Buscar

A transcendência como expressão da irredutibilidade humana no horizonte da fé cristã

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

A TRANSCENDÊNCIA COMO EXPRESSÃO DA IRREDUTIBILIDADE HUMANA NO HORIZONTE DA FÉ CRISTÃ
Edward Neves M. B. Guimarães�
INTRODUÇÃO
Segundo Gabriel Marcel, a pessoa humana não pode ser estudada simplesmente com os instrumentos da ciência. O olhar interessado da investigação objetiva além de não captar-lhe o sentido maior, revela-se incapaz de satisfazer-se na penumbra, de assumir a necessária atitude de reverência ou de manter a consciência da própria parcialidade. A pessoa humana não se reduz a um mero objeto, não é propriamente um problema, mas, acima de tudo, revela-se um mistério. Portanto, aproximar-se desse enigma exclusivamente pela via científica produziria uma redução do ser humano a um “ele”, a um objeto, a uma coisa. Para respeitar a sua dignidade e irredutibilidade conceitual, para tratá-la como pessoa, é necessário aproximar-se dela como um “tu”, uma alteridade viva. Algo que somente é possível acontecer através de uma aproximação interrogante, com postura dialogal e, especialmente, deixando-se pelo amor ser movido. � 
Foi na perspectiva do bruxuleante perscrutar, trazendo no peito e na mente a consciência da necessária parcialidade de toda abordagem, mas, especialmente, dos limites de enfoque de um artigo como este, que me propus pensar o tema da transcendência enquanto uma dimensão fundamental da complexidade do fenômeno humano. Devo confessar que a beleza desse mistério, do qual participamos, imprime sobre meu ser incontornável fascínio. O encantamento provocou o cultivo de uma atitude teimosa: de viver em busca do sentido da existência. Atitude esta que reconheço expressa e traduzida em sentimento pela poesia “Juro” de Paulo Gabriel. Identifico-me tanto que a transcrevo na íntegra para que também possa saborear:
 
			JURO
Vivo fascinado pelo milagre que é a vida
E inquieto persigo o sentido da dor e do prazer
O por quê da sombra quando o sol se põe.
Vivo como vivem os pássaros errantes
Sem ninho e com saudade.
Agora sei que tudo é passagem
E que o mundo ainda começa.
Decifrar o enigma eu quero
E se a chave do segredo se perdeu
Não desistirei eu juro �
	Nossa reflexão está estruturada em três momentos. No primeiro, buscamos delimitar a compreensão dos conceitos que julgamos centrais na estruturação dessa reflexão, os conceitos de imanência e transcendência. Além disso, buscamos explicitar também as implicações recíprocas entre essas dimensões da vida humana. No segundo, debruçamo-nos sobre o julgamos ser a raiz última do ser humano, sua abertura estrutural. Esta dimensão faz do homem um ser original, um criador de símbolos e utopias. E, por fim, no terceiro momento, visamos explicitar os elementos centrais da concepção de ser humano à luz da fé cristã. O homem é criado pelo Amor, encontra sentido no Amor e caminha, é seu destino último, para a comunhão com o Amor.
I – TRANSCENDÊNCIA E IMANÊNCIA: DIMENSÕES PROFUNDAS DO FENÔMENO HUMANO
A vida humana se concretiza no amalgama das dimensões de imanência e de transcendência. As duas, em insuperável tensão dialética, fazem parte da existência humana. Esta se realiza, concomitantemente, nas condições de possibilidade do planeta Terra, no chão da história, mas também é tecida no horizonte do desejo, do sonho, da esperança e das utopias que, de fato, extrapolam a sua pura materialidade. A vida humana é situada e, empiricamente, delimitada no tempo e no espaço. Mas também é aberta, em constante devir e em busca de superação dos próprios limites.
As duas dimensões podem ser captadas e percebidas no fenômeno humano. A acentuação unilateral ou a tentativa de anulação da tensão, como historicamente se pode detectar, provoca desequilíbrios trágicos e mentalidades reducionistas e de compreensão deturpada. À título de exemplo, podemos mencionar, de um lado, os materialismos históricos, fechados a toda manifestação do espírito ou a qualquer abertura esperançada de vida além dos limites dessa vida histórica e, do outro, os espiritualismos avessos a toda valorização da encarnação histórica, do compromisso de construção de uma sociedade justa e fraterna ou a qualquer positividade intrínseca a esse mundo ao qual estamos situados.
Nossa reflexão se alicerça em concepção antropológica que reconhece as duas dimensões como constitutivas do complexo fenômeno humano. Visão que percebe, reconhece e acolhe entre elas, em enriquecedora tensão dialética, autêntico e necessário círculo hermenêutico. Por um lado, a irrenunciável imanência que impede o desenraizamento, a indiferença e desvalorização da história, das tradições e da memória. Por outro, a transcendência, que previne e imuniza contra todo tipo de materialismo coisificante e economicismos reducionistas.
