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Apostila de Psicologia Aplicada ao Direito

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1 
 
 
CIÊNCIAS JURÍDICAS 
PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITO (CCJ 0004) 
PROFESSOR: ADELMO SENRA GOMES 
(adelmoprofessor20142@bol.com.br) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TÓPICOS A SEREM ABORDADOS EM SALA DE AULA 
(Obs.: A leitura e os estudos dos textos a seguir deverão ser feitos conjuntamente aos 
textos das três Apostilas disponibilizadas pela Universidade!) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2014.2 
2 
 
Temas a serem abordados 
 
Aula 1 – Introdução do Estudo da Psicologia 
História da psicologia e sua importância para o direito; 
Psicologia científica X Psicologia do senso comum; 
Objeto de estudo da psicologia; 
Fenômenos psicológicos e sua importância. 
 
Aula 2 – Desenvolvimento humano: aspectos psicossociais 
Conceito de desenvolvimento humano; 
Hereditariedade e meio ambiente; 
Teoria do desenvolvimento psicossocial. 
 
Aula 3 – Personalidade: definições, determinantes e formação 
Personalidade: definição; 
Formação e determinantes da personalidade; 
Estruturas clínicas da personalidade. 
 
Aula 4 – Gênero: representações sociais 
Conceito de gênero; 
Sexualidade e gênero; 
Identidade de gênero e orientação sexual; 
Violência de gênero. 
 
Aula 5 – A família: relações afetivas e tipos de famílias na contemporaneidade 
A formação das relações afetivas; 
Formação da família; 
Funções da família; 
Tipos de família. 
 
Aula 6 – Influências sociais, preconceitos, estereótipos e discriminação 
Construção de estigmas; 
A Lei Federal nº 10.216 (Lei Paulo Delgado). 
 
Aula 7 – Aspectos psicológicos das relações humanas. Comportamento antissocial e violência 
Lei simbólica e Lei Jurídica; 
Definição de violência e agressividade; 
Formas de violência; 
Comportamentos antissociais; 
Transtorno de personalidade antissocial: características e consequências. 
 
Aula 8 – A psicologia, o judiciário e a busca pelo ideal de Justiça – Justiça Restaurativa. Métodos 
autocompositivos de resolução de conflitos. 
Direito e Justiça; 
Justiça Restaurativa X Justiça Tradicional 
Mecanismos autocompositivos de resolução de conflitos. 
 
Aula 9 – As práticas “psi” e suas aplicações no contexto jurídico: área de família 
O trabalho do psicólogo nas varas de família; 
A guarda de crianças e adolescentes; 
O processo de alienação parental e suas consequências legais e psicológicas. 
 
Aula 10 - As práticas “psi” e suas aplicações no contexto jurídico: área da infância, juventude e 
idoso 
3 
 
A importância do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA); 
Tipos de violência contra criança e adolescentes; 
O processo de adoção e suas etapas; 
O Estatuto do Idoso e a violência contra o idoso; 
O trabalho do psicólogo no Juizado da Infância, Juventude e do Idoso. 
 
Aula 11 - As práticas “psi” e suas aplicações no contexto jurídico: área da infância e juventude 
O Código de Menores e o ECA quanto aos adolescentes em conflito com a lei; 
Medidas socioeducativas; 
O processo de inclusão social dos adolescentes em conflito com a lei; 
O trabalho do psicólogo no Juizado da Infância e Juventude. 
 
Aula 12 - As práticas “psi” e suas aplicações no contexto jurídico: área criminal e sistema 
penitenciário 
O trabalho do psicólogo na área criminal; 
O Sistema Penitenciário Brasileiro – aspectos sociais; 
O trabalho do psicólogo no Sistema Penitenciário. 
 
Aula 13 – Avaliação psicológica no Judiciário. Documentos elaborados pelo psicólogo. Alguns 
itens do Código de Ética dos psicólogos. 
O processo de avaliação psicológica no judiciário: questões fundamentais; 
Perito psicológico X Assistente técnico; 
Breve apresentação sobre os documentos elaborados pelo psicólogo no judiciário; 
Algumas questões éticas ligadas ao psicólogo que presta serviço ou trabalha no judiciário. 
 
Aula 14 – Revisão da matéria até a aula 6. 
 
Aula 15 – Revisão da matéria da aula 7 em diante. 
 
4 
 
 
 
 
 
CALENDÁRIO ACADÊMICO 2014.2 (1º PERÍODO) 
 
 DIAS DA SEMANA 
2ª FEIRA 3ª FEIRA 4ª FEIRA 5ª FEIRA 6ª FEIRA 
 21 (SJM Fer) 22 
25 26 27 28 29 
 
 
SET 
01 02 03 04 05 
08 09 10 11 12 
15 16 17 18 19 
22 23 24 25 26 
29 30 
 
 
OUT 
 01 02 03 
06 07 08 (AV1) 09 (AV1) 10(AV 1) 
13(AV1) 14(AV1) 15 (Feriado) 16 17 
20 CNA 21 CNA 22 CNA 23 CNA 24 
27 28 29 30 31 
 
 
NOV 
03 04 05 06 07 
10 11 12 13 14 
17 18 19 20 (Feriado) 21 
24 25 (AV2) 26 (AV2) 27 (AV2) 28 (AV2) 
 
DEZ 
01 (AV2) 02 03 04 05 
08 (Feriado) 09 (AV3) 10 (AV3) 11 (AV3) 12 (AV3) 
15 (AV3) 16 (Fim) 
 
Humor... 
5 
 
AULA 1 
 
O que é Ciência? 
“A ciência compõe-se de um conjunto de conhecimentos sobre fatos 
ou aspectos da realidade (objeto de estudo), expresso por meio de 
uma linguagem precisa e rigorosa. Esses conhecimentos devem ser 
obtidos de maneira programada, sistemática e controlada [pesquisa], 
para que se permita a verificação de sua validade. Assim, podemos apontar o objeto 
dos diversos ramos da ciência e saber exatamente como determinado conteúdo foi 
construído, possibilitando a reprodução da experiência. Dessa forma, o saber pode 
ser transmitido, verificado, utilizado e desenvolvido. 
Essa característica da produção científica possibilita sua continuidade: um novo 
conhecimento é produzido sempre a partir de algo anteriormente desenvolvido. 
Negam-se, reafirmam-se, descobrem-se novos aspectos, e assim a ciência avança. 
Nesse sentido, a ciência caracteriza-se como um processo. [...]” (adaptado de BOCK; 
FURTADO, TEIXEIRA, 2008, p.20 – os negritos são meus) 
 
A Psicologia é uma ciência? 
SIM, pois os conhecimentos construídos pela pesquisa psicológica possuem 
todas as características do conhecimento científico. Os conhecimentos da 
psicologia, p.ex., baseiam-se em FATOS! 
 
Quais seriam os fatos estudados pela psicologia? 
 
1º FATO: O comportamento dos seres vivos. 
Definição de comportamento: O comportamento é um fenômeno 
objetivo (porque pode ser observado). É definido como “toda forma 
de “[...] resposta1 ou atividade observável realizada por um ser 
vivo.” (baseado em WEITEN, 2002, p. 520) 
 
Quais seriam os tipos de Comportamentos? 
 
1º) Motores (movimentos e expressões); 
2º) Sonoros (ruídos ou discursos – este último, somente nos seres humanos). 
 
2º FATO: Os processos mentais dos seres vivos. 
Definição de processo mental: São todas as nossas experiências mentais 
subjetivas (porque não podem ser observadas, somente deduzidas a partir 
da observação do próprio comportamento e/ou através da análise dos 
resultados de algum teste). Por exemplo, sensações, percepções, sonhos, 
memórias, pensamentos, sentimentos, inteligência etc. 
 
 
1 Se resposta, algo o estimulou: EstímuloResposta Comportamental (a chamada causalidade – Causa  Efeito - 
comportamental). 
6 
 
Objetos de estudo e pesquisa da psicologia e seus recursos de pesquisa 
 
 
 
 
Quando surgiu a Psicologia? 
 
O berço da Psicologia moderna foi a Alemanha do final do século XIX 
[1879] quando Wundt, Weber e Fechner a fundaram na Universidade 
de Leipzig. [...] 
Seu status de ciência foi obtido à medida que se "liberta" da Filosofia, 
que marcou sua história até aquela data, atraindo novos estudiosos e 
pesquisadores, que, sob os novos padrões de produção do 
conhecimento, passaram a: 
definir seu objeto de estudo (na época, o comportamento, a vida psíquica, a 
consciência); 
delimitar seu campo de estudo, diferenciando-o de outras áreas de conhecimento, 
como a Filosofia e a Fisiologia;formular métodos de estudo desse objeto; 
formular teorias enquanto um corpo consistente de conhecimentos na área. 
 
 
O que seria uma “psicologia do senso comum”? 
Usamos o termo psicologia no nosso cotidiano com vários 
sentidos. Por exemplo, quando falamos do poder de persuasão do 
vendedor, dizemos que ele usa de “psicologia” para vender seu 
produto; quando nos referimos à jovem estudante que usa seu 
poder de sedução para atrair o rapaz, falamos que ela usa de 
“psicologia”; e quando procuramos aquele amigo, que está sempre 
disposto a ouvir nossos problemas, dizemos que ele tem “psicologia” para entender as 
pessoas. 
7 
 
Será essa a psicologia dos psicólogos? Certamente não. Essa psicologia, usada no 
cotidiano pelas pessoas em geral, é denominada de psicologia do senso comum. Mas 
nem por isso deixa de ser uma psicologia. O que estamos querendo dizer é que as 
pessoas, normalmente, têm um domínio, mesmo que pequeno e superficial, do 
conhecimento acumulado pela Psicologia científica, o que lhes permite explicar ou 
compreender seus problemas cotidianos de um ponto de vista psicológico.” [...] 
(BOCK; FURTADO, TEIXEIRA, 2008, p.16) 
 
 
 
 
 
O que é Psicologia Jurídica? 
A psicologia jurídica é uma das especialidades da pesquisa e da prática 
psicológica. O psicólogo jurídico “atua no âmbito da justiça 
colaborando no planejamento e execução de políticas de cidadania, 
direitos humanos, avaliação psicológica (perícia), prevenção e combate 
da violência” (Adaptado do Conselho Federal de Psicologia). 
 
