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APOSTILA COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO 2013 PROFA IVANI para o aluno

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UNIP-UNIVERSIDADE PAULISTA
CAMPUS SOROCABA
APOSTILA DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
PROFESSORA:
 Ivani Vecina Abib
SOROCABA/ SP
2013
SUMÁRIO
UNIDADE 1: Texto e contexto: conhecimento linguístico, conhecimento enciclopédico ou conhecimento de mundo, conhecimento interacional;..........4
UNIDADE 2: Texto e contexto, contextualização na escrita; .............................8
UNIDADE 3: Intertextualidade;.........................................................................13
UNIDADE 4: As informações implícitas: pressuposto e subentendido;............19
UNIDADE 5: As condições de produção do texto: sujeito (autor/leitor), o contexto (imediato/histórico) e o sentido (interação/interpretação);................. 21
 UNIDADE 6: A alteração no sentido das palavras: Metáfora e Metonímia...25
UNIDADE 7: Os procedimentos argumentativos em um texto........................28
UNIDADE 8: O artigo de opinião e o texto crítico (resenha), enquanto gêneros discursivos.......................................................................................................43
OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS
1. Ampliar os conhecimentos e vivências de comunicação e de novas leituras do mundo; 
2. Propiciar a compreensão e valorização das linguagens utilizadas nas sociedades atuais e de seu papel na produção de conhecimento;
3. Vivenciar processos específicos da linguagem e produção textual: ouvir e falar; ler e escrever – como veículos de integração social;
4. Desenvolver recursos para utilizar a língua não apenas como veículo de comunicação, mas como espaço constitutivo da identidade, nas produções acadêmicas;
5. Seu universo lingüístico, incorporando recursos de comunicação oral e escrita;
6. A capacidade de leitura e redação, a partir da análise e criação de textos;
7. O pensamento analítico e crítico, estabelecendo associações e correlações de conhecimentos e experiências;
8. Seus recursos pessoais para identificação, criação, seleção e organização de idéias na expressão oral e escrita;
9. A atitude de respeito ao desafio que constitui a interpretação e construção de um texto.
UNIDADE 1: TEXTO E CONTEXTO: CONHECIMENTO LINGUÍSTICO, CONHECIMENTO ENCICLOPÉDICO E OU CONHECIMENTO DE MUNDO, CONHECIMENTO INTERACIONAL;
Concepção de leitura:
Numa visão centrada na interação, entendendo-se a leitura como processo dialógico. Conforme a tese de Bakhtin (2003), o leitor pode construir compreensões diferentes das contidas no texto e/ou pretendidas pelo autor, a partir de hipóteses e inferências que lhe permitem posicionar-se diante do texto lido. Ou seja, “o leitor, ao construir o sentido do texto, o faz baseando-se em seus valores sociais, seus conhecimentos prévios e suas experiências de vida” (Souza, 2003, p.97). Esse processo é de natureza sociointerativa, uma vez que as hipóteses e inferências são constituídas a partir de conhecimentos, crenças, valores, costumes etc. que, a um só tempo, resultam de determinados padrões de cultura e contribuem para que essa cultura se construa e reconstrua, num movimento recíproco, como constituída e constituinte, segundo a visão de Bourdieu (1998). 
Assim, não só o leitor constrói os sentidos do texto, como também constrói a si mesmo a partir do texto, e essas construções repercutem, de alguma forma, no âmbito social. Além disso, é preciso considerar que um texto sempre está relacionado a outros textos (Bakhtin, 2003; Silva, 2003; Souza, 2003) e que a percepção dessa intertextualidade é fundamental no processo da leitura. É essa dimensão que oportuniza ao leitor a interação, não apenas com o texto que lê, mas através dele com muitos outros textos e autores, que se relacionam uns com os outros, formando redes de informação, de pensamento, de sentido, que são constituídas ao longo do processo histórico.
A interação texto e leitor:
É essencial por parte do leitor uma posição ativa diante do texto para que seja possível “entrar” nele. É preciso que o leitor mobilize seu conhecimento prévio e suas experiências. A leitura baseia-se na percepção e na interpretação dos elementos linguísticos do texto, e como já sabemos, é um processo interativo entre o leitor e um texto.
Como processo interativo entre um leitor e um texto, a leitura pode ser tratada em termos de competência comunicativa. Um leitor que tenha competência comunicativa é aquele que poderá entender um texto da maneira como o escritor queria que fosse entendido, porém, leituras diferentes podem ocorrer e são determinadas por compreensões diferentes do tema em questão.
Se dissermos que existem leituras erradas, podemos também ser acusados de acreditar que só há uma leitura correta, o que não é verdadeiro, já que existem várias interpretações possíveis para um mesmo texto.
Leitura e produção de sentido do texto:
Segundo (KOCH, 2003, 30). Um texto se constitui enquanto tal no momento em que os parceiros de uma atividade comunicativa global, diante de uma manifestação linguística, pela atuação conjunta de uma complexa rede de fatores de ordem situacional, cognitiva, sociocultural e interacional, são capazes de construir, para ela, determinado sentido.
 Nota-se assim que “[...] o sentido não está no texto, mas se constrói a partir dele, no curso de uma interação” (KOCH, 2003, 30) e para que os indivíduos construam um sentido “[...] faz-se necessário o recurso aos vários sistemas de conhecimentos e a ativação de processos e estratégias cognitivas e interacionais”. 
Conhecimento Prévio: linguístico, textual e de mundo.
A compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela utilização de conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo de sua vida. Pode-se dizer talvez que sem o engajamento do conhecimento prévio do leitor não haverá compreensão. O conhecimento linguístico, o conhecimento textual e o conhecimento de mundo devem ser ativados durante a leitura para o leitor poder chegar ao momento da compreensão, momento esse em que as partes discretas se juntam para criar um significado.
O conhecimento linguístico
O conhecimento linguístico, que abrange desde o conhecimento sobre como pronunciar as palavras em uma língua, passando pelo conhecimento de vocabulário e regras gramaticais, chegando até o conhecimento sobre o uso da língua, desempenha um papel central no processamento do texto. Entende-se por processamento aquela atividade pela qual as palavras, ou seja, unidades discretas e distintas, são agrupadas em unidades ou fatias maiores, também significativas, chamadas constituintes das frases. À medida que as palavras são percebidas, a nossa mente está ativa, ocupada em construir significados, e um dos primeiros passos nessa atividade é o agrupamento destas palavras em frases com base no conhecimento gramatical de constituintes. Este conhecimento linguístico permitirá que o processamento do texto continue, até se chegar eventualmente à sua compreensão.
	Como exemplo de conhecimento linguístico, temos a coesão e coerência textual: 
A coesão textual pode ser conceituada como o fenômeno que diz respeito ao modo como os elementos linguísticos presentes na superfície textual se encontram interligados entre si, por meio de recursos também linguísticos, formando sequências veiculadoras de sentidos. (KOCH: 2003, 45)
Já a coerência textual, diz respeito ao modo como os elementos subjacentes à superfície textual vêm a constituir na mente dos interlocutores, uma configuração veiculada de sentidos. (KOCH, 2003, 52).
Observem as seguintes expressões:
a) Maria foi ao cinema, mas está feliz.
mas: expressa idéia contrária. A coerência está comprometida.
 b) Eu tenho um gato.
Meu gato é bonito. Gosto muito do meu gato. Meu gato come peixe.A coesão está comprometida
Conhecimento textual
O conhecimento textual diz respeito, a saber, por exemplo, de que gênero se trata o texto, qual a sua tipologia, as características desses gêneros textuais, linguagem verbal e não-verbal etc.
Observe o texto a seguir: A polícia revista criança em favela do Rio.
-Achou alguma coisa? - Nenhum futuro.
Quem conhece o gênero charge, saberá de pronto a intencionalidade pretendida pelo autor, explorando a linguagem verbal e não-verbal.
O conhecimento de mundo 
O conhecimento do mundo, como sinônimo de conhecimento enciclopédico, diz respeito às informações sobre determinado tópico, armazenadas na memória do leitor. Metodologicamente, essa delimitação de termos possibilita maior objetividade e clareza, assegurando níveis de compreensão mais adequados.
Apesar dessa distinção, é importante considerar que a natureza do conhecimento que o leitor já possui, seja num nível mais geral ou mais específico, é, em alguma medida, semelhante do ponto de vista cognitivo, já que se trata do armazenamento dos conhecimentos ou experiências anteriormente vivenciados.
A charge apresentada traz uma ironia com relação a uma situação que ocorre no Rio de Janeiro. Assim, aquele que tem acompanhado os fatos, terá um conhecimento de mundo armazenado que tornará fácil a compreensão do texto.
Texto para reflexão: A VOVÓ NA JANELA
	Em uma pesquisa internacional sobre aprendizado de leitura, os resultados da Coréia pareciam errados, pois eram excessivamente elevados. Despachou-se um emissário para visitar o país e checar a aplicação. Era isso mesmo. Mas, visitando uma escola, ele viu várias mulheres do lado de fora das janelas, espiando para dentro da sala de aula. Eram as avós dos alunos, vigiando os netos, para ver se estavam prestando a atenção nas aulas.
	A obsessão nacional que leva as avós às janelas é a principal razão para os bons resultados da educação em países co etnias chinesas. A qualidade do ensino é um fator de êxito, mas, antes de tudo, é uma conseqüência da importância fatal atribuída pelos orientais à educação.
	Foi feito um estudo sobre níveis de stress de alunos, comparando americanos com japoneses. Verificou-se que os americanos com notas muito altas eram mais tensos, pois não são bem-vistos pelos colegas de escolas públicas. Já os estressados no Japão eram os estudantes com notas baixas, pela condenação dos pais e da sociedade.
	Pesquisadores americanos foram observar o funcionamento das casas de imigrantes orientais. Verificou-se que os pais, ao voltar para a casa, passa a comandar as operações escolares. A mesa da sala transforma-se em área de estudo, à qual todos se sentam, sob seu controle estrito. Os que sabem inglês tentam ajudar os filhos. Os outros- e os analfabetos- apenas vigiam. Os pais não se permitem o luxo de outras atividades e abrem mão da TV. No Japão, é comum as mães estudarem as matérias dos filhos, para que possam ajudá-los em suas tarefas de casa.
	Fala-se do milagre educacional coreano. Mas fala-se pouco do esforço das famílias. Lá, como no Japão, os cursinhos preparatórios começam quase tão cedo quanto a escola. Os alunos mal saem da aula e têm de mergulhar no cursinho. O que gastam as famílias pagando professores particulares e cursinhos é o mesmo que gasta o governo para operar todo o sistema escolar público.
	Esses exemplos lançam algumas luzes sobre o sucesso dos países do Leste Asiático em matéria de educação. Mostram que tudo começa com o desvelo da família e com sua crença inabalável de que a educação é o segredo do sucesso. Países como Coréia, Cingapura e Taiwan não gastam muito mais do que nós em educação. A diferença está no empenho da família, que turbina o esforço dos filhos e força o governo a fazer a sua parte.
	É curioso notar que os nipo-brasileiros são 0,5% da população de São Paulo. Mas ocupam 15% das vagas da USP. Não obstante, seus antepassados vieram para o Brasil praticamente analfabetos.
	Muitos pais brasileiros de classe média achincalham nossa educação. Mas seu esforço e sacrifício pessoal tendem a ser ínfimos. Quantos deixam de ver TV para assegurar-se de que os seus pimpolhos estão estudando? Quantos conversam frequentemente com os filhos? As pesquisas mostram que tais gestos têm impacto enorme sobre o desempenho dos filhos. Se a família é a primeira linha de educação e apoio à escola, que lições estamos dando às famílias mais pobres?
	O Ministério da Saúde da União Soviética reclamava contra o Ministério da Educação, pois julgava que o excesso de horas de estudo depois da escola e nos fins de semana estava comprometendo a saúde da juventude. Exatamente a mesma queixa foi feita na Suíça.
	No Brasil, uma pesquisa recente em escolas particulares de bom nível mostrou que os alunos do último ano do ensino médio disseram dedicar apenas uma hora por dia aos estudos – além da aulas. Outra pesquisa indicou que os jovens assistem diariamente a quatro horas de TV. Esses são os alunos que dizem estar se preparando para vestibulares impossíveis.
	Cada sociedade tem a educação que quer. A nossa é péssima, antes de tudo, porque aceitamos passivamente que assim seja, além de não fazer nossa parte em casa. Não podemos culpar as famílias pobres, mas e a indiferença da classe média? Está em boa hora para um exame de consciência. Estado, escola e professores têm sua dose de culpa. Mas não são os únicos merecendo puxões de orelha.
 Cláudio de Moura Castro
 (economista)
UNIDADE 2: TEXTO, CONTEXTO, CONTEXTUALIZAÇÃO NA ESCRITA
Texto = Unidade linguística concreta da comunicação. Ele não é um aglomerado de frases. Uma mesma frase pode ter significados distintos dependendo do contexto. As frases têm que se encaixar no contexto para formarem um todo significativo.
Contexto = É uma unidade linguística maior onde se encaixa uma unidade linguística menor. Assim, a frase encaixa-se no contexto do parágrafo, o parágrafo encaixa-se no contexto do capítulo, o capítulo encaixa-se no contexto da obra toda.
Contexto discursivo = Dá-se através dos seguintes elementos: papéis sociais; intenção do locutor; conhecimento de mundo do interlocutor; circunstâncias históricas e sociais. É a situação na qual é produzido o texto.
Interação linguística ( comunicação) = dependerá do contexto discursivo para acontecer.
             Ao conjunto da atividade comunicativa, ou seja, ao texto e ao contexto discursivo reunidos, chamamos discurso.
                        Discurso = texto + contexto discursivo
Textualidade, coerência e coesão = As relações existentes entre as palavras, frases e idéias é que fazem um texto apresentar textualidade, ou seja, ser um todo significativo e não um aglomerado de palavras e frases desconexas. Entre os fatores que contribuem para formar a textualidade, há a coesão e a coerência.
 