A) A dimensão de imanência
O ponto de partida dessa reflexão é o reconhecimento da dimensão de imanência de toda pessoa humana. Não poderia ser diferente, pois, quando paramos para pensar em nossa vida, somos surpreendidos, com a tomada de consciência a posteriori do simples fato de existirmos no tempo e no espaço. Daí, logo intuímos “sartrianamente”, que a existência precede a consciência humana. � 
Primeiro existimos situados espaço e temporalmente. Inicialmente, indefesos e dependentes de condições que ultrapassam qualquer determinação pessoal: condições viáveis desse planeta azul, dos genitores, do reconhecimento e respeito de outras pessoas. Começamos nosso itinerário vital necessitados de receber proteção, alimentação, afeto e atenção. 
Nosso corpo precisa de “história e geografia” para desenvolver suas potencialidades. Merecem destaque nossos sentidos básicos. Experimentamos o mundo e toda realidade que se nos apresenta através dos sentidos. É fascinante tomar consciência e celebrar a beleza das formas e combinações caleidoscópicas, o leque de possibilidades que os sentidos continuamente nos abrem. Tenho a sensação de que às vezes nos acostumamos tanto com eles que banalizamos seu papel e função em nossa vida. Vivemos automatizados. Pessoas que perdem algum dos sentidos testemunham o valor que deveríamos dar diariamente aos nossos sentidos. É preciso desenvolver a sensibilidade e a delicadeza para enxergar cada detalhe da vida em suas multiformes e variegadas cores, perceber e diferenciar os infinitos odores, experimentar a miríade de sabores e sensações, ser tocado e tocar em cada textura, ouvir os mais variados ritmos e sons, sentir, em cada momento, o puxar da vida... Há uma cena maravilhosa no filme “Cidade dos Anjos” �. Ela, de modo belo, sintetiza, pelas possibilidades das lentes da sétima arte, a riqueza infinita de nossos sentidos. A cena mostra a personagem Seth, vivido por Nicolas Cage, um anjo que se apaixona pelo fascinante jeito humano de ser. Através da beleza de uma mulher, a doutora Maggie Rice, vivida por Meg Ryan, Seth decide tornar-se humano, pagando o preço de assumir a limitação histórica, destituir-se do poder e descer do pedestal angelical. A cena a que me refiro exatamente é a que revela as primeiras sensações de Seth como ser humano. Vale a pena conferir.
Aos poucos, cada um de nós acolhe generosa herança cultural. A tradição cultural, da qual somos herdeiros e que constitui a matéria prima da autêntica natureza humana, confirma a tese de que somos seres relacionais e situados historicamente. Somente depois, muito depois, despertamo-nos para a necessidade de buscar sentido para a existência, no tempo, no espaço e para além desses, de procurar compreender quem somos, por que estamos aqui e de projetarmo-nos para o futuro.
O ser humano nasce de modo inacabado e potencialmente impulsionado a tornar-se, em sentido estrito, pessoa humana. Ele é constitutiva e intrinsecamente um “projeto infinito”, na feliz expressão de Leonardo Boff. � Sua existência se concretiza em contínuo processo de “alter-poese” e de “auto-poese”. Por um lado, depende dos outros para vir a ser e desenvolver grande parte de seu potencial. Ele é e sempre será um membro da comunidade humana, um ser de relações. Por outro, ele é virginal e original.Ele é um desbravador, um conquistador de autonomia e subjetividade, um construidor de mundos. Possui um dinamismo interno que o condena à liberdade e à construção do jeito próprio de caminhar e sentir o pulsar da vida. Como afirma Juvenal Arduini, o homem é um autêntico estradeiro. �
A tomada de consciência do significado da existência, e também de seus limites e possibilidades, provoca o reconhecimento de que a vida, desde o seu nascimento, é relação, conexão, interdependência, mas também pessoalidade, deliberação, independência. Cada ser é único e faz parte de uma imensa rede: a teia da vida! Ele é, simultaneamente, indivíduo e membro de uma sociedade. Ele é liberdade, mas também moralidade. Isso significa que o ser humano desenvolve a consciência de viver e “con-viver”. No presente, carrega constitutivamente a memória e a experiência do passado, mas sempre se projetando para a novidade e imponderável do futuro. 
Mas, se a vida humana se concretiza sempre de modo enraizado, na imanência do chão da história. Isso não diz tudo sobre nós.
B) A dimensão de transcendência
Da consciência do necessário enraizamento histórico emerge duas experiências profundas: a da contingência e a da finitude. Contingência porque a vida inicia-se no tempo. Não é, individualmente, uma existência necessária ou fundamental. Finitude porque a vida tem seu ciclo vital. Todo ser vivo, no âmbito da existência histórica, no máximo, nasce, cresce, reproduz, envelhece e morre. O ser humano se percebe enquanto ser efêmero e, constantemente, como “ser-para-a-morte”. � 
Segundo Albert Camus, “o homem é a única criatura que ser recusa ser o que ela é”. Movido por esta recusa, o ser humano, enquanto ser de desejo, empreende movimento de êxodo e projeta-se para além da pura materialidade das coisas e da temporalidade da vida biológica. Situa sua morada no horizonte e lança seu grito primal contra os limites da necessária imanência.
