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Caro leitor, Muito obrigado por baixar este livro! Originalmente, este livro tinha como título: “O E-book do Estagiário”, e era vendido apenas no formato digital. Para que mais pessoas tenham a oportunidade de ler este valioso conteúdo e ter uma noção mais clara e precisa sobre os direitos e deveres relativos ao estágio, decidi passar a oferecê-lo gratuitamente ao público, agora com o título de capa: “O essencial que todo estagiário precisa saber sobre seus direitos e deveres”. Para mim é uma alegria saber que cada vez mais pessoas estão buscando conteúdos de qualidade a respeito dos seus direitos. É um prazer ver crescer o número de leitores do meu blog, o Forense Contemporâneo, e notar que os conteúdos que publico fazem diferença nas vidas das pessoas. Espero que você aproveite bastante o conteúdo que vai encontrar neste e-book! Um grande abraço! Gustavo D’Andrea http://gustavodandrea.com O EBOOK DO ESTAGIÁRIO GUSTAVO D’ANDREA 2014 Agradecimento Meu principal agradecimento é a você, que comprou este ebook e está usando de seu tempo para ler o que escrevi. Embora o livro seja bastante sucinto, ele exigiu um bom trabalho para ser concluído. Por isso, fico muito feliz e grato por você ter escolhido esta leitura e espero que ela contribua para o seu sucesso. Muito obrigado! Introdução No dia 26 de setembro de 2008, foi publicada a chamada “nova” Lei do Estágio, de n° 11.788. Alguns dias depois, publiquei um breve texto sobre a lei, no meu blog jurídico Forense Contemporâneo, que mantenho desde 2005. Percebi que, ao longo dos anos, a procura pelo assunto foi grande, bem como as dúvidas em torno do tema. Ao mesmo tempo, refletindo a respeito da atividade de estágio e do volume crescente de jovens que todos os anos ingressam nesse tipo de atividade prática, decidi empreender esforços para compor este singelo livro. Trata-se do segundo volume da minha recém-criada Coleção Meu Ebook de Direitos (não consegui ser muito criativo na escolha do nome da coleção!), na qual procuro compor livros voltados a certos nichos jurídicos, principalmente aqueles que abrangem alguma atividade específica. A atividade dos estagiários é bastante difundida no Brasil, por ser uma tarefa de transição dos estudos para a vida profissional. Mas, como a maioria das coisas na vida, a escassez de informação faz com que os estudantes de qualquer nível educacional nem sempre estejam atentos a esta realidade, deixando muitas oportunidades passarem despercebidas ao longo de vários anos de estudo. Eu mesmo já fui estagiário, precisamente na Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo. Na época, ainda não existia a Defensoria Pública em São Paulo, de modo que era a Procuradoria do Estado que dava conta do serviço de assistência judiciária gratuita. Foi nesta área que estagiei, formando um bom conhecimento prático sobre quase todos os aspectos da advocacia. Um bom conhecimento sobre as regras do estágio e um bom supervisor de estágio foram elementos essenciais para que eu tivesse um ótimo proveito com a experiência do estágio. Na maior parte do tempo, o estágio é um momento de alegria, amizade e festa. É até paradoxal verificar que o estagiário trabalha muito mais, em menos tempo e ganhando pouco, terminando o dia com satisfação muito maior do que os profissionais já estabelecidos. Provavelmente, este entusiasmo provém da sensação única de começar a trabalhar em atividades reais, não simuladas, e, por outro lado, sem toda alta carga de responsabilidade (e estresse) dos profissionais de carreira. Nada disso significa que o estágio seja um período fácil e sem obstáculos. Na verdade, é uma atividade cheia de detalhes formais, direitos e... deveres! Por isso, reuni neste livro um material que vai ajudar os estagiários de qualquer área, em todo o Brasil, a aprender, entender e fazer valer as regras desta fundamental prática. De início, vamos conversar sobre atitude, ou seja, como aproveitar o momento da maneira mais adequada para melhorar o desempenho e o aprendizado prático durante o estágio. Depois, falaremos sobre as normas que estão na Lei 11.788 de 2008 (a Lei do Estágio). E, no final, teremos o conteúdo integral da Lei do Estágio, para que você tenha acesso fácil aos respectivos dispositivos, sempre que precisar. A Lista de Atitudes: Como aproveitar ao máximo a sua experiência no estágio Atitude 1: Leia este livro pelo menos duas vezes Ler o presente livro duas vezes é o primeiro passo para entender e dominar as regras brasileiras sobre estágio. Na primeira vez que você o ler, procure não se prender muito a detalhes. Apenas faça uma leitura corrente, para ter uma noção geral do conteúdo do livro. Depois, reinicie a leitura, agora de maneira mais atenta, fazendo anotações e relendo mais vezes os trechos que você achar mais importantes. Além disso, tenha o livro sempre ao seu alcance como uma referência para consultar sempre que precisar. Atitude 2: Exija toda a documentação pertinente ao seu estágio Tenha uma pasta de arquivo dedicada exclusivamente aos seus documentos de estágio e exija das instituições responsáveis todos os documentos relativos à sua atividade de estágio, em especial o Termo de Compromisso, que é o documento em que estarão os detalhes a respeito dos direitos e deveres de todas as partes da relação de estágio. Aproveite e digitalize os documentos, para que você tenha uma referência rápida a eles. Atitude 3: Cumpra os seus deveres com afinco Seja diligente na realização do seu estágio. Onde quer que você esteja, as pessoas observarão você, suas atitudes, sua dedicação e sua honestidade. Não se trata simplesmente de obedecer às regras, mas também de mostrar competência! O estágio, como você verá neste livro, não se confunde com a relação de emprego, mas podemos considerar o estágio como sendo uma oportunidade a mais para que você mostre a sua capacidade e tenha maiores possibilidades de conseguir um emprego mais tarde. Atitude 4: Tenha em mente a finalidade do estágio Não é demais repetir que o estágio não se confunde com a relação de emprego. Em termos de regras jurídicas, este tema será discutido mais tarde, neste livro. Mas, é importante também falar em atitude. Embora haja uma tendência sadia de empresas cuidarem da capacitação contínua dos empregados, normalmente a relação de emprego se baseia numa habilidade obtida antes do contrato. Um breve período de adaptação pode ser necessário, mas de modo geral o empregado tem que se eficaz e relativamente independente. Imagine um candidato a uma vaga de emprego de eletricista dizendo: “Eu não entendo nada do assunto, mas quero ver ser consigo mexer no sistema elétrico do seu prédio e receber um salário por isso.” Você o contrataria? Com o estagiário é completamente diferente: ele está lá justamente para aprender. Por isso, o estagiário deve sempre ter em mente que os profissionais supervisores devem estar sempre à sua disposição para responder a qualquer dúvida sobre a atividade, sobre como agir, sobre as regras e costumes da área em que está praticando. Atitude 5: Desenvolva habilidades de relacionamento pessoal Estamos falando de networking. Aprenda a lidar com as pessoas, a fazer contato com elas de modo correto e polido. E, especialmente, aprenda a perguntar e continue sempre perguntando. Pergunte sobre oportunidades, sobre atitudes, sobre como o seu supervisor chegou onde está. A pergunta é uma forma de mostrar quais são os seus interesses, e você se surpreenderá ao descobrir que as pessoas adoram ensinar, dar instruções, orientar. Assim, você criará e desenvolverá a sua rede de contatos, a qual será muito valiosa para o seu futuro profissional. Atitude 6: Valorize o autodidatismo Receber o conhecimento passado por professores e supervisores de estágio e outros profissionais é bom. Mas não espere que as pessoas te deem todo o conhecimento que você precisa paravencer na vida. Mesmo que você esteja cursando uma excelente faculdade e até mesmo pagando por cursos extracurriculares, a verdade é que nem tudo lhe será ensinado se você for um aprendiz passivo (repito: mesmo pagando caro por cursos). O aprendiz passivo é aquele que espera que o conhecimento lhe seja dado. Costumamos pensar que essa é uma postura correta, até mesmo considerando ser uma questão de justiça que os professores devam fazer o possível e o impossível para aprendermos tudo. Sabemos, no entanto, que a realidade não é bem assim. Por isso, aprenda a buscar o conhecimento por si mesmo. Para isso, aprenda a pesquisar na Internet, em bibliotecas, livrarias e até mesmo em visitas a outros espaços profissionais. Seja criativo e busque