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Dança Contemporânea

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
FUNDAMENTOS DA DANÇA, 
BEATRIZ CERBINO
Dança Contemporânea no Brasil
Rio das Ostras, dezembro 2013
Sumário
O que é a Dança Contemporânea?.......................................................... Pg 3
Os primeiros nomes que marcaram a Dança Contemporânea …........... Pg 5
A dança contemporânea no Brasil …..................................................... Pg 8 
Cia. de dança contemporânea ............................................................... Pg 11
Lia Rodrigues ....................................................................................... Pg 14
Centro de Artes da Maré ...................................................................... Pg 16
Festival Panorama ................................................................................ Pg 18
Conclusão …......................................................................................... Pg 
Refêrencias …....................................................................................... Pg 20
O que é a Dança Contemporânea?
A dança contemporânea é uma coleção de sistemas e métodos desenvolvidos da dança
moderna e pós-moderna, ela é muito mais que uma técnica específica, mais até que os
outros tipos reafirmam a especificidade da arte da dança. Dança contemporânea não é
teatro, nem cinema e muito menos literatura, não precisa de mensagem, de histórias e
uma trilha sonora completa, como ocorre na dança clássica, onde o bailarino geralmente
executa coreografias prontas e segue um roteiro coreográfico pré-concebido,
diferentemente da dança contemporânea onde o corpo em movimento estabelece sua
própria dramaturgia, musicalidade e história, criando outro tipo de vocabulário e
sintaxe.
Para a ciência o pensamento se faz no corpo e o corpo que dança se faz pensamento, ou
seja, completam-se, isso se evidencia nesse estilo de dança. Ela não se define em
técnicas ou movimentos específicos, pois o bailarino tem autonomia para construir suas
próprias particularidades coreográficas. 
 
A liberdade trazida pela perspectiva não significa que ela ignora as ideias fortes e a
inventividade das grandes obras de qualquer forma artística, nem mesmo um domínio
técnico. O corpo na dança contemporânea é constituído na maioria das vezes a partir de
técnicas somáticas, assim trazem o trabalho da conscientização corporal e do
movimento.
Para Jean George Noverre, um grande pioneiro da dança contemporânea, é necessário a
transgressão das regras. Ele diz que será preciso transgredi-las e delas se afastar
constantemente, opondo-se sempre que deixarem de seguir exatamente os movimentos
da alma, que não se limitam necessariamente a um número determinado de gestos, isto
é, não perder um determinado ponto, deixar o corpo fluir sem limites de acordo com os
movimentos, não apenas executá-los e sim senti-los.
 
Num mundo em constante mudança, onde se tem diariamente tantas conquistas e
descobertas sobre nós, ficar tratando a dança como apenas uma repetição mecânica de
passos bem executados é reduzi-la a algo menor, ou seja, assim como as pessoas mudam
durante o tempo, a dança também muda. Portanto, o ser humano pode usufruir mais de
suas habilidades criativas e ir bem mais longe.
 
Esta é a proposta da dança contemporânea, na medida em que dá mais liberdade ao
bailarino, o incentiva a ir além dos seus limites e a cada dia evoluir junto com a dança.
Os primeiros nomes que marcaram a Dança Contemporânea
Segundo Amorim e Queiroz (2001), Cunningham inovou em sua dança por construir
uma nova forma de se movimentar e de não ter medo de ousar em suas
experimentações. Dessa forma construiu uma técnica com alguns signos do balé
clássico (movimentos de braços, pernas e saltos), da dança moderna (torções, rotação de
tronco,contrações) e muito da sua criatividade que contou com novas formas de
deslocar pelo espaço. Ou seja, suas danças eram criadas de maneira a serem dançados
em quaisquer espaços físicos, teatros, ginásios esportivos, praças, etc. O modo de
organização das seqüências coreográficas também era bem peculiar, sendo muitas vezes
decididas por algum tipo de sorteio. E assim o acaso também se tornou um aliado do seu
trabalho, além das suas inovações tecnológicas na dança, através da iluminação cênica,
vídeos e até software. Para muitos, este criador foi o primeiro a unir a dança e a
tecnologia descobrindo uma nova forma de fazer arte, um novo modo de escrever o
mundo. Um vanguardista da dança. 