Nessa direção, merecem aqui o nosso destaque três características do ser humano: a capacidade de vir-a-ser, de perguntar pelo sentido e de transcender. 
Primeiramente pela capacidade de vir a ser, de “tornar-se”, “transformar-se” e “construir-se” em determinada direção. Nasce e será a vida toda inacabado. Ele estará sempre em processo de autoconstrução, ao mesmo tempo em que é construído pela cultura, educação, experiências e pessoas com as quais convive ou toma conhecimento. Torna-se pessoa à medida que ele se humaniza. 
Nesse sentido, é fundamental o desenvolvimento do hábito da reflexão sistemática sobre o sentido da vida pessoal e coletiva: sobre o passado (O que tenho sido? Como tenho vivido? Como as pessoas de minha geração, meus companheiros na jornada da vida têm vivido? Em que vivemos diferentes dos nossos antepassados?), sobre o presente (O que estou sendo? Como estou vivendo?) e sobre a abertura ao futuro (O que serei? Em que direção caminho? Quais as metas e objetivos que têm norteado a minha vida atual? O nosso jeito de viver é sustentável?). Uma vida humana sem reflexão estaria deixando de lado a nossa especificidade de seres conscientes. Como dizia o pensador Goethe, “Quem, de três milênios, não é capaz de se dar conta vive na ignorância, na sombra, à mercê dos dias, do tempo”. �
Em segundo lugar pela capacidade de perguntar pelo sentido e de buscá-lo ao longo da vida: Quem sou? De onde vim? Para onde vou? Por que a morte? Há vida além da morte? Por que tanta dor? Por que o ser humano é estradeiro, eterno caminhante, faminto de amor e, continuamente, insatisfeito? Por que a vida é finita se cada um parece carregar o infinito dentro de si? O que é o homem? Qual o sentido da vida? Dentre outras. A vida é feita de constantes indagações e de incessantes buscas de respostas. 
Nesse sentido, ele pauta sua existência pela interminável busca de aprender a ser, a fazer e a conviver. Está sempre à procura de realização e felicidade. A felicidade, para ele, está na vida com sentido, através da qual ama e experimenta-se amado. Aos poucos aprende que a felicidade não está no fim do caminho, mas é encontrada e construída ao longo do caminho, no próprio caminhar. Não está na posse ou na conquista de “algo”, definitivamente, mas no dinamismo e no ritmo que empreende em seu existir. Depende mais do “avesso da pele”, do que está dentro dele, em sua interioridade, do que, propriamente, na exterioridade do outro ou do mundo. Ele vive no mundo, é parte do mundo, depende do equilíbrio do mundo, mas tem o “coração de águia”, sua morada está no horizonte. � Em linguagem religiosa, sua morada definitiva, cremos, é a comunhão com Deus.
E, por fim, pela capacidade de transcendência, propriamente dita. Transcender é ir além da pura materialidade da realidade na qual está inserido, ir além das coordenadas do tempo e do espaço, seja movido pelo pensamento racional, seja pelo sonho, fantasia, imaginação, esperança, fé e amor. A pessoa humana tem o dom de transcender a história, o cotidiano, a vida presente e abrir-se, projetando-se para horizonte maior, para além de si mesmo, para além da materialidade do mundo ou da inexorabilidade do tempo. O sonho, a fantasia e a imaginação sustentam-lhe a lucidez e a teimosia de viver. Ele possui habilidades profundas que lhe permite alçar vôo: a fé, a esperança, o amor. � 
Nesse sentido, compreende-se a necessidade humana de abertura ao outro, a Deus ou ao Sagrado, a um sentido maior do que ele mesmo ou da história, abertura a utopias de uma vida melhor e mais plena. O ser humano, em todas as culturas, criou ritos, construiu símbolos, expressou pelas artes, buscou experiências espirituais, narrou mitos que, de alguma forma, expressam essa capacidade humana de “ir além”. Esta dimensão da vida humana oferece uma chave de explicação para a universalidade cultural do fenômeno religioso, da criação das artes e dos símbolos. Há nele a recusa radical da finitude e da redução da vida à pura materialidade espacial e temporal do mundo e da história. Ele é portador da esperança maior de que a realidade esteja perpassada por “algo mais”. Carrega o desejo inquebrantável de eternidade. Caminha com a certeza de que a vida é mais! E, em termos religiosos, crê que Deus é o horizonte último de toda a existência.
Acolher estas características descritas acima e reconhecê-las no fenômeno humano, leva-nos a afirmar que o nível biológico ou físico diz muito pouco do que é o ser humano. Ele é muito mais do que um mero organismo animal. Por isso a necessidade de se expressar pela arte (música, dança, poesia, pintura, escultura, dentre outras), pelo mito (narrar histórias para espantar seus medos e gerar segurança, sensação de conforto) e pelo símbolo (linguagem dos significados, do sentido, dos afetos, das experiências, da religião).
