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Página 1 de 16 UNIDADE VIII - DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO DISPOSIÇÕES GERAIS 1. INTRODUÇÃO As pessoas unem-se em uma família em razão de vínculo conjugal ou união estável, de parentesco por consanguinidade ou outra origem, e da afinidade. CONCEITO: Para PONTES DE MIRANDA, parentesco é a relação que vincula entre si pessoas que descendem umas das outras, ou de autor comum (consanguinidade), que aproxima cada um dos cônjuges dos parentes do outro (afinidade), ou que se estabelece, por “fictio iuris”, entre o adotado e o adotante. PARENTESCO EM SENTIDO ESTRITO: Em sentido estrito, a palavra “parentesco” abrange somente o consanguíneo, definido de forma mais correta como a relação que vincula entre si pessoas Página 2 de 16 que descendem umas das outras, ou de um mesmo tronco. PARENTESCO EM SENTIDO AMPLO: inclui o PARENTESCO POR AFINIDADE e o DECORRENTE DA ADOÇÃO ou de outra origem, como algumas modalidades de técnicas de reprodução medicamente assistida, que, nos países de língua francesa, é chamada de “procréation médicalement assiste”. ►►Denominaram-se no direito romano, em outros tempos, “agnatio” (agnação) o parentesco que se estabelece pelo lado masculino, e “cognatio” (cognação) o que se firma pelo lado feminino. O conhecimento da relação de parentesco “reveste- se de grande importância prática, porque a lei lhe atribui efeitos relevantes, estatuindo direitos e obrigações recíprocos entre os parentes, de ordem pessoal e patrimonial, e fixando proibições com fundamento em sua existência. Página 3 de 16 Têm os parentes direito à sucessão e alimentos e não podem casar uns com os outros, na linha reta e em certo grau da colateral. O parentesco é importante ainda em situações individuais regidas por outros ramos do Direito, como o processual e o eleitoral. Com efeito, a presença de vínculos de parentesco próximo entre as partes e o juiz, ou o serventuário de justiça, acarreta a suspeição destes (CPC, art. 134, IV e V), impede a citação nas hipóteses do art. 217, II, ainda da lei processual, e produz outras consequências de ordem processual. Ademais, no âmbito do direito eleitoral, pode provocar a inelegibilidade do candidato, como sucede nos casos do art. 14, § 7º, da Constituição Federal. Por outro lado, no direito penal, a existência de parentesco entre a vítima e o autor do crime pode acarretar agravação da pena (CP, art. 61, II, e), sua isenção e até mesmo exclusão do Ministério Público Página 4 de 16 para oferecimento da denúncia, como ocorre nos casos dos arts. 181 e 182 do Código Penal. AFINIDADE é o vínculo que se estabelece entre um dos cônjuges ou companheiro e os parentes do outro (sogro, genro, cunhado etc.). A relação de parentesco por afinidade tem os seus limites traçados na lei e não ultrapassa esse plano, pois que não são entre si parentes os afins de afins (affinitas affinitatem non parit). Dispõe o art. 1.593 do Código Civil que: “o parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consanguinidade ou outra origem”. NATURAL é o parentesco resultante de laços de sangue. CIVIL é o parentesco que recebe esse nome por tratar-se de uma criação da lei. O emprego da expressão “outra origem” constitui avanço verificado no Código Civil de 2002, uma vez Página 5 de 16 que o diploma de 1916 considerava civil apenas o parentesco que se originava da adoção. A inovação teve em vista alcançar, além da adoção, “as hipóteses de filhos havidos por reprodução assistida heteróloga, que não têm vínculo de consanguinidade com os pais. Em razão do art. 227, § 6º, da Constituição Federal, bem como da presunção de paternidade do marido que consente que sua esposa seja inseminada artificialmente com sêmen de terceiro, conforme o art. 1.597, inciso V, a pessoa oriunda de uma das técnicas de reprodução assistida deve ter vínculo de parentesco não só com os pais, mas, também, com os parentes destes, em linha reta e colateral”. O art. 1.593 do Código Civil, ao utilizar a expressão “outra origem”, “abre espaço ao reconhecimento da paternidade desbiologizada ou socioafetiva, em que, embora não existam elos de sangue, há laços de afetividade que a sociedade reconhece como mais importantes que o vínculo consanguíneo”. Página 6 de 16 Nesse sentido, preleciona EDUARDO DE OLIVEIRA LEITE que “a verdadeira filiação — esta a mais moderna tendência do direito internacional — só pode vingar no terreno da afetividade, da intensidade das relações que unem pais e filhos, independente da origem biológico-genética”. O art. 227, § 7º, da Constituição Federal, proibindo designações e tratamentos discriminatórios, atribuiu aos filhos adotivos os mesmos direitos e deveres oriundos da filiação biológica. OBSERVAÇÃO: Sublinhe-se que o nosso direito positivo não confere importância ao denominado “parentesco espiritual” (spiritualis cognatio), derivado das qualidades de padrinho ou madrinha e afilhado, cuja existência o direito canônico sempre reconheceu, inclusive como impedimento matrimonial. 