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Anos 1920

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HISTÓRIA DA MODA NO BRASIL
ANOS 1920
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A emancipação feminina começava a ganhar as ruas: a mulher moderna exibia o contorno das pernas, cortava os cabelos, fumava e dirigia automóveis; algumas até trocavam o lar por prósperas carreiras profissionais. Fortalecia-se entre os nossos intelectuais, a busca por uma identidade cultural brasileira. Contudo, pouco se cogitava a existência de uma moda local ou mesmo moda como forma de criação (...) Esta era uma prerrogativa dos franceses; isso ninguém discutia ou questionava. (BRAGA, 2011, p.97)
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No Brasil, um exército de costureiras anônimas produzia, em ateliês domésticos ou informais, as peças também sob medida, mas sem o mesmo glamour, que vestiam as nossas mulheres, quando não eram feitas pelas próprias donas de casa – todas já municiadas de máquinas de costura, equipamento presente na maioria dos lares de classe média. Algumas costureiras, eventualmente, ganhavam notoriedade, e alcançavam o status de madame por meio das revistas femininas – as vogas europeias, uma necessidade para se preservar a distinção de vestimentas em acordo com a “última moda” de Paris. (BRAGA, 2011, p.97-98)
Niny Parreiras e Calutinha em praça de Araguay, MG, 8/11/27.
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Após a Primeira Guerra Mundial (1914-18), “iniciaram-se alguns movimentos que tentavam colocar o país fora de sua posição periférica e dependente em relação às nações hegemônicas do mundo (...) O lado de lá continuava como modelo e não havia palavras e atitudes genuinamente brasileiras para que artes em geral, pensamentos e obras revelassem a tão esperançosa Terra Brasilis”. (CHATAIGNIER, 2010, p.110) 
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VALORIZAÇÃO DA REALIDADE NACIONAL
EXALTAÇÃO DO PENSAMENTO MODERNO
Amaral, Tarsila, 
“O Vendedor de frutas”, 1925.
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Inserida nas festividades em comemoração do centenário da independência do Brasil, em 1922, a Semana de Arte Moderna apresenta-se como a primeira manifestação coletiva pública na história cultural brasileira a favor de um espírito novo e moderno em oposição à cultura e à arte de teor conservador, predominantes no país desde o século XIX. 
Cartaz de Di Cavalcanti 
Semana de Arte Moderna de 1922
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Mário de Andrade (sentado) e Anita Malfatti (sentada, ao centro), em 1922. 
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Entre os dias 13 e 18 de fevereiro de 1922, realiza-se no Theatro Municipal de São Paulo um festival com uma exposição com cerca de 100 obras e três sessões lítero-musicais noturnas. Entre os pintores participam Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Vicente do Rego Monteiro, no campo da escultura, estava Victor Brecheret, a arquitetura é representada por Antônio Garcia Moya e Georg Przyrembel. 
Entre os literatos e poetas, tomam parte Graça Aranha, Guilherme de Almeida, Mário de Andrade, Menotti del Picchia, Oswald de Andrade, Renato de Almeida, Ronald de Carvalho, Tácito de Almeida, além de Manuel Bandeira com a leitura do poema Os Sapos. 
A influência da Semana atravessou todo o século XX e pode ser percebida até hoje. 
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Malfatti, Anita 
Fernanda de Castro , 1922. 
óleo sobre tela.
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Após a Semana de 22, e com a chegada de Tarsila do Amaral de Paris, formou-se O Grupo dos Cinco, integrado pelas pintoras Tarsila do Amaral e Anita Malfatti e pelos escritores Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti Del Picchia, passam a liderar o movimento.
Malfatti, Anita 
O Grupo dos Cinco , 1922. 
tinta de caneta e lápis de cor sobre papel.
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As atitudes culturais e artísticas marcaram o ponto zero do movimento que passou a ser denominado “Modernismo”. A moda, como parte sedutora e atrevida em matéria de costumes, marcou presença em estampas criadas por Tarsila do Amaral, ainda que ela vestisse Poiret em ocasiões festivas. Em algumas colunas que dividiam o mundanismo com artes e que tais, falava-se nos robes-de-chambre tropicais usados pela poeta Pagu, além de louvar as tessituras nacionais como fustão, gabardine, algodão florido e sedinhas leves, cem por cento verdes e amarelas. (CHATAIGNIER, 2010, p.111) 
Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral 
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Patrícia Rehder Galvão, conhecida pelo pseudônimo de Pagu. Anarquista, comunista, era uma mulher a frente do seu tempo. Foi a primeira mulher presa no Brasil por motivações políticas. Ao contrário do que se propaga, Pagu não participou da Semana de Arte Moderna, ela tinha 12 anos em 1922, mas em 1929 está integrada ao movimento antropofágico. Em 1930, Oswald separa-se de Tarsila e casa-se com Pagu.