Enquanto Merce Cunningham marcou a dança americana, Pina Bausch, marcou a dança
alemã com sua dança teatro. O termo dança teatro já era utilizado por Laban, através de
pequenas improvisações que envolviam voz, poemas e gestos teatrais. Pina foi aluna de
Kurt Jooss (1901-1979), criador este que associou a dança ao teatro para emocionar e
fazer uma obra de arte crítica. Fazer uma dança que olhasse para o mundo e para o que
nele ocorria. Não existe uma técnica corporal específica utilizada na dança-teatro,
qualquer movimento seja do balé clássico, da dança moderna, da mímica teatral ou até
mesmo um gesto cotidiano, pode fazer parte da cena. O que muda nessa linguagem é o
modo de criação das sequências que conta com o potencial criador de cada bailarino e
com o motivo que faz cada um criar, isto é existe um ponto de partida que pode ser
considerado um tema que norteará a criação. A dança-teatro não tem regra definida. Ela
vem para ser dinâmica, cotidiana e abstrata ao mesmo tempo. A linguagem simbólica
desse modo de dançar é constante para dançarinos e espectadores que, a cada gesto
cênico podem sentir, ler e ressignificar de formas diferentes o texto cultural proposto. E
nesse quesito encontra-se a contemporaneidade dessa dança que até hoje faz seus
espectadores se surpreenderem com a capacidade de múltiplas leituras de um simples
gesto diário colocado na cena (FERNANDES, 2000).
Chegando ao fim do nosso percurso histórico é relevante lembrar que talvez tenha
ficado de fora alguns bailarinos, coreógrafos e músicos que possam ter contribuído para
o surgimento da dança contemporânea, pois as mudanças muitas vezes aconteciam ao
mesmo tempo e em diversas partes do mundo e os registros e documentação nem
sempre foram possíveis. Sendo assim é preciso nomear certas características da dança
contemporânea para que não fique a ideia de que qualquer tipo de movimentação e
manifestação pode ser associado a ela. A técnica contemporânea não é fechada, porém
existem signos em comum vindos desde a dança moderna, são eles: os rolamentos (de
todos os tipos), as quedas e recuperações, torções, gestos teatrais e do cotidiano,
movimentações pelo solo (deslizes), movimentos de força (flexões e sustentações do
corpo), contrações e expansões, saltos com apoios, textos falados, elementos cênicos
diversos. Independente da linguagem do grupo, alguns desses elementos são sempre
identificados, o que vai caracterizar o estilo de cada companhia de dança é a qualidade
impressa nos movimentos, a forma de construção coreográfica e as discussões que cada
um provoca. A pesquisa por um modo peculiar de construir o artefato em questão cria a
identidade do grupo e as suas possíveis transposições com o mundo que os fala. Assim,
podemos olhar para grandes grupos de Dança Contemporânea do Brasil como o Quasar
(GO), Corpo (MG), Cena 11 (SC), Cisne Negro (SP), Cia Débora Colker (RJ), entre
outros, e reconhecer movimentos em comum, porém todos os trabalhos se apresentarão
de forma completamente distinta. Podemos perceber essas sutilezasao assistir às quedas
com os corpos chapados no solo utilizadas pela Cena 11 e às quedas leves, em espirais,
sem ruídos realizadas pelo Quasar. Ambos incluem o signo queda em suas produções,
mas o modo de execução é diferenciado, permitindo diversas leituras, discussões e
ressignificações. Essa possibilidade da dança contemporânea é o que a torna importante
como temática curricular.
Na composição de um espetáculo de dança contemporânea, cada coisa é pensada de
acordo com toda uma linguagem. Assim cenário, figurino, iluminação, música, espaço,
enfim todos os elementos fazem parte de um contexto, que muitos denominam,
resumidamente, como dramaturgia da dança. Isso significa que um tipo de iluminação
não acontece somente por ser mais bela, ela aparece porque dialoga com a coreografia e
com a mensagem do trabalho, faz parte do todo. O mesmo vale para os outros
elementos. Algumas companhias fazem desses elementos verdadeiros ícones de sua
linguagem.