Quais são as principais atribuições do Psicólogo Jurídico no Judiciário? 
 
“1- Assessora na formulação, revisão e execução de leis; 
2- Colabora na formulação e implantação das políticas de cidadania e direitos 
humanos; 
3- Realiza pesquisa visando a construção e ampliação do conhecimento psicológico 
aplicado ao campo do Direito; 
4- Avalia as condições intelectuais e emocionais de crianças adolescentes e adultos 
em conexão com processos jurídicos, seja por deficiência mental e insanidade, 
testamentos contestados, aceitação em lares adotivos, posse e guarda de crianças ou 
determinação da responsabilidade legal por atos criminosos; 
5- Atua como perito judicial nas varas cíveis, criminais, justiça do trabalho, da 
família, da criança e do adolescente, elaborando laudos, pareceres e perícias a serem 
anexados aos processos; 
6- Elabora petições que serão juntadas ao processo, sempre que solicitar alguma 
providência, ou haja necessidade de comunicar-se com o juiz, durante a execução da 
perícia; 
7- Eventualmente participa de audiência para esclarecer aspectos técnicos em 
Psicologia que possam necessitar de maiores informações a leigos ou leitores do 
trabalho pericial psicológico (juízes, curadores e advogados); 
8- Elabora laudos e pareceres, colaborando não só com a ordem jurídica como com o 
indivíduo envolvido com a Justiça, através da avaliação das personalidades destes e 
fornecendo subsídios ao processo judicial quando solicitado por uma autoridade 
competente, podendo utilizar-se de consulta aos processos e coletar dados considerar 
necessários a elaboração do estudo psicológico; 
FIXAÇÃO - Texto de Apoio – Caderno de Introdução à Psicologia – p. 7, 23 a 29 
8 
 
9- Realiza atendimento psicológico através de trabalho acessível e comprometido 
com a busca de decisões próprias na organização familiar dos que recorrem a Varas 
de Família para a resolução de questões; 
10- Realiza atendimento a crianças envolvidas em situações que chegam às 
Instituições de Direito, visando a preservação de sua saúde mental, bem como presta 
atendimento e orientação a detentos e seus familiares; 
11- Participa da elaboração e execução de programas sócio educativos destinados a 
criança de rua, abandonadas ou infratoras; 
12- Orienta a administração e os colegiados do sistema penitenciário, sob o ponto de 
vista psicológico, quanto as tarefas educativas e profissionais que os internos possam 
exercer nos estabelecimentos penais; 
13- Assessora autoridades judiciais no encaminhamento à terapias psicológicas, 
quando necessário; 
14- Participa da elaboração e do processo de Execução Penal e assessorar a 
administração dos estabelecimentos penais quanto a formulação da política penal e no 
treinamento de pessoal para aplicá-la; 
15- Atua em pesquisas e programas de prevenção à violência e desenvolve estudos e 
pesquisas sobre a pesquisa criminal, construindo ou adaptando instrumentos de 
investigação psicológica.” 
(Fonte: Conselho Federal de Psicologia) 
 
ATENÇÃO! Note que dentre as quinze atribuições do Psicólogo Jurídico, 
acima relacionadas, não se encontra a de “prestar atendimento 
psicoterápico” às pessoas que buscam o judiciário! 
 
Qual a importância da Psicologia para o Direito? 
 
Na busca pelo ideal de justiça e por uma melhor compreensão 
do que é o justo”, por vezes, tanto o Direito quanto as Ciências 
Jurídicas socorrem-se de várias outras disciplinas científicas. 
O Direito e as Ciências Jurídicas necessitam, por exemplo, de 
informações a respeito do comportamento e dos processos 
mentais (suas causas, consequências para o sujeito e para a sociedade, seus 
transtornos etc). A ciência, portanto, que poderá fornecer tais informações é a 
Psicologia. Analise os quadros a seguir: 
RELAÇÕES INTERDISCIPLINARES
(ÂMBITO EPISTEMOLÓGICO - PESQUISA)
RELAÇÕES MULTIDISCIPLINARES
(ÂMBITO DO JUDICIÁRIO - PROCESSO)
CIÊNCIAS
JURÍDICAS
MEDICINA SOCIOLOGIA PSICOLOGIAFILOSOFIA ETC.
JUSTIÇA
OPERADORES
DO DIREITO
PSICÓLOGOS
JURÍDICOS
MÉDICOS
Etc.
ASSISTENTES
SOCIAIS
ENGENHEIROS
CONTABILISTAS
 
 
 
Objetos de estudo e pesquisa: 
As normas jurídicas e sociais, 
as condutas humanas objeto 
dessas normas e a processualística. 
9 
 
AULA 2 
 
Conceito de desenvolvimento humano 
 
“O desenvolvimento humano refere-se ao desenvolvimento 
mental e ao crescimento orgânico. O desenvolvimento mental é 
uma construção contínua, que se caracteriza pelo aparecimento 
gradativo de estruturas mentais. Estas são formas de organização da 
atividade mental que se vão aperfeiçoando e solidificando até o 
momento em que todas, estando plenamente desenvolvidas, 
caracterizarão um estado de equilíbrio superior quanto aos aspectos 
da inteligência, vida afetiva e das relações sociais. 
Algumas dessas estruturas mentais permanecem ao longo de toda a vida. Por 
exemplo, a motivação está sempre presente como desencadeadora da ação, seja por 
necessidades fisiológicas, seja por necessidades afetivas ou intelectuais. Essas 
estruturas mentais que permanecem garantem a continuidade do desenvolvimento. 
Outras estruturas são substituídas a cada nova fase da vida do indivíduo. Por 
exemplo, a moral da obediência da criança pequena é substituída pela autonomia 
moral do adolescente. Outro exemplo: a noção de que um objeto só existe quando a 
criança o vê (antes dos 2 anos idade) é substituída, posteriormente, pela capacidade 
de atribuir ao objeto sua conservação, mesmo quando ele não está presente no seu 
campo visual. [...]”(BOCK; FURTADO, TEIXEIRA, 2008, p.116 – 7 os negritos são 
meus) 
 
OS FATORES QUE INFLUENCIAM O DESENVOLVIMENTO HUMANO 
 
Vários fatores indissociáveis e em permanente interação afetam todos os aspectos do 
desenvolvimento. São eles: 
 
* Hereditariedade — a carga genética [ou, genótipo] estabelece os potenciais do 
indivíduo, que podem ou não desenvolverem-se. Existem pesquisas que comprovam, 
por exemplo, os aspectos genéticos da inteligência. No entanto, a inteligência pode 
desenvolver-se aquém ou além do seu potencial, dependendo das condições do meio. 
* Crescimento orgânico — refere-seaos aspectos do desenvolvimento físico 
[fenótipo]. O aumento de altura e a estabilização do esqueleto permitem ao indivíduo 
 
10 
 
comportamentos e um domínio do mundo que antes não existiam. Pense nas 
possibilidades de descobertas de uma criança, quando começa a engatinhar e depois a 
andar, em relação a quando estava no berço com alguns dias de vida. 
* Maturação neurofisiológica — é o que torna possível determinado padrão de 
comportamento. A alfabetização das crianças, por exemplo, depende dessa 
maturação. Para segurar o lápis e manejá-lo como nós, é necessário um 
desenvolvimento neurológico que a criança de 2, 3 anos não tem. 
* Meio — o conjunto de influências e estimulações ambientais altera os padrões de 
comportamento do indivíduo. Por exemplo, se a estimulação verbal for muito intensa, 
uma criança de 3 anos pode ter um repertório verbal muito maior do que a média das 
crianças de sua idade, mas, ao mesmo tempo, pode não subir e descer com facilidade 
uma escada, porque esta situação pode não ter feito parte de sua experiência de vida.” 
(BOCK; FURTADO, TEIXEIRA, 2008, p.117 – 8 os negritos são meus) 
 
PENSE A RESPEITO 
 
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-
1790), foi um dos mais brilhantes 
compositores da música clássica. Seu 
pai, Leopold, era músico. O pequeno 
Wolfgang, ainda com três anos de 
idade, assistia as lições de música que 
seu pai ministrava a sua irmã mais 
velha, Nannerl. Ao final das aulas, o 
pequeno Wolfgang ia ao piano para 
tocar algumas notas e dava risadas de 
satisfação ao conseguir tirar sons 
melódicos do instrumento. “Leopold, 
ao notar a predisposição do filho, começou a lhe ensinar música também e assistia 
impressionado à facilidade com que ele aprendia e tocava com perfeita nitidez. Não 
escondia sua progressiva admiração pelo pequeno, que em poucos meses de estudo já 
podia executar as mesmas obras que sua irmã, cinco anos mais velha. 
Aos seis anos, Mozart escreveu um minueto para cravo e tirou lágrimas de seu pai, 
quando este reconheceu como todas as notas tinham colocação exata. A partir daí, 
Leopold compreendeu que seu filho não era só um menino precoce, ele era um 
milagre, e que precisava ser mostrado ao mundo. 
A infância de Mozart foi marcada por inúmeras e longas viagens pela Europa, quando 
se apresentava em impecáveis performances à realeza em casas aristocráticas e 
principescas.” (http://psicologado.com) 
11 
 
A teoria do desenvolvimento psicossocial, de Erik Erikson (1902-1994) 
 
Para Erikson, a personalidade é um conceito dinâmico que vai se 
modificando, se ajustando ao longo de toda a vida. Indivíduo e 
sociedade estabelecem uma intensa e contínua interação. Desse 
processo poderá resultar no EGO
2
 a estruturação de uma identidade
3
, 
de um sentido pessoal de existência naquela sociedade que, se 
contínuo, ensejaria, progressivamente, o seu próprio amadurecimento 
(ou seja, do Ego em relação à identidade construída, em cada vez mais 
ser capaz de “mediar” de forma produtiva e prazerosa as expectativas e demandas 
sociais – papéis sociais, responsabilidades etc. - com as necessidades e expectativas 
internas – prazeres, objetivos pessoais etc, bem como de superar eventuais conflitos.) 
 