2. O VÍNCULO DE PARENTESCO: LINHAS E GRAUS Página 7 de 16 O vínculo de parentesco estabelece-se por linhas: RETA e COLATERAL, e a contagem faz-se por graus. Parentes em linha reta são as pessoas que descendem umas das outras, ou, na dicção do art. 1.591 do Código Civil, são: “as pessoas que estão umas para com as outras na relação de ascendentes e descendentes”, tais como bisavô, avô, pai, filho, neto e bisneto. ►A LINHA RETA É ASCENDENTE quando se sobe de determinada pessoa para os seus antepassados (do pai para o avô etc.). Toda pessoa, sob o prisma de sua ascendência, tem duas linhas de parentesco: a linha paterna e a linha materna. Essa distinção ganha relevância no campo do direito das sucessões, que adota, para partilhar a herança, o modo denominado “partilha in lineas”. A linha ascendente, depois de bifurcar-se entre os ascendentes do pai e os ascendentes da mãe, Página 8 de 16 prossegue em sucessivas bifurcações, pois cada pessoa se origina de duas. Por isso, fala-se em “árvore genealógica”. ►A LINHA RETA É DESCENDENTE quando se desce dessa pessoa para os seus descendentes. Tal assertiva igualmente repercute no direito das sucessões, quanto ao modo de partilhar a herança “in stirpes”, tendo em vista que cada descendente passa a constituir uma estirpe relativamente aos seus pais. O parentesco em linha reta produz diversos efeitos importantes, merecendo destaque: � “o dever de assistir, criar e educar os filhos menores”, imposto aos pais pelo art. 229 da Constituição Federal, � o encargo de “ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade”; � o direito deferido aos parentes, no art. 1.694 do Código Civil, de pedirem uns aos outros “os Página 9 de 16 alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social”; � a indicação dos descendentes e ascendentes, no art. 1.829, como sucessores legítimos, e como herdeiros necessários, no art. 1.845; � a inclusão da aludida relação no rol dos impedimentos absolutos à realização do casamento, em consequência do vínculo da consanguinidade etc. ►São parentes em linha colateral, transversal ou oblíqua as pessoas que provêm de um tronco comum, “sem descenderem uma da outra”. É o caso de irmãos, tios, sobrinhos e primos. Na linha reta não há limite, pois a contagem do parentesco é “ad infinitum”; na colateral,este estende-se somente até “o quarto grau”. Dispõe, com efeito, o art. 1.592 do Código Civil que “são parentes em linha colateral ou transversal, até o quarto grau, as pessoas provenientes de um só tronco, sem descenderem uma da outra”. Página 10 de 16 O Código Civil de 2002 reduziu a limitação do parentesco na linha colateral, que no regime anterior alcançava o “sexto” grau. Dentre outros EFEITOS DO PARENTESCO COLATERAL, assinale-se � o que acarreta, até o terceiro grau inclusive, impedimento para o casamento (CC, art. 1.521, IV); � a obrigação de pagar alimentos aos parentes necessitados extensiva aos irmãos, que são colaterais de segundo grau (art. 1.697); � o chamamento para suceder somente dos colaterais até o quarto grau, no âmbito do direito das sucessões (art. 1.839), bem como a adoção do princípio de que os mais próximos excluem os mais remotos (art. 1.840). A distância entre dois parentes mede-se por graus. Grau, portanto, é a distância em gerações, que vai de um a outro parente. Página 11 de 16 Na linha reta, contam-se os graus “pelo número de gerações”. GERAÇÃO é a relação existente entre o genitor e o gerado. Assim, pai e filho são parentes em linha reta em primeiro grau. Já avô e neto são parentes em segundo grau, porque entre eles há duas gerações. Na linha colateral a contagem faz-se também pelo número de gerações. Parte-se de um parente situado em uma das linhas, subindo-se, contando as gerações, até o tronco comum, e descendo pela outra linha, continuando a contagem das gerações, “até encontrar o outro parente” (CC, art. 