Exemplos disso são os cenários de Deborah Colker que não servem apenas para ilustrar
um espaço, eles são elementos da dança; as malhas utilizadas como figurino pelo Grupo
Corpo se tornaram marcas de sua linguagem cênica assim como a tecnologia inusitada
da Cia Cena 11 e a ironia humorística do grupo Quasar. À primeira vista é difícil
perceber tais detalhes, mas após assistir a diferentes espetáculos do mesmo grupo, é
possível perceber os signos que se repetem e compõem a linguagem particular de cada
um.
A dança contemporânea no Brasil
A dança contemporânea no Brasil, assim como sua história no mundo, não tem uma data
e uma forma única de surgimento e estabelecimento. Ela é fruto de transformações e
influências. Foi a partir da II Guerra Mundial (1939-1945) que muitos artistas de outras
partes do mundo chegaram ao país na tentativa de escapar dos conflitos. Esses artistas
trouxeram consigo novas idéias e experiências estéticas que influenciaram a dança
brasileira, entre eles podem destacar: Maria Duschenes, Renné Gumiel, Nina
Verchinina, Marika Gidali, entre outros. A maioria desses artistas ficou instalada no eixo
Rio-São Paulo não somente como bailarinos clássicos em companhias de dança como
também propuseram novas formas de dançar.
Maria Duschenes (nascida em 1922) veio para o Brasil em 1940 e trouxe consigo os
princípios da dança moderna de Laban, focando o seu trabalho na dança educativa e na
dança coral. Sua carreira se estabeleceu mais como professora do que bailarina. A dança
educativa para ela permite o esforço do corpo para se movimentar, a descoberta do
espaço, da comunicação e da relação com o meio e as outras pessoas. A dança é a
expressão individual de sentimentos e a comunicação de ideias, de pensamentos. Com
este trabalho se tornou responsável pela coordenação do Projeto Dança/Arte do
movimento realizado em bibliotecas da prefeitura de São Paulo com parceria da
Secretaria Municipal de Cultura (1984-1994). A partir de 1999, Duschenes, foi
progressivamente interrompendo sua carreira devido a problemas de saúde. Com o seu
trabalho formou diversos professores que ainda hoje trabalham com a dança educativa
do método Laban. 
Renné Gumiel (1913-2006) pode ser considerado um dos nomes mais antigos e
conhecidos no cenário da dança brasileira. Renné foi uma francesa que chegou ao Brasil
pela primeira vez nos anos 50. Entre suas idas e vindas pelo mundo fez aula com Kurt
Joss e Rudolf Laban, conheceu Charles Chaplin, Pablo Picasso entre outros. Em 1957
foi convidada por um embaixador a criar a dança moderna no Brasil, desde então se
fixou no país e em 1961 fundou sua escola e iniciou todo um percurso. Foi a fundadora
da Cia de Dança Contemporânea Brasileira e participou de movimentos no Teatro de
Dança Galpão, Teatro Brasileiro de Comédia, no Ballet Stagium e Balé da Cidade de
São Paulo. Bailarina e atriz, Gumiel sempre trabalhou com a interface das duas
linguagens cênicas. Considerada a bailarina mais velha em atividade, aos 92 anos
prestes a completar 93, ela ainda dava aulas de dança no Teatro Escola Célia Helena e
participava do espetáculo “Os sertões” do Teatro Oficina sob direção José Celso
Martinez Corrêa. Seus primeiros trabalhos em 1957 não foram muito aceitos pelo
público, mas ela persistiu em sua contemporaneidade derrubando alguns preconceitos e
se tornando um nome fundamental para a história da dança contemporânea brasileira. 
