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Cursos Online EDUCA www.CursosOnlineEDUCA.com.br Acredite no seu potencial, bons estudos! Curso Gratuito Filosofia da Educação Carga horária: 55hs Conteúdo Programático: Introdução O Sentido da Filosofia para a Educação A concepção de Educação Educação e Senso Comum Tendências Pedagógicas e a Pedagogia Progressista Pedagogia liberal Pedagogia Progressista Síntese Histórica da Filosofia Em busca de uma melhor educação Conhecimento Indutivo As correntes filosóficas: Racionalismo Empirismo inglês Criticismo kantiano- Immanuel Kant (1724-1804) Marxismo - Karl Heinrich Marx (1818-1883) Fenomenologia Existencialismo Pragmatismo e o Neopragmatismo Estruturalismo Reflexão Final Bibliografia/Links Recomendados Introdução No contexto da educação escolar, a importância dada às disciplinas revela um compromisso em garantir o acesso aos saberes elaborados socialmente, pois estes se constituem como instrumentos para o desenvolvimento, a socialização, o exercício da cidadania e a atuação no sentido de reformular os conhecimentos, as imposições de crenças e valores. Através da educação estamos tratando do ato de educar, orientar, acompanhar, nortear, mas também o de trazer de "dentro para fora" as potencialidades do individuo (GASPARELLO, 1986). Falar do ensino da Filosofia, da sua importância, da luta pela autonomia, é pensar em mudança cultural, em mudança de visão de mundo, de paradigmas. Filosofar dentro da estrutura escolar com as crianças, adolescentes e jovens é capacitá-los para o debate, para a confrontação de ideias. Se a Filosofia consiste na experiência com o conceito, é importante que o jovem estudante tenha a oportunidade de fazer ele mesmo a experiência do pensamento e não apenas reproduzir. Portanto, abrir espaços para uma educação filosófica com as crianças, adolescentes e jovens é, acima de tudo, buscar um novo posicionamento diante da realidade social. Trata-se de sair do senso comum e ir para a consciência crítica. Isto não está somente a cargo do ensino da Filosofia, não será ela, por si só, que despertará o aluno para as mudanças de atitude perante o mundo, ou que o fará agir como sujeito responsável de sua história. É da sua essência e do seu fazer, alcançar tais finalidades, quando ensinada e vivenciada no período escolar, juntamente com as demais disciplinas (GADOTTI,1979). A experiência vivida por outros, sempre tendo como base uma tradição de pensamentos filosóficos. Afinal, os filósofos convivem conosco. Assim, havendo uma mudança de mentalidade, da forma de pensar, via educação, alcançaremos uma mudança política. O caminho da mudança pela educação filosófica passa pelo esclarecimento e consolida-se na íntima relação entre saber, poder, cultura e transformação, isto é, passa pela emancipação do indivíduo. Tendo-se em vista este panorama, pode-se entender o porquê da importância da Filosofia não somente para os alunos, mas também para os professores, a chave mestra para a mudança na educação está nos professores. Para ensinar, é preciso que o professor, em primeiro lugar, tenha claro para si quais são seus anseios, suas metas, suas frustrações. Após olhar para bem dentro de si, só então, é que o professor poderá olhar para o aluno como sujeito. Buscando o potencial de cada criança/jovem, e expandindo seu potencial por intermédio de uma orientação de acordo com a capacidade de cada um. O aluno deve ser convidado a refletir sobre o mundo que o cerca o conhecimento de uma realidade da qual ele próprio faz parte. Faz-se necessário ao educador o comprometimento como profissional durante as suas inter-relações em que o compromisso não pode ser um ato passivo, mas sim a inserção da práxis na prática educativa de professor e aluno. Sendo assim, o objetivo deste curso é evidenciar não apenas a importância do ensino de Filosofia para a educação, mas a importância da filosofia na reflexão da educação em si. O QUE É FILOSOFIA A filosofia trata da realidade não a partir de recortes, mas do ponto de vista da totalidade. A visão da filosofia é de conjunto, de entendimento do problema, não de modo parcial mas relacionando cada aspecto observado outros do contexto em que está inserido (CUNHA,1992). A Filosofia não faz juízos de realidade, como a ciência, mas juízos de valor. Isto significa que filosofar é ir além do que é, é buscar entender como deveria ser, julgar o valor da ação, ir em busca do significado. Filosofia propriamente surge quando um pensar torna-se objeto de uma reflexão (CUNHA,1992). Podemos então conceituar a filosofia como uma reflexão sobre os problemas que a realidade apresenta: “a filosofia não é, de modo algum, uma simples abstração independente da vida. Ao contrário ela é a própria manifestação humana e sua mais alta expressão(...) A filosofia traduz o sentir, o pensar e o agir do homem. Evidentemente, o homem não se alimenta da filosofia, mas sem dúvida nenhuma, com a ajuda da filosofia” (BRANGATTI,1993) Este ramo do conhecimento que pode ser caracterizado de três modos: seja pelos conteúdos ou temas tratados, seja pela função que exerce na cultura, seja pela forma como trata tais temas. Com relação aos conteúdos, contemporaneamente, a Filosofia trata de conceitos como o bem, beleza, justiça, verdade. Mas, nem sempre a Filosofia tratou de temas selecionados, como os indicados acima. Inicialmente, na Grécia, a Filosofia tratava de todos os temas, já que até o séc. XIX não havia uma separação entre ciência e filosofia, incorporava todo o saber. No entanto, a Filosofia inaugurou um modo novo de tratamento dos temas a que passa a se dedicar, determinando uma mudança na forma de conhecimento do mundo até então vigente (ARANHA,1996). A filosofia em sua trajetória histórica procura resposta as questões percebidas e a cada época são respondidas a partir de diferentes reflexões que constituem correntes ou escolas de pensamentos. Platão (427-347a.C) e Aristóteles (384-322 a.C) deram à filosofia uma de suas melhores definições. Eles viram a filosofia como um discurso admirado e espantado com o mundo. A filosofia faz, na concepção tradicional que aparece em Platão e Aristóteles, ou seja , põe certas perguntas que nos obrigam a olhar o banal como não mais banal. A filosofia, então, é o vocabulário com o qual desbanalizamos o banal. Tudo com o qual estamos acostumados torna-se motivo para uma suspeita, tudo que é corriqueiro fica sob o crivo de uma sentença indignada, e então deixamos de nos aceitar como acostumados com as coisas que até então estávamos acostumados. A maioria das definições de filosofia são razoavelmente controversas, em particular quando são interessantes ou profundas. Esta situação deve-se em parte ao fato de a filosofia ter alterado de forma radical o seu âmbito no decurso da história e de muitas das investigações nela originalmente incluídas terem sido mais tarde excluídas (ARANHA, 1996). Uma definição é que a filosofia consiste em pensar sobre o pensamento. Isto permite-nos sublinhar o caráter de segunda ordem da disciplina e tratá-la como uma reflexão sobre gêneros particulares de pensamento — formação de crenças e de conhecimento — sobre o mundo ou porções significativas do mundo (ARANHA,1996). Uma definição mais pormenorizada, mas ainda assim incontroversa e abrangente, é que a filosofia consiste em pensar racional e criticamente, de modo mais ou menos sistemático sobre a natureza do mundo em geral (metafísica ou teoria da existência), a justificação de crenças (epistemologia ou teoria do conhecimento), e a conduta de vida a adaptar (ética ou teoria dos valores).Cada um dos três elementos listados possui uma contraparte não filosófica, da qual se distingue pelo seu modo de proceder explicitamente racional e crítico e pela sua natureza sistemática. Todos nós temos uma concepção geral sobre a natureza do mundo em que vivemos e do lugar que nele ocupamos. A metafísica interroga-se sobre os pressupostos que sustentam acriticamente estas concepções recorrendo a um conjunto organizado de crenças (ARANHA, 1996). Conforme Chauí (1985),”ocasionalmente, duvidamos e questionamos crenças, não só as nossas como as alheias, e fazemos com mais ou menos sucesso sem possuirmos uma teoria acerca do que fazemos”. Também orientamos as ações com vista a objetivos e fins que valorizamos. A ética, ou filosofia moral, no sentido mais inclusivo, pretende articular, de uma forma racional e sistemática, as regras ou princípios subjacentes. (Na prática, a ética tem-se restringido aos aspectos morais da conduta e, em geral, tem tendência para ignorar a maioria das ações que praticamos em virtude de critérios de eficiência ou prudência, como se fossem demasiado básicos para justificarem um exame racional). Os primeiros filósofos reconhecidos, os pré-socráticos, eram sobretudo metafísicos preocupados em estabelecer as características essenciais da natureza no seu todo. Platão e Aristóteles escreveram penetrantemente sobre metafísica e ética; Platão sobre o conhecimento; Aristóteles sobre lógica (dedutiva), a técnica mais rigorosa para justificar crenças; estabeleceu as suas regras de uma forma sistemática e manteve intacta a sua autoridade durante mais de 2000 anos. Na Idade Média, ao serviço do cristianismo, a filosofia apoiou-se primeiramente na metafísica de Platão, e em seguida na de Aristóteles, com o propósito de defender crenças religiosas. No Renascimento, a liberdade de especulação metafísica ressurgiu; na sua fase tardia, com Bacon e, de um modo mais influente com Descartes e Locke, dirigiu-se para a epistemologia com o objetivo de ratificar e, tanto quanto possível, acomodar