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Por uma leitura Foucaultiana da educação

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REVISTA MULTIDISCIPLINAR DA UNIESP 
 
 
 SABER ACADÊMICO - n º 05 - jun. 2008/ ISSN 1980-5950 
231 
 
Por uma leitura Foucaultiana da educação 
 
 
VEIGA-NETO, Alfredo. Foucault e a Educação. 2.ed. Belo Horizonte, Autêntica, 
2005.p.191. 
 
DAMETTO, Jarbas 3 
 
O trabalho que aqui é comentado, intitulado Foucault e a Educação, de Alfredo 
Veiga-Neto, trás aspectos gerais da obra do filósofo francês Michel Foucault (1926 – 
1984) para o debate da educação e da instituição escolar, podendo ser sugerido como 
uma introdução geral ao estudo da obra foucaultiana. O autor expõe as conexões entre 
os diversos trabalhos de Foucault, seus principais conceitos, e algumas das 
sistematizações possíveis para sua abordagem. 
O autor aponta o filósofo como aquele que melhor captou a forma como saber e 
poder se articularam a partir do século XVI, dando origem à Modernidade e ao sujeito 
moderno. É nesta possibilidade de análise das formas de poder e sua maximização 
através dos saberes, que reside a capacidade crítica e renovadora de uma leitura 
foucaultiana dos processos e das instituições educacionais. Foucault não aponta 
caminhos, não propõe receitas, antes, ele incita a crítica, o desmonte das estruturas 
naturalizadas e tradicionais que compõe o cotidiano da sociedade ocidental, 
proporcionando novos olhares e possibilidades, principalmente sobre campos muitas 
vezes ignorados nas abordagens habituais, sendo sobre temas “periféricos” que Foucault 
teceu grande parte de sua obra. 
Foucault traçou teorizações, mas não estruturou propriamente uma teoria ou um 
método, logo, não pode “ser utilizado” para este ou aquele fim, assim como suas formas 
de análise não servem a qualquer proposta de estudo. Veiga-Neto alerta para alguns 
equívocos que podem ocorrer ao propor um estudo foucaultiano, ele aponta a 
impossibilidade de encontrar respostas ou chegar a conclusões universais, a perspectiva 
adotada é focal, delimitada em recortes específicos de tempo e espaço geográfico, 
analisa-se o modo como as coisas ali funcionam, e se há possibilidades de mudança. O 
autor também alerta para o modismo que se arma sobre determinados autores, alertando 
para a necessidade de pensar a verdadeira adequação entre a proposta de pesquisa e a 
perspectiva teórica e metodológica adotada, a busca do status em utilizar determinado 
REVISTA MULTIDISCIPLINAR DA UNIESP 
 