soluções para além do básico. Atitude 7: Planeje o seu futuro “O que você quer ser quando crescer?” Praticamente todo brasileiro ouviu esta pergunta pelo menos umas mil vezes na vida. Saber a profissão que você quer seguir, a carreira que você pretende trilhar, é fundamental. Prefira decidir sobre isso antes de entrar no estágio. Considere as sugestões que foram dadas acima, nesta lista de atitudes. Você percebeu que o estágio não se confunde com a relação de emprego, certo? Mas viu também que o próprio estágio, as relações pessoais, a criatividade são elementos que podem melhorar e tornar mais visível a sua competência profissional, chamando a atenção para possíveis contratos após o estágio! Por isso, é uma boa ideia que você saiba que carreira pretende seguir, de modo que, se houver opções, você possa fazer a melhor escolha de estágio conforme os seus objetivos. Atitude 8: Seja você Esta atitude é fundamental! Você deve procurar se conhecer cada vez mais e traçar o seu próprio plano de vida e carreira. Muitas vezes, vemos colegas que parecem muito bem resolvidos com certo padrão de comportamento e procuram influenciar os outros para que se comportem da mesma forma. A respeito do estágio é a mesma coisa. Existem até mesmo competições entre colegas para ver quem consegue uma vaga em determinada instituição ou órgão público e estudantes que começam a “trabalhar” logo que começam os estudos e muito antes da época apropriada de estágio, se submetendo a um emprego irregular e ainda contando vantagem para os outros colegas. Muita gente opta por se submeter a um “emprego” não registrado porque acredita ser a única forma de conseguir o dinheiro que tanto precisa, até mesmo para conseguir continuar os estudos. Mas, certamente, isso não é motivo de orgulho. O emprego irregular (que alguns maliciosamente chamam de “estágio” para tentar camuflar a irregularidade) é uma forma de os empregadores não cumprirem com as suas obrigações trabalhistas. A lição aqui é: seja você mesmo, e não caia na conversa das pessoas que contam vantagem quando, na verdade, estão sendo desonestas ou, mesmo que estejam sendo honestas, tenham um padrão de comportamento que não se encaixa no seu modo de ser. Tudo certo até aqui? Então, vamos passar para a parte mais complexa do nosso ebook, conhecendo e comentando as... Regras brasileiras sobre estágio Em setembro de 2008, como sabemos, foi publicada a Lei 11.788, dispondo sobre o estágio educacional. Ainda hoje, encontramos em pesquisas na Internet a menção desta lei como sendo a “Nova Lei do Estágio”. Isto ocorre porque tínhamos, no Brasil, uma outra lei que dispunha sobre o mesmo tema, a Lei 6.494 de 1977, a qual foi expressamente revogada pela nova lei (isto é, a “velha” lei não vale mais). Aliás, esta forma de mencionar a nova lei é oficial, pois o próprio Poder Legislativo usa a expressão desta forma. Já existem alguns projetos de lei em trâmite no Poder Legislativo, que visam efetuar algumas alterações na Nova Lei do Estágio e, em geral, podemos dizer que tais projetos se direcionam para uma ampliação dos direitos dos estagiários. Nesta seção do nosso livro, vamos abordar a regras que estão em vigor no momento da publicação desta edição. Desta forma, teremos o panorama essencial sobre os direitos e deveres dos estagiários. Para facilitar a leitura, a partir de agora mencionarei a Nova Lei do Estágio com a abreviatura LE. Lembre-se de que, ao final do livro você terá o texto integral da lei para consultar quando precisar. Por isso, somente transcreverei dispositivos da LE nesta seção quando parecer realmente necessário, de modo que, na maior parte dos casos, apenas mencionarei os artigos como referência. Ademais, é fundamental que você, de fato, leia a LE, palavra por palavra, para que se habitue à linguagem da legislação. Com isso, fica mais fácil desenvolver o senso crítico a respeito dos seus interesses e sentir maior segurança para dar esse grande passo, que é o estágio. A estrutura da LE A LE possui apenas 22 artigos, divididos em seis capítulos. O primeiro capítulo aborda a “definição, classificação e relações de estágio”. Os três capítulos seguintes, abordam, em sequência, as três figuras que compõem a relação de estágio: a instituição de ensino, a parte concedente e o estagiário. Existem, também, os chamados “agentes de integração”, os quais não possuem um capítulo próprio na LE, mas são mencionados e alguns pontos, e seu papel é auxiliar. Há um capítulo dedicado ao tema da “fiscalização”, com apenas um artigo. E, finalmente, temos o capítulo das disposições gerais, que trazem detalhes importantes e que afetam todo o sistema de estágio no Brasil. Definição e classificação do estágio A própria LE possui um esforço objetivo para definir e classificar o estágio. Segundo a LE (Art. 1°), o estágio é “ato educativo escolar supervisionado”. É uma definição de extrema importância e que revela muito sobre o caráter da prática do estágio. É ato educativo, e não profissional. É ato escolar, de modo que é necessário que a instituição de ensino participe do processo de estágio. É ato supervisionado, o que significa que sempre deverá haver um profissional responsável pelo estagiário, e que vai ajudar a moldar gradualmente a prática do estagiário, capacitando-o para uma vida profissional mais efetiva. Lembre-se: Estágio é ato educativo escolar supervisionado. Esta primeira parte da definição de estágio procura resguardar tanto os estagiários, quanto os jovens profissionais, contra fraudes trabalhistas. É dizer, a atividade de estágio tem uma série de limites, para que seja um processo inserido na formação do indivíduo, não podendo haver confusão entre estágio e emprego. O local onde o estágio deve se desenvolver é o ambiente de trabalho, de modo que o estagiário terá experiências com a prática real de um processo de trabalho, diferentemente das atividades práticas realizadas em sala de aula, as quais geralmente são apenas simuladas. É possível que, em certos casos, o estágio ocorra dentro da instituição de ensino, mas sempre com uma precisa delimitação entre sala de aula e espaço de trabalho. É o caso, por exemplo, de escritórios jurídicos de assistência gratuita, instalados dentro de universidades. Tais escritórios atendem diretamente à população, em casos jurídicos reais. É necessário que o estagiário esteja frequentando ensino regular, que pode ser nos seguintes níveis de educação (LE, Art.1°): educação superior, educação profissional, ensino médio, educação especial e anos finais do ensino fundamental (na modalidade profissional da educação de jovens e adultos). Nota-se que o estágio é uma forma de potencializar os efeitos da educação no âmbito da vida profissional o educando. Por isso, a autorização legal especifica alguns níveis educacionais que, em termos de tempo ou mesmo de idade, se aproximam do momento em que o estudante virá a estar face a face com uma oportunidade de trabalho. Para reforçar o caráter educacional do estágio, é exigido que este esteja incluso no projeto pedagógico do curso que o estudante frequenta, e também integradoao itinerário formativo do educando. A expressão “itinerário formativo” é relacionada à educação profissional. Podemos tomar como base a definição dada pela Resolução n°6/2012 da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, do Ministério da Educação (Art. 3°, §§ 3° e 4°). Vejamos: “§ 3º Entende-se por itinerário formativo o conjunto das etapas que compõem a organização da oferta da Educação Profissional pela instituição de Educação Profissional e Tecnológica, no âmbito de um determinado eixo tecnológico, possibilitando contínuo e articulado aproveitamento de estudos e de experiências profissionais devidamente certificadas por instituições educacionais legalizadas.” “§ 4º O itinerário formativo contempla a sequência das possibilidades articuláveis da oferta de cursos de Educação Profissional, programado a partir de estudos quanto aos itinerários de profissionalização no mundo do trabalho, à estrutura socio-ocupacional e aos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos de bens ou serviços, o qual orienta e configura uma trajetória educacional consistente.” A LE ainda exige que o estágio esteja ligado ao aprendizado de competências próprias da atividade profissional e que haja contextualização curricular. Trata-se de mais uma regra que se volta a garantir que o estágio não deve ser desprovido de sentido na vida do estudante. As habilidades que serão demandas no ambiente de trabalho e o treinamento recebido devem estar atrelados aos conhecimentos que o estudante está adquirindo durante o curso. Aí é que está o sentido