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Direitos Humanos e Cidadania

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Direitos Humanos e Cidadania
José Fiorelli e Rosana Manguini
Disciplina Psicologia Jurídica 
7º Período
Direitos Humanos - Vem a ser um tema de interesse de todas as áreas do saber.
Trata-se de uma área do saber em que questões de natureza psicológica possuem papel determinante na compreensão, interpretação e estruturação dos fenômenos a ela correlacionados. 
Primeiro passo, os autores propõem que a terminologia indivíduo ou pessoa sejam utilizadas, por serem mais adequadas ao excluírem questões de gênero. Propõe equilíbrio e equidade nas relações sociais.
Aponta algumas leis que historicamente surgiram para garantir os direitos das “minorias” : ECA, Maria da Penha, Estatuto do Idoso. 
Os autores dividem o texto em dois momentos:
1) Fundamentos legais e teórico/científicos para pensar os Direitos Humanos. Áreas do saber: Sociologia, cidadania e ética.
2) Visão dos comportamentos relacionados aos Direitos Humanos, com base em abordagens da Psicologia.
Aspectos legais para garantia dos Direitos Humanos
Constituição Federal de 1988 (art. 5);
Legislação Infrainstitucional ( toda lei “abaixo” da constituição federal, que deriva dela, estando sujeitas ao controle da constitucionalidade). Não podem ser criadas de modo diverso ao trâmite estabelecido pela CF, nem ter conteúdo que fira os princípios e dispositivos da CF. 
Ex. Leis complementares, decretos, resoluções, expedidas pelo poder legislativo.
Convenções e tratados internacionais.
Nos termos do artigo 38, do Estatuto da Corte Internacional de Justiça[1], os tratados ou convenções internacionais são considerados fontes do Direito Internacional, funcionando como importantes mecanismos jurígenos ao lado dos costumes e dos princípios gerais do Direito.
Tratados – quando um grupo de nações decide fazer um acordo mútuo, sobre determinado tema ou assunto.
Ex. Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Convenções – quando um grupo de nações decide utilizar a mesma ideia sobre determinado assunto. 
Ex. utilizar os mesmas medidas kg, metro. 
Ex. convenção de Genebra – versa sobre a proteção a prisioneiros de guerra. 
Ao falar sobre direitos humanos firma-se sua condição subjetiva, posto que refere-se à realidade psíquica dos seres humanos. A subjetividade se constitui a relação com o ambiente e vai se refletir nos pensamentos e emoções.
Já as leis e normas, surgem para disciplinar as relações e garantir a identidade, cidadania e respeito à diversidade.
Características das normas relativas aos Direitos Humanos
Imprescritibilidade (não prescreve) – é permanente, não se perde por decurso de prazo;
Inalienabilidade – não são renunciáveis. Ex. paciente terminal, não se pode pedir que aceite a eutanásia.
Inviolabilidade – ninguém pode desrespeitar os direitos fundamentais de outrem, sob pena de sofrer responsabilização.
Interdependência - as leis, normas não podem se chocar com os direitos fundamentais – relação e harmonia.
Universalidade – os direitos fundamentais se aplicam a todos os indivíduos independente de nacionalidade, sexo, etnia, credo, convicção política.
Complementaridade – os Direitos Humanos fundamentais não devem ser interpretados isoladamente. 
Efetividade – poder público deve assegurar a efetivação dos direitos e garantias fundamentais usando até mecanismos coercitivos – isto porque eles não são garantidos sobre o simples reconhecimento abstrato.
Ao infringir os Direitos Humanos dois fenômenos parecem presentes – preconceito e discriminação.
Preconceito – não aceitação da diferença que conduz ao conflito. A intolerância com as diferenças promovem guerras, atrocidades que se valem de justificativas infundadas. 
Discriminação – campo da ação concreta em que necessidades e especificidades de sujeitos são desrespeitadas. Remete ao campo da desigualdade, opõe-se à igualdade de direitos.
Ao discriminar condena-se a pessoa a um lugar de desigualdade, veda-se o acesso às facilidades e direitos comuns à todos. Há uma privação do acesso aos benefícios, perpetua-se o ciclo vicioso da exclusão social.
Ex. saúde pública X saúde privada
Preconceito e discriminação são a base quando se refere a descumprir os Direitos Humanos e impedir o pleno exercício da cidadania, deve-se prezar o Direito a ter direitos (Hannah Arendt). Estes são os dois fenômenos mais presentes na violação dos direitos fundamentais. 
Ex. negação de oportunidades no mercado de trabalho, distinção geográfica de moradias, estabelecimento do sistema de transportes, rede de esgoto.
Resultado desse desequilíbrio: 
“sentimento de que o indivíduo vai ter frente a estas questões de pertencimento ou não, de gozo e fruição de direitos ou não, o que poderá produzir ansiedade, carência, frustração, e cobrança social dando ao indivíduo sentimento de estar sendo privado ou contemplado e, assim, produzindo comportamento mais ou menos ajustados diante da sociedade” (2008, p. 364). 
