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Aula 010 Parecer Técnico Jurídico 2 Redação Jurídica

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REDAÇÃO JURÍDICA: AULA 10
Fundamentação do Parecer: técnicas e estratégias argumentativas (I)
PROFESSORA: MARIA GENI DE A. FORTUNATO
TIPOS DE ARGUMENTOS:
Seleção e combinação
Os argumentos são recursos linguísticos que visam ao convencimento. O argumento não é uma prova inequívoca da verdade. 
Argumentar não significa impor uma forma de demonstração, como nas ciências exatas. O argumento implica um juízo do quanto é provável ou razoável. Não existe, do ponto de vista, argumentativo, raciocínio “certo” ou “errado”; e sim: eficiente ou ineficiente.
A) ARGUMENTO PRÓ-TESE:
Extraído de fatos reais contidos no relatório. Deve ser o primeiro argumento a compor a fundamentação.
 Estrutura:
TESE + PORQUE + E TAMBÉM + ALÉM DISSO
 Fatos distintos favoráveis à tese escolhida
Exemplo:
O hospital foi negligente porque utilizou água contaminada no tratamento da hemodiálise de pacientes renais, e também não comunicou o fato à Secretaria de Saúde. Além disso, mesmo após ter conhecimento do alto índice de contaminação por bactérias, continuou a utilizá-la, colocando, pois, em perigo iminente a vida dos pacientes.
TESE
B) ARGUMENTO DE AUTORIDADE: 
 (ab autoritatem)
Invoca o prestígio dos atos ou juízos de uma determinada pessoa ou grupo a partir do qual a informação ganha relevância.
Utiliza como base as fontes do Direito e pesquisas científicas comprovadas.
A autoridade precisa de legitimidade.
A polifonia (PARÁFRASE ou CITAÇÃO) é um recurso que deve ser usado apropriadamente e sem exageros.
Quando se faz citação doutrinária, deve-se:
 Colocar o excerto entre aspas;
 Destacar a citação do restante da argumentação (alteração da fonte ou da paragrafação, por exemplo);
Indicar as alterações feitas no trecho (sublinhamos, negritamos etc.). E, quando for pular determinada parte, inserir reticências entre parênteses (...) ou escrever omissis;
Nunca inserir ou alterar palavras da transcrição. Se houver erros no excerto copiado, acrescentar (sic), logo depois do engano, para que se perceba que o erro está no original;
Indicar a fonte de onde foi extraído o trecho. Podem-se utilizar as normas acadêmicas, ou qualquer outro modelo, desde que a indicação fique precisa, a ponto de facilitar a localização da obra, por quem quiser conferi-la.
ATENÇÃO!
Para combater o argumento de autoridade deve-se, sempre, buscar o local de onde foi extraída a transcrição, para ver se é exata e se o autor, em outro trecho, não desdiz aquela afirmação ou ameniza o seu conteúdo. Também se deve procurar outros autores, de igual renome, para contrapor citação oposta.
Exemplo:
(Agravo julgado pelo Tribunal de Justiça do Estado do RJ)
O valor da causa corresponde, segundo DINAMARCO, à “expressão monetária do significado econômico dos benefícios procurados pelo autor através do processo” (DINAMARCO, Instituições de Direito Processual Civil. V. III. 3ª ed. SP/; Malheiros,2003, p.370). Como nota o insigne processualista, por não se dispor a prestar gratuitamente o serviço jurisdicional, o Estado distribui entre os usuários as despesas que suporta em tal mister, fazendo-o na proporção do interesse econômico que cada um pretende satisfazer por meio do processo.
RESUMINDO...
 ARGUMENTO DE AUTORIDADE:
OPINIÃO FUNDAMENTADA DE ESPECIALISTAS.
LEGISLAÇÃO, DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA.
DISCIPLINAS DE FUNDAMENTO.
VOZES DA MÍDIA, DA IGREJA, DA FAMÍLIA.
C) ARGUMENTO DE SENSO COMUM:
Aproveitamento de uma afirmação que representa o consenso geral; por isso, parece incontestável; está amplamente difundido na sociedade. São raríssimos, em Direito, porque sempre há possibilidade de interpretação divergente. Existem em casos mais genéricos: o juiz deve ser imparcial, por exemplo. 
São argumentos aceitos universalmente, sem necessidade de comprovação. Apela para o AUDITÓRIO UNIVERSAL
Exemplo:
“o homem depende do ambiente para viver”, ou ainda “a mulher de hoje ocupa um papel social diferente da mulher do século XIX”.