C) Transcendência na imanência
Capta-se a dimensão da transcendência quando se percebe que a realidade é maior do que a pura materialidade das coisas, dos acontecimentos históricos e da corporeidade humana. Há um “mais”, um “além” do que está simplesmente aí. “Algo” capaz de oferecer sentido maior seja para a existência humana, seja para a própria realidade material.
Não obstante a isso, qualquer sinal de transcendência somente é captável em sua enunciação histórica, ou seja, dentro do mundo e a partir das categorias humanas de apreensão da realidade. Imanência, neste sentido, não se opõe, rigorosamente, ao que se considera pertencente ao âmbito da transcendência. Imanência é o locus vitae, lugar de manifestação, enraizamento e concretização histórica da vida. Além disso, é também o lugar de manifestação e acesso à transcendência humana ou, como veremos, à Transcendência Divina.
Aqui cabe enunciar as questões que nos levarão à segunda e à terceira parte de nossa reflexão. É legítimo conceber uma transcendência para além de toda imanência? O ser humano pode conhecer (tem acesso confiável) a transcendência? O que a experiência cristã tem a dizer sobre o sentido da vida humana? Há uma novidade nessa experiência que pode contribuir para a compreensão do fenômenohumano?
II – O SER HUMANO ENQUANTO SER RADICALMENTE ABERTO
O que refletimos na primeira parte nos leva a afirmar que o ser humano é um ser original. Ele é um animal sim, mas que, de certa forma, supera infinitamente a essa animalidade vital. Há em nós uma “raiz última” que nos abre para o infinito, para a eternidade, para Deus. “Algo” que nos capacita a ultrapassar o dado biológico, crer que a vida é mais e que sua realização última extrapola os estreitos limites da temporalidade e espacialidade histórica. 
O caminho para aproximar-se dessa realidade que denominamos “raiz última” é o da reflexão sobre as idiossincrasias do “animal humano”. Nenhum outro animal parece possuir a capacidade de pensar e tomar consciência da própria finitude e historicidade. Além disso, parece que somos os únicos a recusar, terminantemente, a acolher o destino peremptório de ser-para-a-morte. Nosso destino último não é o cemitério, mas, na fé afirmamos, a comunhão amorosa com o Criador.
A) O ser humano é uma “infinitude finita”
Seria essa recusa ilusão ou fraqueza? Pensamos que não. Muito pelo contrário. Trata-se daquilo que nos fortalece no caminhar e no embate, com coragem e determinação, dos desafios da vida. A certeza de que “a vida é mais” do que sua pura dimensão biológica, mesmo que aparentemente tal esperança seja às vezes, como um fiozinho tênue, contestada pela realidade e sustentada apenas pelo olhar da fé, é o que ampara e dá firmeza aos passos humanos.
O ser humano é um ser de contradição, de contestação e de protestação. Ele tem consciência de sua finitude e historicidade, mas, ao mesmo tempo, tem a pretensão de carregar, dentro de si, o infinito e a eternidade. O homem se percebe como ânsia insatisfeita de ser em plenitude. Em palavras de Blondel (1861-1949), como “dolorosa inadequação entre tendência infinita e realidade finita” ou de Teilhard de Chardin (1881-1955) como “todo ser criado está forjado pela tensão dramática entre o que é e que tende a ser”, pois, só Deus é em plenitude. Constata-se essa ambigüidade antropológica nas intuições de Pascal (1623-1662), quando afirma que “o homem supera infinitamente o homem”. Mas creio que a expressão original de Santo Tomás (1225-1274) sintetiza o que queremos dizer, pois, segundo ele o ser humano é uma “infinitude finita”. �
O que, à primeira vista, parece dramático – desajuste estrutural insuperável da própria existência humana, inerente à essência do finito – constitui, na experiência cristã, realidade que confere dinamismo à vida humana. Em outras palavras, na fraqueza manifesta-se a sua força, a sua glória. É exatamente na luta pela superação progressiva da condição criatural, em sua luta contra as forças do mal, que a experiência cristã capta, com toda clareza, a presença amorosa de Deus. Em Jesus de Nazaré, na luta contra o mal, experimenta-se a Deus como aquele que é radicalmente o “antimal”. Deus está junto do ser humano, sustentando-lhe as forças, o promovendo em direção à libertação definitiva das forças do mal na plenitude da comunhão definitiva com Ele. �
O ser humano é um ser carente de sentido último. Ele não tem o fundamento de si mesmo. Concretiza sua vida na expectativa de que encontre uma manifestação da transcendência de Deus que responda a sua abertura radical. Em sua espera desejosa, recusa o que a realidade biológica, segundo Lavoisier (1743-1794) lhe oferece enquanto resposta: “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Em sua abertura radical, o ser humano é ser de desejo. Com imaginação e fantasia, o desejo lhe transforma em criador de símbolos. 