O surgimento dos Direitos Humanos se dividem em gerações
Primeira geração
Direito Natural – direitos individuais, liberdades civis e políticas. Ex. liberdade para ir e vir, na CF Habeas Corpus. 
Segunda geração 
Condições sociais – crítica à desigualdade, busca de garantir condições sociais e de trabalhos mais igualitárias. 
Ex. Direito do trabalho, moradia, segurança, educação, saúde. 
Terceira geração
Após a segunda Guerra Mundial – surgiu a preocupação quanto ao direito de povos e nações, solidariedade, busca de garantia do direito à paz e a um meio ambiente saudável e ecologicamente equilibrado. Ex. tratados sobre guerras, uso de armas de destruição em massa. 
Quarta geração
Preocupação recente diante da inovação tecnológica, mundo globalizado. Ex. direito à proteção e manipulação genética. 
Em uma análise do microcosmo ao macrocosmo, percebe-se que os direitos humanos fundamentais continuam a ser violados. Implicadores – cultura de um país, modelo econômico vigente, diferença de classes, quem são as pessoas que aplicam as leis. Além disso, nem todos tem conhecimento dos seus direitos. 
Neste território o que pode a psicologia?
Ela tem a possibilidade, de retirar o foco do quadro legal, literalidade da lei, para transpô-lo ao campo da realidade social. Trata-se de um compromisso da Psicologia. 
A psicologia tem condições de compreender como a violação dos direitos humanos acontece. No microcosmo e macro e como eles se influenciam reciprocamente. 
Entre o social e o individual
A psicologia é uma ciência que dedica-se a compreender a pessoa, ser do desejo que dirige seus esforços na busca da autorrealização. Na relação com o mundo vai constituir sua subjetividade. Há uma relação dialética entre o sujeito e a sociedade.
Individuação – cada sujeito é único e assim deve ser percebido e respeitado.
Esta concepção implica:
O que satisfaz cada pessoa difere do que satisfaz outra. Este conceito contraria a igualdade de bens e direitos, porque quando todos são tratados rigorosamente iguais fere-se a tendência a individuação.
Os desejos humanos são subjetivos, não se satisfazem em definitivo. Se renovam a cada satisfação obtida. O sujeito está continuamente em busca da realização de desejos que se refazem e estes em geral não são coletivos.
Sob a ética do desejo o pensamento psicológico tende a se afastar da idealização de uma sociedade que almeja o bem comum, onde todos possam estar igualmente saciados. 
Individuação – cada indivíduo percebe o mundo à sua maneira, existem diferenças perceptivas que tornam a visão de mundo algo estritamente individual e não compartilhável. 
Estruturas de crenças únicas para cada indivíduo
Crenças pessoais – formam-se a partir de um esquema de pensamento, formam um complexo individualizado de crenças. 
Ex. prática de genocídios pautados em crenças;
Comportamento criminoso daquele que pratica um roubo, acreditando que está resgatando uma injustiça social. 
Comportamentos condicionados assim como as crenças podem ser socialmente ajustados ou não. Estes comportamentos,
conduzem o indivíduo à obediência, à lei, a uma ação construtiva/cooperativa. Estes são vistos pelas pessoas como dever independente de mecanismos de coerção ou punição visíveis.
Ex. motorista respeita o limite de velocidade por compreender os riscos à vida, e não por temer uma sanção. 
Uso do cinto de segurança.
 Não ingestão de drogas ilícitas. 
Indivíduos que tiveram uma aprendizagem social ineficiente/distorcida – permite que o indivíduo atue contra os dispositivos legais, faz isso “automaticamente” ou de forma “naturalizada”. 
Ex. o sujeito que sinaliza para outro, na estrada a presença da polícia, e o faz porque assim aprendeu e sempre o fez. 
Comportamento dos modelos
De grande impacto nos direitos humanos. Autoridades que desrespeitam os Direitos Humanos, autorizam o desrespeito à ordem, justiça e liberdade. A população tem nestas figuras modelos de referência. 
As autoridades são responsáveis pela garantia dos Direitos Humanos, não podendo se valer de favorecimentos, proteção e discriminação. 
Ex. políticos que fazem mal uso do poder, corrupção. 
Características de Personalidade
Personalidades antissociais ferem os DH - reduz o outro à condição de objetos. 
Quando valem-se da impunidade para “se safar” tornam-se referência para os outros, e promovem sentimento de injustiça para os vitimados por esta conduta. 
Ex. Adolf Hitler.
Convergência dos elementos
Todos os elementos anteriormente citados exercem influências no estabelecimento dos sistemas em que se inserem os indivíduos. 
Deste esquema resulta o objeto de estudo da Psicologia no contexto dos DH – Subjetividade. 