Coesão e Coerência
Coesão =  São articulações gramaticais existentes entre palavras, orações, frases, parágrafos e partes maiores de um texto que garantem sua conexão sequencial. Diz-se que um texto tem coesão quando seus vários enunciados estão organicamente articulados entre si, quando há concatenação entre eles. São várias as palavras que assumem, num texto, a função de conectivo: preposições; conjunções; pronomes; advérbios.
 Ex: _ Quando meu filho pôs um piercing dei a maior força! Aí , ele quis colocar outro e outro, e outro... Achei todos legais, bonitos... Mas, eu alertei ... que ele poderia ter problemas.  
 O que garante o encadeamento semântico de um texto é sua coesão, isto é, a maneira de recuperar, em uma sentença B, um termo presente em uma sentença A. Em "Chame os meninos e dê-lhes o presente", o pronome lhes da segunda sentença recupera semanticamente o termo meninos. Trata-se de coesão textual. A sentença também expressa que foi feito um período compostode duas orações coordenadas e ligadas pela conjunção e que também é elemento de coesão e dá coerência ao texto. A língua dispõe de amplos recursos para garantir a coerência do texto. São os mecanismos de coesão. Esses mecanismos podem ser representados por:
emprego adequado de tempos verbais: Embora não estivessem gostando muito, eles participavam da festa. (verbos no pretérito imperfeito)
emprego adequado de pronomes, conjunções, preposições, artigos: O papa João Paulo II visitou o México. Na capital mexicana, Sua Santidade beijou o chão.
Emprego adequado de vocabulário.
 
Quebra de coesão textual: Regências incorretas, concordâncias incorretas, frases inacabadas, erro de acentuação e crase, emprego de conectivos errados etc.; são vários os fatores que podem contribuir para a ruptura da coesão textual. Repare no texto abaixo:
 
Eu sou um jogador onde que sempre sei que vou fazer muito.
Fazem cinco anos que estou na seleção brasileira.
Eu sou um jogador e aí é o problema, todos os jogos que joguei lutei muito para marcar.
Ela é mulher, mas é capaz.
Encontrei apenas belas palavras o qual não duvido da sinceridade de quem as escreveu.
 
Coerência = É o resultado da articulação das idéias de um texto; é a estruturação lógico-semântica que faz com que numa situação discursiva palavras e frases componham um todo significativo para os interlocutores. A coerência faz com que uma simples sequência de palavras ou frases seja considerada um texto. Nos exemplos que vimos acima, a coesão inadequada deixou os textos incoerentes. Entretanto, um texto pode não ter coesão e mesmo assim ser coerente. Leia o texto de Oswald de Andrade que vem a seguir:
 
INFÂNCIA
 O camisolão
O jarro
O passarinho
O oceano
A visita na casa que a gente sentava no sofá
 
ADOLESCÊNCIA
Aquele amor
Nem me fale
 
MATURIDADE
O Sr. e Sra Amadeu
Participam a V. Exa
O feliz nascimento
De sua filha
Gilberta
 
(Oswlald de Andrade. Trechos escolhidos. Rio de Janeiro, Agir, 1967.)
 