1.594). Trata-se do sistema romano de contagem de graus na linha colateral. ►Assim, IRMÃOS são colaterais em segundo grau. Partindo-se de um deles, até chegar ao tronco comum conta-se uma geração. Descendo pela outra linha, logo depois de uma geração já se encontra o outro irmão. Página 12 de 16 ►TIOS e SOBRINHOS são colaterais em terceiro grau; ►PRIMOS, em quarto. No caso dos primos, cada lado da escala de contagem terá dois graus. ►Também são colaterais de quarto grau os SOBRINHOS-NETOS e TIOS-AVÓS, hipóteses em que um dos lados da escala terá três graus, e o outro um. ►O parentesco mais próximo na linha colateral é o de segundo grau, existente entre irmãos. Não há parentesco em primeiro grau na linha colateral, porque quando contamos uma geração ainda estamos na linha reta. Para a contagem dos graus, como se observa, utiliza-se sistema segundo o qual o ascendente comum não é incluído na contagem — “stipite de empto”. ►►Denominam-se irmãos GERMANOS OU BILATERAIS os que têm o mesmo pai e a mesma mãe; e UNILATERAIS os irmãos somente por parte de mãe (uterinos) ou somente por parte do pai Página 13 de 16 (consanguíneos). O Código Civil regulamenta, nos arts. 1.841 a 1.843, os direitos sucessórios dos irmãos germanos e unilaterais. A linha colateral pode ser igual (como no caso de irmãos, porque a distância que os separa do tronco comum, em número de gerações, é a mesma) ou desigual (como no caso de tio e sobrinho, porque este se encontra separado do tronco comum por duas gerações e aquele por apenas uma). Pode ser também dúplice ou duplicada, como no caso de dois irmãos que se casam com duas irmãs. Neste caso, os filhos que nascerem dos dois casais serão parentes colaterais em linha duplicada. 3. ESPÉCIES DE PARENTESCO Embora o art. 1.593 do Código Civil preceitue que o parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consanguinidade ou outra origem, sob o prisma legal não pode haver diferença entre parentesco natural e civil, especialmente quanto à igualdade de Página 14 de 16 direitos e proibição de discriminação. Devem todos ser chamados apenas de parentes. O casamento e a união estável dão origem ao parentesco por afinidade. Cada cônjuge ou companheiro torna-se parente por afinidade dos parentes do outro (CC, art. 1.595). Mesmo não existindo, “in casu”, tronco ancestral comum, contam-se os graus por analogia com o parentesco consanguíneo. Se um dos cônjuges ou companheiros tem parentes em linha reta (pais, filhos), estes se tornam parentes por afinidade em linha reta do outro cônjuge ou companheiro. Essa afinidade em linha reta pode ser ascendente (sogro, sogra, padrasto e madrasta, que são afins em 1º grau) e descendente (genro, nora, enteado e enteada, no mesmo grau de filho ou filha, portanto, afins em 1º grau). Proclama o § 1º do art. 1.595 do Código Civil que: Página 15 de 16 “o parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes e aos irmãos do cônjuge ou companheiro”. Cunhados (irmãos de um e de outro cônjuge ou companheiro) são afins na linha colateral em segundo grau. ►►A afinidade é um vínculo de ordem jurídica e decorre somente da lei. Como a afinidade é relação de natureza estritamente pessoal, cujos limites são traçados na lei, ela não se estabelece entre os parentes dos cônjuges ou companheiros, sendo que os afins de cada um não o são entre si (concunhados não são afins entre si). E, no caso de novo casamento ou união estável, os afins da primeira comunhão de vidas não se tornam afins do cônjuge ou companheiro da segunda. Dispõe, por sua vez, o § 2º do art. 1.595 do Código Civil que: “na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável”. Página 16 de 16 Nesse dispositivo se encontra a razão do impedimento matrimonial previsto no art. 1.521, II, do mesmo diploma, que também se aplica: à união estável (art. 1.723, § 1º). ►►Desse modo, rompido o vínculo matrimonial permanecem o sogro ou sogra, genro ou nora ligados pelas relações de afinidade. Significa dizer que, falecendo a esposa ou companheira, por exemplo, o marido ou companheiro continua ligado à sogra pelo vínculo da afinidade. Se se casar novamente, terá duas sogras. Na LINHA COLATERAL, contudo, a morte ou o divórcio de um dos cônjuges ou companheiros faz desaparecer a afinidade. Como o impedimento matrimonial refere-se apenas à linha reta (CC, art. 1.521, II), nada impede, assim, o casamento do viúvo ou divorciado com a cunhada.
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