Os ciclos da vida, segundo Erikson 
 
 
A formação da identidade psicossocial
4
 - “[...] em termos psicológicos, a formação 
da identidade emprega um processo de reflexão e observação simultâneas, um 
processo que ocorre em todos os níveis do funcionamento mental [ou seja, consciente 
e inconscientemente]
5
, pelo qual o indivíduo se julga a si próprio à luz daquilo que 
percebe ser a maneira como os outros o julgam, em comparação com eles próprios e 
com uma tipologia que é significativa para eles; enquanto que ele julga a maneira 
como eles o julgam, à luz do modo como se percebe a si próprio em comparação com 
os demais e com os tipos que se tornaram importantes para ele. [...] 
 
2 Ego – Conceito que na psicanálise corresponderia, de forma simplificada, à estrutura psíquica responsável por uma 
necessária “mediação” entre as exigências internas sexuais e morais, com as demandas da realidade. Segundo Erikson, 
estaria no Ego a possibilidade de constituição de uma Identidade, ou como se referia, de uma “Identidade do Ego”. 
3 Identidade – “o senso que um indivíduo tem de si próprio, definido por (a) um grupo de características físicas e 
psicológicas que não é totalmente compartilhado com outra pessoa e (b) uma gama de afiliações sociais e interpessoais 
(p.ex., etnicidade) e papéis sociais. A identidade envolve um senso de continuidade: o sentimento de que hoje somos a 
mesma pessoa que éramos ontem ou no ano passado (a despeito de mudanças físicas ou de outra natureza). [...]” 
(Dicionário de Psicologia da APA, 2010, p. 494) 
4 Identidade Psicossocial – “Erikson proporá que a Identidade se constituiria quando o Ego adolescente, a partir de 
suas experiências anteriores, quais sejam, as da infância, passa a ser capaz de integrar todas as identificações anteriores, 
com as vicissitudes da libido, com as aptidões fundadas nos dotes naturais e com as oportunidades oferecidas nas 
funções sociais. O sentimento de identidade do ego, então, é a segurança acumulada de que a coerência e a continuidade 
interiores elaboradas no passado equivalem à coerência e à continuidade do próprio significado para os demais, tal 
como se evidencia na promessa tangível de uma ‘carreira’.” (adaptação de ERIKSON, 1976, p. 241) 
5 Chaves inseridas pelo professor da matéria. 
12 
 
Além disso, o processo descrito está sempre mudando e evoluindo; na melhor das 
hipóteses, é um processo de crescente diferenciação e torna-se ainda mais abrangente 
à medida que o indivíduo vai ganhando cada vez maior consciência de um círculo, 
em constante ampliação, de outros que são significativos para ele – desde a pessoa 
materna até a ‘humanidade’.” 
(ERIKSON, E.H. Identidade: juventude e crise. 2 ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1976, p.21.) 
 
Erikson identificou oito etapas do desenvolvimento psicossocial que vão desde o 
nascimento até à morte. Cada uma delas se define mediante uma tarefa de 
desenvolvimento em que o indivíduo deve enfrentar crises e conflitos específicos. O 
indivíduo deve chegar a uma solução entre duas demandas opostas, equilibrando-as 
ou integrando-as. “Cada etapa e crise sucessivas têm uma relação especial com um 
dos elementos básicos da sociedade, e isso pela simples razão de que o ciclo da vida 
humana e as instituições do homem têm evoluído juntos.” (ERIKSON, 1976, p.230) 
Analise o quadro a seguir: 
 
DUAS FASES DO DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL 
 
IDADE DEMANDAS 
OPOSTAS 
DESCRIÇÃO 
 
1ª FASE 
Do nascimento até 1 
anos. 
 
 
 
 
 
CONFIANÇA 
X 
DESCONFIANÇA 
Durante o primeiro ano de vida a 
criança é substancialmente dependente 
das pessoas que cuidam dela requerendo 
cuidados quanto a alimentação, higiene, 
locomoção, aprendizado de palavras e 
seus significados, bem como 
estimulação para perceber que existe um 
mundo em movimento ao seu redor. O 
amadurecimento ocorrerá de forma 
equilibrada se a criança sentir que tem 
segurança e afeto, adquirindo confiança 
nas pessoas e no mundo. 
 
 
5ª FASE 
Dos 12 aos 18 
anos. 
 
 
 
 
 
IDENTIDADE 
X 
CONFUSÃO DE 
PAPÉIS 
O jovem experimenta uma série de 
desafios que envolvem suas atitudes 
para consigo, com seus amigos, com 
pessoas do sexo oposto, amores e a 
busca de uma carreira e de 
profissionalização. Na medida em que 
as pessoas à sua volta ajudam na 
resolução dessas questões desenvolverá 
o sentimento de identidadepessoal, caso 
não encontre respostas para suas 
questões pode se desorganizar, 
perdendo a referência. Esta é fase mais 
importante do desenvolvimento 
psicossocial, segundo Erikson. 
*** 
13 
 
AULA 3 
 
Personalidade 
 
O vocábulo personalidade tem como principal afixo 
a expressão “persona”. “Persona, no uso coloquial, 
é um papel social ou personagem vivido por um 
ator. É uma palavra italiana derivada do latim para 
um tipo de máscara feita para ressoar com a voz do 
ator (per sonare significa "soar através de"), permitindo que 
fosse bem ouvida pelos espectadores, bem como para dar ao ator a aparência que o 
papel exigia (Wikipedia). 
 
Em Psicologia, no entanto, personalidade é definida como uma “[...] totalidade 
relativamente estável e previsível dos traços emocionais e comportamentais que 
caracterizam a pessoa na vida cotidiana, sob condições normais.” (KAPLAN; 
SADOCK, 1993, p. 556). 
No Direito, personalidade (ou, personalidade jurídica) propõe a aptidão de alguém 
para exercer direitos e contrair obrigações. 
 
Principais características da personalidade 
 
 
CONCEITOS 
 
1º) Estados - “[...] característica momentânea, episódica na personalidade. Um estado 
está diretamente relacionado com fatores circunstanciais.” O luto e o estresse são 
exemplos de estados. 
2º) Traços - “Os traços de personalidade são padrões persistentes no modo de 
perceber a realidade, relacionar-se consigo próprio e com os outros e, sobretudo, de 
pensar.” 
3º) Temperamento – (do latim temperare que significa “equilíbrio”) – corresponde 
aos aspectos (traços) geralmente inconscientes da personalidade relacionados às 
reações emocionais bem como de sua rapidez e intensidade. O temperamento poderá 
ser alterado, até certos limites, por influências médicas (medicações, tratamentos etc) 
 
FIXAÇÃO 
Texto de Apoio – Caderno de 
Psicologia – Personalidade – 
p.432 a 435. 
14 
 
bem como no decurso da aprendizagem e das experiências de vida. A impulsividade, 
a sensibilidade, a intempestividade (“pavio curto”) etc. são características de 
temperamento. 
4º) Caráter – Conjunto de traços de personalidade e valores éticos, aprendidos e/ou 
desenvolvidos a partir das experiências e/ou estimulações recebidas ao longo da vida, 
conscientes, que irão determinar a conduta e a moral de um determinado indivíduo. 
A empatia, a responsabilidade, o egoísmo, a honestidade etc. são características de 
caráter. 
 
Personalidade e Genética 
“Até bem pouco tempo, a genética do comportamento se 
preocupava em compreender até que ponto o material genético, 
transmitido hereditariamente, poderia explicar suficientemente a 
enorme diversidade do comportamento humano. Em outras 
palavras, na tentativa de atribuir valor explicativo ao 
comportamento, os pesquisadores se perguntavam até que 
momento poderiam utilizar a informação genética, considerando sua base molecular e 
bioquímica, sem cair em modelos simplistas ou meramente organicistas de explicação 
do comportamento humano. 
Atualmente, reconhece-se que o papel da experiência e da aprendizagem é 
exatamente o de propiciar a leitura de informações já impressas nos genes, fazendo 
com que o comportamento seja compreendido como uma atividade codificada a partir 
de uma sequência de nucleotídios
6
, cuja tradução pode ser deflagrada por diferentes e 
determinadas condições do ambiente (Lima, 1997; Plomin, 1989; Vogel & Motulsky, 
1996).” (apud COSTA Jr., UnB, 2000) 
REFLEXÃO 
 
Pr(XP) = PG + EA + E 
Perspectiva Multidimensional - Ou seja, a probabilidade (Pr) de uma 
característica de personalidade qualquer (Xp) corresponderia às 
possíveis predisposições genéticas (PG) associadas (+) aos estímulos 
do ambiente (EA) recebidos ao longo da vida bem como às estruturas 
psicológicas individuais constituídas (E). 
 
CURIOSIDADE 
O CASO DAS MENINAS LOBO DA ÍNDIA 
 
 
6 Nucleotídeo: Unidade constituinte dos ácidos ribonucleicos (RNA) e desoxirribonucleicos (DNA). 
15 
 
Leitura Complementar 
O CRIME SEGUNDO LOMBROSO 
(MAURICIO JORGE PEREIRA DA MOTA – UERJ 2007) 
 