O que chama a atenção nesse texto é que não há elementos coesivos a retomar o que foi dito antes ou a encadear os segmentos. Apesar disso, é possível atribuir um significado unitário a ele. Ao lê-lo, logo percebemos que um dos sentidos possíveis é que se trata de flashes de cada uma das três grandes fases da vida: a infância, a adolescência e a maturidade. A primeira é caracterizada pela descoberta do mundo (o oceano), por brincadeiras e travessuras etc.; a segunda é marcada pelo início das experiências amorosas; a terceira é assinalada pela formalidade e pelas responsabilidades. Se a primeira parte é uma sucessão de palavras, se a segunda é uma frase em que falta um nexo sintático e se a terceira é uma participação de nascimento da filha, por que entendemos o texto? Porque é coerente.
Coerência é a relação que se estabelece entre as partes do texto, criando uma unidade de sentido. E a coesão auxilia no estabelecimento da coerência, mas não é algo necessário para que ela se dê. Temos, como vimos, conjuntos linguísticos que são texto porque são coerentes, embora não tenham coesão. 
 As relações existentes entre as palavras, frases e idéias é que fazem um texto apresentar textualidade, ou seja, ser um todo significativo e não um aglomerado de palavras e frases desconexas. Entre os fatores que contribuem para formar a textualidade, há a coesão e a coerência.
Geralmente, quando alguém produz um texto, acha que está sendo claro o suficiente para transmitir o sentido desejado ao interlocutor. Este, por sua vez, também se esforça para compreender a mensagem e, inicialmente, acredita que o texto tem coerência.
Às vezes, porém, ocorrem falhas no processo comunicativo. Por exemplo, o locutor pode não calcular bem o sentido que pretendia dar a seu enunciado, deixando o texto ambíguo, ou o interlocutor, talvez por lhe faltarem conhecimentos sobre o vocabulário ou informações sobre a realidade, pode não alcançar o sentido pretendido pelo locutor.
Assim, em princípio, não existem textos coerentes e coesos em si mesmos. A textualidade está diretamente relacionada ao contexto discursivo, ou seja, à situação que gerou o texto.
          Coerência + coesão + contexto discursivo = comunicação bem sucedida. Você pode ver abaixo alguns exemplos de textos que apresentam problemas de coesão e, consequentemente, de coerência. 
a) A televisão não é perfeita, mas pode se extrair muita coisa boa dela. É o caso da TV Cultura onde há vários programas educativos, excelentes, onde a criança aprende muito. Sendo assim, a televisão não é um estímulo à ignorância e sim um estímulo à sabedoria, só se torna ignorante uma pessoa que teve uma má educação onde aprendeu desde criança as coisas ruins da vida. 
b)  Hoje em dia, a televisão divulga programas impossíveis de crianças, jovem e adultos não ficarem por dentro do que acontecem. Já as crianças a respeito do sexo, as senas da televisão mostra, mas uma pode estar descobrindo o sexo, ou seja, os prazeres da vida. 
c) No Brasil, sempre que se descobre uma corrupção é feito um sensacionalismo em cima e, de repente, surge outro escândalo para abafar o anterior, ou seja, não se têm leis severas onde pessoas que estão envolvidas sejam punidos exemplarmente para que os mesmos não continuem a cometê-los. 
d)   Agora o caso mais surpreendente onde o ser humano pode chegar foi o caso do índio, onde jovens ou animais tocaram fogo nele, pensando que fosse um mendigo; e daí, e se fosse um mendigo? temos que avisá-los que o mesmo também é gente como nós, e qual o sentido de tocar fogo em uma pessoa que não está fazendo mal a ninguém, uma pessoa que por natureza já é sofrido e pobre. Estes animais qual será a punição?  
 
 Exercícios
1)  Quase sempre, o humor das anedotas não está no texto em si, mas na falta de sintonia entre o texto e o contexto discursivo. Leia esta anedota contada por Ziraldo:
Dois garotos brigavam furiosamente na rua.
Um senhor passa por eles e separa a briga.
_ Você não tem vergonha? Bater num menino bem menor que você, seu covarde!
E o menino:
_ O senhor queria o quê? Que eu ficasse esperando ele crescer?
 
(Mais anedotas do bichinho da maçã. 10 ed. São Paulo, Melhoramentos, 1993.)
 
Ao lembrar que um dos participantes da briga era maior do que o outro, o que o homem pretendia?
_______________________________________________________
Pela resposta do garoto, é possível extrair algumas conclusões acerca da interação linguística estabelecida entre eles. Indique-a (as):
 O garoto não ouviu bem o que o homem disse.
O garoto pode ter ouvido e compreendido bem a fala de seu interlocutor, mas não ter concordado com a crítica.
O garoto ouviu, mas não percebeu a intenção comunicativa da fala de seu interlocutor.
Ao receber a mensagem, o garoto não levou em conta um dado cultural do mundo em que vivemos: numa briga deve haver igualdade de condições entre os participantes. 
2)    A maneira como certos textos são escritos pode produzir efeitos de incoerência, como no exemplo: "Zélia Cardoso de Mello decidiu amanhã oficializar sua união com Chico Anysio". É o que ocorre no trecho a seguir:
As Forças Armadas brasileiras já estão treinando 3 mil soldados para atuar no Haiti depois da retirada das tropas americanas. A Organização das Nações Unidas (ONU) solicitou o envio de tropas ao Brasil e a mais quatro países, disse ontem o presidente da Guatemala, Ramiro de León.
 
a)Qual o efeito da incoerência presente nesse texto?
b)      Do ponto de vista sintático, o que provoca esse efeito?
.
 
c)      Reescreva o trecho, introduzindo apenas as modificações necessárias para resolver o problema.
                     
 3)       Às vezes, quando um texto é ambíguo, é o conhecimento que o leitor tem dos fatos que lhe permite fazer uma interpretação adequada do que lê. Um bom exemplo é o trecho que segue, no qual há duas ambiguidades, uma decorrente da ordem das palavras,e a outra, de uma elipse de sujeito.
O presidente americano (...) produziu um espetáculo cinematográfico em novembro passado na Arábia Saudita, onde comeu peru fantasiado de marine no mesmo bandejão em que era servido aos soldados americanos.
                                         (Veja, 9 jan. 1991)
Quais as interpretações possíveis das construções ambíguas?
                       
Reescreva o trecho de modo a impedir interpretações inadequadas.
 c)   Que tipo de informação o leitor leva em conta para interpretar adequadamente esse trecho?
                     . 
 
4)      O pior tipo de defeito que um texto pode ter é significar o oposto do que o redator pretendia. A propósito disso, leia o trecho que segue:
Crime racial – O olho da manchete de página do Diário Catarinense dizia: “Maurício José Lemos Freire, titular do primeiro órgão do mundo a tratar especificamente de casos de racismo, deu palestra em escola em Joinville”. Aí o título botou tudo a perder: DELEGACIA DEFENDE CRIME RACIAL. 
Meu secretário ficou indignadíssimo: 
 "Considerado, que diabo de delegacia é essa que defende o crime racial? Quer dizer que se um monstro qualquer espancar um doce crioulinho como aquele Kennedy da falecida novela Pátria minha, é só correr para a delegacia que estará a salvo???"
 
Parece que é. Fascistas de todo o mundo, acorrei!    (Revista Imprensa, 92 : 31, maio 1995.)
 
            Essa incoerência foi provocada por um problema de estruturação sintática da frase. Qual é ele? Qual seria a versão adequada desse título?
 
  Fonte:
CEREJA, Willian Roberto. Gramática reflexiva: texto, semântica e interação. SãoPaulo, Atual, 1999.
FIORIN, José Luiz e PLATÃO, Francisco. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo, Ática, 2006.
___________________________________. Para Entender o Texto: leitura e redação. 17a ed., São Paulo Ática, 2008.
 