 Informações como estas já foram comprovadas historicamente, não precisam de justificativa. Por apresentarem um grau de informatividade muito baixo, têm um valor persuasivo menor.
Tipos de argumentos: 
Seleção e combinação (Continuação)
ARGUMENTO DE OPOSIÇÃO
Serve como estratégia discursiva eficiente para a redação de uma boa fundamentação. Compõe-se da introdução de uma perspectiva oposta ao ponto de vista defendido pelo argumentador, admitindo-o, para depois apresentar, como argumento decisivo, a perspectiva contrária.
Conjunções Adversativas: mas, porém, todavia, entretanto, no entanto, senão, não obstante, contudo, etc.
Conjunções Concessivas: embora, muito embora, conquanto, ainda que, mesmo que, posto que, bem que, se bem que, apesar de que, nem que, a despeito de, não obstante, etc .
Exemplo:
Embora haja quem argumente ser impossível pensar a afetividade como valor jurídico, pois não existe lei que obrigue alguém a ser pai, nem garanta reaproximações indesejadas, a Justiça pode, sim, fazer valer o direito de um filho em relação aos cuidados paternais, por meio de uma reparação afetiva. Essa reparação André Júlio deve a Alexandre, por sua luta inglória desde quase os sete anos de idade, a fim de reaver o afeto do pai. Falta de carinho, de atenção e de presença não se quantifica, mas pode ser compensada para amenizar o sofrimento de Alexandre, por ter tido um pai ausente.
ARGUMENTO DE CAUSA E EFEITO
Uma argumentação pode escolher por estabelecer um vínculo causal entre:
a) dois acontecimentos sucessivos;
b) um acontecimento e uma causa determinante;
c) um acontecimento e seus efeitos prováveis.
No primeiro caso, a argumentação visará à sustentação da tese de que um acontecimento que sucede imediatamente a outro tem com este um vínculo causal, ou seja, é consequência: se não houvesse o primeiro, não haveria o segundo. Já é diferente a relação causal que se pretende sustentar no segundo caso: um fato ocorrido não tem necessariamente a sua origem num outro imediatamente anterior, mas num ponto qualquer que depende da escolha do argumentador. Por isso, determinar uma causa de um ato permite que o argumentador, valendo-se da riqueza de seu sistema de referência, construa argumentos extremamente fortes como, por exemplo, no Direito, o da necessidade ou inexigibilidade de conduta diferente
Pode, porém, como no último caso, o argumentador construir uma relação causal entre o fato ocorrido e uma situação futura. No caso da argumentação jurídica, a técnica que se vale de determinados procedimentos das ciências lógico-formais, precisa - como todas as demais técnicas - cuidar da atividade linguística, pois fica evidente que um vínculo causal, qualquer que seja, necessita de interpretações que produzam sentidos que possam suportar essa relação de causalidade, especialmente, tomando em consideração que se atua com valorações diferenciadas que se originam da heterogeneidade referencial.
Exemplo:
“Certa vez, um soldado do Exército, chamado X, colocou sobre um armário do quartel um colchonete e, acima dele, um aspirador de pó. Quando o soldado K foi puxar o colchonete, dias depois, foi atingido pelo pesado aparelho de aspirar pó que não havia conseguido visualizar.”
Pergunta-se: existe nexo de causalidade entre a conduta de X (deixar o aspirador de pó sobre um colchonete) e o resultado 
 ( os ferimentos causados em K) ?
A resposta envolve certo grau de subjetividade...
Atenção!
Nenhuma relação de causa e consequência deve ficar sem uma explicação coerente para justificar que o agente deveria adotar conduta diversa para evitar os resultados a ele imputados.
ARGUMENTO POR ANALOGIA: ARGUMENTO A PARI
Uma das relações de igualdade da lógica formal é a analogia em termos de a = b assim como c = d, o que pode servir como um recurso para a argumentação jurídica. Na verdade, a analogia é uma comparação que não visa a diferenciar, mas a estabelecer as semelhanças, o que, de certa forma, na prática jurídica, aponta para uma igualdade de relações entre os indivíduos.
De qualquer forma, a construção de uma analogia, apesar de todos os cuidados do argumentador na avaliação do auditório, sempre revela um caráter de instabilidade ou de fragilidade, precisamente porque basta alguém não aceitar uma semelhança estabelecida para que todas as conclusões que dela se retiraram sejam também rejeitadas.