a religião e os novos desenvolvimentos das ciências naturais ( CUNHA,1992). Boa parte da filosofia volta-se mais para o modo pelo qual conhecemos as coisas do que propriamente para as coisas que conhecemos, sendo essa uma segunda razão pela qual a filosofia parece carecer de conteúdo. No entanto, discussões a respeito de um critério definitivo de verdade podem determinar, na medida em que recomendam a aplicação de um dado critério, quais as proposições que na prática deliberamos serem verdadeiras. As discussões filosóficas da teoria do conhecimento têm exercido, ainda que de modo indireto, importante efeito sobre as ciências (CUNHA,1992). Diferentes partes da filosofia, e diferentes elementos que compõem nossa visão de mundo, deveriam integrar-se. Sendo assim, conceitos à primeira vista muito distanciados podem vir a afetar de modo vital outros conceitos que envolvem mais de perto a vida diária. A filosofia merece ser valorizada por si própria, e não por seus efeitos indiretos de ordem prática. E a melhor maneira de assegurarmos esses bons efeitos práticos é nos dedicarmos em encontrar a verdade, buscando- desinteressadamente. A TRANSFORMAÇÃO DO HOMEM ATRAVÉS DA FILOSOFIA O homem é um ser que interroga a vida, e deve interrogá-la continuamente. O modo de perguntar difere de homem para homem, mas o próprio enigma sempre permanece. A resposta do homem ocorre dentro de um determinado contexto histórico (HUSSERL,1965). Para Aristóteles (384-322 a C.), “todos os homens desejam naturalmente saber. Muitos, contudo, se perdem nesta tarefa ao longo da vida, talvez por desconhecerem um caminho”. É preciso buscar conceituar a filosofia de forma simples e existencial, compreender o que ela é, e verificar o seu significado para a vida humana. A filosofia está associada tanto ao saber teórico quanto à sabedoria prática. De fato, o sucesso da filosofia teórica não nos oferece qualquer garantia de que seremos filósofos no sentido prático ou de que agiremos e sentiremos de modo correto sempre que nos envolvermos em determinadas situações práticas. A filosofia se manifesta como uma forma de entendimento que tanto propicia a compreensão de sua existência, em termos de significado, como oferece um direcionamento para sua ação. A filosofia é o campo de entendimento que, quando nos apropriamos dele, nos percebemos refletindo sobre a cotidianidade dos seres humanos: Desde as coisas mais simples até as mais complexas. O ato de filosofar não é unicamente um processo individual, mas também um processo que possui uma contrapartida social. Ao colocar-se na posição de que o homem, ser da natureza, constitui entre muitos outros cósmicos, físicos, biológicos , um agente da transformação do universo, a filosofia situou na experiência de campo e processo dessas contínuas metamorfoses. Não agimos por agir. Agimos por certas finalidades, que podem ser mais amplas ou restritas; as finalidades mais amplas são aquelas que se referem ao sentido da existência, busca o bem da sociedade, lutar pela emancipação dos oprimidos, e assim por diante. Isso porque é certo que a vida só tem sentido se vivido em função de valores dignos e dignificantes (HUSSERL,1965). Todos têm uma forma de compreender o mundo, ninguém age no escuro, sem saber onde vai ou porque vai. Só se pode agir a partir de um esclarecimento do mundo e de uma realidade. Todos vivem de uma concepção do mundo, agem e se comportam de acordo com uma significação inconsciente que emprestam a vida. É neste sentido que podemos dizer que todo homem é filósofo. Todos temos uma filosofia de vida, ou seja, nos orientamos por valores implícitos ( inconsciente ) ou explícitos (conscientes) . De acordo com Husserl(1965) ”quando falamos em filosofia de vida queremos dizer que esse direcionamento diário inconsciente pode ocorrer da massificação, do senso comum, que adquirimos e acumulamos espontaneamente” . Não é possível viver sem pensar, uma das características do homem é a necessidade, de não só conhecer a natureza a fim de poder transformá-la pelo trabalho, mas a necessidade de compreender-se a si mesmo. Não há, portanto, vida humana consciente de si mesma sem reflexão filosófica, sem reflexão crítica sobre o real, considerado em sua totalidade. A filosofia vai coincidir com que se chama de processo de consciência ou conscientização, tanto no sentido do tempo como no julgamento (Reflexão Crítica). Não existe um modelo de homem, é impossível existir um homem padrão, um modelo que todos deveriam seguir a risca. O que existe é uma condição humana que resulta do conjunto das relações humana, de sua vocação como homem. Este último ponto é importante, pois afasta qualquer tentativa de estabelecer a existência de uma natureza humana fixa e imutável, ou de estabelecer distinções entre os homens com base em qualquer aspecto extrínseco, como a raça, a cor, ou religião (HUSSERL,1965). O homem, como os outros seres vivos, também se esforça para se preservar, numa das coisas que difere dos outros organismos é que produz os meios para sua existência, reorganizando e modificando os recursos naturais disponíveis. Age dirigido por finalidades conscientes, para responder aos desafios da natureza e para lutar pela sobrevivência. O homem, ao colocar-se no mundo, estabelece uma ligação entre o sujeito que quer conhecer e o objeto a ser conhecido. O sujeito se transforma mediante o novo saber e o objeto também se transforma, pois o conhecimento lhe dá sentido (COTRIN, 1993). O homem é um agente transformador da natureza, e a natureza é o resultado dessa transformação. Ao atuar através de sua atividade produtiva sob a natureza, pelo trabalho cuidando de prover sua existência mediante a apropriaçãoe incorporação dos recursos naturais transformados, o homem não estabelece apenas relações individuais com a natureza. Ao mesmo tempo em que estabelece relações técnicas de produção, vai instaurando relações interindividuais, relações com os outros homens. Cria a estrutura social segundo Cotrin (1993).O homem se descobre e se afirma no mundo, não como um mero objeto integrante da realidade total, mas como sujeito no qual essa realidade se transfigura. Ao interpretar e transformar a realidade, o homem se encontra com outros seres humanos envolvidos na mesma tarefa, é o que chamamos de confronto com outros sujeitos. Na medida em que alguém fala e acolhe a palavra do outro realiza o reconhecimento mais profundo outro como sujeito. No instante em que o homem reconhece o outro e com ele dialoga em busca de um sentido para o mundo para a existência, nasce a história. Dar um sentido ao mundo no diálogo das consciências, é existir plenamente como homem e, portanto, existir plenamente como sujeito do processo histórico (HUSSERL,1965). Na medida de nossas forças, construímos, uma filosofia e a ela nos acomodamos, tão bem como tão mal, em nossa ânsia e inquietação de compreender e de pacificar o espírito. Quando a ciência vai refazendo o mundo e a onda de transformação alcança as peças mais delicadas da existência humana, só quem vive à margem da vida, sem interesse e sem paixões, sem amores e sem ódios, pode julgar que dispensa uma filosofia. Só com uma vida profundamente superficial podemos não sentir as solicitações diversas e antagônicas das diferentes fases do conhecimento humano, e os conflitos e perplexidades atordoantes da hora presente. Aprender concepções e verdades que engessam o processo de ação e reflexão diante do mundo e de sua própria existência , é desta que filosofia transforma o homem. Contudo, boa parte da filosofia volta-se mais para o modo pelo qual conhecemos as coisas do que propriamente para as coisas que conhecemos, sendo essa uma segunda razão pela qual a filosofia parece carecer de conteúdo. No entanto, discussões a respeito de um critério definitivo de verdade podem determinar, na medida em que recomendam a aplicação de um dado critério, quais as proposições que na prática deliberamos serem verdadeiras. Não é tarefa da filosofia investigar intenções ocultas e preexistentes da realidade, mas interpretar uma realidade carente de intenções, mediante a capacidade de construção de figuras, de imagens a partir dos elementos isolados da realidade; ela levanta as questões, cuja investigação exaustiva é tarefa das ciências; uma tarefa a qual a filosofia permanece continuamente vinculada, porque sua intensa luminosidade não conseguiria inflamar-se em outro lugar a não ser contra essas duras questões. A filosofia tem exercido, por mais que ignoremos isso, uma admirável influência indireta até mesmo sobre a vida de gente que nunca ouviu falar nela. Indiretamente, tem sido destilada através de sermões, da literatura, dos jornais e da tradição oral, afetando assim toda a perspectiva geral do mundo. Em grande parte, foi através de sua influência que se fez da religião cristã o que ela é hoje. Devemos originalmente a filósofos ideias que desempenharam papel fundamental para o pensamento em geral, mesmo em seu aspecto popular, como, por exemplo, a concepção de que nenhum homem pode ser tratado apenas como um meio ou a de que o estabelecimento de um governo depende do consentimento dos governado. No âmbito da política, a influência das concepções filosóficas tem sido expressiva. É inegável que a influência da filosofia sobre a política pode às vezes ser nefasta: os filósofos alemães do século XIX podem ser parcialmente responsabilizados pelo desenvolvimento de um nacionalismo exacerbado que posteriormente veio a assumir formas bastante deturpadas. Todavia, não resta dúvida de que essa responsabilidade tem sido frequentemente muito exagerada, sendo difícil