UNIDADE 3: INTERTEXTUALIDADE
Um acontecimento que, apesar de ter existido sempre, somente foi enfatizado nos estudos de linguagem mais recentes. Esse acontecimento é o diálogo que cada texto faz com muitos outros, antigos ou contemporâneos, de tal forma que nenhum texto emerge, absolutamente original, nas nossas interações.
Podemos dizer que tudo o que pensamos, fazemos, falamos ou escrevemos tem a ver com o que muitos pensaram, fizeram, falaram ou escreveram. Da mesma forma, embora nem sempre tenhamos consciência disso, os textos que produzimos são o resultado da influência maior ou menor, mais clara ou quase imperceptível, de outros textos.
O nome desse acontecimento é meio longo, mas consegue designar o que pretende: as ligações entre textos, a intertextualidade. Assim como é impossível imaginar nossas vidas desligadas de todas as outras, é muito difícil pensar na completa desvinculação dos textos que produzimos dos demais, que circulam ou circularam na nossa cultura.
Quando percebemos com clareza o processo da intertextualidade, o papel do ponto de vista e as influências de ambos em nossa vida diária e no contato com as obras de arte, a nossa leitura de mundo torna-se mais crítica e mais sensível.
Dividimos nossa unidade em três seções:
1ª. O diálogo entre textos: a intertextualidade – vai retomar o conceito de intertextualidade e mostrá-la como elemento constante em nossa vida. 
2ª. As várias formas de intertexualidade – vai trabalhar os vários tipos de intertextualidade: da citação à paródia. 
3ª. O ponto de vista – vai discutir o ponto de vista em todo tipo de interlocução.
1ª. O diálogo entre textos: a intertextualidade
É sempre complicado tentar imaginar o que se passou com nossos ancestrais, lá longe, no início da civilização. Mas não é absurdo supor que desde lá os homens exercem influência uns sobre os outros, e que somos hoje o que somos, para o bem e para o mal, como herança das muitas conquistas e dos muitos problemas que as gerações vão legando às seguintes.
A história “mais recente” da humanidade, a partir da Antiguidade, vem mostrando como homens e culturas são capazes de deixar marcas indeléveis para a posteridade. Pense na importância dos gregos e romanos, dos árabes, italianos, franceses, em determinados momentos da nossa história. Pense na influência dos estadunidenses, hoje.
Outro ponto a considerar é que não são apenas fatos “históricos” que contam, nos rumos de nossa vida: fatos miúdos, do cotidiano só nosso, também são marcados por influências diversas, exercidas por pessoas mais próximas de nossa vida, assim como nossa atuação influencia outras pessoas. Enfim, atuamos sobre os outros e somos influenciados pela atuação dos outros.
Um último dado a registrar é o fato de que, sobretudo a partir do final do século XX, na época chamada de pós-moderna, os avanços científicos e tecnológicos, da indústria cultural e da chamada globalização marcam muitos, rápidos e simultâneos movimentos sociais e culturais, que têm traços marcantes, como:
1 – A facilidade de reprodução das manifestações culturais: os equipamentos de cinema, de vídeo, de fotografia e gráficos tornam muito mais acessíveis todos os acontecimentos
e as manifestações, artísticos ou não.
2 – O entrelaçamento dessas manifestações: nada mais pertence a um campo fechado: a arte, as ciências estão agora num campo que não é exclusivo e separado. Nas artes, por exemplo, os recursos de uma linguagem servem às outras manifestações. Aqui, unem-se música, teatro, vídeo num mesmo espetáculo. Ali, um filme se vale do romance, da música, do desenho.
3 – Tais manifestações como expressões coletivas: cada vez mais, percebem-se tais manifestações como expressões coletivas. Nelas interferem muitas pessoas, e também são resultado de muitos outros trabalhos.
Se conhecimentos, ações e valores são em grande parte a herança das gerações anteriores, ou resultam do acesso cada vez mais fácil ao mundo globalizado, o mesmo podemos dizer de nossas interações e, portanto, dos textos que produzimos.
Em todas as situações apresentadas até aqui, percebemos que a “voz” de alguém, ou de uma comunidade, aparece no que fazemos ou dizemos. Em outras palavras: de maneira mais ou menos clara, em extensão maior ou menor, nossos textos retomam outros textos.
Atividade 1
1. Leia em seguida o texto de Millôr Fernandes.
Millôr Fernandes é importante autor de textos poéticos e de teatro, além de jornalista de projeção nacional. Representante histórico de uma imprensa combativa, participou de projetos jornalísticos como O Pasquim, periódico de oposição da década de 60, e Bundas, tentativa de ressuscitar, de certa forma, o jornal anterior. Seus textos jornalísticos são marcados pela crítica e pelo humor, características que você vai poder observar agora.
A – Com que texto dialoga mais claramente o texto de Millôr Fernandes?
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B – Como de alguma forma o autor nos prepara para uma leitura diferente do texto original?
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C – Que diferenças você percebeu entre o texto original e este?
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D – Como o narrador estabelece a diferença entre fome e gula?
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Você já percebeu que, se está claro que podemos aproveitar o pensamento dos outros, está evidente também que esse aproveitamento pode acontecer de muitas maneiras.Quando dizemos que alguém copiou uma ideia nossa, ou que torceu, distorceu, modificou nosso pensamento, estamos mostrando que a intertextualidade pode apresentar-se de várias formas.
2. As várias formas de intertextualidade.
Nem sempre é fácil classificar todas as ocorrências da intertextualidade, uma vez que ela toma extensões e formas muito diferentes, na mesma medida em que o próprio texto tem infinitas possibilidades de realização.
Por exemplo: as adaptações para a televisão, o cinema e o teatro de determinado romance podem ser mais ou menos fiéis ao original. Às vezes, a telenovela funde duas ou três obras de um autor. Em outras casos, ela é “inspirada” em um romance: isso quer dizer que o adaptador se sentiu muito livre para modificar a história, conservando dela apenas alguns pontos, sua questão central ou algumas personagens. Há algumas formas bem identificáveis da intertextualidade:
Atividade : Você conhece a história do Patinho Feio, com toda certeza, um dos contos infantis mais populares em todo o mundo, escrito pelo dinamarquês Hans Christian Andersen.
Faça abaixo o resumo dessa história tal como você a conhece.
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Possivelmente, o resumo que você fez é muito próximo da narrativa de Andersen. Bem simplificado, seria mais ou menos assim: O patinho, ao nascer, era muito diferente dos irmãos, maior e feio. Repudiado por todos, resolve fugir. Vai pelo mundo afora, até que encontra em um lago lindas aves brancas. Encantado, aproxima-se delas, quando percebe sua imagem refletida nas águas, muito parecida com a dos cisnes, que o acolhem como o mais bonito dentre eles.
Você e nós fizemos com a história do patinho feio um tipo de intertextualidade chamada paráfrase. Trata-se da retomada de um texto sem mudar seu fio condutor, a sua lógica. 
Quando alguém diz: “Parafraseando Fulano de Tal…”, está afirmando que vai seguir o pensamento do autor citado. Quando você resume o capítulo da novela, ou conta uma piada que você acabou de ouvir, está usando a paráfrase
Resumos, adaptações, traduções tendem a ser paráfrases. Paráfrase é o tipo de intertextualidade em que são conservados a ideia e o fio condutor do texto original.
Atividade:
A – Temos nesse pequeno conto um narrador-observador. Digamos que ele é até objetivo demais: ao contrário do conto de Andersen, em que o narrador tem uma atitude muito favorável ao patinho, aqui, a falta de ligação com a personagem é desconcertante. Através de que recursos você percebe esse distanciamento?
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B – Além de claramente dialogar com a narrativa de Andersen, há dentro da própria narrativa acima um outro momento de diálogo com o conto clássico, quando o pato parece “prever” um futuro melhor para si. 
a) Esse dado lhe parece aumentar ou diminuir a decepção final?
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b) Qual foi a única novidade que o crescimento trouxe para o patinho?
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Jon Scieszka é um escritor norte-americano de grande projeção. A maioria de seus contos reescrevem os clássicos infantis de um ângulo diferente e de forma sempre humorística. 
Possivelmente, O Patinho Realmente Feio é muito diferente da história que você contou, um pouco antes: o fio condutor rompeu-se, com relação ao conto matriz. A idéia da compensação do sofrimento, da transformação, por exemplo, desaparece aqui.
A narrativa original vem subvertida. Neste caso, temos uma paródia.
Paródia é um tipo de processo intertextual em que o texto original perde sua idéia básica, seu fio condutor. A narrativa é invertida, ou subvertida. Frequentemente, a paródia é crítica e questionadora.
Outros processos da intertextualidade dizem respeito a uma retomada de pontos específicos de determinado texto. Ditados ou frases usados por alguém e que você próprio gosta de repetir. Nesse caso, você usou a citação, comum também nos trabalhos científicos, usada sempre que queremos comentar para comprovar ou para reprovar determinada ideia.
Depois de expressões como “Bem diz minha mãe que…”, ou “Como dizia meu avô ...”, sempre surge uma citação.
A epígrafe é um texto, em geral curto, transcrito no início de outro texto, para indicar que o pensamento desenvolvido nesse último tem a ver com o outro, justifica-se a partir do outro. Ela ocorre tanto em textos literários como científicos.
A referência, como o nome diz, é a lembrança de passagem ou personagem de um texto. Quando alguém diz que se sentiu o “próprio Romário” ou “a própria rainha da Inglaterra”, está se referindo a um jogador de futebol ou à rainha Elisabeth.
A referência bibliográfica está relacionada também com essa prática intertextual: estamos dizendo que lemos muito e que não estamos sozinhos na exposição de nossas idéias. Quando dizemos que alguém é referência em alguma coisa, estamos afirmando que seu pensamento orienta a posição de outras pessoas.
Existe ainda a alusão, que é o aproveitamento de um dado de determinado texto, sem maiores explicitações. Como a alusão não indica a fonte, é um dado mais vago, e o conhecimento do interlocutor é fundamental para percebê-la ou não.
Vale lembrar que nem sempre temos a consciência de que estamos sendo “intertextuais”, da mesma forma que o reconhecimento da intertextualidade pelo interlocutor exige uma razoável “leitura de mundo”.
Depois de tantas retomadas do pensamento alheio, você pode estar se perguntando: onde fica a originalidade dos textos? Na perspectiva da intertextualidade, existe plágio?
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3. O ponto de vista.