“Esse crime, o crime sagrado de ser divergente, nós o cometeremos sempre”- Pagu
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Para os amantes da moda, o paradoxo da época era o contraste entre a moda simples do dia a dia – com conjuntos de blazer e saia de lã e jérsei ou em tecidos de verão – e a sofisticação da noite, quando os vestidos eram de musselina e seda, na maioria das vezes cobertos com bordados trabalhados de canutilhos, miçangas, proporcionando serviços para as bordadeiras brasileiras, que, em casa ou ateliês, se inspiravam nos estilos franceses, mas acrescentavam a vivacidade nacional por meio de cores luminosas. (CHATAIGNIER, 2010, p.110) 
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Ninguém podia, no entanto, negar a influência parisiense na moda brasileira, especialmente através das criações que aqui chegaram como as famosas grifes Jean Patou, Chanel, Madeleine Vionnet, Jenny, Molyneux, e outras. (CHATAIGNIER, 2010, p.111) 
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Silhueta tubular, seios achatados, a linha da cintura desaparece, para marcar quadris;
Vestidos curtos, decotados, leves e elegantes;
Tecidos: jérsei, musselina, gaze, cetim e crepe, 
Normalmente, deixavam braços e costas aparentes; 
Meias bege para sugerir pernas nuas;
O raiom, vibra sintética, tornou-se uma alternativa acessível para a seda;
Chapéus cloche, longos colares de pérolas e camélias na lapela;
O corte de cabelo curto “la garçonne”, visual andrógeno, os cabelos curtos era um símbolo da libertação, diversão e ousadia.
Recordando a Moda Feminina
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A face clássica dos Anos 20, apreciada por mulheres da elite acima de 30 anos, prestigiava as saias com recortes irregulares, até os tornozelos, com encaixes em pontas e enviesados, valorizando o andar e o glamour. (CHATAIGNIER, 2010, p.112) 
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Franjas de seda ou canutilhos bordados art déco, proporcionavam às peças da década um quê de atrevimento. Assim os sapatos de pulseirinha com saltos médios e grossos , os demais acessórios chamavam a atenção: casacos ou estolas de peles de animais, como vison, a hermínia e a raposa – esta a mais usada -. Meias longas de seda clara, carteiras pequenas ou saquinhos redondos bordados com canutilhos para festas e chapéus com finas plumas de aigrettes (ave européia) ou plumas imensas de avestruz tinturadas nas cores da moda. (CHATAIGNIER, 2010, p.113) 
Tiara com motivo Art Déco com pluma de aigrette.
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Cores: Preto, ameixa, violeta, marrom, branco, marfim, rosa, azul
Fonte: Anos 20 http://www.colourlovers.com/palettes/search?query=1920%27s
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Aviamentos com motivos Art Déco.
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Estampas: flores de muitos tipos, arabescos, motivos geométricos miúdos, chinoiserie (imitação dos estilos chineses), listras e padrões de alfaiataria. 
Estampa chinoiserie
Geométricos miúdos
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Em 1927, registra-se um acontecimento que mobiliza a cidade de São Paulo: o Mappin Stores, loja de departamentos de origem inglesa, bem nos estilos europeu e americano, fundada em 1913, realizou em sua loja o primeiro desfile de moda em espaço comercial. (CHATAIGNIER, 2010, p.110) 
Desfile nas lojas Mappin, década de 1930.
