo prisma aumenta com o aumento do índice de refração e da freqüência e com a diminuição do comprimento de onda. A luz violeta sofre o maior desvio e a luz vermelha é a que se desvia menos. As demais cores sofrem o desvio entre esses extremos. Quando a luz emerge do prisma, ela se espalha e as cores são separadas. Figura 13 - Dispersão luminosa da luz. Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica - Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 10 10 índice n Índice np N2 N1 2 r2 1 i2 i1 r1 O raio luminoso sofre duas refrações: a primeira ao entrar na interface entre o meio e o prisma: 1 1i r p sen n sen n 1 1 i p r sen n sen n E sofre um primeiro desvio angular 1; e a segunda refração: 2 2i p r sen n sen n 2 2 r p i sen n sen n Comparando as expressões: 2 2 r i sen sen 1 2 1 2 1 1 i r i i r r sen sen Ao passar do prisma para o meio, sofrendo outro desvio angular 2. Aplicando a geometria, temos: 1 2 2 2r i 1 2 1 21 1i r i r 2 2 2 22 2r i r i 1 2 2 2i r r i 1 2 2 2 ( )i r i r 1 2i r 2 Ao apreciar a beleza do arco-íris, você está vendo efeitos combinados de refração e reflexão. O Sol está atrás do observador e a luz se refrata para o interior de uma gotícula de água: a seguir ela é (parcialmente) refletida na parte interna posterior da gotícula de água e finalmente refratada, saindo da gotícula. A dispersão faz a separação das cores como resultado da refração que ocorre em ângulos diferentes para as diversas cores. Quando você vê um segundo arco íris, está vendo o resultado da dispersão e de duas reflexões que ocorrem na parte interna posterior da gotícula. Ambos os arco-íris, o arco-íris primário e o arco-íris secundário, podem ser vistos na figura a seguir. Figura 14 - Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica - Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 11 11 Polarização A polarização é uma característica de todas as ondas eletromagnéticas. Essa seção descreve a luz, contudo, deve-se lembrar que a luz é um tipo de onda transversal, formada por campos elétrico e magnético, perpendiculares entre si e dependentes do tempo, que podem estar em algum dos eixos x,y ou z. Sempre definimos como direção de polarização de uma onda eletromagnética como a direção do campo elétrico E e não a direção do campo magnético, pois quase todos os detetores de ondas eletromagnéticas funcionam sob a ação da força elétrica sobre os elétrons do material e não pela ação da força magnética. Figura 15 - (A) Esquema de onda eletromgnética. (B) Nesse caso, os campos elétricos e magnéticos são dados por: max ˆ( , )E x t E sen t kx j max ˆ( , )B x t B sen t kx k Nesse caso, a luz é polarizada na direção y. Filtros Polarizadores As ondas produzidas por uma emissora de rádio são em geral linearmente polarizadas. A antena vertical de um telefone celular emite ondas contida num plano horizontal em torno da antena e que são polarizadas em uma direção vertical (paralela à antena). Se uma antena de TV no telhado de uma casa possui um elemento horizontal ela capta ondas polarizadas na horizontal, se o elemento na antena estiver na direção vertical, ela detecta as ondas polarizadas verticalmente. Para a luz, a situação é diferente. As fontes comuns, como as lâmpadas incandescentes ou fluorescentes, emitem luz que não é polarizada. As ―antenas‖ que são ondas luminosas são as moléculas que constituem as fontes de luz. A luz emitida por uma única molécula, pode ser linearmente polarizada como a onda emitida por uma antena de rádio. Contudo, qualquer fonte de luz que tenha um número extremamente grande de moléculas com orientações caóticas, de modo que a luz emitida possui ondas polarizadas aleatoriamente em todas as direções transversais possíveis. Essa luz é chamada de luz natural ou luz não polarizada. Para produzir um feixe de luz polarizada a partir de um feixe de luz natural Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica - Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 12 12 é necessário um filtro análogo ao filtro indicado na figura a seguir. Figura 16 – (a) (b) (c) Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica - Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 13 13 Os filtros usados para polarizar ondas eletromagnéticas possuem difrentes detalhes de construção, que dependem do comprimento de onda. Para microondas, que possuem comprimentos de onda da ordem de alguns centímetros, um bom filtro polarizador é uma grade de fios condutores próximos e paralelos, isolados entre si e igualmente espaçados (imagine uma grelha de churrasqueira com a moldura de ferro externa substituída por uma outra de material isolante.) Os elétrons podem se mover livremente ao longo dos fios em resposta a uma onda com um campo elétrico E paralelo aos fios. A corrente resultante que percorre os fios dissipa calor com uma taxa Ri 2 ; a energia dissipada é oriunda das ondas, de modo que as ondas que atravessam a grade de fios paralelos possuam amplitudes menores do que as amplitudes das ondas incidentes. As ondas com um campo elétrico E perpendicular aos fios atravessam a rede praticamente sem nenhuma alteracão, visto que os elétrons não podem mover-se através do ar entre os fios. Portanto, um feixe de ondas que passa através desse tipo de filtro emerge polarizado perpendicularmente ao plano dos fios. No caso da luz, o filtro polarizador mais comum é conhecido como polaróide – nome derivado de uma marca registrada Poloroid -, largamente utilizada em óculos de sol e como filtros polarizadores em câmeras fotograficas. Desenvolvido inicialmente pelo cientista americano Edwin H Land, esse material possui uma propriedade chamada de dicroísmo, uma absorção seletiva