Cesare Lombroso (1835-1909) foi um homem polifacético; médico, psiquiatra, antropólogo e 
político, sua extensa obra abarca temas médicos ("Medicina Legal"), psiquiátricos ("Os 
avanços da Psiquiatria"), psicológicos ("O gênio e a loucura"), demográficos ("Geografia 
Médica"), criminológicos ("L’Uomo delincuente). 
Lombroso entende o crime como um fato real, que perpassa todas as épocas históricas, natural 
e não como uma fictícia abstração jurídica. Como fenômeno natural que é, o crime tem que 
ser estudado primacialmente em sua etiologia, isto é, a identificação das suas causas como 
fenômeno, de modo a se poder combatê-lo em sua própria raiz, com eficácia, com programas de prevenção 
realistas e científicos. 
Para Lombroso a etiologia do crime é eminentemente individual e deve ser buscada no estudo do 
delinquente. É dentro da própria natureza humana que se pode descobrir a causa dos delitos. 
Lombroso parte da ideia da ideia da completa desigualdade fundamental dos homens honestos e criminosos. 
Preocupado em encontrar no organismo humano traços diferenciais que separassem e singularizassem 
o criminoso, Lombroso vai extrair da autópsia de delinquentes uma "grande série de anomalias atávicas, 
sobretudo uma enorme fosseta occipital média e uma hipertrofia do lóbulo cerebeloso mediano (vermis) 
análoga a que se encontra nos seres inferiores". 
Assim, surgiu a hipótese, sujeita a investigações posteriores, de que haveria certas afinidades entre o 
criminoso, os animais e principalmente o homem primitivo, que ele considerava diferente, psicológica 
e fisicamente, do homem dos nossos tempos. 
Lombroso empreende um longo estudo antropológico no seu livro "L’Uomo delincuente" acerca da origem 
da criminalidade. Professando um particular evolucionismo, Lombroso procura demonstrar que o crime, 
como realidade ontológica, pode ser considerado uma característica que é comum a todos os degraus da 
escala da evolução, das plantas aos animais e aos homens; dos povos primitivos aos povos civilizados; da 
criança ao homem desenvolvido. O "crime" teria como característica ser extremamente frequente, brutal, 
violento e passional nos níveis inferiores dessas escalas. 
Assim Lombroso vai teorizar acerca dos equivalentes do crime nas plantas e nos animais ("L’Homme 
Criminel, chapitre premier), a morte de insetos pelas plantas carnívoras ("homicídio"), a morte para ter o 
comando da tribo entre os cavalos, cervos e touros ("homicídio por ambição"), a fêmea do crocodilo que 
mata seus filhotes que ainda não sabem nadar ("infanticídio"), as raposas que se devoram entre si e algumas 
vezes mesmo devoram suas progenitoras ("canibalismo e parricídio"). 
Entre os chamados "selvagens" ou "povos primitivos" Lombroso também encontra a incidência generalizada 
do crime. O incremento excessivo da população, comparativamente aos meios naturais de subsistência 
explicaria os abortos e os infanticídios. São também comuns e frequentes segundo Lombroso o homicídio 
dos velhos, das mulheres, dos doentes, os homicídios por cólera, por capricho, de parentes por ocasião do 
funeral de morto importante, por sacrifícios religiosos, os cometidos por brutalidade ou por motivo fútil, os 
causados por desejo de glória etc.. 
São ainda comuns entre os selvagens o canibalismo, o roubo, o rapto, o adultério e os crimes contra a 
autoridade (chefes, deuses ou a própria tribo). 
Dentro da ideia evolucionista lombosiana (de passagem [física ou psíquica] do organismo mais simples 
para o mais complexo) os germes da loucura moral e do crime se encontram de maneira normalna 
infância. 
Lombroso advogava a existência na infância de uma predisposição natural para o crime. As analogias 
entre o imaturo e o criminoso se dariam na fase da vida instintiva, através da qual se observa a precocidade 
da cólera, que faz com que a criança bata nos circunstantes e tudo quebre, em atitudes comparáveis ao 
comportamento violento criminoso. O ciúme, a vingança, a mentira, o desejo de destruição, a maldade para 
com os animais e os seres fracos, a predisposição para a obscenidade, a preguiça completa, exceto para as 
atividades que produzem prazer, são, entre outros, índices que Lombroso apontou, das tendências criminais 
na infância. A educação conduziria, porém, a criança para o período de "puberdade ética", 
submetendo-a a profunda metamorfose. 
Identificando pois a origem da criminalidade, como ontologia, nessas "fases primitivas" da humanidade, 
Lombroso entende que o criminoso é uma subespécie ou um subtipo humano (entre os seres vivos 
superiores, porém sem alcançar o nível superior do homo sapiens) que, por uma regressão atávica a essas 
16 
 
fases primitivas, nasceria criminoso, como outros nascem loucos ou 
doentios. A herança atávica explicaria, a seu ver, a causa dos delitos. 
O criminoso seria então um delinquente nato (nascido para o crime), 
um ser degenerado, atávico, marcado pela transmissão hereditária do mal. 
O atavismo (produto da regressão, não da evolução das espécies) do 
criminoso seria demonstrado por uma série de "estigmas". De acordo com 
o seu ponto de vista, o delinquente padece de uma série de estigmas 
degenerativos, comportamentais, psicológicos e sociais. 
O criminoso nato seria caracterizado por uma cabeça sui generis, com pronunciada assimetria craniana, 
fronte baixa e fugidia, orelhas em forma de asa, zigomas, lóbulos occipitais e arcadas superciliares salientes, 
maxilares proeminentes (prognatismo), face longa e larga, apesar do crânio pequeno, cabelos abundantes, 
mas barba escassa, rosto pálido. 
O homem criminoso estaria assinalado por uma particular insensibilidade, não só física como psíquica, com 
profundo embotamento da receptividade dolorífica (analgesia) e do senso moral. Como anomalias 
fisiológicas, ainda, o mancinismo (uso preferente da mão esquerda) ou a ambidextria (uso indiferente das 
duas mãos), além da disvulnerabilidade, ou seja uma extraordinária resistência aos golpes e ferimentos 
graves ou mortais, de que os delinquentes típicos pronta e facilmente se restabeleceriam. Seriam ainda 
comuns, entre eles, certos distúrbios dos sentidos e o mau funcionamento dos reflexos vasomotores, 
acarretando a ausência de enrubescimento da face. 
Consequência do enfraquecimento da sensibilidade dolorífica no criminoso por herança seria a sua 
inclinação à tatuagem, acerca da qual Lombroso realizou detidos estudos. 
Os estigmas psicológicos seriam a atrofia do senso moral, a imprevidência e a vaidade dos grandes 
criminosos. Assim, os desvios da contextura psíquica e sentimental explicariam no criminoso a ausência do 
temor da pena, do remorso e mesmo da emoção do homicida perante os despojos da vítima. Absorvidos pelas 
paixões inferiores, nenhuma relutância eles sentem perante a ideia dominante do crime. 
As conclusões de Lombroso (L’Homme Criminel) foram construções eminentemente empíricas baseadas em 
resultados de 386 autópsias de delinquentes e nos estudos feitos em 3939 criminosos vivos por Ferri, 
Bischoff, Bonn, Corre, Biliakow, Troyski, Lacassagne e pelo próprio Lombroso. 
Lombroso porém não esgota na teoria da criminalidade nata a sua explicação para a etiologia do delito. A 
criminalidade nata não dá conta de todas as categorias antropológicas de delinquentes, nem mesmo, numa 
mesma categoria, de todos os casos habituais. Ele antevê na loucura moral e na epilepsia mais dois fatores 
capazes de fornecer uma elucidação biológica para o fenômeno delito. O louco moral é aquele indivíduo que 
tem, aparentemente, íntegra a sua inteligência, mas sofre de profunda falta de senso moral. É um homem 
perigoso pelo seu terrível egoísmo. É capaz de praticar um morticínio pelo mais ínfimo dos motivos. 
Lombroso o diferenciava do alienado definindo-o como um "cretino do senso moral" ou seja, uma pessoa 
desprovida absolutamente de senso moral. A explicação da criminalidade do louco moral também é dada 
pela biologia, é congênita, mas pode, de acordo com o meio na qual o indivíduo se desenvolve, aflorar ou 
não. A epilepsia foi outra explicação aventada por Lombroso como causa da criminalidade. A epilepsia ataca 
os centros nervosos em que se elaboram os sentimentos e as emoções. Objetaram-lhe porém que se a 
epilepsia, bem conhecida e perceptível, explica em certos casos o delito, em outros não se observa haver 
sinal objetivo da doença em face do delito praticado. 
A essa objeção Lombroso opôs a sua teoria da epilepsia larvada, sem manifestações facilmente visíveis, que 
poderia explicar a etiologia do delito. Ao passo que a epilepsia declarada se exterioriza em meio a contrações 
musculares violentíssimas, a epilepsia larvada se denuncia por fugazes estados de inconsciência que nem 
todos percebem. 
Lombroso não abandonou uma das explicações da etiologia do delito pelas outras. Procurou coordená-las. 
Assim, por exemplo, acentuou que a teoria do atavismo se completava e se corrigia com os estudos 
referentes ao estado epilético. 
A etiologia do crime para Lombroso inter-relaciona portanto o atavismo, a loucura moral e a epilepsia: o 
criminoso nato é um ser inferior, atávico, que não evolucionou, igual a uma criança ou a um louco moral, 
que ainda necessita de uma abertura ao mundo dos valores; é um indivíduo que, ademais, sofre alguma forma 
de epilepsia, com suas correspondentes lesões cerebrais. 
Lombroso, baseado em suas observações, encarava o seu tipo primordial de criminoso, o criminoso nato, 
como compondo 40 % do total da população criminosa, restando as demais àquelas outras formas de crime 
que tinham por fontes a loucura, a ocasião, o alcoolismo e a paixão. Para Lombroso essas formas eram 
ligadas mais estreitamente a suas causas ocasionais e portanto, não forneceriam uma base possível para uma 
etiologia desses delitos. *** 
17 
 
AULA 4 
 
Gênero: representações sociais 
 
CONCEITOS 
 
1º) SEXO - refere-se às características biológicas de homens e mulheres, 
ou seja, às características específicas dos aparelhos reprodutores femininos 
e masculinos, ao seu funcionamento e aos caracteres sexuais secundários 
decorrentes dos hormônios. 
 
2º) GÊNERO - refere-se às relações sociais desiguais de poder, aos 
diferentes papéis, funções, direitos, obrigações e etc entre homens e 
mulheres, e que são o resultado de uma construção social da identidade do 
homem e da mulher a partir das diferenças sexuais. 
 
3º) IDENTIFICAÇÃO SEXUAL – a partir do referencial psicológico tal 
conceito se refere à constituição do desejo sexual de um indivíduo. Ou 
seja, ao gênero sexual objeto do gozo sexual. Neste sentido, um indivíduo 
pode desejar o seu mesmo gênero (homo), o gênero oposto (hetero) ou 
ambos os gêneros (bi). 
 
REFLEXÃO 
 
O papel do homem e da mulher é constituído 
histórica e culturalmente; portanto, muda conforme a 
sociedade e o tempo. 
 
