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Anos 1960

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HISTÓRIA DA MODA NO
ANOS 1960
Os militares que tomaram o poder em abril de 1964 tinham mais capacidade para atacar os adversários do que para resolver os problemas do país. Sua primeira medida foi um ato constitucional que abriu uma fase de perseguição a todos considerados inimigos do regime. Promoveram cassações, inquéritos e exílios. (...)
O Brasil de 1964 já contava com duas grandes metrópoles, Rio de Janeiro e São Paulo, que contratavam o grosso da produção industrial. Ainda assim o progresso continuava dependente da agricultura, responsável pela maior parte da pauta de exportações que financiavam importações essenciais para a industrialização, num processo controlado pelo governo. O Brasil agrário pagava a conta do Brasil moderno. (CALDEIRA, 1997, p. 304/306)
Enquanto as opções econômicas e políticas eram definidas, a oposição foi calada pela força. Como válvula de escape para o descontentamento, sobravam poucos espaços. Um deles era a cultura, até então pouco tocada pelos governantes. Ao contrário da economia e da política, vivia-se aí um momento de excepcional criatividade. Houve uma explosão criativa no teatro, cinema, ensaísmo e sobretudo na música popular, tanto na vertente tradicional como na adaptação de novidades vindas de fora. (CALDEIRA, 1997, p. 316)
Desde a década de 1950, sobretudo no Rio de Janeiro, grupos de subúrbio se reuniam para formar conjuntos de um ritmo que fazia sucesso nos Estados Unidos: o rock and roll. Um dos mais conhecidos era formado por jovens da rua do Matoso, na Tijuca, no qual se destacavam Roberto e Erasmo Carlos, Tim Maia e Jorge Ben. 
Em 1965, todos mudaram-se para São Paulo, atraídos por um grupo de empresários que havia montado uma estrutura para criar uma marca a partir de músicos jovens. Para isso, tomou providências inéditas, como registrar nomes, desenhar roupas e objetos, inventar um programa de televisão. Dessa junção de talento artístico e competência empresarial resultou a explosão do programa Jovem Guarda. Seus apresentadores (além de Roberto e Erasmo Carlos, a cantora Wanderléia) tornaram-se ídolos nacionais. Ganharam apelidos (que logo eram marca de produtos), comportamento estudado (a rebeldia inocente era valorizada), nome no mercado. (CALDEIRA, 1997, p.317)
Um dos fatores para o sucesso do Jovem Guarda, principalmente entre o seu público-alvo, o adolescente, esteve na novidade visual exibida pelo trio de apresentadores Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléia, além de um grande número de cantores, cantoras e conjuntos, todos parte do mesmo contexto artístico e cultural. Essa modernização das aparências evoluiria ao longo dos dois anos e meio do programa: as roupas comportadas brevemente seriam substituídas por figurinos ousados. (ZIMMERMANN, 2013, p.113)
Eduardo Araújo, Wanderley Cardoso, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Martinha e Wanderléia.
Em 1967 o Teatro Oficina monta O Rei da Vela, peça modernista de Oswald de Andrade escrita em 1933. O enredo da peça conta a história de um industrial de velas, arruinado sob o peso de empréstimos impagáveis ao imperialismo norte-americano, retratando a condição subdesenvolvida do país, alvo de uma mentalidade tacanha, autoritária e erigida sobre aparências. 
Tropicália ou Panis et Circencis é um disco de 1968, considerado um manifesto do tropicalismo liderado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, teve a participação de artistas como Gal Costa, Nara Leão, Os Mutantes, Tom Zé , além dos poetas Capinam e Torquato Neto e do maestro Rogério Duprat.
A partir de 1967 um novo gênero musica firmou-se: a canção de protesto. Geraldo Vandré, Carlos Lyra e Chico Buarque destacavam-se. 
A tendência vanguardista no cinema brasileiro ganharia o nome de Cinema Novo. Seu principal autor, Glauber Rocha, ganhou um prêmio no festival de Cannes de 1967 com “Terra em Transe”, o que consolidou o movimento. 
Recordando
Após a 2ª Guerra Mundial uma nova categoria de consumidores de moda começava a emergir com força: a juventude. Este mercado jovem identificado com a vida na rua cresceu vertiginosamente durante os anos 1950. Esta geração, que ficou conhecida como baby-boomer, promoveu novos comportamentos e diversas maneiras de vestir
A indústria de prêt-à-porter será uma das incentivadoras deste processo. 
Em 1963, Dener apresentou coleção prêt-à-porter.
As butiques
Uma nova forma de comércio diferenciado começa a invadir as ruas das grandes cidades desde os anos 50 e se proliferam na década seguinte, as butiques. 