na qual um dos componentes de onda é absorvido muito mais acentuadamente do que o outro. Um filtro polaróide transmite mais de 80% da intensidade da luz polarizada em uma direção paralela a um certo eixo do material, chamado de eixo polarizador, porém transmite menos de 1% quando a luz é polarizada em um eixo perpendicular a esse eixo. Em um tipo comum de filtro polaróide, existem longas cadeias de moléculas em seu interior orientadas em uma direção paralela ao comprimento dessa moléculas desenhando um papel análogo ao da grade de fios condutores que funcionam como filtro de microondas. Um filtro polarizador ideal, chamado simplesmente de polarizador, deixa passar 100% da luz polarizada que incide sobre ele quando a luz é linearmente polarizada na mesma direção do eixo do polarizador e bloqueia completamente a luz linearmente polarizada na mesma direção do eixo polarizador e bloqueia completamente a luz linearmente polarizada na direção perpendicular a esse eixo. Tal dispositivo é uma idealização inatingível, porém é um conceito útil para esclarecer idéias básicas. Nas discussões a seguir vamos assumir que todo polarizador seja ideal. Na figura anterio (c), uma luz não polarizada incide sobre um disco polarizador. O eixo do polarizador é indicado pela linha inclinada mostrada na figura. O valor de E do feixe incidente pode ser decomposto em componentes paralelos e perpendiculares ao eixo de polarização; somente os componentes de E paralelos ao eixo do polarizador são transmitidos. Portanto, a luz que emerge do polarizador é linearmente polarizada na direção paralela ao do eixo do polarizador. Quando um feixe de luz não polarizada incide sobre um polarizador ideal, como indicado na figura 16 (b), a intensidade da luz transmitida é exatamente igual a um meio da intensidade da luz não-polarizada incidente, qualquer que seja a direção do eixo polarizador. A explicação é a seguinte: podemos decompor o campo E em um componente paralelo e outro perpendicular ao eixo do polarizado. Como a luz incidente possui estados de polarização aleatórios, podemos dizer que, na média, os dois componentes são iguais. Como o polarizador ideal transmite apenas o componente paralelo ao seu eixo, podemos concluir quesomentemetade da intensidade incidente é transmitida. Quando a luz linearmente polarizada que emerge de um polarizador incide sobre um segundo polarizador, como indicado na figura 16 (b), considerando um caso geral, em que o eixo do segundo polarizador, ou analisador, faz um ângulo com o eixo de polarização do primeiro polarizador, podemos decompor a luz polarizada transmitida pelo primeiro polarizador em duas componentes, um paralela e uma perpendicular ao eixo do analisador. Somente o componente paralelo, com amplitude Ecos, será transmitido pelo analisador. A intensidade do feixe transmitido, será máxima, quando =00 e será 0 quando =900, ou seja,o eixo do polarizador está cruzado com do analisador. Para determinar a direção da polarização da luz transmitida pelo primeiro polarizador, giramos o analisador até que a fotocélula mostrada indique intensidade igual a 0; nessa posição o eixo do primeiro polarizador é perpendicular ao eixo do analisador. Para determinar a intensidade transmitida para valores intermediários do ângulo , esta é proporcional ao quadrado da amplitude de onda. A razão entre a amplitude da onda transmitida e a amplitude da onda incidente é igual a cos; portanto a razão entre suas intendidades é cos 2. Logo, a inensidade da luz que emerge do analisador é dada pela Lei de Malus:, descoberta experimentalmente em 1809 e vale somente quandoo feixe de luz que incide sobre o analisador já está linearmente polarizado: 2 max cosI I Imax: intensidade máxima da luz transmitida. I: intensidade transmitida para um dado ângulo . Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica - Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 14 14 Polarização com reflexão A luz não polarizada pode ser polarizada parcial ou totalmente, por meio da reflexão. Na figura a seguir, um feixe de luz não polarizada incide na superfície de separação entre dois materiais transparentes: denomina-se plano de incidência o plano que contém o raio incidente, o raio refletido e anormal à superfície. Figura 17 – Contudo, para determinado ângulo de incidência, denominado ângulo de polarização p, os componentes de E paralelos ao plano de incidência são totalmente refratados. Para esse mesmo ângulo de incidência, os componentes de E perpendiculares ao plano de incidência são parcialmente refletidos e parcialmente refratados. A luz refletida é, portanto, totalmente polarizada em um plano perpendicular ao plano de incidência, como indicado. A luz refratada é parcialmente polarizada em um plano paralelo a esse plano, logo a luz refratada é composta pela mistura da luz com o campo elétrico paralelo ao plano de incidência, cujos componentes são totalmente refratados, superpostos com os componentes perpendiculares restantes. E 1812, o cientista inglês Sir david Brewster descobriu que, quando o ângulo de incidência é igual ao ângulo de polarização p, o raio refletido é perpendicular ao raio refratado. Nesse caso, o ângulo de refração b torna-se igual ao complemento de p: 090b p De acordo com a lei da refração: a p b bn sen n sen 90 cosa p b p b pn sen n sen n b p a n tg n (Lei de Brewster para o ângulo de polarização) A polarização por reflexão possibilita o uso de eficiente de filtros polarizadores em óculos de sol. Quando a luz solar é refletida por uma supefície horizontal, o plano de incidência é vertical e a luz refletida contém preponderantemente luz polarizada na direção horizontal. Quando