Buscar

Diagnóstico e Tratamento de Fraturas em Animais

Prévia do material em texto

Faculdade de Zootecnia, Veterinária e Agronomia – PUCRS 
Curso de Medicina Veterinária 
Cirurgia Veterinária II 
 
 
 
TORACOTOMIA 
16) TÓPICOS EM ORTOPEDIA VETERINÁRIA 
 
 
 
 
 
 
# DIAGNÓSTICO DE UM PACIENTE TRAUMATIZADO: 
 
O diagnóstico das lesões em um animal traumatizado está baseado em um exame 
sistemático e completo, obtendo o maior número de informações possíveis, que venham a 
auxiliar o tratamento. Esse exa me pode ser desenvolvido da seguinte forma: 
 
 
1. anamnese: 
• como se produziu o trauma? 
• sintomas que levaram à consulta? 
• indicações de dor? 
• sinais de infecção? 
2. inspeção (verificar): 
• deambulação anormal; 
• feridas e hemorragias; 
• deformidades; 
• edemas. 
3. palpação – na palpação procura-se perceber sinais de dor e presença de crepitação 
óssea. Deve ser realizada na seguinte ordem: 
• cabeça e pescoço; 
• membros torácicos; 
• vértebras torácicas; 
• costelas; 
• vértebras lo mbares; 
• pélvis; 
• membros pélvicos; 
• vértebras coccígeas. 
4. auscultação – presença de crepitação e fricção. 
5. exame neurológico – observa-se o comportamento e os reflexos do animal. 
6. exame radiológico – realizado preferencialmente após sedação e sempre em mais de 
um plano. 
7. avaliação dos tecidos adjacentes (observar): 
• vasos sanguíneos e nervos; 
• tendões e ligamentos; 
• vísceras e músculos; 
• pele e anexos. 
 
 
 
 
45 
Prof. Danie l Roulim Stainki 
 
Faculdade de Zootecnia, Veterinária e Agronomia – PUCRS 
Curso de Medicina Veterinária 
Cirurgia Veterinária II 
 
 
 
# DEFINIÇÃO DE FRATURA: 
 
 
É a quebra de um osso ou de uma cartilage m. 
 
 
# CICATRIZAÇÃO DAS FRATURAS: 
 
A cicatrização do tecido ósseo está caracterizada por quatro fases distintas, que se 
segue m logo após a fratura. São elas: 
 
 
1. formação do calo: 
• hemato ma em torno da fratura; 
• morte celular na linha de fratura; 
• precipitação de fibrina; 
2. vascularização do calo: 
• neocapilares invadem a fibrina; 
• formação de tecido de granulação; 
• hiperemia local – lise do osso morto; 
• acumulo de liquido intersticial carregado de sais; 
• meio com pH ácido; 
3. ossificação do calo: 
• multiplicação e diferenciação dos fibroblastos: 
¾ osteoblastos embrionários + O2 + tensão = fibrose; 
¾ osteoblastos embrionários - O2 + compactação = cartilagem; 
¾ osteoblastos embrionários + O2 + co mpactação = osso; 
• síntese de substância básica; 
• entrelaçamento das trabéculas de cada segmento; 
• articulação dos segmentos por tecido esponjoso. 
4. remodelação do calo: 
• estabilização: remodelação dos canais de Havers; 
• reação osteoclástica (100mg/dia); 
• formação osteóide (1mg/dia); 
• recontrução de cortical; 
• formação óssea em áreas de pressão, negatividade e pH alcalino. 
 
 
# PRINCÍPIOS GERAIS PARA A REDUÇÃO DE FRATURAS: 
 
 
• reconstituição anatômica o mais perfeito possível; 
• máxima preservação vascular; 
• fixação interna rígida; 
• cuidadosa assepsia; 
• técnica atraumática; 
• drenagem adequada da ferida; 
• técnica adequada ao tipo e ao local da fratura; 
 
46 
Prof. Danie l Roulim Stainki 
 
Faculdade de Zootecnia, Veterinária e Agronomia – PUCRS 
Curso de Medicina Veterinária 
Cirurgia Veterinária II 
 
 
 
• ter em mente que a condição física do animal poderá influenciar na 
cicatrização. 
 