	B) O ser humano é um “ser sacramental”
Ele tem o dom de construir, de criar símbolos, de se comunicar e se entender através de símbolos. Ao mesmo tempo em que faz e se expressa esteticamente através dos símbolos, estes revelam o próprio homem. Embora possa levar uma vida bruta, o ser humano tem a capacidade de fazer das coisas e dos gestos brutos em si, “algo” além da pura materialidade, capaz de revelar e expressar beleza, amor e sentido profundos. O ser humano é um ser simbólico. O simbólico humaniza a pessoa, pois, desenvolve e amplia lhe a sensibilidade e a delicadeza. O ser humano, por exemplo, é capaz de transformar uma simples rosa, que hoje está viçosa e amanhã esmaecida, em símbolo que irradia gratidão e amor intenso. Ele tem o poder de transmitir compreensão e perdão com um abraço singelo ou ternura e afeto com um olhar benevolente. 
Quando as coisas ou os gestos começam a expressar intensamente, quando transmitem algo além delas mesmas, então se pode dizer que se tornaram sacramentais. O simbólico e o sacramental são dimensões profundas da realidade humana!
Esse dom, na perspectiva da fé, está entre os maiores dons que o Criador nos abençoou. O homem e a mulher foram dotados do dom extraordinário de transformar um objeto qualquer em símbolo/ sacramento ou “transubstanciar” � uma simples ação ou um pequeno gesto em um rito do coração, cheio de vida e sentido: Um “toco de cigarro” ser sacramento da figura do pai falecido. � Uma “concha do mar” ser sacramento do amor. � Sentar-se em volta de um fogão de lenha ou participar de uma roda de chimarrão ser sacramento da amizade. 
Para a experiência religiosa, mulher e homem têm o dom maravilhoso de perceber a presença viva e invisível de Deus, de tocar o todo e absoluto divino num fragmento histórico, de captar o eterno no efêmero e passageiro. Mas, sobretudo, de perceber a presença de Deus transcendente e infinita na imanência e finitude de um rito, de um gesto, de uma ação, a onipotência divina na fragilidade e pequenez de uma criança. 
Antoine de Saint Exupéry captou essa dimensão profunda da vida humana para além da vivência da fé e demonstrou, de maneira magistral, na célebre passagem de seu livro “O pequeno Príncipe” �, quando a personagem principal aprende, de uma raposa, preciosa lição: “o essencial é invisível para os olhos, só se vê bem como o coração”. No diálogo travado entre o pequeno príncipe e a raposa, Exupéry explicita, com inigualável beleza literária, o poder do rito em preparar a interioridade humana para exercer o dom da dimensão sacramental. Pela experiência partilhada, um objeto ou um ser tornam-se únicos e preciosos.
A linguagem religiosa e a experiência da fé, como também a linguagem e a experiência amorosa, transcendem a dimensão visível, palpável e plástica da realidade. Uma música eterniza um momento; um objeto carrega uma presença viva, mesmo que distante; uma refeição irradia inesgotavelmente a significação de uma entrega, de uma vida. Gosto de dizer que os sacramentos cristãos, no horizonte da fé, no seio da Igreja, são portadores da realidade divina que se faz próxima, da experiência e do encontro com Deus... Mais ainda, o cristianismo se entende, acima de tudo, como a comunicação da Vida Divina para dentro do mundo. Experimenta-se o mundo, a vida como lugar teológico, ou seja, como mediação indispensável para a experiência da transcendência de Deus.
Para as pessoas de fé, as coisas e os gestos do mundo humano tornam-se sinais da “realidade transcendente”, fundamento de todas as coisas, Deus. O transcendente é captável na mediação necessária do histórico e imanente. Uma vela, uma flor, uma pedra, um ovo, uma semente, uma criança, um idoso, um copo, d’água, um pedaço de pão, um pouco de vinho, um sim, uma oração, um sorriso, um simples olhar, um gesto... tudo parece ter o poder de revelar o amor de Deus por nós. 
Para a fé cristã, as coisas são portadoras de Deus e lugar do encontro de salvação. A experiência de Deus se dá na mediação da história, nos acontecimentos e na concretude da vida. Todas as coisas e gestos carregam a potencialidade de revelarem o mistério da presença amorosa e salvadora de Deus. Por dom do Criador, o ser humano é co-criador. Ele atribui, gera, alimenta, capta e reconhece esse sentido maior de toda realidade.
Aqui somos levados a perceber com clareza a incontornável questão: é legítimo conceber e esperar a realização dos profundos anseios humanosou somos condenados a viver de esperança? O que é o homem? 
Antes de adentrarmos para a parte final de nossa reflexão, queremos mostrar que o ser humano é um autêntico criador de ideais, um criativo engendrador de utopias. Não encontramos realização plena no acolhimento da realidade tal qual nos é dada. Essa insatisfação visceral nos leva caminhar em busca de uma realização para além dos limites do histórico e geográfico. 