a reflexão ocorre na superfície lisa do asfalto de uma estrada ou na superfície de um lago, ela produz um ofuscamento indesejável. A visão pode ser melhorada se o excesso de luz reponsável pelo ofuscamento for eliminado. O fabricante de óculos produz lentes com eixo de polarização na direção vertical, de modo que a maior parte da luz refletida com polarização horizontal não atinja seus olhos. Além disso, os óculos também reduzem em cerca de 50% a intensidade global da luz não polarizada que incide sobre suas lentes. Figura 18 – (a) (b) Luz circularmente polarizada e elipticamente polarizada. Além da luz linearmente polarizada, a luz e outras ondas eletromagnéticas podem ser circularmente polarizadas ou elipticamente polarizadas. Para introduzir esses conceitos, vamos retornar mais uma vez aos estudos das ondas mecânicas em uma corda esticada. Quando duas ondas linearmente polarizadas estão em fase e possuem, mesma amplitude e se superpõe, como mostra a figura a seguir, cada ponto da corda deve possuir simultaneamente os deslocamentos y e z iguais em módulo. A onda Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica - Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 15 15 resultante está contida em um plano que forma um ângulo de 45 0 com os planos xy e xz. A amplitude da onda resultante é 2 vezes maior do que a amplitude de cada onda componente, e a onda resultante é linearmente polarizada. Figura 19 – Mas vamos supor agora que as duas ondas mencionadas possuam uma diferença de fase de ¼ de ciclo. Então o movimento resultante de cada ponto corresponde a uma superposição de dois movimentos harmônicos simples ortogonais, com uma diferença de fase de ¼ de ciclo. O deslocamento y de um dado ponto é máximo quando o deslocamento z é igual a zero e vice versa. O movimento resultante da corda não está mais contido em um único plano. Podemos mostrar que cada ponto descreve uma circunferência contida em um plano paralelo ao plano yz. Os pontos sucessivos da corda contém diferença de fase consecutivas e o movimento resultante assemelha-se a um movimento helicoidal. Isso é mostrado no lado esquerdo do polarizador indicado da figura 15. Esse tipo particular de superposição de duas ondas linearmente polarizadas denomina-se polarização circular. Por convenção dizemos que a luz é circularmente polarizada direita ou destrógira quando o sentido do movimento de uma partícula da corda, para um observador que olhe a onda se aproximar frontalmente é horário: a luz é circularmente polarizada esquerda ou levógira se o sentido do movimento é contrário, ou seja, anti- horário. Na figura acima, mostra-se a situação análoga para o caso de uma onda eletromagnética. Ocorrem a superposiçao de duas ondas senoidais de amplitudes iguais, polarizadas ao longo dos eixos y e z e com uma diferença de fase de ¼ de ciclo. Na onda resultante, o vetor E em cada ponto possui módulo constante, porém gira em torno da direção de propagação da onda. A figura ilustra o caso de uma onda circularmente polarizada destrógira, pois quando a onda se aproxima de você o vetor E gira para a direita. Quando a diferença de fase entre as ondas componentes é diferente de um quarto de ciclo, ou quando as duas ondas componentes possuem amplitudes diferentes, então cada ponto da corda, em vez de descrever uma circunferência, passa a escrever uma elipse. A onda resultante é chamada de elipticamente polarizada. Para as ondas eletromagnéticas na faixa de radiofreqüência, a polarização circular o elíptica pode ser produzida usando-se duas antenas perpendiculares, alimentadas pelo mesmo transmissor, porém com circuitos projetados para se produzir diferenças de fase apropriadas. No caso da luz, a diferença de fase necessária para ser obtida usando-se um material com birrefringência, ou seja, aquele que possui dois índices de refração para ondas polarizadas em planos perpendiculares entre si. Um exemplo comum é a calcita (CaCO3). Quando um cristal de calcita está orientado convenientemente em relação a um feixe de luz, não-polarizada, seu índicede refração para um comprimento de onda de 589 nm é igual a 1.658 para uma onda polarizada em certa direção e igual a 1.486 para uma onda polarizada em uma direção perpendicular à primeira. Quando duas ondas com amplitudes iguais e polarizadas em planos perpendiculares entre si penetram nesse material, elas se propagam no interior desse material com velocidades diferentes. . Quando elas estão em fase ao penetrar no material, então geralmente não estão em fase quando dele emergem. Quando o material possui uma espessura apropriada suficiente para produzir uma diferença de um quarto de ciclo, o cristal converte luz linearmente polarizada em luz circularmente polarizada. Esse tipo de cristal é chamado de lâmina de um quarto de onda ou placa de um quarto de onda. Essa placa também pode converter luz circularmente polarizada em luz linearmente polarizada. Você é capaz de demonstrar essa afirmação? Fotoelasticidade Alguns materiais que normalmente não exibem birrefringência podem se tornar bir- refringentes quando submetidos a tensões mecânicas. Essa c a base de uma ciência deno- minada fotoelasticidade. Tensões em vigas, nas paredes de caldeiras e nos pilares de uma catedral podem ser analisadas construindo-se um modelo transparente do objeto, geralmente de um material plástico, submetendo o objeto a tensões e analisando-o com luz polarizada entre um polarizador cruzado com um analisador. Distribuições de tensões extremamente complicadas podem ser analisadas com esse método ótico. Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica - Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 16 16 Espalhamento da Luz O céu é azul. O pôr-do-sol é vermelho. A luz do céu é parcialmente polarizada: por isso, quando olhamos para o céu usando óculos com lentes polaróides notamos que o céu em certas direções parece mais escuro do que em outras. Um mesmo fenômeno é responsável por todos esses efeitos. Ao olhar para o céu durante o dia, a luz que você vê é a luz solar que foi absorvida e depois retransmitida em muitas direções. Esse fenômeno denomina-se espalhamento. (Caso a Terra não possuísse atmosfera, o céu seria negro tanto durante o dia quanto à noite, tal como um astronauta vê o céu em volta da Lua quando ele está no espaço ou sobre a superfície lunar: você veria a luz solar somente quando olhasse diretamente para o Sol e poderia observar as estrelas também durante o dia.) A Figura 20 mostra alguns detalhes do processo do espalhamento. A luz solar, que não é polarizada, incide da esquerda para a direita ao longo do eixo Ox e passa acima de um observador que está olhando verticalmente de baixo para cima ao longo do eixo Oy. (Estamos vendo a cena lateralmente.) Considere moléculas do ar atmosférico localizadas no ponto O. As cargas elétricas de cada molécula oscilam por causa da ação do campo elétrico da luz solar. Como a luz é uma onda transversal, a direção do campo elétrico de qualquer componente do feixe da luz solar permanece sobre o plano yz; e o movimento das cargas deve ocorrer sobre esse plano. Não existe nenhum campo e, portanto, nenhum movimento ao longo do eixo Ox. Uma onda de luz com o campo elétrico E formando um ângulo com o eixo Oz obriga as cargas elétricas das moléculas a vibrar ao longo da direção de E, conforme indicado pelas setas em torno de O. Podemos decompor essa vibração em uma vibração ao longo do eixo Oy e outra ao longo do eixo Oz. Cada componente da luz incidente produz o efeito semelhante ao de uma "antena", oscilando com a mesma freqüência da luz incidente e situada sobre o eixo Oy e sobre o eixo Oz. Figura 20 – Uma carga oscilante não irradia na direção de sua vibração. Portanto, a "antena" ao longo do eixo Oy não emite nenhuma luz para o observador que está diretamente abaixo, embora ela emita luz nas outras direções. Assim, a luz que atinge o observador deitado é proveniente de outras "antenas" moleculares correspondentes às cargas que oscilam do eixo Oz. Essa luz é linearmente polarizada, com o campo elétrico ao longo do eixo Oz. Os vetores com setas opostas paralelos ao eixo Oz abaixo do ponto O indicado na Figura 20 mostram a direção da polarização da luz que incide sobre o observador deitado. Como o feixe original da luz solar passa através da atmosfera, sua intensidade diminui à medida que a energia é retirada para a luz espalhada. Uma análise rigorosa do processo de espalhamento mostra que a intensidade da luz espalhada pelas moléculas do ar aumenta com a quarta potência da freqüência (é inversamente proporcional à quarta potência do comprimento de onda). Logo, a razão entre as intensidades dos dois extremos do espectro visível é dada por (700 nm/400 nm) 4 = 9,4. Fazendo-se uma aproximação, podemos dizer que a luz azul é cerca de nove vezes mais espalhada do que a luz vermelha. É por isso que o céu é azul. As nuvens contêm uma concentração elevada de gotículas de água e de pequenos cristais de gelo que também espalham a luz. Por causa disso, a luz que passa através das nuvens possui mais centros de espalhamento de tipos diferentes do que no caso do céu sem nenhuma nuvem. Portanto, a luz com todos os comprimentos de onda acaba sendo espalhada, de modo que as nuvens parecem brancas. A cor do leite é branca pela mesma razão: todas as cores são espalhadas por pequenos glóbulos de gordura existentes no leite. Se você diluir o leite misturando-o com uma quantidade de água suficiente, a concentração dos glóbulos de gordura passará a ser muito pequena, de modo que a cor azul será espalhada mais substancialmente do que as outras cores; portanto, a solução fortemente diluída será azul e não branca. (O leite sem gordura, que também contém uma pequena concentração de glóbulos, exibe, pela mesma razão, uma cor ligeiramente azulada.) Perto do pôr-do-sol quando a luz solar atravessa uma extensa camada da atmosfera ter- restre, uma grande quantidade da luz azul é removida pelo espalhamento na atmosfera. A luz solar sem a cor azul parece ser vermelha ou ligeiramente amarela. Isso explica por que você geralmente vê a luz solar amarela ou vermelha durante o poente (e isso é notado pelo obser- vador indicado no lado direito da Figura 20.) Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica - Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 17 17 Como a luz solar é parcialmente polarizada, um polarizador pode ser útil na arte fotográfica. Você pode obter uma fotografia do céu escuro usando um polarizador com um eixo perpendicular à direção do eixo com a polarização predominante da luz espalhada. A luz mais fortemente polarizada provém da parte do céu que está a 90 0 afastada da direção da luz proveniente do Sol — por exemplo, a direção diretamente acima de nossa cabeça quando o Sol está no levante ou no poente. Princípio de Huygens As leis da reflexão e da refração que estudamos anteriormente foram descobertas experimentalmente muito tempo antes de a natureza ondulatória da luz ser de fato comprovada. Contudo, podemos deduzir essas leis a partir de considerações ondulatórias e mostrar que elas são consistentes com a natureza ondulatória da luz. O mesmo tipo de análise que faremos aqui será muito importante quando estudarmos a ótica física. Vamos começar com um princípio conhecido como princípio de Huygens. Em 1678 