determiná-la exatamente, o que se deve ao fato de aqueles filósofos terem sido obscuros. Contudo, se uma filosofia de má qualidade pode exercer influência nefasta sobre a política, com as filosofias de boa qualidade pode ocorrer o contrário. Não há meios de impedir tais influências sendo portanto extremamente oportuno que dediquemos especial atenção à filosofia com o intuito de constatar se concepções que exerceram alguma influência foram mais positivas do que nefastas. Uma boa filosofia, ao influenciar favoravelmente a política, pode gerar uma prosperidade incapaz de ser alcançada sob a égide de uma filosofia inferior (HUSSERL,1965). O Sentido da Filosofia para a Educação As experiências vitais da maioria dos Homens, aquelas que tecem a estrutura de suas personalidades e determinam o curso de suas vidas, são amplamente ignoradas na pesquisa mental e social. À medida que nos aproximamos da experiência interior do Homem, dos métodos necessários à compreensão dessa experiência, vai-se ingressando em um novo universo, de mitos e significados, de valores pessoais, de imagens mentais e simbolismos criativos. As questões decorrentes desse universo interno de experiência, quando traduzidas e reificadas pelo indivíduo, representam as amplitude e profundidade da personalidade humana. Surgem polaridades vitais: amor e ódio, vida e morte, alegria e pena, crime e castigo, estabilidade e mudança, criatividade e conformismo, responsabilidade e dependência, e tudo isso adota relações de tensão que devem ficar abertas à conscientização. As concepções e teorias filosóficas limitadas do homem são aquelas que preferem vê-lo, ou como vítima predestinada por uma programação genética, construída ao longo de milênios, ou de uma complexa história de reforço de comportamento; ou somente como joguete em um duelo de forças psíquicas inconscientes e pressões sociais externas, na busca da satisfação de seus instintos e pulsões. O homem perde virtualmente o controle de sua própria direção vital, vítima de uma " existencial", seguindo uma trajetória psicopatologização conhecida, que passa pela angústia, depressão, apatia, tédio, podendo chegar até ao suicídio, todos, sintomas existenciais. A educação se vê diante desses desafios, cruciais para o estabelecimento de seus objetivos e suas práticas. Educar para cidadania requer, reflexões a cerca da condição humana (GADOTTI,1979 ): "A partir das relações que estabelecem entre si, os homens criam padrões comportamentos, instituições e saberes, cujo aperfeiçoamento é feito pelas gerações sucessivas, o que lhes permite assimilar e modificar os modelos valorizados em uma determinada cultura. È a educação, portanto, que mantém vida a memória de um povo e dá condições para sua sobrevivência. Por isso dizemos que a educação é um instância mediadora que torna possível a reciprocidade entre indivíduo e sociedade.(ARANHA, 1996, p.15)." Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) incorporam essa tendência e a incluem no currículo de forma a compor um conjunto articulado e aberto a novos temas buscando um tratamento didático que contemple sua complexidade e sua dinâmica, dando-lhes a mesma importância das áreas convencionais. Uma tomada de posição implica necessariamente eleger valores, aceitar ou questionar normas, adotar uma ou outra atitude. Essas capacidades podem ser desenvolvidas por meio da aprendizagem. Portanto, análise crítica das diferentes situações possibilita a contextualização histórica e cultural, favorecendo o desenvolvimento da capacidade de analisar criticamente, assim as escolhas pessoais serão conscientes e respeitam os valores que expressam a vida do individuo. As diferentes visões e até conflitos entre as normas respondem de maneira diversa às diferentes visões e interpretações do mundo.Nesse contexto, a Filosofia ganha importância e se confronta com esses novos desafios, analisando, interpretando, entendendo como se processa a ação docente e discente. A filosofia pode causar espanto a muita gente, e para muitos é assunto de especialistas e, por isso, desinteressante. Porém, na escola, é preciso abrir perspectivas que despertem o gosto pela Filosofia sem gerar no aluno uma aversão à tarefa de pensar (GADOTTI,1979 ). Dar um lugar para a Filosofia dentro do processo educacional significa levar a sério a necessidade que todos os jovens têm de pensar e de questionar, de voltar-se sobre seu pensamento e refinar suas respostas, para que tenham uma chance real de explorar assuntos de importância(GADOTTI,1979 ). “Enquanto a educação trabalha com o desenvolvimento dos jovens e das novas gerações de uma sociedade, a filosofia é a reflexão sobre o que e como devem ser ou desenvolver estes jovens e esta sociedade. (...)O educando, que é, o que deve ser, qual o seu papel no mundo; o educador , quem é, qual o seu papel no mundo; a sociedade, o que é, o que pretende; qual deve ser a finalidade da ação pedagógica. Estes são alguns problemas que emergem da ação pedagógica dos povos para a reflexão filosófica, no sentido de que esta estabeleça pressupostos para aquela(LUCKESI,1994,p.31-32)”. O ensino filosófico, com as crianças, adolescentes e jovens, portanto, na educação infantil, no ensino fundamental e médio, deve contribuir para a formação de uma consciência crítica, abrir o entendimento para as formas atuais de dominação e opressão que estão presentes em todas as relações sociais da vida, manifestadas por ideologias e convenções. Deve-se aprender a pensar, através da Filosofia, fazendo-se uma crítica constante a cultura dominante e as manifestações que nos levam a um pragmatismo reducionista da vida. A premissa reside em reconhecer que todos os homens são filósofos, enquanto pensam e agem racionalmente, como dizia Gramsci. É papel essencial da escola, oferecer uma formação que leve ao aprimoramento constante da racionalidade. Ao se trabalhar a filosofia com as crianças, percebe-se facilmente que elas têm inclinação natural para a curiosidade, admiração, indagação, discussão e reflexão. Esses são traços cognitivos do empenho que a criança faz para descobrir como as coisas funcionam no mundo. “Uma filosofia para crianças e jovens não estaria preocupada em formar discípulos para perpetuar uma certa corrente filosófica, uma certa visão de mundo, mas para ajudar a pensar e a transformar o mundo. Conceber a filosofia como uma especialidade é derrotá-la antes mesmo de iniciar a batalha por ela. ” (GADOTTI, 2000,p.28) É preciso levar os jovens, por meio de questionamentos, a trabalharem os conceitos e os problemas filosóficos que surgem no cotidiano e se aproximam da vida. É preciso a reflexão crítica e autônoma do pensar. É preciso aprimorar a reflexão filosófica nos alunos, os valores que orientam a sociedade, o que é ser justo , como é um bom politico, o que é moral, o que dá sentido à vida, para que servem as armas, entre outros (GADOTTI,1979 ).Por isso, experiência filosófica para os jovens é extremamente apaixonante, pois leva a busca da verdade e das respostas preenchendo seu espírito inquieto. “Serão as crianças que construirão suas filosofias e seus modos de produzi-las. Não é mostrando que as crianças podem pensar como adultos que vamos revogar o desterro de sua voz. Pelo contrário, nesse caso haveremos cooptado, o que constitui uma outra forma de silenciá-las. Seria mais adequado preparar-nos para escutar uma voz diferente como expressão de uma filosofia diferente, uma razão diferente, uma teoria do conhecimento diferente, uma ética diferente e uma política diferente: aquela voz historicamente silenciada pelo simples fato do emanar de pessoas estigmatizadas na categoria de não adultos”(KOHAN, 1999,p.70) A filosofia é interdisciplinar, pois seu pensamento crítico se funde com as demais disciplinas através do questionamento, espírito de auto correção, logicidade e a racionalidade. Pode ser trabalhada a partir de temas reais e atuais com diversos tipos de textos orais ou escritos: literários-prosa e verso, jornalismo, musicais pinturas, mas acima de tudo trabalhar os textos filosóficos. Os textos filosóficos são meio de conhecimento, uma vez que devemos passar por eles para conhecer os filósofos, para que entrem em contato com suas ideias, ampliando sua compreensão de mundo, e para que descubram novos significados para sua existência, auxiliando-os em suas escolhas, ações no convívio humano e com a natureza. Conhecer os problemas que foram colocados e as soluções propostas, também conhecer os conceitos e o vocabulário da Filosofia. É preciso evitar que as aulas de filosofia se transformem apenas em discussões sobre assuntos polêmicos, para isso é necessária uma seleção de textos para servir a uma proposta de objetivos claros e bem definidos. O caminho para conduzir o aluno deverá ser feito desde a tomada de consciência de sua ingenuidade sobre os fatos até a compreensão da trajetória de sua vida(GADOTTI,1979 ) . A concepção de Educação O professor Georgeocohama no seu texto “Curso de Introdução à Filosofia” ele afirma que “Um curso de introdução à filosofia consiste numa tentativa de se iniciar na compreensão da totalidade do mundo, (...) do ‘pensar todas as coisas em função da totalidade”. Ele busca definir a filosofia da seguinte forma: “(...) Filosofia é, a um só tempo, forma de conhecimento e forma de vida. (...) Filosofia é um saber pelo saber, diferente da ciência que seria um saber de dominação e da religião que seria um saber da salvação. (...) Filosofia é um discurso, uma rede conceitual de caráter demonstrativo”. Acredito que o papel da filosofia na educação é o de questionar, estranhar as coisas e