da existência do estágio, afastando ideias que desvirtuem a finalidade da atividade. Por meio do estágio, portanto, o estudante deve poder adaptar os conhecimentos, apreendidos no meio educacional, às demandas do ambiente profissional, conforme as necessidades situacionais. Talvez seja por isso que a LE afirma que o desenvolvimento do educando não é apenas para o trabalho, mas também para a vida cidadã, o que podemos entender como um caminho para um novo patamar de vida em sociedade, em que o educando passa por uma fase em direção a uma colocação profissional mais significativa para si e para a comunidade. Lembre-se: O estágio deve ajudar a preparar o estudante tanto para a vida profissional, quanto para uma vida cidadã significativa. Encontramos na LE a classificação básica dos tipos de estágio, sendo eles: o estágio obrigatório e o estágio não-obrigatório. Transcrevendo as definições legais destes dois tipos de estágio, temos: a) “Estágio obrigatório é aquele definido como tal no projeto do curso, cuja carga horária é requisito para aprovação e obtenção de diploma” (Art. 2°, § 1°); e b) “Estágio não-obrigatório é aquele desenvolvido como atividade opcional, acrescida à carga horária regular e obrigatória” (Art. 2°, § 2°). O que percebemos é o estágio aparecendo em duas formas, para que o estudante possa tirar o maior proveito da atividade. Enquanto existe a liberdade de que o estudante faça estágio por opção própria e conforme seus anseios profissionais, há uma parcela de sua experiência em estágio que deve ser colocada como pré-requisito para a própria formatura do estudante. Além disso, a não obrigatoriedade do segundo tipo de estágio não deve ser confundido com o estágio que o estudante faz por conta própria (chamemos esta situação de “estágio voluntário”, termo este, evidentemente, não encontrado na LE), pois mesmo o estágio não-obrigatório previsto na LE deve estar regulamentado no programa do curso respectivo. Observe que qualquer tipo de estágio previsto na LE exige a supervisão por parte do curso e, assim, esta supervisão precisa de regras bem definidas. Podemos pensar num terceiro tipo de estágio: o estágio equiparado. Na verdade, não seria bem um tipo específico a par dos dois outros tipos mencionados (obrigatório e não-obrigatório), mas atividades que o projeto pedagógico pode equiparar ao estágio. São as atividades de: extensão, monitorias, e iniciação científica na educação superior (Art. 2°, § 3°). Estágio versus Emprego Já se disse que não se deve confundir estágio e emprego. A LE é expressa em vedar completamente esta confusão, determinando que o estágio, naquelas modalidades (obrigatório e não-obrigatório), não geram vínculo empregatício. Por isso, tome muito cuidado com a ideia de “estágio voluntário”, em que o estudante frequenta um ambiente profissional para busca experiência, porém sem qualquer supervisão da instituição educacional. Para esta complicada questão, o estudante deve estar atento para o conteúdo do Art. 3° da LE. Este artigo prevê os requisitos formais de um estágio, e ainda define a consequência da não observância dessas regras, qual seja a caracterização de vínculo de emprego. Podemos destrinchar o Art. 3° da LE e ainda falar um pouco sobre como se caracteriza o vínculo empregatício. Com isso, o leitor poderá ter uma noção mais acurada dos pontos que caracterizam uma e outra atividade (estágio versus emprego). Lembre-se: Deve-se ter claro na mente a diferença entre estágio e emprego. Então, para a caracterização formal de um estágio, são previstos três requisitos, os quais podemos resumir da seguinte forma: 1. Matrícula e frequência regular no curso; 2. Termo de compromisso; 3. Compatibilidade de atividades. O primeiro requisito prevê a matrícula e a frequência regular do estudante no curso durante o qual realizará as suas atividades de estágio. Este requisito explicita o caráter educativo do estágio, pois não basta estar matriculado no curso, devendo o aluno realmente ir às aulas. A matrícula e a frequência deverão ser atestadas pela instituição de ensino. O segundo requisito determina a celebração de termo de compromisso entre três partes: o educando, a parte concedente do estágio e a instituição de ensino. Isso mostra que o estudante estará respaldado por um documento onde estarão previstos os detalhes das atividades que deverá desenvolver no estágio. Note- se que, conforme determina a LE (Art. 16), o termo de compromisso deverá ser firmado pelas três partes contratantes do estágio, ou seja, o estagiário, a parte concedente e a instituição de ensino. O mesmo artigo 16 da LE determina que os agentes de integração (figura que será abordada adiante) não podem firmar o termo de compromisso como representantes de qualquer daquelas três partes. O terceiro requisito é o da compatibilidade entre as atividades do estágio e as previstas no termo de compromisso, de modo que é reforçado o caráter formal do estágio, documentado em detalhes no termo de compromisso, para que o estagiário fique protegido de desvios ou exploração. Todos esses requisitos protegem o educando, e também impõem a ele o dever de bem desempenhar a sua atividade de estágio, pois o estudante é um dos signatários do termo de compromisso. Para que tudo corra normalmente, o estágio deverá ser acompanhado por um professor orientador da instituição de ensino e por um supervisor da parte concedente. O acompanhamento é formalizado por vistos nos relatórios e por menção de aprovação final, ou seja, o professor orientador e o supervisor devem materializar seu acompanhamento ao longo do estágio, conforme as previsões de entregas de relatórios. O § 2°, do Art. 3° da LE, determina que "o descumprimento de qualquer dos incisos deste artigo ou de qualquer obrigação contida no termo de compromisso caracteriza vínculo de emprego do educando com a parte concedente do estágio para todos os fins da legislação trabalhista e previdenciária". Os incisos do Art. 3° referem-se aos três requisitos explicados acima. Este é o dispositivo específico que nos remete à diferença entre estágio e emprego. É o momento certo de abordarmos um pouco as características de um vínculo empregatício, para que o leitor saiba distinguir a situação em que se encontra. A principal leique rege o emprego no Brasil é a famosa CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Na verdade, trata-se de um Decreto-Lei (n° 5.462 de 1943). Hoje não são mais promulgados decretos-leis, mas alguns deles, publicados no passado, ainda estão em vigor, como é o caso da CLT. No caput do Art. 3° da CLT há uma definição do que seja um empregado, desta forma: “Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob dependência deste e mediante salário”. Os autores de livros sobre direito do trabalho procuram sempre listar os elementos de um vínculo trabalhista, basicamente a partir da definição encontrada na CLT. Em diversos livros de diferentes autores serão encontrados elementos que são considerados como característicos da relação de emprego, de modo que normalmente dizemos que se trata de uma concepção doutrinária. Isso significa que, embora cada autor possa ter uma ideia diferente a respeito desses elementos e até mesmo possam existir listas diferentes de elementos, existe quase que um padrão aceito de modo geral. O leitor, portanto, pode considerar de uma maneira mais geral, os seguintes elementos para o vínculo empregatício: pessoalidade, não eventualidade, subordinação e onerosidade. De modo bastante superficial, podemos dizer: pessoalidade significa que, além de o empregado dever ser uma pessoa física, deve prestar ele mesmo o serviço. Não eventualidade significa que o serviço prestado deve ter natureza contínua, e não esporádica. Subordinação significa que o empregado deve seguir as ordens do empregador, pois este é quem tem o poder de direção do negócio (esta ideia se opõe à ideia de autonomia). E a onerosidade significa que o trabalho prestado na relação de emprego é oneroso, ou seja, deve ser remunerado e não gratuito/voluntário. Mas, essas características não podem estar presentes também na atividade de estágio? Pode até parecer que sim, mas a resposta correta é não, porque a finalidade do estágio é diferente da finalidade do emprego. Os elementos mencionados devem ser interpretados conforme as suas respectivas finalidades. Por exemplo, a subordinação, no emprego, está ligada aos fins econômicos do empregador, que vai dirigir o negócio, visando a que o empregado trabalhe da forma que melhor atenda aos seus objetivos, sempre respeitados os direitos do empregado, evidentemente. Isso não quer dizer que o estagiário deva ser “insubordinado”, rebelde, desobediente. Pelo contrário! É bom que o estagiário seja muito disciplinado, mas a sua “subordinação” é voltada aos objetivos educacionais que o estágio tem. É preciso, portanto, um cuidado para interpretar as características de uma atividade conforme o contexto, para evitar confusão entre situações diferentes que acabam parecendo iguais. Um princípio importante da relação de emprego é o princípio da primazia da realidade. Se o trabalhador está atuando com todas as características de um empregado, deverá ser considerado empregado, mesmo que a carteira de trabalho não tenha sido assinada e mesmo que haja um contrato dizendo que a atividade não é empregatícia. Este princípio existe porque contratar um empregado exige uma série de gastos por parte do empregador, para que uma lista de direitos e deveres sejam devidamente atendidos. Acontece que, muitas vezes, empregadores podem tentar usar do trabalho humano com todas as características de um emprego, porém sem cumprir todas as formalidades exigidas na legislação trabalhista, fazendo isso principalmente para economizar dinheiro (o que seria uma forma ilícita, claro). A LE reforçou ainda mais a ideia de proteção da pessoa contra uma exploração irregular da força de trabalho, pois como vimos ela define que o descumprimento das regras da atividade de estágio fará com que a atividade seja, de fato, considerada como um emprego, gerando todos os direitos trabalhistas da relação empregatícia. Pensemos em um exemplo para facilitar a compreensão. É evidente que o estágio não é compatível com horas extras. Uma vez que o estagiário está “trabalhando” como atividade educacional, é fácil concluir que sua atividade não é produtiva ou voltada ao lucro. Além disso, sua atividade deve ser previamente planejada e compromissada, sendo que é razoável pensar que a quantidade de atividades deve ser adequada à carga horária estabelecida. Então, no nosso exemplo hipotético, o empregador começa a pedir, todos os dias, que o estagiário fique mais uma ou duas horas “trabalhando”, para ajudar a atender a alguma grande demanda. Esta situação basta para questionarmos: o que o estagiário realmente está fazendo ali? Está cumprindo suas atividades educativas de estágio, ou está trabalhando como se fosse um empregado, embora sem os mesmos direitos de um empregado regularmente contratado? A resposta parece evidente, não é? A importância de conhecer essas regras traz um grande ganho psicológico, pois muitas vezes o estagiário que se encontra em situações parecidas com o exemplo das horas extras, pode acabar se sentindo constrangido, temendo perder o estágio ou mesmo alguma promessa de ser futuramente “efetivado” num possível emprego. Pessoalmente, entendo que os empregadores que usam aquele tipo de estratégia ilícita para gerar mais lucros estão difundindo uma prática deplorável de desrespeito à dignidade humana. E a “arma” do imenso e maravilhoso exército de estagiários do qual você faz ou fará parte é só uma: o conhecimento. Estudantes estrangeiros A LE é bem singela no que se refere a estudantes estrangeiros. A estes estudantes, que vêm ao Brasil especificamente para estudar, a LE será normalmente aplicada, desde que regularmente matriculados em cursos superiores no País, e verificando-se o prazo do visto temporário de estudante. As regras sobre vistos estão no Estatuto do Estrangeiro (Lei 6.815 de 1980). Entre os vários tipos de vistos possíveis, está o visto temporário de estudante, previsto no Art. 13, IV, da mencionada lei. O prazo está definido no parágrafo único do Art. 14, sendo “de até 1 (um) ano, prorrogável, quando for o caso, mediante prova do aproveitamento escolar e da matrícula”. O estudante estrangeiro deve estar atento para a normas expedidas pelo Conselho Nacional de Imigração (CNIg) por meio de resoluções, que detalham as regras para o estágio de estrangeiros no Brasil. Os agentes de integração Agentes de integração são instituições públicas ou privadas que ajudam a instituição de ensino e a parte concedente do estágio a organizar a atividade de cadastro e contratação de estagiários. Os agentes de integração são considerados pela LE como sendo auxiliares no aperfeiçoamento do instituto do estágio. Lembre-se: Os agentes de integração atuam como auxiliares no aperfeiçoamento do instituto do estágio. De fato, fica mais fácil centralizar as atividades administrativas relativas ao movimento dos estagiários, agilizando os procedimentos e possibilitando um leque maior de oportunidades aos estudantes. Segundo a LE, os agentes de integração terão as seguintes funções: identificar oportunidades de estágio; ajustar suas condições de realização; fazer o acompanhamento administrativo; encaminhar negociação de seguros contra acidentes pessoais; cadastrar os estudantes. É legalmente proibida a cobrança dos estudantes de qualquer valor pelos serviços acima listados. Desta forma, a melhor ideia é que o estudante procure o mais rápido possível algum desses serviços de integração, sendo que não terá nenhum custo para se cadastrar. Geralmente, as instituições de ensino podem indicar ao estudante a quais agentes de integração costumam recorrer, devendo o estudante ter o cuidado de se informar se a instituição em que estuda faz uso desse recurso. A LE parece ter se preocupado muito em manter o estagiário a salvo de qualquer equívoco quanto à atividade que desempenha enquanto tal. E comrazão, pois o estudante deve estar concentrado na sua atividade de educando, e por vezes pode ser difícil saber se um estágio está dentro das normas previstas. Por isso, a LE colocou os agentes de integração em situação de responsabilidade pela regularidade do estágio. O Art. 5°, § 3° da LE prevê que: “Os agentes de integração serão responsabilizados civilmente se indicarem estagiários para a realização de atividades não compatíveis com a programação curricular estabelecida para cada curso, assim como estagiários matriculados em cursos ou instituições para as quais não há previsão de estágio curricular”. Escolha do local do estágio Há muito pouco o que falar sobre a escolha do local de estágio, pois a LE é muito objetiva neste ponto. O Art. 6° fala por si só: “O local de estágio pode ser selecionado a partir de cadastro de partes cedentes, organizado pelas instituições de ensino ou pelos agentes de integração.” Em seguimento, a LE dedica três capítulos às partes componentes do contrato de estágio, sendo um capítulo para cada uma dessas partes: a instituição de ensino, a parte concedente e o estagiário. A instituição de ensino As instituições de ensino têm uma variedade de deveres em relação aos estudantes que fazem estágio. Primeiramente, a instituição de ensino deve celebrar o termo de compromisso com o educando e com a parte concedente, lembrando que a parte concedente é aquela que oferecerá o estágio. O termo de compromisso é um documento, que o educando deverá assinar. Caso o educando seja absoluta ou relativamente incapaz, precisará ser representado ou assistido, conforme o caso. Por exemplo, o estudante menor de 18 anos ainda não pode praticar todos os atos da vida civil, de modo que precisará de um responsável para firmar o termo de compromisso e tornar válida atividade de estágio. Neste documento (o termo de compromisso) devem estar os detalhes do estágio, especialmente as condições de adequação entre estágio e os demais fatores que envolvem a atividade educacional do estudante: o projeto pedagógico do curso, a etapa e a modalidade de formação, bem como o horário e o calendário escolar. Nota-se que a LE insiste em que as características do estágio estejam bem claras, e não apenas subentendidas. Por isso, o termo de compromisso é um documento fundamental para que o estágio aconteça da forma que deve acontecer, ou seja, de maneira plenamente integrada e compatível com o curso que o estudante frequenta, seja em termos do que o estudante deverá fazer no estágio, seja em termos do como e do quando ele deverá fazer. Para que este dever, de detalhar ao máximo a atividade no termo de compromisso, seja observado apropriadamente, é preciso que a instituição de ensino esteja totalmente antenada com a prática profissional, para que o estagiário não corra o risco nem de fazer demais, nem de fazer de menos. Nem trabalhar como se fosse um empregado contratado, cheio de responsabilidades e carga horária mais elevada, nem ser colocado em escanteio ou para fazer atividades desvinculadas ao real objetivo do estágio. Tudo deve ser contextualizado. Se o curso é, por exemplo, de Secretariado, um estágio em que a futura secretária exerça algumas atividades de secretária parece apropriado, mas