o cientista holandês Christian Huygens formulou um princípio que permite a construção geométrica de uma nova frente de onda a partir de uma frente de onda conhecida em um dado instante. Huygens afirmou que todos os pontos de uma frente de onda podem ser considerados fontes de ondas secundárias que se espalham para fora com uma velocidade igual à velocidade de propagação da onda. A nova frente de onda em uminstante posterior pode ser determinada construindo-se uma superfície que tangencie as ondas secundárias, ou, como se costuma dizer, traçando-se a envoltório das ondas secundárias. Todos os resultados obtidos a partir da aplicação do princípio de Huygens também podem ser conseguidos com as equações de Maxwell. Logo, ele não é um princípio independente, mas de uma ferramenta geralmente útil para explicar fenômenos ondulatórios. O princípio de Huygens é ilustrado na Figura 21. A frente de onda AA' está se deslocando para fora de uma fonte, como indicam as pequenas setas. Vejamos determinar a forma da frente de onda depois de um intervalo de tempo t. Seja v a velocidade de propagação da onda; então no intervalo de tempo t ela se deslocou de uma distância vt. Construímos diversas circunferências (interseções das ondas secundárias esféricas com o plano) centralizadas nos pontos da frente de onda AÃ' com raios vt. A envoltória dessas ondas secundárias, que fornece a nova frente de onda, é a curva BB'. Estamos supondo que a velocidade v seja a mesma em todos os pontos e em todas as direções. Para deduzir a lei da reflexão a partir do princípio de Huygens, consideramos uma onda plana aproximando-se de uma superfície refletora plana. Na Figura 34.27, as linhas AA', OB' e NC' representam posições sucessivas das frentes de onda que se aproximam da superfície MM'. O ponto A da frente de onda AA´ acaba de atingir a superfície refletora. Podemos usar o princípio de Huygens para determinar a frente de onda depois de um intervalo de tempo t. Usando os pontos da reta AA´ como centros, podemos desenhar diversas ondas secundárias com raios vt. As ondas secundárias que se originam na extremidade superior de AA´ se espalham até encontrar o obstáculo, e a envoltória dessas ondas fornece o segmento OB' da nova frente de onda. Caso a superfície refletora não existisse, as ondas secundárias que se originam na extremidade inferior de AA´ se espalhariam de modo análogo e atingiriam as posições indicadas pelas linhas tracejadas. Em vez disso, essas ondas secundárias atingem a superfície refletora. A superfície refletora produz uma variação da direção dessas ondas secundárias que incidem sobre ela, de modo que as ondas secundárias que deveriam penetrá-la na realidade retornam para o lado esquerdo da superfície, como indicam as linhas contínuas. A primeira dessas ondas secundárias está centralizada no ponto A; a envoltória das ondas secundárias que retornam é o segmento OB da frente de onda. O traço da frente de onda completa nesse instante fornece o ângulo definido pela linha BOB'. Um raciocínio semelhante permite a construção da linha CNC´ para a frente de onda depois de outro intervalo de tempo t. Figura 21 – De acordo com a geometria plana, o ângulo a entre a frente de onda incidente e a Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica - Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 18 18 superfície é igual ao ângulo entre o raio incidente e a normal à superfície, e, portanto, é o ângulo de incidência. Analogamente, r, é o ângulo de reflexão. Para achar a relação entre esses dois ângulos, observe a Figura 22. A partir de O desenhamos o segmento OP = vt, perpendicular a AA´. O segmento OB, por construção, é tangente ao círculo vt com centro em A. Desenhando o segmento AQ a partir de A até o ponto de tangência, os triângulos APO e OQA são congruentes porque são triângulos retângulos que possuem o lado comum AO e o lado AQ = OP = vt. Portanto, concluímos que a = r, obtendo assim a lei da reflexão. Figura 22 – Podemos deduzir a lei da refração fazendo um raciocínio semelhante. Na Figura 23 temos uma frente de onda plana, representada pela linha reta AA'. para a qual o ponto A acaba de incidir sobre a interface SS' entre os dois materiais transparentes a e b que possuem índices de refração na e nb e nos quais as velocidades das ondas são va e vb. (As ondas refletidas não são indicadas nessa figura; elas se propagam exatamente como indicado na Figura 22). Podemos aplicar o princípio de Huygens para determinar as posições das frentes de onda depois de um intervalo de tempo t. Usando os pontos da reta AA' como centros, desenhamos diversas ondas secundárias. Aquelas que se originam na extremidade superior de AA' se deslocam com velocidade va e, depois de um intervalo de tempo t, são superfícies esféricas com raio vt. Contudo, a onda secundária com origem no ponto A se desloca no segundo material com velocidade vb, e. depois de um intervalo de tempo t, é uma superfície esférica com raio vbt. A envoltória das ondas secundárias obtidas a partir da frente de onda inicial é a nova frente de onda cuja interseção com o plano da página fornece a linha BOB'. Uma construção semelhante nos permite traçar a linha CPC' depois de um segundo intervalo de tempo t. O ângulo a entre a superfície e a frente de onda incidente é o ângulo de incidência, e o ângulo b, entre a superfície e a frente de onda refratada é o ângulo de refração. Para verificar a relação entre esses ângulos observe a Figura 23 (b). Desenhe o segmento OQ = vat na direção perpendicular a AQ e trace o segmento AB = vbt na direção perpendicular a BO. Pelo triângulo AOQ: a a v t sen AO Pelo triângulo AOB: b b v t sen AO Combinamos