buscar dizê-la de uma forma diferente do senso comum, como forma de apreender e compreender a realidade na totalidade do mundo. No livro de Maria Cecília M. de Carvalho “Metodologia Científica Fundamentos e Técnicas: Construindo o Saber” afirma que a nova dinâmica educacional culmina no estabelecimento de novos papéis para o professor e para o aluno que passam de professor- informante para professor-orientador e de aluno-receptor para aluno-pesquisador. Uma nova linguagem se faz necessária para estabelecer, representar e projetar as ideias. As novas formas de integração são: diálogo professor-aluno, dinâmica de grupo, trabalho cooperativo, interdisciplinaridade, extensão da escola para comunidade, etc. A educação atualmente é concebida em uma nova forma de transmissão e aprendizagem, em que o professor e alunos estão engajados na descoberta e elaboração do conhecimento. O professor tem o papel de orientar o aluno na seleção e no processamento crítico das informações. O aluno deverá ter um trabalho de auto aprendizagem acompanhado pelo professor. O estudo aparece como forma de pesquisa. O método dialético utilizado pelo professor que orienta o trabalho de pesquisa desenvolvido pelo próprio aluno estabelece uma nova dinâmica educacional. Esta nova forma de aprendizagem nos faz lembrar da antiga maiêutica de Sócrates e da sua eterna busca da verdade dialética. Estamos vivendo a era do "deixar aprender", que é a metodologia de pesquisa adequada à nossa realidade social atual. O professor Georgeocohama mostrou que a função do professor no processo de ensino atual é de “motivador da aprendizagem” na tentativa conjunta com os alunos da busca de conhecimentos. Ele vai mais adiante e afirma que “A participação do aluno se fará de forma livre e dinâmica, contribuindo na interação aluno/professor, aluno/aluno”. No processo dialético ao mesmo tempo em que nos tornamos sujeito, transformamosas coisas em objeto, transformando-os em conhecimento. O sonho do professor é ensinar para adolescentes para que possa romper com o sistema atual vigente, criando uma “anarquia nitzschiana” e quem sabe criar uma sociedade diferente e mais justa, com uma nova ética e moral. Aquela pessoa que consegue romper as “estruturas” se torna sujeito, subjetivo, maduro e autêntico. Educação e Senso Comum No livro de Dermeval Saviani, ele defende a necessidade da prática educativa desenvolvida pelos educadores brasileiros passar do “senso comum ao nível da consciência filosófica” (Saviani, 1987:10). Ele vai mais longe e afirma que: “Passar do senso comum à consciência filosófica significa passar de uma concepção fragmentária, incoerente, desarticulada, implícita, degradada, mecânica, passiva e simplista a uma concepção unitária, coerente, articulada, explícita, original, intencional, ativa e cultivada” (Ibidem). A concepção de mundo hegemônica favorece a um conceito universalizado de consenso entre as diferentes camadas que integram a sociedade, convertendo-se em senso comum. Cabe entender a educação como um instrumento de luta que “permita construir um novo bloco histórico sob a direção da classe fundamental dominada da sociedade capitalista - o proletariado” (Ibidem, 11). Saviani cita Marx e seu “Método da Economia Política” que poderá auxiliar em superar a concepção dominante através de instrumentos lógico-metodológicos e faz uma distinção entre a lógica dialética e a lógica formal: “(...) a lógica dialética não é outra coisa senão o processo de construção do concreto de pensamento (ela é uma lógica concreta) ao passo que a lógica formal é o processo de construção da forma de pensamento (ela é, assim, uma lógica abstrata). Por aí, pode-se compreender o que significa dizer que a lógica dialética supera por inclusão/incorporação a lógica formal (incorporação, isto quer dizer que a lógica formal já não é tal e sim parte integrante da lógica dialética)” (Ibidem). O concreto é o ponto de partida para este entendimento. O concreto não é o empírico, dado, mas uma “totalidade articulada, construída e em construção” (Ibidem, 12). O concreto é construído através de um processo histórico e revelado através da práxis. A abstração e o empírico são momentos implícitos no processo de conhecimento. A educação deve ser tomada como fenômeno concreto e a prática educativa como “totalidade orgânica que sintetiza as múltiplas determinações características da sociedade que historicamente a produz” (Ibidem, 13). É necessário que haja uma formação da consciência de classe para que haja uma organização transformadora da sociedade. Para que isso aconteça é necessário que a educação se preocupe com a elevação do nível cultural das massas que partem de uma diferença heterogênea no ponto de partida e uma igualdade no ponto de chegada. Saviani cita Gramsci afirmando que “A filosofia da práxis não busca manter os ‘simplórios’ na sua filosofia primitiva do senso comum, mas busca, ao contrário, conduzi-los a uma concepção de vida superior” (Gramsci, apud Saviani, Ibidem, 14). Tendências Pedagógicas e a Pedagogia Progressista Utilizando-se do esquema fornecido pelo professor Georgeocohama, podemos dividir as tendências pedagógicas entre a Pedagogia liberal e Pedagogia progressista. Pedagogia liberal a) Na escola tradicional. Na análise do relacionamento verificamos que predomina a autoridade do professor que impede qualquer canal de comunicação. O professor transmite o conteúdo em forma de verdade e a disciplina é imposta pela coação e castigos físicos.Com relação à aprendizagem é pressuposto que a capacidade de assimilação da criança é inferior ao do adulto. Os programas são organizados em sequência lógica não levando em conta as características da idade do aluno. Acredita-se que o aluno responde as situações novas de forma semelhante às respostas dadas em situações anteriores. A prática escolar é realizada em escolas religiosas ou leigas através de uma orientação clássica-humanista ou humana- científica. O papel da escola é de preparar intelectualmente e moralmente os alunos e tem como premissa o ensino profissionalizante para os menos capazes. O problema da escola é com a cultura, os problemas sociais pertence à sociedade. O conteúdo de ensino fornece conhecimentos e valores acumulados e transmitidos como verdades, separando as experiências dos alunos das realidades sociais e são determinados pelos órgãos oficiais. O método de ensino é realizado através de exposição verbal da matéria e/ou através de demonstração. É dada ênfase aos exercícios através da repetição de conceitos ou de fórmulas. A memorização visa disciplinar a mente e formar hábitos, pois os alunos são considerados passivos. b) Na Escola Renovada Progressivista. Analisando o aspecto relacionamento, o professor auxilia o desenvolvimento livre e espontâneo da criança e é o orientador da aprendizagem, existindo uma vivência democrática. A aprendizagem tem um pressuposto que aprender é uma atividade de descoberta. É realizada uma auto aprendizagem em que o ambiente é um meio estimulador e o professor reconhece os esforços e os êxitos na avaliação. Na prática escolar das pré-escolas o ensino é baseado na psicologia genética de Piaget. Também é utilizado o método do centro de interesse de Dewey, o método de Decroly e o método de Montessori. O papel da escola é de adequar as necessidades individuais ao meio desde que atendam ao mesmo tempo, os interesses do aluno e das exigências sociais. Os conteúdos de ensino são estabelecidos em função para formações de experiências vivenciadas com desafios cognitivos e situações problemáticas. São adotados os pensamentos de Piaget, se valorizando mais os processos mentais e menos o próprio conteúdo. O método de ensino é realizado através do fazer e do aprender, valorizando a descoberta, a pesquisa, os estudos do meio natural, social e o método da solução de problemas. c) Na Escola Não-Diretiva. O professor garante um clima de relacionamento pessoal com a turma garantindo um clima pessoal e autêntico, condutor e facilitador da aprendizagem. O aluno necessita de aceitação plena. Como pressuposto da aprendizagem é desenvolvida a valorização do “eu” e a motivação é maior quando o aluno melhora o sentimento de que é capaz de agir. A prática escolar é inspirada por Carl Rogers e o papel da escola é voltado para a formação de atitudes através de um clima de autodesenvolvimento e realização pessoal. Os problemas psicológicos ou sociais são mais acentuados. O conteúdo de ensino parte dos interesses do educador e é dada mais ênfase ao desenvolvimento das relações e na comunicação secundária ficando em segundo plano a transmissão dos conteúdos. Os métodos de ensino visam a aceitação da pessoa e do aluno. O professor é considerado um facilitador da aprendizagem e ajuda ao aluno a se organizar. Ele utiliza técnicas de sensibilidade e os sentimentos são expostos sem ameaças. d) Na Escola Tecnicista. Nesta escola, o professor tem um relacionamento com os alunos administrando as condições de transmissão da matéria. É um elo de ligação entre a verdade científica e o aluno, não havendo comunicação pessoal com entre professor e aluno. As relações afetivas e pessoais pouco importam, sendo o aluno considerado um indivíduo responsivo, porém não participa da elaboração do programa educacional. Nos pressupostos da aprendizagem, do aprender deriva a modificação do desempenho e desta o aluno sai da situação de aprendizagem diferente de como entrou. Adota o condicionamento operante de Skinner. Na prática escolar os marcos de implantação dos modelos tecnicistas são as leis: nº 5.540/68 que reorganizouo ensino superior e a lei nº5.692/71 