um estudante de Pedagogia que, no horário do estágio, nada mais faz do que ser secretário da diretora da escola, não está fazendo estágio de verdade, concorda? A instituição de ensino deve avaliar as instalações da parte concedente do estágio, a fim de verificar se elas são adequadas à formação cultural e profissional do estagiário. Os critérios de avaliação do local de estágio, naturalmente, variam conforme o curso, o nível educacional e os objetivos do estágio. A LE não é muito específica quanto a essa obrigação, de modo que caberá à instituição de ensino estabelecer os critérios que entender suficientes para que o local do estágio seja apropriado. Uma boa base de avaliação pode ser dada por padrões de saúde, higiene e segurança, além de recursos e ferramentas adequados para o desempenho do estágio. Deve a instituição de ensino, também, indicar um professor orientador que acompanhará e avaliará as atividades do estagiário. Este professor deve ser da mesma área em que o estágio será desenvolvido. O professor representa um "link" mais direto entre os anseios do estagiário e a instituição de ensino, pois é o professor que tem maiores condições de compreender todo o desenvolvimento do estágio e avaliá-lo. Por isso, a LE exige que o professor seja da área a ser desenvolvida no estágio, sendo esta exigência uma forma de tornar ainda mais efetivo o acompanhamento e avaliação, porque o professor terá mais familiaridade com os altos e baixos da atividade. Deverá ser exigido do educando, pela instituição de ensino, a apresentação periódica de relatório de atividades, no prazo máximo de seis meses. A instituição de ensino deve zelar pelo cumprimento do termo de compromisso. No caso de verificar que as normas do termo de compromisso estão sendo descumpridas, a instituição de ensino deverá reorientar o estagiário para outro local. A reorientação é uma forma de proteger o estagiário, prevenindo que ele fique sem a possibilidade de continuar a estagiar, caso a parte concedente não cumpra suas obrigações. A elaboração de normas complementares e de instrumentos de avaliação dos estágios dos seus estudantes também são atribuições da instituição de ensino. Deverá, ainda, a instituição de ensino comunicar, à parte concedente, as datas de realização das avaliações do curso. Esta comunicação deverá ser feita no início de cada período letivo. A LE possui um dispositivo referente ao plano de atividades do estagiário (Art. 7°, parágrafo único). Conforme este dispositivo, o plano de atividades será elaborado em acordo das três partes (instituição de ensino, parte concedente do estágio e educando) e será incorporado ao termo de compromisso "por meio de aditivos à medida que for avaliado, progressivamente, o desempenho do estudante". Esta regra exige uma atenção especial, dada a importância do plano de atividades para a prosperidade do estagiário. O estudante deve participar da elaboração do plano de atividades, mas nem sempre isso acontece. É necessário um cuidado com o plano de atividades, de modo a evitar que o "plano" se resuma a delimitação de horários e uma descrição genérica de atividades. A parte concedente A parte concedente do estágio é aquela que vai oferecer toda a estrutura para que o estudante desenvolva o seu estágio. Em termos usuais, a parte concedente é "onde" o estudante vai fazer estágio. Seria mais preciso dizer que é quem vai conceder o estágio, pois o local não é propriamente a parte concedente, e sim sua estrutura física. Afinal, quem pode oferecer estágio? A LE define isso no caput do seu Art. 9°. Podemos dividir em três categorias aqueles que podem oferecer estágio: 1. pessoas jurídicas de direito privado; 2. órgãos públicos; 3. profissionais liberais de nível superior. Vamos destrinchar estas possibilidades, para que tudo fique mais claro. Procurarei ser bastante claro, sem usar muitos termos técnicos, mas esclarecendo o básico sobre o assunto. Pessoa, para o direito, é alguém ou alguma coisa que pode ser sujeito de direitos e obrigações. É estranho, para os leigos, ouvir dizer que uma coisa pode ser uma pessoa. Mas é assim mesmo. O direito diferencia entre pessoas físicas (os seres humanos, ou pessoas naturais) e pessoas jurídicas, sendo estas os sujeitos representados por um conjunto de recursos que normalmente ganham um registro ou são criados por lei, e podem "agir" como se fossem, de fato, uma pessoa. Um bom exemplo de pessoa jurídica é a empresa. A loja de roupas Hering, as Casas Bahia ou a Livraria Saraiva são todos pessoas jurídicas, nestes casos empresas privadas. São sujeitos de direitos e obrigaçõestal como as pessoas físicas, ou seja, todos nós. Existem dois regimes jurídicos básicos para as pessoas jurídicas: o regime de direito público e o regime de direito privado. As diferenças entre estes regimes parecem não influenciar na natureza do estágio, pois as regras fundamentais desta atividade valem igualmente em qualquer caso em que se ofereça o estágio. Basta, portanto, ter a ideia geral de que o regime jurídico de direito público tem como principal foco o interesse público e as atividades em que o Estado se envolve com mais proximidade, devido a este mesmo interesse público, enquanto no regime de direito privado, os interesses principais são os particulares, ou econômicos. Já mencionamos alguns exemplos de empresas privadas. Quanto às pessoas jurídicas de direito público, podemos exemplificá-las com instituições públicas, tais como as autarquias e fundações públicas. Mas, é importante notar que a LE refere-se a “órgãos” e não especificamente a pessoas jurídicas de direito público, de modo que se deve entender como uma regra de maior abrangência, por incluir centros de competência que talvez não tenham personalidade jurídica própria, admitindo-se mesmo assim a possibilidade de oferecer estágio. Por último, mas não menos importante, verificamos que o profissional liberal de nível superior também pode oferecer estágio. Tal é o caso de advogados, médicos, contadores, psicólogos, entre outros profissionais liberais. Portanto, é possível que a parte concedente do estágio seja uma pessoa física, pois é um permissivo legal. A LE exige que, para oferecer estágio, o profissional liberal de nível superior deverá, primeiramente, estar registrado junto ao seu respectivo conselho de fiscalização profissional. Assim como acontece para a instituição de ensino, a parte concedente do estágio possui uma lista de obrigações disciplinadas na LE, sendo a primeira delas a celebração do termo de compromisso com a instituição de ensino e com o educando, zelando pelo seu cumprimento. A parte concedente tem o dever de ofertar as instalações que tenham condições de permitir que o estagiário desenvolva suas atividades, e a LE menciona que tal aprendizagem abrange os âmbitos social, profissional e cultural. É interessante observar que, quando discutimos sobre as obrigações da instituição de ensino, entre estas está a avaliação das instalações da parte concedente e sua adequação à formação cultural e profissional do educando. Ou seja, no dispositivo a respeito da avaliação das instalações não há menção ao âmbito social, o qual é incluído entre as obrigações da parte concedente, quando o assunto atine às instalações onde o estágio será desenvolvido. Acredito que a adequação do local de realização do estágio deve ser vista em sua abrangência, de modo que a omissão quanto ao âmbito social não deveria ser considerado como algo impeditivo da avaliação deste aspecto pela instituição de ensino. As relações sociais, a que o educando terá acesso ao desenvolver o estágio, fazem parte de seu processo formativo. O estagiário não terá acesso apenas a um novo horizonte de conhecimentos, mas também a um mundo novo de relações humanas. Desta forma, embora a LE não seja expressa neste sentido, o âmbito social deve ser também observado pela instituição de ensino, quando avalia as instalações da parte concedente. Deverá a parte concedente indicar os funcionários responsáveis por orientar e supervisionar estagiários. A LE é bem específica quanto a esta obrigação, pois determina requisitos para delimitar quais profissionais poderão ser orientadores de estágio. O funcionário deve fazer parte do quadro de pessoal da parte concedente e ter formação ou experiência profissional na área de conhecimento a ser desenvolvida no estágio. Estes requisitos demonstram que não basta a mera supervisão de horários ou de cumprimento de deveres do estágio. O orientador de estágio deve participar ativamente desta fase da formação do educando, funcionando como um verdadeiro instrutor para que o estagiário tenha sempre respaldo a cada