Os jovens começam a exigir lojas com as quais se identifiquem, isto implica em criar um ambiente adequado com música, decoração e iluminação, aromas e atendimento diferenciado, tudo inserido no clima proposto pela marca. O exemplo mais significativo foi a butique londrina Biba, criada por Bárbara Hulanicki em 1963, e que virou inspiração para jovens no mundo todo.
Em 1966, José Luiz Itajahy cria a loja Bibba-Ipanema, no Rio de Janeiro, agitando o mercado nacional de prêt-à-porter com sua moda contemporânea inspirada no estilo de Carnaby Street, em Londres. 
Ipanema nos anos 1960
Surfistas no Arpoador no final dos anos 1960.
Panorâmica da Praia de Ipanema.
O píer de Ipanema.
Embora a década de 60 tenha testemunhado diversos estilos, ela sempre estará associada à minissaia. 
Vestidos minúsculos em forma de trapézios.
Babylook, vestido curtinho com corte sobre o busto. 
Meias-calças coloridas, lisas ou estampadas.
Jardineiras, macacões e macaquinhos. 
A Op Art iniciou sua influência na estamparia.
Maquiagem pesada nos olhos.
Cores: beges e areia, cáqui, rosas diversos, rosa shocking, fúcsia, marinho, verde esmeralda, turquesa, preto e branco, prata, tons vibrantes.
Tecidos: sedas puras, gorgorão, otomã, xantungue, alpaca, tussor, musselina e crepe georgette. 
Otomã/Ottoman: 
Tecido com desenho tafetá, cuja trama é muito grossa, para formar um aspecto cotelê
Xantungue:
Tecido feito de seda, um pouco áspero, originário da província chinesa de Chan-tong. Seus fios são irregulares, não inteiramente torcidos. 
Tussor:
Tecido leve de seda.
No final da década os modelos hippies, vestidos compridos e floridos, ou estampas indianas.
Tricôs listrados, mistura de shorts com casacos.
Maxissaia.
(...) a década de sessenta foi muito singular na história recente da humanidade, deixando até hoje – e talvez por muito tempo ainda – seu rastro de originalidade e renovação.
O Brasil recebeu a nova moda com simpatia, uma vez que alguns fatores, como o clima, a luminosidade e um quê hedonista, eram convites para um figurino atraente e renovador. (CHATAIGNIER, 2010, p. 138)
O musical hippie Hair estreou no Brasil em outubro de 1969, logo após o AI-5, ato mais duro da ditadura militar, estreou em São Paulo após longa negociação de seus produtores com a censura. Ficou em cartaz até 1972, e neste tempo teve um rodízio de atores, entre eles Aracy Balabanian, Armando Bogus, Sonia Braga, Ney Latorraca, Antonio Pitanga, entre outros. 
Imprensa de Moda
Lançamento da revista Claudia da editora Abril, em 1961. 
Gilda Chataignier passa a escrever Passarela, a partir de 1962, coluna feminina com ênfase em moda publicada diariamente no Jornal do Brasil. 
E em 1966, lançamento da revista Figurino Moderno, da editora Vecchi. 
O início dos shoppings no Brasil
É inaugurado, em 1965, no Rio de Janeiro o shopping center do Méier, o primeiro shopping brasileiro. 
Em 1966, inauguração do shopping Iguatemi na cidade de São Paulo. 
FENIT
A FENIT (Feira Nacional da Indústria Têxtil) realizada em São Paulo e criada em 1958, é a pioneira das feiras comerciais. Nos anos 1960, revolucionou o setor com grandes desfiles, como os desfiles da Rodhia, enfatizando a produção nacional para exportação.
Em 1962 Emilio Pucci, Ugo Castellana e Valentino participam da FENIT e apresentam modelos no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. 
Considerado como um estilista de vanguarda, o “designer da era espacial”, Pierre Cardin veio
ao Brasil apresentar modelos na FENIT em 1967. 
Desfiles da RHODIA
A RHODIA é uma multinacional francesa com atuação em vários segmentos, entre os quais o setor têxtil. No Brasil, o grupo entrou no setor da moda quando implementou, em 1955, a Rhodia Poliamida, divisão de fios têxteis de náilon. 
Os desfiles Rhodia organizados pelo publicitário Lívio Rangan para a FENIT eram verdadeiros shows. Nomes como Dener desenharam as roupas e as estampas eram encomendadas a artistas plásticos como Tomie Ohtake e Willys de Castro.
Alceu Penna desenhou, em 1960, vestidos para evento promovido pela Rhodia e a revista O Cruzeiro, onde trabalhava. 