Nina Verchinina (1910-1995) chegou ao país em 1954 a convite de Caribé da Rocha
para coreografar o espetáculo “Fantasia e Fantasias” e apesar de também ser
reconhecida como uma das principais figuras da dança moderna brasileira, seu nome
não ganhou tanto destaque quanto ao de Renné Gumiel. Ela foi uma bailarina com
experiência em diversas companhias do mundo, dançando com renomados coreógrafos
como George Balanchine. Também foi uma pesquisadora do movimento onde teve
contato com as técnicas de Laban, Duncan e Graham. Na sua primeira vinda ao Brasil
em 1946, na Escola de Dança do Teatro Municipal do Rio de Janeiro tentou
implementar a técnica da dança moderna com o trabalho no chão, a flexibilização do
tronco e os pés descalços. Não foi bem aceita, foi considerada transgressora e para
alguns até imoral, o que a fez retornar à Europa. Foi somente na segunda vez que
chegou no Rio de Janeiro que percebeu que o público estava mais aberto às tendências
modernas, desde então se estabeleceu fundando sua escola de dança, ao qual trabalhou
até o seu falecimento. Na sua escola criou sua metodologia de dança moderna
denominada por ela mesmo de “dança moderna expressionista”. Para Nina a dança tinha
que falar da realidade, do contexto e isso aparecia em seus trabalhos, considerados
inquietantes para a crítica. Nunca se deixou levar por modismos e frivolidades e ao final
da sua carreira, pouco apresentava seus trabalhos para a crítica. A importância de seu
trabalho veio com a formação de muitos professores, bailarinos e coreógrafos do Rio de
Janeiro que viriam nas décadas de 80 realmente estabelecer a dança contemporânea.
Marika Gidali (nascida em 1937) iniciou seus estudos em dança na cidade de São Paulo
como bailarina clássica, fazendo parte da Cia IV Centenário em 1954. No início de sua
carreira dançou em diversas companhias, em musicais e chegou a coreografar para a TV.
Mas foi nos anos 70, durante o período ditatorial que ela começou a experimentar uma
nova leitura do gesto, procurando trazer traços da cultura brasileira para falar da
problemátca social do país e de alguma forma burlar a censura, comum na época. A
Ditadura Militar se caracterizou por um período de censura, repressões e violência. A
expressão nas artes ficou altamente limitada e artistas que tentavam dar voz aos
acontecimentos políticos, econômicos e sociais eram punidos severamente. Durante esse
período foram criados Atos Institucionais que determinavam leis da noite para o dia,
dependia apenas do interesse dos militares que estavam no poder. O Ato Institucional
número 5 (AI-5) foi considerado como o mais repressor de todos e nesse momento
histórico, os chamados subversivos eram torturados no caso de serem presos por alguma
infração, exilados e desaparecidos. Grande estado de terror se estabeleceu em todo país.
Foi em 1968 que o mundo parecia explodir, e em nosso país as manifestações contra o
regime se mostraram mais ferrenhas e a repressão militar a essas manifestações também
(NOSSO SÉCULO, 1986). Além disso, a censura midiática impedia que a maioria da
população tivesse acesso ao que por aqui ocorria. Na maioria das vezes a mídia
encontrava formas de omitir àqueles que queriam falar sobre o que acontecia dando voz
àqueles que não iam contra ao governo. Exemplo disso está nos movimentosda música
brasileira representados pela Jovem Guarda versus Tropicália. Enquanto a Jovem
Guarda, liderada por Roberto Carlos e Erasmo Carlos, cantava músicas de amor, a
Tropicália representada por Caetano e Gil, entre outros tentava cantar a realidade do
país. Diante dessa realidade, em que a proibição e o medo de uma revolução socialista
tomou conta do país, a dança contemporânea foi encontrando seu espaço através do
Ballet Stagium, companhia de dança de São Paulo sob direção de Décio Otero e Marika
Gidali. Se o cinema e o teatro encontravam dificuldades para expressar as opiniões
sobre o que estava acontecendo no país, assim como a música, que utilizava metáforas
para bradar sua indignação política, a dança através da sua linguagem múltipla, passível
de variadas interpretações, encontrou terreno fértil para desviar a lei da censura. Foi a
partir da Ditadura que outras companhias de dança foram se organizando,
principalmente, no Rio de Janeiro e em São Paulo, abrindo espaço para uma outra
linguagem da dança, além do até então consolidado balé clássico. Quando os
coreógrafos perceberam que a interpretação do gesto era muito mais complexa do que a
palavra, a criação em dança se tornou uma forma de expressar o sentimento de revolta
que assolava parcela da sociedade. Aos poucos, o teatro foi se encontrando com a dança
e muitos musicais foram montados em parcerias com coreógrafos contemporâneos da
época na tentativa de burlar o taxativo AI-5, mas, em muitos casos era irremediável a
censura. Sendo assim, é inegável que o Regime Militar tenha contribuído, mesmo sem o
propósito, para o desenvolvimento da Dança Contemporânea no Brasil (REIS, 2005).