que reorganizaram o ensino do 1º e 2º graus. É adotado o módulo de ensino, os telecursos, o ensino por objetivos operacionais de Maget, o ensino por hierarquias de Gagne e a classificação científica de Bloom. Pedagogia Progressista a) Libertadora (Paulo Freire). A escola visa a transformação e deve questionar de forma concreta a realidade das relações do homem com a natureza e com os outros homens. Deve propor temas geradores, pois os alunos têm uma necessidade social, psicológica e cultural. O conteúdo de ensino tem o objetivo de transformar a personalidade dos alunos num sentido libertário e auto gestionário. O método de ensino serve para preparar o aluno para o mundo adulto e suas contradições, fornecendo-lhe um instrumental, por meio da aquisição de conteúdos e da socialização, para uma participação organizada e ativa na democratização da sociedade. O relacionamento entre professor e aluno é realizado na relação horizontal em que o educador e educando se posicionam como sujeitos do ato de conhecimento. A relação não é autoritária e é indireta. Os pressupostos da aprendizagem não são diretivos sem a obrigação e ameaças. O professor é um orientador e catalisador (dinamizador) se misturando ao grupo para uma reflexão comum, não impondo suas concepções e ideias, não transforma o aluno em objeto. A prática escolar serve par abrir perspectiva a partir dos conteúdos relacionados com o estilo de vida do aluno, tendo consciência inclusive dos contrastes entre sua própria cultura e do aluno, havendo uma diretividade não-autocrática. b)Libertária. O papel da escola é extraído da vida prática dos educandos. O importante não é a transmissão de conteúdos específicos, mas despertar uma nova forma da relação com a experiência vivida que emerge do saber popular. Os conteúdos de ensino são colocados à disposição do aluno, mas não são exigidos e resultam de necessidades e interesses manifestados pelo grupo. Os métodos de ensino ligam-se de forma indissociável à sua significação humana e social e são reavaliados face às necessidades sociais. O relacionamento professor e aluno se dão através da “educação problematizadora” em que aprender é um ato de tomar conhecimento da realidade concreta e só tem sentido se resulta de uma análise crítica dessa realidade. Os pressupostos da aprendizagem estabelecem que a motivação está no interesse de crescer dento da vivência grupal. A aprendizagem informal ocorre através do grupo e existe uma negação de toda a forma de repressão. Somente o que é experimentado é usado em novas situações. A prática escolar visa que a aprendizagem é significativa e o aprender é desenvolver a capacidade de processar informações e lidar com os estímulos do ambiente, organizando os dados disponíveis da experiência. c)Crítico-Social dos conteúdos. O papel da escola visa o inter-relacionamento entre o educador e educando através de uma relação de autêntico diálogo. O trabalho educativo implica na discussão de grupo em que ocorre uma troca de experiências. O professor tem a função de animador e deve caminhar junto com o grupo intervindo o mínimo possível. Os conteúdos de ensino são elaborados através de uma auto-gestão, buscando trabalhar de uma forma grupal. Os alunos têm a liberdade de trabalhar ou não, ficando o interesse pedagógico na dependência de suas necessidades ou das do grupo. O livro é adotado visando o desenvolvimento crítico no método de ensino em que se vai desde a ação à compreensão e da compreensão à ação até que ocorra uma síntese. É relacionada a prática vivida pelos alunos com os conteúdos propostos pelo professor, não se atendo apenas ao conteúdo, e nesta dialética ocorre a ruptura. O relacionamento entre professor e aluno ocorre com da influência dos movimentos sociais populares e dos sindicatos. Embora esteja relacionado com a educação de adultos ou à educação popular em geral, muitos professores colocam em prática em todos os graus de ensino. Os pressupostos da aprendizagem abrangem quase todas as tendências não autoritárias em educação, entre elas, a anarquista, a psicanalista, a dos sociólogos e a dos professores progressistas. A prática escolar propõe modelos de ensino voltados para a interação conteúdos-realidades sociais, procurando articular o político e o pedagógico, ou seja “a educação a serviço da transformação das relações de produção”. Síntese Histórica da Filosofia Utilizaremos o livro de Marilena Chauí, “Convite à filosofia” da unidade 8, capítulos 1 e 8 para realizar esta síntese que é constituída de uma colagem de fragmentos. Não seguiremos a metodologia científica, pois somente temos como objetivo realizar uma breve abordagem e entendimento sobre o que é cultura e religião. A Cultura Os seres humanos variam sua forma de vida em consequência das condições sociais, econômicas, políticas, históricas em que vivem. A ação determina o seu modo de ser, de agir e de pensar. A ideia de um gênero humano natural não possui fundamento na realidade. A ideia de natureza humana como algo universal, intemporal e existente em si e por si mesma, não se sustenta cientificamente, filosoficamente e empiricamente. Os seres humanos são culturais ou históricos. Tem várias formas de tentar definir o que é a natureza. Natureza é uma força espontânea, capaz de gerar e de cuidar de todos os seres por ela criados e movidos. É a substância (matéria e forma) dos seres, é a essência própria de um ser ou aquilo que um ser é necessária e universalmente. É a organização universal e necessária dos seres segundo uma ordem regida por leis naturais. É tudo o que existe no universo sem a intervenção da vontade e da ação humanas. Natural é tudo quanto se produz e se desenvolve sem qualquer interferência humana. Cultura é o cuidado do homem com a natureza. A partir do século XVIII, passa a significar os resultados daquela formação ou educação dos seres humanos. Cultura é uma segunda natureza, que a educação e os costumes acrescentam à primeira natureza, isto é, uma natureza adquirida, que melhora, aperfeiçoa e desenvolve a natureza inata de cada um. Kant considera que a natureza opere mecanicamente de acordo com leis necessárias de causa e efeito. O homem é dotado de liberdade e razão, agindo por escolha, de acordo com valores e fins. Na contemporaneidade a cultura torna-se sinônimo de história, em que a cultura é a transformação racional da natureza (repetição). A cultura é enfatizada por Hegel e depois por Marx como história. Para Marx a história-cultura é o modo como, em condições determinadas e não escolhidas, os homens produzem materialmente, pelo trabalho, pelas organizações econômicas, sua existência e dão sentidos a essa produção material. Para Marx a história-cultura narra as lutas reais dos seres humanos reais que produzem e reproduzem suas condições materiais de existência, isto é, produzem e reproduzem as relações sociais, pela quais distinguem-se da natureza e diferenciam-se uns dos outros em classes sociais antagônicas. O antropólogo procura determinar em que momento e de que maneira os humanos se afirmam como diferentes da natureza fazendo o mundo cultural surgir. A diferença homem-natureza surge quando os humanos decretam uma lei (proibição do incesto) que não pode ser transgredida sem levar a culpada à morte, exigida pela comunidade. A ordem simbólica, elaborada através da lei humana constituída pela linguagem cria uma ordem de existência e que não é natural e sim um imperativo social. Em sentido antropológico, não falamos em cultura, no singular, mas em culturas no plural, pois a lei, os valores, as crenças, as práticas e instituições variam de formação social para outras formações sociais.A cultura é a maneira pela qual os humanos se humanizam por meio de práticas que criam a existência social, econômica, política, religiosa, intelectual e artística. No sentido antropológico e histórico, todos os humanos são cultos, pois são todos seres culturais. As diferentes classes sociais produzem culturas diferentes e mesmo antagônicas. A ideologia é resultado da imposição da cultura dos dominantes à sociedade inteira, como se todas as classes e todos os grupos sociais pudessem e devessem ter a mesma cultura, embora vivendo em condições sociais diferentes. A ideologia é uma das maneiras pelas quais as sociedades históricas buscam oferecer a imagem de uma única cultura e de uma única história, ocultando a divisão social interna. A religião – a experiência do sagrado e a instituição da religião. O sagrado opera o encantamento do mundo, habitado por forças maravilhosas e poderes admiráveis que agem magicamente. O sagrado pode suscitar devoção e amor, repulsa e ódio. Esses sentidos suscitam um outro: o respeito feito de temor. Nasce, assim, o sentimento religioso e a experiência da religião. A religião pressupõe que, além do sentimento da diferença entre natural e sobrenatural, haja o sentimento da separação entre os humanos e a natureza. Religião em latim significa “re” (outra vez) e “ligare” (ligar, vincular).A narrativa sagrada religiosa é a história sagrada. Os gregos as chamavam de mito, depois surge a filosofia e logo após a teologia. Chamamos de teogonias: “theos” (deus) e “gonia” (geração), a geração ou nascimento dos heróis e deuses. A cosmogonia: “cosmos” (mundo) e “gonia” (geração) narra o nascimento, a finalidade e o perecimento de todos os seres sob a ação dos deuses. A teologia é a tentativa de transformar a religião (crença) em saber racional, porém crença não é saber. Os ritos são cerimônias em que determinados gestos, palavras, objetos, pessoas e emoções adquirem um poder misterioso de presentificar o laço entre os