 
 
O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DOS PAPÉIS DE GÊNERO 
 
Mulheres 
Desde meninas as mulheres são incentivadas a serem passivas, 
sensíveis, frágeis, dependentes e todos os brinquedos e jogos 
infantis reforçam o seu papel de mãe, dona de casa, e 
consequentemente responsável por todas as tarefas relacionadas 
ao cuidado dos filhos e da casa. Ou seja, as meninas brincam de 
boneca, de casinha, de fazer comida, de limpar a casa, tudo isto 
dentro do lar. 
Homens 
Os meninos brincam em espaçosabertos, na rua. Eles jogam bola, 
brincam de carrinho, de guerra etc. Ou seja, desde pequenos eles se 
dão conta que pertencem ao grupo que tem poder. Até nos jogos os 
18 
 
meninos comandam. Ninguém os manda arrumar a cama, ou lavar a louça, eles são 
incentivados a serem fortes, independentes, valentes. 
 
INFORMAÇÃO 
 
As relações de gênero são, portanto, produto de um processo pedagógico que se inicia 
no nascimento e continua ao longo de toda a vida, reforçando a desigualdade 
existente entre homens e mulheres, principalmente em torno de quatro eixos: 
 
1º) Sexualidade 
Mulheres 
 
A sexualidade na mulher tem sido relacionada com a 
reprodução, ou seja, para a mulher o centro da sexualidade é a 
reprodução e não o prazer. A 
sexualidade reduzida à genitalidade 
se apresenta para as mulheres como 
algo vergonhoso, proibido. 
De um modo geral podemos dizer 
que as mulheres desde que nascem 
são educadas para serem mães, para cuidar dos outros, para 
“dar prazer ao outro”. A sua sexualidade é negada, reprimida 
e temida. 
VOCÊ SABIA? 
 
A mutilação sexual consiste na extração do clitóris. É uma 
prática comum em certas comunidades, geralmente para inibir 
o prazer sexual. A mutilação pode ser permanente ou 
temporária. 
 
Homens 
 
Os homens, ao contrário das mulheres, recebem mensagens e 
são preparados para viver o prazer da sexualidade através do 
seu corpo, já que socialmente o exercício da sexualidade no 
homem é sinal de masculinidade. 
 
 
2º) Reprodução 
 
A mulher pode gerar um filho, e isto que em si é uma fonte de poder 
tem sido controlado e tem determinado outros papéis diminuindo as 
possibilidades e limitando a vida das mulheres em outros âmbitos, 
como por exemplo, no campo do trabalho. 
19 
 
3º) Divisão sexual do trabalho 
 
Provavelmente pelo fato biológico que a mulher é quem engravida e 
dá de mamar, tem sido atribuído a ela a totalidade do trabalho 
reprodutivo. Às mulheres, portanto, se atribui o 
ficar em casa, cuidar dos filhos e realizar o 
trabalho doméstico, desvalorizado pela sociedade 
e que deixava as mulheres “donas de casas” 
limitadas ao mundo do lar; com menos 
possibilidade de educação, menos acesso à informação, menos 
acesso à formação profissional etc. 
 
4º) Espaço público e reconhecimento da cidadania 
 
Embora nos dias de hoje, uma grande proporção de 
mulheres trabalhe e muitas delas sejam a principal fonte 
para o sustento da família, isto não tem significado um 
maior desenvolvimento e reconhecimento de sua cidadania. 
Em todos os países da América Latina, incluindo o Brasil, 
os dados mostram que existe uma grande diferença entre 
homens e mulheres e que a falta de equidade prejudica as mulheres. É muito difícil 
ter mulheres em altos cargos, como diretoras de empresas, de hospitais, reitoras de 
universidades etc. Em geral, é muito difícil ter mulheres nos lugares de tomada de 
decisões. Isto se explica pelo processo de socialização que ao determinar o trabalho 
reprodutivo (casa e filhos) para a mulher, cria condições que a marginalizam do 
espaço público, e pelo contrário, o homem é quem assume o trabalho produtivo e as 
decisões da sociedade. 
 
REFLEXÃO 
 
As várias jornadas de trabalho da mulher 
 
 
 
 
20 
 
OS “NOVOS” MALES DAS MULHERES 
 
 O tabagismo e drogas O estresse O infarto 
 
 
FATOS E FOTOS 
“Em muitas regiões muçulmanas, onde prevalece a Sharia (lei 
islâmica), as mulheres acusadas de adúlteras são apedrejadas 
até a morte. Um dos exemplos mais comentados em 2002, e 
que foi motivo de campanhas internacionais, é o caso de 
Amina Lawal (foto), de 31 anos, que no norte da Nigéria foi 
condenada à pena máxima porque engravidou 
de outro homem, após a separação do marido. 
Em 2003, um tribunal de apelações na mesma região considerou 
procedente a apelação, considerando que o outro tribunal havia se 
equivocado. Na realidade, a pressão internacional, que transformou 
Amina Lawal em um símbolo da luta pelos direitos humanos, com 
diversos governos se manifestando contra a sua condenação e 
intercedendo junto ao presidente nigeriano, é que fizeram com que 
houvesse mudança na sua situação.” (DIAS, 2005, p. 192) 
 
Violência contra mulher como uma questão de gênero 
 
A Lei nº 11.340/06 – Lei Maria da Penha 
Acesse: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm 
 
Sra. Maria da Penha Maia 
Ficou paraplégica por causa de um tiro dado pelo seu ex-
companheiro, que não satisfeito, ainda tentou matá-la, 
posteriormente, eletrocutando-a. 
 
21 
 
CRIMES DE ESTUPRO – ESTADO DO RJ 
De 2007 até setembro de 2013 
 
 
Fonte: ISP/SESP/RJ 
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
*Lei nº 12.015 de 
07/08/09 
REFLEXÃO 
 
Em Dubai, mulher é condenada à prisão após ter ter sido estuprada 
 
 
Quatro meses após ter feito a denúncia de que havia sido estuprada em Dubai, nos Emirados Árabes, 
a norueguesa Marte Deborah Dalelv foi condenada a 16 meses de prisão pelo fato. 
De acordo com as leis locais, um estuprador só pode ser condenado se confessar o crime ou se for 
visto praticando o estupro por quatro testemunhas homens. Como denunciou o abuso, Marte foi 
condenada por fazer sexo fora do casamento e perjúrio. Ela ainda foi considerada culpada por ter 
ingerido bebida alcoólica na noite em que sofreu o estupro. Nos Emirados Árabes também é proibido 
beber. 
"A sentença em Dubai a uma norueguesa que denunciou um estupro é contrária ao nosso sentido da 
justiça. Daremos a ela apoio no processo de apelação", disse Espen Barth Eide, o ministro das 
Relações Exteriores norueguês, em sua conta no Twitter. 
Segundo informações do site norueguês VG. no, no dia em que fez a denúncia, Marte ainda foi alvo de 
gozações das autoridades, que teriam perguntado a ela se" estava fazendo a denúncia por não ter 
gostado do sexo". 
(http://br.noticias.yahoo.com/em-dubai--mulher-%C3%A9-condenada-%C3%A0-pris%C3%A3o-ap%C3%B3s-ter-
ter-sido-estuprada-163822387.html) 
2007 2008 2009 2010 2011 2012 Até set/2013 
1376 1461 
2338 
4529 
4871 
6029 
4518 
22 
 
REFLEXÕES 
Projeto de Lei Complementar nº 122/2006 – “Altera a Lei nº 7.716 de 5 
de janeiro de 1989, que define os crimes resultantes de preconceito de 
raça ou de cor, dá nova redação ao § 3º do art. 140 do Decreto-Lei nº 
2,848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, e ao art. 5º da CLT, 
aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e dá outras 
providências.” 
 
Para conhecer esse PLC acesse: 
(http://www.naohomofobia.com.br/lei/PROJETO%20DE%20LEI%20plc122-06.pdf) 
 
 
PENSE A RESPEITO: Tradicionalmente as relações sociais de gênero eram 
definidas em função das características biológicas de cada indivíduo (homens 
e mulheres). Com a integração cada vez maior dos homossexuais em nossa 
sociedade, e, consequentemente, com o reconhecimento de seus direitos de 
cidadania, a sociedade estaria modificando-se no sentido de reconhecer outras 
possibilidades de gênero? Por exemplo, o gênero homossexual? Se sim, e em função disso tudo, o 
referencial para o estabelecimento dos papéis sociais de gênero poderia estar abrangendo agora não 
só o dado biológico, como também o psicológico (qual seja, a identidade sexual do indivíduo)? 
 
A lei e a questão de gênero 
Código Civil de 1916, revogado em 2002 
 
Art. 36. Os incapazes têm por domicílio o dos seus representantes. 
Parágrafo único. A mulher casada tem por domicílio o do marido, salvo se estiver desquitada (art. 
315), ou lhe competir a administraçãodo casal (art. 251). 
Art. 178. Prescreve: 
§ 1º Em 10 (dez) dias, contados do casamento, a ação do marido para anular o matrimônio contraído 
com a mulher já deflorada (arts. 218, 219, IV, e 220). (Parágrafo alterado pela Lei nº 13, de 
29.1.1935 e restabelecido pelo Decreto-lei nº 5.059, de 8.12.1942) 
Art. 233. O marido é o chefe da sociedade conjugal, função que exerce com a colaboração da 
mulher, no interesse comum do casal e dos filhos (arts. 240, 247 e 251). (Redação dada pela Lei nº 
4.121, de 27.8.1962) 
Art. 240. A mulher, com o casamento, assume a condição de companheira, consorte e colaboradora 
do marido nos encargos de família, cumprindo-lhe velar pela direção material e moral desta. 
(Redação dada pela Lei nº 6.515, de 26.12.1977) 
Art. 1.299. A mulher casada não pode aceitar mandato sem autorização do marido. 
*** 
 
23 
 
AULA 5 
 
A família: relações afetivas e tipos de família na contemporaneidade 
 
 
Família – do latim “famulus”, que significa um conjunto de 
servos e dependentes de um chefe ou senhor. 
 
 
Família = Instituição Social = Funções: 1. proteger as novas 
gerações; 2. reproduzir os “status quo7” social a partir dos 
processos de socialização. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DÚVIDA! 
 