Sabemos que o texto ocorre em determinada situação histórico-social e cultural, o que significa dizer que está sempre exposto a transformações. Cada época e cada lugar assimilam os acontecimentos da vida e os interpretam de acordo com seus próprios dados. Isso, que ocorre com a sociedade, ocorre também com cada indivíduo.
Portanto, o diálogo que o sujeito e a sociedade fazem com os textos de outra época e outro lugar apresenta a maneira particular de olhar que têm tal sujeito e tal sociedade. Esse olhar peculiar define o ponto de vista. 
IMPORTANTE:
Os diretores de cinema, os fotógrafos, os pintores, que entendem muito bem dessas coisas, escolhem cuidadosamente de onde vão filmar ou pintar, para dar ao “leitor” a impressão de algum objeto ou pessoa muito grande ou muito pequena. Em outras palavras, eles escolhem o ponto de vista, ou o ângulo de onde vão fazer o leitor ver determinada cena. Com isso, criam a sensação de força e poder, ou de insignificância e desamparo. Aliás, a arte trabalha essencialmente com interpretações, e as grandes obras de arte estão sempre nos convidando a rever o mundo a partir de uma nova ótica. 
Os ângulos diferentes de ver o mundo e suas ocorrências devem nos ajudar a pensar e valorizar a democracia: se a mesma coisa tem muitos lados, não podemos simplesmente determinar que o lado que nós vemos é o melhor, muito menos o único. Essa é uma ilusão autoritária,que nos cabe combater.
E a originalidade? E o plágio? Esperamos que tenha ficado claro que o olhar diferente lançado sobre um texto cria um texto diferente, em alguma medida, original. Se houver uma pura e simples cópia do texto, sem a agregação de nenhum ângulo novo, nenhuma diferença (ainda que seja a síntese) significativa, então temos o plágio, que pode ser mais, ou menos, consciente. Diante do plágio, o melhor é buscar o original, ainda que para usá-lo em outro contexto, não é mesmo?
UNIDADE 4: AS INFORMAÇÕES IMPLÍCITAS: PRESSUPOSTO E SUBENTENDIDO
Não é apenas na nossa experiência de mundo, no contexto da interação ou no conhecimento compartilhado que temos com nossos interlocutores que encontramos as “pistas” para (re)construir o mundo textual. Muitas das informações não precisam ser explícitas porque podemos recuperá-las a partir da significação das próprias palavras e expressões que já foram usadas no texto.
É nas relações lógicas de implicação que construímos os significados implícitos, ao construir ou ler um texto, muitas ideias ou informações nem precisam ser explicitadas porque ficam entendidas na própria situação de interlocução. Há também ideias que ficam implícitas porque decorrem, como, consequência inevitável, de outras já expressas no texto. É especificamente destas últimas que estamos tratando aqui: dos significados implícitos ou implicados.
Numa leitura ou numa conversa, a continuidade de sentidos é proposta pelo elaborador ou autor do texto, mas é na interlocução que se processa a interpretação dos sentidos de um texto. É, portanto, um trabalho conjunto. Por isso, dizemos que “para bom entendedor, meia palavra basta”: o conhecimento partilhado pode suprir muitas informações que nem precisam ficar explícitas.
Uma boa leitura, ou compreensão, de texto provoca o exercício constante de associar informações implícitas às informações explícitas veiculadas. Algumas vezes até nos antecipamos ao que o texto informa. É como se nosso cérebro estivesse o tempo todo montando e desmontando quebra-cabeças: tiramos conclusões de toda a informação que processamos. Essa é mais uma maneira de construir significados implícitos.
Importante!
Chama-se conclusão à informação que decorre, necessariamente, de uma ou mais informações. Assim, numa operação lógica, podemos, a partir do significado de uma idéia, chegar a outra, ou outras, a ela relacionada. O exemplo clássico de raciocínio lógico para chegar a uma conclusão é:
Todos os homens são mortais.
Sócrates é homem.
Conclusão: Logo, Sócrates é mortal.
Atividade :A que conclusões podemos chegar a partir dos seguintes pares de informações?
1.Todos os convidados para a festa da empresa são clientes de prestígio.
Marcelo é cliente da empresa, mas não foi convidado.
Logo, ele_____________________________________________________________
Essa conclusão exemplifica como usamos o raciocínio sobre a articulação entre informações para construir o mundo textual. Quando esse caminho para recuperar informações explícitas fica “bloqueado” – por não fornecer pistas suficientes, por exemplo –, o texto se torna incoerente porque não permite a recuperação das relações lógicas.
Naturalmente esse “jogo de montar e desmontar” também se aplica ao processo de produção de textos: escrevemos sempre pensando em como o leitor “montaria e desmontaria” nossas informações; por isso, é importante que nosso texto marque também as orientações sobre como articular as informações. 
Concluindo: as informações implícitas são percebidas não pelo significado das expressões usadas nas frases, mas por dados do contexto em que a interação acontece. Essas informações podem ficar marcadas gramaticalmente nas frases ou apenas sugeridas pela situação. Essa distinção marca dois tipos de enunciados implícitos: pressupostos e subentendidos 
1.Pressupostos: os pressupostos, embora tragam informações implícitas, são marcados lexicalmente na frase . As informações implícitas decorrem de palavras ou expressões contidas na frase, verdadeiras ou admitidas como tal – são os marcadores de pressuposição. . 
Marcadores de pressupostos: 
a) Adjetivos: André é o meu filho mais esperto .
 b) Verbos que indicam mudança ou permanência de estado: Renato continua emagrecendo. 
c) Advérbios: A produção agropecuária está totalmente nas mãos dos brasileiros. 
d) orações adjetivas: Os brasileiros, que não se importam com a coletividade , só se preocupam com o seu bem-estar e, por isso, jogam lixo na rua, fecham os cruzamentos etc. 
e) conjunções: Frequentei a Universidade, mas aprendi bastante 
2.Subentendidos: Os subentendidos são insinuações não marcadas lexicalmente. São produzidos durante a interação, por conhecimentos partilhados entre os participantes. As informações não são ditas, mas apenas sugeridas, como na frase: 
“ O mérito e a capacidade não são sempre levados em conta.” (quando dirigida a uma pessoa que tenha acabado de receber uma promoção) 
UNIDADE 5: AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DO TEXTO: SUJEITO (AUTOR/LEITOR), O CONTEXTO (IMEDIATO/HISTÓRICO) E O SENTIDO (INTERAÇÃO/INTERPRETAÇÃO);
O que é texto?
Onde está o sentido de um texto: no leitor, autor ou no próprio texto?
O que você entende por contexto?
O sentido está no texto? Se está, por que um mesmo texto é entendido de formas diferentes por diferentes leitores? Por que alguém entende um texto e outra pessoa pode não entender esse mesmo texto? Se o sentido estivesse lá, não seria de se esperar que todos ou entendessem ou não entendessem um determinado texto e, se entendessem, entendessem da mesma forma?
O sentido está na palavra? Está no texto?
Eu martelei o dedo, pregando um quadro. 
Infere-se que foi com um martelo
Passei a noite martelando essa idéia na cabeça. / Passei a noite com essa ideia martelando na cabeça.
Infere-se que foi com um martelo?
Quando dizemos que o sentido está no texto, na verdade, queremos dizer que há elementos lingüísticos que sinalizam um caminho para o leitor. Isso é feito pelas escolhas lexicais e dos mecanismos gramaticais feitas pelo autor.
Por exemplo, quando dizemos:
João é maconheiro
 ou 
b. João é usuário de drogas
Estamos dizendo coisas diferentes. Em (a) João é marginalizado em (b) João é vítima.
O mesmo acontece nas escolhas morfo-sintáticas feitas abaixo
Cigarro, eu não fumo.
Eu não fumo cigarro.
Eu não fumo.
Eu ainda não fumo.
Ela morreu.
Ela foi morta.
Uma boa mulher
Uma mulher boa.
Há também mecanismos lexicais e gramaticais de coesão utilizados pelo autor no momento da escrita do texto, como pronomes anafóricos e outras formas de retomada, artigos, elipse, concordância, correlação entre os tempos verbais, conjunções, preposições, advérbios de seqüência, etc.
Não vamos entrar na discussão sobre coesão e coerência, porque isso vai render mais um monte de páginas. Por hora, basta dizer que a coesão são mecanismos que ajudam o leitor a construir a coerência do texto. O que significa isso? Significa que o texto traz vários elementos lingüísticos que devem ser interrelacionados pelo leitor para construir a coerência ou significado(s) para aquele texto naquela determinada situação. Disso pode-se concluir que:
 - a coerência não está no texto, mas é construída pelo leitor.
 - não há texto sem coesão.
 - a coesão tem pelo menos duas faces: 
- instruções que aparecem no texto.
- a realização dessas instruções pelo leitor.
Ex.: Paulo é um menino levado. Aquele pestinha quase afogou o gato da minha vizinha.
Para compreender essa frase o leitor tem de realizar algumas operações de coesão indicadas no texto. Uma delas é ligar “Aquele pestinha” a “Paulo”, uma vez que esse é o antecedente provável. Outra é ligar “minha vizinha” como sendo a vizinha do narrador e não de Paulo. Essas operações é que são, no final das contas, a coesão.
Vocês estão vendo de ondevem a confusão texto e sentido? Há uma confusão entre texto (produto/físico) e leitura (processo/mental). Para muita gente texto só é texto quando faz sentido, no entanto, uma coisa é o objeto físico e outra coisa é o processamento mental. Como diz o Prof. Milton do Nascimento: “texto é risco no papel e som no ar”. O sentido não está no texto, ele precisa ser construído pelo leitor.
O sentido está no autor, é definido por ele? É difícil e perigoso afirmar isso. O autor no momento da produção do texto tem um sentido e um propósito em mente e procura escolher os elementos linguísticos que ele presume que vão ajudar o leitor a recuperar algo o mais próximo possível do sentido pretendido. Isso não garante que o leitor vá entender exatamente o que o autor pretendia.
O sentido está no leitor? Tudo indica que quem constrói o(s) sentido(s) para o texto no momento da leitura é o leitor, mas isso não significa que ele pode ler como bem quiser. Há, no texto, indicações que ele não pode ignorar. Acreditar que qualquer leitura vale porque devemos respeitar a interpretação feita pelo leitor é jogar por terra dois processos ao mesmo tempo: a leitura e a escrita. Se eu posso ler o que eu quero em qualquer texto, como autor, eu não preciso me preocupar com os elementos que vão compor meu texto, porque o leitor vai entender o que ele quer mesmo. Essa é uma visão extremamente perigosa.
O sentido está no CONTEXTO? Contexto são todas as informações que acompanham o texto colaborando com ele em sua compreensão. Quando discutimos a moral das fábulas, poderíamos ter levantado a hipótese de que a diferença entre os escritores está justamente no motivo de serem de épocas diferentes e terem vivido contextos diferentes. Conhecendo o contexto somos capazes de entender melhor o texto. 
O contexto pode ser imediato ou situacional:
O que se diz Carlos Drummond de Andrade 
	confusão! Que vida! Que talento! Que alívio! Que nada
	