III – O SER HUMANO NO HORIZONTE DA EXPERIÊNCIA E DA ESPERANÇA CRISTÃS
A experiência cristã se fundamenta na vida do galileu Jesus de Nazaré, um judeu marginal, cuja vivência da experiência religiosa possibilitou ao seus discípulos nova compreensão de Deus e do ser humano, propriamente dito, no projeto de Deus. Essa experiência é anunciada como a plenitude da revelação da transcendência de Deus. Nas palavras bíblicas que abrem a Carta aos Hebreus diz que:
“Muitas vezes e de modos diversos falou Deus, outrora, aos nossos Pais pelos profetas; agora, nestes dias que são os últimos, falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e pelo qual fez os séculos. É ele o resplendor de sua glória e a expressão do seu ser;” (Hb 1, 1-3a)
A vida de Jesus, seus gestos e ensinamentos, passou a ser concebida e anunciada como o critério e a referência básica do que é a vida humana segundo o projeto original do Criador. Jesus é apresentado, na experiência cristã, como o homem por excelência e o caminho de acesso à Deus. Para o credo cristão, nele se encontra a chave de compreensão de quem é Deus e de quem é o ser humano.
Jesus, enquanto situado na tradição judaica, recebeu uma cultura que concebia o ser humano como “unidade plural”, formada por estrutura unitária e tridimensional. O ser humano é carne, alma e espírito. Em sua totalidade é carne, enquanto é imanente nesse mundo, situado histórica e geograficamente, enquanto ser de relações históricas, sociais, políticas, econômicas, culturais. Em sua totalidade é alma, enquanto é ser vivente, possuidor do dom da vida, enquanto ser de liberdade, vontade, desejo, mas também identidade, individualidade, interioridade, sentimentos. Em sua totalidade é espírito, enquanto recebeu o dom de ser interlocutor de Deus. Ele é abertura radical para Deus, enquanto é dotado com o dom da fé, o dom de acolher ou rejeitar a revelação do amor de Deus.
Para a fé cristã, Deus criou o universo e o homem com a finalidade de auto-comunicar-se a nós, ou seja, para revelar o amor que lhe constitui. Deus criou o mundo e a vida porque é Amor! Por ser amor, criou o ser humano à sua imagem e semelhança. Criou um ser com autonomia, livre e responsável, capaz de amar, capaz de acolher o seu divino amor ou rejeitá-lo, capaz de abrir-se à transcendência e de experimentar a presença de Deus enquanto um impulso interior para a plenitude. Nas palavras dos santos padres, Deus criou um ser “capax Dei”. Por essa visão teleológica, percebe-se o que significa para a fé cristã, ter encontrado em Jesus Cristo, a chave de compreensão do sentido último da criação e, portanto, da vida humana.
Jesus, a partir da tradição judaica, recolheu enquanto herança cultural, a experiência religiosa dos pais da fé, Abraão e Sara, Jacó e Raquel, Moisés, Séfora, Mirian e Aarão, Josué, Rute, Débora e Samuel, Davi e Salomão, dos profetas Elias e Elizeu, Isaías, Jeremias e Ezequiel, Oséias e Amós, dentre tantos outros. Estes se abriram, experimentaram e testemunharam a presença da transcendência de Deus na imanência da história. Presença libertadora amalgamada na dinâmica dos acontecimentos históricos, promovendo e dando forças ao ser humano para enfrentar os desafios de conquistar, zelar e cuidar da dignidade da vida. Jesus foi capaz de vivenciar em plenitude e de modo inédito, a presença libertadora de Deus. Experimentou-a de forma incomparável, enquanto fonte de luz, sentido, força, sustento, liberdade, esperança e paz. Uma experiência que capacitava a olhar de modo mais profundo todas as coisas. Captou essa presença sob a forma de uma proximidade amorosa e libertadora, que se enunciava em todas as coisas. É o chamado pan-en-teísmo cristão. �Uma presença que promove, sem anular ou substituir a deliberação e o empenho humano, em direção à vida plena, ao amor e à justiça. 
Jesus descrevia e testemunhava essa proximidade vital de Deus como a experiência de uma criança de colo diante do Abba querido. Um papaizinho amoroso que está sempre junto de seu (sua) filhinho (a), enquanto fonte e horizonte de segurança, amparo, afeto e amor. Esse modo terno de referir-se a Deus possibilitou aos seus discípulos não somente reverem a forma de compreender a Deus, como também a perceberem, de modo totalmente novo, quem somos nós para Deus Criador e qual o sentido da nossa existência. Essa experiência dos discípulos foi sintetizada por João com as seguintes palavras:
“Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, pois, o amor é de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conheceu a Deus, porque Deus é Amor. Nisto se manifestou o amor de Deus por nós: Deus enviou o seu Filho único ao mundo para que vivamos por ele. Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele quem nos amou e enviou-nos o seu Filho”. (1 Jo 4, 7-10)
	Para a fé cristã, a experiência do amor gratuito e primeiro do Criador oferece horizonte de sentido para nossa existência e nos dá o dom de abrir-se e aperceber-se da transcendência divina no meio de nós. 
Situados no interior dessa experiência religiosa sentimo-nos à vontade para dizer que a imanência histórica é a condição de possibilidade de existirmos em nossa finitude criatural, mas é no dom da transcendência que captamos a riqueza de dons que o Criador nos dotou. 