 Esquema sistêmico/holístico
Extra INTRA
Família Desejos
Sociedade percepções
Escola crenças
 Trabalho condicionamento
Amigos modelos
Indivíduo
Consciência
Direitos humanos e cidadania na perspectiva da psicologia
Mudança – conflito, crise ou transição que leva a decidir qual conduta a pessoa irá adotar. Se socialmente adaptado, construtivo ou contrário às regras sociais. 
Ex. adrenalina do jovem – racha ou esporte radical
Toda ação humana, parte de uma decisão (CS ou ICS) que conduz o sujeito a respeitar ou infringir os DH. 
Numa ótica sistêmica esta ação, demanda a necessidade de mudança e contêm em si um conflito (mudar ou não mudar) e implica em três consequências:
Uma comunicação – com o próprio psiquismo ou com o ME. Quando somente interna pode-se não identificar o comportamento, mas ainda assim pode representar uma violação de direitos.
Ex. uso de drogas, negar socorro, fingir que nada viu por preconceito.
Um rearranjo de fronteiras – ação implica em invasão do espaço do outro com a concordância ou não deste, a favor ou em seu prejuízo. 
Ex. um governante, recursos financeiros para uma Política Pública, quando se vale do dinheiro para corrupção, campanha política. 
Efeito de curto a longo prazo na evolução do sistema – com consequências mais ou menos gravosas de acordo com a magnitude da ação. 
Ex. falha ou negligência na educação infantil, trará consequências na vida adulta.
Um governante que autoriza o uso de armas nucleares, que ao serem acionadas podem dizimar uma população inteira. 
Tal fenômeno perpassa a prática jurídica e o mundo como um todo. 
“a civilização é um processo de restrição de liberdades para poder garantir um mínimo delas”. 
Sociedade – um sistema de comunicações, complexos, atuante e frágil. Quando os detentores do poder (privilegiados) conquistam liberdades, promovem liberalidades – violam os DH e esta conduta se dissipa pela força da comunicação, e viola-se os direitos dos demais. 
 MUTILAÇÃO DA CIDADANIA – Milton Santos
O conteúdo comunicado (carga ideológica) contêm um vírus que afeta a maleabilidade das fronteiras entre sistemas e subsistemas (intercomunicação, difícil comunicação, impossível comunicação). 
Alienação – vírus da natureza social. 
“Perturbação no sentimento de identidade, um processo em que o ser humano se afasta de sua natureza real, torna-se estranho a si mesmo na medida em que já não controla sua atividade essencial” (p.376). 
As fronteiras psíquicas de um indivíduo são dadas pelo grau de liberdade com que pode exercer seus direitos. A ampliação destas fronteiras para o indivíduo devem contribuir para o bem comum/coletivo. Requer a fruição de direitos que lhe cabem.
 
 
Os seres humanos, em seu processo evolutivo vão apresentar comportamentos dominantes. Nos momentos de crise no ciclo vital, estes comportamentos dominantes se intensificam. 
De acordo com o desejo do indivíduo, (necessidade de satisfação imediata) o desejo pode ampliar ou limitar as dimensões das fronteiras. 
O indivíduo que percebe suas fronteiras elásticas e hiperpermeáveis terá o mundo como limite. Entretanto, quando o limite não pode ser algo reconhecido pela mente do sujeito é preciso algo, para preencher um vazio. Trata-se de inocular um aditivo para que ele preencha os espaços disponíveis. 
Ex. a aventura, a droga, transgressão à lei e costumes
Porque a sociedade não é pródiga em soluções que preencham os vácuos psíquicos.
Ex. pequenos delitos – miniabusos, minidanos, embriões dos grandes delitos. 
Pequenos roubos (cópia xerox, o copo da festa, o uso do veículo da empresa para compras pessoais. 
Burlar catracas de ônibus;
Acordos para conseguir um ingresso cortesia em evento da prefeitura;
A furada de fila em ônibus, banco, shows;
Excesso de barulho em casa sem considerar a vizinhança;
Cachorros deixando dejetos na calçada;
Passeio com cachorros “perigosos” sem focinheira. 
Muitos destes miniabusos, acabam por se tornar uma prática social naturalizada, enraizada na cultura de um povo, que não mais os questiona. 
Não são mais “figuras nas percepções”. 
Este perverso treino de transgressão, de modo evolutivo torna mais simples a aceitação de práticas que vão contra os direitos humanos – banalizadas. Limita-se a garantia real da cidadania e dos DH. 
Referências
FIORELLI, José Osmir; MANGINI, Rosana Cathya Ragazzoni. Psicologia jurídica. SÃO PAULO: Atlas, 2009. 422p.
Número de Chamada biblioteca: 340.73 F518p
Sugestões de estudo
Declaração Universal dos Diretos Humanos
Constituição Federal Brasileira
Documentário “Lixo Extraordinário” Vik Munis 
Textos complementares

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