humanos e a divindade. Uma vez fixada a simbologia de um ritual, o rito dependerá da repetição minuciosa e perfeita de como foi praticado na primeira vez. Um rito religioso deve repetir um acontecimento essencial da história sagrada (ex.: a comunhão da Santa Ceia) e manter e repetir os atos, gestos, palavras e objetos porque na primeira vez foram consagrados pelo próprio Deus. O rito é a rememoração perene do que aconteceu numa primeira vez e que volta a acontecer, graças ao ritual que abole a distancia entre o passado e o presente. O objeto simbólico pode ser observado também no “tabu” que é uma palavra da polinésia e que significa intocável. É um interdito que não pode ser tocado por ninguém que não esteja religiosamente autorizado para isso. Por exemplo, a vaca na Índia ou o cordeiro perfeito consagrado para o sacrifício na páscoa judaica. A lei divina é a vontade divina e a manifestação da verdade que pode tornar-se parcialmente conhecida dos humanos sob a forma de leis divinas ou mandamentos. Deus, profetas e videntes falam por meio de enigmas, dessa maneira, o caráter transcendente e misterioso da lei divina é preservado. Nas religiões de salvação (judaísmo, cristianismo, islamismo) a divindade promete perdoar a falta originária, enviando um salvador, que, sacrificando-se pelos humanos, garantem-lhes a imortalidade e a reconciliação com Deus. A redenção dos humanos ocorre se acreditarem e respeitarem a lei divina escrita nos textos sagrados e se guardarem a esperança nos textos sagrados e se guardarem a esperança na promessa de salvação que lhes foi feita por Deus. Nas religiões messiânicas (messias do hebraico e cristo em grego) a obra de salvação é realizada por um enviado de Deus, e são religiões da fé e da esperança. No milenarismo existe a crença que Cristo voltasse pela segunda vez e instituísse o reino de Deus na Terra com a duração de mil anos em que no fim haveria a ressurreição dos mortos e ocorreria o Juízo Final e o fim do mundo terreno e o início da felicidade plena. Esta crença é própria das classes populares, excluídas e vivendo na miséria. O mal surge de alguns anjos que aspiraram ter o mesmo poder e saber que a divindade, lutando contra ela. Expulsos, não reconhecem a derrota, formando um reino em separado. Devido a liberdade do homem tentam corrompe-lo através do pecado, da transgressão da lei divina, realizada por Adão e Eva, o pecado original. Segundo Santo Agostinho, o mal é a ausência do bem, a ausência da luz. Para Marx “a religião é o ópio do povo” oprimido e explorado. Ele disse que a “religião é lógica e enciclopédia popular, espírito de um mundo sem espírito”, que serve para explicar pelo povo e a realidade. O mito é uma fala, um relato ou uma narrativa, cujo tema principal é a origem do mundo, do homem, dos deuses, das relações entre homens e deuses, etc. O mito inicialmente é efeito das causas sociais, mas torna-se causa, pois passa a produzir efeitos sociais. Para a filosofia não sentimos Deus, mas o conhecemos pela razão. A religião não é considerada um saber, mas uma crença e também está presente desde o início da humanidade (trovão, sol, etc.), passando pela mitologia (deuses com formas humanas) na idade antiga, seu apogeu na idade média (cristianismo, etc.) e racionalizada na contemporaneidade (agnósticos etc.). Ela sempre teve um papel importante na história humana e faz parte do nosso cotidiano como no noticiário jornalístico com guerras entre muçulmanos, israelitas, católicos e protestantes, afetando e modificando alguns estados ateus que tiveram de se adaptar às demandas da sociedade. Entretanto Marx que se tornou ateu afirmava que: "O sofrimento religioso é ao mesmo tempo a expressão do sofrimento real e um protesto contra o sofrimento real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração e a alma de condições desalmadas. É o ópio do povo". (Marx, apud Site Crítica). Em busca de uma melhor educação O professor Georgeocohama inicia o seu texto sobre “Em busca de uma melhor explicação sobre o conhecimento do conhecimento, do homem e da realidade” afirmando que: “O universo é o ser fora-e-dentro do tempo e do espaço que se cria e se recria numa luta infernal ou celeste dos seus elementos constituintes que se criam e se transformam, constituindo uma totalidade infinita e eterna porque constituídos dessa mesma totalidade”. Através dessa luta é que nasce a vida, a consciência, a razão (consciência da consciência) e a intuição (um saber sem saber como sabe). É através do conhecimento e desenvolvimento que o homem toma consciência da realidade. A unidade na sua diversidade é a existência única do homem, conhecimento e realidade. O homem constrói e produz coisas e a si mesmo. Sendo assim “a realidade é fabricada pelo homem” e a linguagem media as relações sociais. Como afirmava Wittgenstein “os limites de minha linguagem são os limites do meu mundo”. Como afirma Georgeocohama “o homem é um ser que se torna homem e ao se tornar homem, ao se perceber no mundo, compreenderá o mundo num processo de construção-compreensão”. Prosseguindo na nossa pesquisa, e agora utilizando trechos de uma pesquisa sobre o “Marxismo e Educação”, Sarup no seu livro apresenta que Marx surgiu como teórico social quando os sociólogos se deram conta da ligação entre a luta para democratizar a vida econômica estava ligada com a luta para libertar a educação. A escola é vista através da visão marxista como uma “instituição onde as crianças são doutrinadas na ideologia que convém ao papel que devem desempenhar na sociedade de classes” (Sarup, 1980:138). É na escola que as crianças aprendem o modo e as formas que a sujeitam à ideologia e as práticas dominantes, sendo o sistema de educação consideradocomo parte do Estado. A Economia Política, pela visão de Gintis se contrapõe a esta teoria marxista e pode segundo Sarup servir para a construção de uma Sociologia da Educação Marxista, em que a práxis humana pode modificar a influencia do Estado que é apenas um “instrumento” da classe dominante. Sarup acrescenta que: “O socialismo não é um acontecimento, é um processo. O objetivo desse movimento não é a simples reorientação do poder político, mas uma transformação da vida social”.(Sarup, 1980:164). A Sociologia da Educação segundo Sarup, deve tornar-se um mecanismo para a transformação da realidade social e deve ser exercido através da práxis, modificando a ordem social repressiva. O autor defende a rejeição do marxismo determinista que transfere a iniciativa e a responsabilidade políticas dos seres humanos para entidades estruturais, e defende a seguinte tese:“Exigimos uma concepção do conhecimento, da consciência, que seja ao mesmo tempo uma expressão do mundo material e um agente criativo transformador. Em outras palavras, uma concepção dialética das relações entre consciência e estruturas; uma teoria na qual a atividade humana seja modelada pelas estruturas sociais, mas seja também a criadora de novas formas que desafiem e superem essas mesmas estruturas”. (Ibidem, 171). Com relação a formação escolar, segundo Nogueira, Marx propunha uma qualificação profissional aos estudantes que fossem necessárias para conquistar um poder sobre a organização do trabalho e desse modo transformá-la. “A educação politécnica – tal qual foi concebida pelos fundadores do marxismo – seria o meio de romper com os efeitos nefastos da divisão capitalista do trabalho (notadamente a especialização), permitindo o desenvolvimento das capacidades teóricas e práticas demandadas pelo trabalho, e ensejando, assim, o desenvolvimento das diversas faculdades do trabalhador”.(Nogueira, 1990:177). Baseado nestas premissas dos fragmentos de Marx e nesta pesquisa sobre o Marxismo e a Educação, gostaria de elaborar e deixar a seguinte hipótese: Devemos reformar o nosso sistema educacional para atender a demanda da pós-contemporaneidade e os educadores não devem ensinar, mas educar; os alunos não devem somente “passar”, mas aprender e transformar. O mundo continuará dialético, eclético e contraditório. Com religiosos, agnósticos e ateus. Com conhecimentos científicos, intuitivos e lingüísticos: com várias formas de saber. O homem histórico, social, cultural e ativo atingiu um grande estágio de desenvolvimento científico, porém continua com questionamentos ontológicos. O homem é um ser consciente, racional, inconsciente e analítico. Devemos buscar desvelar as estruturas (sociais, políticas e do homem), através da história, da ciência e da intuição, partindo do mundo concreto, material e quem sabe, transcendental. Isto é a dialética, com as suas contradições, conflitos e desenvolvimento. Conhecimento Indutivo Utilizando o livro de Marilena Cahuí, “Convite à Filosofia” ela afirma que “A intuição é uma compreensão global e instantânea de uma verdade, de um objeto, de um fato”.