Também chamado de argumento a simile ou a pari ratione. Argumento fundado na analogia, defende que dois casos merecem a mesma solução porque são similares. Funda-se no brocardo ubi eadem ratio, ibi eadem dispositio (princípio da semelhança). É largamente utilizado na retórica forense nos casos em que se sustenta que dois casos devem ser assimilados porque a ambos se aplica a mesma ratio legis. Tem esteio forte na regra constitucional da isonomia (duas situações iguais devem receber tratamentos iguais), e também na interpretação lógica do Direito.
Exemplos:
Se o casamento entre vítima e agressor extingue a punibilidade do estupro, a pari ratione a união estável entre ambos deve produzir o mesmo efeito [vide, a respeito, RSDP 5/38]. 
Se a instauração de novo processo-crime contra o réu prorroga o prazo do sursis, a simile deve também prorrogar o prazo da suspensão condicional do processo [a respeito vide RSDP 10/42]. 
Se o aborto é lícito na gravidez resultante de estupro, a pari é também lícito na resultante de atentado violento ao pudor.
Caso concreto
Ivan faleceu em 13.01.2003. Seu inventário foi aberto por seus filhos Gustavo e Flávio, herdeiros necessários do de cujus, oportunidade em que foi declarado que o mesmo era casado com Paula pelo regime da separação convencional de bens.
Citada, na forma do art. 999 do CPC, Paula postula sua habilitação no processo de inventário, como herdeira necessária, bem como pleiteia a concorrência na partilha dos bens do de cujus, com fulcro nos art. 1.829, I e 1.845, ambos do CC/02, já que o legislador não excluiu da participação na sucessão o cônjuge casado pelo regime da separação convencional de bens.
Os herdeiros apresentam impugnação ao pleito de Paula, ao argumento de que o regime adotado pelo casal fora lavrado por escritura pública de pacto antenupcial, com todas as cláusulas de incomunicabilidade, razão pela qual a impugnada deveria ficar excluída da sucessão.
Material de apoio:
Sucessão do Cônjuge Sob a Égide do Atual Código:
Com a entrada em vigor do Código Civil de 2002, em 11.1.2003, o cônjuge passou a ser considerado herdeiro necessário, e não apenas facultativo, juntamente com os descendentes e com os ascendentes, com fulcro no ar. 1.845 do CC.
Além disso, passou a concorrer na sucessão do de cujus juntamente com a classe dos descendentes e com a classe dos ascendentes, conforme se coaduna da leitura do artigo 1.829, I e II do CC/02.
O art. 1.829, I do CC estabelece que a sucessão legítima será deferida ao cônjuge em concorrência com os descendentes, exceto se casado pelo regime da comunhão universal, da separação obrigatória ou da comunhão parcial, se o autor da herança não houver deixado bens particulares.
Em razão de o regime da separação consensual ou convencional não se encontrar expresso na exceção do artigo supramencionado, controvérsia doutrinária e jurisprudencial surge sobre o tema.
Explanação da Controvérsia:
Uma primeira posição, que é defendida pela maioria da doutrina, dentre a qual se incluem os autores: Maria Helena Diniz e Washington de Barros Monteiro - sustenta que o cônjuge casado pelo regime da separação convencional de bens deve concorrer com os descendentes do autor da herança, uma vez que esse regime não se encontra na exceção do art. 1.829, I do CC e o intérprete não pode restringir onde a legislador não o fez. Sustenta que caso fosse a pretensão do legislador excluir o direito sucessório do cônjuge casado pelo regime da separação convencional de bens, teria o feito expressamente, da mesma forma que foi feito com o regime da comunhão universal e da separação obrigatória. 
Uma segunda posição, que é a que vem predominando no STJ, sustenta que o cônjuge casado pelo regime da separação convencional de bens não pode concorrer com os descendentes do autor da herança, uma vez que, antes de qualquer coisa, deve ser preservado o princípio da dignidade da pessoa humana, que se espraia, no plano da livre manifestação de vontade humana, por meio da autonomia da vontade, autonomia privada e da consequente autorresponsabilidade, bem como da confiança legítima que brota da boa-fé. Preconiza que se deve ter no Direito das Sucessões uma transmutação do regime que fora escolhido em vida, de forma que prevaleça a interpretação que prima pela valorização da vontade das partes na escolha do regime, mantendo essa escolha intacta tanto na vida quanto na morte.
Após a compreensão do conflito e a leitura das fontes primárias e secundárias que auxiliam a solução da lide, desenvolva um parecer completo. Sua fundamentação deverá apresentar, pelo menos, três parágrafos argumentativos diferentes. Escolha livremente entre as opções listadas na aula de hoje.

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