Em Roma ocorre o evento Moda Brasileira na Itália promovido pela Rhodia, em 1963, o Instituto Brasileiro do Café e a revista Manchete. Os modelos foram criados por Dener, José Ronaldo, entre outros costureiros.
Uma produção da RHODIA, inspiração tropicalista.
Como principal apoiadora da FENIT, a Rodhia inicia a industrialização da moda brasileira.
Em 1966, aos dezessete anos, Mila Moreira é contratada como modelo pela Rhodia. 
Revista Manchete, 1970.
A Rhodia comemorou 50 anos de atuação industrial no Brasil em 1969, e apresentou seu maior show-desfile, Stravaganza, na FENIT. A direção de arte foi do cenógrafo Cyro Del Nero. 
Os Estilistas Brasileiros
Ronaldo Esper, Lino Villaventura, Clodovil e Dener. 
Clodovil Hernandes
Nascido no interior de São Paulo, Clodovil Hernandes mudou para a capital em 1956, onde vendia seus desenhos. Nos anos 1960 abriu seu ateliê de alta-costura e a partir de então ficou conhecido pelos modelos exclusivos que desenhou para as damas da alta sociedade brasileira.
Seus vestidos se baseavam em técnicas da alta-costura parisiense, aos quais acrescentava motivos do artesanato brasileiro.
Em 1960, Clodovil Hernandes ganhou a Agulha de Ouro de melhor estilista. 
Ronaldo Esper 
Em 31 de março de 1964, por coincidência dia do golpe militar, o costureiro Ronaldo Esper monta seu próprio ateliê após trabalhar um ano na Casa Vogue, em São Paulo. Vestia as mulheres da alta sociedade paulistana e, como outros, dependia das colunas sociais.
Fez seu primeiro desfile da Fenit em 1966. 
Decepcionado com a alta-costura no Brasil, dedica-se a criar belos vestidos de noiva, atividade que lhe deu maior notoriedade.
No início dos anos 1970, ele passa a atura como cronista social.
Com modelos, em 1968.
Guilherme Guimarães
Estilista carioca de alta-costura, foi o primeiro brasileiro a desfilar suas criações em Nova York, em 1962, onde anos depois abriu sua primeira loja, a Gui Gui Nouvelle Boutique, em 1982.
Na década de 1960, participou do grupo de criadores da RHODIA, desfilando suas criações na Fenit e em eventos internacionais.
Guilherme Guimarães cria o figurino de Danuza Leão para o filme Terra em Transe de Glauber Rocha em 1967. 
Em 1974, lançou a grife GG. Foi o primeiro costureiro brasileiro a imprimir o logotipo de sua grife em vários produtos. 
Danuza veste Guilherme Guimarães.
Zuzu Angel
Nascida em Minas Gerais, Zuleika Angel Jones (1923-76) radicou-se no Rio de Janeiro e foi um dos primeiros nomes da moda nacional a se inspirar na cultura popular brasileira. Em suas criações, utilizava a chita, a renda do Norte, pedras semipreciosas e bordados com fragmentos de bambu, madeira e conchas, entre outros materiais incomuns nas décadas de 60 e 70. Sua logomarca era um anjo, que aludia a seu sobrenome e as seu filho assassinado durante o regime militar. 
No início dos anos 1970, abriu uma butique com uma moda inédita, que desfilava nos Estados Unidos, onde vendia roupas.
Teve clientes internacionais como Joan Crawford, Kim Novak, Verushka, Liza Minelli, Jean Shrimpton e Margot Fontein. 
Tornou-se ativista política devido ao desaparecimento de seu filho Stuart Angel, utilizou suas roupas como ferramenta política contra a ditadura militar. 
As fotos da coleção Dateline foram feitas em estúdio de Nova York.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
BAUDOT, François. Moda do Século. São Paulo, Cosac & Naify, 2000.
BRAGA, João, e PRADO, Luís André do. História da Moda no Brasil: das influências às autorreferências. São Paulo: Pyxis Editorial, 2011.
CALLAN, Georgina O´Hara. Enciclopédia da Moda, de 1840 a década de 90. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. 
CALDEIRA, Jorge, e outros. Viagem pela História do Brasil. São Paulo: Editora Schwarcz, 1997.
CHATAIGNIER, Gilda. História da Moda no Brasil. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2010.
ZIMMERMANN, Maíra. Jovem Guarda: moda, música e juventude. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2013.
Cronologia Histórica da Moda Brasileira Disponível em http://www.cosacnaify.com.br/noticias/extra/modabrasileira/cronologia_modabr.pdf Acesso em 30/09/15.
Prof. Flávio Bragança

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