(Chauí, 1999: 63). Ela vai mais longe e afirma que a intuição: “Nela, de uma só vez, a razão capta todas as relações que constituem a realidade e a verdade da coisa intuída. É um ato intelectual de discernimento e compreensão, como, por exemplo, tem um médico quando faz um diagnóstico e apreende de uma só vez a doença, sua causa e o modo de trata-la”. Marilena define que a intuição pode ser do tipo sensível ou racional. A intuição sensível ou empírica é o conhecimento cotidiano que temos da nossa vida. É o conhecimento direto e imediato das qualidades sensíveis do objeto externo tais como as cores, sabores, odores, paladares, texturas, dimensões e distâncias. É também o conhecimento imediato dos estados mentais tais como as lembranças, desejos, sentimentos e imagens. A intuição racional ou intelectual difere da sensível por sua universalidade e necessidade. Quando nós afirmamos que “O todo é maior que as partes” sabemos que isto é verdade, pois é uma forma necessária das relações entre as coisas e não precisamos demonstra-la. “A intuição intelectual é o conhecimento direto e imediato dos princípios da razão (identidade, contradição, terceiro excluído, razão suficiente), das relações necessárias entre os seres ou entre as ideias, da verdade de uma ideia ou de um ser” (Ibidem, 64). As correntes filosóficas: Racionalismo Racionalismo Os filósofos racionalistas atribuem à razão um papel determinante na construção do conhecimento. Os grandes filósofos racionalistas (Platão, Descartes, Espinosa, Nicolas Malembranche, Leibniz) procuram explicar o conhecimento (que só merece este nome quando é logicamente necessário e universalmente válido) como resultado exclusivo da razão. a) Platão (c.428 a 348 a.C.) (racionalismo transcendental). Com o regime democrático que vigorava em Atenas, o exercício da função política dependia da arte de bem falar na Ágora, e os sofistas foram mestres e professores que ensinavam esta técnica formal de persuasão. Sócrates (c.470 a 399 a.C.) e posteriormente o seu aluno Platão (c.428 a 348 a.C.) surgiram afirmando que os sofistas “cobravam para ensinar”, só faziam retóricas e por isso era o lixo e escória da sociedade. Sócrates e Platão defendiam e buscavam a verdade dialética. Como afirma Hessen “Sócrates é chamado de criador da filosofia ocidental” (2000: 5), pois com o seu espanto e questionar eterno, introduzia a noção de razão, de reflexão, do saber, do conhecimento científico, os valores do verdadeiro, do bom e do belo.Após Sócrates ser condenado a morrer bebendo veneno pela Assembléia de Atenas, Platão após fundar em 387 a.C. a Academia, decide honrar a memória de Sócrates. Busca resolver a aporia entre Heráclito e Parmênides, demonstrando seu conceito de um Ser Imóvel (ideia) e Múltiplo. Para isso, Platão invoca o “Mito da Caverna”, e apresenta a Teoria das Ideias onde cria um “mundo inteligível” de formas incorpóreas, imateriais, imutáveis e idênticas. Este é o “mundo das ideias” onde existe a unidade das formas, porém com pluralidade de essências que são as ideias. Este mundo se distingue do “mundo sensível” que é o mundo das coisas materiais, corpóreas, que mudam constantemente, fluxo eterno e conhecido por meio das sensações. É o “mundo das aparências”, das mudanças. Abbagnano entende que a parte central do livro “A República de Platão” é dedicada ao delineamento da tarefa própria do filósofo que deve levar o homem a caminhar da opinião até à ciência e ao conhecimento do ser, e acrescenta: “Tal como as sombras, as imagens refletidas, etc., são cópias das coisas naturais, também as coisas naturais são cópias dos entes matemáticos e estes, por sua vez, cópias das substâncias eternas que constituem o mundo do ser. E, com efeito, o mundo do ser é o mundo da unidade e da ordem absoluta. Os entes da matemática (números, figuras geométricas) reproduzem a ordem e a proporção do mundo do ser. Por sua vez, as coisas naturais reproduzem as relações matemáticas e, assim, quando queremos julgar a realidade das coisas recorremos à medida. Todo o conhecimento tem, pois no seu cume o conhecimento do ser: cada um dos seus graus recebe o seu valor do grau superior e todos do primeiro”.(Abbagnano, 1991:154). Com o Mito da Reminiscência, Platão demonstra que o homem nasce dotado de razão, as ideias são inatas ao espírito e a dialética nos leva para a verdade, pois nascemos no verdadeiro e estamos destinados a ele. Para conhecer a natureza da alma e para compreende-la, Platão recorre ao “Mito do Cocheiro” onde demonstra que somos mortais, porém o espírito do filósofo é alado, se esquecendo os negócios terrenos do mundosensível, pois permanece no nível das sensações é tornar impossível a construção de um conhecimento seguro e estável. No “Mito do Destino”, Platão descreve miticamente a escolha e decisão individual de cada homem sobre o seu destino. Abbagnano se referindo a ideia platônica, afirma que: “a liberdade do homem no decidir a própria vida, fecha dignamente a República, o diálogo sobre a justiça, que é a virtude pela qual todo o homem deve assumir e levar a cabo a tarefa que lhe incube”. (Abbagnano, 1991:160). Platão critica Heráclito, porque este se submeteu à sensação, ao mundo corpóreo, onde tudo muda, pois é um “mundo de ilusão”, porém conserva o conceito de ser múltiplo, ou seja, ideias múltiplas. Afirma que o devir incessante impossibilita o conhecimento, uma vez que este exige que encontremos as essências. Seres idênticos a si mesmos no espaço e no tempo, garantindo um conceito, uma ideia universal e consequentemente, seu conhecimento. Vejamos o que Marilena Chauí fala sobre a questão do devir em Heráclito e Platão: “Heráclito é o filósofo que explica o mundo em que vivemos e que de fato, está em devir. O fluxo eterno existe, o engano de Heráclito estava em considerar que o devir era a totalidade do real, quando é a marca do mundo sensível, isto é, do mundo das coisas materiais corpóreas, submetidas ao nascimento, à transformação e à corrupção ou morte e conhecidas por meio das sensações. O devir é a marca própria do mundo das aparências, percebido por meio de nossos sentidos. Porque o mundo sensível é o mundo das aparências e das mudanças, nele e dele só podemos ter opiniões e estas são mutáveis e contraditórias como seus objetos”. (Chauí, 1997: 186). Platão termina também “matando o seu pai” Parmênides quando demonstra que a idéia de não-ser existe e é diferente da idéia de nada. O não-ser é algo diferente do ser, mas não é nada, é o Outro. Platão afirma que a idéia de Uno é, e se o Uno participa das idéias do Ser, do Mesmo e do Outro, então há várias idéias e por isso, a idéia do Uno pressupõe a idéias de Múltiplo. Bernadette destaca: “O nada, antes impensável, muda de significado em Platão: é o Outro algo que não são as idéias (o Mesmo), isto é, a própria matéria de que é feito o mundo. É esse Outro que faz com que o mundo seja, em seus aspectos particulares, dominados por variações, pluralidade, aparências, opiniões e injustiças”. (Bernadette, 1999: 49). Com isto Platão resolve a aporia de Heráclito e Parmênides, construindo o conceito de um Ser Imóvel (idéia) e Múltiplo, onde o não-ser existe e é diferente da idéia de nada, é o outro. Platão funda o “pensamento ocidental” que será a base para o que conhecemos como Ocidente. Vejamos o que nos diz no livro Aristóteles na coleção Os Pensadores: “Platão retoma o problema e, na fase final de sua obra (particularmente no diálogo Sofista), considera o ser e o não-ser dois dos gêneros supremos dentro da hierarquia das idéias. E o importante é que Platão renova a noção de não-ser, entendendo- o não como um nada ou como o vazio: o não-ser seria o outro, a alteridade que sempre complementa o mesmo, a identidade. (...) Aristóteles não considera satisfatória a solução platônica. Para fundamentar a ciência do mundo físico – mundo múltiplo e mutável –seria preciso romper mais fundo com o eleatismo. Substitui, então, a concepção unívoca de ser, que o concebe de modo único e absoluto – impedindo a compreensão racional do movimento e da multiplicidade – pela concepção analógica: o ser seria análogo, isto é, dotado de diferentes sentidos” (Aristóteles, 2000: 22). b) René Descartes (1596 - 1650). Filósofo francês. Um dos fundadores da filosofia moderna. Nasceu em La Haya-Descartes (Turena), no seio de uma família nobre. Estudou entre 1604 e 1612 no colégio jesuíta La Flèche. Alistou-se nos exércitos do príncipe Maurício de Massau e no de Maximiliano da Baviera.Viveu em Paris. De 1628 a 1649 fixou residência na Holanda. A pedido da rainha Cristina, em 1649, partiu para a Suécia aonde viria a falecer. A filosofia de Descartes assenta numa concepção unitária do saber, fundada na razão. A sabedoria é única, porque a razão é única, e só ela nos permite distinguir o verdadeiro do falso, o conveniente do inconveniente. Com o objetivo de criar um fundamento seguro para a filosofia, desenvolve um método de dúvida radical, que constitui a base da sua filosofia. Este método surge como resposta ao ambiente de incerteza do seu próprio tempo. Com ele empreende um enorme trabalho de reconstrução de todo o saber que é deduzido a partir de certezas indubitáveis. Após ter posto em causa todo o saber adquirido pela experiência, chega à primeira certeza indubitável: a da sua existência como ser pensante ("Penso, logo existo"). É com base nesta evidência que irá desenvolver uma ciência universal. Foram notáveis as suas contribuições para a matemática, sendo considerado um dos criadores da geometria analítica. c) Baruch Espinosa (1632-1677). Filósofo holandês. Filho de um mercador judeu português exilado em Amesterdão. Ainda muito jovem aprende hebraico e as línguas clássicas. Devido às suas ideias foi excomungado da Sinagoga, facto que lhe permitiu uma maior aproximação às ideias de pensadores cristãos como Descartes. Em 1656 é vítima de uma tentativa de assassinato. Para fugir às perseguições que era vítima foge para Leyden, depois para Rynsverg e finalmente para Haya, onde vive até à sua morte. A sua filosofia funda-se numa concepção panteísta da realidade, na qual se identifica Deus com a Natureza. Para Espinosa só existe uma única substância ilimitada que se manifesta numa infinidade de forma e com infinitos atributos. Nega a imortalidade da alma e a natureza pessoal de Deus. Rejeitou o Livre-arbítrio, afirmando que a autodeterminação, isto é, agir em função da natureza de cada um, é