As mudanças internas na constituição das famílias promoveriam mudanças sociais 
posteriores, ou são as mudanças sociais (valores, costumes etc) que promoveriam 
mudanças nas famílias? Justifique. 
 
 e FAMÍLIA A família enquanto núcleo de afeto 
 
“A literatura especializada é clara ao mostrar a 
importância do apego, da formação do vínculo no início 
da vida da criança como elemento essencial no 
desenvolvimento psíquico. Convém ressaltar que, 
independentemente da forma como tem se organizado em 
diferentes épocas, a família tem como função básica a 
proteção e o cuidado dos filhos. Soifer (1986), a esse 
respeito, discute a proteção e o cuidado como preparo 
 
7
 “Status quo” – Expressão latina. Significa o estado em que se achava anteriormente certa questão. (AURÉLIO) 
Família e Sociedade 
24 
 
imprescindível para a vida, entendendo que o amor, a solidariedade e a justiça 
praticados na família são as pedras angulares da convivência humana. 
Seixas (2002) assinala que a família desenvolve a capacidade de criar novos 
significados, novas formas de ação social, novas ideias. Esta capacidade de mudar, 
tanto quanto a de conservar, e a dialética entre esses elementos é que vai possibilitar a 
sua adaptabilidade às novas situações e fenômenos sociais. 
Nesse contexto, outro aspecto a ser considerado é a importância da família no 
desenvolvimento da personalidade da criança. Sisto (2004) define a personalidade em 
termos de uma síntese da atividade biopsíquica humana, que inclui além de 
tendências individuais, aspectos fisiológicos, psicológicos, sociais e culturais, 
constituindo uma unidade. Dessa forma, além dos elementos orgânicos e herdados, 
envolveria também elementos socioculturais que seriam produtos de aprendizagem. 
Já os teóricos psicanalíticos acreditam que a interação entre o ambiente e as 
características inatas da criança desempenha um papel central na formação das 
diferenças de personalidade (Bee, 2003). Para estes, o desenvolvimento da 
personalidade se dá fundamentalmente em estágios e, em cada estágio, a criança 
requer um tipo específico de ambiente apoiador para suas necessidades. 
Considerando esses aspectos, o ambiente no qual a criança se desenvolve poderá 
potencializar suas tendências individuais ou, ao contrário, poderá enfraquecê-las. 
Assim, uma criança que não encontre o ambiente necessário para seu 
desenvolvimento terá uma personalidade muito diferente daquela cujo ambiente foi 
parcial ou inteiramente adequado.” (DOS SANTOS, et al., 2010) 
 
 
25 
 
Tipos de família na contemporaneidade 
 
AS FAMÍLIAS PÓS-MODERNAS 
 
As famílias monoparentais. 
 
 
 
 
 
 
 
As famílias homoafetivas (ou, 
homossexuais
8
) 
 
 
 
 
 
OUTRAS FORMAS DE FAMÍLIA JURIDICAMENTE ACEITAS 
 
Famílias Anaparentais: é a relação que possui vínculo de parentesco, mas não possui 
vínculo de ascendência e descendência. É a hipótese de dois irmãos que vivam juntos. 
Tal família vem disciplinada no artigo 69, caput, do Projeto do Estatuto das Famílias. 
 
Famílias Pluriparentais: é a entidade familiar que surge com o desfazimento de 
anteriores vínculos familiares e criação de novos vínculos. Como exemplo, 
destacamos a família formada por João, Gabriel e Rafael (filhos oriundos de anterior 
relacionamento de João), por sua esposa Penélope, Ana Carolina (filha de 
relacionamento anterior de Penélope), e Victor, filho de João e Penélope). 
 
Família Unipessoal: Família unipessoal é a composta por apenas uma pessoa. 
Recentemente, o STJ lhe conferiu à proteção do bem de família, como se infere da 
Súmula 364: 
O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel 
pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas. (03/11/2008) 
 
 
8 Para um maior aprofundamento sobre este tema, sugiro a leitura do seguinte texto: Configurações edípicas da 
contemporaneidade: reflexões sobre as novas formas de filiação, de Paulo Roberto Ceccarelli. Disponível em < 
http://www.editoraescuta.com.br/pulsional/161_07.pdf>. 
26 
 
INFORMAÇÕES 
 
Quinta-feira, 05 de maio de 2011 – SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL 
Supremo reconhece união homoafetiva. 
Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ao julgarem a Ação Direta de 
Inconstitucionalidade (ADI) 4277 e a Arguição de Descumprimento de Preceito 
Fundamental (ADPF) 132, reconheceram a união estável para casais do mesmo sexo. As 
ações foram ajuizadas na Corte, respectivamente, pela Procuradoria-Geral da República e 
pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. 
O julgamento começou na tarde de ontem (4), quando o relator das ações, ministro Ayres 
Britto, votou no sentido de dar interpretação conforme a Constituição Federal para excluir 
qualquer significado do artigo 1.723 do Código Civil que impeça o reconhecimento da 
união entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar. 
O ministro Ayres Britto argumentou que o artigo 3º, inciso IV
9
, da CF veda qualquer 
discriminação em virtude de sexo, raça, cor e que, nesse sentido, ninguém pode ser 
diminuído ou discriminado em função de sua preferência sexual. “O sexo das pessoas, 
salvo disposição contrária, não se presta para desigualação jurídica”, observou o ministro, 
para concluir que qualquer depreciação da união estável homoafetiva colide, portanto, com 
o inciso IV do artigo 3º da CF. [...] 
Ações 
A ADI 4277 foi protocolada na Corte inicialmente como ADPF 178. A ação buscou a 
declaração de reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo como entidade 
familiar. Pediu, também, que os mesmos direitos e deveres dos companheiros nas uniões 
estáveis fossem estendidos aos companheiros nas uniões entre pessoas do mesmo sexo. 
Já na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132, o governo do 
Estado do Rio de Janeiro (RJ) alegou que o não reconhecimento da união homoafetiva 
contraria preceitos fundamentais como igualdade, liberdade (da qual decorre a autonomia da 
vontade) e o princípio da dignidade da pessoa humana, todos da Constituição Federal. Com 
esse argumento, pediu que o STF aplicasse o regime jurídico das uniões estáveis, previsto 
no artigo 1.723 do Código Civil, às uniões homoafetivas de funcionários públicos civis do 
Rio de Janeiro. 
(Fonte: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=178931)Terça-feira, 25 de outubor de 2011 – SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA 
DECISÃO 
Quarta Turma admite casamento entre pessoas do mesmo sexo. 
Em decisão inédita, a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por maioria, 
proveu recurso de duas mulheres que pediam para ser habilitadas ao casamento civil. 
Seguindo o voto do relator, ministro Luis Felipe Salomão, a Turma concluiu que a 
dignidade da pessoa humana, consagrada pela Constituição, não é aumentada nem 
diminuída em razão do uso da sexualidade, e que a orientação sexual não pode servir de 
pretexto para excluir famílias da proteção jurídica representada pelo casamento. [...] 
“Por consequência, o mesmo raciocínio utilizado, tanto pelo STJ quanto pelo Supremo 
Tribunal Federal (STF), para conceder aos pares homoafetivos os direitos decorrentes da 
união estável, deve ser utilizado para lhes franquear a via do casamento civil, mesmo porque 
 
9 Art. 3º (Objetivos fundamentais da República), inciso IV da CF – “promover o bem de todos, sem preconceitos de 
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.” 
27 
 
é a própria Constituição Federal que determina a facilitação da conversão da união estável 
em casamento”, concluiu Salomão. 
Em seu voto-vista, o ministro Marco Buzzi destacou que a união homoafetiva é reconhecida 
como família. Se o fundamento de existência das normas de família consiste precisamente 
em gerar proteção jurídica ao núcleo familiar, e se o casamento é o principal instrumento 
para essa opção, seria despropositado concluir que esse elemento não pode alcançar os 
casais homoafetivos. Segundo ele,intolerância e preconceito não se mostram admissíveis no 
atual estágio do desenvolvimento humano. [...] 
O recurso foi interposto por duas cidadãs residentes no Rio Grande do Sul, que já vivem em 
união estável e tiveram o pedido de habilitação para o casamento negado em primeira e 
segunda instância. A decisão do tribunal gaúcho afirmou não haver possibilidade jurídica 
para o pedido, pois só o Poder Legislativo teria competência para insituir o casamento 
homoafetivo. No recurso especial dirigido ao STJ, elas sustentaram não existir impedimento 
no ordenamento jurídico para o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Afirmaram, 
também, que deveria ser aplicada ao caso a regra de direito privado segundo a qual é 
permitido o que não é expressamente proibido. 
(Fonte: STJ, 25/10/2011) 
 
RESOLUÇÃO Nº 175, DE 14 DE MAIO DE 2013, do Conselho Nacional de Justiça 
Dispõe sobre a habilitação, celebração de casamento civil, ou de conversão de união estável 
em casamento, entre pessoas de mesmo 
sexo. 
O PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, no uso de suas atribuições 
constitucionais e regimentais, 
CONSIDERANDO a decisão do plenário do Conselho Nacional de Justiça, tomada no 
julgamento do Ato Normativo nº 0002626-65.2013.2.00.0000, na 169ª Sessão Ordinária, 
realizada em 14 de maio de 2013; 
CONSIDERANDO que o Supremo Tribunal Federal, nos acórdãos prolatados em 
julgamento da ADPF 132/RJ e da ADI 4277/DF, reconheceu a inconstitucionalidade de 
distinção de tratamento legal às uniões estáveis constituídas por pessoas de mesmo sexo; 
CONSIDERANDO que as referidas decisões foram proferidas com eficácia vinculante à 
administração pública e aos demais órgãos do Poder Judiciário; 
CONSIDERANDO que o Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do RESP 
1.183.378/RS, decidiu inexistir óbices legais à celebração de casamento entre pessoas de 
mesmo sexo; 
CONSIDERANDO a competência do Conselho Nacional de Justiça, prevista no art. 103-B, 
da Constituição Federal de 1988; 
RESOLVE: 
Art. 1º É vedada às autoridades competentes a recusa de habilitação, celebração de 
casamento civil ou de conversão de união estável em casamento entre pessoas de mesmo 
sexo. 
Art. 2º A recusa prevista no artigo 1º implicará a imediata comunicação ao respectivo juiz 
corregedor para as providências cabíveis. 
Art. 3º Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação. 
Ministro Joaquim Barbosa 
Presidente 
*** 
28 
 