as relações anteriores e teremos: a a b b sen v sen v Figura 23 - Como: a a b bn c v n c v b b a a a b n c v v n c v v a b b a sen n sen n ou a a b bsen n sen n que reconhecemos como a lei de Snell. Desse modo, deduzimos a lei de Snell a partir de uma teoria ondulatória. Alternativamente, podemos considerar a lei de Snell um resultado experimental que define o índice de refração de um material; nesse caso, a análise anterior ajuda a confirmar a relação v = c/n para a velocidade em um material. As miragens fornecem outro exemplo do emprego do princípio de Huygens. Quando os raios solares aquecem a superfície de um pavimento ou a areia do deserto, forma-se nos arredores da superfície, uma camada quente, menos densa, com índice de refração n menor do que o índice de refração da camada superior. A velocidade da luz nessas áreas da superfície é ligeiramente maior do que nas vizinhanças da camada superior, e as ondas secundárias de Huygens possuem raios um pouco maiores, de modo que as frentes de onda se inclinam levemente e os raios que se aproximam da superfície com ângulos de incidência elevados, (próximos de 90°) se encurvaram para cima, como indicado na Figura 24. O raio de luz que está afastado do solo não sofre quase nenhum desvio e se propaga praticamente em linha reta. O observador vê o objeto em sua posição natural, juntamente com uma imagem invertida embaixo dela, como se ela estivesse observada refletida por uma superfície horizontal. Mesmo Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica - Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 19 19 quando a turbulência do ar aquecido impede a formação de uma imagem invertida nítida, o cérebro do viajante sedento interpreta a imagem como se ela estivesse refletida pela superfície do lago. Figura 24 - Vidro. Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica - Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 20 20 Introdução Seu reflexono espelho do banheiro, a Lua vista por meio de um telescópio, os desenhos observados em um caleidoscópio; todas essas visões são exemplos de imagens. Em cada um desses casos, os objetos são vistos em posições aparentes diferentes das posições nas quais eles realmente se encontram; seu reflexo forma uma imagem do outro lado do espelho, a Lua parece estar muito mais próxima quando você a observa através do telescópio e um objeto visto em um caleidoscópio parece estar em diversos lugares ao mesmo tempo. Em cada caso, um raio de luz proveniente de um ponto do objeto sofre um desvio produzido por reflexão ou refração (ou uma combinação dos dois efeitos) e parecem divergir de ou convergir para um ponto chamado de imagem puntiforme. Nosso objetivo é verificar como isso ocorre e estudar os diferentes tipos de imagens que podem ser obtidos usando-se um dispositivo ótico simples. Para entender as imagens e como elas são formadas, precisamos apenas do modelo da descrição da luz por meio de raios, as leis da reflexão e da refração e um pouco de geometria e de trigonometria. O papel central desempenhado pela geometria em nossa análise é o principal motivo de usarmos o nome ótica geométrica para designar o estudo da formação de imagens. Começaremos pelo espelho plano, um dos dispositivos óticos mais simples para a formação de imagens. A seguir estudaremos como as imagens são formadas por espelhos curvos, por superfícies refratoras e por lentes delgadas. Nossos estudos servirão de base para entender o funcionamento de muitos instrumentos óticos familiares, incluindo a máquina fotográfica, a lupa, o olho humano, o microscópio e o telescópio. REFLEXÃO E REFRAÇÃO EM EMA SUPERFÍCIE PLANA Antes de discutir o que significa uma imagem, inicialmente precisamos do conceito de objeto empregado na ótica. Chamamos de objeto qualquer coisa da qual emanem raios de luz. Quando a luz é emitida pelo próprio objeto dizemos que ele possui luz própria — como, por exemplo, o filamento de uma lâmpada comum. Alternativamente, depois de emitida por uma fonte (como o Sol ou uma lâmpada), a luz se reflete no objeto; por exemplo, quando você lê este livro, a luz é refletida pelas páginas do livro. A Figura l mostra raios de luz irradiados em todas as direções por um objeto situado no ponto P. Figura 1 - (a) (b) Espelho plano Para que um observador veja diretamente o objeto é necessário que não haja nenhum obstáculo entre o objeto e o olho do observador. Note que os raios que partem do objeto chegam ao olho do observador formando ângulos diferentes; a diferença entre os dois ângulos é processada no cérebro do observador para obter uma estimativa da distância entre o observador e o objeto. O objeto P indicado na Figura 1 denomina- se objeto puntiforme e é representado por um ponto que não possui nenhuma dimensão. Os objetos reais que possuem comprimento, largura e altura são chamados de objetos estendidos. Inicialmente vamos considerar um objeto ideal concentrado em um ponto, visto que um objeto estendido pode ser um conjunto muito grande de objetos puntiformes. Suponha que alguns raios provenientes do objeto atinjam uma superfície plana refletora (Figura 1 (b)). Essa superfície poderia ser a fronteira de um material com índice de refração diferente, que reflete parte da luz incidente, ou então uma superfície metálica polida que reflete quase 100% da luz incidente. Vamos sempre representar uma superfície refletora como uma Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica - Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 21 21 linha negra com um sombreado adjacente na parte traseira da interface, como na Figura 2. Os espelhos usados em banheiros possuem uma fina placa de vidro na parte