passo, aprendendo os caminhos certos a tomar nesta prática para a sua futura atividade profissional. Cada orientador ou supervisor de estágio poderá cuidar das atividades de até 10 estagiários simultaneamente. Há, ainda, algumas obrigações que a parte concedente deve cumprir, sendo mormente burocráticas. São elas: contratar seguro contra acidentes pessoais em favor do estagiário; entregar o "TRE" (Termo de Realização do Estágio) quando do desligamento do estagiário; manter documentos, que comprovem a relação de estágio, à disposição da fiscalização; enviar relatório periódico de atividades à instituição de ensino. A LE determina que o seguro contra acidentes pessoais deve ter apólice compatível aos valores de mercado, conforme estabeleça o termo de compromisso. Caso o estágio seja do tipo obrigatório, pode a instituição de ensino assumir alternativamente a obrigação de contratação deste seguro. O Termo de Realização do Estágio deve conter um resumo das atividades desenvolvidas, os períodos de atividades e a avaliação de desempenho. O relatório periódico de atividades deve ser enviado com a periodicidade mínima de 6 meses, e deve ser dada vista obrigatória ao estagiário. O estagiário Chegamos, finalmente, no grande centro das atenções das atividades de estágio: o estagiário. É uma das três partes que se relacionam para que o estágio alcance seus objetivos. Certamente, a LE é redigida de forma a dar a maior proteção para esta figura, e não poderia ser diferente. O educando que está em nível de estágio é, talvez, uma das maiores esperanças para o desenvolvimento econômico, social, cultural e tecnológico do País, pois é um grupo crescente de pessoas com energia e vontade de participar ativamente da construção contínua de um Brasil melhor para as gerações atuais e futuras. No capitulo que trata especificação do estagiário, a LE começa estabelecendo regras sobre a jornada de atividade. Esta jornada deve ser estabelecida em comum acordo entre as três partes contratantes (instituição de ensino, parte concedente e estagiário). Ou seja, há certa liberdade na definição da jornada de atividades, mas com algumas limitações. Primeiro, deve constar no termo de compromisso que as atividades do estágio são compatíveis com as atividades escolares. Ou seja, o educando não está trocando uma atividade por outra, mas sim estagiando como parte de seu processo formativo. Por isso, deve-se cuidar para que todas essas atividades sejam compatíveis entre si. Além disso, há uma limitação de carga horária diária e semanal, conforme o nível educacional do estagiário. Desta forma, a LE determina que: a) os estudantes de educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional de educação de jovens e adultos terão carga horária máxima de 4 horas diárias e 20 horas semanais; e b) estudantes do ensino superior, da educação profissional de nível médio e do ensino médio regular terão carga horária máxima de 6 horas diárias e 30 horas semanais. A LE também dispõe sobre a possibilidade de estágio de 40 horas semanais, mas o faz para situação bastante restrita. Esta carga horária semanal só é possível quando o curso que o educando frequenta alterna teoria e prática e, além disso, que o estágio com tal carga horária seja realizado em período para o qual não estejam programadas aulas presenciais. Esta possibilidade deve estar prevista no projeto pedagógico do curso e da instituição de ensino, caso contrário não poderá haver contrato de estágio nas condições mencionadas. Poderíamos citar, como exemplos, os cursos da área da Saúde que envolvem teoria e prática no aprendizado. Se as demais condições estiverem presentes, poderá o estágio ter uma carga horária semanal de 40 horas. O desempenho do estudante nas avaliações que fizer na instituição de ensinotambém foi uma questão pensada pelo legislador. Determina a LE (Art. 10, § 2°) que "se a instituição de ensino adotar verificações de aprendizagem periódicas ou finais, nos períodos de avaliação, a carga horária do estágio será reduzida pelo menos à metade, segundo estipulado no termo de compromisso, para garantir o bom desempenho do estudante". Assim, o estudante poderá organizar-se melhor para estudar ou revisar os conhecimentos que serão avaliados, tendo mais tempo para se concentrar para as avaliações. No que tange à duração do estágio, esta pode ser de, no máximo, 2 anos na mesma parte concedente, exceto quando for o caso de estagiário portador de deficiência. Note-se que a LE não estabeleceu nenhuma outra regra a respeito da duração do estágio, nem estabelecendo um período mínimo, nem um período máximo de atividade. Apenas determinou que o estagiário não pode desenvolver atividade de estágio junto à mesma parte concedente por mais de 2 anos, prazo que não é considerado, vale repetir, se o estagiário for portador de deficiência. A LE regula o recebimento de bolsas ou outro tipo de contraprestação. Receber para fazer estágio é uma possibilidade que pode ou não ocorrer, quando se trata do estágio obrigatório. No entanto, se o estágio for do tipo não obrigatório, será obrigatória a concessão de bolsa (ou outra contraprestação acordada) e, ainda, o auxílio-transporte. Mesmo que o estagiário receba benefícios adicionais, como os de transporte, alimentação e saúde, ainda assim não se caracteriza vínculo empregatício. O estagiário poderá fazer sua inscrição e contribuir junto ao Regime Geral de Previdência Social como segurado facultativo. Quanto às "férias" do estagiário, a LE faz referência a elas como sendo "período de recesso". Este período é assegurado para estágios com duração igual ou superior a 1 ano, sendo que a duração do recesso será de 30 dias. A LE dispõe, também, que o período de recesso será gozado preferencialmente durante as férias escolares. Se o estagiário recebe bolsa ou outra contraprestação, o período de recesso deverá ser remunerado. É importante notar que não é o tipo de estágio que determinará se o recesso será remunerado. Seja qual for o tipo de estágio (obrigatório ou não obrigatório), desde que o estagiário receba bolsa ou outra contraprestação, o recesso será remunerado. Vale lembrar que, mesmo para estágios com duração inferior a 1 ano, será assegurado o período de recesso, neste caso da forma proporcional (e não por 30 dias). Diz o Art. 14 da LE: "Aplica-se ao estagiário a legislação relacionada à saúde e segurança no trabalho, sendo sua implementação de responsabilidade da parte concedente do estágio". Número máximo de estagiários Vimos que um mesmo profissional não pode supervisionar mais do que 10 estagiários simultaneamente. A LE (Art. 17) dispõe, ainda, sobre mais uma limitação numérica, relativa ao número máximo de estagiários permitidos em um mesmo estabelecimento concedente de estágio. Destaque-se que os limites da LE em relação a este número máximo de estagiário em um estabelecimento não se aplica aos estágios de nível superior e de nível médio profissional, de modo que tal limite será aplicado apenas para os demais níveis educacionais. A quantidade máxima de estagiários é medida com base no tamanho do quadro de pessoal da instituição concedente do estágio. A LE define o termo "quadro de pessoal" como sendo "o conjunto de trabalhadores empregados existentes no estabelecimento do estágio". Note-se, ainda, que a LE dispõe: "Na hipótese de a parte concedente contar com várias filiais ou estabelecimentos, os quantitativos previstos nos incisos deste artigo serão aplicados a cada um deles". Os quantitativos são listados da seguinte forma, relacionando o tamanho do quadro de pessoal com o número máximo permitido de estagiários: x de 1 a 5 empregados: 1 estagiário; x de 6 a 10 empregados: até 2 estagiários; x de 11 a 25 empregados: até 5 estagiários; x acima de 25 empregados: até 20% de estagiários. Ainda sobre a quantidade máxima de estagiários, a LE dispõe que, no caso de quadros de pessoal com acima de 25 empregados, se o percentual de 20% resultar em fração, poderá ser arredondado para o número inteiro imediatamente superior. Por exemplo, se o quadro de pessoal tiver 26 empregados, a proporção de 20% resulta em 5,2 estagiários, de modo que, como permite a LE, poderá este número ser arredondado para 6 estagiários. A LE determina o percentual mínimo de vagas a serem reservadas para estagiários portadores de deficiência: "Fica assegurado às pessoas portadoras de deficiência o percentual de 10% (dez por cento) das vagas oferecidas pela parte concedente do estágio". Fiscalização A LE possui um capítulo composto de apenas um artigo (Art. 15), dedicado à atividade de fiscalização do estágio. Diz o caput do Art. 15, da LE: "A manutenção de estagiários