AULA 6 
 
Influências sociais: preconceito, estereótipos e discriminação 
 
Crenças e Valores 
 
No que pese o processo cognitivo, chama-se crença “qualquer proposição [ideia] 
simples, consciente ou inconsciente, inferida do que uma pessoa diz ou faz, capaz de 
ser precedida pela frase: ‘Eu creio que...’. O Conteúdo de uma crença pode descrever 
o objeto de crença como verdadeiro ou falso, correto ou incorreto; avalia-lo como 
bom ou ruim; ou advogar um certo curso de ação ou estado de existência como sendo 
desejável ou indesejável. O primeiro tipo de crença pode ser chamado de crença 
descritiva ou existencial (eu creio que o sol nasce a leste), o segundo tipo de crença 
pode ser chamado de crença avaliativa (eu creio que este sorvete é bom); o terceiro 
tipo pode ser chamado de crença prescritiva ou exortativa (eu creio que é desejável 
que as crianças obedeçam a seus pais).” (adaptado de ROKEACH, 1981, p.92) 
“Um valor, por sua vez, “é uma única crença que guia transcendentalmente as ações 
e julgamentos através de objetos e situações específicas e além de metas imediatas 
para estados finais mais urgentes da existência. [...] é um imperativo para ação, [...] é 
um padrão ou uma medida para guiar as ações, atitudes, comparações, avaliações e 
justificativas do eu e dos outros.” (adaptado ROKEACH, 1981, p. 132-3) 
O conceito de sistema de valor sugere uma ordenação de valores ao longo de um 
contínuo de importância; uma organização aprendida de regras para fazer escolhas e 
resolver conflitos – entre dois ou mais modos de comportamento ou entre dois ou 
mais estados finais da existência. Os valores podem ser classificados em terminais 
(p.ex., autorealização, prestígio, salvação, igualdade, fé etc) e instrumentais 
(honestidade, disciplina, cooperação, humildade, ética, respeito, competência etc. 
(adaptado de ROKEACH, 1981, p. 132-3). Analise a figura abaixo: 
 
PROCESSO COGNITIVO – SISTEMA DE VALORES E CRENÇAS 
 
VT – Valores Terminais; VI – Valores Instrumentais; C – Crenças. 
 
29 
 
O QUE SÃO ATITUDES? 
 
Uma atitude é “uma organização duradoura de crenças e 
cognições em geral, dotada de carga afetiva pró ou contra um 
objeto social ou situação, que predispõe a uma ação coerente 
com as cognições e afetos relativos a este objeto. 
 
Uma distinção importante é a de que “todas as atitudes incorporam crenças, mas que 
nem todas as crenças fazem parte, necessariamente, das atitudes.” [...] “as crenças 
têm apenas um componente cognitivo enquanto as atitudes têm tanto o 
componente cognitivo quanto o afetivo.”. Em termos mais simples, podemos então 
dizer que quando uma crença polariza sobre si componentes afetivos e ambos, crença 
e afeto, agem no sentido de influenciar o comportamento, aí, então, temos uma 
atitude. Analise a figura abaixo: 
 
Característica de uma atitude 
 
 
 
MUITA ATENÇÃO! É importante não confundir atitude com 
comportamento! Comportamentos são fenômenos objetivos, já as 
atitudes são subjetivas. A lei, por exemplo, jamais poderá proibir uma 
atitude. A lei, no entanto, pode proibir um determinado tipo de 
comportamento ensejado por uma atitude (p.ex., a discriminação). 
 
30 
 
Mudança de atitude 
 
Apesar de serem relativamente estáveis, as atitudes são passíveis de mudança. [...] 
Como vimos anteriormente, os componentes cognitivo, afetivo e comportamental que 
integram as atitudes influenciam-se mutuamente em direção a um estado de 
harmonia. Qualquer mudança num destes três componentes é capaz de modificar os 
outros, de vez que todo o sistemaé acionado quando um de seus componentes é 
alterado, tal como num campo de forças eletromagnético. Consequentemente, uma 
informação nova, uma nova experiência ou um novo comportamento emitido em 
cumprimento as normas sociais, ou outro tipo de agente capaz de prescrever 
comportamento, pode criar um estado de inconsistência entre os três componentes 
atitudinais de forma a resultar numa mudança de atitude. Analise o quadro abaixo: 
1º Quadro: 
 COGNIÇÕES AFETOS TEND. COMPORTAMENTAIS CONDIÇÃO 
PRECONCEITO NEGATIVAS NEGATIVOS NEGATIVAS HARMONIA 
SOLIDARIEDADE POSITIVAS POSITIVAS POSITIVAS HARMONIA 
2º Quadro: 
 COGNIÇÕES AFETOS TEND. COMPORTAMENTAIS CONDIÇÃO 
PRECONCEITO NEGATIVAS POSITIVOS NEGATIVAS DESARMONIA 
SOLIDARIEDADE POSITIVAS NEGATIVOS POSITIVAS DESARMONIA 
 
Atitude negativa: o PRECONCEITO 
 
Teoricamente, os preconceitos podem ficar incluídos na 
classe das atitudes, exibindo, em consequência dessa 
inserção, os três elementos acima descritos (quais sejam, 
cognições, afetos e tendências comportamentais); apresentam, 
porém, em adição e em contraste com elas, duas 
características que lhes são específicas: a de que se formam 
sempre em torno de um núcleo afetivamente negativo e a de 
que são dirigidos contra grupos de pessoas. 
 
DISCRIMINAÇÃO 
 
Uma ação qualquer ensejada por algum preconceito 
caracterizaria o que se chama discriminação. Porém, 
“preconceito e discriminação nem sempre ocorrem 
juntos. É possível ter preconceito contra um 
determinado grupo sem se portar abertamente de 
maneira hostil ou discriminatória em relação a ele. Por 
exemplo: um lojista racista pode sorrir para um cliente 
negro para disfarçar opiniões que poderiam prejudicar 
seu negócio. Do mesmo modo, muitas práticas institucionais podem ser 
discriminatórias, embora não se baseiem no preconceito. Por exemplo: as normas que 
estabelecem uma altura mínima para policiais podem discriminar mulheres e 
31 
 
determinados grupos étnicos – cuja altura é inferior ao 
padrão arbitrário -, embora essas normas não se originem em 
atitudes sexistas ou racistas. 
 
INFORMAÇÃO: 
 
LEI Nº 7.716, DE 5 DE JANEIRO DE 1989 
Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de 
cor. 
(Alterada pelas Leis nº 8.081/90 e 9.459 / 97 já incluídas no texto) 
(http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/LEIS/L7716.htm) 
 
A RELAÇÃO ENTRE PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO 
Analise o quadro abaixo e reflita a respeito 
 
 
ESTEREÓTIPOS 
 
De fato, um estereótipo não se baseia, necessariamente, numa crença 
mas num tipo de associação mental simplista que fazemos entre duas 
coisas que visa facilitar a nossa vida cotidiana. Tais associações podem 
ser conscientes (explícitas) ou inconscientes (implícitas). “Muitas pessoas 
vinculam, involuntariamente, deficiência com fraqueza, árabe com 
terrorismo ou pobre com inferioridade, mesmo que tais estereótipos 
contrariem a racionalidade e até mesmo valores que lhes são caros, como o de justiça 
ou igualdade. 
 
 
 
 
 
Estereótipos e preconceitos podem gerar uma percepção seletiva dos 
outros ou dos fatos: “Por exemplo: uma vez que você classificou 
alguém como homem ou mulher, talvez conte mais com seu estereótipo 
daquele gênero que com suas próprias observações sobre as atitudes da 
pessoa. Pelo fato de as mulheres serem estereotipadas tradicionalmente 
como mais emotivas e submissas, e os homens como mais racionais e 
 
Vide texto “Estereótipos de gênero” –Caderno Introdução à psicologia, p. 19.) 
32 
 
assertivos [...] talvez você veja mais esses traços em homens e mulheres do que eles 
realmente existem.” 
 
COMPLETE AS LACUNAS ABAIXO COM EXEMPLOS: 
 ESTEREÓTIPO PRECONCEITO DISCRIMINAÇÃO 
GÊNERO 
CLASSE SOCIAL 
RAÇA 
IDENTIDADE SEXUAL 
IDADE 
 
Leitura Complementar 
“Pessoas invisíveis” 
 
“Em novembro de 1994, o então estudante do 2º ano de Psicologia da 
Universidade de São Paulo (USP) Fernando Braga tornou-se invisível. 'Fiquei 
atordoado, não conseguia sentir o gosto da comida, perdi meu centro', lembra. 
Nem loucura nem ficção científica. Braga atingiu a invisibilidade ao vestir um 
uniforme de gari. Como parte de um estágio solicitado por uma das disciplinas 
que cursava, ele resolveu acompanhar, de duas a três vezes por semana, a rotina 
dos garis da Cidade Universitária - pegando no pesado junto com eles. Ao vestir 
calça, camisa e boné como seus colegas de 'varreção', esperava 
causar espanto, curiosidade ou até mesmo indignação em seus amigos, 
professores, companheiros de futebol e conhecidos da 
USP. No entanto, não conseguiu nem mesmo receber 
um bom-dia. 'Atravessei o andar térreo da Psicologia 
de ponta a ponta. Estava atento, buscava a expressão de 
surpresa em alguém. Mas nada acontecia', conta. 'Deixei de esperar 
perguntas intrigadas, mas ainda seria capaz de responder a algum cumprimento. Nada.' Os 
professores com quem havia conversado pela manhã passaram por ele e nem perceberam 
sua presença. Não é que tenha sido ignorado, menosprezado, rejeitado. Pior: nem foi visto. 
Era como não estar lá; como 'não ser'. 
O mal-estar experimentado por Braga jamais o abandonou. Ele passou 
os nove anos seguintes trabalhando com os garis da USP e 
transformou em tese de mestrado o indigesto tema da 'invisibilidade 
pública' - o desaparecimento de um homem no meio de outros 
homens. Concluída em 2002, a tese agora vira livro lançado pela 
editora Globo. 
Ironicamente, o psicólogo ganhou visibilidade falando da invisibilidade, que, segundo ele, 
está relacionada à divisão social do trabalho e afeta até mesmo quem não é totalmente 
excluído economicamente. Ela seria uma espécie de cegueira psicossocial, que elimina 
do campo de visão da maioria da população aqueles que são condenados a exercer uma 
atividade subalterna, desqualificada, desumanizante e degradante o dia inteiro, às 
vezes uma vida inteira. É uma situação diferente da contada pelo escritor americano Ralph 
33 
 