dianteira da superfície refletora para protegê-la: desprezaremos o efeito dessa fina placa de vidro. De acordo com a lei da reflexão, para todo raio que atinge a superfície o ângulo de incidência é igual ao ângulo de reflexão. Como a superfície é plana, a normal é sempre perpendicular à superfície em todos os seus pontos e a reflexão é especular. Parece que os raios depois de refletidos emanam de um ponto P'. Chamamos o ponto P de objeto puntiforme e o ponto P' correspondente denomina-se imagem puntiforme; dizemos então que a superfície refletora forma uma imagem do ponto P. Um observador que esteja vendo apenas os raios re- fletidos pela superfície e que não sabe que está vendo uma reflexão pensa que os raios estão emanando do ponto onde se forma a imagem P'. A imagem puntiforme é portanto um modo conveniente de descrever as direções dos diversos raios refletidos, assim como o objeto puntiforme P descreve as direções dos raios que atingem a superfície antes da reflexão. Se a superfície indicada na Figura 2 não fosse lisa, ocorreria uma reflexão difusa e os raios refletidos de diversos pontos da superfície possuiriam direções diferentes. Nesse caso não haveria a formação de uma imagem puntiforme P' a partir da qual os raios parecem emanar. Ao olhar para uma superfície metálica comum você não consegue ver sua imagem refletida porque geralmente essa superfície é rugosa; fazendo o polimento do metal você alisa a superfície de modo que a reflexão especular se torna possível e vê-se uma imagem refletida. Uma imagem também é formada por uma superfície plana refratora, como indicado na Figura 3. Os raios provenientes de um ponto P são refratados na interface entre dois materiais transparentes. Quando os ângulos de incidência são pequenos, as direções dos raios depois da refração são oriundas de um ponto P', conforme indicado, e chamamos novamente P' de imagem puntiforme. Mostramos como esse efeito faz com que um objeto imerso na água pareça estar mais próximo da superfície do que sua posição real (Veja a Figura 2). Figura 2 - Os raios não passam através da imagem puntiforme P'. Na verdade quando o espelho na Figura 1 é opaco não existe absolutamente nenhuma luz em seu lado direito. Quando os raios emergentes não passam efetivamente no local onde se encontra o objeto, dizemos que nesse local se forma uma imagem virtual. Mais adiante analisaremos casos para os quais os raios passam efetivamente no local onde se encontra o objeto — dizemos que nesse local se forma uma imagem real. As imagens que se formam sobre uma tela de cinema, sobre a película de uma máquina fotográfica e sobre as retinas dos seus olhos são exemplos de imagens reais. FORMAÇÃO DA IMAGEM EM UM ESPELHO PLANO Vamos no momento nos concentrar na descrição de imagens formadas por reflexão; voltaremos ao problema da refração mais adiante neste capítulo. Para localizar a imagem virtual P' que um espelho plano forma para um objeto P usaremos a construção indicada na Figura 3. A figura mostra dois raios oriundos de um objeto puntiforme P situado a uma distância s à esquerda de um espelho plano. Figura 3- Chamaremos s de distância do objeto. O raio PV incide ortogonalmente sobre o espelho plano (ou seja, ele é perpendicular à superfície do espelho) e retorna na mesma direção do raio original. Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica - Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 22 22 O raio PB forma um ângulo 0com o raio PV. Ele atinge o espelho plano com ângulo de incidência O e se reflete formando o mesmo ângulo com a normal. Estendendo os dois raios refletidos para trás do espelho, eles se cruzam em um ponto P' situado a uma distância s' atrás do espelho. Chamaremos s' de distância da imagem. A linha que liga P com P' é perpendicular ao espelho.Os dois triângulos são congruentes, de modo que P e P' possuem distâncias iguais até o espelho plano e portanto s e s' possuem módulos iguais. A distância entre o espelho e a imagem P' formada atrás do espelho é exatamente igual a distância na frente do espelho entre o objeto P e a superfície do espelho. Podemos repetir a construção indicada na Figura 3 para qualquer raio que emane do ponto P. A direção de qualquer raio refletido é tal que parece que ele é oriundo do ponto P', confirmando que P' é a imagem de P. Qualquer que seja a posição da pessoa que está observando o objeto, ela sempre verá a imagem localizada no ponto P'. REGRAS DE SINAIS Antes de prosseguir vamos introduzir algumas regras de sinais. Elas podem parecer desnecessariamente complicadas para o caso simples da imagem formada por um espelho plano, porém desejamos formular essas regras de modo que possam ser aplicadas para quaisquer situações que sejam encontradas mais adiante. Essas situações incluem a formação de imagens por meio da reflexão ou da refração em interfaces planas ou esféricas ou de um par de superfícies refratoras que formam uma lente. As regras são: 1. Regra do sinal para a distância do objeto: Quando o objeto está do mesmo lado da luz que incide sobre a superfície refletora ou refratora, a distância do objeto s é positiva; em caso contrário, é negativa. 2. Regra do sinal para a distância da imagem: Quando a imagem está do mesmo lado da luz que emerge da superfície refletora ou refratora, a distância da imagem s' é positiva; em caso contrário, é negativa. 