em desconformidade com esta Lei caracteriza vínculo de emprego do educando com a parte concedente do estágio para todos os fins da legislação trabalhista e previdenciária". Reafirma-se, na LE, a configuração do vínculo de emprego no caso de estágio mantido sem observância do que dispõe a LE, gerando todas as consequências que ocorreriam caso o estagiário fosse, na realidade, um empregado da parte concedente. Se a parte concedente, seja ela pública ou privada, reincidir nesta irregularidade - ou seja, se praticá-la mais de uma vez - ficará impedida de receber estagiários pelo prazo de 2 anos. Este prazo é contado da decisão definitiva do processo administrativo no qual se analisa a irregularidade. Porém, a LE faz a ressalva de que a penalidade de não poder receber estagiários, nestes casos, limita-se à agência ou filial em que a irregularidade for cometida, de modo que não será afetada a parte concedente como um todo. Esta foi uma medida inteligente da LE, pois pensemos numa empresa de grande porte, com dezenas de filiais espalhadas pelo País. Não seria razoável impedir que todas as filiais recebam estagiários, quando for o caso de apenas uma ou algumas das filiais incorrerem na irregularidade aludida. Convênio de concessão de estágio A LE faculta às instituições de ensino a celebração de convênios de concessão de estágio, sendo que as entidades conveniadas podem ser públicas ou privadas. Nestes convênios deve estar explicitado o processo educativo compreendido nas atividades programadas para os educandos, e todas as obrigações e direitos previstos na LE relativamente às partes celebrantes do estágio (instituição de ensino, parte concedente e estagiário). No entanto, mesmo celebrando-se o convênio, é necessário celebrar também o termo de compromisso entre as três partes. Chegamos quase ao final do nosso breve ebook. Como afirmado anteriormente, incluí ao final o texto integral da LE. Quanto a ela, mantive a ortografia original, sem fazer as alterações da nova ortografia da língua portuguesa. Quero, mais uma vez, agradecer pela sua atenção. No momento em que escrevo este parágrafo, já se passaram vários meses desde que comecei a escrever este livro. Em muitos momentos até pensei que eu não deveria publicá-lo, mas tenho um pressentimento muito bom que me diz que este ebook será útil para bastante gente. Espero que você tenha apreciado este trabalho e, novamente, faço votos para que você tenha muito sucesso! Anexo: Texto integral da Nova Lei do Estágio Lei nº 11.788, de 25 de setembro de 2008 Dispõe sobre o estágio de estudantes; altera a redação do art. 428 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1° de maio de 1943, e a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996; revoga as Leis nos 6.494, de 7 de dezembro de 1977, e 8.859, de 23 de março de 1994, o parágrafo único do art. 82 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e o art. 6° da Medida Provisória no 2.164-41,de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: CAPÍTULO I DA DEFINIÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E RELAÇÕES DE ESTÁGIO Art. 1° Estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam freqüentando o ensino regular em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos. § 1° O estágio faz parte do projeto pedagógico do curso, além de integrar o itinerário formativo do educando. § 2° O estágio visa ao aprendizado de competências próprias da atividade profissional e à contextualização curricular, objetivando o desenvolvimento do educando para a vida cidadã e para o trabalho. Art. 2° O estágio poderá ser obrigatório ou não-obrigatório, conforme determinação das diretrizes curriculares da etapa, modalidade e área de ensino e do projeto pedagógico do curso. § 1° Estágio obrigatório é aquele definido como tal no projeto do curso, cuja carga horária é requisito para aprovação e obtenção de diploma. § 2° Estágio não-obrigatório é aquele desenvolvido como atividade opcional, acrescida à carga horária regular e obrigatória. § 3° As atividades de extensão, de monitorias e de iniciação científica na educação superior, desenvolvidas pelo estudante, somente poderão ser equiparadas ao estágio em caso de previsão no projeto pedagógico do curso. Art. 3° O estágio, tanto na hipótese do § 1° do art. 2° desta Lei quanto na prevista no § 2° do mesmo dispositivo, não cria vínculo empregatício de qualquer natureza, observados os seguintes requisitos: I – matrícula e freqüência regular do educando em curso de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e nos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos e atestados pela instituição de ensino; II – celebração de termo de compromisso entre o educando, a parte concedente do estágio e a instituição de ensino; III – compatibilidade entre as atividades desenvolvidas no estágio e aquelas previstas no termo de compromisso. § 1° O estágio, como ato educativo escolar supervisionado, deverá ter acompanhamento efetivo pelo professor orientador da instituição de ensino e por supervisor da parte concedente, comprovado por vistos nos relatórios referidos no inciso IV do caput do art. 7° desta Lei e por menção de aprovação final. § 2° O descumprimento de qualquer dos incisos deste artigo ou de qualquer obrigação contida no termo de compromisso caracteriza vínculo de emprego do educando com a parte concedente do estágio para todos os fins da legislação trabalhista e previdenciária. Art. 4° A realização de estágios, nos termos desta Lei, aplica-se aos estudantes estrangeiros regularmente matriculados em cursos superiores no País, autorizados ou reconhecidos, observado o prazo do visto temporário de estudante, na forma da legislação aplicável. Art. 5° As instituições de ensino e as partes cedentes de estágio podem, a seu critério, recorrer a serviços de agentes de integração públicos e privados, mediante condições acordadas em instrumento jurídico apropriado, devendo ser observada, no caso de contratação com recursos públicos, a legislação que estabelece as normas gerais de licitação. § 1° Cabe aos agentes de integração, como auxiliares no processo de aperfeiçoamento do instituto do estágio: I – identificar oportunidades de estágio; II – ajustar suas condições de realização; III – fazer o acompanhamento administrativo; IV – encaminhar negociação de seguros contra acidentes pessoais; V – cadastrar os estudantes. § 2° É vedada a cobrança de qualquer valor dos estudantes, a título de remuneração pelos serviços referidos nos incisos deste artigo. § 3° Os agentes de integração serão responsabilizados civilmente se indicarem estagiários para a realização de atividades não compatíveis com a programação curricular estabelecida para cada curso, assim como estagiários matriculados em cursos ou instituições para as quais não há previsão de estágio curricular. Art. 6° O local de estágio pode ser selecionado a partir de cadastro de partes cedentes, organizado pelas instituições de ensino ou pelos agentes de integração. CAPÍTULO II DA INSTITUIÇÃO DE ENSINO Art. 7° São obrigações das instituições de ensino, em relação aos estágios de seus educandos: I – celebrar termo de compromisso com o educando ou com seu representante ou assistente legal, quando ele for absoluta ou relativamente incapaz, e com a parte concedente, indicando as condições de adequação do estágio à proposta pedagógica do curso, à etapa e modalidade da formação escolar do estudante e ao horário e calendário escolar; II – avaliar as instalações da parte concedente do estágio e sua adequação à formação cultural e profissional do educando; III – indicar professor orientador, da área a ser desenvolvida no estágio, como responsável pelo acompanhamento e avaliação das atividades do estagiário; IV – exigir do educando a apresentação periódica, em prazo não superior a 6 (seis) meses, de relatório das atividades; V – zelar pelo cumprimento do termo de compromisso, reorientando o estagiário para outro local em caso de descumprimento de suas normas; VI – elaborar normas complementares e instrumentos de avaliação dos estágios de seus educandos; VII – comunicar à parte concedente do estágio, no início do período letivo, as datas de realização de avaliações escolares ou acadêmicas. Parágrafo único. O plano de atividades do estagiário, elaborado em acordo das 3 (três) partes a que se refere o inciso II do caput do art. 3° desta Lei, será incorporado ao termo de compromisso por meio de aditivos à medida que for avaliado, progressivamente, o desempenho do estudante. Art. 8° É facultado às instituições de ensino celebrar com entes públicos e privados convênio de concessão de estágio, nos quais se