Ellison, que nos anos 50 lançou seu romance O Homem Invisível. Ellison, negro, contava a 
história de um descendente de escravos que ao percorrer os Estados Unidos descobriu 
apenas que, por ser negro, era ignorado - segundo ele, algo muito pior que ser confrontado 
ou desprezado. Braga mostra que, independentemente do preconceito racial, o 
preconceito social também é tão incrível que leva a simplesmente apagar pessoas do 
campo de visão. 'Nem na Suécia uma criança é incentivada pelos pais a ser gari, faxineiro 
ou coveiro', provoca. 'Não tem a ver com salário, mas com a simbologia.' 
Todo mundo se sente invisível em algum momento da vida - numa festa de gente de outra 
tribo, no emprego novo em que não se conhece ninguém. Mas essas são outras 
invisibilidades, circunstanciais, e portanto passageiras, reversíveis. O estudo de Braga é 
sobre uma invisibilidade tão automatizada na sociedade que muitas vezes nem mesmo 
o ser invisível se dá conta de sua degradante situação. 'Se ele percebe, carece de armas 
para o combate. Depois de ser ignorado a vida inteira ou, no máximo, maltratado, 
ninguém anda de cabeça erguida.' 
De fato, na maioria das vezes, o gari que limpa nossa cidade só é notado quando falta ao 
serviço. O ascensorista é tratado como uma máquina que funciona por comando de voz, sem 
direito a 'por favor' nem 'obrigado'. A empregada doméstica põe o avental, alimenta a 
família e deixa a casa organizada anos a fio, mas os patrões mal sabem seu sobrenome, se 
tem filhos, se está com algum problema. Os únicos cidadãos que vestem uniforme para 
servir aos outros e ganham visibilidade e reconhecimento são os que estão em situação 
de poder sobre o interlocutor - médicos, enfermeiros,policiais. 'Algumas profissões 
estão num nível de rebaixamento absoluto', reforça Braga. 'As pessoas estão habituadas a 
passar pelos garis como quem passa por objetos', assinala. 
Nilce de Paula, mineiro de 61 anos, confirma. Desde que chegou a São Paulo, aos 18 anos, 
trabalhou em bar, restaurante, fez salgadinhos para vender, foi ascensorista - de terno e 
gravata, orgulha-se - e carregou contêineres de veneno. Já tinha experimentado o 
preconceito racial, mas a indiferença mesmo só conheceu quando virou gari. 'Às vezes estou 
trabalhando na avenida e passa uma pessoa. Mesmo que ela não me cumprimente, eu 
cumprimento, porque um bom-dia não custa nada', afirma. 'O pior é quando os carros quase 
passam por cima da gente, sem nem tentar desviar. A gente tem de trabalhar de frente para a 
avenida e se cuidar.' 
A invisibilidade pública vem sempre na companhia da humilhação social, o sofrimento 
pelo rebaixamento político, social e psicológico experimentado continuamente por 
cidadãos de classes D e E. O conceito é recente e foi cunhado por José Moura Gonçalves 
Filho, orientador de Braga. Afeta o raciocínio, a visão e o afeto de quem é discriminado. 
'O invisível não tem voz, seu discurso não é levado em conta, sua opinião sobre o 
mundo não importa. Ele aparece apenas como ferramenta', diz o psicólogo. Funcionária 
de uma empresa terceirizada de limpeza, a baiana Sônia Aragão, de 34 anos, veio para São 
Paulo em 1996, depois de ter passado pela lavoura, por restaurantes e casas de família. Ter 
de usar uniforme foi um choque: 'Tem gente que passa reto e faz de conta que não me vê. 
Eu mesma me sinto estranha com esta roupa, porque parece que não sou eu. Quando não 
estou de uniforme, pelo menos as pessoas me olham, mesmo que não falem comigo', diz.”10 
*** 
 
10 Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT764232-1664,00.html. Acesso em 03/07/12. 
34 
 
AULA 7 
 
Aspectos psicológicos das relações humanas: comportamento antissocial e 
violência 
 
LEI JURÍDICA & LEI SIMBÓLICA 
 
“As pessoas estão confundindo desejo com direito!” (M.S.Cortella) 
 
Existem regras que servem para regular as relações dos homens entre si. 
Essas são chamadas de normas sociais ou leis jurídicas. Porém, poderá 
haver, ou não, no indivíduo uma lei estruturante que funcionará para lhe 
dar limites ao gozo. De forma simplificada, essa será chamada de Lei 
simbólica. “A Constituição, carta magna de um Estado, as leis, os 
estatutos e os regimentos institucionais são modalidades de expressão da 
Lei simbólica na cultura e visam ao enquadramento e a limitação do 
gozo de uma relação aos demais.” (QUINET, 2008) 
Freud (1856-1939), por exemplo, escreve que cada nova criança 
que chega ao mundo dos humanos está diante do dever de ter que 
dar conta do Complexo de Édipo
11
. Isso faz com que o complexo de 
Édipo, com a questão da barreira contra o incesto, se torne, de uma 
maneira simples, mas na verdade muito complexa, o que a 
psicanálise chama de Lei. Lei, portanto, 
que proíbe o incesto e que proíbe o parricídio, ou seja, o 
assassinato do pai. 
Assim, porque o ser humano é um ser que se organiza e se 
desenvolve intelectual e emocionalmente a partir do 
simbólico
12
, é pelo simbólico que a Lei será transmitida, via 
cultura. Estruturar emocionalmente o sentido fundamental 
da Lei (ou seja, o da interdição aos impulsos básicos), ocorrerá, principalmente, na 
infância mais tenra e dependerá das primeiras relações sociais da criança (ou seja, 
com a mãe e com o pai). O registro estruturante da Lei é o que possibilitará, 
futuramente, à adaptação e o desenvolvimento sadio às posteriores relações 
civilizadas (escola, grupos, sociedade etc.). 
 
A AUTORIDADE DOS PAIS 
 
“A autoridade não é um atributo individual das figuras paternas. A 
autoridade dos pais - e da escola, que também anda em apuros [...] - 
deriva de uma lei simbólica que interdita os excessos de gozo. Uma 
lei que deve valer para todos. O pai que “tem moral” com seus 
 
11 Para um maior aprofundamento sobre o complexo de Édipo, sugiro a leitura do seguinte texto: Configurações 
edípicas da contemporaneidade: reflexões sobre as novas formas de filiação, de Paulo Roberto Ceccarelli. Disponível 
em < http://www.editoraescuta.com.br/pulsional/161_07.pdf>. 
12 Simbólico, neste contexto, significa a capacidade humana de representar a realidade por signos linguísticos. 
35 
 
filhos é aquele que também se submete à mesma lei, traduzida em regras de 
civilidade, de respeito e da chamada boa educação.” (KEHL, M.R.) 
 
O GOZO PELA VIOLAÇÃO DA LEI: O TRAÇO PERVERSO 
 
Para o pensamento psicanalítico, o que se chama “perverso” é, no 
âmbito dos impulsos sexuais e de suas consequentes fantasias, a 
tendência a buscar a permanência de um gozo absoluto e ilimitado. 
De um gozo (primitivo, incestuoso e, portanto, infantil) que irá 
negar quaisquer restrições ou limites (ou seja, que irá negar a Lei). 
“O desafio e a transgressão são o exercício de buscar, incessantemente, 
garantir e esticar o usufruto do gozo, além de todos os limites que a 
cultura e o pacto civilizatório impõem ao Outro.” Perverso em 
psicanálise toma o sentido de desvio ou perturbação das formas consideradas 
“normais” (maduras, adultas, satisfatórias para o sujeito etc.) do gozo sexual. 
O sentido da negação, neste contexto, significa que o sujeito perverso reconhece a 
existência da lei, porém, a nega, ou seja, não a aceita, não a estrutura em sua 
personalidade. Indivíduos com traços perversos de personalidade possuem 
características antissociais o que comumente os caracteriza, também, como 
portadores de uma “personalidade antissocial”. Analise a comparação proposta no 
esquema a seguir: 
 
REFLEXÕES 
 
 
 
 
 
“O apelo capitalista ao consumo que sugere, pela mídia, valores e 
atitudes de não limite ao gozo e ao prazer imediato.” 
36 
 
TEXTO COMPLEMENTAR 
 
Cariocas gostam de bandalha 
 
(ZUENIR VENTURA (O GLOBO, 26/11/08) 
 
A pesquisa publicada domingo pelo GLOBO, mostrando que só 
9% dos motoristas respeitam sinal de trânsito, confirma o que 
já se sabia observando o nosso dia a dia e o que Adriana 
Calcanhotto cantou na sua canção de amor ao Rio e ao seu 
povo: "Cariocas não gostam de sinal fechado." Gaúcha, ela foi 
generosa. Ao defeito apontado, contrapôs 15 qualidades positivas que enumera em 
graciosos versos: "Cariocas são bonitos/Cariocas são bacanas/Cariocas são 
sacanas/Cariocas são dourados" e por aí vai. Ela os chama ainda de modernos, 
espertos, diretos, alegres, sexy, que não gostam de dias nublados etc. Talvez por 
delicadeza de forasteira, ela não quis apontar uma verdade incômoda que explica todo 
o comportamento transgressor dos cariocas. Eles gostam de bandalha. 
E não apenas no trânsito, embora nesse quesito eles sejam imbatíveis. Gostam de 
fechar os cruzamentos, de debruçar sobre a buzina sem necessidade, de estacionar nas 
calçadas, de parar em lugar proibido, de excesso de velocidade, de falar ao celular 
enquanto dirigem, de andar na contramão e de xingar quem insiste em se manter 
dentro da lei (me lembro da senhora ao volante esperando a luz verde, e um sujeito 
histérico gritando atrás: "Pensa que tá na Suécia, perua?") 
Assim, além de responsáveis por um dos mais caóticos trânsitos do planeta, os 
cariocas também são especialistas em delitos menores, para não falar nos grandes, 
como assaltos e homicídios. Costumam urinar em lugares públicos, desrespeitar filas 
("quem gosta de fila é paulista", já ouvi um furão dizer, sem esperar a vez), levar o 
cachorro para fazer

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