3. Regra do sinal para o raio de curvatura de uma superfície esférica: Quando o centro de curvatura Cesta do mesmo lado da luz que emerge da superfície refletora ou refratora, o raio de curvatura é positivo; em caso contrário, é negativo. Para um espelho o lado do raio incidente é sempre o mesmo do raio emergente; por exemplo, nos dois casos indicados nas figuras 2 e 4 o lado em questão é o lado esquerdo. Para a superfície refratora indicada na Figuras 2, o lado da luz incidente é o lado esquerdo da interface entre os materiais e o lado da luz emergente é o direito. Na Figura 3 a distância do objeto s é positiva porque o objeto puntiforme P está do lado da luz incidente sobre a superfície refletora (o lado esquerdo). A distância da imagem s' é negativa porque a imagem puntiforme P' não está do lado da luz que emerge da superfície refletora (o lado esquerdo). As distâncias s e s´ são relacionadas por s s ~ Para uma superfície refletora ou refratora plana, os raios de curvatura são infinitos e, portanto, não fornecem nenhuma informação útil; para esses casos na verdade não necessitamos da terceira regra. Porém, mais adiante neste capítulo, veremos que essa regra será extremamente útil quando estudarmos a formação de imagens no caso de interfaces curvas que refletem ou refratam a luz. FORMAÇÃO DA IMAGEM DE UM OBJETO - ESPELHO PLANO Vamos agora considerar um objeto estendido com um tamanho definido. Por simplicidade geralmente tomamos um objeto que possui apenas uma dimensão, tal como uma seta estreita orientada paralelamente à superfície refletora, como a seta PQ na Figura 5. Figura 5 - A distância entre o ponto inicial e a extremidade da seta indicada desse modo é sua altura; na Figura 5 a altura é y. A imagem formada por esse objeto estendido é uma imagem estendida; cada ponto do objeto possui um ponto correspondente da imagem. Mostramos dois raios provenientes do ponto Q; parece que todos os raios provenientes de Q divergem da imagem puntiforme Q' depois da reflexão. A imagem da seta é o segmento P'Q', com altura y'. Os outros pontos do objeto PQ possuem imagens entre os pontos P' e Q'. Os triângulos PQV e P'Q'V são congruentes, de modo que PQ possui a mesma dimensão e orientação da imagem P'Q', logo y = y'. A razão entre a altura da imagem e a altura do objeto, Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica - Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 23 23 y'/y, em qualquer situação de formação de imagem, denomina-se ampliação transversal m; ou seja: y m y (ampliação transversal) Logo, para um espelho plano a ampliação transversal m é igual a l. Quando você olha para um espelho plano, sua imagem possui um tamanho igual ao seu. Na Figura 5 a seta que representa a imagem aponta na mesma direção e no mesmo sentido da seta que representa o objeto; dizemos que a imagem está em pé, é direita ou então que se trata de uma imagem ereta. Nesse caso, y e y' possuem o mesmo sinal e a ampliação transversal m é positiva. A imagem formada por um espelho plano é sempre ereta, de modo que y e y' possuem sempre o mesmo sinal e o mesmo módulo; de acordo com a Equação da ampliação transversal é sempre dada por m = +1. Mais adiante encontraremos situações nas quais obtemos uma imagem invertida, ou seja, a seta da imagem aponta no sentido oposto à seta que identifica o objeto. Para uma imagem invertida, v e v' possuem sempre sinais contrários e a ampliação transversal m é sempre negativa O objeto indicado na Figura 5 possui apenas uma dimensão, sua altura y'. A Figura 6 mostra um objeto em três dimensões formando uma imagem virtual em três dimensões em um espelho plano. O sentido aparente da imagem é relacionado com o sentido do objeto do mesmo modo que a mão esquerda é relacionada com a mão direita. Figura 6 - (a) (b) Você certamente perguntará: "Por que a imagem é reversa e troca a direita com a esquerda porém mantém o sentido vertical de baixo para cima inalterado?" A pergunta é embaraçosa! Como se observa na Figura 6 (a), tanto a imagem vertical P'Q' quanto a imagem horizontal P'S' são indicadas por vetores paralelos aos respectivos vetores do objeto e não sofrem nenhuma reversão! Somente o vetor que indica a imagem frontal de trás para frente PT? é que está invertido em relação ao vetor que indica o objeto PR. Portanto, seria mais correto dizer que um espelho plano reverte apenas o sentido de frente para trás na direção frontal em relação ao espelho. Para verificar essa formação de imagens aponte seus dois polegares ao longo de PR e PT?', os dedos indicadores ao longo de PQ e P'Q' e. seus dedos médios ao longo de PS e P'S'. Para evitar confusão com a definição de imagem invertida feita anteriormente, dizemos que a imagem obtida por um espelho plano constitui uma imagem reversa: objetivamente somente ocorre inversão no sentido de frente para trás na direção frontal em relação ao espelho. A imagem reversa formada por um espelho plano de um objeto em três dimensões possui o mesmo tamanho do objeto em todas as dimensões. A imagem é ereta na direção paralela ao espelho. Portanto, um espelho plano forma sempre uma imagem ereta porém reversa. A Figura 6 (b) fornece um exemplo disso. Uma propriedade importante de todas as imagens formadas por superfícies refletoras ou refratoras é que uma imagem formada por uma superfície ou por um dispositivo ótico pode servir como um objeto para a formação de outra imagem para uma segunda superfície ou dis- positivo. A Figura 7 fornece um exemplo simples. Figura 7 - Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica - Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 24 24 O espelho l forma uma imagem P, ' de um objeto situado no ponto P e o espelho 2 forma outra imagem P', cada uma delas do modo que acabamos de descrever. Porém, além disso, a imagem P,' formada pelo espelho l serve como objeto para o espelho 2, que a seguir forma uma imagem desse novo objeto no ponto P^' como indicado. Analogamente, o espelho l
Compartilhar