explicitem o processo educativo compreendido nas atividades programadas para seus educandos e as condições de que tratam os arts. 6° a 14 desta Lei. Parágrafo único. A celebração de convênio de concessão de estágio entre a instituição de ensino e a parte concedente não dispensa a celebração do termo de compromisso de que trata o inciso II do caput do art. 3° desta Lei. CAPÍTULO III DA PARTE CONCEDENTE Art. 9° As pessoas jurídicas de direito privado e os órgãos da administração pública direta, autárquica e fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como profissionais liberais de nível superior devidamente registrados em seus respectivos conselhos de fiscalização profissional, podem oferecer estágio, observadas as seguintes obrigações: I – celebrar termo de compromisso com a instituição de ensino e o educando, zelando por seu cumprimento; II – ofertar instalações que tenham condições de proporcionar ao educando atividades de aprendizagem social, profissional e cultural; III – indicar funcionário de seu quadro de pessoal, com formação ou experiência profissional na área de conhecimento desenvolvida no curso do estagiário, para orientar e supervisionar até 10 (dez) estagiários simultaneamente; IV – contratar em favor do estagiário seguro contra acidentes pessoais, cuja apólice seja compatível com valores de mercado, conforme fique estabelecido no termo de compromisso; V – por ocasião do desligamento do estagiário, entregar termo de realização do estágio com indicação resumida das atividades desenvolvidas, dos períodose da avaliação de desempenho; VI – manter à disposição da fiscalização documentos que comprovem a relação de estágio; VII – enviar à instituição de ensino, com periodicidade mínima de 6 (seis) meses, relatório de atividades, com vista obrigatória ao estagiário. Parágrafo único. No caso de estágio obrigatório, a responsabilidade pela contratação do seguro de que trata o inciso IV do caput deste artigo poderá, alternativamente, ser assumida pela instituição de ensino. CAPÍTULO IV DO ESTAGIÁRIO Art. 10. A jornada de atividade em estágio será definida de comum acordo entre a instituição de ensino, a parte concedente e o aluno estagiário ou seu representante legal, devendo constar do termo de compromisso ser compatível com as atividades escolares e não ultrapassar: I – 4 (quatro) horas diárias e 20 (vinte) horas semanais, no caso de estudantes de educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional de educação de jovens e adultos; II – 6 (seis) horas diárias e 30 (trinta) horas semanais, no caso de estudantes do ensino superior, da educação profissional de nível médio e do ensino médio regular. § 1° O estágio relativo a cursos que alternam teoria e prática, nos períodos em que não estão programadas aulas presenciais, poderá ter jornada de até 40 (quarenta) horas semanais, desde que isso esteja previsto no projeto pedagógico do curso e da instituição de ensino. § 2° Se a instituição de ensino adotar verificações de aprendizagem periódicas ou finais, nos períodos de avaliação, a carga horária do estágio será reduzida pelo menos à metade, segundo estipulado no termo de compromisso, para garantir o bom desempenho do estudante. Art. 11. A duração do estágio, na mesma parte concedente, não poderá exceder 2 (dois) anos, exceto quando se tratar de estagiário portador de deficiência. Art. 12. O estagiário poderá receber bolsa ou outra forma de contraprestação que venha a ser acordada, sendo compulsória a sua concessão, bem como a do auxílio-transporte, na hipótese de estágio não obrigatório. § 1° A eventual concessão de benefícios relacionados a transporte, alimentação e saúde, entre outros, não caracteriza vínculo empregatício. § 2° Poderá o educando inscrever-se e contribuir como segurado facultativo do Regime Geral de Previdência Social. Art. 13. É assegurado ao estagiário, sempre que o estágio tenha duração igual ou superior a 1 (um) ano, período de recesso de 30 (trinta) dias, a ser gozado preferencialmente durante suas férias escolares. § 1° O recesso de que trata este artigo deverá ser remunerado quando o estagiário receber bolsa ou outra forma de contraprestação. § 2° Os dias de recesso previstos neste artigo serão concedidos de maneira proporcional, nos casos de o estágio ter duração inferior a 1 (um) ano. Art. 14. Aplica-se ao estagiário a legislação relacionada à saúde e segurança no trabalho, sendo sua implementação de responsabilidade da parte concedente do estágio. CAPÍTULO V DA FISCALIZAÇÃO Art. 15. A manutenção de estagiários em desconformidade com esta Lei caracteriza vínculo de emprego do educando com a parte concedente do estágio para todos os fins da legislação trabalhista e previdenciária. § 1° A instituição privada ou pública que reincidir na irregularidade de que trata este artigo ficará impedida de receber estagiários por 2 (dois) anos, contados da data da decisão definitiva do processo administrativo correspondente. § 2° A penalidade de que trata o § 1° deste artigo limita-se à filial ou agência em que for cometida a irregularidade. CAPÍTULO VI DAS DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 16. O termo de compromisso deverá ser firmado pelo estagiário ou com seu representante ou assistente legal e pelos representantes legais da parte concedente e da instituição de ensino, vedada a atuação dos agentes de integração a que se refere o art. 5° desta Lei como representante de qualquer das partes. Art. 17. O número máximo de estagiários em relação ao quadro de pessoal das entidades concedentes de estágio deverá atender às seguintes proporções: I – de 1 (um) a 5 (cinco) empregados: 1 (um) estagiário; II – de 6 (seis) a 10 (dez) empregados: até 2 (dois) estagiários; III – de 11 (onze) a 25 (vinte e cinco) empregados: até 5 (cinco) estagiários; IV – acima de 25 (vinte e cinco) empregados: até 20% (vinte por cento) de estagiários. § 1° Para efeito desta Lei, considera-se quadro de pessoal o conjunto de trabalhadores empregados existentes no estabelecimento do estágio. § 2° Na hipótese de a parte concedente contar com várias filiais ou estabelecimentos, os quantitativos previstos nos incisos deste artigo serão aplicados a cada um deles. § 3° Quando o cálculo do percentual disposto no inciso IV do caput deste artigo resultar em fração, poderá ser arredondado para o número inteiro imediatamente superior. § 4° Não se aplica o disposto no caput deste artigo aos estágios de nível superior e de nível médio profissional. § 5° Fica assegurado às pessoas portadoras de deficiência o percentual de 10% (dez por cento) das vagas oferecidas pela parte concedente do estágio. Art. 18. A prorrogação dos estágios contratados antes do início da vigência desta Lei apenas poderá ocorrer se ajustada às suas disposições. Art. 19. O art. 428 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1° de maio de 1943, passa a vigorar com as seguintes alterações: “Art. 428. ...................................................................... § 1° A validade do contrato de aprendizagem pressupõe anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social, matrícula e freqüência do aprendiz na escola, caso não haja concluído o ensino médio, e inscrição em programa de aprendizagem desenvolvido sob orientação de entidade qualificada em formação técnico- profissional metódica. ...................................................................... § 3° O contrato de aprendizagem não poderá ser estipulado por mais de 2 (dois) anos, exceto quando se tratar de aprendiz portador de deficiência. ...................................................................... § 7° Nas localidades onde não houver oferta de ensino médio para o cumprimento do disposto no § 1° deste artigo, a contratação do aprendiz poderá ocorrer sem a freqüência à escola, desde que ele já tenha concluído o ensino fundamental.” (NR) Art. 20. O art. 82 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação: “Art. 82. Os sistemas de ensino estabelecerão as normas de realização de estágio em sua jurisdição, observada a lei federal sobre a matéria. Parágrafo único. (Revogado).” (NR) Art. 21. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 22. Revogam-se as Leis nos 6.494, de 7 de dezembro de 1977, e 8.859, de 23 de março de 1994, o parágrafo único do art. 82 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e o art. 6° da Medida Provisória no 2.164-41, de 24 de agosto de 2001. Brasília, 25 de setembro de 2008; 187° da Independência e 120° da República. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Fernando Haddad André Peixoto Figueiredo Lima
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