Marika Gidali consagrou a dança contemporânea por meio da Cia Ballet Stagium que
entre tantas inovações foi a primeira a utilizar MPB na trilha sonora e criar espetáculos
que possam ser dançados em qualquer espaço físico. Com tanto reconhecimento em
1999 se tornou coordenadora dos projetos de dança na Febem, trabalhando junto com os
professores de dança de rua criando o que eles chamam de “aula-espetáculo”. O Ballet
Stagium já se apresentou diversas vezes na Febem e Marika junto com Décio já foram
convidados a conhecer o sistema carcerário de outros países para auxiliar no
desenvolvimento do Projeto.
 
Ruth Rachou (nascida em 1927) é uma brasileira, natural de São Paulo que desde cedo
também teve muita importância para a história da dança moderna no Brasil. Dançou
com Gidali na Cia IV Centenário em 1954 e em suas viagens ao exterior teve contato
com a técnica de Martha Graham, José Limon e Merce Cunningham. A carreira de Ruth
é marcada por experiências diversas o que resultou na abertura de sua escola em 1972
que funciona ainda hoje, criação do seu grupo de dança Ruth Rachou em 1992 e desde
1989 é professora de dança moderna na Escola de Bailados da Prefeitura de São Paulo.
A sua escola é uma das poucas com aulas de técnica Graham com professores formados
na escola da própria nos Estados Unidos. 
Outra influência na dança contemporânea é o brasileiro Klauss Ribeiro Vianna. Ele
nasceu em Belo Horizonte, em 1928. Introdutor de um método próprio voltado para a
corporalidade expressiva de atores e bailarinos, ficou mundialmente reconhecido por
seu trabalho único como preparador corporal, foi um renomado bailarino e coreógrafo
brasileiro. Pode-se dizer que Klauss foi considerado um dos primeiro pesquisadores e
aplicadores da Técnica Somática (É uma técnica teórica e prática baseada na
consciência corporal e que tem como objetivo a recuperação e manutenção da saúde de
seus praticantes, através de aplicações de técnicas precisas cujo objetivo principal é o
movimento do corpo) no Brasil. 
Desenvolveu um método próprio para a expressão corporal na dança e no teatro, esse
método é conhecido como Técnica Klauss Vianna, mas o próprio não gostava que seu
modo de pensar a dança fosse codificado como uma Técnica, logo que era contra a
cópia e repetição vista na maioria das danças na época. Com todos esses feitos para a
dança, desde a implantação de anatomia e sua nova maneira de organizar uma forma de
pensar a dança que Klauss Vianna se tornou uma referência no universo da Dança no
Brasil.
Todas essas personalidades fizeram parte do surgimento da dança contemporânea no
Brasil, influenciando muitos professores, coreógrafos e bailarinos que desenvolvem
seus trabalhos atualmente. Como dito anteriormente a dança contemporânea não se
apresenta como uma metodologia única, e isso amplifica a sua diversidade e o seu
diálogo com outros artefatos culturais. Atualmente existem novas possibilidades para os
estudos na dança na área de improvisação, contato-improvisação, criador-intérprete,
performance, dança-teatro, dança-multimídia. Os campos de pesquisa em dança tem se
apresentado de forma muito diversificada e em alguns casos é difícil classificar o
trabalho como dança, performance ou teatro, muitos limites estão sendo atravessados.
Cia. de dança contemporânea
Cia. de dança contemporânea, fundada por Vera Bicalho e Henrique Rodovalho, em
Goiânia/GO no ano de 1988, em busca de expressão artística autêntica.
Movimentos e expressões de dança que sempre surpreendem o público pelo viés de um
olhar poético e bem humorado. Uma estética contemporânea arrojada que resulta em
coreografias que cativam pelo apuro técnico. Essas propostas se destacam no trabalho
da Quasar Cia de Dança com mais de 20 anos de atuação em palcos nacionais e
internacionais.