Que frio! Que vento! Que calor! Que caro! Que absurdo! Que bacana! Que tristeza! Que tarde! Que amor! Que besteira! Que esperança! Que modos! Que noite! Que graça! Que horror! Que doçura! Que novidade! Que susto! Que pão! Que vexame! Que mentira! Que Assim, em plena floresta de exclamações, vai se tocando a vida (http://w.portalimpacto.com.br/docs/JoanaVestF3Aula16_09.pdf) 
Nesse poema, o seu sentido está tanto no título “o que se diz”, quanto no último verso “Assim, em plena floresta de exclamações, vai se tocando a vida”, pois são eles que nos faz compreender sobre o que poema está tratando: o fato de nós exclamarmos todos os dias e muitas vezes não percebemos. Observe que os elementos que nos dão sentido ao texto estão no próprio texto, por isso, falamos de um CONTEXTO IMEDIATO. 
O contexto situacional é formado por elementos exteriores ao texto. Esse contexto acrescenta informações históricas, geográficas, sociológicas e literárias, para maior eficácia da leitura que se imprime ao texto. Para isso, exige-se uma postura ativa do leitor, ou seja, é necessário que ele tenha um conhecimento de mundo, a fim de depreender o sentido exigido. 
Esse conhecimento de mundo está ligado à nossa vivência, pois durante a nossa vida, vamos armazenando informações que serão importantes para entendermos e interpretarmos o mundo. Por isso, é fundamental a leitura, assistirmos ao noticiário, irmos a museus, termos contato com pessoas que nos acrescentarão conhecimento. Quando temos suporte para lermos um texto e retirarmos dele o que está além dos seus aspectos linguísticos, a nossa leitura será muito mais prazerosa e consequentemente, o texto será enriquecido, às vezes, reinventado, e até recriado. Faça a leitura desta charge: 
	Qual a leitura que você fez? Você a compreendeu? Do que está tratando a charge? Para compreendê-la é necessário que você observe todos os aspectos que estão envolvidos na construção dessa charge: o que está escrito na lousa, o logotipo que está abaixo da lousa, as pessoas que estão nas carteiras, o que essas pessoas carregam em sua cintura, o que está escrito no balão, a forma como a pessoa que está ensinando diz etc. Quando a observamos, vemos que é uma charge que trata das olimpíadas que ocorrerá no Rio de Janeiro em 2016. Hoje, o Rio é conhecido como uma cidade violenta e há uma grande preocupação quanto à segurança, quando houver as olimpíadas. Nessa charge, os bandidos estão já se preparando para esse evento, pois quando forem “atuar”, farão na língua dos estrangeiros. É claro que para entender isso, tivemos de ativar o nosso conhecimento das línguas portuguesa e inglesa e do nosso conhecimento de mundo, ou seja, recorremos ao CONTEXTO SITUACIONAL
	