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Mas a moda que agradou a todas as camadas sociais foi a que chegou com as ilustrações de J. Carlos, um dos nossos maiores desenhistas e caricaturistas de todos os tempos. Sua musa era a melindrosa, mulher-menina, carioca, coquete, com cabelos curtíssimos e as vezes untados com brilhantina. Era o estilo à la garçonne tropical que poderia manter também os cabelos escondidos sob o chapéu cloche ou
uma boina caída de um lado só. (CHATAIGNIER, 2010, p.112) 
J. Carlos
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J. Carlos imaginou e desenhou numa revista uma peça que prenunciava exatamente o que veio a ser conhecida como topless (...) Minivestidinhos sensuais ou simplesmente tubulares, sapatilhas e sapatinhos como pequenos saltos e pulseirinhas nos tornozelos, aliás a parte considerada fetiche, seios espremidos e boquinhas rubras (...). (CHATAIGNIER, 2010, p.112) 
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Ilustrações de J. Carlos (1884-1950)
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Ilustrações de J. Carlos (1884-1950)
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O humor gráfico da década de 20
As charges e caricaturas de mulheres se multiplicavam, assim como as seções femininas, denotando a efetiva participação das mulheres nas mais diversas esferas sociais, nos lares, nas ruas, nos bailes, no trabalho, etc. e ao mesmo tempo evidenciando o potencial de consumidoras. 
As revistas femininas, fartamente ilustradas, tornavam-se vitrines dos padrões de beleza e de moda. Entre receitas e conselhos, mostravam-se os últimos lançamentos da moda especialmente francesa e as influências do cinema americano, construindo o ideal de beleza da mulher branca, loira, magra e jovem. (QUELUZ, 2007, p.04)
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A moda, veiculada como tema típico do universo feminino, procurava redefinir os signos de distinção, pois o maior poder aquisitivo das classes médias e a maior circulação de mulheres no espaço urbano, acabavam por criar outros parâmetros de reconhecimento e identidade. Os anos 20 consagraram os concursos de beleza e os desfiles de moda. 
Os novos comportamentos femininos, as novas posturas frente ao casamento ou à maternidade são ironizadas, mostrando simultaneamente o medo e a insegurança masculina quanto aos novos hábitos e tendências, destacando a atuação da mulher, sua participação nas decisões, dando a elas a responsabilidade palas mudanças. (QUELUZ, 2007, p.04)
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Belmonte
O cartunista Benedito Carneiro Bastos Barreto, , conhecido como Belmonte, nasceu na cidade de São Paulo em 1896 e faleceu em 1947. Fez trabalhos para as revistas Careta, Revista da Semana, O Cruzeiro, Fon-Fon, entre outras.
“As charges de Belmonte também tentara captar esse outro perfil feminino que se delineava no cotidiano das grandes cidades. Em seus desenhos figuram novas relações entre homens e mulheres, constituindo-se entre tensões e imposições culturais, preceitos e preconceitos morais, e abrindo espaço para questionamentos da realidade presente”. (QUELUZ, 2007, p.05)
Belmonte 
Madame Esqueceu-se que Era Casada , 1925 
Ilustração publicada originalmente na revista Frou-Frou, em 1925.
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Belmonte 
Civilização e Barbárie , 1925 
Reprodução fotográfica autoria desconhecida 
Ilustração publicada originalmente na revista Frou-Frou, em 1925.
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Belmonte 
Modas! Modas! Quanto mais a Mulher Simplifica, tanto mais o Marmanjo Se Complica... , s.d.
Belmonte 
[Sem Título] , 1926 
Legenda da ilustração:
"Por que fica triste?! Não crê no meu amor?"
"Creio. E é por isso mesmo que me entristeço..."
Publicada originalmente na revista Frou-Frou, em 1926.
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Referências Bibliográficas
BRAGA, João, e PRADO, Luís André do. História da Moda no Brasil: das influências às autorreferências. São Paulo: Pyxis Editorial, 2011.
CHATAIGNIER, Gilda. História da Moda no Brasil. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2010.
Itaú Cultural, Semana de Arte Moderna. Disponível em <http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=marcos_texto&cd_verbete=344> Acesso em 03/09/13 
Itaú Cultural, Belmonte. Disponível em <http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete=3584&lst_palavras=&cd_idioma=28555&cd_item=1> Acesso em 03/09/13.
QUELUZ, Marilda Lopes Pinheiro. O humor gráfico da década de 20: entre o art nouveau e o art deco. Associação Nacional de História. Anais do XXIV Simpósio Nacional de História, 2007. Disponível em <http://www.revistascuritibanas.ufpr.br/artigos/o_humor_grafico_da_decada_de_20_entre_o_art_nouveau_e_o_art_deco.pdf> Acesso em 03/09/13.
Prof. Flávio Bragança

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