À frente da companhia encontram-se seus fundadores Vera Bicalho (diretora geral) e
Henrique Rodovalho (diretor-artístico e coreógrafo) - ex-bailarinos do Grupo Energia e
do Grupo Movimento, seus precursores no início dos anos 1980. Sem medir esforços a
dupla investiu, em 1988, na criação de um grupo de dança (com bailarinos em
permanente renovação) que hoje é celebrado em vários países.
A partir de Goiânia, pioneira no Cerrado brasileiro, a Quasar transformou-se num ícone
de apuro artístico em cena aberta que recebe atenção de pesquisadores do circuito das
artes em vários países. Assim o catálogo de premiações cresce cada vez mais numa
trajetória que busca apresentar um repertório exclusivo de espetáculos que dialogam
com linguagens plurais do mundo moderno e que permitem diferentes leituras
sensoriais.
A Quasar transita com muita singularidade por múltiplas estéticas com recortes e
misturas inovadoras da dança que se inter-relacionam com técnicas de mímica, do circo,
do teatro, da vídeo instalação, dentre outras manifestações culturais e artísticas.
Companhia independente também participa de uma série de projetos paralelos. O
principal objetivo é: profissionalização da dança e a formação de um público que
melhor contextualize um trabalho que se pauta por uma forte identidade autoral. É o
prazer artístico respaldado pelo selo da qualidade.
Ganhadora de vários prêmios como:
• Revista Bravo! elege, em 2010, o espetáculo Só tinha de ser com você um dos 10 mais
importantes espetáculos de dança da década;
• Medalha da Ordem do Mérito Cultural, concedida pela Presidência da República
Federativa do Brasil, em 2008;
• Prêmio Mambembe (1997) para Registro - Ministério da Cultura, nas categorias •
Melhor Cia, Melhor espetáculo, Melhor coreógrafo (Henrique Rodovalho), Bailarina
revelação (Karina Mendes), Bailarino revelação (Gleidson Vigne) etc..
Coreografia Para Ouvir - CIA. de Dança Quasar (Goiás)
 "Coreografia para Ouvir" é um espetáculo que propõe os conflitos som/movimento e
urbano/regional. A trilha sonora não é música no sentido convencional, mas sim a
exploração da musicalidade composta pelos ritmos pertencentes ao Nordeste, na
legítima manifestação do povo; dos andarilhosaos repentistas, dos canoeiros às
lavadeiras. No espetáculo, o que há de comum entre música e dança é a capacidade que
ambos os universos têm de evidenciar a identidade de um povo, ansioso por fazer com
que os olhos "ouçam" uma realidade presente, rica e verdadeira.
Um trabalho que explora a relação entre a música e o movimento. Assim pode ser
definida, em poucas palavras, Coreografia para Ouvir, de Henrique Rodovalho.
Em coreografia para Ouvir, Rodovalho trabalha com sons, elementos regionais e
urbanos. Inspirado no Sons da Rua, da TV Educativa do Rio de Janeiro, programa que
aborda a cultura popular brasileira, o coreógrafo desenvolveu um trabalho que propõe
um diálogo entre elementos regionais e o seu estilo de dança.
Na coreografia, Rodovalho lida com a musicalidade, a partir de ritmos nordestinos,
mesclados com sons populares, como o dos andarilhos, dos repentistas, das lavadeiras,
entre outras figuras típicas. Os gestos foram criados a partir de um diálogo estabelecido
com a trilha sonora, sem cair no óbvio ou caricato.
Ficha Técnica:
Bailarinos: 
Gica Alioto, João Bragança, João Vicente, Kleber Damaso, Lavínia Bizzotto, Letícia 
Ramos, Paulo Guimarães
Coreógrafo: Henrique Rodovalho
Figurino: Vera Bicalho, Shell Jr.
Cenografia: Shell Jr.
Cenotécnica: Sandro Vieira
Iluminação: Henrique Rodovalho
Operador de luz: Alexandre Marques
Diretor artístico: Henrique Rodovalho
Direção geral: Vera Bicalho
Lia Rodrigues
Nascida em São Paulo, onde realizou seus estudos no Colégio Equipe, espaço conhecido
pelo pensamento crítico e de resistência política nos anos 60, ambiente este que
determinaria o rumo de sua vida e carreira artística. Teve sua formação em Balé clássico
na Escola de Bailados com a professora Nice Leite no fim dos anos de 1960. No mesmo
período fez parte do movimento estudantil contra o choque da AI-5, a ditadura militar, e
em 1977, frequentou a Faculdade de História na Universidade de São Paulo (USP), mas
abandonou o curso seis meses antes de concluí-lo, devido ao seu envolvimento com a
dança. No mesmo ano participou da criação do Grupo Andança.