 
# CLASSIFICAÇÃO DAS FRATURAS: 
 
 
1. conforme o ferimento de tecidos moles: 
• fratura simples – não há a exposição do tecido ósseo ao meio externo; 
• fratura exposta – ocorre solução de continuidade comunicando o tecido 
ósseo ao meio externo; 
2. Conforme a extensão da lesão: 
• fratura completa; 
• fratura incompleta (fissura ou em galho verde); 
3. conforme localização e direção da linha de fratura: 
• fratura transversa; 
• fratura obliqua; 
• fratura espiral; 
• fratura cominutiva; 
• fratura múltipla ou segmentaria; 
• fratura epifisária; 
• fratura condílea; 
4. conforme o deslocamento dos segmentos ósseos: 
• impactação; 
• avulsão; 
• depressão ou afundamento; 
5. conforme a estabilidade: 
• estável; 
• Instável; 
• estabilidade intermediária. 
 
 
# IMOBILIZAÇÃO DAS FRATURAS: 
 
 
1. métodos de imobilização externa: 
• vantagens – fácil aplicação, facilmente estocável e disponível, moldagem 
variável (flexão e extensão); 
• desvantagens – duro e pesado, imobilização inadequada de úmero e fêmur, 
complicação vascular (edema), dificulta o tratamento de feridas e impede a 
drenagem de exsudatos; 
• tipos : 
? gesso – Indicado para fraturas simples inferiores ao joelho e cotovelo; 
? talas – Indicada para fraturas expostas, fraturas simples de ossos 
longos abaixo do joelho e cotovelo, fraturas cominutivas graves e 
fixação auxiliar; 
 
 
 
 
47 
Prof. Danie l Roulim Stainki 
 
Faculdade de Zootecnia, Veterinária e Agronomia – PUCRS 
Curso de Medicina Veterinária 
Cirurgia Veterinária II 
 
 
 
? muleta de Thomas – indicada como método temporário ou definitivo, e 
para os ossos dos membros anteriores e posteriores com exceção do 
úmero, fêmur proximal e falanges; 
? bandage m de Robert Jones – Indicada para fraturas estáveis distais à 
metade do fêmur e úmero; 
? fixação esquelética (transfix) – Indicada para fraturas estáveis e 
instáveis, fraturas expostas, fraturas cominutivas (arma de fogo), união 
retardada e não-união e para osteoto mias corretivas. 
 
 
2. métodos de imobilização interna: 
• vantagens – recuperação precoce da função do membro, redução anatômica 
acurada, evita enfermidade de fraturas (atrofia muscular, rigidez articular, 
comprometimento vascular), Acesso a tecidos moles traumatizados, 
simplificar os cuidados na convalescença; 
• desvantagens – Susceptibilidade à infecções, maior custo; 
• material utilizado – Cromo (16-20%) e níquel (8-14%), não magnético e 
praticamente inerte, nunca associar ligas inferiores; 
• tipos – Steinmann, Kirschner e Rush. 
 
 
# CARACTERÍSTICAS DOS PINOS INTRAMEDULARES: 
 
 
1. pinos de Steinmann: 
• é o pino mais utilizado; 
• pino arredondado com uma ou duas pontas; 
• pontas em trocater ou dia mante; 
• rosqueado (total ou parcial); 
• apresentação – comprimento de 300mm e diâmetro de 2.0, 2.5, 2.8, 3.2, 4.0 
e 4.8mm; 
2. pinos de Kirschner: 
• ponta em trocater ou diamante; 
• arredondado e com uma ponta; 
• apresentação – comprimento de 300mm e diâmetro de 1.5, 2.0, 2.5, 2.8, 3.2, 
4.0 e 4.8mm; 
3. pinos de Rush: 
• arredondados com ponta deslizante; 
• orifício na ponta; 
• três pontas de fixação no osso; 
• apresentação – variável. 
 
 
# PRINCÍPIOS E TÉCNICAS DE ADAPTAÇÃO DE PINOS INTRAMEDULARES: 
 
 
• estabilidade angular; 
• fixação rígida nas extremidades do osso; 
 
 
48 
Prof. Danie l Roulim Stainki 
 
Faculdade de Zootecnia, Veterinária e Agronomia – PUCRS 
Curso de Medicina Veterinária 
Cirurgia Veterinária II 
 
 
 
• preenchimento do canal medular na linha de fratura; 
• estabilidade rotacional. 
 