A compreensão de um texto vai além da simples compreensão de termos nele impressos; não basta o simples reconhecimento de palavras, parágrafos, é preciso levar em conta em que situação ele é produzido. A compreensão exige do leitor uma sintonia com os fatos situados no seu dia a dia e que aparecem subliminarmente impressos na mensagem textual. 
Isso ocorre também em relação à produção textual, pois todas as vezes em que se produz um texto, seja ele oral ou escrito, ele é determinado por uma série de fatores que interferem, por exemplo, em sua estrutura e na organização de suas informações. Um desses fatores é o interlocutor a quem se dirige o texto. Mesmo na situação em que o indivíduo parece falar consigo mesmo (com os próprios botões), a fala tem como interlocutor a representação de si mesmo que o indivíduo construiu. Assim, sempre que se escreve e sempre que se fala isso é feito tendo em vista um interlocutor, alguém que, obviamente, interfere na produção textual. Nas situações reais de interação, as pessoas levam em conta, dentre outros, os seguintes fatores: 
Daí se vê que toda produção textual é construída a partir e em função desses fatores que configuram o contexto enunciativo, ou seja, todas essas produções textuais são marcadas e definidas pelos lugares/papéis sociais que caracterizam, na situação de interação comunicativa. 
Por que escrevo? Para quem escrevo? 
De onde eu escrevo? 
Que efeitos de sentido quero provocar? 
Que efeitos de sentido NÃO quero provocar? O que sei sobre o assunto de que vou tratar? 
UNIDADE 6: ALTERAÇÃO NO SENTIDO DAS PALAVRAS: A METÁFORA E A METONÍMIA
Lua cheia
Boião de leite que a noite leva com mãos de treva,
pra não sei quem beber.
E que, embora levado
muito devagarinho,
vai derramando pingos brancos
pelo caminho.
 Cassiano Ricardo
As palavras do texto não estão usadas em sentido próprio. "Boião de leite" não significa "vaso bojudo, de boca larga, cheio de leite", mas "lua cheia"; "pingos brancos" significa "estrelas"; "caminho", "rota seguida pela lua em seu movimento no céu".
Cabe, a essa altura, indagar que tipos de mecanismos permitem essa alteração do significado das palavras. Essa mudança baseia-se sempre em algum tipo de relação que o produtor do texto vê entre o significado habitual e o significado novo. Assim, "boião de leite" designa "lua" porque ambos os significados apresentam pontos de interseccão: a forma arredondada e a cor branca (do leite e da lua). "Pingos de leite" e "estrelas" também contêm uma intersecção: o tamanho pequeno e a cor.
Essa relação possibilita ao poeta dar a um termo o significado de outro. Sua funcionalidade no texto é a de apresentar as coisas do mundo, os fatos e as pessoas de forma nova, mais viva, enfatizando certos aspectos da realidade. No poema em questão, apresenta-se a lua no cenário noturno de uma maneira diferente. Consegue-se isso principalmente mostrando a noite como alguém a carregar cuidadosamente em suas mãos um jarro de leite que vai derramando gotas brancas. O texto não explorou os termos habitualmente empregados para descrever o céu noturno, mas termos que normalmente denotam outro tipo de realidade e que, no texto, com novos significados, serem para mostrar o percurso da lua no céu e o surgimento das estrelas.
Dois são osmecanismos básicos de alteração do sentido das palavras: a metáfora e a metonímia. Esses dois recursos são chamados normalmente figuras de palavras. Neste livro, como denominamos figura todo e qualquer termo que remete ao mundo natural (terra, árvore etc.) e, além disso, como metáfora e metonímia são recursos de alteração de sentido, preferimos chamá-las recursos retóricos.
Metáfora
Observe a frase que segue: 0 interior de São Paulo está coberto por doces mares, donde se extrai o açúcar.
O termo "mar" significa "grande massa e extensão de água salgada". Nessa frase, no entanto, pode significar "extensa plantação de cana". Por que se pode alterar o sentido da palavra "mar"? Porque entre os dois significados há uma intersecção, isto é, ambos apresentam traços comuns. No caso, mar e canavial apresentam os seguintes pontos comuns: posição horizontal e grande extensão. Essa mudança de significado é uma metáfora.
Metáfora é, então, a alteração do sentido de uma palavra ou ex‑pressão quando entre o sentido que o termo tem e o que ele adquire existe uma intersecção. Um outro exemplo: A urbanização de São Paulo está sendo feita de maneira criminosa, porque está destruindo os pulmões da cidade.
Pulmão aqui significa árvore. Essa alteração de sentido foi possível porque o significado básico de pulmão e o significado de árvore apresentam uma intersecção: a função de oxigenar.
Como o leitor percebe que um termo é metafórico? Quando, no contexto, a leitura do termo no seu sentido próprio fica inadequada, imprópria. Por exemplo, no poema "Lua cheia", que aparece no início desta lição, a leitura de "boião de leite" como "vaso bojudo, de boca larga" é inadequada na frase "boião de leite que a noite leva", pois a noite não carrega um boião de leite. No entanto, lido como "lua", percebe-se que a frase significa o movimento da lua no céu à medida que a noite avança.
Uma metáfora, uma vez construída, pode estabelecer um plano de leitura metafórica para todo o texto. Assim, em "Lua cheia", depois de ter lido a expressão "boião de leite" como uma metáfora, o texto deve ser entendido no plano metafórico. Assim, "pingos de lei‑te", "derramando" devem ser lidos como "estrelas", "surgindo".
Metonímia
Observe a seguinte frase: Se o desmatamento de nosso território continuar nesse ritmo, em breve não restará uma sombra de pé.
Sombra, no caso, significa árvore, porque entre o significado de ambas as palavras existe uma relação de implicação. Sombra implica árvore, já que a sombra é um efeito produzido pela árvore. Essa mudança de sentido é uma metonímia. Metonímia é, então, a alteração do sentido de uma palavra ou expressão quando entre o sentido que o termo tem e o que adquire existe uma relação de inclusão ou de implicação. Observemos ainda este outro caso:As chaminés deveriam ir para fora da cidade de São Paulo.Chaminé significa aqui fábrica. Essa alteração de sentido ocorre porque o significado básico de chaminé inclui-se como parte do significado do todo, fábrica. Como se pode notar, a metonímia distingue-se nitidamente da metáfora, porque, enquanto esta se baseia numa intersecção de traços significativos, aquela se fundamenta em relações de inclusão e de implicação. Como o leitor percebe que um termo tem valor metonímico? Quando a leitura do termo no seu sentido próprio produz uma inadequação, uma imprecisão de sentido. Por exemplo, quando se diz: No verão, o sol é mais quente do que no inverno, a palavra "sol" não está designando o astro, pois, nesse sentido, seria absurdo dizer que o sol esfria no inverno. No caso, sol significa não o astro (fonte de calor), mas o calor (efeito).Também uma metonímia, uma vez construída, pode estabelecer um plano de leitura metonímica para o restante do texto. Observe o texto seguinte: Comerás o pão com o suor do teu rosto. Esse pão custará lágrimas.
Suor, que é o efeito do trabalho, implicado, portanto, por este, significa aqui trabalho. A partir dessa metonímia, pão deve ser lido como alimento, e lágrimas, como sofrimento.
Há certas metáforas e certas metonímias, já desgastadas pelo uso, que constituem clichês e que devem ser empregadas com extremo cuidado. Dizer, por exemplo, que as nuvens são um alvo tapete só tem razão de ser, num texto, para criar certos efeitos de sentido, como, por exemplo, mostrar que determinado personagem só usa clichês.
EXERCíCIOS
Talvez espante ao leitor a franqueza com que lhe exponho e realço a minha mediocridade; advirta que a franqueza é a primeira virtude de um defunto. Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à consciência; e o melhor da obrigação é quando, à força de embaçar os outros, embaça-se um homem a si mesmo, porque em tal caso poupa-se o vexame, que é uma sensação penosa, e a hipocrisia, que é um vício hediondo. Mas, na morte, que diferença! que desabafo! que liberdade! Como a gente pode sacudir fora a capa, deitar ao fosso as lantejoulas, despregar-se, despintar-se, desafeitar-se, confessar lisamente o que foi e o que deixou de ser! Porque, em suma, já não há vizinhos, nem amigos, nem inimigos, nem conhecidos, nem estranhos; não há platéia. 0 olhar da opinião, esse olhar agudo e judicial, perde a virtude, logo que pisamos o território da morte: não digo que ele se não estenda para cá, e nos não examine e julgue; mas a nós é que não se nos dá do exame nem do julgamento. Senhores vivos, não há nada tão incomensurável como o desdém dos finados.
Assis, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo, Abril Cultural, 1978. p. 54.
Questão 1 Há, no texto, uma oposição entre a atitude do homem vivo e a do homem morto. O autor mostra essas atitudes com metáforas. Separe as metáforas que falam, respectivamente, da atitude dos vivos e da atitude dos mortos.
Questão 2 Observe que as metáforas apontadas acima, que definem a atitude dos vivos e dos mortos, são simetricamente contrárias entre si. Por exemplo, "disfarçar os rasgões e os remendos" é contrário a "deitar ao fosso as lantejoulas". "Trapos velhos" "rasgões", "remendos" significam as coisas que as pessoas devem ocultar dos outros.Que é que as pessoas devem esconder dos outros?
Questão 3 Se "rasgões", "remendos" e "trapos velhos" são coisas a serem ocultadas, que significam "capa" e "lantejoulas"?
Questão 4 Observe os verbos que mostram a atitude dos vivos: calar, disfarçar, embaçar. Revelam um fazer. Os verbos que manifestam a atitude dos mortos indicam ação contrária: sacudir fora, deitar ao fosso e três verbos formados com o prefixo des, que significa oposto de. Analisando o significado dos verbos e dos substantivos, aponte os dois temas opostos revelados pelo texto.
Questão 5 No antepenúltimo período (linhas 13 e 14), há uma metáfora que mostra quem obriga cada homem a calar e a disfarçar. Qual é ela e que significa?
Questão 6 A oposição semântica básica do texto é vida versus morte. Qual dos termos é valorizado positivamente no texto e qual é apresentado de maneira negativa? Justifique sua resposta.
Questão 7 Se a franqueza é a primeira virtude de um defunto, qual é a primeira virtude de um vivo?Orgulho.Desdém.Arrogância.Dissimulação.
UNIDADE 7: OS PROCEDIMENTOS ARGUMENTATIVOS DE UM TEXTO
Tudo que temos visto sobre língua e linguagem nos mostra como nossa própria existência de seres humanos é moldada pela nossa capacidade de agir pela linguagem. Distinguimo-nos de outras espécies animais porque somos capazes de nos constituir humanos pelo exercício da faculdade da linguagem. Assim, cada cultura organiza historicamente seus códigos de comunicação, seja na formação de seu vocabulário e estruturação sintática e semântica, seja na adequação dos textos às situações sócio-comunicativas. Pela linguagem organizamos o saber, a vida. Pela linguagem agimos sobre nossos pares e sobre o mundo. Por isso, todos os seres humanos são, ao mesmo tempo, origem e produtoda linguagem, origem e produto da história que nos leva a construir formas de comunicação e de atuação específicas.
Visto nessa perspectiva, todo uso da linguagem é argumentativo, pois estabelece uma interação com o outro, uma relação de fazer social. E toda linguagem é, assim, um processo sempre em movimento. Toda vez que nos comunicamos buscamos fazer algo, impressionar o outro, buscar reações, convencê-lo. Esse é um uso argumentativo da linguagem, em seu sentido mais amplo. Somos seres argumentativos porque objetivamos algo com o uso da linguagem.
Mas podemos distinguir essa argumentatividade mais ampla, inerente a toda manifestação linguística, de uma argumentatividade mais restrita, que caracteriza especificamente os textos que têm por objetivo explícito convencer: da construção de textos, verbais e visuais, que buscam uma reação do interlocutor ou modificação no seu modo de ver o mundo. Dessa forma, teremos:
1: A construção da Argumentação: Nossas reflexões sobre a linguagem se apóiam na concepção de que usamos as línguas (e a linguagem) não apenas para retratar o mundo ou dizer algo sobre as coisas, mas principalmente para atuar, agir sobre o mundo e as coisas; para produzir resultados a partir de nossas ações linguísticas. Observe o seguinte texto publicitário no seu conjunto de linguagem verbal e visual.