Após assistir à primeira turnê brasileira da Companhia de Pina Bausch, a Tanztheater
Wuppertal, decide ir para Europa. O intuito era trabalhar com Pina, na Alemanha, mas
acabou na França e entre 1980 e 1982 residiu em Paris onde foi integrante da Cia. de
Maguy Marin e fez parte da criação do espetáculo May B. (1981), um dos espetáculos
mais conhecidos da Cia. 
Em 1983 retorna ao Rio de Janeiro, começa a coreografar espetáculos teatrais com
diretores como Bia Lessa e Sérgio Mamberti. No fim da década de 80 monta o Atelier
de Coreografia, junto ao parceiro e também coreógrafo e bailarino João Saldanha,
realizando a coreografia Catar e em 1990 cria a Lia Rodrigues Companhia de Danças,
estreando o espetáculo Gineceu. 
Em 1992, é convidada pela Divisão de Música do extinto Instituto Municipal de Arte e
Cultura para organizar uma mostra de dança, que durante quatro semanas, receberia
grupos e coreógrafos para apresentar suas produções, no Teatro Sérgio Porto e assim foi
criado o Festival Panorama RioArte de dança, hoje denominado Festival Panorama da
Dança, um dos maiores festivais de Dança Contemporânea do Brasil, onde dirigiu até
2004. 
Em 1998, Lia participou da criação do Grupo de Estudos em Dança do Rio de Janeiro,
juntamente com Roberto Pereira, Silvia Soter, Beatriz Cerbino e Dani Lima, sendo esses
importantes pensadores, críticos e coreógrafos da cena contemporânea carioca. 
Sua veia ativista sempre esteve aliada a sua vida artística e nos últimos anos tem sido
militante em favor de uma política cultural eficiente no Brasil, ocupando um papel
importante para a difusão, discussão e fomentação da dança e da cultura nacional. Além
de outras ações, estabeleceu parceira com a ONG CEASM e atualmente com a ONG
Redes – Rede de Desenvolvimento da Maré e desde 2007, mantém a sede de sua
companhia na comunidade da Nova Holanda situada no conjunto de favelas do
Complexo da Maré, denominado Centro de Artes da Maré, onde desenvolve atividades
pedagógicas para a comunidade, além de palestras sobre arte e mostra dos espetáculos
do seu repertório e de outros artistas. 
Seu trabalho dialoga com diversas obras e manifestações artísticas além da dança, como
o cinema e as artes plásticas. Em seus espetáculos há referências à coreógrafa francesa
Maguy Marin, com quem dançou, ao artista Oskar Schlemmer que inspirou seu
espetáculo “Formas Breves”, aos cineastas Glauber Rocha e Jean-luc Godard, ao artista
Tunga, Lygia Clark, além de diversos escritores que permeiam seu universo criativo
como Mario de Andrade que inspirou os espetáculos "Folia I e II", de 1996 e 1997,
respectivamente, Ítalo Calvino, Elias Canetti, Gilles Deleuze, Felix Guatarri, dentre
outros. 
Reconhecida nacionalmente e internacionalmente Lia Rodrigues junto a sua Cia.
produziu cerca de 14 diferentes espetáculos e performances tornando-se um dos ícones
da Dança Contemporânea no país. 
Centro de Artes da Maré
História 
O inicio dessa história começa em 2003, a partir do convite de Silvia Soter à Lia
Rodrigues e sua companhia para colaborar com o hoje extinto, Centro de Estudos e
Ações Solidárias na Maré, na Casa de Cultura da Maré, no Morro do Timbau. Em 2004,
a cia. transferiu suas atividades diárias para esse espaço, ajudando a construir e garantir
a manutenção de local adequado para a dança, além de oferecer aulas e oficinas para
jovens da comunidade e doando acervo de vídeos de dança e livros. 