A dimensão de transcendência responde aos nossos anseios de libertação. Percebemos através dela que somos mais do que meros mortais. Ela nos permite conquistar sempre novas possibilidades no amor e na busca de expressar nossos sentimentos. 
Em Jesus Cristo percebemos que fomos criados pelo Amor, que somente no Amor encontramos autêntica fonte de sentido e que, portanto, nosso destino último é a comunhão com o Amor, a comunhão com Deus. Cabe aqui evocar o testemunho orante de Agostinho, expresso em seu livro de Confissões: "Senhor, criaste-nos para Vós, e nosso coração está inquieto e não tem paz enquanto em Vós não repousar".
CONCLUSÃO
Em que medida nós conquistamos o objetivo proposto, quem dirá é você leitor. Procuramos mostrar que a dimensão de transcendência não é apenas um grito primal, mas sinal sagrado da irredutibilidade humana. Ela revela a “pegada” de Deus em nós. O dom da transcendência é a “assinatura do Autor da vida” em nós. Ela anuncia que participamos da vida divina, que carregamos o dom de ser portadores da presença de Deus na imanência do mundo. Somos templos de Deus (1 Cor 6, 19).
O que afirmamos, de modo especial, na terceira parte está entre os elementos centrais da reflexão teológica cristã. Formam os pilares epistemológicos da antropologia teológica cristã. 
À título de conclusão, nos valemos, uma vez mais, de uma das preciosas poesias de Paulo Gabriel, homem do nosso tempo, homem de Deus:
PROFECIA
Houve um tempo 
Em que eu queria desvelar o mistério
Aquele segredo escondido 
Atrás da aparência visível.
Agora sei 
Que é preciso silenciar o nome 
E manter acesa a chama na penumbra.
É no silêncio que o mistério habita!
Preciso da solidão
Como esta orquídea precisa de meus olhos.
Minha consciência agora é física
E porque mergulhei fundo na matéria
Nado nas nuvens como um pássaro de carne.
Nada mais sei já do medo
Porque há dentro de mim um rio enorme
E dele emana a música e a seiva
Para sair deste labirinto obsceno e pós-moderno 
Só há um caminho:
Extasiar-se diante do coração despido 
E de joelhos adorar o inominável
Mastigando devagar a alma de tudo o que existe.�
	Que, nesses tempos sombrios que atravessamos, tempos em que se perdeu a clareza da dignidade da vida, saibamos, com sabedoriaencontrar o sentido da vida. Que encontremos na experiência da fé a sabedoria de ver todas as coisas pelo prisma da presença de Deus. Que a experiência da fé cristã nos capacite a encontrar a presença divina em todas as coisas e seres, de modo especial, na própria vida humana.
� O autor é mestre em Teologia Sistemática pela FAJE – Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. É professor de Cultura Religiosa e Filosofia da PUC-MG e de Educação Religiosa e Teologia Colégio Loyola. É coordenador do Curso de Teologia Pastoral do Centro Loyola de Espiritualidade, Fé e Cultura e professor de Teologia do IRPAC – Instituto Regional de Pastoral Catequética. Email: ednmbg@gmail.com
� Cf. RAMPAZZO, Lino, Antropologia, religiões e valores cristãos, São Paulo: Loyola, 2004, p. 67.
� Todo o livro vale a pena, pois, Paulo Gabriel conseguiu reunir preciosa coletânea de poesias repletas de amor e sensibilidade. Cf. GABRIEL, Paulo, Nesta noite eu conspiro, Belo Horizonte: Mazza Edições, 2004, p.36.
� Na verdade a afirmação do filósofo existencialista Jean Paul Sartre é que a existência precede a essência. Sua posição é mais radical e vai além do que pretendemos demonstrar, ou seja, a legitimidade e obviedade da dimensão de imanência na vida humana. Para Sartre "significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e só depois se define", ou seja, o ser humano é, não apenas como ele se concebe, mas como ele quer que seja, se concebe depois da existência e como se deseja após este impulso para a existência. Pode-se dizer que , para ele, o homem não é mais que o que ele faz.
� Cf. Título original: City of Angels, Direção: Brad Silberling, Roteiro: Dana Stevens, Gênero: Romance, 114 minutos, EUA, 1998. Filme baseado na obra de Wim Wenders. Disponível em: <http://www.adorocinema.com/filmes/cidade-dos-anjos/cidade-dos-anjos.asp>. Acesso em 09 set 2007.
� Cf. BOFF, Leonardo, Tempo de Transcendência. O ser humano como um projeto infinito, Rio de Janeiro: Ed. Sextante, 2000. 
� Cf. ARDUINI, Juvenal, Estradeiro: para onde vai o homem?, São Paulo: Paulinas, 1987.
� Esta conhecida expressão atribuída ao filósofo Heiddegger merece reflexão. Segundo Julián Marias, a expressão de Heiddegger “sein zum Tod” é mal traduzida como ser-para-a-morte. Ele prefere compreendê-la no sentido de que o homem está sempre à morte, está na possibilidade de morrer, está em potência próxima de morrer, está exposto à morte, ou seja, é um estar aberto à morte, estar nessa possibilidade próxima, real, eficaz. Cf. MARIAS, Julián, Los estilos de la Filosofía, Madrid: Edição Jean Lauand, 1999. Disponível em: <http://www.hottopos.com/harvard4/jmshdg.htm>. Acesso em: 10 set. 2007.