1. Vamos focalizar, primeiramente, a palavra “presente”.
a) Que significado(s) ela assume no texto?
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b) Qual desses significados está mais ligado ao texto visual e ao produto anunciado? Por quê?
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Sabemos que qualquer texto publicitário tem por objetivo maior “vender” um produto ou uma ideia, mas todo ato de comunicação linguística tem também esse objetivo, em maior ou menor grau – só nem sempre é tão explícito. Todas as vezes em que nos engajamos no processo comunicativo, temos a intenção – consciente, ou não; explícita, ou não – de “produzir” alguma alteração, no conhecimento ou no comportamento de nossos ouvintes/leitores.
IMPORTANTE:
Todo ato de linguagem objetiva produzir efeitos de sentido, que podem ser concretizados em ações ou em mudança/reforço de opiniões. Mas nem sempre fazemos isso conscientemente, ou fazemos disso o objetivo maior da nossa interação verbal.
Mesmo que a linguagem sempre cumpra determinados propósitos argumentativos, nem sempre disso temos consciência.
Quando esse aspecto argumentativo da linguagem é explicitamente colocado e um texto, dizemos que se trata de um texto argumentativo. Ou seja, embora toda manifestação linguística procure, de certa maneira, agir sobre o mundo ou sobre os interlocutores, somente quando a intenção explícita de um texto é convencer é que chamamos um texto de argumentativo. Vamos observar como se organiza um texto explicitamente argumentativo.
Leia o texto abaixo, procurando caracterizar o tipo de leitor ao qual ele se destina. 
Treinar em regiões com níveis elevados de poluição atmosférica pode afetar o rendimento. Estudos científicos indicam que isso provoca uma diminuição importante do aproveitamento e da performance. Em geral, a queda na capacidade de sustentar o esforço mais prolongado ocorre acompanhada de problemas respiratórios como tosse, dor ao inspirar e decréscimo da capacidade pulmonar. Uma boa opção é treinar o mais cedo possível, pela manhã, quando a qualidade do ar nas cidades é melhor.
ISTOÉ, 21/1/2004
1. Que características você pode imaginar no “leitor-destinatário” desse texto – o que ele faz, onde vive etc.?
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2. De que ideia o texto pretende convencer o leitor?
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3. Por que você acha que o autor do texto mencionou “Estudos científicos”?
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Como podemos perceber nessa atividade, em um texto argumentativo, as formas de convencimento podem ser muito variadas – vão desde a utilização de estudos científicos até o apelo às sensações físicas do leitor...
IMPORTANTE: Chamamos de estratégias ou recursos argumentativos à variedade de formas de convencimento utilizadas. No texto argumentativo, mais especificamente, chamamos essas estratégias de argumentos. Todos os argumentos de um texto devem conduzir a um único objetivo, ou a objetivos integrados e compatíveis entre si.
Observe como o autor do seguinte texto coloca sua opinião e suas recomendações.
1. De que ideia o texto pretende convencer o leitor?
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2. Como o texto procura fazer isso?
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3. Como estão organizadas, em termos de estruturas linguísticas, de tempos verbais, as “recomendações”?
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4. Que comportamentos se esperam de um leitor convencido das ideias do texto?
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Esse texto busca convencer o leitor acerca de uma ideia principal: Cuidados com a alimentação contribuem para que o processo de envelhecimento transcorra sem sustos.
A essa ideia chamamos tese do texto argumentativo. Para convencer sobre a validade da tese, o texto utiliza várias recomendações em forma de ordens ou instruções; essas “recomendações”, que fornecem a comprovação da tese, constituem os argumentos do texto.
IMPORTANTE!
A tese constitui a ideia principal para a qual um texto pretende a adesão do leitor/ouvinte: é o objetivo de convencimento do leitor/ouvinte. 
Os argumentos são os motivos, as razões utilizadas para convencer o leitor da validade da tese.
 Observe como a conversa entre Hagar e Helga se organiza em torno das crenças de Hagar.
1. De acordo com o texto, no que Hagar acredita?
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2. Que forma de raciocínio lógico sustenta a relação: Hagar é como uma criança?
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As crenças de Hagar refletem um conhecimento de senso comum: crianças acreditam em Papai Noel, crianças ficam excitadas com a proximidade do Natal.
Para os leitores dos quadrinhos, esse diálogo mostra certas qualidades de Hagar que não precisam ser explicitadas, mas que estão claras na forma de apresentação do texto: os sentimentos semelhantes aos de uma criança. Osleitores precisam apenas reconhecer no diálogo entre Hagar e Helga esse conhecimento do senso comum para aderir ao ponto de vista do texto, para acatar sua argumentação.
As proposições matemáticas são outro bom exemplo dessa forma de argumentar: não é necessário provar que 2 mais 2 é igual a 4; que o todo é maior que as partes etc.
Argumentos baseados no senso comum, ou no consenso, são verdades aceitas culturalmente, sem necessidade de comprovação.
Essa forma de argumentar pode se basear também em experiências pessoais, como mostra o texto da próxima atividade, desde que essas experiências sejam reconhecidas pelos interlocutores.
IMPORTANTE:
Argumentos baseados em provas concretas recorrem a cifras, estatísticas, fatos históricos; dão à argumentação uma sensação maior de confiabilidade, de veracidade. Por isso, são muito empregados em textos acadêmicos e científicos ou em qualquer situação em que se pretende fazer o interlocutor acreditar com mais facilidade .
A organização desses dados mais objetivos – cifras, estatísticas, dados históricos – pode variar muito no texto, dependendo das intenções do autor e do conhecimento que ele tem do interlocutor.
Uma forma muito comum de organizar a argumentação com base em provas concretas é usar um caso singular para comprovar teses mais gerais.
I: Vamos ler apenas o início de um texto que recorre a essa estratégia argumentativa (fragmento adaptado do jornal Correio Braziliense, de 1/2/2004).
A retirada de um tumor significa mudança de hábito na vida da família do economista P.V.S. Há três meses ele foi surpreendido pela descoberta de um câncer de pele. “Levei meu filho em consulta ao dermatologista e aproveitei para mostrar ao médico umas manchas no corpo.”
Em novembro, P. passou por uma cirurgia para a retirada da lesão e ensina: “Nunca imaginei que os anos de praia em Santos poderiam me trazer problemas de saúde. Hoje só faço caminhadas com filtro solar FPS 60.”
Os especialistas alertam que a proteção deve ser iniciada ainda na infância. Em consultórios e clínicas, eles confirmam que a doença atinge cada vez mais jovens.
1. Para que assunto o texto quer chamar a atenção do leitor?
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2. Apesar de começar contando a história de uma pessoa, como se percebe que o objetivo do texto não é focado sobre um caso individual?
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Exemplos de argumentação assim desenvolvida são muito comuns em textos com objetivos moralizantes, como fábulas, por exemplo. Vamos analisar como se pretende demonstrar a tese (a “lição”) desta fábula de Esopo.
O leão e o ratinho
Alguns ratinhos brincavam de esconder. O menor deles saiu correndo em busca de um esconderijo onde ninguém o encontrasse. Viu algumas rochas e ficou muito alegre por encontrar também uma caverna. Só muito tarde percebeu que a rocha era um leão dormindo e que a caverna era a boca aberta do leão.
O felino ficou muito bravo por ter sido acordado e disse que iria castigar tanto atrevimento. O ratinho pediu desculpas.
– Prometo que isso não vai acontecer nunca mais.
O leão perdoou o ratinho. Alguns dias depois, acordou novamente com os guinchos e as correrias. Pensou: “Vou dar uma lição nesses ratinhos e se os pais deles não gostarem, morrerão também.”
Acontece que os caçadores esperavam por ele há vários dias. Quando ele passou debaixo de uma árvore, jogaram a rede e o prenderam. Ele fez de tudo para sair, mas foi impossível. Os caçadores deixaram o leão na rede e foram avisar seus companheiros. O leão lutou muito tempo e seus rugidos estremeceram a floresta. Depois, cansado, ficou triste. Sabia que os homens iriam matá-lo ou então o levariam para algum zoológico bem longe.
Passado algum tempo, o leão ouviu uma voz junto de seu ouvido. Era o ratinho.
– Leão, vim tirar você dessa armadilha.
Não acreditou. Como um animal tão insignificante poderia ajudá-lo?
– Chame alguém maior e mais forte. Você nunca conseguirá me tirar daqui – rugiu o leão.
– Sou pequeno, mas tenho os dentes afiados – disse o ratinho.
O ratinho roeu então as malhas da rede, uma por uma. Algum tempo depois, o buraco ficou grande e o leão pode escapar. Quando os caçadores voltaram, a rede estava vazia.
Moral: Algumas vezes, o fraco pode ajudar o forte.
Biografia:O autor dessa fábula é Esopo, o primeiro autor de fábulas de que se tem notícia. Foi contador de histórias na Grécia antiga, onde nasceu escravo em 620 a.C. Acreditava que riso e sabedoria podiam andar juntos. Embora hoje sejam reconhecidas como de sua autoria mais de setecentas fábulas, acredita-se que sejam, de fato, suas apenas as duzentas que compunham a primeira coleção, organizada em 320 a.C., por Demétrius de Phalerum.
1. Que tese – em forma de ensinamento – o texto pretende demonstrar? Como ela é explicitada?
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Nos textos acima, não são as histórias ou casos narrados o objetivo principal da argumentação. Tais casos singulares servem de apoio, como estratégias argumentativas, para o desenvolvimento da tese, que vem a generalizar um conhecimento.
Chama-se de argumentação, por exemplo, a essa estratégia de dar um exemplo, ou contar um caso específico, para, em seguida, generalizar e extrair uma conclusão geral.
Argumentos baseados em provas concretas também podem fazer o movimento contrário no texto: partir da generalização para se aplicar a um caso singular. É o que Veremos na próxima atividade.
 Observe as características argumentativas dos três parágrafos do texto a seguir.
Os melhores amigos do homem
Uma experiência pequena, mas com resultados animadores está empolgando pesquisadores da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo. O trabalho, coordenado pelo Prof. Marcelo Ribeiro, consiste em usar animais para ajudar crianças deficientes mentais para melhorar o desempenho escolar.
As crianças cuidam de cabras, coelhos, peixes etc. Durante as atividades, aprendem conceitos e desenvolvem habilidades de maneira fácil e divertida. Além da evolução no aprendizado, os pequenos ganham um sentimento que muitos nem sequer haviam experimentado: auto-estima.
Essa pequena sensação enche de alegria o coração do menino Leonardo Neves, 11 anos, cada vez que ele monta o cavalo Pantanal. Tetraplégico de nascença (faltou oxigênio durante o parto), Leonardo hoje é capaz de feitos que, tempos atrás, eram inimagináveis.
Na verdade, o uso de animais no tratamento de várias doenças tem sido um recurso cada vez mais utilizado. Várias pesquisas demonstram que os bichos têm um fabuloso poder terapêutico. “Eles são remédios vivos”, afirma a veterinária Hannelore Fuchs, uma das principais especialistas no assunto do País. De acordo com pesquisas do cientista Dennis Turner, professor da Universidade de Duke (Estados Unidos), por exemplo, o contato com animais ajuda a reduzir a pressão sanguínea, a diminuir os níveis de colesterol e de estresse.
Fragmento adaptado de ISTOÉ, 11/2/2004.
1. Qual é a tese desse texto?
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2. Como o segundo parágrafo contribui para a comprovação da tese?
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