Ampliando suas ações, a cia. realizou nesse espaço: a criação de "Contra aqueles
difíceis de agradar", "Encarnado", "Hymnen"; Apresentações de seu repertório como o
"Aquilo de que somos feitos" e "Formas Breves"; Apresentação do ensaio do espetáculo
“Isabel Torres”, do coreógrafo francês Jérome Bel; Temporada do espetáculo
“Movente”, da coreógrafa carioca Paula Nestorov; Oficinas e workshops com
professores e artistas convidados e residência da companhia de dança Paula Nestorov.
Foi uma residência artística pioneira, que já rendeu três espetáculos e muitas outras
parcerias. Essa se deu até 2007. 
Nesse mesmo ano, a companhia inicia parceira com a Redes de Desenvolvimento da
Maré, no bairro de Nova Holanda, criada e dirigida por moradores e ex-moradores da
Maré, que tem como principal foco a realização de projetos dedicados a interferir na
trajetória sócio-educacional e cultural dos moradores de espaços populares, em especial
da Maré. E é a partir dessa parceria que foi criado o Centro de artes da Maré. 
O Centro 
Nesse amplo espaço de 1200 metros, com pé direito de 15 metros e na intensidade das
ruas que o rodeiam, a companhia realiza seus ensaios e também promove o projeto
"Dança para todos" com aulas gratuitas de Consciência Corporal e Dança
Contemporânea para jovens e Dança Criativa para crianças, dadas pelos artistas-
bailarinos da cia. Projeto este direcionado para a formação, criação, difusão e produção
das artes. Também é promovida outras atividades no local, como a realização de
espetáculos gratuitos de companhias e artistas convidados e mostra de filmes de arte.
Nesse espaço, a cia. criou "Chantier Poetíque", processo de trabalho que se trasformou
no mais recente espetáculo, "Pororoca". 
"Um lugar de partilha, convivência e de troca de saberes, Acreditando na sinergia entre
arte e processo social e na vocação emancipatória de ambos, este projeto busca a
construção diária de espaços onde a arte possa ser compartilhada, favorecendo o
encontro de indivíduos com experiências educacionais e culturais diversas e
estimulando um olhar crítico e transformador sobre a realidade." Lia RodriguesFestival Panorama
 Criado pela coreógrafa Lia Rodrigues em 1992, o Festival Panorama nasceu do desejo
de se construir um espaço para apresentação e discussão da dança contemporânea no
Rio de Janeiro. Ao longo dos seus 21 anos de história, o Panorama já reuniu mais de
350 companhias nacionais e internacionais, ficando reconhecido como um dos festivais
centralizados na arte do corpo mais importantes da América Latina.
Sem fins lucrativos, o Festival Panorama se diferencia por possibilitar o acesso
democrático ao universo da experimentação artística. Nayse López, diretora geral do
Panorama explica que o mercado cultural precisa da indústria cultural, mas que ele só se
renova e se alimenta nos espaços de experimentação. No entanto, devido ao pouco
investimento dado a este âmbito da cultura no Brasil, é incomum vermos este tipo de
arte tão acessível. 
“O Panorama inverte a lógica comum do nosso país e faz uma junção de produção
artística de vanguarda e preços populares. O Rio de Janeiro não tem esse patamar de
investimento cultural. Conseguir montar um festival popular voltado para as novidades,
para a experimentação, é mérito da Lia.”, afirma.
O festival, que começou centralizado na dança, seguiu a própria tendência da dança
contemporânea de mesclar linguagens e se tornou um evento multidisciplinar que
contempla projetos em que a matéria-prima artística é o corpo. 
“O Panorama é focado na arte do corpo independente da linguagem”, diz Nayse.
Preocupado em expandir sua atuação também para a formação profissional e de público,
o Festival Panorama constrói laços de parceria com universidades, escolas e
organizações no intuito de promover o conhecimento artístico. Oferecendo palestras e
propondo discussões, o festival trabalha com a preparação de crianças e jovens para o
contato com o conteúdo de experimentação artística. 
REFERÊNCIAS 
ACHCAR, D. Balé: uma arte. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998. 
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http://redeglobo.globo.com/acao/noticia/2013/07/festival-panorama-
promove-arte-experimental-precos-populares.html 
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