� Pensamento citado por Jostein Gaarder na abertura de seu livro, que não consegui a referência direta. Cf. GAARDER, Jostein, O mundo de Sofia. Romance da história da Filosofia, São Paulo: Cia das Letras, 1995, p. 7.
� Há dois livros complementares do teólogo Leonardo Boff que desenvolve essa temática antropológica através da metáfora da “a águia e a galinha”, ou seja, das dimensões de transcendência e imanência da vida humana. Cf. BOFF, Leonardo, A águia e a galinha. Uma metáfora da condição humana, Petrópolis: Vozes, 1997 e Id., O despertar da águia: o dia-bólico e o sim-bólico na construção da realidade, Petrópolis: Vozes,1998.
� Digno de nota é a maravilhosa produção cinematográfica intitulada “A Jornada do Homem”, que expressa o sentido vida humana através da arte circense do Cirque du Soleil. Dirigido por Keith Melton e produzido por Peter Wagg e André Picard. Cf. SOLEIL, Cirque du, Journey of Man, Canadá, Sony Pictures Entertainment,1999.
� TORRES QUEIRUGA, A., Recuperar a Salvação. Por uma interpretação libertadora da experiência cristã, São Paulo: Paulus, 1999, p. 100. 
� Cf. id., ibid., p. 102. Remeto ao leitor à minha dissertação de mestrado, no ponto em que desenvolvi com mais amplitude essa temática e suas implicações na experiência cristã. GUIMARÃES, Edward N. M. B., Cristianismo e Modernidade. A crise do cristianismo pré-moderno e as pistas para sua configuração atual na obra de Torres Queiruga, Belo Horizonte: FAJE, Dissertação de Mestrado, 2006, p. 112-125.
� O termo “transubstanciar” encontra-se entre aspas como recurso para chamar a atenção e deixar claro que não se trata de compreendê-lo no sentido literal, ou seja, de operar uma transformação física da substância. É um termo que indica que o objeto ou a substância significa e expressa compreensão maior, para além de sua pura materialidade. O que interessa, portanto, não é o objeto ou substância em si, mas a realidade transcendente para a qual indica, aponta ou revela através da significação pelo símbolo.
� Leonardo Boff, no capítulo III de seu livro sobre os sacramentos, conta a história de um precioso “toco de cigarro”, narra uma experiência familiar profunda e de rara beleza: na ocasião da morte do pai, encontrava-se ele em oceânica distância física. Ele estava em Munique, Alemanha, quando seu pai faleceu no Brasil em 1965, Na ocasião recebeu uma carta da família. Sua irmã envia-lhe, dentro do envelope, o toco do último cigarro fumado pelo pai antes da morte. De agora em diante, pelo dom que o homem tem de “transubstanciar” as coisas, esse toco de cigarro deixou de ser um toco de cigarro qualquer. Passou a evocar realidade maior: a vida do pai ausente fisicamente. Cf. BOFF, Leonardo, Os sacramentos da vida e a vida dos sacramentos. Mínima sacramentalia, Vozes: Petrópolis, 1975, p. 21-25.
� Entre meus objetos pessoais, se destaca uma concha do mar. A guardo com carinho e zelo, pois, tem o poder de portar intensa experiência de amor, ainda que vivida em passado distante em minha mocidade: no momento da separação física, entre as lágrimas da despedida e a dor do coração inconsolado, dois jovens enamorados dividem um par de conchas, cada qual beija sua metade e dá ao outro diante da impossibilidade de continuarem juntos. A concha eterniza o momento. Assume a dimensão sacramental do amor. Já não é mais a simples concha de antes. Tornou-se sacramento do amor vivido.
� Cf. SAINT-EXUPÉRY, Antoine de, O pequeno Príncipe, Agir: Rio de Janeiro, 23ª edição, 1981.
� O termo panenteísmo foi criado pelo pensador alemão Christian Krause (1781-1832) para designar sua doutrina, caracterizada como uma síntese entre o teísmo e o panteísmo, pois calcada na suposição de que a totalidade do universo está situada no interior de uma única divindade primordial. Em nosso modo de conceber, o pan-en-teísmo à luz da fé cristã adquire sentido profundamente teológico. Significa que Deus está presente – é o que sustenta e faz ser, com sua infinitude positiva e absoluta –, em todas as coisas e seres finitos, sem que tudo seja reduzido a Deus. As coisas e os seres não são Deus e nem se confundem com Ele. Além disso, como Deus está presente em todas as coisas e seres, o olhar da fé cristã concebe todas as coisas e seres como sagrado, lugar potencial de manifestação e encontro com Deus. Portanto não significa compartilhar das visões panteístas.
� Cf. Cf. GABRIEL, Paulo, op. cit., p.55.
�PAGE �
�PAGE �5�

Outros materiais