 
# FIXAÇÃO AUXILIAR: 
 
 
1. cerclagem e hemicerclagem: 
• indicações – fraturas obliquas, fraturas em espiral, fraturas múltiplas e 
auxílio no posiciona mento reduzido; 
• princípios – usar fios de aço inox com resistência suficiente, fixação firme, 
evitar compressão tecidual e vascular, utilizar em fraturas obliquas com duas 
vezes o diâmetro do osso, em casos de múltiplos fios manter de 1.0 à 1.5cm 
de espaçamento, utilizar sempre como fixação auxiliar; 
2. banda de tensão: 
• indicações – fraturas por avulsão do tubérculo tibial, fratura da tuberosidade 
do calcâneo, artrodeses articulares, etc.; 
• princípios – associação de fios de aço com arames de Kirschner;3. parafusos ósseos: 
• indicações – mais comumente utilizados em fragmentos de metáfise e 
epífise, utilizados como meio auxiliar em osso diafisário e também para 
compressão interfragmentária. 
 
 
# PLACAS ÓSSEAS: 
 
 
1. pré-requisitos para o uso: 
• conhecimento anatômico; 
• conhecer os princípios das forças ativas; 
• compreender a mecânica de fixação (como utilizar); 
• seleção de abordage m e fixação adequadas; 
• conhecer os princípios da cicatrização óssea; 
2. colocação da placa óssea: 
• assepsia cuidadosa; 
• reduzir adequadamente a fratura; 
• moldar a placa ao osso; 
• perfurar orifícios menores que o diâmetro dos parafusos; 
• ao menos dois parafusos em cada lado da linha de fratura; 
• parafusos devem penetrar no córtex oposto. 
 
 
# CAUSAS DAS PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES DAS FRATURAS: 
 
1. infecção óssea – contaminação direta (fratura exposta, ferimento punctório), 
extensão de tecido adjacente infectado, hematógena, quebra da assepsia no trans- 
operatório; 
 
 
 
49 
Prof. Danie l Roulim Stainki 
 
Faculdade de Zootecnia, Veterinária e Agronomia – PUCRS 
Curso de Medicina Veterinária 
Cirurgia Veterinária II 
 
 
 
2. união retardada e não união – redução inadequada, comprometimento vascular, 
interposição de tecido mole, deslocamento ou perda de fragmento ósseo, infecção, 
alterações metabólicas, imobilização inadequada ou tempo insuficiente para 
cicatrização. 
 
 
LEITURA OBRIGATÓRIA: 
 
 
NOGUEIRA, S.R., TUDURY, E.A. Exame clínico ortopédico de cães e gatos – parte 1. 
Clínica Veterinária, n. 36, p. , 2002. 
 
 
NOGUEIRA, S.R., TUDURY, E.A. Exame clínico ortopédico de cães e gatos – parte 2. 
Clínica Veterinária, n. 37, p. 30-39, 2002. 
 
STAINKI, D.R., REZENDE, C.M.F., OLIVEIRA,J. Considerações sobre o uso de placas 
ósseas no reparo de fraturas em cães: revisão. Belo Horizonte: Seminário – UFMG, 
2000. 
 
 
SUGESTÃO DE LEITURA: 
 
BRINKER, W. O. , PIERMATTEI, D. L. , FLO, G. L. Manual de ortopedia e tratamento 
das fraturas dos pequenos animais. São Paulo: Manole, 1986. 463 p. 
 
 
LEONARDO, L. Ortopedic surgery of the dog and cat. Philadelphia: Saunders 
Company, 1971. 351p. 
 
STAINKI, D.R., GARCIA, F.S., SILVA, N.R. Instabilidade atlanto-axial em canino: breve 
revisão e relato de caso. Revista da Faculdade de Zootecnia, Veterinária e Agronomia, 
v. 5/6, n.1, p. 77-81, 1998/99. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
50 
Prof. Danie l Roulim Stainki

Outros materiais