a única liberdade possível. Esta concepção panteísta está bem patente nas suas concepções metafísicas, éticas e políticas. d) Gottfried Wilhelm Leibniz - (1646- 1716). Filósofo, matemático, historiador, jurista, filólogo, teólogo Gottfried Wilhelm Leibniz, é um espírito verdadeiramente universal. Era natural da Saxónia, Alemanha. Filho de um professor de Filosofia Moral na Universidade de Leipzig. Estudou matemática em Iena e na Universidade de Altdorf jurisprudência. Aos 21 anos recusa uma cátedra na universidade, envolve-se numa organização semi-secreta (os Rosacruzes), entra ao serviço do eleitor da Magúncia. Enviado a Paris numa missão diplomática, procurou influenciar Luis XIV par abandonar o projecto de combater a Holanda. Nesta cidade corresponde-se com figuras cimeiras da intelectualidade do tempo, como Galileu, Descartes e Hobbes. Viajou até Inglaterra onde discutiu com matemáticos do circulo de Isaac Newton.Em 1675 regressou à Alemanha, tornando-se bibliotecário do duque de Hannover. Contando com o apoio e a protecção da princesa de Hanover funda a Academia de Ciências da Prússia. Faleceu em Hanover.A obra de Leibniz é muito diversificada, sendo-lhe atribuida a autoria de notáveis descobertas. Na matemática, por exemplo, junto com Newton, foi um dos inventores do cálculo infinitesimal. Inventou também uma máquina de calcular. Na física criou o conceito de energia cinética. A filosofia de Leibniz estabelece uma ponte entre a filosofia renascentista e a iluminista, lançando as bases para os grandes sistemas da filosofia contemporânea.A monadalogia ( do grego monas = unidade) exprime a concepção original de Leibniz sobre a natureza das coisas."O universo é considerado uma ordenação de mónadas, isto é, de centros espirituais dinâmicos, em que se compenetram, misteriosamente, individualidade e subtancialidade. Cada nômada é um espelho do mundo e, simultaneamente,uma criação original indestrutível, dotada de tendências ou mesmo de ação. O seu lugar na ordem hierarquica determina-se pelo grau de clareza e distinção com que consegue representar o universo" (F.Heinnemann). Deus é a mónada original, criador da infinidade das mónadas que compõem o mundo.O conceito central da filosofia de Leibniz é a Harmonia Universal identificada com Deus. Vivemos, segundo Leibniz, no melhor dos mundos possíveis. Criado por Deus este só poderia ter escolhido o melhor entre todos os possíveis. O mal é uma carência ocasional e acidental e não existe por si próprio. Todos os seres aspiram à realização plena das suas potencialidades. Em termos políticos, preconiza uma vasta comunidade internacional, que possa garantir a paz e a difusão do cristianismo. Nesse sentido procurou demonstrar a unidade fundamental de todas as línguas, assim como desenvolver uma linguagem universal, baseada num sistema binário que é usado nos nossos dias na informática. Foi um precursor da lógica simbólica contemporânea. No direito defendeu uma concepção de direito natural fundamentada no próprio Deus. e) Nicolas De Malebranche (1638-1715). Conforme verificamos no livro “História da Filosofia Moderna: da revolução científica a Hegel” de Sofia Vanni Rovighi, Malebranche tinha uma visão profundamente religiosa da realidade, porém também se interessou sobre problemas científicos. Malebranche ingressou em 1660 no Oratório após ter estudado a filosofia aristotélica e a teologia escolástica. Estudou hebraico para conhecer bem a bíblia, a história eclesiástica e Santo Agostinho. Estuda em 1664 Descartes e se interessou pela separação que este filósofo fazia entre espírito e corpo servindo para inspirar Malebranche nas suas teorias sobre “a visão das coisas em Deus e o ocasionalismo”. Empirismo inglês O empirismo afirma ser da experiência sensível que obtemos todos os nossos conhecimentos, que são constituídos e controlados pelas experimentações sucessivas. Tem por princípio fundamental a “tese enunciada por John Locke de que todas nossas idéias vêm da experiência, da percepção sensível e da introspecção”. Ou seja, é somente através dos sentidos que passamos a perceber, a apreender um objeto, a conhecê-lo. A sensação que temos do objeto já é percepção e apenas por abstração é que isolamos a sensação para estudá-la.Fundamentalmente o que os empiristas rejeitam no raciocínio é o inatismo. Isto é, a doutrina segundo a qual o homem seria dotado de idéias inatas e, portanto anteriores a qualquer dado dos sentidos. A preocupação com a matemática influenciou os filósofos racionalistas e também os empiristas. Porém, enquanto os racionalistas acreditavam chegar a certezas absolutas, os empiristas nunca afirmarão esta certeza. Dirão: “pelo fato do conhecimento vir da experiência, não podemos chegar a certezas absolutas”. Para eles o raciocínio procede sempre por indução. a) Francis Bacon (1561-1626). Considerado o primeiro empirista, insistiu na experiência da ciência e na necessidade da indução. Francis Bacon enalteceu a experiência e o método dedutivo de tal modo, que o transcendente e a razão acabam por desaparecer na sombra. Falta-lhe, no entanto, a consciência crítica do empirismo, que foram aos poucos conquistando os seus sucessores e discípulos até Hume. Ademais, Bacon continua afirmando - mais ou menos logicamente - o mundo transcendente e cristão; antes, continua a considerar a filosofia como esclarecedora da essência da realidade, das formas, sustentáculo e causa dos fenômenos sensíveis. É uma posição filosófica que apela para a metafísica tradicional, grega e escolástica, aristotélica e tomista. Entretanto, acontece em Bacon o que aconteceu a muitos pensadores da Renascença, e o que acontecerá a muitos outros pensadores do empirismo e do racionalismo: isto é, a metafísica tradicional persiste neles todos histórica e praticamente ao lado da nova filosofia, tanto mais quanto esta é menos elaborada, acabada e consciente de si mesma. b) Thomas Hobbes (1588-1679). Também insiste em que o conhecimento se origina pelo sensível, mas não despreza o método matemático (dedução). Se para Descartes a razão é substância pensante, para Hobbes a razão é pura atividade, é razão operativa, é ato de raciocinar. Ou seja, é cálculo, adição de juizo a utilizar sinais convencionais, as palavras. c) John Locke (1632-1704). Deu-se ao trabalho de criticar veementemente a teoria das idéias inatas. Afirma que o conhecimento nasce da experiência, mas as idéias não estão todas ligadas às experiências sensíveis. Isto é, apenas as idéias simples estão imediatamente ligadas às experiências sensíveis, pois somente assim teremos condições de construir idéias mais complexas (substância material). O substrato material não é ele próprio perceptível. d) George Berkeley (1685-1753). A substância material de que fala Locke é incognoscível, pois não podemos ter desta uma percepção imediata. Berkeley afirma ainda que, o que é incognoscível pela percepção não existe. O que podemos ter garantia é apenas da nossa percepção, pois as coisas que percebo, digo apenas que percebo. Nunca percebo a pluralidade das coisas, mas apenas a coisa em si. O que nós temos são fenômenos. O que nós captamos ó o modo de como a coisa nos aparece, mas não a coisa em si. Berkeley nega a substância material, porém, diz que podemos ter substância espiritual, pois estas são de outra ordem de conhecimento, que não nos é perceptível. e) David Hume (1711-1776). Tudo o que nós conhecemos depende das impressões que estas coisas causam em nós. Então, não existe nem substância material nem substância espiritual, pois elas não nos causam qualquer impressão. O que podemos afirmar são fatos que mostram a percepção de uma associação. Não temos impressão direta da causalidade. Não podemos extrapolar os fatos em si e usar a idéia de causalidade para afirmar impressões. f) John Stuart Mill (1806-73). Foi o mais famoso filósofo da Grã-Bretanha no século XIX. Era filho de James Mill, que escreveu The Analysis of the Phenomena of the Human Mind (1829), um manual que explicava os princípios da associação de idéias. Esses princípios foram, naturalmente, mencionados por Hume, mas só transformados em princípios gerais da psicologia por David Hartley no seu Observations of Man (1749). Na opinião de ambos os Mills, o associacionismo acompanhava o sensualismo, a doutrina segundo a qual todos os fenômenos mentais podem ser derivados de certas sensações minúsculas. Esta opinião deve muito à tese de Hume sobre a dependência das idéias em relação às impressões, e a dependência de todas as impressões complexas de impressões simples. A obra começa com um estudo da linguagem, no curso da qual ele formula uma teoria de significação envolvendo uma distinção entre a denotação e a conotação das expressões. Um termo conotativo é aquele que “denota um sujeito e implica um atributo”. Nomes próprios são não-conotativos no sentido em que sua função é apenas a de denotar – opinião esta que, sob uma forma ou outra, tem sido muito discutida em tempos recentes. Na base dessa opinião, sustenta que as proposições necessárias são meramente verbais, no sentido em que simplesmente tornam explícita a conotação de uma palavra. As proposições matemáticas, por outro lado, não são meramente verbais, e tampouco necessárias, mas apenas generalizações amplamente confirmadas com base na experiência. As opiniões de Mill a este respeito são talvez as mais radicalmente empiristas já feitas e, de modo geral, têm que ser mencionadas apenas para serem refutadas. As idéias epistemológicas de Mill são analogamente empiristas, particularmente sua versão do conhecimento
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