 
 SABER ACADÊMICO - n º 05 - jun. 2008/ ISSN 1980-5950 
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filósofo pode ser considerado como um equívoco, uma postura intelectual inadequada, 
bem como seguir cegamente ao filósofo, cujos princípios apontam para uma contínua 
superação. 
Na segunda parte do livro, o autor aborda as sistematizações e periodizações já 
propostas acerca do percurso intelectual de Foucault, trabalho que propicia uma 
eficiência didática interessante, mas que deve ser, necessariamente, pouco rigorosa, 
dada a freqüente retomada e sobreposição de temas e métodos durante a obra do 
filósofo. A maioria dos especialistas propõe três fases na produção foucaultiana, a 
primeira Arqueológica, composta pelas obras História da Loucura na Idade Clássica, O 
nascimento da clínica, As palavras e as coisas e A arqueologia do saber; a segunda 
fase, Genealógica, tem como componentes A ordem do discurso, Vigiar e punir, e o 
primeiro volume da História da sexualidade: A vontade de saber, e o terceiro momento, 
já no fim da vida de Foucault – a Ética, onde se situam os volumes dois e três da 
História da sexualidade: O uso dos prazeres e O cuidado de si. O autor retoma 
Deleuze, que define cada uma dessas fases como a busca de respostas às perguntas: o 
que posso saber? Que posso fazer? E, quem sou eu? Seriam esses os problemas que 
norteiam o estudo de Foucault e sobre os quais ele desenvolveu abordagens especificas, 
acerca do discurso, do poder e da subjetivação. 
O autor aponta como uma saída possível para os impasses de uma sistematização 
cronológica, a proposta de M. Morey, em que se faz uma tripartição tomando outro 
critério: a ontologia do presente, uma ontologia crítica de nós mesmos. A questão seria 
“perguntarmos como chegamos a ser o que somos, para, a partir daí, podemos contestar 
aquilo que somos.”(VEIGA-NETO, 2005, p.46-7). Deste ponto de vista, divide-se a 
obra foucaultiana em três domínios: aquele que trata da constituição do sujeito pelo 
saber (ser-saber), da constituição do sujeito pela ação de uns sobre os outros (ser-poder), 
e pela ação consigo próprio (ser-consigo), ou então, como nos constituímos enquanto 
sujeitos de conhecimento, de ação e através da moralO autor dedica a cada um desses 
domínios um capítulo de seu livro, debatendo a arqueologia e a genealogia enquanto 
métodos em conjunto com os domínios com os quais Foucault os desenvolveu e 
aplicou, o ser-saber e o ser-poder, respectivamente. 
O primeiro domínio, o ser-saber, o autor debate o modo pelo qual, na 
Modernidade, nos tornamos sujeitos do conhecimento e assujeitados por ele, onde as 
três grandes ciências do século XVIII e XIX, a Lingüística, a Biologia e a Economia, 
Ludiane
Highlight
Ludiane
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 SABER ACADÊMICO - n º 05 - jun. 2008/ ISSN 1980-5950 
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são produtos e produtoras do homem moderno, que constrói sua prática sob o discurso 
assumido como verdade. A arqueologia consistiria então na escavação vertical que 
revela os fragmentos das idéias, os conceitos e os discursos do passado, suas 
transformações e rupturas, buscando o vínculo entre as práticas discursivas e as não-
discursivas, que possibilitariam a produção de um saber, seria a busca das formas pelas 
quais se sustenta àquilo que é objetivado pela Ciência. 
Quanto ao segundo domínio, o ser-poder, eixo genealógico inaugurado pela obra 
Vigiar e punir, em que é tomada de empréstimo a genealogia nietzscheana, tem-se a 
busca pela origem, a gênese em seu sentido de identidade primeira, não onde o 
fenômeno se encontrava em estado puro, já que tal estado “essencial” pode nunca ser 
encontrado ou nunca ter existido, mas sim o momento em que um discurso se articula 
por meio de peças que lhe eram estranhas, o momento em que ele emerge. Desta forma, 
desvendam-se os determinantes extra-científicos do saber, sendo contra os efeitos de 
poder que tais saberes engendram que se trava a luta na genealogia, viabilizando uma 
reconstrução do presente. Enquanto a arqueologia buscou descrever, a genealogia 
buscou analisar os processos dinâmicos das relações de poder, e averiguar o que tais 
relações produzem. Na obra de Foucault, tem especial atenção o poder disciplinar e suas 
instituições, que se afirmaram a partir do século XVII, criando em seu bojo saberes que 
legitimaram diversas práticas de sujeição, sendo que dentre essas instituições, tem-se a 
Escola Moderna. 
O terceiro domínio, o ser-consigo, não possui um “método” próprio, sendo que 
ele lança mão das duas abordagens anteriores. Foucault tratou deste domínio utilizando 
o tema sexualidade a fim de demonstrar como o homem se faz sujeito através do 
próprio sexo, na relação consigo mesmo, projeto que ficou inacabado em virtude de seu 
falecimento em 1984. O interesse deste estudo não era o sexo em si, mas a sexualidade 
enquanto sistema de interdições que guiam o discurso e a conduta individual, a 
sexualidade que produz o sujeito como ser de desejo, dotado de moral. 
A terceira parte do livro é dedicada a temas e conceitos recorrentes na obra 
foucaultiana. Comenta-se a função da linguagem enquanto produtora da verdade, e não 
apenas um mecanismo para alcançá-la, a linguagem como um processo que se situa no 
sujeito ativo, falante, pensante e desejante, e não nos objetos ou fenômenos. O sujeito 
que pronuncia o discurso também não o fazlivremente, fora das contingências dos 
Ludiane
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Ludiane
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 SABER ACADÊMICO - n º 05 - jun. 2008/ ISSN 1980-5950 
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discursos já presentes, pelo contrário, aquele é função deste, ninguém está “de fora” do 
discurso e de suas malhas de poder articuladas em saberes e instituições. 
 O autor atenta para o sujeito de que fala Foucault, que difere do sujeito 
moderno, concebido por autores como Marx, Rousseau e Hegel, um sujeito “desde 
sempre aí”, a ser aprimorado pela educação ou degradado pela sociedade. O sujeito 
foucaultiano é instituído, produtor e produzido no contexto social em que vive, 
envolvido nos discursos de sua época, em articulações entre poder e saber - entidades 
que se produzem, legitimam e potencializam mutuamente. 
Por fim, a quarta parte do livro faz um resgate cronológico da vida e obra de 
Michel Foucault, e sugere fontes de pesquisa sobre o autor, acentuando o caráter 
iniciático do referido livro. Da mesma forma, problemáticas educacionais não são 
abordadas diretamente, o autor apenas comenta ao longo do trabalho pesquisas que 
foram realizadas com base foucaultiana, guiando o leitor em sua busca por debates 
acerca de questões educacionais do cotidiano. O objetivo aparente é proporcionar um 
panorama geral das potencialidades do filósofo francês enquanto suporte para a 
pesquisa e critica da Educação, objetivo este, plenamente alcançado. 
 
 
3
 Psicólogo, mestrando do Programa de pós-graduação – Mestrado em Educação, da 
Universidade de Passo Fundo. Bolsista CAPES. 
Ludiane
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